Open-access O grupo de relacionamentos afetivo-sexuais seguros para portadores de transtorno mental grave

The safe sexual-affective relationship group for individuals with severe mental disorders

CARTAS AOS EDITORES

O grupo de relacionamentos afetivo-sexuais seguros para portadores de transtorno mental grave

The safe sexual-affective relationship group for individuals with severe mental disorders

Marco de Tubino ScanavinoI, II; Edna Teresinha BenattiI, II; Renato Del SantI

IHospital Dia Adulto do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP

IIPrograma de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP

Caro Editor,

Portadores de transtorno mental grave (PTMG) são particularmente vulneráveis à epidemia do HIV/AIDS. A prevalência de infecção pelo HIV nestes sujeitos varia entre 3,1% e 22,9% nos Estados Unidos1. A Pesquisa em Soroprevalência de Aids na Saúde Mental (PESSOAS) investigou uma amostra de 2.238 adultos com transtorno mental em 26 instituições brasileiras. Durante os seis meses anteriores à pesquisa, 61,4% eram sexualmente ativos, mas apenas 16% usaram preservativo2, enquanto 90% dos brasileiros são sexualmente ativos e 59% usam preservativos regularmente. No PESSOAS, a soroprevalência do HIV foi de 0,80%2, mais alta que a da população geral (0,65%)3. O Interdisciplinary Project on Sexuality, Mental Health, and AIDS (PRISSMA) com PTMG no Rio de Janeiro revelou que 42% praticaram sexo anal ou vaginal nos três meses anteriores ao levantamento, e apenas 22% dos sexualmente ativos usaram sempre preservativos3.

Disfunções sexuais também são altamente prevalentes em PTMG, afetando entre 30% e 80% das mulheres e 45% e 80% dos homens com esquizofrenia tratada ou não4, enquanto na população geral estas disfunções acometem 48,1% das brasileiras e 50,9% dos brasileiros. Poucos programas enfocam a prevenção de comportamentos sexuais de risco e a abordagem de disfunções sexuais em PTMG5, e mais escassos são os que utilizam avaliações pré e pós intervenção5. Objetivou-se avaliar, por meio de um grupo piloto, as problemáticas afetivo-sexuais mais prevalentes entre PTMG de um serviço para nortear intervenções de pesquisa e terapêuticas.

O Hospital Dia Adulto (HDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é um serviço de assistência 100% voltada para a reabilitação psicossocial em grupos de PTMG. Trinta pacientes freqüentam o HDA de segunda a sexta-feira, das 8 às 16 horas. O Grupo de Relacionamentos Afetivo-Sexuais Seguros ingressou na grade de atividades do HDA em maio de 2009.

A análise do conteúdo de 27 sessões do grupo piloto embasou o desenho atual do programa, composto por avaliações pré e pós intervenção e por duas intervenções: psicoeducacional e terapêutica (Tabela 1).

O programa inicia-se por entrevistas individuais dos PTMG por psicóloga especialista em sexualidade (três encontros), quando preenchem: protocolo sobre relacionamentos afetivos (parceiros, amigos, família), sexuais (freqüência, práticas, disfunções), comportamento sexual de risco (sexo anal, oral, vaginal, com ou sem preservativos, número de parceiros estáveis e ocasionais), protocolo sobre conhecimento em sexualidade (anatomia, resposta sexual, ciclo menstrual, anticoncepção), saúde sexual (DST/AIDS) e sexo seguro (prevenção).

Posteriormente, os pacientes são submetidos à intervenção grupal psicoeducacional, desenvolvida em 7 sessões semanais de 60 minutos, visando ampliar conhecimentos acerca da saúde sexual e sexo seguro (vide temas na Tabela 1). Após isso, respondem novamente ao protocolo sobre conhecimentos. Na sequência, os pacientes iniciam a intervenção grupal terapêutica, desenvolvida em 20 sessões semanais de 60 minutos, visando melhorar relacionamentos e disfunções sexuais (vide temas na Tabela 1). Finalmente, respondem novamente ao protocolo sobre relacionamentos e comportamento sexual de risco.

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Referências bibliográficas

  • 1. Pinto D de S, Mann CG, Wainberg M, Mattos P, Oliveira SB. Sexuality, vulnerability to HIV, and mental health: an ethnographic study of psychiatric institutions. Cad Saude Publica. 2007;23(9):2224-33.
  • 2. Guimarães MD, Campos LN, Melo AP, Carmo RA, Machado CJ, Acurcio Fde A; PESSOAS Project Network Group. Prevalence of HIV, syphilis, hepatitis B and C among adults with mental illness: a multicenter study in Brazil. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(1):43-7.
  • 3.Wainberg ML, McKinnon K, Elkington KS, Mattos PE, Gruber Mann C, De Souza Pinto D, Otto-Salaj L, Cournos F; Investigators of PRISSMA. HIV risk behaviors among outpatients with severe mental illness in Rio de Janeiro, Brazil. World Psychiatry. 2008;7(3):166-72.
  • 4. Baggaley M. Sexual dysfunction in schizophrenia: focus on recent evidence . Hum Psychopharmacol. 2008;23(3):201-9.
  • 5. Higgins A, Barker P, Begley CM. Sexual health education for people with mental health problems. What can we learn from literature? J Psychiatr Ment Health Nurs. 2006;13(6):687-97.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Set 2011
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