OBJETIVO: O conhecimento das motivações e barreiras para que um dependente de substâncias psicoativas chegue a tratamento tem importantes implicações clínicas e para a saúde pública. O objetivo do trabalho é formular hipóteses sobre variáveis psicológicas e sociofamiliares configuráveis como motivações e barreiras subjetivaspara a procura mais precoce por tratamento formal pela população de dependentes de substâncias psicoativas. MÉTODOS: Pesquisa qualitativa exploratória sobre amostra heterogênea (quanto a variáveis clínicas e sociodemográficas) e intencional (fechada por saturação e variedade de tipos) de 13 dependentes de substâncias psicoativas que procuraram tratamento. Entrevistas semidirigidas com questões abertas e análise qualitativa de conteúdo da transcrição, com formulação de categorias de motivações e barreiras para tratamento formal. RESULTADOS: Dentre as barreiras ao tratamento, foram identificados quatro tipos de medidas espontâneas de redução de danos, de acordo com a lógica subjetiva dos entrevistados: descansos do uso (períodos de tempo sem uso para recuperação de efeitos indesejáveis); cuidados de pessoas próximas (parentes, colegas, comerciantes/traficantes das substâncias); eleição de boas procedências, variedades de substâncias e vias de administração; estabelecimento de cotas de uso de substâncias que não fariam mal. CONCLUSÕES: As medidas identificadas podem representar barreiras à procura precoce de tratamento e também significar treinamento espontâneo de habilidades benéficas a um futuro tratamento; os clínicos devem considerá-las, abordando-as e discutindo-as nos atendimentos clínicos; tópicos representativos das categorias formuladas devem constar dos questionários estruturados sobre a freqüência das diferentes barreiras ao tratamento nesta população.
Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Alcoolismo; Aceitação pelo paciente de cuidados de saúde; Cuidados médicos; Entrevista psicológica; Pesquisa qualitativa; Redução do dano