RESUMO
Objetivo Identificar as alterações oculares em crianças e adolescentes secundárias ao fator do isolamento social e ao consequente aumento do uso de telas.
Métodos Estudo observacional, descritivo e analítico, do tipo transversal realizado no período de julho a agosto de 2021, por meio da aplicação de questionários.
Resultados Apresentaram cefaleia associada ao uso excessivo de tela 26,51% dos estudantes e 38,8% relataram suspeita de insuficiência de convergência. Em relação ao questionário de olho seco, 18,8% foram sintomáticos e 7,5% sintomáticos de difícil manejo. O computador foi o dispositivo mais utilizado em atividades escolares (71,5%), e, em segundo lugar, esteve o celular (66,3%). Casos sintomáticos de olho seco foram mais relatados em participantes que não faziam uso de computador (36,4%). Não foi possível identificar relação entre insuficiência de convergência e tempo de uso de dispositivos. Em relação ao olho seco, aqueles que passaram mais tempo em frente a tela relataram maior porcentagem de sintomas de difícil manejo (42,9%).
Conclusão Foram mais prevalentes olho seco e sintomas de insuficiência de convergência na população estudada.
Pandemias; Isolamento social; Tempo de tela; Síndrome do olho seco; Cefaleia; Erros de refração; Transtornos de motilidade ocular; Inquéritos e questionários
ABSTRACT
Objective To identify eye conditions associated to social distancing and related increase in screen time exposure on children and teenagers.
Methods Observational, descriptive and analytical study, with a cross-section design, carried out between July and August 2021, by questionnaire survey.
Results Headaches related to excessive screen time exposure were reported by 26.51% of the students surveyed, while 38.8% reported suspect convergence insufficiency. Regarding the questionnaire about dry eye, 18.8% were symptomatic and 7.5% reported hard-to-manage symptoms. Computers were the devices most used for schoolwork (71.5%), followed by cellphones on second place (66.3%). Symptomatic cases of dry eye were mostly reported by participants that did not make use of computers (36.4%). It was not possible to establish a connection between convergence insufficiency and device usage time. Those participants that reported more screen time exposure also reported an increased percentage of hard-to-manage symptoms (42.9%), regarding dry eye.
Conclusion Dry eye and convergence insufficiency symptoms were more prevalent in the surveyed population.
Pandemics; Social isolation; Screen time; Dry eye syndrome; Headache; Refractive errors; Ocular motility disorders; Surveys and questionnaires
INTRODUÇÃO
Em dezembro de 2019, o mundo assistiu à emergência de uma pandemia ocasionada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2).(1) Os efeitos decorrentes do isolamento social têm sido percebidos em diversas áreas da saúde. No que diz respeito à saúde ocular, houve aumento considerável no tempo de exposição a telas,(2)e estudos recentes apontam diversas consequências decorrentes desse fenômeno, como, por exemplo, o surgimento de esotropias agudas,(3) aumento de casos da Síndrome do Olho Seco e cefaleia.(4)
Além de acelerar a progressão da miopia, o uso excessivo de celular, computador e outros aparelhos pode acarretar anormalidades na acomodação visual. Quando a aproximação dos objetos torna-se um obstáculo que impede o adequado alinhamento binocular dos olhos, tem-se a definição de insuficiência de convergência.(4)De acordo com a American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus (AAPOS), a insuficiência de convergência é a incapacidade de manter a função binocular enquanto se olha para objetos próximos. Segundo Menigite et al.,(5) passar mais de 4 horas em frente a telas pode ocasionar mudanças binoculares quanto à acomodação devido às severas demandas visuais da visão de perto. Em seu trabalho, os autores evidenciaram que a prevalência de insuficiência de convergência na população estudada foi de 1,8%, e sintomas que podem configurar a síndrome do olho seco, como cefaleia, desconforto, irritação ou queimação ocular e diplopia (visão dupla), estiveram presentes em 51,6% dos indivíduos.
Pesquisas recentes demonstraram que cerca de 80% da população estudantil de mais de 130 países foi afetada pelas medidas de bloqueio(1) e passou a utilizar a internet como grande aliada no método de educação à distância, com incremento do contato das crianças com a tecnologia digital(6) e utilização de telas por cerca de 4 a 6 horas ao dia para fins acadêmicos, além do tempo dedicado à diversão nos dispositivos portáteis.(7)
O impacto dos dispositivos digitais vai muito além da saúde ocular, e a divulgação dos efeitos potenciais que esses aparelhos podem ter sob a saúde visual infanto-juvenil torna-se essencial.(8) Nesse contexto, o presente trabalho objetivou identificar as alterações oculares em crianças e adolescentes secundárias ao fator do isolamento social e ao consequente aumento do uso de telas.
MÉTODOS
Realizou-se estudo epidemiológico do tipo transversal, descritivo e analítico para o qual foi desenvolvido questionário específico utilizando dois questionários validados: Convergence Insufficiency Symptom Survey (CISS) padronizado e Dry Eye Questionnaire (DEQ-5), em associação à perguntas relativas a uso de dispositivos eletrônicos elaboradas pelos pesquisadores. A íntegra do instrumento aplicado encontra-se detalhado na tabela 1.
O CISS é um questionário traduzido e validado para a população brasileira por Tavares,(9) tendo sido desenvolvido pelo Convergence Insufficiency Treatment Trial (CITT). É considerado a primeira ferramenta estandardizada que foi provada, válida e confiável na medida da frequência e da sintomatologia, antes e depois de uma terapia de insuficiência de convergência ou outra desordem binocular ou acomodativa. Já o DEQ-5 foi criado para diagnosticar a doença do olho seco e quantificar seu grau de gravidade,(10) considerando-se os sintomas experimentados pelo paciente no período da semana anterior à aplicação do questionário. O DEQ-5 mede diversos sintomas, por meio de quatro variáveis grau de irritação, frequência, intensidade pela manhã e intensidade no fim do dia.
Além desses questionários padronizados, o questionário aplicado no presente trabalho incluiu questões relacionadas ao tempo diário despendido em telas e o tipo de dispositvo utilizado (computador, tablet, celular e televisão). Após sua aplicação, os participantes foram classificados, considerando-se os sintomas de olho seco e insuficiência de convergência, de acordo com as tabelas 2 e 3, respectivamente.
Classificação de acordo com a pontuação referente aos sintomas de insuficiência de convergência
Foram convidados a participar da pesquisa crianças e adolescentes na faixa etária de 7 a 15 anos matriculados em escolas privadas dos Ensinos Fundamental e Médio do Distrito Federal, que adotaram a modalidade de ensino à distância no ano de 2020. O questionário foi disponibilizado e respondido pelos tutores de 109 crianças de ambos os sexos, com idade entre 7 a 15 anos. Destas, 80 participantes foram selecionadas para inclusão na amostra. Foram excluídos da pesquisa indivíduos que apresentassem algum tipo de deficiência física ou mental e/ou indivíduos com diagnóstico prévio ao isolamento social de insuficiência de convergência e/ou olho seco. As variáveis analisadas foram idade do paciente, renda familiar, doenças oculares já manifestas, tipos de aparelhos eletrônicos utilizados e tempo de uso de telas total por dia.
Os dados foram armazenados em banco de dados no software Excel, versão 16.46. As análises estatísticas utilizaram o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 25. As variáveis categóricas, como doenças oculares já manifestas, tipos de aparelhos eletrônicos utilizados e problemas oculares, foram descritas como frequências simples e relativas. Variáveis contínuas, foram descritas como média e desvio-padrão (DP) ou como mediana e intervalo interquartil (IIQ), a depender da sua normalidade. Para analisar se os pacientes com maior tempo de exposição à tela desenvolveram mais frequentemente problemas oculares, foram utilizados os testes análise de variância (Anova) ou teste de Kruskal-Wallis; o mesmo foi feito para outras variáveis contínuas independentes. A associação entre problemas oculares e variáveis independentes categóricas, como tipo de aparelho eletrônico utilizado e doenças oculares já manifestas, foi analisada por meio do teste do qui-quadrado ou do teste exato de Fisher. As relações entre o desfecho de problemas oculares e as variáveis categóricas independentes foram descritas utilizando-se a razão de prevalência como medida de associação, com intervalo de confiança de 95% (IC95%). Foram considerados estatisticamente significantes valores de p<0,05.
O presente projeto de pesquisa está em acordo com a resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 466/2012, da resolução do CNS 510/2016 para projetos das áreas de Ciências Humanas e Sociais, da Norma Operacional CNS 001/2013 e em resoluções complementares e está registrado na Plataforma Brasil com o CAAE 48744121.6.0000.8153.
RESULTADOS
O questionário foi respondido por 109 participantes. Após ajustes de acordo com critérios de elegibilidade e de exclusão, o tamanho amostral final totalizou 80 indivíduos.
Avaliando-se o tempo de telas e a disponibilidade de dispositivos eletrônicos no domicílio, observou-se que celular (55; 68,8%), tablet/iPad (39; 48,8%) e computador (34; 42,5%) foram os principais dispositivos próprios disponíveis aos participantes (Figura 1). Já para o desempenho de atividades escolares, o computador apresentou maior relevância para os entrevistados, sendo utilizado por 58 (72,5%) participantes (Figura 2).
Dispositivos eletrônicos presentes no domicílio e crianças que possuem equipamento eletrônico de uso pessoal (n=80).
Com relação ao tempo em atividades baseadas em tela, a maioria das crianças passou, em média, de 1 a 3 horas em atividades de lazer, como filmes, programas de TV e vídeos no Youtube, tanto em dias de semana (40; 50%) quanto aos finais de semana (42; 52,5%). As aulas on-line também foram responsáveis por mais de 3 horas/tela por dia nos dias de semana entre 22 entrevistados (27,5%) (Figura 3). Considerando-se a queixa de cefaleia associada ao uso excessivo de telas (mais de 4 a 6 horas/dia) do total de 51 respostas, mais da metade dos estudantes (26; 51%) relatou apresentar o sintoma.
Tempo diário gasto em telas no último mês, considerando-se as atividades mais prevalentes durante a semana e aos finais de semana (n=80).
Quanto às respostas sobre sintomas de insuficiência de convergência, 47 escolares (58,8%) reportaram visão binocular normal, 31 (38,8%) suspeita de insuficiência de convergência e 2 (0,025%) apresentaram insuficiência de convergência. A proporção de participantes com suspeita ou insuficiência de convergência foi maior entre estudantes que já usavam óculos há 1 ano, sendo de 57,1 e 3,6% respectivamente, em comparação com os que não usavam, que foi de 28,8 e 1,9% . Observou-se que aqueles que usavam óculos tiveram menor proporção de visão binocular normal (39,3%), em comparação com os que não usavam (69,2%; p=0,016) (Tabela 4). Na análise de correlação de queixa de cefaleia e uso excessivo de telas, observou-se que 50% (13 participantes) com suspeita de insuficiência de convergência queixaram-se de dor de cabeça (Figura 4). Entretanto, não foi possível identificar diferença significativa entre os resultados do questionário de insuficiência de convergência e o tempo gasto por dia com dispositivos com tela, tanto durante os dias de semana quanto durante os finais de semana.
Análise do sintoma de cefaleia e uso excessivo de telas (4 a 6 horas ao dia) considerando-se o questionário de insuficiência de convergência (n=51).
Já no questionário de olho seco, 59 (73,8%) foram classificados como assintomáticos, 15 (18,8%) como sintomáticos e 6 (7,5%) como sintomáticos de difícil manejo. Na avaliação do uso de dispositivos eletrônicos e olho seco, crianças que faziam uso de computador durante suas atividades escolares apresentaram maiores proporções de resultados assintomáticos (79,3%) e de sintomáticos de difícil manejo (8,6%), em comparação com as que não utilizam esse dispositivo (59,1% e 4,5%, respectivamente). Por outro lado, casos sintomáticos foram proporcionalmente mais frequentes nos que não faziam uso de computador (36,4%), em comparação com os que faziam (12,1%; p=0,042; Tabela 5). Considerando-se a associação de cefaleia, olho seco e uso excessivo de telas, 30,8% dos entrevistados relataram cefaleia e sintomas de olho seco, e 11,5% apresentaram sintomas de olho seco de difícil manejo ao utilizar telas por 4 a 6 horas ao dia (Figura 5).
Análise do sintoma de cefaleia e uso excessivo de telas (4 a 6 horas por dia) considerando-se o questionário de olho seco (n=51).
Ao relacionar o resultado do questionário de olho seco com o tempo gasto por dia, no último mês, com atividades baseadas em tela durante os dias de semana, a proporção de sintomáticos de difícil manejo foi maior em participantes que passavam mais tempo (de 1 a 3 horas) em outras atividades envolvendo tela (42,9%) em comparação com os que passavam menos de 1 hora (0%) ou nada (4,6%). Além disso, dos que não passavam tempo com outras atividades, 78,5% foram assintomáticos, em comparação com 50% entre os que passam menos de 1 hora e 57,1% entre os que passam de 1 a 3 horas (p=0,006).
DISCUSSÃO
Este estudo investigou alterações oculares e sua relação com o incremento do uso de tela em crianças e adolescentes em idade escolar no período pandêmico. Dados significativos foram relacionados aos sintomas de olho seco, sendo constatado que crianças que fazem uso de computador durante as atividades escolares apresentaram maior proporção de sintomas de olho seco de difícil manejo. Em trabalho recentemente, foi evidenciado que a educação on-line pode contribuir para sintomas oculares agudos em crianças e que muitas crianças saudáveis e sem sintomas binoculares estão apresentando sintomas que incluem desconforto após leitura ou uso de computador, cefaleia em região frontal, dor em região ocular, sensação de peso nas pálpebras, sonolência, diplopia, problemas de concentração, visão turva e lacrimejamento.(11) Ao correlacionar o resultado do questionário de olho seco com o tempo gasto por dia, no último mês, em atividades baseadas em tela durante os dias de semana, a proporção de sintomáticos de difícil manejo foi maior em participantes que passavam mais tempo, de 1 a 3 horas, em outras atividades envolvendo tela. O fator que mais contribui para os sintomas da síndrome da visão do computador parece ser o olho seco, que resulta em desconforto, distúrbios visuais e instabilidade do filme lacrimal. Alguns fatores contribuem para que ocorra um desequilíbrio desse processo, podendo se destacar a baixa frequência do piscar. Em média, um ser humano pisca 15 vezes por minuto; alguns estudos indicam que a taxa de intermitência no computador é menor do que o normal. Em conjunto a isso, os usuários de computador geralmente veem seu material de leitura com um olhar horizontal, resultando em um aumento da fenda palpebral e da área da superfície ocular exposta aos efeitos do ambiente, contribuindo para uma má qualidade do filme lacrimal e o estresse temporário da córnea, resultando nos sintomas de olho seco.(12,13)
Com relação à queixa de cefaleia devido ao tempo excessivo de exposição a telas, demonstramos haver maior proporção de pacientes queixosos no período pandêmico. Já foi evidenciado que o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos mostrou-se associado com a presença de cefaleia, sendo considerado fator de risco para seu desenvolvimento, em especial a migrânea e outros tipos.(14)
Devido ao aumento da exposição a telas observada no período da pandemia de COVID-19 e ao consequente aumento de queixas oculares associadas, trata-se de um assunto extremamente atual e possui grande relevância social. Dentre os principais dispositivos próprios disponíveis aos participantes, o computador apresentou maior relevância para atividades escolares, sendo utilizado pela maioria dos participantes. Gentil et al.(12) relatam que, quando se trata de danos aos olhos, pode se dizer que a iluminação é um dos fatores com influência significativa, pois o excesso de brilho emitido principalmente pelo monitor resulta em fadiga ocular. Atualmente, existe uma estimativa de que 90% das pessoas que utilizam o computador por um período maior do que 3 horas diárias apresenta algum sintoma. Assim, isso se torna um problema de saúde pública em todo o mundo, e a desinformação sobre essa síndrome dificulta o diagnóstico e o tratamento, afetando a qualidade de vida.(13)
Dados significativos foram relacionados aos sintomas de olho seco e foi constatado que crianças que fazem uso de computador durante as atividades escolares apresentaram maior proporção de sintomas de olho seco de difícil manejo. Ao correlacionar o resultado do questionário de olho seco com o tempo gasto por dia, no último mês, com atividades baseadas em tela durante os dias de semana, a proporção de sintomáticos de difícil manejo foi maior em participantes que passavam mais tempo (de 1 a 3 horas) em outras atividades envolvendo tela. Isso leva a questionamentos importantes e a novas hipóteses: será que crianças que não fazem uso de computador estão com mais sintomas porque precisam utilizar outros dispositivos, como celular ou tablet? Será que o tempo de uso do computador é menor se comparado a outros dispositivos e, por isso, causa menos sintomas?
Em relação ao questionário sobre sintomas de insuficiência de convergência, a proporção de participantes com suspeita ou insuficiência de convergência foi maior entre estudantes que já usavam óculos em comparação com os que não usavam. Cabe ressaltar que os sintomas de insuficiência de convergência não estiveram associados ao tempo de telas. Estudos afirmam que, por causa de os sintomas da insuficiência de convergência serem relatados mais comumente até a segunda ou terceira década de vida, a insuficiência de convergência não é comum em crianças, pois adultos jovens costumam passar mais tempo realizando trabalho com visão ao perto, assim são mais propensos a queixar-se dos sintomas do que as crianças.(15) Ademais, a ausência de associação demonstrada na presente pesquisa pode ser decorrente do tamanho amostral selecionado.
Quanto as ametropias, é importante ressaltar que o público infanto-juvenil tem sido especialmente afetado pelo fenômeno de progressão da miopia.(7) Observa-se um crescimento alarmante da miopia no mundo, especialmente nas populações asiáticas. Diante desse cenário, o aumento do tempo de tela secundário às medidas de quarentena tem sido implicado em anormalidades da acomodação visual e agravamento da miopia. Entretanto a análise quanto a alterações refrativas e ametropias não foi objeto de nossa pesquisa. Consideramos que a devida abordagem do tema seria possível em metodologias futuras, incluindo anamnese e exame físico oftalmológico adequados. Tal aspecto pode ser interpretado como uma limitação deste estudo.
Ressaltamos que o instrumento de coleta de dados foi preenchido pelos pais ou responsáveis, o que favorece o surgimento do viés de memória e a desejabilidade social, o que seria outro fator limitante ao presente trabalho. Além disso, aspectos como a sobreposições de sintomas inespecíficos, como astenopia, ansiedade e alergia ocular, podem confundir o entrevistado, devendo os dados ser interpretados com cautela. Porém, a despeito das limitações, esta ainda é uma forma preliminar de análise que tem se demonstrado útil em pesquisas anteriores.(15)
Sugere-se que sejam realizados mais estudos que avaliem de forma longitudinal as repercussões do uso dos aparelhos eletrônicos e sua relação com sintomas oculares.
CONCLUSÃO
O aumento da exposição a dispositivos eletrônicos secundário ao isolamento social da pandemia está relacionado a alterações oculares em crianças escolares e adolescentes. Os achados indicaram que existe associação significativa entre o tempo de tela e sintomas relacionados a cefaleia, insuficiência de convergência, alterações da binocularidade e olho seco.
Isso trouxe a necessidade de obtenção de dados quanto aos aspectos possivelmente danosos à saúde ocular, visando ao estabelecimento de uma melhor propedêutica de aconselhamento e de condução das consultas oftalmológicas. Recomendações no sentido de melhorar possíveis sintomas relacionados ao uso de telas podem incluir, por exemplo, pausas mais frequentes, mover os olhos para um alvo distante para relaxar o reflexo acomodativo e ler letras a distância, para utilizar o mecanismo fusional de divergência intercalando atividades longe e perto.
AGRADECIMENTOS
Os resultados do trabalho foram muito satisfatórios e inicialmente agradecemos a todos que participaram direta ou indiretamente da pesquisa. A combinação das metodologias da análise bibliográfica e da análise de conteúdo forneceu elementos para compreender as diferentes variáveis e como elas podem influenciar e impactar na qualidade de vida das crianças em idade escolar. Agradecemos a visibilidade da publicação e esperamos que essa pesquisa possa gerar subsídios para outros trabalhos.
REFERÊNCIAS
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Instituição de realização do trabalho: Hospital de Base do Distrito Federal.
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Fonte de auxílio à pesquisa: trabalho não financiado.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Jun 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
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Recebido
06 Maio 2022 -
Aceito
29 Jan 2023