Resumo
O estudo apresenta uma análise sobre a circulação da mobília escolar na Instrução Pública Primária do Pará entre os anos de 1889 e 1910. Com base nas reflexões em torno dos catálogos das empresas francesas e norte-americanas, levantamos a seguinte problemática: que modelos difusores da materialidade circularam no Pará por meio dos catálogos? Como se deu a aquisição e comercialização do mobiliário escolar para a Instrução Pública do Pará? Metodologicamente, utilizou-se a pesquisa documental realizada a partir do levantamento de fontes no Arquivo Público do Estado do Pará. Os resultados revelam as estratégias dos dirigentes da administração do Pará e as influências de circulação dos catálogos, vitrines dos saberes universais para modernização dos sistemas educativos.
Palavras-chave: catálogos escolares; modelos estrangeiros; instrução pública; Pará
Abstract
The study presents an analysis of the circulation of school furniture in Primary Public Instruction in Pará between the years 1889 and 1910. Based on reflections on the catalogs of French and North American companies, we raise the following issue: which models did diffusers of materiality circulate in Pará through catalogs? How was the acquisition and sale of school furniture for Public Instruction in Pará? Methodologically, documentary research was carried out based on a survey of sources in the Public Archive of the State of Pará. The results reveal the strategies of the Pará administration leaders and the influences on the circulation of catalogues, showcases of universal knowledge for the modernization of systems educational.
Keywords: school catalogs; foreign models; public instruction; Pará
Resumen
El estudio presenta un análisis de la circulación de mobiliario escolar en la Instrucción Pública Primaria en Pará entre los años 1889 y 1910. A partir de reflexiones sobre los catálogos de empresas francesas y norteamericanas, planteamos la siguiente cuestión: ¿qué modelos fabricaban los difusores de ¿La materialidad circula en Pará a través de catálogos? ¿Cómo fue la adquisición y venta de mobiliario escolar para la Instrucción Pública en Pará? Metodológicamente, la investigación documental se realizó a partir de un levantamiento de fuentes del Archivo Público del Estado de Pará, cuyos resultados revelan las estrategias de los líderes de la administración paraense y las influencias en la circulación de catálogos, escaparates de saberes universales para la modernización de la sistemas educativos.
Palabras clave: catálogos escolares; modelos extranjeros; instrucción pública; Pará
Resumé
L’étude présente une analyse de la circulation du mobilier scolaire dans l’Instruction publique élémentaire de l’État du Pará, au Brésil, entre 1889 et 1910. Partant de réflexions autour des catalogues d’entreprises françaises et américaines, nous avons posé la problématique suivante : quels modèles diffuseurs de la matérialité ont circulé dans l’État du Pará par le biais des catalogues ? Comment se sont effectuées l’acquisition et la commercialisation du mobilier scolaire pour l’Instruction publique de cet État ? Sur le plan méthodologique, nous avons mené une recherche documentaire, fondée sur un relevé des sources dans les archives publiques de l’État du Pará. Les résultats révèlent les stratégies des dirigeants de l’administration du Pará ainsi que l’influence exercée par la circulation des catalogues, véritables vitrines des savoirs universels pour la modernisation des systèmes éducatifs.
Mots clés: catalogues scolaires; modèles étrangers; instruction publique; Pará
Introdução
O estudo apresenta uma análise sobre a circulação de modelos do mobiliário escolar, difundidos na Instrução Pública Primária no Pará, tendo como abordagem os modelos estrangeiros que circularam nas casas de ensino do estado. A segunda metade do século XIX e o início do XX destacam-se pelo grandioso espetáculo da modernidade, na qual países civilizados sentiram-se convocados a adentrar o mundo do progresso industrial e dos avanços comparativos das diferentes nações, espaços de exposições e divulgação onde era possível mostrar a identidade cultural dos povos, realidades ocultas que puderam ser apresentadas pela primeira vez.
O cenário social do Pará e da Amazônia, no período áureo da economia internacional do látex, foi atrelado aos investimentos em internacionalização da cultura, produzido nas capitais da região norte do país, como representação de um padrão civilizado e burguês de práticas culturais e identidade, presente no comportamento social dos sujeitos que viviam o cotidiano da cultura mundana em Belém do Pará. Conforme explicita Coelho (2002), a representação do homem civilizado realizava-se por meio de uma linguagem polissêmica, cujos significados eram embrincados pelos requintes da modernização e nas condições reais e imaginárias por onde circulavam as riquezas, os bens de consumo e a cultura.
Muitos sistemas educacionais foram consolidando-se e constituindo-se com a aquisição de materiais e objetos escolares que circularam a partir das Exposições Universais. Pensar no processo de materialização que possibilitou o triunfo da modernidade educativa para a instrução pública no Pará pressupõe entender a viabilização de uma nova ordem que se instaurou com o progresso e a expansão dos modelos universais, de circulação de objetos e materiais fundamentais para o provimento das escolas.
A proveniência do mobiliário escolar está intimamente relacionada à tão expressiva atividade econômica, interligada ao processo de exportação e movimentação dos portos da capital paraense. De acordo com Sarges (2010), a modernização do estado do Pará só foi possível em razão do enriquecimento que atingiu vários setores da sociedade, a partir da segunda metade do século XIX, pois toda atividade econômica da região amazônica passou a girar em torno da exploração da borracha, reforçando, assim, a inserção da região no sistema capitalista mundial.
Nesse contexto, a circulação internacional de modelos pedagógicos, de objetos e de pessoas carregava o progresso, o desenvolvimento educativo e a aquisição de material escolar. Desse modo, as discussões e as análises sobre a circulação dos objetos escolares, utilizados nas escolas do Pará, seguem baseadas nas reflexões em torno das exposições para compreensão dos processos de circulação dos modelos pedagógicos e do papel da escola como difusora de ideologias e disseminadora da produção e demonstração de novidades do mercado consumidor da indústria escolar. Segundo Escolano Benito (2017), as culturas afirmam sua identidade por meio de objetos simbólicos e de ações igualmente simbólicas, como ocorre com muitas das materialidades e dos ritos que constituem o cotidiano das instituições educativas. Os rituais da escolarização codificam e tipificam os papéis desempenhados pelos sujeitos/atores que intervêm na ação em que se operacionaliza a cultura educativa.
O mobiliário constitui-se como item fundamental para a organização do espaço escolar, destacando-se com artefatos que conduziam a disciplina e o desenvolvimento intelectual dos alunos, além das preocupações com a saúde e higiene do cotidiano das escolas. De acordo com Castro (2013), compreende-se por mobiliário: armários, quadro, bancos, bancas, cadeiras, carteiras, sofá, escrivaninha, estante, estrado, mesa, cabides, chapeleiros etc. Elementos que podem ser compreendidos como parte da cultura escolar e da circulação de saberes. Pretende-se aqui apresentar os modelos pedagógicos e objetos da materialidade que circularam nas escolas primárias do Pará.
A definição temporal deu-se em função do início da República, no qual Belém do Pará apresenta um momento que faz uma dialética da modernidade com a política e economia, perpassando pelos projetos de educação materializados pelo triunfo modernista, simbolizados pela chamada Belle Époque (Sarges, 2010). A partir de 1889, proclamada a República, em fevereiro do ano seguinte, o governo tratou de reformar a instrução pública no Pará. O movimento em defesa da educação sustentava as duras críticas ao modelo decadente que regia a instrução pública no estado, mobilizando um grupo de intelectuais pertencentes ao movimento republicano paraense, o qual defendia reformas imediatas para atender às estratégias políticas e consolidar as ideias republicanas.
Nesse cenário de reordenamento das estruturas sociais, concretizou-se a reformulação da Instrução Pública do Pará, em 1890. Ao longo desta temporalidade, destaca-se o investimento no ensino primário com várias reformulações nos regulamentos e programas de ensino, dando visibilidade aos sujeitos envolvidos na construção da cultura escolar. Entra em cena os inspetores, diretores, professores, bem como a materialidade dos objetos escolares, a implantação de casas apropriadas para o funcionamento da instrução primária do Pará e a criação dos grupos escolares a partir de 1899.
Dessa forma, tomando como objeto de investigação o mobiliário da escola, levantamos a seguinte problemática: que modelos difusores da materialidade circularam no Pará por meio dos catálogos? Como se deu a aquisição e comercialização do mobiliário escolar para a Instrução Pública do Pará? Para responder a esse questionamento, definiu-se como objetivo geral: identificar a circulação de modelos difusores da materialidade no Pará, por meio das Exposições e vitrines dos catálogos.
Nesta pesquisa, busca-se pensar o objeto no seu sentido simbólico, a forma como foi apresentado ou partilhado pelo grupo social, ou seja, procura-se identificar como o mobiliário escolar era visto pelos sujeitos sociais que faziam uso deste objeto como um dispositivo que era proposto nos regulamentos, o que os documentos legais propunham como novo para o cotidiano das escolas e quais as impressões que se tinha sobre este mobiliário.
Para Chartier (1990), é essencial que, ao analisar os discursos, as ideias não sejam desarticuladas das práticas que envolvem a compreensão da relação entre a materialidade dos objetos e dos sujeitos que os produzem nem dos meios como foram difundidas e postas em circulação. A história cultural se propõe, então, a marcar essa possibilidade de associação relativa da história das ideias com as práticas culturais estabelecidas, fazendo com que sejam apropriadas.
Este trabalho traz uma contribuição importante para a história da educação paraense, sobretudo uma contribuição efetiva para a compreensão da história da educação brasileira no período republicano, especialmente a forma de organização da escola no que se refere à idealização, fabrição e circulação dos materiais escolares, especificamente tratando-se do mobiliário escolar.
A estruturação deste texto, além da introdução, está organizada em outras duas seções: a primeira aborda o mobiliário nas vitrines das Exposições Universais por meio dos catálogos; posteriormente, apresentam-se os modelos de mobiliário francês e norte-americano que circularam nas escolas primárias do Pará e suas representações sociais; por fim, tem-se as considerações.
Mobiliário em vitrine por meio dos catálogos
Pensar o mobiliário escolar na vitrine das Exposições ajuda a compreender aspectos relevantes que impulsionaram a obrigatoriedade escolar, especificamente a constituição da escola primária paraense. No final do século XIX e início do XX, houve uma significativa expressão da sociedade industrial, apresentada por meio de uma transmissão de saberes, os quais passaram a circular como padrão de modelos internacionais.
As Exposições Universais destacam-se por terem sido disseminadoras de produtos e objetos de necessidade material no âmbito das instituições educativas, saberes que passaram a circular na forma da materialidade, constituindo-se em práticas e representações, vivenciadas pelos diferentes sujeitos que se apropriaram desses dispositivos para construir a história da escola e sua memória como formadora dos diferentes sistemas educativos.
Em 1889, o Pará participa da Exposição Universal que acontece em Paris. De acordo com o relatório de Gama Abreu, o jornalista Santa-Anna Nery foi uma personalidade significativa na organização da exposição, pois doou itens de sua coleção para compor as amostras que foram expostas no evento que representava o Pará e o Amazonas. Gama Abreu enaltece a contribuição do jornalista não somente para a imprensa paraense, mas, principalmente, pela sua disponibilidade em doar objetos para a Exposição Universal na capital da França (O Pará na Exposição..., 1890, p. 22).
Nesse contexto, as discussões e análises sobre a circulação do mobiliário escolar utilizado nas escolas do Pará seguem tendo como base as reflexões em torno das exposições para a compreensão dos processos de circulação dos modelos pedagógicos e do papel da escola como difusora de ideologias e disseminadora da produção e demonstração de novidades do mercado consumidor da indústria escolar. Assim, a materialidade cultural do campo escolar ganhou sentido e significado a partir de sua valorização histórica, como um resgate da memória do patrimônio educativo que passou a circular e a constituir-se como testemunho dos saberes e das práticas culturais, as quais foram construídas nos modos de produção empírica no interior da escola. Sob esse viés, a cultura escolar é visibilizada por meio da circulação de saberes materializados nos objetos de ensino. Conforme esclarece Escolano Benito (2018, p. 91),
[...] confere a esses materiais, um estatuto que antes não tinham por terem sido durante muito tempo objetos excluídos do museu da memória, recuperada e protegida, reavaliação que se opera ao incluir os instrumentos de ensino no catálogo dos bens postos, valorizados em uma democracia cultural esclarecida [...] entre outras coisas mediante os dispositivos de normalização e governabilidade da escola.
Nessa perspectiva, tentando satisfazer os anseios para atender às demandas da política modernizante, regulamentando o uso de materiais escolares adequados para o ensino primário no Pará, via-se nos modelos que circulavam nas exposições um papel importante na difusão da ideologia do progresso. De acordo Alcântara (2014), a aquisição dos materiais e mobiliários propagados nesses espaços, considerados palcos de objetos desejados, circulavam nos diferentes países por meio dos catálogos que difundiam os padrões pedagógicos e higiênicos, em condições para que as crianças pudessem ler e escrever, preservando-as de atitudes viciosas.
De acordo com Nóvoa e Schwriwer (2000), essa divulgação do modelo de escola ideal configurou-se como um projeto de modernidade educativa propagado nos espaços designados às exposições, constituindo-se como uma verdadeira universalização e divulgação de ideias, imagens, objetos etc., sendo estes últimos processos inovadores que modificavam o mundo.
Ainda conforme Alcântara (2014), destaca-se, aqui, a estreita relação entre a escola, a indústria e as Exposições Universais, uma vez que a escola movimentou o mercado com suas necessidades, conduzindo-o para suprir as demandas exigidas, elevando a concorrência entre as indústrias na inovação e adequação dos produtos que atendessem às regulamentações prescritas pelos preceitos pedagógicos vigentes. Assim, o Estado passou a ser o comprador privilegiado, expandindo cada vez mais o lucro das indústrias, principalmente de mobília escolar.
Nessa perspectiva de estruturação da escola moderna, pública e obrigatória, em muitos países do Ocidente, observa-se uma circulação internacional de discursos e saberes sobre o corpo infantil, o corpo do cidadão escolarizado, no âmbito da higiene pública e escolar. Para Alcântara (2016), ao lado das questões pedagógicas, médicas e higiênicas, a industrialização, as inovações tecnológicas e a globalização propiciam a fabricação e difusão de um novo objeto que se tornaria cada vez mais imprescindível ao funcionamento das instituições de ensino: a carteira escolar.
A partir da análise dos catálogos das indústrias de mobiliário escolar, os modelos de carteira mais hegemônicos, expostos nas exposições universais do século XIX, são de empresas norte-americanas e francesas, as quais disputavam a liderança do mercado de mobiliário escolar, num contexto em que a escola emerge como um importante mercado consumidor.
Alinhada a essa demanda crescente, a aquisição chegou ao Pará por meio dos catálogos, a partir dos quais era possível tomar conhecimento dos diferentes modelos de mobiliário e demais artefatos para o ensino das aulas na instrução primária.
No entanto, o mercado local não dispunha de casas próprias para fabricação do mobiliário escolar, sendo necessária a importação desses objetos que se tornaram indispensáveis ao funcionamento das escolas primárias do estado, principalmente as da capital. Sobre a aquisição da mobília escolar para as escolas, observou-se que, no período de grande efervescência econômica na região, os investimentos do governo em educação estavam voltados para atender aos modelos universais estabelecidos pelos hygieno-pedagogistas, como se vê no excerto a seguir, apresentado por José Veríssimo, Diretor Geral da Instrução Pública:
O problema da mobília escolar está hoje resolvido. Os typos (sic) variam de forma, de gosto, de preço, de perfeição artística ou de simples mão de obra, mas são em geral fundamentalmente os mesmos.
Estabelecidos pelos hygieno-pedagogistas (sic) os requisitos que devia satisfazer uma mobília escolar perfeita, esforçaram-se os fabricantes a compita para realizarem os typos (sic) mais de acordo (sic) com essas prescrições (A Instrução Pública..., 1891, p. 86).
As demandas relatadas por Veríssimo (A Instrução Pública..., 1891), diretor geral da instrução pública no Pará, em visita às escolas do interior e da capital, denunciam o desajuste no cumprimento e na execução dos regulamentos e programas que revelou, em seus registros, o estado lastimável em que se apresentavam as casas de ensino primário no estado. E, portanto, solicitou ao governo providências imediatas no sentido de suprir necessidades essenciais, e que fosse fornecido pelo menos um mobiliário adequado aos padrões modernizantes:
Mobilia (sic) escolar bastante para o numero (sic) de alunos (sic), construída segundo os ensinamentos e as exigências da hygiene (sic) escolar, adoptando-se (sic), pelo menos três typos (sic) de bancos-carteiras, correspondentes ás (sic) idades de 6 a 8, 9 a 11 e 12 a 14 annos (sic). A adopção (sic) dos três typos (sic) e o mínimo que se póde (sic) exigir, entre os cinco recomendados, para não continuarmos a merecer os justos reparos que, por mal nosso, correm impressos, de um fabricante de mobília escolar americana, estranhando que para o Governo do Pará se encomendasse mobília de um só typo (sic), como se aqui tivessem os meninos em idade escolar todos os mesmos tamanhos (A Instrução Pública..., 1891, p. 85).
O desejo de seguir as prescrições da política modernizante e dos preceitos pedagógicos e higiênicos determinados para a utilização de diferentes modelos de mobília escolar (carteiras de alunos), prescrições estas defendidas pelo diretor da instrução pública e que apontam os tipos de bancos-mesas segundo a faixa etária dos alunos, revela a necessidade de adequação da mobília escolar no Pará. Contudo, observa-se a insatisfação e preocupação, nos relatos apontados no relatório, com o estranhamento de pedidos aos fabricantes de mobília norte-americana feitos pelo Governo do Pará, encomendas estas que priorizavam um só tipo e modelo de carteira, fator de comprometimento dos preceitos de higiene recomendados para o desenvolvimento físico e, consequentemente, intelectual dos infantes.
As exigências determinadas pelos padrões estabelecidos para adoção de mobiliário adequado exprimem claramente o não cumprimento dessas medidas no que se refere à aquisição dos modelos exigidos para as diferentes faixas etárias do alunado das escolas primárias do Pará. Assim, o que é visto de fato é a falta de compromisso do governo no investimento adequado para suprir as carências denunciadas nos documentos oficiais.
As medidas a seguir (Figuras 1 e 2), exibidas em catálogos de casas francesas, fornecedoras de grande parte do mobiliário e demais materiais para as escolas no Pará, destacam os tamanhos padronizados para os modelos de bancos-mesas para diferentes faixas etárias, sendo essa uma das preocupações apontadas nos relatos sobre o uso da mobília pelas crianças do estado em questão.
Sendo o Pará um estado da região norte do Brasil em destaque, a essa altura, no setor econômico e que precisava acompanhar as mudanças na chamada civilidade moderna, suas denúncias traziam à tona os improvisos que deixavam a imagem da educação paraense em situação deplorável. Assim, demonstrava-se preocupação com as exigências da higiene escolar e com o desenvolvimento da instrução primária, visto que a carência absoluta dos mais indispensáveis elementos demandava providências urgentes a serem executadas.
Pensavam-se e defendiam-se as propostas relevantes para o avanço da educação no Pará, reiterando que os modelos norte-americanos e europeus eram os melhores a serem seguidos; portanto, ao propor a aquisição do mobiliário escolar, consideravam-se as medidas e os tipos de materiais utilizados para a escolha desse mobiliário e seguiam-se os modelos propagados por meio dos catálogos, os quais davam visibilidade a essas vitrines circulantes nos mais diversos países, fato que impressionava José Veríssimo (A Instrução Pública..., 1891).
A seguir, serão apresentados os preceitos estabelecidos para a adequação da instrução primária à pedagogia moderna.
Modelos de mobiliário francês e norte-americano que circularam nas escolas do Pará
As análises aqui apresentadas destacam os modelos nas Exposições e nos catálogos de empresas fornecedoras do mobiliário escolar para o estado do Pará. Ao longo desta pesquisa, buscou-se localizar, nos diferentes documentos oficiais do estado, modelos de mobiliário solicitados para as instituições de atendimento à instrução primária, assim como investigar espaços que tivessem como foco os objetos físicos para constatação e comparação com os modelos expostos nos catálogos das casas fornecedoras.
Como já mencionado, as encomendas eram feitas para os Estados Unidos por intermédio de um representante do governo do estado nesse país, na pessoa do Sr. Comendador José Cardoso da Cunha Coimbra, que tratava das negociações e faturas a serem enviadas à capital do Pará. As encomendas seguiam as escolhas por meio dos catálogos, e as despesas eram negociadas, presencialmente, por meio do representante comercial entre o Pará e os Estados Unidos, cuja consignação era descrita na pessoa dos Srs. G. Amsinck & Ca, de Nova York. As encomendas feitas à França eram fornecidas pelas casas Hachette & Ca e Charles Delagrave, ambas com localização em Paris.
As articulações estabelecidas entre os compradores e fornecedores evidenciam o processo de mediação e confirmação da ideia de modernização da escola paraense, adotando o mobiliário europeu e norte-americano. De acordo com Alcântara (2014), os residentes estrangeiros chamados de mediadores culturais envolvidos com a instrução pública em seus países de origem serviam de intermédio entre os fornecedores e o governo.
Os catálogos eram indispensáveis para as compras feitas a distância, contudo havia uma preocupação dos fabricantes com suas patentes para os cuidados com as reproduções dos modelos em qualquer lugar do mundo. Dessa maneira, tentou-se fazer a mobília para as escolas no Pará, porém, por haver o descontentamento com a indústria local por falta de mão de obra qualificada para atender a tais exigências e por não existir no estado ampla concorrência para a fabricação, optou-se por encomendar os modelos importados.
Pretende-se, aqui, apresentar os mobiliários que circularam nas escolas primárias do Pará, associando-os aos modelos constantes nos catálogos. Por meio das imagens, busca-se proporcionar maiores informações sobre o mobiliário fabricado, suas características físicas, higiênicas e ergonômicas. Observou-se, a partir das imagens dos catálogos em consonância com as imagens do mobiliário utilizado na instrução primária paraense, que a circulação desses modelos em determinadas instituições seguia os padrões exigidos para o modelo ideal de escola, principalmente aquelas que foram projetadas e construídas com espaços adequados para receber essa mobília, prescrita para atender às determinações dos modelos universais e modernos.
Três catálogos encontrados e analisados com modelos de mobília francesa datam do período de 1890; 1892 e 1935, da casa Charles Delagrave. Assim, temos em exposição os seguintes: Catalogue spécial de mobilier et materiel scolaire et acessoires de classes, 1890; Mobilier scolaire. Matériel d'enseignement. Catalogues. Recueil, 1892, os quais apresentam modelos semelhantes ou aproximados do mobiliário utilizado nas escolas primárias do Pará.
A escolha por analisar os modelos constantes nos catálogos franceses da indústria Delagrave em exibição deu-se pela citação dessa casa em documentos oficiais da instrução primária do Pará, como fornecedora de mobiliário e demais materiais escolares para o estado.
Dentre os catálogos com modelos de mobiliário norte-americano, há um exemplar que data de um período anterior ao recorte desta pesquisa, entretanto os mobiliários circulantes nas escolas primárias do Pará também se assemelham aos modelos das escolas norte-americanas e mantiveram-se circulando por um longo período nas instituições de nosso estado. Os modelos constantes nos seguintes catálogos destacam a mobília norte-americana: Catálogo descritivo e ilustrado de móveis escolares, aparelhos, globos, mapas, gráficos, quadros negros, instrumentos matemáticos etc., 1870; Requisitos higiênicos de mobiliário escolar, 1892; Catálogo descritivo de móveis e suprimentos escolares, 1889; Catálogo ilustrado de material de jardim de infância, ajudas primárias, mapas, globos e gráficos, móveis escolares e quadros-negros, 1895.
As subseções a seguir apresentam imagens comparativas de diversos tipos e modelos de mobiliário francês e norte-americano, comparados aos mobiliários encontrados nos documentos da instrução primária do Pará e propostos nos regulamentos.
Carteiras/bancos-mesas para alunos
Alcântara (2014) sinaliza a rivalidade entre as empresas fabricantes de carteiras escolares, e o crescimento do comércio internacional de mobiliário escolar a partir de 1867, com o predomínio do mercado americano, evidencia a necessidade do aperfeiçoamento dos modelos, fato que contribui para o aumento dessa concorrência, em 1873, não apenas de modelos e conceitos de carteiras, mas também de consumidores que se tornaram exigentes e seletivos para a adoção das propostas mais convenientes às suas demandas.
Nesse momento de rivalidade, a expressiva participação da França diante desse contexto, com sua experiência em diversos modelos, leva para a exposição uma diversidade significativa de propostas, revelando, assim, seu domínio, sendo um de seus modelos bem elogiado e premiado com diploma de mérito na Exposição de 1873 (Figura 3).
Além dos modelos franceses, os expostos pelas empresas dos Estados Unidos também tiveram uma expressiva visibilidade e comercialização, destacando-se pela elegância e praticidade. Os elegantes modelos de carteiras de Boston com base de ferro (Figura 4) também receberam o diploma de mérito concedido ao mobiliário das escolas superiores e da Escola Normal de Boston.
Ainda seguindo o exposto por Alcântara (2014), que faz menção ao catálogo Illustrated catalogue of Ross’Impoved Scoll, church and vestry Fortunite, de 1872, “[...] na abertura do catálogo, o próprio Joseph L. Ross, mentor dos modelos das carteiras Boston, se dirige aos oficiais de escolas, expondo sua intenção de melhorar o mobiliário” (Alcântara, 2014, p. 94-95). Isso evidencia a qualidade, durabilidade e adequação à idade e estrutura escolar, características desse mobiliário agregadas ao estilo e acabamento fundamentais para alcançar uma perfeição. A combinação de madeira e ferro proporcionava a força e a durabilidade, além da utilização de mão de obra qualificada e experiente, máquinas modernas e material de qualidade.
Alinhado aos modelos circulantes e às expectativas de modernização da instrução primária, o estado do Pará idealizou a constituição do seu espaço vislumbrando-se com os objetos de desejo que se propagavam nos catálogos. Contudo, apesar das exigências estabelecidas e dos requisitos mínimos para aquisição da melhor mobília, viram-se as preocupações quanto à adequação dos modelos à realidade da nossa região e dos espaços destinados ao funcionamento das escolas. Como explicitado no excerto a seguir:
Incontestavelmente a mais perfeita mobília escolar é a americana, já conhecida em typos (sic) diversos n’este Estado. Essa mobília, porém, tem para nós um inconveniente grave. Sendo armada em pés de ferro fundido, é excessivamente frágil, exigindo, para remediar a esse inconveniente, ser fixada por parafusos nos assoalhos, o que, como direi, nem sempre é, para nós possível.
Demais, quaisquer que sejam os cuidados da embalagem, chega aqui quasi (sic) sempre com muitas avarias. Tendo que ser enviada para o interior já armada, em más condições de transporte, não sei si (sic) exagero calculando em mais de 20% o prejuízo que as quebras causariam si (sic) houvéssemos de importar essa mobília.
Não possuindo nós casas especiaes (sic), é raro que seja possível fixar ao chão os bancos-mesas americanos.
As constantes mudanças das casas de escola, vêm completar esta instabilidade tão fatal á (sic) mobília (sic) americana, especialmente construída para estar permanentemente fixa ao assoalho, e excessivamente quebradiça quando deixa de ser fixada (A Instrução Pública..., 1891, p. 86).
O que se observa nesse cenário são as inúmeras adversidades e a frustração dos dirigentes oficiais da instrução pública de nosso estado. As tentativas em seguir a padronização das propostas universais para equipar as instituições com o mais avançado mobiliário revelam o estado de precariedade dos espaços inadequados nos quais funcionavam/funcionam as escolas. Os inconvenientes apontados por consequência da falta de estrutura local colocam em evidência a qualidade da mobília americana, ora vista e defendida como a mais perfeita, ora citada como fraca e excessivamente quebradiça.
Dentre os mais graves inconvenientes para uso dessa mobília adequadamente, havia a falta de casas apropriadas no interior do estado, onde a maioria das escolas funcionava em locais improvisados e sem condições para instalação, principalmente das carteiras para alunos, as quais possuíam pés de ferro que necessitavam ser fixados ao assoalho, pois as casas/escolas eram de chão batido e não era possível aparafusá-las, além das constantes mudanças das casas de escola, fator que contribuía para instabilidade e danos na remoção dos móveis que ali eram utilizados.
Outro fator negativo nesse processo de aquisição tratava-se do transporte para as escolas mais distantes da capital. As peças deveriam ser montadas nas oficinas da capital e seguir montadas para o interior, o que implicava prejuízo para os cofres do estado com as avarias e os novos consertos.
A utilização do modelo francês de bancos-mesas para dois lugares constituiu o espaço da sala de aula elementar feminina do Instituto do Prata. Como visto na imagem do catálogo (Figura 5), este modelo feito todo em madeira assemelha-se ao que é visto na imagem da instituição paraense (Figura 6). Um modelo que, de acordo com as descrições do catálogo francês, é adequado para alunos na faixa etária de 08 a 10, 10 a 12 e 12 a 14. Contém assento macio com mesas inclinadas em três dimensões de acordo com a faixa etária exigida, pés com apoio para dar equilíbrio à postura corporal.
Nos documentos e regulamentos da instrução primária do Pará, não foram localizadas as medidas exigidas para as carteiras, somente os tipos diferenciados pela faixa etária. Uma característica ergonômica que foi comparada seguindo os parâmetros das medidas apresentadas nos catálogos.
Na cena da sala de aula exibida na imagem (Figura 6), percebe-se que há uma organização em fileiras das carteiras com alunas agrupadas, tamanhos diferentes na altura das mesas, seguindo uma disposição que vai do menor para o maior, pois a classe é composta por meninas de idades diferentes. Outro aspecto observado no espaço físico da sala trata-se do piso, o qual aparenta ser chão batido, fato que não permitiria o uso de um modelo de mobiliário com pés parafusados. À frente da classe, está a figura da professora; uma religiosa, configurando a presença da igreja nas instituições de ensino primário do Pará, um controle ideológico pela construção da moral, a qual é vigiada e moldada pelo viés religioso e entrelaçada com o campo político.
Assim, a imagem (Figura 7) a seguir apresenta duas salas de aula da escola primária, porém de uma classe masculina ainda do Instituto do Prata, na qual se observa que o tipo de bancos-mesas utilizado pelos alunos é o modelo individual. Nota-se, além disso, a disposição das carteiras, também enfileiradas para facilitar o controle e manter a disciplina nas aulas. O cenário das duas classes diferencia-se com a figura de um professor conduzindo uma das aulas; e, na outra classe, a figura feminina de duas professoras religiosas na seção masculina do instituto.
Claramente há o destaque para as questões de gênero. Primeiramente a preocupação em organizar os meninos em carteiras individuais, mantendo a ordem e a moral, principalmente com a figura masculina para conduzi-los nas aulas. De outro lado, a presença das professoras femininas na seção masculina, cenas que conduzem à reflexão sobre os traços de uma imposição estabelecida pela ordem vigente de uma atividade ordinária e tradicional. Registra uma cultura presa à práxis do cotidiano e suas representações vinculadas a uma estética que se constituiu nas relações de poder.
As carteiras escolares foram interligadas às relações de poder estabelecidas em sala de aula entre alunos e professores, os quais se sujeitaram ao cumprimento de normas que moldaram comportamentos a serem iguais. Foucault (1999, p. 25) discute a compreensão do lugar do corpo na sociedade: “[...] o corpo também está mergulhado num campo político; as relações de poder têm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam, o dirigem, o suplicam, o sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimonias, exigem-lhe sinais”.
Pinheiro (2017), em seu estudo sobre o Instituto Orfanológico do Outeiro, destaca a forma de organização de mesas e cadeiras individuais (Figura 8), apontando que, nessa configuração, estas são destinadas individualmente para cada aluno, tendo a sua adoção relacionada às questões de disciplina e higiene, primando pela busca por adequada acomodação dos educandos para evitar as brincadeiras, as distrações, a preguiça, prevenir problemas posturais, de visão e a transmissão de doenças, mediante contato físico; por isso, o tipo de material e as medidas norteavam-se pelas indicações dos médicos higienistas.
Com base nos padrões determinantes de embelezamento e ordenamento dos visuais físicos das instituições, o investimento nos modelos de mobiliário mais sofisticados que circularam nas vitrines das exposições e catálogos trouxe à instrução primária do estado do Pará o requinte e a elegância das propostas norte-americanas para compor a materialidade das escolas que aqui foram construídas, seguindo as prescrições previstas nas ideologias de progresso e consumo do mais moderno aparelhamento educativo.
Ainda que as críticas feitas ao modelo e material utilizados na fabricação da mobília americana fossem negativas para uso em muitas casas/escolas no Pará, as carteiras armadas com pés de ferro que exigiam ser fixadas ao assoalho chegaram a compor as salas de aula de instituições paraenses. O modelo banco-mesa de Boston, premiado na Exposição de 1870, com diferentes medidas para serem adquiridas de acordo com a faixa etária adequada, pode ser comparado ao modelo utilizado pelos alunos do Instituto Lauro Sodré, conforme visto a seguir (Figura 9).
A imagem da carteira modelo americano Chandler também se destaca como uma das propostas que circularam e compuseram a sala de aula primária paraense. Como apresentado nos estudos de Alcântara (2014), sobre a origem de Boston e também América Latina, em sua forma e descrição, observa-se: “[...] tipo - mesa e cadeira separados; nº de lugares - 01; fixa ao chão; constituição - madeira e ferro fundido; lugar para tinteiro; prateleira; mesa móvel; banco móvel; com encosto, mas sem apoio para os pés” (Alcântara, 2014, p. 186). Era um modelo que possibilitava a adaptação da mesa e da cadeira ao tamanho dos alunos, a cadeira podia subir e descer, assim como a mesa.
Com base na descrição e composição desse modelo, ao associar-se à imagem a seguir (Figura 10), revela-se uma possível semelhança com a carteira individual americana. Embora não se tenham dados ou registros dessas carteiras nos documentos analisados que comprovem a exatidão da marca anteriormente descrita, constatou-se a aproximação e intencionalidade da instrução primária em seguir os padrões de mais alto estilo e modernização no uso do mobiliário universal circulante como determinante no ideário educacional republicano.
O cenário da sala de aula dessa vantajosa instutição de ensino, projetada e construída para atender aos anseios do novo regime e das políticas de embelezamento da cidade, demonstra o amplo espaço com janelas e portas com altura adequada para facilitar a entrada de luz e circulação do ar. Observa-se a luminosidade e as paredes brancas, dando apecto de limpeza e higiene ao lugar. Outra característica importante nesse cenário trata-se do chão da sala em assoalho de madeira, grande vantagem para receber esse tipo de carteira que exige ser fixada ao chão por parafusos.
De acordo com os dados da imagem fotográfica (Figura 11), a atividade desenvolvida nesta sala de aula tratava-se de uma aula de desenho, portanto, nota-se que a dimensão das mesas é mais larga para que os alunos pudessem realizar suas tarefas com mais habilidade. Outro fator considerado importante é a diferença de faixa etária composta nessa classe. Vê-se ao fundo da sala meninos com aparência de menos idade e outros à frente da classe com tamanhos maiores, porém todos utilizando o mesmo tamanho de mesa na execução da aula.
A composição da fotografia que apresenta a sala de aula complementar ainda no Instituto Lauro Sodré dá ênfase para o modelo de bancos-mesas, produzido também com madeira e pés de ferro fixados ao assoalho de madeira. Como já descrito na imagem anterior (Figura 10), a estrutura da sala de aula revela a preocupação com os aspectos higiênicos, disciplina e controle; além disso, nota-se a disposição das carteiras individuais em fileiras para facilitar a visão do professor de toda a classe.
Mesa para professores e administração escolar
Outro mobiliário, localizado com frequência nos catálogos, são as mesas para professores e também utilizadas pela administração escolar (Figura 12), as quais se destacam pela variedade de modelos oferecidos pelas empresas aos seus clientes. Exemplares que variavam desde os mais simples, usados pelo professor em sala de aula, até os mais sofisticados com suportes para gavetas, para máquinas de escrever e com outras finalidades de escritório para a administração escolar.
Observa-se que, no caso do modelo francês, os catálogos apresentam, ao lado das imagens da mesa, a qual também pode ser caracterizada como escrivaninha, descrições sobre as medidas de comprimento e largura e diferenciações das características nos detalhes do material utilizado na fabricação e de acabamento. Para a diversidade nos modelos, apresentada nos catálogos americanos, a descrição também destaca as características físicas de medidas entre os modelos.
As imagens que se apresentam com o mobiliário em evidência, utilizado pelos professores e direção da instituição paraense, possibilitam constatar que os padrões dessa mobília seguiam os modelos comparados aos dispostos nos catálogos das empresas estrangeiras. Mais um componente material destacando-se na constituição dos espaços educativos, projetados para se tornarem vitrines no palco da modernidade do Pará republicano.
Quadro negro
Elemento importante na composição da sala de aula, o quadro negro tornou-se indispensável para o desenvolvimento da escrita. Conforme analisado pelos estudos de Barra (2001), o quadro negro teria surgido entre o final do século XVIII e início do XIX como um instrumento de uso coletivo que aparece vinculado simultaneamente ao ensino de ler e escrever. Nesse sentido, a constituição da sala de aula como um espaço mais moderno configurou-se como difusão do ensino da leitura e da escrita nas classes mais populares.
Ainda de acordo com Barra (2001), a inserção desse elemento no cenário escolar ocorreu por motivações nas políticas educativas para o ensino de massa, possibilitando o aprendizado para um número maior de pessoas ao mesmo tempo, bem como pelas questões econômicas que passaram a movimentar o mercado consumidor.
Motivados por essa expansão do ensino e pelas reformas educativas que também atingiram os ideais de educação no Pará, a movimentação e a aquisição de novos objetos intensificaram-se com as exigências previstas na circulação dos novos saberes e passaram a influenciar as práticas de ensino. Dentre os elementos requisitados para compor o espaço das salas de aula, o quadro-negro (Figura 13) aparece com frequência nas demandas de pedidos, bem como nos programas de ensino da instrução primária.
Considerações Finais
Observou-se, a partir das imagens dos catálogos em consonância com as imagens do mobiliário utilizado na instrução primária paraense, que a circulação desses modelos em determinadas instituições seguia os padrões exigidos para o modelo ideal de escola, principalmente aquelas que foram projetadas e construídas com espaços adequados para receber essa mobília, prescrita para atender às determinações dos modelos universais e modernos. A partir dessas constatações, pode-se pensar as estratégias impostas pelos dirigentes da administração do Pará, tendo em vista as influências de circulação dos catálogos como vitrines dos saberes universais, determinantes para modernização dos sistemas educativos.
A análise dos catálogos das casas francesas e norte-americanas, comparados ao mobiliário que circulou nas diversas instituições de atendimento ao ensino primário no Pará, coloca em evidência o investimento do governo em equipar as escolas da capital, nas quais os edificíos, caracterizados como palacetes de ensino pela sua elegância, foram equipados com o que havia de mais moderno para dar visibilidade ao estado como a “vitrine do progresso”. Em contraponto a esse cenário de visual elegante, os relatos de diretores e professores das casas/escolas e grupos escolares do interior denunciam o “estado de ruínas” das mobílias e demais objetos fundamentais para o cumprimento mínimo das aulas e do ensino, como disposto nos dispositivos e como exigido pelo governo.
Os espaços improvisados e adaptados para instalação de muitas escolas, algumas na prórpria capital, não correspondiam ao tipo de mobília adquirida no estrangeiro; o chão batido, o espaço reduzido das salas de aula para acomodar as carteiras/bancos-mesas, além da falta do cumprimento dos preceitos de higiene, são fatores que contribuíram para a reutlização do mobiliário usado nas escolas de maior requinte da capital, o qual foi reformado pelas oficinas de marcenaria do Instituto Lauro Sodré e outras que prestavam serviços de consertos, envernizamento e adapatação, para, assim, poder ser enviado para suprir algumas escolas do interior..
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Rodadas de avaliação:
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
09 Fev 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
30 Set 2022 -
Aceito
09 Maio 2023 -
Publicado
15 Set 2023