Acessibilidade / Reportar erro

Mulheres e escrita no Centro Psychico de Caetité-BA (1905-1930)

Women and writing at the Psychical Center of Caetité-BA (1905-1930)

Mujeres y escritura en el Centro Psíquico de Caetité-BA (1905-1930)

Resumo

O artigo apresenta análise sobre a participação de mulheres, por meio da produção escrita, no Centro Psychico de Caetité-BA, nas primeiras décadas do século XX. Busca-se contribuir para ampliar a visibilidade da atuação de mulheres em instâncias de formação não escolares em um contexto em que a população alfabetizada ainda era bastante restrita em todo o país. Por intermédio de indícios encontrados em atas de reuniões, de documentos psicografados e do jornal do centro espírita, identifica-se a presença de mulheres em funções de destaque, como a transcrição final de atas, escritas psicografadas, escrita jornalística e o envio de cartas e cartões. Evidencia-se o protagonismo de mulheres da elite socioeconômica e política em funções equivalentes às ocupadas por homens nessa instância educativa.

Palavras-chave:
processos de escrita; mulher; espiritismo

Abstract

The article presents analyzes of the participation of women in the Centro Psychico de Caetité-BA, in the first decades of the 20th century, through written production. The aim is to contribute to increasing the visibility of women's activities in non-school training in a context in which the literate population was still quite restricted throughout the country. Through evidence found in meeting minutes, psychographed documents and the spiritist center's official newspaper, we identified the presence of women performing prominent roles, such as in the final transcription of the minutes, in psychographed writings, in journalistic writing and in sending letters and cards. The leading role of women belonging to the socioeconomic, political elite in roles equivalent to those held by men in this educational instance is evident.

Keywords:
writing processes; woman; spiritism

Resumen

El artículo presenta análisis de la participación de las mujeres en el Centro Psíquico de Caetité-BA, en las primeras décadas del siglo XX, a través de la producción escrita. El objetivo es contribuir a aumentar la visibilidad de las actividades de las mujeres en la formación extraescolar en un contexto en el que la población alfabetizada todavía era bastante restringida en todo el país. A través de evidencias encontradas en actas de reuniones, documentos psicografiados y el periódico oficial de la casa espírita, se identifica la presencia de mujeres desempeñando roles destacados, como en la transcripción final de las actas, en escritos psicografiados, en escritos periodísticos y en el envío de cartas y tarjetas. Es evidente el protagonismo de las mujeres de la élite socioeconómica y política en roles equivalentes a los que desempeñan los hombres en esta instancia educativa.

Palabras clave:
procesos de escritura; mujer; espiritismo

Introdução

Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa1 1 A pesquisa foi desenvolvida por Joseni P. Meira Reis durante licença sabática do Campus XII-UNEB, entre Julho a dezembro de 2021, sob a orientação de Mônica Yumi Jinzenji e Maria José Francisco de Souza. que teve como objetivo identificar e analisar práticas de escrita de mulheres participantes do Centro Psychico de Caetité2 2 O Centro Psychico de Caetité foi estabelecido em 25 de dezembro de 1905 por um grupo de homens letrados pertencentes à elite econômica, política e cultural da cidade, de entre os quais se destacam Aristides Spínola (então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira-RJ); João Antônio dos Santos Gumes (tipógrafo, funcionário público) e Joaquim Rodrigues Lima Júnior (Ex-governador da Bahia). , cidade localizada na região do Alto Sertão da Bahia, no período entre 1905 e 1930. Os estudos desenvolvidos em campo3 3 Especialmente, Brito (2013) e Veronese (2017). indicam a participação ativa de mulheres em instâncias religiosas, como os centros espíritas. Logo, busca-se analisar esse fenômeno especificamente no centro espírita em foco para compreender como essa participação foi caracterizada.

O estudo das práticas de escrita de mulheres em uma instância religiosa vincula-se à interface entre os campos da História da Cultura Escrita, da História da Educação e da História das Mulheres e insere-se no contexto das novas propostas teórico-metodológicas, as quais têm como referência os estudos da História Cultural, pautados em autores como Roger Chartier (2001Chartier, R. (2001). Cultura escrita, literatura e história: conversas de Roger Chartier com Carlos Anaya, Jesús Anaya Rosique, Daniel Goldin e Antônio Saborit. Artmed., 2002).

Na última década, os estudos no campo da Cultura Escrita, marcados pela diversidade temática e temporal, indicam a sua fertilidade, apontando múltiplos sujeitos, práticas e usos do escrito. Coletâneas como Escrita e cultura na Europa e no Atlântico Modernos, organizada por Roger Chartier, José Damião Rodrigues e Justino Magalhães (2020Chartier, R., Rodrigues, J. D., & Magalhães, J. (Orgs.). (2020). Escrita e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Universidade de Lisboa.), Grafias no cotidiano, reunindo a vasta produção sobre o tema, por Antonio Castillo Gómez (2021aCastillo Gómez, A. (2021a). Grafias no cotidiano: escrita e sociedade na história (séculos XVI a XX). Eduerj.), e o dossiê Cultura escrita no mundo moderno, organizado por Guiomar de Grammont e Márcia Almada (2019Grammont, G., & Almada, M. (2019). Apresentação. Cultura escrita no mundo moderno. Varia Historia, 35(68). Recuperado de: https://doi.org/10.1590/0104-87752019000200002
https://doi.org/10.1590/0104-87752019000...
) são alguns exemplos dessa diversidade no mundo ibero-americano.

Como pode-se verificar, a Cultura Escrita, como objeto e como campo de pesquisa, possui marca interdisciplinar, problematizando contextos e instâncias educativas, que extrapolam o universo propriamente escolar. Neste estudo, fruto desse enquadre teórico-metodológico, o conceito de cultura escrita, ou de culturas do escrito, é utilizado na perspectiva proposta por Galvão (2010Galvão, A. M. O. (2010). História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In M. Marinho, & G. T. Carvalho (Orgs.), Cultura escrita e letramento (pp.218-248). Editora da UFMG.) e refere-se aos lugares que o escrito ocupa em determinada sociedade. Esses lugares nunca são absolutos, mas relativos e específicos de acordo com os diferentes sujeitos e grupos que vivem em um espaço e tempo definidos. Em decorrência dessa concepção, algumas formas de se relacionar com o escrito foram constituídas como legítimas em determinadas culturas e não são valorizadas em outras, ou se relacionam hierarquicamente em uma mesma cultura, dependendo dos lugares de origem, gênero, etnia e status social.

Os registros de participação de mulheres em espaços fora do âmbito doméstico não possuíam visibilidade e, de certo modo, eram tidos como insignificantes e, portanto, eram desprezados e apagados, como destacam os estudos de Perrot (2005Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC.). Essa invisibilidade da mulher na sociedade, também presente no período em foco, dificulta, nas pesquisas atuais, a realização de estudos que buscam reconstruir o passado sob novas perspectivas. Conforme Tedeschi (2016Tedeschi, L. A. (2016). Os desafios da escrita feminina na história das mulheres. Raído, 10(21), 153-164. Recuperado de: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/5217
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/...
), no campo da História das Mulheres, os desafios para a análise das produções escritas femininas devem considerar os interesses, os sujeitos que perpassam essa produção e, sobretudo, os papéis, representações e modelos construídos historicamente e atribuídos à mulher. O pesquisador indaga ainda sobre a vinculação historicamente construída acerca do “silêncio” como inerente à mulher, caracterizado como um suposto mistério feminino e, até mesmo, como um pretenso “ideal feminino”. Castillo Gómez (2021bCastillo Gómez, A. (2021b). Deus, o confessor e a freira: a autobiografia espiritual feminina nos séculos XVI e XVII. In A. Castillo Gómez. Grafias no cotidiano: escrita e sociedade na história (séculos XVI a XX) (pp. 185-206). Eduerj.) contribui para problematizar a autoria feminina, como nos casos das autobiografias religiosas, em muito incentivadas e conduzidas pelos confessores, almejando a produção de modelos de devoção entre as fiéis.

Conforme Neiva et al. (2019Neiva, L. M. R., Jinzenji, M. Y., & Galvão, A. M. O. (2019). A invenção de si na escrita autobiográfica de pessoas idosas. Acta Scientiarum Education, 42(1), e42994. doi: 10.4025/actascieduc.v42i1.42994.
https://doi.org/10.4025/actascieduc.v42i...
), espaços e instâncias religiosas guardam uma relação paradoxal, constituída ao longo dos séculos no mundo ocidental, para (e com) as mulheres. Como instância (parcialmente) pública, esses locais são uma das poucas alternativas legítimas franqueadas às mulheres fora do ambiente doméstico, mas com limites quanto às formas de participação e às funções exercidas. Em muitos aspectos, não só era desejável que as mulheres frequentassem os ambientes religiosos como era necessário para legitimarem as suas condutas morais (Perrot, 2007Perrot, M. (2007). Minha história das mulheres. Contexto.).

Em contraste, por muito tempo, as mulheres foram silenciadas em relação à participação ativa nas instâncias religiosas. Como destaca Perrot (2005Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC.), somente a partir do século XIX ocorreu uma abertura paulatina para a participação feminina em espaços que eram eminentemente marcados pela autoridade masculina. Nesse sentido,

[...] O silêncio é um mandamento reiterado através dos séculos pelas religiões, pelos sistemas políticos e pelos manuais de comportamento. Silêncio das mulheres na igreja ou no templo; maior ainda na sinagoga ou na mesquita, onde elas não podem nem ao menos penetrar na hora das orações. [...] Silêncio até mesmo na vida privada (Perrot, 2005Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC., p. 9-10).

Galvão aponta para uma “[...] quase ausência de estudos sobre igrejas como instâncias de difusão do escrito” (Galvão, 2010, p. 231) e, neste caso, especificamente, pode-se acrescentar que há quase uma ausência de estudos sobre a participação de mulheres como protagonistas da produção escrita em espaços religiosos. Em mapeamento realizado em repositórios de trabalhos acadêmicos4 4 Consulta realizada nos repositórios de pesquisa: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBCT) e no portal do Google Acadêmico, que mais rapidamente direcionava ao repositório de trabalhos acadêmicos das Universidades nas quais os trabalhos foram defendidos. Nessa busca, foram utilizados como descritores “Práticas de escrita de mulheres em instância religiosa”, “Cultura escrita, Espiritismo e mulheres” e “Escritas femininas”. , foram localizados alguns com vertentes analíticas que se aproximam da discussão proposta no presente estudo, como o de Clovis Brito (2013Brito, C. C. (2013). Do século XIX ao século XXI: as mulheres ou os “silêncios da história” do Espiritismo na cidade de Goiás, Fragmentos de Cultura, 23(1), 17-38. Recuperado de: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2710
https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/f...
), cujo sugestivo título, Do século XIX ao século XXI: as mulheres ou os “silêncios da história” do Espiritismo na cidade de Goiás, evidencia o silêncio sobre a participação de mulheres como uma marca na história do espiritismo. Nesse estudo, o autor buscou identificar, por meio da reconstrução de trajetórias, o modo como algumas mulheres se tornaram agentes fundamentais na divulgação e na consolidação da doutrina e de práticas do espiritismo naquela localidade. Brito (2013) destaca que a Doutrina Espírita, de forma diferente de outros sistemas religiosos, propiciou maior participação das mulheres, especialmente na condição de mediadoras na relação com o sagrado.

O estudo de Michelle Veronese (2017Veronese, M. M. (2017). De silêncios e resistências: sonâmbulas, magnetizadoras e outras esquecidas do espiritismo brasileiro [Tese de Doutorado]. Universidade Católica de São Paulo. Recuperado de: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/20114
https://tede2.pucsp.br/handle/handle/201...
), que de forma significativa também traz a palavra ‘silêncios’ no título, De silêncios e resistências: sonâmbulas, magnetizadoras e outras esquecidas do espiritismo brasileiro, analisa motivos que levaram à ausência da atuação das mulheres nos primeiros anos do espiritismo no Brasil, no século XIX. A pesquisadora investiga jornais, revistas e documentos da época em busca de mulheres que desempenhavam práticas da doutrina vinculadas à mediunidade, em que se destacam as escreventes. Ainda que esses estudos indiquem a atuação de mulheres, não é possível construir generalizações, como a de que em todos os centros as mulheres atuavam nas mesmas condições que os homens. É necessário sempre questionar e problematizar as fontes para ouvir as vozes femininas que foram silenciadas na documentação.

Neste estudo, levanta-se a hipótese de que a participação de mulheres no Centro Psychico estava vinculada às influências familiares e ao pertencimento a determinados estratos socioeconômicos e fazia parte de um conjunto maior de práticas sociais que se relacionavam com o domínio das habilidades de ler e de escrever. Estudos como o de Machado (1996Machado, U. P. (1996). Os intelectuais e o espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. Publicações Lachâtre.) destacam que, no geral, a Doutrina Espírita Kardecista5 5 Doutrina sistematizada por Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido como Allan Kardec (1804-1869), que nasceu em Lyon, França, e morreu em Paris. Exerceu, na França, durante trinta anos, a função de educador. Tornou-se discípulo de Pestalozzi, de quem adotou o método pedagógico. A formação de Rivail teve influência da filosofia do século XVIII e, sobretudo, de Rousseau, que serviu de “[...] modelo à edificação do Espiritismo no seu ideal de tolerância, de fraternidade e de universalidade” (Aubrée & Laplantine, 2009, p. 38). vincula-se às práticas de famílias brancas e letradas que constituíam os membros da elite política e econômica. Essas proposições, em âmbito mais geral, instigam a entender melhor quem eram as mulheres que participavam da produção escrita no Centro Psychico em Caetité; qual a origem familiar; que atividades desempenhavam na cidade de Caetité; qual o nível de proximidade com a leitura e a escrita; que funções desempenhavam no Centro; o que escreviam e como escreviam. Esse conjunto de informações permitiu traçar um panorama, ainda que geral, das origens e condições socioeconômicas dessas mulheres.

Para a realização deste estudo, foram analisados os seguintes documentos institucionais: 17 livros de atas de 1905 a 1930, que fazem parte do acervo documental do Centro Espírita que, em 1926, passou a se chamar Centro Espírita Aristides Spínola6 6 Foi um dos responsáveis pela institucionalização da Doutrina Espírita em Caetité. Aristides formou-se em Direito e entrou para a política, exercendo os cargos de deputado provincial pela Bahia e deputado federal no Império e na República, radicando-se no Rio de Janeiro. Foi também presidente do estado de Goiás, jornalista, escritor e vice-presidente e presidente da Federação Espírita Brasileira. . Nesses livros, estão transcritos conteúdos de cartas e bilhetes recebidos pelo Centro Espírita, lidos em sessão pública, assim como a descrição minuciosa do ocorrido em cada reunião. Como fontes complementares, foram analisados textos de memorialistas, encontrados em acervos particulares, bem como exemplares do jornal Lux, que se encontram no Arquivo Público Municipal de Caetité. A delimitação temporal da pesquisa, entre os anos de 1905 e 1930, marca a atuação da geração fundadora do Centro, além de ter sido a fase de enfrentamento dos desafios para a consolidação do espiritismo na cidade e região.

A natureza das fontes analisadas, em sua maioria, de caráter institucional e disponíveis para a consulta no próprio acervo do Centro, possibilita uma aproximação do cotidiano, dos protocolos e rituais desenvolvidos no contexto analisado. Por outro lado, demandam o distanciamento e a relativização daquilo que indiciam, posto que são registros cuidadosamente conservados, ordenados e dispostos para a posteridade. No caso das memórias e do jornal, é indiscutível o debate sobre a necessária distinção entre texto e impresso, o que relativiza a própria autoria e pluraliza os significados produzidos por esses dispositivos (Chartier, 2014Chartier, R. (2014). A mão do autor e a mente do editor. Editora Unesp.). Por considerar esses elementos e em se tratando de um contexto de tradição patriarcal, marcado pela desigualdade, provavelmente, a presença feminina autorizada reflete esse status econômico e social, o que não representa o conjunto das mulheres, que, de alguma forma, participaram das atividades do Centro Espírita analisado.

Os estudos de Paulo Henrique Santos (2014Santos, P. H. D. (2014). Légua tirana: sociedade e economia no alto sertão da Bahia [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo. Recuperado de: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-06012015-184410/pt-br.php
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8...
) destacam que a região do Alto Sertão da Bahia, nas décadas finais do século XIX e décadas iniciais do século XX, fez parte do circuito nacional e internacional em atividades econômicas vinculadas ao setor primário e ao comércio. Segundo o autor, “[...] o setor de subsistência da economia do alto sertão destinou a abastecer o mercado interno de bens de consumo, integrou-se ao setor de exportação, em atividades da agricultura, pecuária e mineração” (Santos, 2014, p. 26).

Caetité, no início do século XX, era um dos núcleos urbanos mais desenvolvidos do Alto Sertão, sendo constituída por várias instâncias escolares (Colégio Jesuíta, Escola Normal, Escola Americana) e outras instâncias com caráter educativo (Tipografia, jornal A Penna, Sociedade dramática, Igreja Presbiteriana, sede de bispado, Estação meteorológica, bibliotecas, Centro Espírita), as quais possibilitavam a circulação de materiais escritos em diferentes suportes.

A sua população, em 1920, era de 36.177 habitantes e fica localizada a 750km de Salvador. Com relação à etnia, Giane Carneiro (2021Carneiro, G. A. P. (2021). De pennas vacillantes em mãos infantis à produção do jornal O Bem-Ti-Vi: culturas do escrito e crianças de elites em Caetité, BA (1899-1914) [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais. Recuperado de: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/37451
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/...
, p. 16) informa, com base em dados do censo de 1920, que a população era constituída por uma minoria branca, enquanto “[...] os pretos, caboclos e mestiços juntos somavam 64% da população”. O grupo dos letrados, os quais se sobressaíam, era composto pela minoria branca. Quanto aos índices de alfabetização no município por grupo de idade até 14 anos, 8% sabiam ler e escrever; a partir dos 15 anos, o índice era de 19%.

Viajantes e memorialistas locais consideram que Caetité possuía um conjunto de características que a fez ficar conhecida como a “princesa do sertão baiano”. Para uma cidade que assumia o discurso de “progresso” e “modernidade”, era justo que esse projeto também incluísse a participação das mulheres, ainda que apenas as dos estratos sociais elevados.

As mulheres no Espiritismo e escrita feminina no Centro Espírita em Caetité

Ao sistematizar a doutrina e as práticas do Espiritismo, Kardec (1999Kardec, A. (1999). O livro dos espíritos. Petit. Trabalho original publicado em 1857.) afirma que o homem e a mulher são iguais perante Deus e possuem os mesmos direitos. Entretanto, cada um foi dotado de diferentes características, sendo o homem mais forte fisicamente e a mulher, mesmo que com menos força, dotada “[...] de uma maior sensibilidade em relação à delicadeza das funções maternais” (Kardec, 1999, p. 272). Vê-se que a doutrina ratifica a ideia largamente difundida pelo discurso religioso cristão, que vincula a mulher à delicadeza, à virtude, à maternidade e ao caráter “angelical”, qualitativos que remetem a uma dimensão quase divina.

As funções de homem e mulher deveriam ser diferenciadas, sendo necessário que “[...] cada um esteja no seu devido lugar; que o homem se ocupe do seu exterior e a mulher do interior, cada um de acordo com a sua aptidão” (Kardec, 1999Kardec, A. (1999). O livro dos espíritos. Petit. Trabalho original publicado em 1857., p. 272). Para coadunar com os valores em voga na época, que hierarquizavam as representações em torno da figura do homem como aquele que cuida dos trabalhos externos, voltados para as diversas dimensões da produção, a figura feminina era entendida como aquela que deveria se ocupar das atividades internas, na dimensão das sensibilidades, dentro dos limites domésticos, no interior do lar. Célia Arribas (2019Arribas, C. G. (2019). O sexo dos espíritos: gênero e sexualidade no espiritismo. Revista USP, 121, 97-108. Recuperado de: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/157776
https://www.revistas.usp.br/revusp/artic...
) ressalta que essas distinções reverberam na divisão sexual do trabalho espírita, especialmente nos centros, que são “[...] espaços privilegiados da produção e reprodução do ethos espírita” (Arribas, 2019, p. 101). A autora destaca a diferenciação das funções nos centros, em que os “[...] trabalhos intelectuais e cargos administrativos tendem a ser exercidos em sua maioria por homens, enquanto a evangelização de crianças e jovens, os trabalhos nas cantinas, livrarias, secretaria, limpeza e acolhimento têm uma presença feminina marcante” (Arribas, 2019, p. 101).

A respeito da cidade de Caetité, Santos (2014Santos, P. H. D. (2014). Légua tirana: sociedade e economia no alto sertão da Bahia [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo. Recuperado de: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-06012015-184410/pt-br.php
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8...
) informa que, no início século XX, havia um discurso pautado nos ideais de modernização, progresso e higienismo e ainda existiam resquícios dos aspectos socioeconômicos do período escravocrata presentes em uma sociedade patriarcal. Quanto à participação da mulher nessa sociedade, pode-se dizer que, “[...] mesmo com um certo grau de instrução, estava restrita à esfera do espaço privado, pois a ela não se destinava à esfera pública do mundo econômico, político, social e cultural. A mulher não era considerada cidadã política” (Falci, 2000Falci, M. K. (2000). Mulheres do sertão nordestino. In M. Del Priore. História das mulheres no Brasil (3a ed., pp. 241-277). Contexto., p. 251).

Em contraposição a essa não participação de mulheres na esfera pública, a partir da documentação consultada, foi possível verificar que Priscila Spínola, Maria Theodolina Neves Lobão (conhecida como Mariquinhas), Marieta Neves Lobão Gumes (filha de Mariquinhas) e Eponina Gumes destacaram-se na produção da escrita no Centro e na publicação de artigos em seu jornal. Buscou-se, então, problematizar: o que possibilitou que essas mulheres assumissem papéis que inicialmente não estariam sendo previstos para elas no espaço público? Quais elementos aproximavam essas mulheres em suas trajetórias de vida?

De início, destaca-se que essas mulheres compartilhavam o mesmo pertencimento étnico, todas eram brancas, a exemplo de Maria Theodolina Neves Lobão, que era loira e tinha olhos azuis (Santos, 1997Santos, H. L. (1997). Caetité: “Pequenina e Ilustre” (2a ed.). Gráfica N. S. de Lorêto.) e que, por meio de fotos, pode ser caracterizada como caucasiana, indicando uma origem europeia e, portanto, colonizadora. A partir da análise dos percursos de formação e atuação, é possível verificar que se tratava de mulheres provenientes de famílias que residiam na cidade e participavam ativamente nos espaços de convívio social e cultural que existiam em Caetité, por exemplo, o teatro e a Casa de Caridade. As famílias de Theodolina, Marieta e Eponina eram constituídas, em sua maioria, por funcionários públicos, que atuavam como professores/as e secretário, além de dedicarem-se, também, ao desempenho de outras atividades urbanas, que exigiam o domínio da leitura e escrita, como redator, proprietários de pequenos comércios, músico. Era um grupo que, economicamente, não possuía uma vinculação direta com a produção da terra e despontava com certa projeção vinculada à sua condição cultural. De entre essas mulheres, Priscila Spínola7 7 Seu pai, Antônio de Souza Spínola “[...] residiu em Caetité, transferindo-se para Lençóis, onde foi político destacado, sendo várias vezes Deputado Geral. Fez parte da Assembléia Constituinte de D. Pedro II. Pertencia ao Partido Liberal”. Ele casou-se com “Constança, filha do Capitão Anacleto Teixeira de Araújo, que foi Delegado de Polícia de Caetité em 1821” (Santos, 1997, p. 148). Priscilla Spínola era cunhada de Deocleciano Teixeira e tia do educador Anísio Spínola Teixeira. Sobre este educador, ver: Nunes (2000), Xavier (2012), Magoga e Muraro (2020), Fernandes e Reis (2023). se destacava economicamente por ser proveniente de uma família com elevado poder econômico e prestígio político na região alto-sertaneja. Nessa perspectiva, Lielva Aguiar (2011Aguiar, L. A. (2011). Agora um pouco da política sertaneja: a trajetória da família Teixeira no alto sertão da Bahia (Caetité - 1885-1924) [Dissertação de Mestrado], Universidade do Estado da Bahia. Recuperado de: https://docplayer.com.br/12525591-Universidade-do-estado-da-bahia-uneb-departamento-de-ciencias-humanas-campus-v-programa-de-mestrado-em-historia-regional-e-local-lielva-azevedo-aguiar.html
https://docplayer.com.br/12525591-Univer...
), que acessou os inventários de Deocleciano Pires Teixeira e da sua esposa, Anna Spínola, afirma que, no estado da Bahia, “[...] a família Teixeira se acomodou entre aquelas que possuíam os maiores patrimônios” (Aguiar, 2011, p. 39).

Ao considerar o pertencimento familiar, pode-se afirmar que todas possuíam contato com a leitura e a escrita no ambiente doméstico, uma vez que todas tinham algum familiar próximo que era professor(a) ou desempenhava funções vinculadas à escrita (Reis & Galvão, 2020Reis, J. P. M., & Galvão, A. M. O. (2020). A escrita no Centro Psychico de Caetité, Bahia: funções e usos (1905-1930). Educação, 45(1). doi: https://doi.org/10.5902/1984644438126.
https://doi.org/10.5902/1984644438126....
). Todas se formaram professoras primárias pela Escola Normal de Caetité e duas delas na primeira Escola Normal de Caetité (Priscila e Theodolina em 1901); as outras duas apenas após a reabertura da nova Escola Normal (Eponina Gumes em 1929 e Marieta em 1938).

As duas primeiras já eram formadas quando participaram ativamente das atividades do Centro Psychico. Priscila foi proprietária de um colégio e Theodolina, regente da Escola Municipal mais prestigiada da cidade (Marques, 2021Marques, Z. M. (2021). Correspondências de mulheres do Alto Sertão da Bahia (1844-1950): práticas de leitura e de escrita [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais. Recuperado de: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/38099
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/...
). Eponina Gumes, quando normalista, publicou textos na Revista de Educação da Escola Normal de Caetité e atuou como professora na cidade. Marieta8 8 Marieta escreveu e publicou ao menos três livros, Caetité e o Clã dos Neves (1975), Algodão de seda (1975) e Mensagens do coração (1986). não atuou como professora. No que se refere à sua formação na escola, afirma-se que essa lhe permitiu submeter-se aos concursos públicos, “[...] para melhorar a situação financeira da família [...]”, sendo aprovada em Salvador, em 1940, para onde se mudou com a família (Gumes, 1975, p. 134). Na dimensão da vida pessoal, Theodolina era mãe de Marieta, ambas se casaram e constituíram família. Priscila e Eponina não se casaram, dedicaram-se à criação e à educação de sobrinhos, além disso criaram crianças órfãs.

Percebe-se que a escrita esteve presente em diferentes momentos da trajetória de vida dessas mulheres, por exemplo, na vida de Priscila, em sua formação profissional, na atuação como professora, na religião (médium) e também nos momentos de lazer e de fruição, em que produziu cadernos “[...] onde copiava textos de terceiros, poesias, músicas, diálogos, discursos e monólogos” (Nogueira, 2015Nogueira, M. L. P. S. (2015). Mulheres baianas nas artes da escrita: tessituras de experiências, memórias e outras histórias (1926-1960) [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo., p. 77). Vale ressaltar que, na época, a escrita por prazer ou diletantismo era uma forma de escrita comum a algumas mulheres, sobretudo, da elite. Com o falecimento da escritora, os cadernos de escritas variadas ficaram sob os cuidados das suas descendentes.

Para as mulheres, associar-se ao Centro Psychico nas décadas iniciais de sua fundação, mais que um gesto de ousadia e coragem, representava assumir um posicionamento diferente daquele ditado pela religião católica que era considerada oficial na cidade. Esses enfrentamentos, no entanto, eram possíveis porque partiam de pessoas vinculadas a famílias que possuíam reconhecimento pela posse de bens e pelas atividades profissionais que exerciam, o que funcionava como símbolo de distinção social (Bourdieu, 1989Bourdieu, P. (1989). O poder simbólico. Bertrand Brasil.) construído em interação com a comunidade. Essas mulheres partilhavam de um modo de ser letrado como ethos e como habitus. Essas condições as deixavam, basicamente, em nível de igualdade em relação aos homens no Centro, especialmente com relação ao domínio da leitura e da escrita. Pode-se observar ainda que gerações diferentes - pais, filhos, sobrinhos, netos - conviveram/em no Centro, durante as várias décadas de seu funcionamento, como uma forma de reprodução social do grupo.

Além dessas quatro mulheres, outras que não faziam parte desse estrato socioeconômico e cultural e que não tinham o domínio da leitura e da escrita também participavam das reuniões, como Rosa Silva, que, apesar de frequentar a escola de médiuns9 9 A escola de médiuns era o nome atribuído aos momentos formativos organizados pelo Centro com os adeptos da doutrina que possuíam, ou não, o domínio da escrita, mas exercitavam a capacidade de receber as mensagens enviadas por pessoas que se encontravam no plano espiritual. Essas práticas foram solicitações feitas pelos guias espirituais do Centro, conforme consta em atas (Livro de acta, 1911a). , não conseguiu desenvolver a escrita e nem a mediunidade. Sobre o seu desempenho nessa escola, registra-se: “[...] a socia Rosa Silva tem feito exercícios espirituais e que nada conseguiu alem de traços e rabiscos desarranjados” (Livro de acta, 1913). Pode-se indicar a esse respeito que a insuficiente habilidade com a escrita não a desestimulou de prosseguir com os exercícios, conforme o registro: “Tomaram papel e lapis, os praticantes Rosa Silva e Antonio Britto, por este ultimo manifestaram diversos espíritos nos saudando pela resolução que tomamos para a vida do ‘Centro’ [...]” (Livro de acta, 1915).

Apresentam-se, a seguir, os gêneros escritos em que as mulheres se destacaram, especialmente, as atas, a psicografia, artigos/textos em jornais e as escritas cotidianas, isto é, as cartas, cartões e discursos.

Escrita de atas

Esse tipo de escrita, que era reconhecida como documento oficial, destinava-se a registrar os fatos e as discussões relevantes que aconteciam durante as sessões ordinárias, normalmente às terças e sextas-feiras, às 19h30min (Estatuto CEAS, 1928, art. 2º, §1º), assim como no contexto das conferências públicas e em comemorativas. Para a sua produção, durante o evento, o secretário fazia um rascunho, anotando o dia, mês, ano, local, nomes dos membros presentes, especialmente da direção, e os pontos principais que foram discutidos durante a reunião. Nessas atas, constava também o recebimento de cartas, cartões, convites e jornais acompanhado dos nomes de quem os enviara e os locais de origem. Posteriormente, a partir desse rascunho, produzia-se a escrita final no livro de atas, que o redator, o diretor e os demais membros da instituição assinavam. A análise das atas permite verificar que a caligrafia de quem redigiu o texto nem sempre correspondia à caligrafia de quem assinou como secretário, o que conduz a uma inferência, isto é, que outra pessoa costumava fazer a escrita final das atas no livro.

A análise também permitiu identificar atas em que as zeladoras10 10 Era (e ainda é) um dos cargos que compõe a direção do Centro, a função vincula-se às dimensões do cuidar, zelar, limpar, arrumar, conservar, entre outros afazeres, que remetem ao âmbito do doméstico, logo, associa-se às obrigações da mulher. eram, por vezes, responsáveis por essa redação final, conforme registrado em ata: “Eu Anna Gumes zeladora servindo de secretaria a escrevi” (Livro de acta, 1911b). Assim, há indícios de que mulheres estiveram envolvidas na transcrição dos rascunhos das reuniões nos livros de atas na conhecida prática de “passar a limpo”, como denominou Bernardo Lewgoy (2000Lewgoy, B. (2000). Os espíritas e as letras: um estudo antropológico entre cultura escrita e oralidade no espiritismo Kardecista [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo. Recuperado de: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/16244
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/16244...
), e mesmo na redação propriamente dita. O pesquisador considera que esse processo de escrita funcionava como uma “prática de edição”, visto que, na escrita final, o texto passa, ainda, por modificações e correções com o fim de adequá-lo às normas gramaticais da língua culta. Conforme destacado anteriormente, 17 livros de atas do Centro referentes ao período de 1906-1930 foram acessados.

Por se tratar de uma escrita formal, existem alguns elementos que são inerentes à escrita das atas, tornando a sua produção, de certo modo, controlada. A escrita de uma ata é crivada pelo poder de escolha e seleção do que deveria ser registrado ou omitido na redação final do documento. A leitura da versão final da ata era feita em voz alta e, geralmente, acontecia em uma reunião posterior à escrita, momento em que era submetida à aprovação ou complementação dos presentes. Essa prática constitui, também, outro mecanismo de controle de produção.

Ao considerar que as condições de acesso ao texto escrito eram diversas e desiguais entre as pessoas que frequentavam o Centro, especialmente para as não alfabetizadas, a prática da leitura em voz alta cumpre, conforme Chartier (1994Chartier, R. (1994). A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Editora Universidade de Brasília., p. 16-17), uma dupla função: “[...] comunicar o texto aos que não sabem decifrar, mas também cimentar as formas de sociabilidades imbricadas igualmente em símbolos de privacidade - a intimidade familiar, a convivência mundana, a conivência letrada”. No Centro, a leitura da ata (Figuras 1 e 2) em voz alta atendia também a essas funções e, sobretudo, atendia a um ‘ideal de escrita’: revisar e atualizar o que foi escrito com a comunidade de fiéis.

Figura 1
Rascunhos de atas, 1929

Figura 2
Ata da reunião de 17/04/1925 com caligrafia de Eponina Gumes e assinada pelo 2º secretário

Escrita mediúnica ou psicografia

Trata-se de uma escrita religiosa e corresponde a um tipo específico de registro de signos que compõem uma mensagem. Ela pode variar quanto ao tamanho, quantidade de folhas, forma e pode ser completa ou parcialmente legível e compreensível. Para a sua produção, exige-se um ambiente previamente preparado com mesa e cadeiras, além da existência de suportes e materiais, como papel, pena, tinteiro e lápis. Nos anos iniciais de funcionamento do Centro Psychico, utilizava-se a caneta-tinteiro como instrumento/recurso de escrita (Livro de acta, 1906). É importante considerar que, diferentemente da produção de atas que envolvia a produção de um rascunho no momento da reunião e a posterior redação final que envolvia entre outras ações o “passar a limpo”, a psicografia requer a performance da escrita no ato da sessão e nem sempre o domínio da escrita, especialmente com utilização da caneta tinteiro, é suficiente para que o conteúdo seja perfeitamente legível. Portanto, é razoável afirmar que realizar a psicografia requeria além da mediunidade, considerável habilidade da escrita11 11 Segundo Christianni Morais (2009), a escrita com caneta tinteiro requeria um longo processo de controle do corpo, da postura e movimentos dos braços e mãos; a aprendizagem dos ângulos para o favorecimento da descida da tinta, para o devido espaçamento entre letras. .

As pessoas responsáveis pela produção da escrita mediúnica ou escrita psicografada são chamadas de médiuns e desenvolveram um nível de mediunidade elevada que as torna capazes de receber e escrever12 12 Para Maria Laura Cavalcanti, a sessão mediúnica é um “[...] ponto de encontro entre o Mundo Visível e o Mundo Invisível. Nela o invisível se toma visível através dos médiuns e de suas diferentes mediunidades” (Cavalcanti, 2008, p.103). Esse ponto de encontro entre o mundo visível e o invisível comumente é expresso e materializa-se por meio da escrita mediúnica, como também pela oralidade e outras formas de comunicação. mensagens enviadas por espíritos desencarnados. Kardec define os médiuns como “medianeiros”, visto que eles têm uma aptidão para fenômenos de diversas ordens, fato que resulta em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. Allan Kardec considera que as principais manifestações são “[...] a dos médiuns de efeitos físicos; a dos sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos” (Kardec, 2003, p. 235).

No Centro Psychico, uma mensagem espiritual descrita em ata destaca o que vem a ser um médium:

A mediunidade, meus bem amados, é uma coisa sublime. Mas vós ignoraes o que é medium. Medium é o medianeiro entre os espiritos e os homens, portanto, se este medium é bem intencionado, poderá atrahir bons espiritos que venham dar os seus conselhos. Esses espiritos são os transmissores da santa doutrina de Jesus que ha dois mil anos foi trazida para vós, por isso é preciso que haja de nossa parte bôa vontade e muita concentração, pois só assim baixarão entre vós estes espiritos para vos doutrinar [...] (Livro de acta, 1919a).

O processo de produção da escrita mediúnica requeria, portanto, determinadas condições a fim de atrair “bons espíritos”. O relato a seguir descreve o processo da escrita mediúnica no Centro, que demandava, tanto a disposição de pessoas e mobiliários especiais, quanto o cuidado no registro dos participantes e de suas funções.

Collocamos no centro da sala a mesa especial que mandamos fazer para esse fim, de forma elyptica, um pouco alongada. Em torno d’esta mesa formamos o primeiro circulo ou circulo interno. Ficando collocados nos dous extremos, em frente um do outro, a medium D. Priscilla Spínola e o medium Herminio Teixeira, - os dous mediuns praticos escreventes do nosso centro; - do lado direito da medium, tomaram logar tres mediuns praticantes; do lado esquerdo do medium, ficaram mais tres praticantes [...], ficando assim completo o circulo interno, com seis mediuns principiantes e dous practicos, todos em numero de oito. Em torno d’este circulo tomaram parte todos os socios presentes [...] De mãos em torno da superficie da mesa, a corrente fluídica [...] Depois de encerrados os trabalhos, foi preciso que se retirassem da sala a maior parte dos socios, para que, diminuindo a força das correntes fluidicas, pudessem despertar o médium Antonio Britto, que afinal voltou ao seu estado normal (Livro de acta, 1907).

Nessa descrição, é possível observar o “como” e “onde”, ou seja, perceber “[...] indícios sobre a natureza de sua experiência” (Darnton, 1990Darnton, R. (1990). O beijo Lamourette: mídia, cultura e revolução. Companhia da Letras., p. 56), indicando que a produção da escrita mediúnica requer pormenorizada organização do ambiente, tanto espacial, como espiritual. Quanto à participação dos sujeitos, percebe-se o lugar de autoridade que os envolvidos ocupam na mesa. No Centro Psychico, as mulheres foram protagonistas ao assumir posição de autoridade, ocupando lugar central na mesa13 13 Conforme descrição contida em Livro de acta (1907). . A psicografia é considerada o ápice de uma reunião mediúnica para o Espiritismo kardecista, compreendida como parte do conjunto de crenças e práticas que se inserem no campo restritamente religioso. As mensagens e os textos provenientes desse processo (Figura 3) são resultado da ação conjunta de médiuns e dos espíritos que encaminham mensagens de cunho religioso ou de edificação moral (Soares, 2016Soares, A. L. (2016). O livro como missão: a psicografia como prática letrada a partir da coleção A vida no mundo espiritual (1944-1968) [Tese de Doutorado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Recuperado de: https://minerva.ufrj.br/F/?func=direct&doc_number=000856169&local_base=UFR01
https://minerva.ufrj.br/F/?func=direct&d...
). Foram identificadas, também, mensagens direcionadas a familiares, como a de Priscilla Spínola,14 14 Priscilla Spínola faleceu em 1910. que se manifestou por meio de um comunicado oral ao médium Virgilio: “[...] dirigindo a sua irmã Haydée Spínola, na qual pedia a mesma para não esmorecer na sua practica do Espiritismo e ao mesmo tempo pedia para doutrinar no seio de sua familia aos seus sobrinhos, irmão etc.” (Livro de acta, 1919b).

Figura 3
Livro de acta Escritas mediúnicas com data de 17/08/1909 e sem data (respectivamente)

Escrita jornalística

A escrita jornalística refere-se aos textos que foram publicados no jornal Lux, que era um órgão do Centro Psychico de Caetité e foi fundado em 1913 por um grupo de espíritas da cidade, tendo circulado até o ano de 1933. De periodicidade mensal e com edições de quatro páginas, o impresso funcionava como meio de divulgar e propagar a Doutrina Espírita em Caetité e região e possuía assinantes em outras cidades do Alto Sertão baiano, conforme explicitado no referido impresso, na seção Assignatura. A direção do Centro era responsável por sua redação, produção e circulação, produzindo matérias a serem publicadas. Além disso, recebia artigos escritos por pessoas de outros lugares. O Lux republicava também artigos, notícias e notas de outros impressos espíritas que circulavam em diferentes cidades do Brasil e do mundo. Em registro realizado no livro de atas, consta que, em uma reunião, o diretor do Centro destacou que “Quanto a redação do Lux ficará sobre o encargo de todos os socios do Centro” (Livro de acta, 1918).

Foram consultadas 25 edições do jornal Lux15 15 As edições do jornal Lux estão microfilmadas e disponíveis para consulta no Arquivo Público Municipal de Caetité. e, nesse corpus, Maria Theodolina Neves Lobão foi a única mulher a compor o grupo de redatores do Lux no período analisado para esta pesquisa. Deve-se considerar, entretanto, que outras adeptas da doutrina também podem ter escrito para o jornal, mas mantiveram o anonimato, utilizando-se de pseudônimo, ou apenas as iniciais do nome, visto que desde o século anterior essa era uma prática comum entre mulheres escritoras/redatoras, que não desejavam ou não poderiam revelar a identidade16 16 No século XIX, segundo Jinzenji (2012), o anonimato era prática comum tanto entre homens quanto entre mulheres, sendo um recurso mais utilizado por esse segundo grupo. Entretanto, ressalta que as professoras eram mulheres que costumavam os assinar seus textos em periódicos, embora essa autoria deva ser problematizada. . Maria Theodolina Neves Lobão, Maria Neves Lobão, MTNL ou MNL foram as formas utilizadas pela redatora, para identificar os seus textos. A seguir, os artigos da redatora que foram publicados no jornal Lux estão relacionados.

Quadro 1
Textos de Maria Theodolina Neves Lobão (Mariquinhas) publicados no Jornal Lux

Os sete artigos escritos por Maria Theodolina Neves Lobão, aos quais tivemos acesso, foram produzidos entre os anos de 1918 e 1922. No geral, os artigos são pequenos, utilizam cerca de 35% da página, que mede 23cm X 32cm, possuem uma linguagem poética e trazem a identificação do local e a data em que foram escritos. Além desses artigos, a redatora escreveu outros, mas não tivemos acesso ao exemplar do jornal, conforme afirmou Maria Theodolina que “[...] já tratou desse tema em dois outros artigozinhos publicados nestas colunas sobre educação moral” (Typograhia de A Penna, 1928, p. 2).

Com relação às temáticas tratadas, os textos podem ser apresentados em três grupos: o primeiro grupo tem como temas os princípios inerentes à Doutrina Espírita e às religiões cristãs, bem como “amor”, “fé”, “caridade”, “perdão”, “paz”, “ensinamentos de Jesus Cristo” e abarca um conjunto de quatro artigos. É interessante observar que a redatora apresenta esses princípios conectados com os dilemas e desafios da vida cotidiana, como a exploração de pessoas menos favorecidas, resultado da Primeira Guerra Mundial; na análise feita por ela, o Espiritismo se apresenta como a única saída para o enfrentamento e a solução dessas questões.

O segundo grupo, com dois textos, tem como temática a memória familiar e trata-se de uma escrita de si, indicando a presença da mediunidade da redatora ao estabelecer contatos por meio da memória afetiva, com entes queridos (pai, irmã, marido), que se encontram no plano espiritual. O terceiro e último grupo aborda questões ligadas à educação das crianças e conta com apenas uma publicação. Como já mencionado, a autora teria publicado dois outros textos com a temática desse grupo, que se referiam à responsabilidade da família na educação das crianças.

A repetição dos elementos da Doutrina Espírita no texto de Maria Theodolina Neves Lobão revela a crença na necessidade da repetição para que não fossem esquecidos e, ainda, para que fossem aprendidos, internalizados. Vale destacar que é uma característica presente nos textos religiosos, sobretudo, visto que cumprem o papel formativo e ideológico. O caráter de testemunho presente nos artigos analisados intensifica o potencial formativo dos escritos de caráter memorialístico (Castillo Gómez, 2021bCastillo Gómez, A. (2021b). Deus, o confessor e a freira: a autobiografia espiritual feminina nos séculos XVI e XVII. In A. Castillo Gómez. Grafias no cotidiano: escrita e sociedade na história (séculos XVI a XX) (pp. 185-206). Eduerj.). A autora relatou que, por meio da vivência espírita, pôde contatar os seus entes queridos ausentes, presentificando-os.

Para pensar como se deu o processo de inserção dessas mulheres na produção da escrita na instância religiosa em foco, a análise de Perrot traz algumas indicações:

O uso [da escrita], essencial, repousa sobre o seu grau de alfabetização e o tipo de escrita que lhes é concedido. Inicialmente isoladas na escrita privada e familiar, autorizadas a formas específicas de escrita pública (educação, caridade, cozinha, etiqueta [...]), elas se apropriaram progressivamente de todos os campos da comunicação e da criação: poesia, romance sobretudo, história às vezes, ciência e filosofia mais dificilmente. Debates e combates balizam estas travessias de uma fronteira que tende a se reconstituir, mudando de lugar (Perrot, 2005Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC., p. 13).

Em relação à escrita de Maria Theodolina Neves Lobão, por se tratar de uma escrita jornalística e ao mesmo tempo religiosa, pode-se dizer que é uma forma de participação na esfera pública, mas cerceada pelos vários “níveis” de controle, desde o conteúdo até a forma e quanto ao uso das iniciais do nome ao invés da assinatura. Entretanto, isso não impediu que a redatora participasse do jornal, por meio da escrita, tanto como espaço de divulgação e circulação da Doutrina Espírita e de suas próprias experiências pessoais e familiares, quanto para apresentar questões que considerava relevantes naquele momento. Podemos ponderar que aproveitar as brechas no texto impresso para apresentar e defender ideias significa, em alguma medida, subverter a ordem patriarcal. Nessa perspectiva, conforme Perrot:

Em uma sociedade globalmente dominada pelo poder masculino, as mulheres exerceram, entretanto, todo o poder possível. As mulheres do século 19 - e provavelmente de todos os tempos - não foram somente vítimas ou sujeitos passivos. Utilizando os espaços e as tarefas que lhes eram deixados ou confiados, elas elaboraram, às vezes contrapoderes que podiam subverter os papéis aparentes (Perrot, 2005Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC., p. 273).

É importante considerar também a relevância do lugar social de Maria Theodolina Neves Lobão como professora primária e como membro de uma família influente em Caetité, para quem o espaço público não representava uma ruptura brusca se comparada a outras mulheres de sua geração. Nesse sentido, além das informações e prescrições referentes à Doutrina Espírita, o Jornal Lux teve um papel formativo17 17 Para uma discussão mais ampla sobre o papel educativo dos impressos, ver Moreira e Galvão (2021). e educativo mais amplo para quem dele pôde participar.

Escrita cotidiana: cartas, cartões, discursos

A escrita cotidiana refere-se à produção de cartas, cartões, poemas, discursos, entre outros gêneros textuais que faziam parte das vivências do cotidiano do Centro e era utilizada pelos membros da agremiação como forma de estabelecer contato, justificar a ausência em uma reunião, comunicar um desligamento do Centro, anunciar nascimentos, casamentos ou fazer algum tipo de solicitação. Essa forma de comunicação era feita tanto pelos membros que se encontravam em Caetité quanto por membros que estavam em outras cidades.

A troca de correspondência foi uma prática de comunicação usual nos séculos XIX e XX, porque ela “[...] não apenas aproxima, mas fala a respeito de quem a escreve e revela algo sobre quem a recebe, permitindo aquilatar a intensidade do relacionamento entre os missivistas” (Bastos et al., 2002Bastos, M. H. C., Cunha, M. T. S., & Mignot, A. C. V. (Orgs.). (2002). Destino das letras: história, educação e escrita epistolar. UPE., p.6). No Centro, o recebimento de carta, cartão, panfleto, cartaz ou outros implicava a apresentação do suporte do texto durante a reunião, seguido da leitura em voz alta para o conhecimento do grupo e um posterior registro em ata, como se pode observar no trecho: “[...] foi nos apresentado um cartão da nossa confreira D. Priscilla Spínola, que se acha na capital do Estado em cujo cartão envia-nos felicitações” (Livro de acta, 1908). As cartas e os cartões não foram localizados nos arquivos consultados, exceto uma carta escrita por João Gumes, em 1906, justificando a ausência nas reuniões do Centro; quanto às demais, restam apenas o relato em atas.

Os discursos foram outro gênero de texto que fez parte da escrita produzida pelos membros que participavam do Centro. Costumavam ser redigidos para serem proferidos durante as conferências, como nas sessões comemorativas do dia 25 de dezembro, que homenageia o Natal de Jesus Cristo e é a data de fundação do Centro Psychico, bem como no dia 03/10, aniversário natalício de Allan Kardec. O trecho de ata a seguir apresenta um desses momentos:

D. Maria Neves Lobão, leu um bello discurso, saudando o mestre Kardec, comparando o Espiritismo com outras religiões, mostrando como esta doutrina já está sendo abraçada em muitos lugares do universo e como no Vaticano já tambem pensam do Espiritismo como ha poucos mezes deram-se factos que só podem ser explicados por esta doutrina (Livro de acta, 1923).

Considerações finais

Como apresentado neste artigo, a escrita produzida no contexto do Centro Psychico não se restringia ao ambiente específico do Centro e se conectava a outros espaços, atendendo a demandas da dimensão cotidiana, registrando cenas ordinárias do fazer e do viver (Certeau, 2001Certeau, M. (2001). A invenção do cotidiano: artes de fazer (6a ed.). Vozes.) do grupo, da comunidade local, regional e, igualmente, da dimensão familiar com ênfase na figura da mulher. Trata-se de uma escrita, portanto, que, além de cumprir os objetivos mais pragmáticos referentes ao cotidiano de uma instituição religiosa, também realizava o proselitismo religioso, reforçando laços de pertencimento do grupo e, sobretudo, conquistando novos adeptos para a Doutrina Espírita.

O estudo permitiu identificar aspectos da história da cultura escrita vinculados a uma instância religiosa e sua relação com a história das mulheres, mostrando que no Centro Psychico de Caetité havia uma considerável participação feminina em práticas imprescindíveis para o funcionamento daquela instituição. Essas mulheres, pertencentes à elite econômica, política e cultural, estiveram envolvidas na produção das escritas ordinárias, como as cartas, cartões, bilhetes, participaram da escrita das atas e, especialmente, da produção da escrita religiosa difundida no Jornal Lux e da psicografia de mensagens espirituais. O pertencimento socioeconômico dessas mulheres pode ser considerado um aspecto importante, uma vez que as desigualdades sociais e de gênero são expressivas no período em foco (Castillo Gómez, 2021bCastillo Gómez, A. (2021b). Deus, o confessor e a freira: a autobiografia espiritual feminina nos séculos XVI e XVII. In A. Castillo Gómez. Grafias no cotidiano: escrita e sociedade na história (séculos XVI a XX) (pp. 185-206). Eduerj.), assim como as restrições à participação pública de mulheres (Perrot, 2005Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC., 2007).

Foram delimitadas práticas de escrita desenvolvidas no Centro Psychico de Caetité na primeira metade do século XX que constituíram e constituem uma parte da cultura espírita, com destaque para as situações e os rituais que contaram com a participação ativa de mulheres. Os indícios sobre as práticas de leitura são mais fugidios que os da escrita, sendo captados em registros de atas, com as referências às leituras de ata, os cartões, discursos e, mais indiretamente, por meio de indícios e inferências referentes à presença de materiais escritos que circularam no espaço do Centro e que constam nos acervos consultados.

Uma discussão necessária resulta da expressiva adesão de parte da elite caetiteense ao espiritismo kardecista: as disputas com outras denominações religiosas, tendo em vista a centralidade do catolicismo para a sociedade brasileira, especialmente no período em foco e a difusão de religiões de matriz africana, desde o período colonial, sobretudo na Bahia. A disputa pelo campo religioso e pela legitimação de seus espaços está presente nos impressos confessionais, especialmente entre católicos, protestantes e espíritas, sendo visível também, nas atas do Centro Espírita, a desqualificação dos ritos de origem africana, como sendo praticados por “feiticeiros” e “charlatões” (Reis & Galvão, 2021Reis, J. P. M., & Galvão, A. M. O. (2021). Jornal Lux como meio de educação e propagação da doutrina Espírita no Alto Sertão Baiano (1913-1930) In K. H. Moreira, & A. M. O. Galvão (Orgs.), Impressos que educam (Vol. 1, pp. 205-225). Mercado de Letras.).

Por fim, outra dimensão que merece ser mencionada é a das outras linguagens envolvidas nos processos analisados, como os gestos, os rituais, os sons, os sentidos, a performance, conforme destacam Finnegan (2015Finnegan, R. (2015). Where is language? An anthropologist’s questions on language, literature and performance. Bloomsbury.) e Castillo (2010Castillo, L. E. (2010). Entre a oralidade e a escrita: a etnografia nos candomblés da Bahia. EDUFBA.), para as quais as fontes analisadas se mostraram insuficientes, mas abrem possibilidades para outros estudos.

Referências

  • Aguiar, L. A. (2011). Agora um pouco da política sertaneja: a trajetória da família Teixeira no alto sertão da Bahia (Caetité - 1885-1924) [Dissertação de Mestrado], Universidade do Estado da Bahia. Recuperado de: https://docplayer.com.br/12525591-Universidade-do-estado-da-bahia-uneb-departamento-de-ciencias-humanas-campus-v-programa-de-mestrado-em-historia-regional-e-local-lielva-azevedo-aguiar.html
    » https://docplayer.com.br/12525591-Universidade-do-estado-da-bahia-uneb-departamento-de-ciencias-humanas-campus-v-programa-de-mestrado-em-historia-regional-e-local-lielva-azevedo-aguiar.html
  • Arribas, C. G. (2019). O sexo dos espíritos: gênero e sexualidade no espiritismo. Revista USP, 121, 97-108. Recuperado de: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/157776
    » https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/157776
  • Aubrée, M., & Laplantine, F. (2009). A mesa, o livro e os espíritos: gênese, evolução e atualidades do movimento social espírita entre França e Brasil. EDUFAL. Trabalho original publicado em 1990.
  • Bastos, M. H. C., Cunha, M. T. S., & Mignot, A. C. V. (Orgs.). (2002). Destino das letras: história, educação e escrita epistolar. UPE.
  • Bourdieu, P. (1989). O poder simbólico. Bertrand Brasil.
  • Brito, C. C. (2013). Do século XIX ao século XXI: as mulheres ou os “silêncios da história” do Espiritismo na cidade de Goiás, Fragmentos de Cultura, 23(1), 17-38. Recuperado de: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2710
    » https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2710
  • Carneiro, G. A. P. (2021). De pennas vacillantes em mãos infantis à produção do jornal O Bem-Ti-Vi: culturas do escrito e crianças de elites em Caetité, BA (1899-1914) [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais. Recuperado de: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/37451
    » https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/37451
  • Castillo, L. E. (2010). Entre a oralidade e a escrita: a etnografia nos candomblés da Bahia. EDUFBA.
  • Castillo Gómez, A. (2021a). Grafias no cotidiano: escrita e sociedade na história (séculos XVI a XX). Eduerj.
  • Castillo Gómez, A. (2021b). Deus, o confessor e a freira: a autobiografia espiritual feminina nos séculos XVI e XVII. In A. Castillo Gómez. Grafias no cotidiano: escrita e sociedade na história (séculos XVI a XX) (pp. 185-206). Eduerj.
  • Cavalcanti, M. L. V. C. ( 2008). O mundo invisível: cosmologia, sistema ritual e noção de pessoa no espiritismo. Recuperado de: http://books.scielo.org. Trabalho original publicado em 1983.
    » http://books.scielo.org. Trabalho original publicado em 1983.
  • Certeau, M. (2001). A invenção do cotidiano: artes de fazer (6a ed.). Vozes.
  • Chartier, R., Rodrigues, J. D., & Magalhães, J. (Orgs.). (2020). Escrita e cultura na Europa e no Atlântico Modernos. Universidade de Lisboa.
  • Chartier, R. (2014). A mão do autor e a mente do editor. Editora Unesp.
  • Chartier, R. (2002). Os desafios da escrita (F. M. L. Moretto, trad.). UNESP.
  • Chartier, R. (2001). Cultura escrita, literatura e história: conversas de Roger Chartier com Carlos Anaya, Jesús Anaya Rosique, Daniel Goldin e Antônio Saborit. Artmed.
  • Chartier, R. (1994). A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Editora Universidade de Brasília.
  • Darnton, R. (1990). O beijo Lamourette: mídia, cultura e revolução. Companhia da Letras.
  • Estatuto do CEAS. (1928, 05 de junho). Livro de registros - livro A1, fls. 01/01, sob o n. 01. Cartório de Registro Civil de Caetité, Bahia.
  • Falci, M. K. (2000). Mulheres do sertão nordestino. In M. Del Priore. História das mulheres no Brasil (3a ed., pp. 241-277). Contexto.
  • Fernandes, F. K. M., & Reis, J. P. M. (2023). Ideias de Anísio Teixeira sobre educação e cultura em jornais do Alto Sertão da Bahia, na primeira metade do século XX. Horizontes, 41(1), Recuperado de: https://doi.org/10.24933/horizontes.v41i1.1386
    » https://doi.org/10.24933/horizontes.v41i1.1386
  • Finnegan, R. (2015). Where is language? An anthropologist’s questions on language, literature and performance. Bloomsbury.
  • Galvão, A. M. O. (2010). História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa. In M. Marinho, & G. T. Carvalho (Orgs.), Cultura escrita e letramento (pp.218-248). Editora da UFMG.
  • Grammont, G., & Almada, M. (2019). Apresentação. Cultura escrita no mundo moderno. Varia Historia, 35(68). Recuperado de: https://doi.org/10.1590/0104-87752019000200002
    » https://doi.org/10.1590/0104-87752019000200002
  • Gumes, M. L. (1975). Algodão de seda. [s.n.].
  • Kardec, A. (1999). O livro dos espíritos. Petit. Trabalho original publicado em 1857.
  • Kardec, A. (2003). O livro dos médiuns ou Guia dos médiuns e dos evocadores: espiritismo experimental (71a ed., G. Ribeiro, trad.). Federação Espírita Brasileira. Trabalho original publicado em 1861.
  • Jinzenji, M. Y. (2012). Leitura e escrita femininas no século XIX. Cadernos Pagú, 38, 367-394. Recuperado de: https://www.scielo.br/j/cpa/a/CNLc3BVqWtXcYNdfQnwVdpx/?lang=pt&format=pdf
    » https://www.scielo.br/j/cpa/a/CNLc3BVqWtXcYNdfQnwVdpx/?lang=pt&format=pdf
  • Lewgoy, B. (2000). Os espíritas e as letras: um estudo antropológico entre cultura escrita e oralidade no espiritismo Kardecista [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo. Recuperado de: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/16244
    » https://lume.ufrgs.br/handle/10183/16244
  • Livro de acta. (1906, 28 de agosto). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1907, 09 de agosto). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1908, 10 de abril). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1909). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Folhas avulsas de escrita mediúnica. Sem localização.
  • Livro de acta. (1911, 21 de abril). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1911, 11 de abril). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1913, 11 de fevereiro). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1915, 20 de agosto). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1918, 21 de maio). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1919, 15 de agosto). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1919, 01 de outubro). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1923, 03 de outubro). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1925, 17 de abril). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Sem localização.
  • Livro de acta. (1929). Arquivo do Centro Psychico de Caetité-Bahia. Folhas avulsas. Sem localização.
  • Lobão, M. N. (1922, 23 de maio). A practica do bem. Jornal Lux, anno V, n. 44, p. 3.
  • Lobão, M. N. (1920, 02 de novembro). Visões saudosas. Jornal Lux, anno III, n. 29, p. 3.
  • Machado, U. P. (1996). Os intelectuais e o espiritismo: de Castro Alves a Machado de Assis. Publicações Lachâtre.
  • Magoga, P. M., & Muraro, D. N. (2020). A escola pública e a sociedade democrática: a contribuição de Anísio Teixeira. Educação & Sociedade, 41, e236819 Recuperado de: https://doi.org/10.1590/ES.236819
    » https://doi.org/10.1590/ES.236819
  • Marques, Z. M. (2021). Correspondências de mulheres do Alto Sertão da Bahia (1844-1950): práticas de leitura e de escrita [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais. Recuperado de: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/38099
    » https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/38099
  • M. T. N. L. (1920, 02 de novembro). Educação moral. Jornal Lux, p. 2.
  • M. N. L. (1918, 21 de junho). O espiritismo. Jornal Lux, p. 4.
  • M. T. N. L. (1918a, 21 de julho). Consolação (à memória de minha irmã). Jornal Lux, p.4.
  • M. T. N. L. (1918b, 23 de agosto). Pela paz. Jornal Lux, p. 4.
  • M. T. N. L. (1918c, 22 de setembro). O perdão. Jornal Lux, p. 3.
  • Morais, C. C. (2009). Posse e usos da cultura escrita e difusão da escola de Portugal ao Ultramar, Vila e Termo de São João del-Rei, Minas Gerais (1750-1850) [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais. Recuperado de: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/VGRO-82GH9T.
    » https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/VGRO-82GH9T.
  • Moreira, K. H., & Galvão, A. M. O. (Orgs.). (2021). Impressos que educam (Vol. 1). Mercado de Letras.
  • Neiva, L. M. R., Jinzenji, M. Y., & Galvão, A. M. O. (2019). A invenção de si na escrita autobiográfica de pessoas idosas. Acta Scientiarum Education, 42(1), e42994. doi: 10.4025/actascieduc.v42i1.42994.
    » https://doi.org/10.4025/actascieduc.v42i1.42994.
  • Nogueira, M. L. P. S. (2015). Mulheres baianas nas artes da escrita: tessituras de experiências, memórias e outras histórias (1926-1960) [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo.
  • Nunes, C. (2000). Anísio Teixeira: a poesia da ação. EDUSF.
  • Perrot, M. (2007). Minha história das mulheres. Contexto.
  • Perrot, M. (2005). Introdução. In M. Perrot. As mulheres ou os silêncios da história (p. 9-26). EDUSC.
  • Reis, J. P. M., & Galvão, A. M. O. (2021). Jornal Lux como meio de educação e propagação da doutrina Espírita no Alto Sertão Baiano (1913-1930) In K. H. Moreira, & A. M. O. Galvão (Orgs.), Impressos que educam (Vol. 1, pp. 205-225). Mercado de Letras.
  • Reis, J. P. M., & Galvão, A. M. O. (2020). A escrita no Centro Psychico de Caetité, Bahia: funções e usos (1905-1930). Educação, 45(1). doi: https://doi.org/10.5902/1984644438126.
    » https://doi.org/10.5902/1984644438126.
  • Santos, P. H. D. (2014). Légua tirana: sociedade e economia no alto sertão da Bahia [Tese de Doutorado]. Universidade de São Paulo. Recuperado de: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-06012015-184410/pt-br.php
    » https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-06012015-184410/pt-br.php
  • Santos, H. L. (1997). Caetité: “Pequenina e Ilustre” (2a ed.). Gráfica N. S. de Lorêto.
  • Soares, A. L. (2016). O livro como missão: a psicografia como prática letrada a partir da coleção A vida no mundo espiritual (1944-1968) [Tese de Doutorado]. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Recuperado de: https://minerva.ufrj.br/F/?func=direct&doc_number=000856169&local_base=UFR01
    » https://minerva.ufrj.br/F/?func=direct&doc_number=000856169&local_base=UFR01
  • Typograhia de A Penna. (1928, 03 de outubro). Jornal Lux, p. 2.
  • Veronese, M. M. (2017). De silêncios e resistências: sonâmbulas, magnetizadoras e outras esquecidas do espiritismo brasileiro [Tese de Doutorado]. Universidade Católica de São Paulo. Recuperado de: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/20114
    » https://tede2.pucsp.br/handle/handle/20114
  • Xavier, L. N. (2012). Universidade, pesquisa e educação pública em Anísio Teixeira. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 19(2), 669-683. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0104-59702012000200017
    » https://doi.org/10.1590/S0104-59702012000200017
  • Tedeschi, L. A. (2016). Os desafios da escrita feminina na história das mulheres. Raído, 10(21), 153-164. Recuperado de: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/5217
    » https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/5217
  • Rodadas de avaliação:

    R1: três convites; dois pareceres recebidos.
  • Financiamento:

    A RBHE conta com apoio da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) e do Programa Editorial (Chamada Nº 12/2022) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
  • 1
    A pesquisa foi desenvolvida por Joseni P. Meira Reis durante licença sabática do Campus XII-UNEB, entre Julho a dezembro de 2021Reis, J. P. M., & Galvão, A. M. O. (2021). Jornal Lux como meio de educação e propagação da doutrina Espírita no Alto Sertão Baiano (1913-1930) In K. H. Moreira, & A. M. O. Galvão (Orgs.), Impressos que educam (Vol. 1, pp. 205-225). Mercado de Letras., sob a orientação de Mônica Yumi Jinzenji e Maria José Francisco de Souza.
  • 2
    O Centro Psychico de Caetité foi estabelecido em 25 de dezembro de 1905 por um grupo de homens letrados pertencentes à elite econômica, política e cultural da cidade, de entre os quais se destacam Aristides Spínola (então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira-RJ); João Antônio dos Santos Gumes (tipógrafo, funcionário público) e Joaquim Rodrigues Lima Júnior (Ex-governador da Bahia).
  • 3
    Especialmente, Brito (2013Brito, C. C. (2013). Do século XIX ao século XXI: as mulheres ou os “silêncios da história” do Espiritismo na cidade de Goiás, Fragmentos de Cultura, 23(1), 17-38. Recuperado de: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2710
    https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/f...
    ) e Veronese (2017Veronese, M. M. (2017). De silêncios e resistências: sonâmbulas, magnetizadoras e outras esquecidas do espiritismo brasileiro [Tese de Doutorado]. Universidade Católica de São Paulo. Recuperado de: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/20114
    https://tede2.pucsp.br/handle/handle/201...
    ).
  • 4
    Consulta realizada nos repositórios de pesquisa: Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBCT) e no portal do Google Acadêmico, que mais rapidamente direcionava ao repositório de trabalhos acadêmicos das Universidades nas quais os trabalhos foram defendidos. Nessa busca, foram utilizados como descritores “Práticas de escrita de mulheres em instância religiosa”, “Cultura escrita, Espiritismo e mulheres” e “Escritas femininas”.
  • 5
    Doutrina sistematizada por Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido como Allan Kardec (1804-1869), que nasceu em Lyon, França, e morreu em Paris. Exerceu, na França, durante trinta anos, a função de educador. Tornou-se discípulo de Pestalozzi, de quem adotou o método pedagógico. A formação de Rivail teve influência da filosofia do século XVIII e, sobretudo, de Rousseau, que serviu de “[...] modelo à edificação do Espiritismo no seu ideal de tolerância, de fraternidade e de universalidade” (Aubrée & Laplantine, 2009Aubrée, M., & Laplantine, F. (2009). A mesa, o livro e os espíritos: gênese, evolução e atualidades do movimento social espírita entre França e Brasil. EDUFAL. Trabalho original publicado em 1990., p. 38).
  • 6
    Foi um dos responsáveis pela institucionalização da Doutrina Espírita em Caetité. Aristides formou-se em Direito e entrou para a política, exercendo os cargos de deputado provincial pela Bahia e deputado federal no Império e na República, radicando-se no Rio de Janeiro. Foi também presidente do estado de Goiás, jornalista, escritor e vice-presidente e presidente da Federação Espírita Brasileira.
  • 7
    Seu pai, Antônio de Souza Spínola “[...] residiu em Caetité, transferindo-se para Lençóis, onde foi político destacado, sendo várias vezes Deputado Geral. Fez parte da Assembléia Constituinte de D. Pedro II. Pertencia ao Partido Liberal”. Ele casou-se com “Constança, filha do Capitão Anacleto Teixeira de Araújo, que foi Delegado de Polícia de Caetité em 1821” (Santos, 1997Santos, H. L. (1997). Caetité: “Pequenina e Ilustre” (2a ed.). Gráfica N. S. de Lorêto., p. 148). Priscilla Spínola era cunhada de Deocleciano Teixeira e tia do educador Anísio Spínola Teixeira. Sobre este educador, ver: Nunes (2000Nunes, C. (2000). Anísio Teixeira: a poesia da ação. EDUSF.), Xavier (2012Xavier, L. N. (2012). Universidade, pesquisa e educação pública em Anísio Teixeira. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 19(2), 669-683. Recuperado de https://doi.org/10.1590/S0104-59702012000200017
    https://doi.org/10.1590/S0104-5970201200...
    ), Magoga e Muraro (2020Magoga, P. M., & Muraro, D. N. (2020). A escola pública e a sociedade democrática: a contribuição de Anísio Teixeira. Educação & Sociedade, 41, e236819 Recuperado de: https://doi.org/10.1590/ES.236819
    https://doi.org/10.1590/ES.236819...
    ), Fernandes e Reis (2023Fernandes, F. K. M., & Reis, J. P. M. (2023). Ideias de Anísio Teixeira sobre educação e cultura em jornais do Alto Sertão da Bahia, na primeira metade do século XX. Horizontes, 41(1), Recuperado de: https://doi.org/10.24933/horizontes.v41i1.1386
    https://doi.org/10.24933/horizontes.v41i...
    ).
  • 8
    Marieta escreveu e publicou ao menos três livros, Caetité e o Clã dos Neves (1975), Algodão de seda (1975) e Mensagens do coração (1986).
  • 9
    A escola de médiuns era o nome atribuído aos momentos formativos organizados pelo Centro com os adeptos da doutrina que possuíam, ou não, o domínio da escrita, mas exercitavam a capacidade de receber as mensagens enviadas por pessoas que se encontravam no plano espiritual. Essas práticas foram solicitações feitas pelos guias espirituais do Centro, conforme consta em atas (Livro de acta, 1911a).
  • 10
    Era (e ainda é) um dos cargos que compõe a direção do Centro, a função vincula-se às dimensões do cuidar, zelar, limpar, arrumar, conservar, entre outros afazeres, que remetem ao âmbito do doméstico, logo, associa-se às obrigações da mulher.
  • 11
    Segundo Christianni Morais (2009Morais, C. C. (2009). Posse e usos da cultura escrita e difusão da escola de Portugal ao Ultramar, Vila e Termo de São João del-Rei, Minas Gerais (1750-1850) [Tese de Doutorado]. Universidade Federal de Minas Gerais. Recuperado de: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/VGRO-82GH9T.
    https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/...
    ), a escrita com caneta tinteiro requeria um longo processo de controle do corpo, da postura e movimentos dos braços e mãos; a aprendizagem dos ângulos para o favorecimento da descida da tinta, para o devido espaçamento entre letras.
  • 12
    Para Maria Laura Cavalcanti, a sessão mediúnica é um “[...] ponto de encontro entre o Mundo Visível e o Mundo Invisível. Nela o invisível se toma visível através dos médiuns e de suas diferentes mediunidades” (Cavalcanti, 2008, p.103). Esse ponto de encontro entre o mundo visível e o invisível comumente é expresso e materializa-se por meio da escrita mediúnica, como também pela oralidade e outras formas de comunicação.
  • 13
    Conforme descrição contida em Livro de acta (1907).
  • 14
    Priscilla Spínola faleceu em 1910.
  • 15
    As edições do jornal Lux estão microfilmadas e disponíveis para consulta no Arquivo Público Municipal de Caetité.
  • 16
    No século XIX, segundo Jinzenji (2012Jinzenji, M. Y. (2012). Leitura e escrita femininas no século XIX. Cadernos Pagú, 38, 367-394. Recuperado de: https://www.scielo.br/j/cpa/a/CNLc3BVqWtXcYNdfQnwVdpx/?lang=pt&format=pdf
    https://www.scielo.br/j/cpa/a/CNLc3BVqWt...
    ), o anonimato era prática comum tanto entre homens quanto entre mulheres, sendo um recurso mais utilizado por esse segundo grupo. Entretanto, ressalta que as professoras eram mulheres que costumavam os assinar seus textos em periódicos, embora essa autoria deva ser problematizada.
  • 17
    Para uma discussão mais ampla sobre o papel educativo dos impressos, ver Moreira e Galvão (2021Moreira, K. H., & Galvão, A. M. O. (Orgs.). (2021). Impressos que educam (Vol. 1). Mercado de Letras.).

Editado por

Editor-associado responsável:

Raquel Discini de Campos (UFU) E-mail: raqueldiscini@uol.com.br https://orcid.org/0000-0001-5031-3054

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    02 Jan 2024
  • Aceito
    22 Abr 2024
  • Publicado
    09 Jul 2024
Sociedade Brasileira de História da Educação Universidade Estadual de Maringá - Av. Colombo, 5790 - Zona 07 - Bloco 40, CEP: 87020-900, Maringá, PR, Brasil, Telefone: (44) 3011-4103 - Maringá - PR - Brazil
E-mail: rbhe.sbhe@gmail.com