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Resultado do tratamento cirúrgico de fraturas acetabulares desviadas: estudo prospectivo Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia, Sharda University, Greater Noida, Índia.

RESUMO

Objetivo:

Avaliar o resultado funcional das fraturas acetabulares tratadas cirurgicamente.

Métodos:

Um estudo longitudinal prospectivo foi feito neste hospital entre dezembro de 2010 e dezembro de 2014. Foram incluídos 46 pacientes com diagnóstico de fratura acetabular. A principal causa da lesão acetabular foi acidente de trânsito. Todos os pacientes foram tratados cirurgicamente com placas e parafusos. O resultado foi avaliado radiologicamente e funcionalmente pela escala de avaliação do quadril (Harris Hip Score). O período médio de seguimento dos pacientes no pós-operatório foi de 30 meses (24-36).

Resultados:

Os resultados foram excelentes em 60,86%, bons em 21,73%, razoáveis em 8,69% e ruins em 8,69% dos casos. Complicações pós-operatórias da fratura acetabular, tais como ossificação heterotópica, foram encontradas em 2,17% dos casos; osteoartrite, em 6,52%; infecções da pele, em 4,34%; lesões nervosas, em 2,17% e necrose vascular, em 4,34% dos pacientes. Mais de 80% dos pacientes estavam satisfeitos com os resultados da cirurgia.

Conclusão:

Os presentes resultados indicam que a fixação interna das fraturas acetabulares conduz a um bom resultado na maioria dos pacientes.

Palavras-chave:
Acetábulo; Artroplastia, substituição, quadril; Fraturas, osso; Articulação do quadril

ABSTRACT

Objective:

The aim of this study was to evaluate the functional outcome of surgically treated acetabular fractures.

Methods:

A prospective longitudinal study was undertaken in this hospital during the period from December 2010 to December 2014. A total number of 46 patients with the diagnosis of acetabular fracture were included in the study. The main cause of the acetabular injury was a road traffic accident. All the patients were treated surgically with plates and screws. Outcome was assessed radiologically and functionally, employing the Harris Hip Score. The mean follow-up period of the patients in the postoperative period was 30 months (24-36 months).

Results:

The results were excellent in 60.86%, good in 21.73%, fair in 8.69%, and poor in 8.69%. Post-operative complications of acetabular fracture such as heterotopic ossification were found in 2.17%, osteoarthritis in 6.52%, skin infections in 4.34%, nerve lesions in 2.17%, and vascular necrosis in 4.34% of patients. More than 80% of patients were satisfied with the results of acetabular surgeries.

Conclusion:

These results show that internal fixation of acetabular fractures leads to a good outcome in the majority of patients.

Keywords:
Acetabulum; Arthroplasty, replacement, hip; Fractures, bone; Hip joint

Introdução

As fraturas acetabulares estão entre as lesões mais graves tratadas pelos cirurgiões ortopédicos. Infelizmente, pacientes com fratura da pelve e/ou acetábulo quase sempre também apresentam lesões graves nos tecidos moles (pele e músculos) e estruturas neurovasculares adjacentes (nervos, artérias e veias).11 Kandasamy MS, Duraisamy M, Ganeshsankar K, Kurup VG, Radhakrishnan S. Acetabular fractures: an analysis on clinical outcomes of surgical treatment. Int J Res Orthop. 2017;3(1):122-6. Em pacientes mais jovens, o trauma de alta energia é a principal causa, está geralmente associada a outras fraturas. Em pacientes acima de 35 anos, as fraturas ocorrem com trauma mínimo devido à osteoporose.11 Kandasamy MS, Duraisamy M, Ganeshsankar K, Kurup VG, Radhakrishnan S. Acetabular fractures: an analysis on clinical outcomes of surgical treatment. Int J Res Orthop. 2017;3(1):122-6.

A maioria das fraturas do acetábulo está associada a fraturas de membros inferiores causadas por quedas, especialmente em indivíduos mais velhos.11 Kandasamy MS, Duraisamy M, Ganeshsankar K, Kurup VG, Radhakrishnan S. Acetabular fractures: an analysis on clinical outcomes of surgical treatment. Int J Res Orthop. 2017;3(1):122-6.,22 Munde SL, Bhatti MJ, Siwach RC, Gulia A, Kundu ZS, Bansal S, et al. Double tension band osteosynthesis in inter-condylar humeral fractures. J Clin Diagn Res. 2015;9(12):RC08-11. As fraturas da parede posterior correspondem a 24% das fraturas do acetábulo.33 Hussain KS, Kancherla NR, Kanugula SK, Patnala C. Analysis of displaced acetabular fractures in adults treated with open reduction and internal fixation. Int J Res Orthop. 2016;2(3):99-103. As fraturas acetabulares geralmente ocorrem em conjunto com outras fraturas, o que limita as opções de manejo, a abordagem cirúrgica e os desfechos clínicos.44 Schreiner AJ, de Zwart PM, Stuby FM, Ochs BG. Frakturendoprothetik des Azetabulums. Open J. 2016;32(3):196-205. Outros fatores podem influenciar as opções de tratamento, tais como a idade do paciente, a estabilidade da fratura, a presença de osteoporose e comorbidades e a experiência do cirurgião. As opções de tratamento incluem métodos conservadores (tração esquelética, suporte parcial de peso), fixação percutânea e artroplastia total do quadril.11 Kandasamy MS, Duraisamy M, Ganeshsankar K, Kurup VG, Radhakrishnan S. Acetabular fractures: an analysis on clinical outcomes of surgical treatment. Int J Res Orthop. 2017;3(1):122-6.,22 Munde SL, Bhatti MJ, Siwach RC, Gulia A, Kundu ZS, Bansal S, et al. Double tension band osteosynthesis in inter-condylar humeral fractures. J Clin Diagn Res. 2015;9(12):RC08-11. A fixação cirúrgica é o principal tratamento.11 Kandasamy MS, Duraisamy M, Ganeshsankar K, Kurup VG, Radhakrishnan S. Acetabular fractures: an analysis on clinical outcomes of surgical treatment. Int J Res Orthop. 2017;3(1):122-6.,22 Munde SL, Bhatti MJ, Siwach RC, Gulia A, Kundu ZS, Bansal S, et al. Double tension band osteosynthesis in inter-condylar humeral fractures. J Clin Diagn Res. 2015;9(12):RC08-11. Algumas abordagens cirúrgicas são usadas: ilioinguinal, de Kocher-Langenbeck, iliofemoral estendida e trirradiadas ou uma combinação entre delas.11 Kandasamy MS, Duraisamy M, Ganeshsankar K, Kurup VG, Radhakrishnan S. Acetabular fractures: an analysis on clinical outcomes of surgical treatment. Int J Res Orthop. 2017;3(1):122-6.,44 Schreiner AJ, de Zwart PM, Stuby FM, Ochs BG. Frakturendoprothetik des Azetabulums. Open J. 2016;32(3):196-205.

O objetivo deste estudo foi avaliar o resultado funcional de fraturas acetabulares tratadas cirurgicamente.

Método

Este estudo prospectivo foi conduzido no departamento de ortopedia de dezembro de 2010 a dezembro de 2014. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição. Foram incluídos 46 pacientes (30 homens e 16 mulheres) com fratura de acetábulo admitidos nessa instituição. Trinta pacientes (65,21%) eram do sexo masculino e 16 (34,78%) do feminino (tabela 1). Foram observados 28 casos de fratura acetabular no lado direito e 18 no esquerdo. A idade média dos pacientes foi de 44 anos (variação de 20 a 80). Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A presença de complicações foi discutida com os pacientes, que foram tratados com redução aberta e fixação interna com placa de reconstrução e parafusos sob anestesia geral. Todos os pacientes foram acompanhados por 30 meses.

Tabela 1
Idade e sexo dos pacientes (n = 46)

Critérios de inclusão

  1. Idade acima de 20 anos e abaixo de 80 anos

  2. Fraturas fechadas

  3. Fraturas da parede posterior

  4. Fraturas da coluna posterior

  5. Fraturas da coluna anterior

  6. Fraturas transversais

  7. Fraturas de ambas as colunas

Critérios de exclusão

  1. Fraturas simples

  2. Fraturas expostas

  3. Fratura com mais de três semanas.

Após a estabilização hemodinâmica dos pacientes, foram feitos um exame clínico detalhado e avaliação radiológica. Os pacientes foram mantidos em tração esquelética tibial superior com pino. Os pacientes foram operados entre três e sete dias após a fratura, com base nos princípios da ortopedia de controle de danos. Os perfis demográficos foram registrados. As radiografias (incidências AP pélvica e de Judet) e tomografia computadorizada com reconstrução 3 D foram feitas de acordo com os achados clínicos. As fraturas foram avaliadas segundo a classificação de Judet-Letournel.55 Judet R, Judet J, Letournel E. Fractures of the acetabulum: classification and surgical approaches for open reduction. Preliminary report. J Bone Joint Surg Am. 1964;46:1615-46. Observou-se luxação traumática do quadril em 28 pacientes e luxação central em quatro. A redução fechada foi feita em pacientes com luxação posterior no pronto-socorro. Subsequentemente, foi aplicada tração esquelética até a cirurgia, com um pino de Steinman que passou pela área supracondilar do fêmur. Em um paciente com luxação central, a redução foi feita sob anestesia geral, aplicou-se tração esquelética até a operação. A abordagem cirúrgica foi escolhida de acordo com o tipo de fratura. A incisão ilioinguinal foi usada em 12 pacientes, a incisão iliofemoral em dois e a abordagem de Kocher-Langenbeck em 32. A incisão ilioinguinal foi preferida nas fraturas da coluna anterior, fraturas das duas colunas e fraturas hemitransversas posterior + anterior. O método indireto foi usado para reduzir a coluna posterior em casos de fraturas de duas colunas. A abordagem de Kocher-Langenbeck foi usada em fraturas da parede posterior, parede posterior + coluna posterior, transversais selecionadas, transversais em T e fraturas da coluna transversal + posterior. A incisão trirradiada não foi necessária. A incisão iliofemoral foi adotada em duas fraturas transversas. A fixação interna rígida foi feita com placas + parafusos em 42 pacientes e em quatro apenas com parafusos. A presença de corpos livres intra-articulares e o posicionamento de parafusos na articulação foram avaliados por inspeção direta, palpação e fluoroscopia intraoperatória com braço em C. O posicionamento e a qualidade da fixação interna foram avaliados com radiografias pós-operatórias em incidências anteroposterior e de Judet. Um intervalo de até 1 mm foi considerado como redução anatômica, entre 1 e 3 mm como bem-sucedida; intervalos superiores a 3 mm foram considerados como redução fraca. A tração esquelética foi aplicada em dois pacientes durante as duas primeiras semanas pós-operatórias. Os demais pacientes foram orientados por um fisioterapeuta durante os exercícios passivos de amplitude de movimento. Os pacientes foram instruídos a andar com muletas ou andadores sem carga no lado operado; a carga autorizada foi aumentada gradualmente após a sexta semana. A heparina de baixo peso molecular foi usada no pré- e no pós-operatório como profilaxia de rotina contra trombose venosa profunda e foi mantida até a sexta semana pós-operatória. Não foi feita profilaxia para ossificação heterotópica. O exame clínico e a avaliação radiológica foram feitos e os dados foram registrados na admissão, no primeiro pós-operatório e após duas semanas, seis semanas, três meses, seis meses, 12 meses, 18 meses, 24 meses e 30 meses de pós-operatório. Mais tarde, esses foram continuados em intervalos de dois anos em pacientes sem complicações e em intervalos de seis meses em pacientes com complicações tardias, inclusive osteoartrite e similares. O tempo médio de seguimento dos pacientes no período pós-operatório foi de 30 meses (24 a 36). Os critérios de Harris66 Harris WH. Traumatic arthritis of the hip after dislocation and acetabular fractures: treatment by mold arthroplasty. An end-result study using a new method of result evaluation. J Bone Joint Surg Am. 1969;51(4):737-55. e Ruesch et al.77 Ruesch PD, Holdener H, Ciaramitaro M, Mast JW. A prospective study of surgically treated acetabular fractures. Clin Orthop Relat Res. 1994;(305):38-46. foram usados para as avaliações clínicas e radiológicas.

Resultados

O estudo incluiu 46 pacientes, 65,21% (30/46) do sexo masculino e 34,78% (16/46) do feminino. As fraturas acetabulares acometeram o lado direito em 60,86% (28/46) dos pacientes e o lado esquerdo em 39,13% (18/46). Por comodidade, os pacientes foram divididos em três grupos de acordo com a idade. A faixa etária jovem incluiu os pacientes entre 20 e 40 anos. Nesse grupo, 4,34% (2/46) dos pacientes eram do sexo feminino e 8,69% (4/46) do masculino. A faixa etária média incluiu pacientes entre 41 e 60 anos. Nesse grupo, 8,69% (4/46) dos pacientes eram do sexo feminino e 17,39% (8/46) do masculino. A faixa etária idosa incluiu pacientes com mais de 60 anos. Nesse grupo, 21,73% (10/46) dos pacientes eram do sexo feminino e 39,13% do masculino (tabela 1). Em 30 (65,21%) pacientes, o modo de lesão foi acidente de trânsito e em 16 (34,78%), queda de altura. Com base na configuração da fratura, fraturas da parede posterior e da coluna posterior foram observadas em 73,91% dos pacientes; fraturas da coluna anterior, em 13,04%; transversas, em 8,69% e fraturas de ambas as colunas, em 8,69% (tabela 2). A tabela 3 apresenta os tipos de fraturas acetabulares tratadas neste estudo. Vinte e oito pacientes tiveram luxação e fratura da parede posterior e quatro luxação central. O tempo médio até a cirurgia foi de 4,15 dias. O tempo médio de internação pós-operatória foi de 3,60 dias. Com base na configuração da fratura e de acordo com as recomendações de Letournel e Judet, diferentes abordagens foram usadas: Kocher-Langenbeck em 32 (69,56%) pacientes, ilioinguinal em 12 (26,08%) e iliofemoral em dois (4,34%). A redução anatômica foi obtida em 42 (91,30%) pacientes que obtiveram redução anatômica; em quatro (8,69%), a redução foi inadequada. Tais reduções inadequadas foram observadas em uma fratura da parede posterior, uma fratura da coluna posterior e em duas fraturas em ambas as colunas. A fixação interna rígida foi feita com placas + parafusos em 42 (91,3%) pacientes e em quatro (8,69%) apenas com parafusos. O tempo médio de seguimento dos pacientes no período pós-operatório foi de 30 meses (24 a 36). As avaliações clínicas e radiológicas foram feitas com os critérios de Harris66 Harris WH. Traumatic arthritis of the hip after dislocation and acetabular fractures: treatment by mold arthroplasty. An end-result study using a new method of result evaluation. J Bone Joint Surg Am. 1969;51(4):737-55. e Ruesch et al.,77 Ruesch PD, Holdener H, Ciaramitaro M, Mast JW. A prospective study of surgically treated acetabular fractures. Clin Orthop Relat Res. 1994;(305):38-46. foram pontuadas de 0 a 100. A amplitude de movimento, os níveis de dor e os resultados funcionais foram avaliados e apresentados na tabela 4. Em relação ao grau de satisfação dos pacientes, observou-se que 60,86% estavam muito satisfeitos, 30,43% satisfeitos e 8,69% insatisfeitos, mas ainda assim se submeteriam novamente à cirurgia. A duração média da operação foi de três horas, variou entre duas e cinco. Entre as complicação pós-operatórias, observou-se ossificação heterotópica em um paciente (2,17%), osteoartrite em três (6,52%), infecção cutânea em dois (4,34%) lesão nervosa em um (2,17%) e necrose vascular em dois (4,34%; tabela 5). Os resultados foram considerados excelentes em 60,86% (28/46) pacientes, bons em 21,73% (10/46), razoáveis em quatro (8,69%) e ruins em 8,69% (4/46) (tabela 4; figs. 1-4).

Tabela 2
Frequência dos tipos de fratura entre os pacientes do estudo (n = 46)
Tabela 3
Fraturas associadas em pacientes do estudo (n = 46)
Tabela 4
Avaliação dos escores dos pacientes de acordo com os critérios de Harris (n = 46)
Tabela 5
Complicações pós-operatórias das fraturas do acetábulo (n = 46)

Figura 1
(A) Radiografia pré-operatória em incidência anteroposterior da pelve com ambos os quadris mostra fratura da coluna/parede posterior do acetábulo esquerdo. (B) Radiografia pós-operatória em incidência anteroposterior do quadril esquerdo mostra a fixação da fratura do acetábulo com placa de reconstrução.

Figura 2
(A) Radiografia pré-operatória em incidência anteroposterior da pelve com ambos os quadris mostra fratura hemitransversa posterior e anterior do acetábulo direito. (B) Radiografia pós-operatória em incidência anteroposterior do quadril direito mostra a fixação da fratura do acetábulo com placa de reconstrução.

Figura 3
(A) Radiografia pré-operatória em incidência anteroposterior da pelve com ambos os quadris mostra fratura da coluna/parede anterior do acetábulo direito. (B) Radiografia pós-operatória em incidência anteroposterior do quadril direito mostra a fixação da fratura do acetábulo com placa de reconstrução.

Figura 4
(A) Radiografia pré-operatória em incidência anteroposterior da pelve com ambos os quadris mostra fratura da coluna posterior do acetábulo esquerdo. (B) Radiografia pós-operatória em incidência anteroposterior do quadril esquerdo mostra a fixação da fratura do acetábulo com placa de reconstrução.

Discussão

O tratamento cirúrgico das fraturas acetabulares é desafiador, pois requerer maior habilidade do cirurgião. São lesões mais complexas em comparação com aquelas em outras partes do corpo.88 Iqbal F, Taufiq I, Najjad MK, Khan N, Zia OB. Fucntional and radiological outcome of surgical management of acetabular fractures in tertiary care hospital. Hip Pelvis. 2016;28(4):217-24. A maioria das fraturas acetabulares é tratada cirurgicamente. Como as fraturas acetabulares danificam a superfície da cartilagem do osso, um importante objetivo da cirurgia é restaurar a superfície lisa e deslizante do quadril. O resultado da fixação depende de muitas variáveis, como o grau de energia da lesão, padrão radiográfico da fratura, conhecimento do cirurgião sobre a anatomia pélvica, tempo de redução aberta e fixação interna (RAFI) e a escolha apropriada da abordagem cirúrgica.99 Anizar-Faizi A, Hisam A, Sudhagar KP, Moganadass M, Suresh C. Outcome of surgical treatment for displaced acetabular fractures. Malays Orthop J. 2014;8(3):1-6.,1010 Qadir RI, Bukhari SI. Outcome of operative treatment of acetabular fractures: short term follow-up. J Ayub Med Coll Abbottabad. 2015;27(2):287-91. Devido à complexa anatomia do acetábulo, vários esquemas de classificação têm sido sugeridos, mas o de Judet-Letournel ainda é o mais amplamente aceito.1111 Peter RE. Open reduction and internal fixation of osteoporotic acetabular fractures through the ilio-inguinal approach: use of buttress plates to control medial displacement of the quadrilateral surface. Injury. 2015;46(Suppl. 1):S2-7.A principal causa da lesão acetabular é acidente de trânsito. Em 65,21% dos pacientes com fratura acetabular, o mecanismo de trauma foi acidente de trânsito e em 34,78%, queda de altura. As lesões acetabulares ocorrem com maior frequência em pacientes jovens e consideravelmente mais frequentemente naqueles do sexo masculino. Giannoudis et al.1212 Giannoudis PV, Grotz MR, Papakostidis C, Dinopoulos H. Operative treatment of displaced fractures of the acetabulum. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Br. 2005;87(1):2-9. afirmaram que a idade média dos pacientes é de 38,6 ± 4,6 anos e que 69,4% dos pacientes são do sexo masculino. A idade média dos pacientes do presente estudo foi de 44 anos, 65,21% do sexo masculino. A maioria dos autores usa a classificação de fraturas acetabulares de Judet e Letournel em suas publicações. Giannoudis et al.1212 Giannoudis PV, Grotz MR, Papakostidis C, Dinopoulos H. Operative treatment of displaced fractures of the acetabulum. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Br. 2005;87(1):2-9. afirmam que as fraturas da parede posterior do acetábulo são as mais comuns, são observadas em 23,6% dos casos, com base em uma metanálise de 34 publicações que incluiu 3.670 pacientes. No presente estudo, 43,47% das fraturas foram na parede posterior do acetábulo. A cirurgia deve ser feita na primeira semana após a lesão (entre quatro e seis dias). Segundo Giannoudis et al.,1212 Giannoudis PV, Grotz MR, Papakostidis C, Dinopoulos H. Operative treatment of displaced fractures of the acetabulum. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Br. 2005;87(1):2-9. em 14 publicações (1.496 pacientes), o tempo médio de cirurgia foi de 8,9 ± 2,9 dias. Todos os pacientes do presente estudo foram operados entre três e sete dias após a lesão (4,15 dias em média). O procedimento padrão da avaliação pré-operatória do paciente inclui um exame clínico e radiografias (incidência anteroposterior pélvica e de Judet) e tomografia computadorizada com reconstrução em 3 D. A abordagem de Kocher-Langenbeck foi a mais comumente usada, em 48,7% dos casos; a abordagem ilioinguinal foi usada em 21,9% e a iliofemoral, em 12,4%. Em 17% dos pacientes, outras abordagens cirúrgicas foram usadas, inclusive as abordagens direta lateral, trirradiada, extensiva e combinada.1212 Giannoudis PV, Grotz MR, Papakostidis C, Dinopoulos H. Operative treatment of displaced fractures of the acetabulum. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Br. 2005;87(1):2-9. No presente estudo, 69,56% dos pacientes foram operados com a abordagem de Kocher-Langenbeck. As complicações após a lesão acetabular incluem osteoartrite, necrose avascular, não consolidação e encurtamento da extremidade afetada, o que pode exigir mais procedimentos reconstrutivos.1212 Giannoudis PV, Grotz MR, Papakostidis C, Dinopoulos H. Operative treatment of displaced fractures of the acetabulum. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Br. 2005;87(1):2-9. O objetivo da cirurgia é alcançar um quadril funcional e indolor que continuaria funcional pelo resto da vida do paciente. Isso nem sempre é possível, pois o trauma de alta energia pode inviabilizar a cartilagem articular. Mesmo que a cartilagem articular permaneça viável após o trauma, a alteração da distribuição de pressão sobre a cabeça do fêmur que se articula com uma fratura acetabular impropriamente reduzida poderá causar osteoartrite. Giannoudis et al.1212 Giannoudis PV, Grotz MR, Papakostidis C, Dinopoulos H. Operative treatment of displaced fractures of the acetabulum. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Br. 2005;87(1):2-9. conduziram uma metanálise de 2005 e observaram que, após uma redução adequada, a incidência de osteoartrite foi de cerca de 10%, que aumentou para > 30% dentre os casos nos quais a redução precisa não foi alcançada. O tempo de seguimento é crítico; em acompanhamentos mais longos, a probabilidade de desenvolvimento de artrite, mesmo em fraturas perfeitamente reduzidas, é maior. No presente estudo, mais de 80% dos pacientes apresentaram resultados radiográficos bons a excelentes na última consulta de acompanhamento. Esses resultados se comparam favoravelmente a outros resultados publicados (tabela 6).77 Ruesch PD, Holdener H, Ciaramitaro M, Mast JW. A prospective study of surgically treated acetabular fractures. Clin Orthop Relat Res. 1994;(305):38-46.,1010 Qadir RI, Bukhari SI. Outcome of operative treatment of acetabular fractures: short term follow-up. J Ayub Med Coll Abbottabad. 2015;27(2):287-91.,1313 Briffa N, Pearce R, Hill AM, Bircher M. Outcomes of acetabular fracture fixation with ten years’ follow-up. J Bone Joint Surg Br. 2011;93(2):229-36.

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Tabela 6
Comparação dos resultados

Conclusão

Em fraturas acetabulares, a redução anatômica aberta precoce e a fixação interna rígida com placas de reconstrução apresentam resultados bons a excelentes, mesmo em cirurgias tardias e em pacientes idosos com osteoporose. As chances de necrose avascular e osteoartrite do quadril são minimizadas.

  • Trabalho desenvolvido no Departamento de Ortopedia, Sharda University, Greater Noida, Índia.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2018

Histórico

  • Recebido
    3 Jun 2017
  • Aceito
    3 Jul 2017
  • Publicado
    29 Dez 2017
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