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“Joelho flutuante,” uma lesão incomum: análise de 12 casos* * Estudo conduzido em Department of Orthopedics, P.D. Hinduja National Hospital, Mumbai, Índia.

Resumo

Objetivo

As lesões do tipo joelho flutuante (FKIs, na sigla em inglês) são complexas e são geralmente causadas por trauma de alta velocidade. Estas lesões são frequentemente associadas a lesões que causamrisco demorte, que devemter precedente sobre lesões nas extremidades. Os autores revisaram os resultados das lesões do tipo joelho flutuante tratadas nesta instituição entre 2003 e 2015.

Método

Foi realizado um estudo retrospectivo de todos os pacientes com FKIs de 2003 a 2015. Doze pacientes foram incluídos no estudo. Os dados relacionados ao tipo de fratura, lesões associadas, modalidades de tratamento e complicações foram observados. A avaliação funcional foi realizada utilizando os critérios de Karlstrom modificados após a união óssea completa.

Resultados

Omecanismo de lesão foi acidente automobilísticoemtodos os pacientes.O acompanhamentomédio foi de 4 anos.Amédia de idade dos pacientes foi de 34,75 anos.O tempo médio de união óssea foi de 6,5 meses nos fêmures e de 6,7 meses nas tíbias. As complicações foram rigidez do joelho, união óssea tardia e infecção. De acordo com os critérios modificados de Karlstrom, três resultados foram considerados excelentes, cinco bons, três razoáveis e um resultado foi considerado ruim.

Conclusão

Lesões do tipo joelho flutuante são graves e são geralmente associadas a lesões de vários órgãos. A detecção precoce e o tratamento adequado das lesões associadas, a afixação precoce das fraturas e a reabilitação pós-operatória são necessários para um bom resultado. As complicações são frequentes, sob a forma de união óssea tardia, rigidez do joelho e infecção.

Palavras-chave:
fraturas femorais; fraturas tibiais; lesões no joelho; fixação de fratura

Abstract

Objective

Floating knee injuries are complex injuries and are usually caused by highvelocity trauma. These injuries are often associated with life treating injuries, which should take precedent over extremity injuries. The authors reviewed the outcomes of floating knee injuries managed in this institute from 2003 to 2015.

Method

A retrospective study was conducted of all patients with floating knee injuries from2003 to 2015. Twelve patients were included in the study. Data related to fracture type, associated injuries, treatmentmodalities, and complications were noted. Functional assessment was performed using themodified Karlstromand Olerud criteria after complete bony union.

Result

The mechanism of injury was motor vehicle accident in all patients. The mean follow up was four years. The mean age of patients was 34.75 year. The mean union time was 6.5 months in femurs and 6.7 month in tibias. The complications were knee stiffness, delayed union, and infection. According to modified Karlstrom criteria, there were three - excellent, five - good, three - fair, and one poor result.

Conclusion

Floating knee injuries are severe injuries and are usually associated withmultiorgan injuries. Early detection and appropriate management of associated injuries, early fixation of fractures, and postoperative rehabilitation are needed for good outcome. Complications are frequent, in the form of delayed union, knee stiffness, and infection.

Keywords:
femoral fractures; tibial fractures; knee injuries; fracture fixation

Introdução

As lesões do tipo joelho flutuante (FKI, na sigla em inglês) são definidas como fraturas ipsilaterais do fêmur e da tíbia, podendo incluir fraturas intra-articulares diafisárias e metafisárias.11 Lundy DW, Johnson KD. "Floating knee" injuries: ipsilateral fractures of the femur and tibia. J Am Acad Orthop Surg 2001;9 (4):238-45 Estas fraturas podem variar de diafisárias simples a articulares complexas. O termo joelho flutuante foi descrito por Blake et al em 1975.22 Blake R, McBryde A Jr. The floating knee: Ipsilateral fractures of the tibia and femur. South Med J 1975;68(1):13-6

Embora sua incidência exata não seja conhecida, as FKI são relativamente incomuns. De modo geral, estas lesões ocorrem após traumas em alta velocidade, em especial colisões automobilísticas, e são comumente associadas a lesões extensas em tecidos moles e a lesões com risco de vida. Kao et al, em sua série de 419 pacientes, relataram 110 (26%) lesões cefálicas, 37 (8%) lesões pélvicas, 29 (7%) lesões torácicas e 230 (55%) lesões em membros contralaterais.33 Kao FC, Tu YK, Hsu KY, Su JY, Yen CY, Chou MC. Floating knee injuries: a high complication rate. Orthopedics 2010;33(1):14 A incidência de lesão vascular associada à FKI varia de 7% a 29%.44 Paul GR, Sawka MW, Whitelaw GP. Fractures of the ipsilateral femur and tibia: emphasis on intra-articular and soft tissue injury. J Orthop Trauma 1990;4(3):309-14 55 Fraser RD, Hunter GA,Waddell JP. Ipsilateral fracture of the femur and tibia. J Bone Joint Surg Br 1978;60-B(4):510-5 Perda excessiva de sangue, embolia gordurosa, união óssea tardia ou nula, rigidez articular, mobilização tardia, amputação e infecção são algumas outras complicações da FKI.33 Kao FC, Tu YK, Hsu KY, Su JY, Yen CY, Chou MC. Floating knee injuries: a high complication rate. Orthopedics 2010;33(1):14

O avanço dos métodos de fixação da fratura e das técnicas cirúrgicas melhorou o tratamento da FKI ao longo das décadas. Isto pode ser atribuído ao tratamento de pacientes politraumatizados de acordo com os princípios básicos do suporte avançado de vida no trauma (ATLS, na sigla em inglês).

O presente estudo retrospectivo foi realizado para avaliar o desfecho do tratamento da FKI, das lesões associadas e das complicações posteriores.

Material e Métodos

Entre 2004 e 2015, 12 pacientes com FKI foram admitidos no pronto-socorro de nosso instituto terciário. Todos os pacientes que sofreram FKI com idade entre 18 e 65 anos e lesões abertas ou fechadas foram incluídos no estudo. Como a maioria dos pacientes com FKI era vítima de politraumas, o tratamento inicial constituiu de ressuscitação e estabilização hemodinâmica do indivíduo e colocação de tala no membro acometido de acordo com o protocolo ATLS. Todos os 12 pacientes precisaram de ressuscitação no pronto-socorro, e 2 indivíduos foram submetidos a intubação endotraqueal e a cuidados intensivos.

Os pacientes com lesões cefálicas, torácicas e pélvicas foram tratados de modo adequado antes da estabilização cirúrgica da fratura. Um paciente apresentou um grande hematoma na pelve devido a fratura pélvica (tipo B2.2 segundo a classificação de Tile) que causou uma queda no nível de hemoglobina, apesar de ter recebido transfusão de sangue, com necessidade de embolização da artéria sacral e da artéria obturatória.

A classificação de Fraser foi usada para as FKI.55 Fraser RD, Hunter GA,Waddell JP. Ipsilateral fracture of the femur and tibia. J Bone Joint Surg Br 1978;60-B(4):510-5 As fraturas abertas foram classificadas de acordo com o método de Gustilo et al.66 Gustilo RB, Anderson JT. Prevention of infection in the treatment of one thousand and twenty-five open fractures of long bones: retrospective and prospective analyses. J Bone Joint Surg Am 1976;58(4):453-8 O tratamento cirúrgico foi realizado depois da estabilização hemodinâmica do paciente. Primeiramente, a fratura femoral foi fixada e, a seguir, a fratura tibial. Hastes intramedulares foram utilizadas em fraturas diafisárias e placas foram usadas em fraturas metafisárias e intra-articulares (Figs. 1 e 2). Feridas abertas, caso presentes, foram debridadas e adequadamente analisadas quanto à possibilidade de fechamento primário tardio, com enxerto cutâneo ou retalho cutâneo.

Fig. 1
(A) Radiografia pré-operatória de lesão do tipo joelho flutuante de tipo 1; e (B) aos 2 anos de acompanhamento.

Fig. 2
Lesão do tipo joelho flutuante de tipo 2 aos 7 anos de acompanhamento. A dinamização foi realizada devido à união óssea tardia do fêmur em 3 meses.

Durante o período perioperatório, todos os pacientes receberam três doses de antibiótico (cefazolina). Todos os pacientes foram submetidos a tromboprofilaxia no período pós-operatório. Se o estado geral do paciente permitisse, exercícios de movimentação ativa e passiva do joelho começavam um dia após a cirurgia. A marcha com andador e sustentação de peso foi orientada de acordo com o modo de fixação empregado.

Conforme os protocolos hospitalares, os pacientes foram submetidos a acompanhamento regular em 1, 3, 6, 12 meses e anualmente. A avaliação clínica e radiológica foi realizada em cada consulta de acompanhamento. A avaliação radiológica analisou a união óssea. A avaliação funcional foi realizada com os critérios modificados de Karlstrom após a confirmação da união óssea.77 Oñorbe F, Ferrer-Santacreu EM, Rodríguez-Merchán EC. The floating knee: retrospective review of 15 cases treated over a 5-year period. Rev Esp Cir Ortop Traumatol 2008;52:283-9 88 Karlström G, Olerud S. Ipsilateral fracture of the femur and tibia. J Bone Joint Surg Am 1977;59(2):240-3

Resultado

A idade média dos pacientes foi de 34,75 anos (de 19 a 54 anos). A duração média do acompanhamento foi de 4 anos (de 1 a 11 anos). O tempo médio para união óssea completa foi de 6,5 meses no fêmur e de 6,7 meses na tíbia. Todos os 12 pacientes sofreram acidentes de trânsito. O lado direito foi acometido em sete pacientes, e o lado esquerdo em cinco pacientes. Houve 5 FKIs de tipo 1, 2 de tipo 2a, 2 de tipo 2b e 3 de tipo 2c de acordo com a classificação de Fraser (Tabela 1). Houve 9 (75%) FKI abertas, das quais 9 eram no fêmur (3 de grau 2, 3 de grau 3a, 3 de grau 3b) e 5, na tíbia (4 de grau 3a, 1 de grau 3b) (Tabela 2). Quatro pacientes apresentaram lesão torácica e dois pacientes precisaram de dreno torácico intercostal por apresentar hemotórax. Três pacientes apresentaram lesão pélvica, dois precisaram de fixação interna (um com lesão B1 e outro com lesão B2.2 de acordo com a classificação de Tile) e um paciente (A2 de Tile) foi tratado de maneira conservadora. Embora nenhum dos pacientes tenha sofrido lesão cefálica, dois apresentaram equimose periorbital e uma tomografia computadorizada (TC) do cérebro foi solicitada para descartar a presença de sangramento intracraniano ou de fratura de crânio. Oito pacientes apresentaram outras lesões associadas nos membros (Tabela 3). Nenhum paciente apresentou lesão neurovascular nos membros.

Tabela 1
Detalhes clínicos dos pacientes

Tabela 2
Classificação das fraturas abertas de acordo com Gustilo et al

Tabela 3
Outras lesões associadas em membros

As complicações observadas foram rigidez do joelho em cinco pacientes, que foram submetidos a manipulação sob anestesia 3 meses após a cirurgia. A união óssea tardia foi observada em quatro fraturas tibiais e em quatro fraturas femorais. Uma fratura femoral e uma fratura tibial precisaram ser submetidas a dinamização 3 meses após a cirurgia e cicatrizaram em 8 meses e em 6 meses, respectivamente. As outras três fraturas femorais, tratadas com placa, haste e fixação externa, continuaram a ser observadas sem qualquer intervenção até a união óssea por, em média, 11 meses. Da mesma maneira, as três outras fraturas tibiais, tratadas com placa, haste e imobilização com gesso, continuaram a ser observadas sem intervenção até a união óssea por, em média, 9,20 meses. Cinco pacientes desenvolveram infecção superficial precoce sobre o sítio cirúrgico na tíbia, a qual foi resolvida com antibióticos. Um paciente apresentou infecção tardia 3 anos após a cirurgia na tíbia, a qual foi resolvida com debridamento e a remoção do implante (Tabela 4).

Tabela 4
Complicações associadas à lesão do tipo joelho flutuante

Três pacientes apresentaram defeito da ferida no membro inferior, resolvido com um enxerto cutâneo de espessura parcial em um paciente e com cobertura com retalho (retalho de gastrocnêmio e retalho de avanço local) em dois indivíduos. Um paciente apresentou um defeito na ferida da coxa, fechado com sutura secundária. A avaliação funcional foi realizada de acordo com os critérios modificados de Karlstrom após a união óssea completa, com três resultados excelentes, cinco bons resultados, três resultados razoáveis e um resultado ruim (Tabela 5 e Fig. 3).

Fig. 3
Avaliação funcional do paciente da Fig. 2 em 7 anos.

Tabela 5
Resultado funcional de acordo com os critérios modificados de Karlstrom

Discussão

As FKIs são lesões incomuns e sua verdadeira incidência ainda não é conhecida. Os pacientes com FKI são geralmente vítimas de traumas em alta velocidade, principalmente acidentes automobilísticos. Não são apenas lesões em membros, já que diversas lesões em órgãos e múltiplas fraturas estão frequentemente associadas, com possível risco de morte. Descobrimos que 66% dos pacientes apresentavam lesões associadas, uma incidência comparável a outros estudos.77 Oñorbe F, Ferrer-Santacreu EM, Rodríguez-Merchán EC. The floating knee: retrospective review of 15 cases treated over a 5-year period. Rev Esp Cir Ortop Traumatol 2008;52:283-9 99 Adamson GJ,Wiss DA, Lowery GL, Peters CL. Type II floating knee: ipsilateral femoral and tibial fractures with intraarticular extension into the knee joint. J Orthop Trauma 1992;6(3):333-9 A avaliação cuidadosa dos pacientes foi realizada para a identificação de outras lesões associadas e a prioridade de tratamento foi dada àquelas com risco de morte, e não às lesões em membros.

O papel do atendimento total precoce (ETC, na sigla em inglês) e do controle de danos ortopédicos (DCO, na sigla em inglês) nos politraumas sempre foi controverso. Em pacientes estáveis, o ETC é mais adequado e, nos instáveis, o DCO é necessário. No entanto, há dúvidas consideráveis em pacientes limítrofes. Alguns autores indicam o ETC para todos os pacientes, exceto aqueles em estado mais crítico, e alguns indicam o DCO e a estabilização esquelética tardia.1010 Vallier HA, Super DM, Moore TA, Wilber JH. Do patients with multiple system injury benefit from early fixation of unstable axial fractures? The effects of timing of surgery on initial hospital course. J Orthop Trauma 2013;27(7):405-15 1111 Lichte P, Kobbe P, Dombroski D, Pape HC. Damage control orthopedics: current evidence. Curr Opin Crit Care 2012;18(6):647-50 A literatura também relata a utilidade da medição do nível sérico de lactato para a determinação do momento de tratamento e da mortalidade, mas seu papel ainda é controverso na previsão da sobrevida após uma lesão grave.1212 Pal JD, Victorino GP, Twomey P, Liu TH, Bullard MK, Harken AH. Admission serum lactate levels do not predict mortality in the acutely injured patient. J Trauma 2006;60(3):583-87, discussion 587-9 1313 Pape H, Stalp M, v Griensven M, Weinberg A, Dahlweit M, Tscherne H. [Optimal timing for secondary surgery in polytrauma patients: an evaluation of 4,314 serious-injury cases]. Chirurg 1999;70(11):1287-93 Em nosso estudo, não medimos o nível sérico de lactato. Em conclusão, o tratamento de pacientes politraumatizados deve ser individualizado após a avaliação do benefício da fixação definitiva precoce da fratura em comparação com o possível risco de complicações sistêmicas fatais, como embolia gordurosa, lesão pulmonar aguda ou falência múltipla de órgãos.1414 Balogh ZJ, Reumann MK, Gruen RL, Mayer-Kuckuk P, Schuetz MA, Harris IA, et al. Advances and future directions for management of trauma patients with musculoskeletal injuries. Lancet 2012;380 (9847):1109-19

Vários estudos mostraram bons resultados após o tratamento cirúrgico da FKI.88 Karlström G, Olerud S. Ipsilateral fracture of the femur and tibia. J Bone Joint Surg Am 1977;59(2):240-3 1515 Veith RG, Winquist RA, Hansen ST Jr. Ipsilateral fractures of the femur and tibia. A report of fifty-seven consecutive cases. J Bone Joint Surg Am 1984;66(7):991-1002 1616 Behr JT, Apel DM, Pinzur MS, Dobozi WR, Behr MJ. Flexible intramedullary nails for ipsilateral femoral and tibial fractures. J Trauma 1987;27(12):1354-7 1717 Höjer H, Gillquist J, Liljedahl SO. Combined fractures of the femoral and tibial shafts in the same limb. Injury 1977;8(3):206-12 1818 Elmrini A, Elibrahimi A, Agoumi O, Boutayeb F, Mahfoud M, Elbardouni A, et al. Ipsilateral fractures of tibia and femur or floating knee. Int Orthop 2006;30(5):325-8 Há um consenso em estudos recentes de que o melhor tratamento para a FKI é a fixação cirúrgica da fratura com haste intramedular sempre que possível.1919 Rethnam U, Yesupalan RS, Nair R. Impact of associated injuries in the floating knee: a retrospective study. BMC Musculoskelet Disord 2009;10:7 Doi: 10.1186/1471-2474-10-7
https://doi.org/10.1186/1471-2474-10-7...
2020 Theodoratos G, Papanikolaou A, Apergis E, Maris J. Simultaneous ipsilateral diaphyseal fractures of the femur and tibia: treatment and complications. Injury 2001;32(4):313-5 2121 Dwyer AJ, Paul R, Mam MK, Kumar A, Gosselin RA. Floating knee injuries: long-termresults of four treatment methods. Int Orthop 2005;29(5):314-8 Rethnam et al trataram a maioria das FKI extra-articulares com hastes intramedulares e a maioria das fraturas intra-articulares com placas, e observaram que o tempo de união óssea da fratura e a recuperação funcional foi melhor nos pacientes que receberam hastes intramedulares.1919 Rethnam U, Yesupalan RS, Nair R. Impact of associated injuries in the floating knee: a retrospective study. BMC Musculoskelet Disord 2009;10:7 Doi: 10.1186/1471-2474-10-7
https://doi.org/10.1186/1471-2474-10-7...
Theodoratus et al,2020 Theodoratos G, Papanikolaou A, Apergis E, Maris J. Simultaneous ipsilateral diaphyseal fractures of the femur and tibia: treatment and complications. Injury 2001;32(4):313-5 em seu estudo, recomendaram as hastes intramedulares como o método de escolha para o tratamento das fraturas ipsilaterais da diáfise da tíbia e do fêmur, exceto em fraturas abertas de grau 3b e c. Dwyer et al2121 Dwyer AJ, Paul R, Mam MK, Kumar A, Gosselin RA. Floating knee injuries: long-termresults of four treatment methods. Int Orthop 2005;29(5):314-8 compararam quatro modalidades terapêuticas para fixação da FKI e concluíram que resultados excelentes a bons foram obtidos quando fraturas femorais e tibiais diafisárias foram tratadas com hastes intramedulares ou com a modalidade combinada (haste intramedular para a fratura femoral e imobilização para a fratura tibial) e que os resultados foram ruins quando as duas fraturas foram tratadas com fixador externo. A incidência de amputação foi de até 27% nas FKI com esmagamento extenso de tecido mole, infecção grave e lesões neurovasculares.2121 Dwyer AJ, Paul R, Mam MK, Kumar A, Gosselin RA. Floating knee injuries: long-termresults of four treatment methods. Int Orthop 2005;29(5):314-8 Em nosso estudo, um paciente foi submetido à amputação do joelho devido a infecção local grave e a septicemia, apesar das múltiplas cirurgias de debridamento.

Em nosso estudo, usamos hastes intramedulares em cinco fraturas da diáfise do fêmur e em quatro fraturas da diáfise da tíbia. Utilizamos placas bloqueadas em cinco fraturas tibiais (articulares e metafisárias) e em seis fraturas femorais (articulares e metafisárias). Em um paciente, a imobilização foi usada no tratamento de uma fratura aberta da tíbia de grau 3a (Tabela 1). O fixador externo foi usado na fixação definitiva em duas fraturas tibiais e em uma fratura femoral. O tempo médio para união óssea foi de 6,5 meses no fêmur e de 6,7 meses na tíbia, um pouco maior do que em outro estudo publicado.1919 Rethnam U, Yesupalan RS, Nair R. Impact of associated injuries in the floating knee: a retrospective study. BMC Musculoskelet Disord 2009;10:7 Doi: 10.1186/1471-2474-10-7
https://doi.org/10.1186/1471-2474-10-7...

Na literatura, descobrimos que os desfechos das FKI costumam ser variáveis; alguns autores relatam a ausência de resultados excelentes, e outros relatam até 53% de resultados excelentes (Tabela 6). Estes resultados variáveis podem ser causados por lesões neurovasculares associadas, fraturas abertas e padrões distintos de fratura.33 Kao FC, Tu YK, Hsu KY, Su JY, Yen CY, Chou MC. Floating knee injuries: a high complication rate. Orthopedics 2010;33(1):14 77 Oñorbe F, Ferrer-Santacreu EM, Rodríguez-Merchán EC. The floating knee: retrospective review of 15 cases treated over a 5-year period. Rev Esp Cir Ortop Traumatol 2008;52:283-9 1919 Rethnam U, Yesupalan RS, Nair R. Impact of associated injuries in the floating knee: a retrospective study. BMC Musculoskelet Disord 2009;10:7 Doi: 10.1186/1471-2474-10-7
https://doi.org/10.1186/1471-2474-10-7...
2222 Ríos A, Fahandezh-Saddi H,Martín-García A,Martínez-Gómiz JM, Villa A, Vaquero J. Rodilla flotante traumática. A propósito de 21 casos. Rev Ortop Traumatol (B Aires) 2003;47(5):311-6 2323 Ostrum RF. Treatment of floating knee injuries through a single percutaneous approach. Clin Orthop Relat Res 2000;(375):43-50 2424 Hegazy AM. Surgical management of ipsilateral fracture of the femur and tibia in adults (the floating knee): postoperative clinical, radiological, and functional outcomes. Clin Orthop Surg 2011;3(2):133-9 Em nosso estudo, os resultados foram excelentes em três (25%) pacientes, bons em cinco (41%) pacientes, moderados em três (25%) pacientes, e ruins em um (9%) paciente de acordo com os critérios modificados de Karlstrom, considerados comparáveis a outros estudos (Tabela 5).

Tabela 6
Comparação dos diferentes estudos quanto ao padrão de lesão e o resultado

As FKI são geralmente associadas a traumas em alta velocidade que podem causar lesões graves em tecidos moles, com alta incidência de fraturas abertas, de até 77%.44 Paul GR, Sawka MW, Whitelaw GP. Fractures of the ipsilateral femur and tibia: emphasis on intra-articular and soft tissue injury. J Orthop Trauma 1990;4(3):309-14 1515 Veith RG, Winquist RA, Hansen ST Jr. Ipsilateral fractures of the femur and tibia. A report of fifty-seven consecutive cases. J Bone Joint Surg Am 1984;66(7):991-1002 A incidência de infecções nestas lesões chegou a 21% (n =3). Em nossa série, observamos uma taxa de infecção de até 26%; esta incidência alta pode ser atribuída ao número elevado (75%) de fraturas abertas.

As lesões vasculares associadas à FKI foram relatadas na literatura em incidência de 7 a 29%.44 Paul GR, Sawka MW, Whitelaw GP. Fractures of the ipsilateral femur and tibia: emphasis on intra-articular and soft tissue injury. J Orthop Trauma 1990;4(3):309-14 55 Fraser RD, Hunter GA,Waddell JP. Ipsilateral fracture of the femur and tibia. J Bone Joint Surg Br 1978;60-B(4):510-5 Lesões neurológicas também foram associadas à FKI. Rios et al2222 Ríos A, Fahandezh-Saddi H,Martín-García A,Martínez-Gómiz JM, Villa A, Vaquero J. Rodilla flotante traumática. A propósito de 21 casos. Rev Ortop Traumatol (B Aires) 2003;47(5):311-6 e Oñorbe et al77 Oñorbe F, Ferrer-Santacreu EM, Rodríguez-Merchán EC. The floating knee: retrospective review of 15 cases treated over a 5-year period. Rev Esp Cir Ortop Traumatol 2008;52:283-9 relataram lesões neurológicas associadas à FKI em 5% e 27% de seus pacientes, respectivamente. Em nossa série, nenhum paciente apresentou quaisquer lesões vasculares ou neurológicas (Tabela 6).

As limitações do nosso estudo são sua natureza retrospectiva e o tamanho pequeno da amostra, principalmente quanto aos três tipos de fraturas, para avaliação de desfechos comparáveis.

Conclusão

Em resumo, a FKI é grave e está geralmente associada a outras lesões com risco de morte que devem ser cuidadosamente identificadas e tratadas de forma prioritária. A FKI normalmente requer tratamento multidisciplinar com suporte intensivo. O tratamento destas lesões deve ser individualizado com base no estado hemodinâmico do paciente, no padrão de fratura e na lesão associada em tecidos moles. De modo geral, as hastes intramedulares são melhores em fraturas diafisárias e a osteossíntese com placa é mais adequada em fraturas intra-articulares e metafisárias. A taxa de complicações continua alta em nosso estudo, na forma de união óssea tardia, rigidez do joelho e infecção.

Agradecimentos

Agradecemos aos residentes e colegas do Departamento de Ortopedia do P.D. Hinduja National Hospital e do Centro de Pesquisas Mumbai pelo auxílio no presente estudo. Nenhum benefício ou fundos foram recebidos para financiar o presente estudo.

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    Estudo conduzido em Department of Orthopedics, P.D. Hinduja National Hospital, Mumbai, Índia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2019

Histórico

  • Recebido
    24 Jul 2017
  • Aceito
    05 Set 2017
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