Resumo em Português:
O presente artigo revisa os achados recentes sobre os preditores de conversão para psicose entre jovens considerados de ultra alto risco (UAR) com base na presença de sintomas de intensidade sub-psicótica e risco genético para psicose e declínio recente no funcionamento mental. Apesar das taxas de transição serem diferentes entre os estudos, os estudos de mais peso encontraram taxas de conversão para psicose entre 30% e 40% em pacientes acompanhados por dois a três anos. Entre os estudos, gravidade de sintomas positivos sub-clínicos, pior relacionamento social e risco genético para esquizofrenia parecem ser preditores consistentes de conversão para psicose, com algoritmos combinando esses indicadores alcançando poder preditivo positivo > 80%. Ainda assim, uma fração substancial de casos em UAR não converte para psicose. Trabalhos recentes indicam que casos em UAR que apresentam níveis mais baixos de sintomas negativos e níveis mais altos de bom relacionamento social apresentam maior probabilidade de recuperação dos sintomas e de não mais preencher os critérios para estado mental de risco. Em geral, parece que 1/3 dos casos de UAR convertem para psicose, cerca de 1/3 não convertem, mas se mantém sintomáticos e com comprometimento funcional, e cerca de 1/3 apresentam recuperação sintomática e funcional. Esforços contínuos para detectar risco precoce para psicose são críticos para a intervenção precoce e para fornecer uma promessa cada vez maior de retardar ou até prevenir o início da psicose.Resumo em Inglês:
This article reviews recent findings on predictors of conversion to psychosis among youth deemed at ultra high risk (UHR) based on the presence of subpsychotic-intensity symptoms or genetic risk for psychosis and a recent decline in functioning. Although transition rates differ between studies, the most well powered studies have observed rates of conversion to full psychosis in the 30-40% range over 2-3 years of follow-up. Across studies, severity of subthreshold positive symptoms, poorer social functioning, and genetic risk for schizophrenia appear to be consistent predictors of conversion to psychosis, with algorithms combining these indicators achieving positive predictive power > 80%. Nevertheless, a substantial fraction of UHR cases do not convert to psychosis. Recent work indicates that UHR cases who present with lower levels of negative symptoms and higher levels of social functioning are more likely to recover symptomatically and no longer meet criteria for an at-risk mental state. In general, it appears that about 1/3 of UHR cases convert to psychosis, about 1/3 do not convert but remain symptomatic and functionally impaired, and about 1/3 recover symptomatically and functionally. Continued efforts to detect early risk for psychosis are critical for informing early intervention and provide increasing promise of delaying or even preventing the onset of psychosis.Resumo em Português:
Nos últimos quinze anos, foram feitas tentativas para identificar prospectivamente indivíduos na fase prodrômica de esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. A abordagem de risco ultra alto, baseada na combinação de fatores conhecidos de risco de traço e estado, tem sido a principal estratégia utilizada. A validação dos critérios de risco ultra alto levou em conta a pesquisa preditiva nessa população, em uma tentativa de identificar fatores de risco clínicos, neurocognitivos e neurobiológicos para o início de psicose. Também levou a uma série de estudos de intervenção nessa população, que incluíram o uso de medicação antipsicótica em baixa dose, terapia cognitiva e ácidos graxos ômega-3. Ainda que existam evidências razoáveis sobre a eficácia de estratégias de intervenção específicas nessa população, o tipo mais efetivo e sua duração ainda têm que ser determinados. Uma controvérsia atual no campo refere-se à inclusão de uma adaptação dos critérios de risco ultra alto (a síndrome de psicose atenuada) na próxima versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Quinta Edição).Resumo em Inglês:
Over the last fifteen years, attempts have been made to prospectively identify individuals in the prodromal phase of schizophrenia and other psychotic disorders. The ultra high risk approach, based on a combination of known trait and state risk factors, has been the main strategy used. The validation of the ultra high risk criteria allowed for predictive research in this population in an attempt to identify clinical, neurocognitive and neurobiological risk factors for psychosis onset. It also led to a series of intervention studies in this population, which have included the use of low dose antipsychotic medication, cognitive therapy, and omega-3 fatty acids. Although there is moderate evidence for the effectiveness of specific intervention strategies in this population, the most effective type and duration of intervention is yet to be determined. A current controversy in the field is whether to include an adaption of the ultra high risk criteria (the attenuated psychosis syndrome) in the next version of the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Fifth Edition).Resumo em Português:
Estudos recentes sugerem que a intervenção precoce na psicose poderia melhorar as chances de recuperação e inclusive evitar o início de transtornos psicóticos. A intervenção clínica para indivíduos em ultra alto risco (UAR) de psicose pode ter três objetivos diferentes. O primeiro é o de melhorar os sintomas e problemas "prodrômicos" que os indivíduos normalmente apresentam. O segundo é o de reduzir o risco de psicose franca subsequente. O terceiro objetivo é o de minimizar a demora antes do início do tratamento antipsicótico no subgrupo de indivíduos em UAR que evoluem para um primeiro episódio psicótico. Tanto as intervenções farmacológicas como as psicológicas parecem ser eficazes para reduzir a gravidade dos sintomas apresentados pelos indivíduos em UAR. Ensaios clínicos sobre o impacto dessas intervenções no risco de transição subsequente para psicose foram positivos, mas envolveram amostras pequenas e, dessa forma, a questão de se os efeitos persistem ou não no longo prazo ainda precisa ser resolvida. O monitoramento dos indivíduos em UAR para os primeiros sinais de psicose franca é uma forma eficaz de reduzir a demora entre o início do primeiro episódio e o começo do tratamento antipsicótico. Estudos de acompanhamento são necessários para testar se a redução desse tempo leva a um desfecho melhor no longo prazo. Até hoje, a maioria das intervenções para indivíduos em UAR, como manejo de caso, medicação antipsicótica e terapia cognitivo-comportamental, foram empregadas anteriormente em pacientes com psicose estabelecida. No entanto, é possível que tratamentos que não são normalmente utilizados para pacientes com transtornos psicóticos possam ser eficazes ao serem aplicados nesse estágio.Resumo em Inglês:
Recent research suggests that early intervention in psychosis might improve the chances of recovery and may even be able to prevent the onset of psychotic disorders. Clinical intervention in subjects at ultra high risk (UHR) of psychosis can have three different objectives. The first aim is to improve the 'prodromal' symptoms and problems that subjects usually present with. The second is to reduce the risk of the subsequent onset of frank psychosis. The third objective is to minimize the delay before the initiation of antipsychotic treatment in the subgroup of UHR subjects that go on to develop a first episode of psychosis. Both pharmacological and psychological interventions appear to be effective in reducing the severity of presenting symptoms in UHR subjects. Clinical trials of the impact of these interventions on the risk of subsequent transition to psychosis have been positive, but have involved small samples, and thus the issue of whether the effects persist in the long term remains to be determined. The monitoring of UHR subjects for the first signs of frank psychosis is an effective means of reducing the delay between the onset of the first episode and the start of antipsychotic treatment. Follow-up studies are required to test whether the reduction in this delay leads to an improved long term outcome. To date, the majority of the interventions that have been used in UHR subjects, such as case management, antipsychotic medication, and cognitive behavior therapy have previously been employed in patients with established psychosis. However, it is possible that treatments that are not normally used in patients with psychotic disorders may prove effective when applied at this stage.Resumo em Português:
OBJETIVO: Melhoras neurocognitivas observadas no transtorno psicótico podem ter impacto no reconhecimento de emoções e na teoria da mente, resultando numa alteração na compreensão do mundo social. Esforços para uma intervenção precoce poderiam se beneficiar de uma maior elucidação deste mecanismo. MÉTODO: Pacientes com transtornos psicóticos (n=30) e um grupo controle de referência (n=310) foram convidados a realizar avaliações emocionais de imagens de situações sociais (teste AESS). A relação das diferenças entre casos e controles com as alterações neurocognitivas foi analisada. RESULTADOS: O teste AESS apresentou validade convergente e discriminatória. Quando comparados aos controles, os pacientes apresentaram avaliação emocional embotada das situações sociais (B=0,52, 95% CI: 0,30, 0,74, P<0,001; ajustado para a idade, sexo e número de anos de educação: B=0,44, 95% CI: 0,20, 0,68, P<0001), uma diferença de 0,88 (ajustado: 0,75) desvio-padrão. Após o ajuste para as variáveis neurocognitivas, as diferenças no estudo caso-controle foram reduzidas em quase 75% e deixaram de ser significativas (B=0,12, 95% CI: -0,14, 0.39, P=0,37). CONCLUSÕES: Disfunções neurocognitivas observadas em pacientes com transtornos psicóticos podem ser subjacentes a uma distorção do mundo social, mediada pela alteração no reconhecimento de emoções. Um teste que avalie o impacto social de alterações cognitivas na prática clínica pode ser útil para a detecção das principais alterações nos primeiros estágios de transtornos psicóticos.Resumo em Inglês:
OBJECTIVE: Neurocognitive impairments observed in psychotic disorder may impact on emotion recognition and theory of mind, resulting in altered understanding of the social world. Early intervention efforts would be served by further elucidation of this mechanism. METHOD: Patients with a psychotic disorder (n=30) and a reference control group (n=310) were asked to offer emotional appraisals of images of social situations (EASS task). The degree to which case-control differences in appraisals were mediated by neurocognitive alterations was analyzed. RESULTS: The EASS task displayed convergent and discriminant validity. Compared to controls, patients displayed blunted emotional appraisal of social situations (B=0.52, 95% CI: 0.30, 0.74, P<0.001; adjusted for age, sex and number of years of education: B=0.44, 95% CI: 0.20, 0.68, P<0.001), a difference of 0.88 (adjusted: 0.75) standard deviation. After adjustment for neurocognitive variables, the case-control difference was reduced by nearly 75% and was non-significant (B=0.12, 95% CI: -0.14, 0.39, P=0.37). CONCLUSIONS: Neurocognitive impairments observed in patients with psychotic disorder may underlie misrepresentation of the social world, mediated by altered emotion recognition. A task assessing the social impact of cognitive alterations in clinical practice may be useful in detecting key alterations very early in the course of psychotic illness.Resumo em Português:
OBJETIVOS: O objetivo do artigo é discutir os fundamentos para a intervenção precoce no transtorno bipolar. MÉTODO: Revisão narrativa. RESULTADOS: Frequentemente existe um atraso significativo com relação ao momento em que o transtorno bipolar é detectado e o início do tratamento. Evidências crescentes oriundas de estudos pré-clínicos e clínicos apontam para a clara necessidade de melhorar a detecção e o tratamento precoces no transtorno bipolar. Esforços também tem sido direcionados para a identificação de indivíduos em alto risco. Espera-se que a identificação do pródromo do transtorno bipolar permita a instauração de medidas preventivas. CONCLUSÕES: Existem bases claras para o investimento na melhora da detecção e tratamento precoces do transtorno bipolar.Resumo em Inglês:
OBJECTIVES: The objective of this article is to discuss the rationale/background for early intervention in bipolar disorder. METHOD: Narrative review. RESULTS: There are often significant delays before the diagnosis of bipolar disorder is made and effective management initiated. Growing evidence from both preclinical and clinical literature points to a clear need for improved early identification and early intervention in bipolar disorder. Increasing efforts are being applied to the identification of those at high risk of onset of bipolar disorder. It is hoped that identification of an early prodrome of illness will allow preventative measures to be taken. CONCLUSIONS: There is a clear rationale for improved early identification and early intervention in bipolar disorder.Resumo em Português:
OBJETIVO: Este artigo tem o objetivo de revisar os serviços de intervenção precoce em psicose na América Latina e lançar luz sobre seus desafios e particularidades. MÉTODO: Foi realizada uma busca na internet compreendendo os websites de sociedades médicas e das principais universidades e artigos publicados por autores latino-americanos e os resultados foram discutidos criticamente. RESULTADOS: Os países latino-americanos são profundamente deficientes no que diz respeito a serviços especializados de intervenção precoce em psicose. Nossa busca encontrou sete serviços principais, quatro dos quais baseados em áreas urbanas do Brasil, dentro de hospitais terciários ou universidades. Dentre as iniciativas promovidas por esses centros, há parcerias com o sistema público de educação e outros esforços baseados na comunidade para transferência de conhecimento. Não obstante, vários desafios ainda devem ser superados, relacionados sobretudo à expansão de tais serviços, necessária para abarcar a demanda existente.Resumo em Inglês:
OBJECTIVE: This article aims to review Latin America's early intervention services in psychosis and to shed light into their challenges and particularities. METHOD: An internet-based search comprising medical societies' websites, published articles, and major universities' websites was conducted and the results were critically discussed. RESULTS: Latin American countries are profoundly deficient in specialized early intervention services. Our search found seven target services, four of which are based in urban areas of Brazil, inside tertiary hospitals or universities. Among the initiatives advanced by these centers, there are partnerships with the public educational system and other community-based efforts toward knowledge transfer. On the other hand, several challenges remain to be overcome, especially in relation to their expansion, which is necessary to match the existing demand.