Resumo
A study carried out in Salvador, Bahia, Northeastern Brazil, has shown a miscarriage rate significantly higher among AS women than that observed among AA controls. Considering this finding, we investigated the miscarriage rate among women cared for by the hemoglobinopathy program in the city of Araras, São Paulo, Southeastern Brazil. The spontaneous miscarriage rate among 165 AS women (17%) was significantly higher than that observed among 500 AA women (10%) (p = 0.02). Taking into account only women with ages above 20 years, the miscarriage rate among 112 heterozygous AS (22%) greatly differed from that observed among 347 AA women (12.6%) (p = 0.01). These results confirm the greater tendency of spontaneous miscarriages among AS women, which might be related to a previously described maternal effect in relation to AS heterozygous women.
Abortion rate; Sickle cell trait; Hemoglobinopathies
Abortion rate; Sickle cell trait; Hemoglobinopathies
CARTA AO EDITOR LETTER TO EDITOR
Abortamentos espontâneos em portadoras do Traço Falciforme (AS)
Spontaneous miscarriages among sickle cell trait carriers (AS)
Antonio S. Ramalho; Iara D. Silva; Margareth Pagotti; Rosa C. Teixeira (in memorial)
IDepartamento de Genética Médica FCM Unicamp Campinas, SP
IINúcleo de Genética da Prefeitura Municipal de Araras Araras, SP
Endereço para correspondência Endereço para correspondência Antonio Sérgio Ramalho Departamento de Genética Médica, Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Caixa Postal 6111, 13081-970 Campinas, SP E-mail: dgmfcm@unicamp.br
ABSTRACT
A study carried out in Salvador, Bahia, Northeastern Brazil, has shown a miscarriage rate significantly higher among AS women than that observed among AA controls. Considering this finding, we investigated the miscarriage rate among women cared for by the hemoglobinopathy program in the city of Araras, São Paulo, Southeastern Brazil. The spontaneous miscarriage rate among 165 AS women (17%) was significantly higher than that observed among 500 AA women (10%) (p = 0.02). Taking into account only women with ages above 20 years, the miscarriage rate among 112 heterozygous AS (22%) greatly differed from that observed among 347 AA women (12.6%) (p = 0.01). These results confirm the greater tendency of spontaneous miscarriages among AS women, which might be related to a previously described maternal effect in relation to AS heterozygous women.
Key words: Abortion rate, Sickle cell trait, Hemoglobinopathies
Senhor Editor,
Em carta ao editor da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, a Professora Maria de Lourdes Pires do Nascimento, da ANEPA, Salvador, Bahia,1 descreveu uma taxa significativamente maior de abortamentos entre 14 mulheres com hemoglobina AS (78,6%) do que a observada entre 263 mulheres com hemoglobina AA (40,3%).
A pesquisadora também chamou a atenção para o fato de os seus resultados virem de encontro à nossa hipótese de que a maior proporção de gestações a termo de crianças AS, quando a mãe é AS e o pai AA, poderia ser resultante do abortamento preferencial de embriões AA.2,3 Concluindo a sua carta, a professora salienta a importância de outros estudos científicos para melhor elucidação desses fatos, tendo em vista a importância médico-social dos portadores da hemoglobina S.
Motivados por essa sugestão, julgamos relevante investigar a taxa de abortamentos espontâneos em mulheres atendidas nos Postos de Saúde de Araras, SP, em um programa de triagem voluntária de hemoglobinopatias desenvolvido pelo Núcleo de Genética daquele município.4
A taxa de abortamentos espontâneos observada entre 165 mulheres AS (17%) foi significativamente maior que a observada entre 500 mulheres AA (10%) (p = 0,02). Como a amostra incluía um grande número de mulheres jovens, com poucas gestações anteriores, reavaliamos os resultados, levando em consideração apenas as mulheres com mais de 20 anos de idade. Nesse caso, a taxa de abortamentos entre 112 mulheres AS (22%) diferiu de forma ainda mais significativa da observada entre 347 mulheres AA (12,6%) (p = 0,01).
Esses resultados concordam, portanto, com os observados por Nascimento,1 embora as taxas de abortamentos observadas no nosso estudo tenham sido significativamente menores que as descritas na Bahia, tanto entre as mulheres AS, quanto entre as mulheres AA. Essa diferença pode ser atribuída à eventual diferença de nível socioeconômico entre as duas amostras populacionais, ou, o que é mais provável, à diferença de tamanho das amostras de mulheres AS examinadas nos dois trabalhos.
Tais achados realmente reforçam a hipótese da existência de um abortamento preferencial de embriões AA pelas mães AS. No entanto, essa hipótese só será confirmada quando for comprovado, por técnicas de Biologia Molecular, um excesso significativo de portadores do genótipo AA entre os embriões abortados espontaneamente pelas heterozigotas com o traço falciforme.
Até então, tanto os mecanismos pré-zigóticos, quanto os pós-zigóticos de desvio da proporção mendeliana esperada, devem ser considerados hipoteticamente na explicação do efeito materno por nós descrito.
Recebido: 24/09/2003
Aceito após modificações: 30/10/2003
Avaliação: Editor e dois revisores externos
Conflito de interesse: não declarado
- 1. Nascimento MLP. Abortos em mulheres portadoras de hemoglobina S. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia 2000;22:424
- 2. Duchovni-Silva I, Ramalho AS. Maternal segregation distortion in sickle cell and beta-thalassaemia traits? Lancet 1996;347:691-692.
- 3. Duchovni-Silva I, Ramalho AS. Evidence of maternal segregation distortion in the sickle cell and beta-thalassaemia traits. Journal of Medical Genetics 1996; 33:525.
- 4. Teixeira RC, Ramalho AS. Genetics and public health: response of a Brazilian population to an optional hemoglobinopathy program. Brazilian Journal Genetics 1994;17:435-438.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
27 Abr 2004 -
Data do Fascículo
2003
Histórico
-
Aceito
30 Out 2003 -
Recebido
24 Set 2003