Acessibilidade / Reportar erro

Carta do Editor

Carta do Editor

É com grande satisfação que apresento aos nossos leitores o primeiro número do volume nove da Revista Brasileira de Lingüística Aplicada. Acredito que os artigos aqui reunidos são amostras relevantes da fecundidade do trabalho de reflexão e análise que vem sendo desenvolvido na área.

A seqüência escolhida tenta mapear dois grandes blocos temáticos. O primeiro bloco é formado por artigos que se debruçam sobre questões relacionadas ao texto e às interações, remetendo o leitor a construtos e quadros conceituais que permitem o endereçamento dos processos subjacentes às várias modalidades de práticas discursivas. O segundo bloco é formado por trabalhos que enfocam tópicos relacionados ao ensino de línguas, contemplando questões tais como crenças de professores e alunos e a formação de professores.

O presente número é encerrado com uma resenha que, interessantemente, entrelaça as duas temáticas reunidas neste número.

Integram o primeiro bloco temático os oito primeiros artigos da presente edição. Wagner Silva apresenta resultados preliminares de um estudo sobre a escolha de gêneros textuais com propósitos educacionais. Tendo como molde metodológico a etnografia participante, o autor lança um olhar crítico sobre a validade ecológica de certas práticas pedagógicas e traz reflexões sobre possibilidades de fortalecimento dos alunos. O ensaio de Renata Silva contempla a comparação da noção de "esfera" em Bakhtin e a noção de "espaço discursivo" em Pêcheux, trazendo elementos para uma reflexão acerca da provável inadequação da justaposição dos dois construtos para análises de materialidades lingüísticas. No trabalho de Rezende, o leitor interessado em metodologias de ensino-aprendizagem online é apresentado ao conceito de "oficinas virtuais temáticas", assim como a uma análise dos processos de interação em uma experiência didática na qual a noção de multimodalide é instanciada. No quarto artigo desta edição, Vieira elabora uma análise de letras de canções de Chico Buarque de Holanda, através da aplicação de construtos teóricos de Emile Benveniste. A autora demonstra, através das canções, como estratégias discursivas constituem a relação enunciador/enunciatário, tomada como central na construção das noções de autoria e de sujeito. O estudo de Rodrigues-Júnior faz uma análise de exemplares de trabalhos brasileiros inseridos dentro do quadro da Análise Crítica do Discurso, buscando situar a produção brasileira frente a um debate recente acerca de questões metodológicas desta vertente de análise da linguagem. Gomes-Santos e Almeida fazem uma análise de uma aula de alfabetização através da aplicação da noção de par dialógico pergunta-resposta, trazendo em sua análise uma expansão em relação às dimensões propriamente textuais e interacionais dessa noção para articulá-la à análise dos "gestos profissionais" da professora analisada. Raquel Recuero apresenta uma contribuição para a compreensão da comunicação mediada pelo computador. Através da etnografia virtual e de elementos teóricos da Análise da Conversação, a autora aponta para diferenças e semelhanças das conversações mediadas por weblogs e fotologs. O primeiro bloco culmina com o trabalho de Eliana de Barros. A autora propõe uma análise de exemplares de realização lingüística de tempo verbal nos textos de um crítico de cinema londrinense, sustentando a perspectiva de que a temporalidade verbal é um mecanismo discursivo cujo processamento na crítica cinematográfica produz efeitos constitutivos deste gênero.

O segundo bloco temático cobre os sete artigos finais da edição. Ferreira expõe, através da análise de entrevistas com professores, uma experiência de Educação de Jovens e Adultos em Santa Catarina em cuja proposta articulam-se as noções de "bilingüismo" e "pesquisa". O autor apresenta o conceito de intercompreensão como possível orientação de um paradigma de ensino de espanhol como L2 em contexto escolar que tenha a pesquisa como elemento central. Vicente e Ramalho examinam as crenças de estudantes de inglês como L2, alunos de uma instituição de ensino superior, acerca dos erros. As autoras se pautam, para seu exame, na análise de dados interacionais obtidos em gravações de interações entre professora e alunos através da aplicação dos conceitos de "polidez" e "face". O artigo de Greggio, Silva, Denardi e Gil traz os resultados de estudo de sistematização de cinqüenta e um trabalhos de pesquisa sobre a formação de professores de línguas estrangeiras produzidos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Inglês da Universidade Federal de Santa Catarina. As autoras sintetizam focos, temáticas e conclusões que emergem dos estudos sistematizados, apontando indicações para o desenvolvimento da área. No trabalho de Pessoa e Scbba, o tema da mudança do docente, através da reflexão, é abordado. Por meio do estudo de sessões reflexivas conduzidas com três professoras, as autoras discutem o papel da experiência, da auto-observação, da observação por colegas e da teoria nos processos de mudança. O artigo assinado por Andrade, apresenta uma análise de vozes de alunos-professores em formação acerca da aprendizagem de idiomas. Pautando-se pela articulação entre discurso e teoria psicanalítica, a autora questiona o discurso da demanda social pela aprendizagem de línguas e aponta para a possibilidade de que o professor de línguas em formação estabeleça novas relações com a língua aprendida e o processo de aprendizagem. O texto seguinte, de Mateus, nos apresenta uma reflexão acerca da pesquisa sobre a formação de professores de inglês. A autora assume explicitamente a "virada sócio-histórico-cultural" que, nas palavras da autora, "os campos das Ciências Sociais e Humanas protagonizam", apontando-nos possibilidades de superação da dicotomia radical entre saber científico e saber docente. O último artigo do presente número é o trabalho de Ribas, que relata intervenções pedagógicas cujo objetivo era a conscientização cultual, direcionadas ao estudante de língua inglesa do ensino básico público. A autora retoma a discussão acerca do impacto da consciência cultural sobre a motivação do estudante.

O número é fechado com a resenha de Fernanda Magalhães da obra Estratégias de Leitura: Texto e Ensino, de Maria Aparecida Lino Pauliukonis e Leonor Werneck Santos. A resenha revela uma obra de grande utilidade para aqueles que buscam aproximações entre a pesquisa lingüística atual no campo dos estudos discursivos e a prática docente no ensino de línguas.

Uma boa leitura a todos!

Ricardo Augusto de Souza

Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2013
  • Data do Fascículo
    2009
Faculdade de Letras - Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de Minas Gerais - Faculdade de Letras, Av. Antônio Carlos, 6627 4º. Andar/4036, 31270-901 Belo Horizonte/ MG/ Brasil, Tel.: (55 31) 3409-6044, Fax: (55 31) 3409-5120 - Belo Horizonte - MG - Brazil
E-mail: rblasecretaria@gmail.com