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Acesso à coluna lombossacral: Visão atual

Resumo

A abordagem cirúrgica da coluna lombossacral tem sido objeto de estudos anatômicos experimentais e científicos desde a era hipocrática. Contudo, foi no século XX que, com a evolução da assepsia e da antibioticoterapia, a cirurgia da coluna começou a evoluir em velocidade vertiginosa e as diversas possibilidades de vias de acesso tornaram-se objetos de desenvolvimento e discussão. Desta forma, as doenças da coluna lombossacral podem ser acessadas de diferentes maneiras e posições, desde a abordagem posterior tradicional em decúbito ventral até as abordagens anterior, oblíqua, lateral e endoscópica. O presente artigo traz vias de acesso de última geração para a coluna lombossacral. O objetivo deste artigo é elucidar as possibilidades de acesso à coluna lombar para quaisquer finalidades, como descompressão, fusão, ressecções tumorais, reconstrução ou correção de deformidades, independentemente do tipo de implante ou seu posicionamento.

Palavras-chave
artrodese; coluna vertebral/cirurgia; fusão vertebral; região lombossacral

Abstract

The surgical approach to the lumbosacral spine has been the subject of experimental and scientific anatomical studies since the Hippocratic era. However, it was in the 20th century that, with the evolution of asepsis and antibiotic therapy, spine surgery began to evolve at breakneck speed, and the various possibilities of access roads became objects of development and discussion. As a result, pathologies of the lumbosacral spine can be accessed in different ways and positions, from the traditional posterior approach in the prone position to the anterior, oblique, lateral, and endoscopic approaches. The current article brings state-of-the-art access routes to the lumbosacral spine. This article objective is to elucidate the possibilities of accesses the lumbar spine for any purposes, as decompression, fusion, tumour resections, reconstruction or deformity correction, despites type of implants or implants positioning.

Keywords
arthrodesis; lumbosacral region/surgery; spine/surgery; spinal fusion

Introdução

A cirurgia de coluna é uma das áreas de maior desenvolvimento dentre as especialidades cirúrgicas em referências às tecnologias empregadas em equipamentos para obtenção de imagens, navegadores, implantes, materiais, técnicas cirúrgicas e vias de acesso. A evolução de afastadores, tubos e endoscópios menos traumáticos propicia acessos cada vez menos invasivos e resultados promissores.11 Lee SH, Jeong SK, Bae J. Evolution of Spine Surgery as a Request of Endoscopic and Microscopic Laser to Technology. In: Bae J, Lee SH, editors. Laser Spine Surgery. Springer, Singapore; 2021:1-8. Available from: https://doi.org/10.1007/978-981-16-2206-9_1
https://doi.org/10.1007/978-981-16-2206-...
A cirurgia de fusão espinhal foi descrita pela primeira vez em 1911 por Hibbs como uma técnica de decorticação e morselização de enxerto autólogo em um caso de osteomielite crônica decorrente da doença de Pott.22 Jones ET, Pickett JC. An operation for progressive spinal deformities. Clin Orthop Relat Res 1988;(229):2-3

Em 1933, Burns e Capener perceberam a possibilidade de abordagem da espondilolistese de L5-S1 por via anterior após vários estudos cadavéricos.33 Capener N. Spondylolisthesis. Br J Surg 1932;19(75):374-386 A cirurgia foi realizada em um menino de 14 anos por meio de acesso anterior à região do retroperitônio, com incisão paramediana esquerda e abordagem transperitoneal, onde acessaram a coluna vertebral e implantaram um enxerto autólogo. Após dois meses de imobilização gessada, o menino se recuperou.44 de Kunder SL, Rijkers K, Caelers IJMH, de Bie RA, Koehler PJ, van Santbrink H. Lumbar Interbody Fusion: A Historical Overview and a Future Perspective. Spine 2018;43(16):1161-1168

As primeiras descrições de procedimentos intradiscais percutâneos são da década de 1960 e foram feitas por Lyman Smith, como a quimionucleólise com papaína, logo após Hijikata descrever a possibilidade de remoção percutânea do núcleo pulposo com auxílio de pequenos tubos e uma pinça hipofisária utilizando os mesmos parâmetros que costumava apresentar suas discografias.55 Mayer HM. A History of Endoscopic Lumbar Spine Surgery: What Have We Learnt? BioMed Res Int 2019;2019:4583943

Em 1986, Kambin descreveu o corredor anatômico seguro para acesso ao disco intervertebral, entre a raiz nervosa e a faceta superior, que recebeu o nome de "triângulo de Kambin". Seu trabalho pioneiro permitiu o desenvolvimento das primeiras cirurgias endoscópicas.55 Mayer HM. A History of Endoscopic Lumbar Spine Surgery: What Have We Learnt? BioMed Res Int 2019;2019:4583943

Os diferentes acessos à coluna lombar e lombossacral permitiram a evolução significativa das técnicas e métodos cirúrgicos, bem como o desenvolvimento de tecnologias para a resolução das principais doenças que ainda são objetos de discussões e estudos66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157 (Fig. 1).

Fig. 1
Possíveis abordagens à fusão intervertebral lombar. ALIF, fusão intersomática lombar anterior; OLIF, fusão intersomática lombar lateral oblíqua; ATP, abordagem anterior ao psoas; XLIF, fusão intersomática lateral extrema; LLIF, fusão intersomática lombar lateral; VCI, veia cava inferior; PLIF, fusão intersomática posterior; TLIF, fusão intersomática transforaminal.

Abordagem Posterior

As vias de abordagem posterior à coluna vertebral permitem uma abordagem direta ao canal vertebral sem manipulação de estruturas vasculares ou nervosas maiores. São, portanto, as primeiras a serem descobertas pelos antigos cirurgiões, apesar do pouco conhecimento anatômico e do franco desencorajamento da abordagem cirúrgica.

O abordagem posterior à coluna vertebral aparece em algumas descrições da antiguidade, principalmente com a intenção de retirar fragmentos de fraturas do canal vertebral. Porém, o desconhecimento da antissepsia e da hemostasia só permitiu o florescimento da cirurgia da coluna vertebral a partir do século XIX.77 Goodrich JT. History of spine surgery in the ancient and medieval worlds. Neurosurgical Focus 16(01):2004:1-13

Dentre as abordagens posteriores, estão as opções subperiósteas medianas e paravertebrais. Para isso, é fundamental conhecer a anatomia muscular posterior da coluna lombossacral, formada pelos seguintes músculos: multífido (M), longuíssimo (L) e iliocostal (Il).

O multífido é o maior e mais medial músculo posterior; é polissegmentar e sua inervação é múltipla. Está em contato íntimo com a lâmina e os processos espinhosos e transversos e é considerado o mais importante estabilizador posterior da região lombossacral, comumente apresentando atrofia nas doenças degenerativas lombares.88 Hides JA, Stokes MJ, Saide M, Jull GA, Cooper DH. Evidence of lumbar multifidus muscle wasting ipsilateral to symptoms in patients with acute/subacute low back pain. Spine 1994;19(02):165-172

Os três músculos correm longitudinalmente ao longo da coluna, inserindo-se no sacro, na articulação sacroilíaca e na asa ilíaca. O multífido, porém, tem formato único, curto e robusto. Sua arquitetura permite a criação de grandes forças em curtas distâncias, produzindo mais forças com a coluna em flexão anterior, protegendo-a na sua posição de maior vulnerabilidade.88 Hides JA, Stokes MJ, Saide M, Jull GA, Cooper DH. Evidence of lumbar multifidus muscle wasting ipsilateral to symptoms in patients with acute/subacute low back pain. Spine 1994;19(02):165-172

Acesso mediano posterior: nesta via de acesso, é feita uma incisão cutânea sobre os processos espinhosos, que continua pela dissecção óssea subperióstea com o descolamento do músculo multífido dos processos espinhosos e lâminas até atingir a região dos processos transversos com instrumentos de Cobb e eletrocauterização. Assim, pode oferecer exposição completa dos elementos ósseos posteriores da coluna, permitindo extensas cirurgias de descompressão por meio de laminectomia, ressecção de tumores ósseos ou intracanais. Também permite a fusão posterolateral e intersomática por meio da fusão intersomática posterior (PLIF, do inglês posterior intersomatic fusion) e fusão intersomática transforaminal (TLIF, do inglês transforaminal intersomatic fusion), além de correção cirúrgica de escoliose.99 Posterior approach. Accessed November 16, 2022. Available from: https://surgeryreference.aofoundation.org/spine/deformities/adolescent-idiopathic-scoliosis/approach/posterior-approach
https://surgeryreference.aofoundation.or...

A desvantagem desse método é a agressão cirúrgica à musculatura paraespinhal, o que leva à atrofia muscular pós-operatória. Essa atrofia acomete principalmente o músculo multífido, que tem sua área reduzida em até 27% abaixo do sítio da artrodese. Tal atrofia pode levar a resultados cirúrgicos menos satisfatórios em comparação a técnicas que permitem a maior preservação da musculatura posterior.1010 Gille O, Jolivet E, Dousset V, et al. Erector spinae muscle changes on magnetic resonance imaging following lumbar surgery through a posterior approach. Spine 2007;32(11):1236-1241,1111 He K, Head J, Mouchtouris N, et al. The Implications of Paraspinal Muscle Atrophy in Low Back Pain, Thoracolumbar Pathology, and Clinical Outcomes After Spine Surgery: A Review of the Literature. Global Spine J 2020;10(05):657-666

Os mecanismos das lesões musculares são a dissecção, que rompe as inserções tendinosas, e o uso excessivo de eletrocautério, o que causa lesão térmica e necrose tecidual. Porém, o fator mais associado é o uso de afastadores autoestáticos por períodos prolongados. O grau da lesão é relacionado ao tempo de retração; além disso, o afrouxamento intermitente dos afastadores reduz a área de lesão muscular.1212 Kawaguchi Y, Matsui H, Tsuji H. Back muscle injury after posterior lumbar spine surgery. A histologic and enzymatic analysis. Spine 1996;21(08):941-944,1313 Kawaguchi Y, Matsui H, Tsuji H. Back muscle injury after posterior lumbar spine surgery. Part 2: Histologic and histochemical analyses in humans. Spine 1994;19(22):2598-2602

Abordagem paraespinhal: esta abordagem utiliza a dissecção do plano intermuscular entre os músculos multífido e longuíssimo. Foi descrita por Wiltse em 1968 como uma modificação da abordagem de Watkins entre os músculos sacroespinhal e quadrado lombar.1414 Watkins MB. Posterolateral fusion in pseudarthrosis and posterior element defects of the lumbosacral spine. Clin Orthop Relat Res 1964;35(35):80-85,1515 Wiltse LL. The paraspinal sacrospinalis-splitting approach to the lumbar spine. Clin Orthop Relat Res 1973;91(91):48-57

Esse acesso apresenta menor taxa de sangramento e menor destruição muscular, além de permitir a abordagem direta aos processos transversos, aos pedículos e aos discos intervertebrais. Desta forma, é indicado principalmente para abordagem de hérnias na região do recesso vertebral, foraminal e extraforaminal.1616 Palmer DK, Allen JL, Williams PA, et al. Multilevel magnetic resonance imaging analysis of multifidus-longissimus cleavage planes in the lumbar spine and potential clinical applications to Wiltse’s paraspinal approach. Spine 2011;36(16):1263-1267

O acesso pode ser realizado de acordo com a descrição original, com duas incisões paramedianas, ou seguindo a modificação proposta pelo próprio Wiltse em 1988, com uma única incisão central e duas incisões no plano subfascial.1717 Wiltse LL, Spencer CW. New uses and refinements of the paraspinal approach to the lumbar spine. Spine 1988;13(06):696-706 Porém, a técnica original com duas incisões parece mais vantajosa por apresentar menor índice de complicações, como deiscência de sutura e seroma.1616 Palmer DK, Allen JL, Williams PA, et al. Multilevel magnetic resonance imaging analysis of multifidus-longissimus cleavage planes in the lumbar spine and potential clinical applications to Wiltse’s paraspinal approach. Spine 2011;36(16):1263-1267 Esse acesso permite diversas abordagens cirúrgicas, em especial TLIF, por ser menos invasiva por excelência. Comparada à abordagem medial tradicional, tem diversas vantagens, como menor atrofia muscular pós-operatória, menor incidência de degeneração do nível adjacente, menor taxa de infecção e menor sangramento intraoperatório.1818 Street JT, Andrew Glennie R, Dea N, et al. A comparison of the Wiltse versus midline approaches in degenerative conditions of the lumbar spine. J Neurosurg Spine 2016;25(03):332-338,1919 Guiroy A, Sícoli A, Masanés NG, Ciancio AM, Gagliardi M, Falavigna A. How to perform the Wiltse posterolateral spinal approach: Technical note. Surg Neurol Int 2018;9:38

Acesso Lateral

A abordagem lateral da coluna foi descrita pela primeira vez por Ozgur et al.2020 Ozgur BM, Aryan HE, Pimenta L, Taylor WR. Extreme Lateral Interbody Fusion (XLIF): a novel surgical technique for anterior lumbar interbody fusion. Spine J 2006;6(04):435-443 como uma alternativa menos invasiva à fusão intersomática vertebral. Seu uso foi rapidamente popularizado no tratamento de diversas doenças da coluna, sendo mais recentemente adaptado para a L5-S1 na abordagem anterolateral, anterior ao músculo iliopsoas, também chamado de acesso oblíquo do iliopsoas.2121 Li JX, Phan K, Mobbs R. Oblique Lumbar Interbody Fusion: Technical Aspects, Operative Outcomes, and Complications. World Neurosurg 2017;98:113-123,2222 Mai HT, Schneider AD, Alvarez AP, et al. Anatomic Considerations in the Lateral Transpsoas Interbody Fusion: The Impact of Age, Sex, BMI, and Scoliosis. Clin Spine Surg 2019;32(05):215-221

De acordo com a descrição original da técnica, o posicionamento é em decúbito lateral sobre mesa radiotransparente invertida, com o trocanter maior na dobra da mesa, ortogonal à radioscopia. A mesa é flexionada para facilitar a dissecção, afastando as costelas da crista ilíaca. A incisão cutânea deve ser feita em direção ao disco em um nível ou em direção ao corpo vertebral em dois níveis; a abordagem a três níveis ou mais exige mais de uma incisão. A dissecção dos músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome deve ser feita de forma romba, sem uso de eletrocautério. Para evitar lesões nas estruturas peritoneais, o dedo indicador deve desobstruir o espaço retroperitoneal antes da inserção do fio-guia, dos dilatadores e do afastador, que atravessam o iliopsoas diretamente com o auxílio de uma lupa ou microscópio. Esta abordagem é usada para a fusão intersomática lombar lateral (LLIF, do inglês lateral lumbar intersomatic fusion) ou fusão intersomática lateral extrema (XLIF, do inglês extreme lateral intersomatic fusion). Estes termos são sinônimos, mas XLIF foi patenteado por uma empresa também como nome do implante; portanto, é mais correto usar LLIF para a abordagem lateral da fusão intersomática.

O monitoramento neurofisiológico multimodal é obrigatório para evitar lesões do plexo lombar e do nervo genitofemoral.2323 Watkins RG III, Watkins RG IV, Eds. Surgical Approaches to the Spine. New York, NY: Springer; 2015 O conhecimento da neuroanatomia regional, o tempo de retração do músculo iliopsoas e o treinamento adequado da técnica permitem sua realização sem necessidade de cirurgião de acesso.2424 Pawar A, Hughes A, Girardi F, Sama A, Lebl D, Cammisa F. Lateral Lumbar Interbody Fusion. Asian Spine J 2015;9(06):978-983

Acesso Anterior

As abordagens anteriores da coluna lombar, ou seja, a fusão intersomática lombar anterior (ALIF, do inglês anterior lumbar interbody fusion) surgiram pela primeira vez na década de 1930 para o tratamento da espondilolistese por Capener33 Capener N. Spondylolisthesis. Br J Surg 1932;19(75):374-386 e da doença de Pott por Ito et al.2525 Ito, HiroMu, Tsuchiya JuNichi, Asami Goichi. A new radical operation for Pott’s disease: report of ten cases. JBJS 16(03):1934:499-515

Desde então, várias técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas, incluindo abordagens transperitoneais abertas ou laparoscópicas e exposições retroperitoneais. Desde o final da década de 1990, a técnica cirúrgica preferida e mais utilizada tem sido a minimamente invasiva, popularizada por Brau2626 Brau SA. Mini-open approach to the spine for anterior lumbar interbody fusion: description of the procedure, results and complications. Spine J 2002;2(03):216-223. A abordagem ALIF proporciona exposição direta da linha média do disco lombar, permitindo a discectomia ampla e a colocação de um enxerto intersomático de tamanho considerável que maximiza cobertura do planalto vertebral. L5-S1 é o nível de tratamento preferido, pois evita a complexidade da bifurcação da aorta e das veias cava e ilíaca. Entretanto, níveis mais elevados, de L2 a S1, já foram abordados por cirurgiões experientes.2727 Dias Pereira Filho AR. Technique for Exposing Lumbar Discs in Anterior Approach Using Steinmann Wires: Arthroplasties or Arthrodesis. World Neurosurg 2021;148:189-195

A técnica de acesso anterior à coluna lombossacral é útil na doença degenerativa do disco, espondilolistese ístmica ou degenerativa, espondilodiscite, pseudoartrose, remoção de gaiolas, TLIF ou PLIF mal posicionadas ou que sofreram migração e doença ou degeneração do nível adjacente.2828 Mobbs RJ, Phan K, Malham G, Seex K, Rao PJ. Lumbar interbody fusion: techniques, indications and comparison of interbody fusion options including PLIF, TLIF, MI-TLIF, OLIF/ATP, LLIF and ALIF. J Spine Surg 2015;1(01):2-18

A abordagem posterior apresenta maior risco de dano neurológico e ruptura dural devido à presença de fibrose; assim, a via anterior é preferida por ter menor morbidade.2727 Dias Pereira Filho AR. Technique for Exposing Lumbar Discs in Anterior Approach Using Steinmann Wires: Arthroplasties or Arthrodesis. World Neurosurg 2021;148:189-195 O restauro do equilíbrio sagital permite o uso de implantes hiperlordóticos (até 30 graus) e o reequilíbrio desejado de lesões do corpo vertebral por fraturas ou tumores.

Algumas vantagens desta técnica são a visualização direta da linha média do espaço discal e a extensa exposição lateral dos corpos vertebrais, o que permite a liberação eficiente do espaço discal e o acesso adequado a toda a superfície ventral exposta do disco. Isto possibilita a discectomia completa, a restauração do espaço discal e a redução automática da deformidade por meio da ligamentotaxia, levando à descompressão indireta. Além disso, protege a coluna e os músculos anterolaterais posteriores ao psoas, o que pode reduzir a dor e a incapacidade pós-operatória.66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157,2727 Dias Pereira Filho AR. Technique for Exposing Lumbar Discs in Anterior Approach Using Steinmann Wires: Arthroplasties or Arthrodesis. World Neurosurg 2021;148:189-195,2828 Mobbs RJ, Phan K, Malham G, Seex K, Rao PJ. Lumbar interbody fusion: techniques, indications and comparison of interbody fusion options including PLIF, TLIF, MI-TLIF, OLIF/ATP, LLIF and ALIF. J Spine Surg 2015;1(01):2-18

Dentre as desvantagens da técnica ALIF, estão as complicações relacionadas à abordagem, como lesões vasculares, ejaculação retrógrada e lesões viscerais.2929 Wert WG Jr, Sellers W, Mariner D, et al. Identifying Risk Factors for Complications During Exposure for Anterior Lumbar Interbody Fusion. Cureus 2021;13(07):e16792,3030 Manunga J, Alcala C, Smith J, et al. Technical approach, outcomes, and exposure-related complications in patients undergoing anterior lumbar interbody fusion. J Vasc Surg 2021;73(03):992-998 A técnica ALIF é adequada para os níveis L4/L5 e L5/S1 devido à anatomia vascular que proporciona um grande corredor de trabalho entre os vasos ilíacos. Níveis mais elevados, como L2/3 e L3/L4, podem ser explorados por equipes com cirurgiões de acesso experientes e com maior treinamento devido à necessidade de ampla mobilização vascular da aorta e artérias ilíacas e vísceras retroperitoneais, como pâncreas e rins.66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157

A contraindicação para qualquer abordagem anterior inclui grandes cirurgias abdominais prévias, doença vascular periférica grave, histórico de radioterapia e presença de stents e endopróteses em vasos abdominais. Além disso, dentre as contraindicações específicas, estão a necessidade de descompressão posterior direta, infecção aguda, osteoporose grave pelo risco de subsidência (fratura e afundamento do platô) e hérnia de disco com extrusão ou migração, principalmente se calcificada, necessitando de abordagem posterior.66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157,3131 Xu DS, Walker CT, Godzik J, Turner JD, Smith W, Uribe JS. Minimally invasive anterior, lateral, and oblique lumbar interbody fusion: a literature review. Ann Transl Med 2018;6(06):104-104 A obesidade é uma contraindicação relativa, com morbidade intraoperatória, complicações pós-operatórias e artrodese semelhantes aos pacientes com índice de massa corporal dentro da normalidade.3232 Safaee MM, Tenorio A, Osorio JA, et al. The impact of obesity on perioperative complications in patients undergoing anterior lumbar interbody fusion. J Neurosurg Spine 2020;33(03):1-10

Acesso Oblíquo

A primeira descrição da abordagem de fusão intersomática lombar lateral oblíqua (OLIF, do inglês oblique lateral lumbar interbody fusion) foi publicada em 1997 por Mayer.3333 Mayer HM. A new microsurgical technique for minimally invasive anterior lumbar interbody fusion. Spine 1997;22(06):691-699, discussion 700 No entanto, o nome oficial e a sigla não foram cunhados até 2012, quando Silvestre et al.3434 Silvestre C, Mac-Thiong JM, Hilmi R, Roussouly P. Complications and morbidities of mini-open anterior retroperitoneal lumbar interbody fusion: oblique lumbar interbody fusion in 179 patients. Asian Spine J 2012;6(02):89-97 utilizaram uma abordagem retroperitoneal minimamente invasiva semelhante à abordagem de Mayer para fusão intervertebral lombar anterior. Essa técnica é relatada por Silvestre et al.3434 Silvestre C, Mac-Thiong JM, Hilmi R, Roussouly P. Complications and morbidities of mini-open anterior retroperitoneal lumbar interbody fusion: oblique lumbar interbody fusion in 179 patients. Asian Spine J 2012;6(02):89-97 como OLIF e acessa a superfície anterolateral do espaço discal antes do músculo psoas, que é mobilizado posteriormente. Após o preparo do espaço discal, o dispositivo intersomático é inserido em ângulo oblíquo e girado em posição lateral.

A evolução da técnica e da instrumentação proporcionou acesso adequado à coluna lombar, com baixos índices de complicações perioperatórias, tempos cirúrgicos menores, morbidade e mortalidade baixas, menor dor pós-operatória e retorno precoce às atividades diárias. As indicações incluem doenças degenerativas do disco, dor lombar discogênica, escoliose lombar degenerativa, espondilolistese de baixo grau, instabilidade lombar, revisão, estenose de canal branda a moderada, deformidade sagital, fraturas, tumores e doença em nível adjacente.2828 Mobbs RJ, Phan K, Malham G, Seex K, Rao PJ. Lumbar interbody fusion: techniques, indications and comparison of interbody fusion options including PLIF, TLIF, MI-TLIF, OLIF/ATP, LLIF and ALIF. J Spine Surg 2015;1(01):2-18

O dispositivo oblíquo pode elevar a altura do espaço intervertebral e expandir o tamanho do forame intervertebral, indiretamente levando à descompressão.3535 OLIF Procedures | Medtronic. Accessed November 17, 2022. Available from: https://www.medtronic.com/us-en/healthcare-professionals/therapies-procedures/spinal-orthopaedic/olif.html
https://www.medtronic.com/us-en/healthca...
Quanto à acessibilidade anatômica, a técnica OLIF pode alcançar L1 a S1 usando um corredor oblíquo entre a aorta, a veia cava inferior e os músculos psoas para acesso ao espaço do disco.

Há espaço operatório adequado com o corredor oblíquo esquerdo dos níveis L2 a L5, com capacidade adicional de extensão durante a cirurgia com posicionamento lateral e retração do músculo psoas. A caixa torácica pode limitar o acesso a L1-L2, assim como a crista ilíaca e os vasos ilíacos podem limitar o acesso a L4-L5.2727 Dias Pereira Filho AR. Technique for Exposing Lumbar Discs in Anterior Approach Using Steinmann Wires: Arthroplasties or Arthrodesis. World Neurosurg 2021;148:189-195,3131 Xu DS, Walker CT, Godzik J, Turner JD, Smith W, Uribe JS. Minimally invasive anterior, lateral, and oblique lumbar interbody fusion: a literature review. Ann Transl Med 2018;6(06):104-104

As vantagens são a menor invasividade da técnica operatória, o menor tempo cirúrgico e a menor chance de lesão do plexo lombar, permitindo acesso direto ao disco. A ausência de lesão da lâmina provoca menos danos e sangramento, menor taxa de lesão nervosa, acelera a recuperação pós-operatória, diminui a dor e o tempo de internação hospitalar e aumenta as taxas de fusão intersomática causada pela grande quantidade de remoção de disco, promovendo um grande área de contato com os platôs e adequada correção das deformidades.66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157,3636 Molinares DM, Davis TT, Fung DA. Retroperitoneal oblique corridor to the L2-S1 intervertebral discs: an MRI study. J Neurosurg Spine 2016;24(02):248-255,3737 Zairi F, Sunna TP, Westwick HJ, et al. Mini-open oblique lumbar interbody fusion (OLIF) approach for multi-level discectomy and fusion involving L5-S1: Preliminary experience. Orthop Traumatol Surg Res 2017;103(02):295-299

Também há a possibilidade de abordar níveis mais superiores por meio do mesmo acesso sem ampliar a janela cirúrgica. As desvantagens incluem alterações anatômicas que limitam o procedimento e os possíveis riscos envolvidos, como disfunção simpática e lesão vascular.2121 Li JX, Phan K, Mobbs R. Oblique Lumbar Interbody Fusion: Technical Aspects, Operative Outcomes, and Complications. World Neurosurg 2017;98:113-123,3131 Xu DS, Walker CT, Godzik J, Turner JD, Smith W, Uribe JS. Minimally invasive anterior, lateral, and oblique lumbar interbody fusion: a literature review. Ann Transl Med 2018;6(06):104-104

Podemos observar que nas bifurcações aorta/cava/ilíaca superior (aquelas que ocorrem acima do terço superior de L4), os vasos ilíacos já estão bem abertos e seu trajeto é quase lateral ao nível do disco L4-5, o que causaria danos vasculares no suposto corredor de acesso à OLIF.

Considerando o relato acima, ao posicionar a lâmina inferior do afastador, deve-se evitar sua fixação na vértebra de L5 com parafuso específico.66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157,2121 Li JX, Phan K, Mobbs R. Oblique Lumbar Interbody Fusion: Technical Aspects, Operative Outcomes, and Complications. World Neurosurg 2017;98:113-123,3131 Xu DS, Walker CT, Godzik J, Turner JD, Smith W, Uribe JS. Minimally invasive anterior, lateral, and oblique lumbar interbody fusion: a literature review. Ann Transl Med 2018;6(06):104-104

A abordagem de acesso oblíquo tem várias limitações.

Existe o risco de estenose do canal causada pelo dispositivo intersomático no trajeto posteromedial, levando ao deslocamento do material discal ou ligamentar em direção ao canal central ou ao forame contralateral. Uma segunda limitação refere-se aos pacientes com espondilolistese de alto grau devido à ausência de "sobreposição" suficiente dos dois platôs vertebrais para acomodação do dispositivo intersomático em uma trajetória oblíqua.

O procedimento também pode ser influenciado pela estenose congênita do canal vertebral e pelas lesões que ocupam o espaço intervertebral, pela fusão espontânea do espaço intervertebral ou facetas posteriores e pelo formato do músculo psoas. Portanto, no lado côncavo dos pacientes com escoliose, o espaço entre os vasos e o músculo psoas diminui, o que não favorece a via OLIF.

A interiorização do sinal do psoas observado nas imagens axiais ao nível de L4-L5 se refere à presença do músculo psoas na área de entrada do anel lateral do disco vertebral. O espaço entre o músculo psoas e o músculo quadrado lombar é maior em alguns pacientes, o que pode levar à compreensão errada da distância entre a artéria e o músculo psoas. As diferentes posições influenciam o formato do músculo psoas. Em decúbito lateral direito, o músculo psoas maior esquerdo é afetado pela gravidade e fica próximo ao corpo vertebral.66 Allain J, Dufour T. Anterior lumbar fusion techniques: ALIF, OLIF, DLIF, LLIF, IXLIF. Orthop Traumatol Surg Res 2020;106(1S): S149-S157,3131 Xu DS, Walker CT, Godzik J, Turner JD, Smith W, Uribe JS. Minimally invasive anterior, lateral, and oblique lumbar interbody fusion: a literature review. Ann Transl Med 2018;6(06):104-104,3838 Li R, LiX, Zhou H, Jiang W. Development and Application of Oblique Lumbar Interbody Fusion. Orthop Surg 2020;12(02):355-365

Abordagem Endoscópica

Para que uma abordagem À coluna seja considerada uma cirurgia totalmente endoscópica, precisa atender aos seguintes critérios: o uso de um endoscópio com canal funcional e sistema endoscópico, uma abordagem totalmente percutânea com uma pequena incisão, como uma punção na pele ("incisão por facada") e técnica de portal único realizada sob irrigação constante com soro fisiológico.3939 Hermantin FU, Peters T, Quartararo L, Kambin P. A prospective, randomized study comparing the results of open discectomy with those of video-assisted arthroscopic microdiscectomy. J Bone Joint Surg Am 1999;81(07):958-965,4040 Mayer HM, Brock M. Percutaneous endoscopic discectomy: surgical technique and preliminary results compared to microsurgi- cal discectomy. J Neurosurg 1993;78(02):216-225

Existem outros métodos de abordagem endoscópica da coluna vertebral, como endoscopia biportal, microendoscopia, epiduroscopia e cirurgia tubular assistida por vídeo. Entretanto, a cirurgia percutânea endoscópica ou completamente endoscópica da coluna (Fig. 2) é a mais utilizada em nosso meio.3939 Hermantin FU, Peters T, Quartararo L, Kambin P. A prospective, randomized study comparing the results of open discectomy with those of video-assisted arthroscopic microdiscectomy. J Bone Joint Surg Am 1999;81(07):958-965,4040 Mayer HM, Brock M. Percutaneous endoscopic discectomy: surgical technique and preliminary results compared to microsurgi- cal discectomy. J Neurosurg 1993;78(02):216-225

Fig. 2
Abordagem endoscópica transforaminal. (A) Localização da raiz do gânglio nervoso, (B) acesso direto ao abscesso no disco, (C) posicionamento da equipe, (D) visualização endoscópica da raiz nervosa.

Ao considerar a coluna lombar, as principais vias de acesso endoscópico podem ser divididas em acesso transforaminal e interlaminar.4141 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Full-endoscopic interlaminar and transforaminal lumbar discectomy versus conventional microsurgical technique: a prospective, randomized, controlled study. Spine 2008;33(09):931-939,4242 Nellensteijn J, Ostelo R, Bartels R, Peul W, van Royen B, van Tulder M. Transforaminal endoscopic surgery for symptomatic lumbar disc herniations: a systematic review of the literature. Eur Spine J 2010;19(02):181-204

Abordagem Transforaminal

A abordagem transforaminal pode ser realizada com o paciente em decúbito ventral com flexão de quadris e joelhos sob anestesia local, sedação ou anestesia geral. Neste último caso, pode ser acompanhada por monitoramento neurofisiológico para que o cirurgião verifique a função da raiz emergente e estruturas próximas ao nível abordado.4141 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Full-endoscopic interlaminar and transforaminal lumbar discectomy versus conventional microsurgical technique: a prospective, randomized, controlled study. Spine 2008;33(09):931-939,4242 Nellensteijn J, Ostelo R, Bartels R, Peul W, van Royen B, van Tulder M. Transforaminal endoscopic surgery for symptomatic lumbar disc herniations: a systematic review of the literature. Eur Spine J 2010;19(02):181-204

Os princípios da via transforaminal endoscópica são obter o acesso mais próximo possível da doença discal e evitar a irritação da raiz emergente. Para atingir esses princípios, a foraminoplastia pode ser associada ao procedimento, que é a recalibração do forame intervertebral abordado utilizando meios para remover ou afinar as bordas ósseas.4242 Nellensteijn J, Ostelo R, Bartels R, Peul W, van Royen B, van Tulder M. Transforaminal endoscopic surgery for symptomatic lumbar disc herniations: a systematic review of the literature. Eur Spine J 2010;19(02):181-204,4343 Cong L, Zhu Y, Tu G. A meta-analysis of endoscopic discectomy versus open discectomy for symptomatic lumbar disk herniation. Eur Spine J 2016;25(01):134-143 Para tanto, podem ser usadas brocas (específicas de foraminoplastia ou não) ou referências percutâneas.

O ângulo de acesso e o ponto de acesso no forame são essenciais para o sucesso da técnica. Esses parâmetros podem ser ajustados de acordo com o tamanho corporal do paciente, o nível do disco e o sítio acometido a ser abordado. De modo geral, em níveis lombares inferiores (L4-L5 e L5-S1), utiliza-se uma distância da linha média de 10 a 12 cm e, em níveis superiores, a abordagem é progressivamente mais próxima da linha média devido à topografia renal.

Após a incisão posterolateral, um fio-guia é inserido para atingir o espaço do triângulo de Kambin. Este triângulo de segurança de abordagem é definido como o espaço entre a raiz emergente lateralmente, medialmente a dura-máter, e a base, a porção superior do pedículo da vértebra inferior.

A via de acesso é dilatada com afastadores rombos progressivos até a colocação do canal de trabalho. Depois do posicionamento seguro do canal, o endoscópio é inserido. A forma ideal de garantir o posicionamento correto é a visualização adequada das estruturas que compõem o forame intervertebral para aumentar a segurança da cirurgia.4242 Nellensteijn J, Ostelo R, Bartels R, Peul W, van Royen B, van Tulder M. Transforaminal endoscopic surgery for symptomatic lumbar disc herniations: a systematic review of the literature. Eur Spine J 2010;19(02):181-204,4343 Cong L, Zhu Y, Tu G. A meta-analysis of endoscopic discectomy versus open discectomy for symptomatic lumbar disk herniation. Eur Spine J 2016;25(01):134-143

Existem algumas divergências na literatura quanto à abordagem do disco. A princípio, a abordagem endoscópica transforaminal era realizada a partir da porção central do disco e progredia em direção à parte externa do disco, técnica conhecida como inside-out.

Com a evolução das técnicas cirúrgicas e tecnologias de equipamentos para doenças discais, surgiu a técnica de abordagem externa, conhecida como outside-in.4242 Nellensteijn J, Ostelo R, Bartels R, Peul W, van Royen B, van Tulder M. Transforaminal endoscopic surgery for symptomatic lumbar disc herniations: a systematic review of the literature. Eur Spine J 2010;19(02):181-204

43 Cong L, Zhu Y, Tu G. A meta-analysis of endoscopic discectomy versus open discectomy for symptomatic lumbar disk herniation. Eur Spine J 2016;25(01):134-143
-4444 Li XC, Zhong CF, Deng GB, Liang RW, Huang CM. Full-Endoscopic Procedures Versus Traditional Discectomy Surgery for Discectomy: A Systematic Review and Meta-analysis of Current Global Clinical Trials. Pain Physician 2016;19(03):103-118

Recentemente, a abordagem transforaminal de doenças ósseas do forame, sem necessidade de acesso ao disco, a técnica outside-out corresponde à utilizada para descompressão óssea do forame. Essa abordagem é associada ao risco de dor residual devido à manipulação radicular pelo procedimento, principalmente durante a curva de aprendizado do cirurgião. No entanto, as complicações neurológicas são menores nas técnicas endoscópicas percutâneas em comparação à abordagem aberta.4545 Ruan W, Feng F, Liu Z, Xie J, Cai L, Ping A. Comparison of percutaneous endoscopic lumbar discectomy versus open lumbar microdiscectomy for lumbar disc herniation: A meta-analysis. Int J Surg 2016;31:86-92

Abordagem Interlaminar

Como a endoscopia transforaminal, a abordagem interlaminar pode ser realizada sob sedação ou anestesia local ou geral. O ponto alvo da abordagem é a borda lateral da janela interlaminar.4141 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Full-endoscopic interlaminar and transforaminal lumbar discectomy versus conventional microsurgical technique: a prospective, randomized, controlled study. Spine 2008;33(09):931-939,4343 Cong L, Zhu Y, Tu G. A meta-analysis of endoscopic discectomy versus open discectomy for symptomatic lumbar disk herniation. Eur Spine J 2016;25(01):134-143 Essa janela costuma ser mais proeminente em níveis mais caudais e diminui de maneira progressiva em sentido cefálico. Assim, L5-S1 é o nível com maior janela interlaminar. Inicialmente, a via de acesso interlaminar exigia janelas de bom tamanho para garantir uma abordagem segura.

A evolução da técnica cirúrgica e dos equipamentos de descompressão óssea possibilitou a abordagem de janelas interlaminares ainda menores após a descompressão óssea adequada.4343 Cong L, Zhu Y, Tu G. A meta-analysis of endoscopic discectomy versus open discectomy for symptomatic lumbar disk herniation. Eur Spine J 2016;25(01):134-143,4646 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Recurrent lumbar disc herniation after conventional discectomy: a prospective, randomized study comparing full-endoscopic interlaminar and transforaminal versus microsurgical revision. J Spinal Disord Tech 2009;22(02):122-129 A abordagem interlaminar pode começar com um fio-guia ou mesmo com a abordagem direta com o afastador rombo devido ao risco de introdução inadvertida do fio-guia no canal vertebral através do ligamento amarelo.

Após o afastador, a cânula de trabalho é posicionada com o bisel apoiado na porção mais lateral da janela. A seguir, o endoscópio é introduzido para garantir a visualização do ligamento amarelo.4141 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Full-endoscopic interlaminar and transforaminal lumbar discectomy versus conventional microsurgical technique: a prospective, randomized, controlled study. Spine 2008;33(09):931-939,4646 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Recurrent lumbar disc herniation after conventional discectomy: a prospective, randomized study comparing full-endoscopic interlaminar and transforaminal versus microsurgical revision. J Spinal Disord Tech 2009;22(02):122-129 Este ligamento pode ser removido com pinça e tesoura apropriadas, permitindo a visualização do espaço peridural.

Após a flavectomia, o campo cirúrgico é preparado com descompressão óssea mais eficaz e/ou remoção de partes moles até que seja possível visualizar e dissecar as estruturas nervosas.4141 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Full-endoscopic interlaminar and transforaminal lumbar discectomy versus conventional microsurgical technique: a prospective, randomized, controlled study. Spine 2008;33(09):931-939,4646 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Recurrent lumbar disc herniation after conventional discectomy: a prospective, randomized study comparing full-endoscopic interlaminar and transforaminal versus microsurgical revision. J Spinal Disord Tech 2009;22(02):122-129 Esta via permite o tratamento de doença compressiva discal ou óssea, dependendo da origem dos sintomas. Ao final da cirurgia, a descompressão pode ser confirmada com sonda romba através do canal de trabalho e visualização de estruturas livres e pulsáteis com o fluxo sérico.4141 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Full-endoscopic interlaminar and transforaminal lumbar discectomy versus conventional microsurgical technique: a prospective, randomized, controlled study. Spine 2008;33(09):931-939,4646 Ruetten S, Komp M, Merk H, Godolias G. Recurrent lumbar disc herniation after conventional discectomy: a prospective, randomized study comparing full-endoscopic interlaminar and transforaminal versus microsurgical revision. J Spinal Disord Tech 2009;22(02):122-129

Considerações Finais

As diversas vias de acesso e abordagens cirúrgicas aqui descritas continuam sendo objetos de estudo, gerando dezenas de publicações anualmente. Não há consenso sobre a melhor abordagem para cada doença. Porém, uma tendência busca redução dos danos teciduais, principalmente musculares, eficácia na descompressão de estruturas nervosas e maior segurança com minimização dos riscos de danos neurológicos e infecções pós-operatórias. Além disso, os avanços nas técnicas de imagem e ampliação permitem acessos menores, mais eficazes e mais seguros.

  • Suporte Financeiro
    Este estudo não recebeu qualquer financiamento específico de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos.
  • Trabalho desenvolvido pelo Grupo de Coluna, Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    08 Fev 2023
  • Aceito
    04 Set 2023
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