Acessibilidade / Reportar erro

Tratamento cirúrgico de fraturas osteoporóticas múltiplas da coluna dorsolombar: Relato de caso* * Trabalho desenvolvido no Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal.

Resumo

As fraturas vertebrais osteoporóticas são um tipo comum de fratura e afetam um número significativo da população com osteoporose. Apesar do elevado risco de fratura, a ocorrência concomitante de fraturas vertebrais em níveis não contíguos é muito rara. Reportamos o caso de uma paciente com três fraturas explosivas da coluna dorsolombar em níveis não contíguos, tratada com cifoplastia e fixação posterior transpedicular por via percutânea. Seis meses após a cirurgia, a paciente tem marcha autônoma, sem dor, e, radiologicamente, não existem evidências de perda de redução das fraturas.

Palavras-chave
osteoporose; fraturas ósseas; cifoplastia; fixação de interna de fraturas

Abstract

Osteoporotic vertebral fractures are a common type of fracture and affect a significant number of subjects with osteoporosis. Despite the high fracture risk, the concomitant occurrence of vertebral fractures at non-contiguous levels is very rare. We report the case of a patient with three burst dorsolumbar spine fractures at non-contiguous levels who was treated with percutaneous kyphoplasty and transpedicular posterior fixation. Six months after the surgery, the patient walks autonomously and without pain; in addition, there is no radiological evidence of fracture reduction loss.

Keywords
osteoporosis; fractures, bone; kyphoplasty; fracture fixation, internal

Introdução

As fraturas vertebrais em compressão do tipo A da classificação AO Spine são uma das consequências clínicas mais relevantes da osteoporose e cuja incidência tem aumentado na população mais idosa.11 Johnell O, Kanis JA. An estimate of the worldwide prevalence and disability associated with osteoporotic fractures. Osteoporos Int 2006;17(12):1726–1733 São potencialmente causadoras de dor crônica, com limitação funcional e impacto significativo nas atividades físicas, qualidade de vida e mortalidade. As fraturas podem ocorrer espontaneamente ou devido a um evento traumático, geralmente por mecanismo compressivo envolvendo o corpo vertebral e, mais frequentemente, envolvem o terço médio da coluna torácica e a região dorsolombar.

Embora a maioria destas fraturas sejam estáveis e possam ser tratadas conservadoramente através de repouso, analgesia e ortóteses imobilizadoras, existe um número considerável de fraturas, particularmente na transição dorsolombar que podem, progressivamente, causar perda da altura, aumentar a deformidade em cifose, ou outras, podendo até por rotura do muro posterior provocar compressão nervosa e déficits neurológicos, e justificar estabilização cirúrgica ad initium. Contudo, trabalhos publicados mostram elevadas taxas de complicações em pacientes com osteoporose submetidos a tratamento cirúrgico por cifoplastia, instrumentação posterior, entre outros, com fraturas vertebrais adjacentes e falência de material a afetarem cerca de um terço destes pacientes, em algumas séries.22 Goldstein CL, Brodke DS, Choma TJ. Surgical Management of Spinal Conditions in the Elderly Osteoporotic Spine. Neurosurgery 2015;77(Suppl 4):S98–S107

Descrição do caso

Reportamos o caso de uma paciente muito ativa, de 70 anos de idade, com osteoporose, do sexo feminino, que sofreu queda da própria altura no domicílio após lipotimia, apresentando de imediato dor na transição dorsolombar. Após 3 dias de dor intensa e persistente, apesar da medicação antiinflamatória e analgésica, recorreu ao hospital. Tinha dor à palpação das apófises espinhosas da transição dorsolombar, sem déficit de força muscular dos membros inferiores e reflexos osteotendinosos normais. Foram diagnosticadas fraturas do tipo A4, segundo a classificação AO Spine, dos corpos vertebrais de D9, D12 e L2, em contexto de osso osteoporótico (►Figura 1), numa paciente que não tinha patologia associada nem tomava cronicamente medicação predisponente à osteoporose. As fraturas apresentavam sinal de esmagamento importante das trabéculas ósseas intrassomáticas.

Fig. 1
Planos coronal (A), sagital (B) e axial (C) de tomografias computadorizadas com fraturas explosivas de D9, D12 e L2 numa paciente do sexo feminino, de 70 anos de idade, que condicionam retropulsão ligeira dos muros posteriores.

A paciente foi submetida ao tratamento cirúrgico 4 dias após admissão hospitalar (►Figura 2). Foram efetuadas cifoplastias em D9, D12 e L2 com aplicação de stents intrassomáticos por acesso percutâneo transpedicular e preenchimento com polimetilmetacrilato (PMMA) de alta viscosidade. Por incapacidade do corpo vertebral de D9 incluir 2 stents, mesmo do tamanho mais reduzido (small), optou-se pela aplicação de um stent único neste nível e preenchimento com cimento. Realizou-se uma fixação posterior transpedicular percutânea das vértebras D7-D8-D10-D11-L1-L3 com aplicação de barras moldadas de acordo com a anatomia da paciente, em cifose torácica e lordose lombar (sistema VIPER, DePuy/Synthes, Warsaw, IN, EUA) (►Figura 3).

Fig. 2
Aplicação da instrumentação posterior por via percutânea para fixação transpedicular D7, D8, D10, D11, L1 e L3 após realização das cifoplastias em D9, D12 e L2 (A).
Fig. 3
Radiografia pós-operatória da fixação posterior transpedicular D7, D8, D10, D11, L1 e L3, após restauração da altura das vértebras fraturadas D9, D12 e L2 por cifoplastia.

A paciente conseguiu se levantar no primeiro dia do pós-operatório e, posteriormente, caminhou com dorsolombostato. Às 6 semanas de pós-operatório, a marcha era autônoma, apenas com dor residual. Iniciou tratamento antiosteoporótico com denosumab, e aos 6 meses de pós-operatório deambula autonomamente, sem queixas álgicas ou perda de redução das fraturas, e com evolução cicatricial favorável (►Figura 4).

Fig. 4
Controle radiológico 6 meses após a cirurgia.

  • *
    Trabalho desenvolvido no Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal.

References

  • 1
    Johnell O, Kanis JA. An estimate of the worldwide prevalence and disability associated with osteoporotic fractures. Osteoporos Int 2006;17(12):1726–1733
  • 2
    Goldstein CL, Brodke DS, Choma TJ. Surgical Management of Spinal Conditions in the Elderly Osteoporotic Spine. Neurosurgery 2015;77(Suppl 4):S98–S107
  • 3
    Frankel BM, Monroe T,Wang C. Percutaneous vertebral augmentation: an elevation in adjacent-level fracture risk in kyphoplasty as compared with vertebroplasty. Spine J 2007;7(05): 575–582
  • 4
    Papanastassiou ID, Phillips FM, Van Meirhaeghe J, et al. Comparing effects of kyphoplasty, vertebroplasty, and non-surgical management in a systematic review of randomized and nonrandomized controlled studies. Eur Spine J 2012;21(09): 1826–1843
  • 5
    Komemushi A, Tanigawa N, Kariya S, et al. Percutaneous vertebroplasty for osteoporotic compression fracture: multivariate study of predictors of new vertebral body fracture. Cardiovasc Intervent Radiol 2006;29(04):580–585
  • 6
    Paxinos O, Tsitsopoulos PP, Zindrick MR, et al. Evaluation of pullout strength and failure mechanism of posterior instrumentation in normal and osteopenic thoracic vertebrae. J Neurosurg Spine 2010;13(04):469–476
  • 7
    DeWald CJ, Stanley T. Instrumentation-related complications of multilevel fusions for adult spinal deformity patients over age 65: surgical considerations and treatment options in patients with poor bone quality. Spine (Phila Pa 1976) 2006;31(19 suppl): S144–S151
  • 8
    Norton RP, Milne EL, KaimrajhDN, Eismont FJ, Latta LL, WilliamsSK. Biomechanical analysis of four- versus six-screw constructs for short-segment pedicle screw and rod instrumentation of unstable thoracolumbar fractures. Spine J 2014;14(08):1734–1739
  • 9
    Knop C, Fabian HF, Bastian L, Blauth M. Late results of thoracolumbar fractures after posterior instrumentation and transpedicular bone grafting. Spine 2001;26(01):88–99
  • 10
    Zhang J, LiuH, LiuH, et al. Intermediatescrewsorkyphoplasty:Which methodof posterior short-segmentfixationisbetter for treatingsinglelevel thoracolumbar burst fractures? Eur Spine J 2019;28(03):502–510

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Mar-Apr 2021

Histórico

  • Recebido
    25 Maio 2020
  • Aceito
    17 Set 2020
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbo@sbot.org.br