EDITORIAL EDITORIAL
Avaliação de um evento reumatológico: qual é o significado?
A noção de mensuração é crucial para as ciências. E a correspondência entre uma sociedade e seus associados depende, em parte, do provimento e troca de informações precisas. Porém, quem deve fornecêlas? Não tem sido hábito proceder à análise de eventos médicos e posterior publicação de seus resultados, obtendo-se, assim, dados importantes e significativos para definir e elaborar os acontecimentos vindouros.
Durante a XVII Jornada Brasileira de Reumatologia e XVII Jornada Norte/Nordeste de Reumatologia, foi distribuído entre os participantes um questionário padronizado para se avaliar: o perfil do reumatologista; o Estado de procedência; a razão de sua participação; a localização do evento; a organização geral; a qualidade educacional; a qualidade científica; a qualidade das conferências; a qualidade dos pôsteres; a qualidade dos simpósios satélites; o livro da programação final; participação com pôster; o breakfast científico.
Não há um instrumento único para se avaliar um evento médico. A escolha do questionário, portanto, é importante e deve estar condicionada às finalidades do estudo.
Um instrumento deve mensurar o grau de um atributo com a finalidade de distingui-lo entre indivíduos. Elaborou-se um questionário simples, auto-aplicável, cujo propósito foi revelar a percepção dos reumatologistas sobre os eventos (Anexo 1 Anexo 1 ).
Esse questionário, incluído no material distribuído durante as jornadas, dispõe respostas de múltipla escolha, de forma a refletir a natureza da perspectiva de quem responde sobre o desejo do que está sendo perguntado(1): o que as pessoas dizem querer.
O critério de inclusão foi o da totalidade de participantes das jornadas. Não foi utilizado nenhum critério de exclusão.
A análise estatística foi do tipo descritiva, utilizando-se o pacote Epi-info.
Como resultados, obteve-se apenas 60 questionários respondidos por completo e entregues na secretaria executiva das Jornadas, o que corresponde a 9,04% dos 663 inscritos.
Com relação a esse número (composto por 300 residentes em reumatologia e estudantes de medicina), a grande maioria pertence aos Estados de Pernambuco (214) e São Paulo (167), sendo 315 sócios com títulos de especialista da Sociedade Brasileira de Reumatologia/Associação Médica Brasileira.
Com relação ao perfil dos reumatologistas, 37% deles eram ligados às universidades e 37% ligados ao serviço público, diferente do observado por Ciconelli (20%)(2). Observou-se, contudo, o comparecimento de 52% de reumatologistas autônomos e 10% de residentes em reumatologia. No item relativo à principal razão de sua participação, verificou-se que 13% eram palestrantes, 59% buscavam obter conhecimentos clínicos aplicados à prática diária, 72% compareceram para adquirir recentes conhecimentos científicos básicos da reumatologia, 15% para apresentar pôster e 37% para encontrar amigos.
Foi classificada como boa/excelente por 86% dos participantes a escolha da cidade Muro Alto, Ipojuca, PE; 74% dos inscritos elegeram as instalações do Centro de Convenções do Summerville Beach Resort como boa/ excelente; 79% votaram as acomodações dos hotéis e 66% dos que responderam acharam o sistema de transporte hotel/centro de convenções/hotel, como boa /excelente.
A Tabela 1 demonstra a avaliação das Jornadas feita pelos participantes.
A relevância das Jornadas para as necessidades do participante foi vista como muita/alta relevância por 63% dos que responderam ao questionário; 67% avaliaram a qualidade educacional oferecida como boa/excelente; 70% avaliaram a qualidade científica oferecida nas Jornadas como boa/excelente, o mesmo resultado alcançado no quesito qualidade das conferências oferecidas.
Os pôsteres foram avaliados por 75% como de qualidade boa/excelente. E 58% avaliaram a qualidade dos simpósios satélites das indústrias farmacêuticas como boa/excelente.
A Tabela 2 demonstra a atitude dos participantes com relação à programação geral das Jornadas.
Dos pôsteres enviados, 93% preferem mandá-los via correio eletrônico. Finalmente, 83% dos que participaram do breakfast científico classificaram-no de boa/excelente qualidade.
Toda mudança tem início com o conhecimento de seu objetivo precípuo: o que se pretende mudar. Assim, as pré-condições mais importantes para se notear o trabalho de quem pretende interceder sobre algum aspecto da realidade, são: saber sobre o que se está trabalhando e o que se pretende fazer.
A avidez por informações é maior do que se pensa e varia na proporção do desejo de se tomar decisões. Com isto, uma das principais funções de uma Sociedade é regularizar a sua correspondência, atendendo adequadamente às informações solicitadas. Os associados têm um leque de preferências que diferem por variados motivos e em diferentes períodos.
Questionários requerem construção bastante cuidadosa e linguagem apropriada, pois estará sob o controle de quem o responde. Sendo assim, cada estudo representando a combinação do tópico a ser observado, da população e dos objetivos destinados, torna-o único.
O baixo índice de resposta pode apresentar várias explicações. Talvez, a mais racional seja a percepção da falta de retorno destes dados aos associados: em que estas respostas irão ajudar? E também por causa de nosso hábito de pouco participarmos politicamente das mudanças. Entretanto, vale ressaltar que a grande maioria ainda é composta por sócios titulares. Assim, temos de atrair, especialmente, os outros vários associados para tornarem-se titulares revelando o impacto em ter título de especialista.
A elaboração de um questionário pode ser convenientemente dividida em três partes, cada qual com suas peculiaridades, evitando-se, assim, que todos os indivíduos marquem o mesmo escore: 1) o tipo de informação pesquisada; 2) a estrutura da questão; e 3) a escolha das palavras.
Com 37% dos reumatologistas ligados às universidades e serviços públicos e 52% atuando como profissionais liberais, temos uma visão da dimensão da influência da reumatologia: desde a formação profissional, para o estudante de medicina, até o outro extremo, nos aspectos sociais nas diversas unidades de saúde dos serviços públicos. Pode-se, assim, criar um campo fértil e adequado para o crescimento e para as mudanças pretendidas pela Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Vê-se, pela razão de participação dos médicos, um equilíbrio entre adquirir conhecimentos clínicos visando sua atividade diária e conhecimentos científicos básicos para sua atualização. Estes fatos deverão ser considerados na elaboração das próximas programações científicas de Jornadas e Congressos, os quais são reforçados pelo comparecimento de 52% de reumatologistas autônomos.
Apesar da apresentação de pôster ter sido a principal razão para 15% dos participantes, 75% avaliaram a qualidade como boa/excelente, o que justifica maior dedicação pela comissão organizadora, estimulando apresentações através de prêmios ou participação em outros eventos científicos.
A comunicação direta antes do evento, salientando o impacto dos tópicos principais, bem como os valores das taxas e formas de inscrição, são pontos observados numa boa organização.
As conferências apresentando assuntos atraentes ainda constituem item importante na programação científica.
Observa-se como um dado importante para a participação dos médicos e o para o sucesso do evento, as condições estruturais do local escolhido - hotel sede e centro de convenção -, como também os atrativos da cidade.
Os simpósios satélites passam a serem considerados um espaço não somente para a indústria farmacêutica apresentar o seu produto, mas também para serem discutidas as diversas posições contrárias, enriquecendo as informações obtidas.
A visitação à exposição da indústria farmacêutica, as oportunidades para encontrar amigos e os eventos sociais devem merecer tratamento e tempo adequado, pois continuam sendo motivos decisivos para a participação.
Há pouca informação publicada sobre avaliação de eventos médicos. Entretanto, a sua leitura pode fornecer dados alternativos para explorar preferências em futuros eventos.
FERNANDO S. CAVALCANTI
Professor adjunto IV da disciplina de Reumatologia e mestre em Medicina Interna
Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal de Pernambuco
ÂNGELA B. DUARTE
Professora titular da disciplina de Reumatologia
Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal de Pernambuco
Anexo 1- clique para ampliar.
Anexo 1-
1Dillman D: Writing Questions. In: Mail and Telephone Survey: the total design method, Ed New York, Wiley, 1978:79-117.
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2Ciconelli RM: Perfil do Reumatologista Brasileiro, Bol Soc Bras Reumatol 1: 5, 2002.
Anexo 1
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Maio 2011 -
Data do Fascículo
Ago 2004