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Prevalência e fatores associados à síndrome de burnout entre docentes da rede pública de ensino: estudo de base populacional

Prevalence and associated factors of burnout syndrome among teachers of the public network: a population-based study

Resumo

Objetivos:

identificar a prevalência e os fatores associados à síndrome de burnout (SB) entre docentes da educação básica de escolas públicas de um município de médio porte.

Métodos:

estudo transversal analítico realizado em Minas Gerais, em 2016. Coletaram-se dados sociodemográficos e ocupacionais e aplicou-se o Cuestionário para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo para avaliar a SB. A amostra (n = 745) foi probabilística por conglomerados em único estágio. Utilizou-se análise hierarquizada com regressão de Poisson.

Resultados:

a prevalência geral da SB foi de 13,8% (IC95%: 11,3-16,3%), com 9,0% apresentando o Perfil 1 (SB sem níveis altos de sentimento de culpa) e 4,8% o Perfil 2 (SB grave). As dimensões mais prevalentes foram “desgaste psíquico” (39,4%) e “ilusão pelo trabalho” (19,7%). A prevalência de SB foi maior entre os docentes mais jovens (RP = 1,82), sem filhos (RP = 1,45), concursados/efetivos (RP = 1,88), insatisfeitos no trabalho (RP = 3,16), com desejo de mudar de profissão (RP = 2,94) e com falta de apoio da direção escolar (RP = 2,38).

Conclusão:

há urgência na criação de políticas públicas de suporte aos docentes, pois os identificados com sintomas da síndrome estão em exercício funcional, o que agrava seu quadro de saúde e, por conseguinte, compromete os diversos processos da área educacional.

Palavras chaves:
saúde do trabalhador; desgaste profissional; prevalência; professores escolares; ensino fundamental e médio

Abstract

Objectives:

to identify the associated factors and the prevalence of burnout syndrome (BS) in primary and secondary public school teachers of a medium-sized municipality.

Methods:

cross-sectional analytical study conducted in Minas Gerais, Brazil, in 2016. We collected sociodemographic and occupational data, and applied the Spanish Burnout Inventory [Cuestionário para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo]. The sample (n = 745) was probabilistic by clusters in a single stage. We used Hierarchical analysis with Poisson regression.

Results:

the general prevalence of BS was 13.8% (95% CI: 11.3-16.3%), with 9.0% having Profile 1 (BS without high levels of feelings of guilt) and 4.8% Profile 2 (severe BS). The most prevalent dimensions were “psychological exhaustion” (39.4%) and “enthusiasm towards job” (19.7%). The BS prevalence was higher among younger teachers (PR = 1.82), without children (PR = 1.45), job stability insured as civil servant (PR = 1.88), with job dissatisfaction (PR = 3.16), with a desire to change professions (PR = 2.94) and lack of support from the school managers (PR = 2.38).

Conclusion:

there is an urgent need to develop public policies to support teachers, since those identified with BS symptoms are in work activity, which worsens their health condition and, therefore, undermines the educational processes.

Keywords:
occupational health; burnout, professional; prevalence; school teachers; primary and secondary education

Introdução

A síndrome de burnout (SB), ou síndrome do esgotamento profissional, constitui-se em uma resposta psicológica ao estresse laboral crônico de caráter interpessoal e emocional11. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Validation of the Brazilian version of the "Spanish Burnout Inventory" in teachers. Rev Saude Publica. 2010;44(1):140-7.. Caracteriza-se pelo comprometimento cognitivo e afetivo, o que pode gerar condutas de indiferenças, distanciamento interpessoal e/ou sentimento de culpa, principalmente em profissionais que lidam diretamente com pessoas e que estão expostos a fatores estressantes intensos11. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Validation of the Brazilian version of the "Spanish Burnout Inventory" in teachers. Rev Saude Publica. 2010;44(1):140-7.), (22. Gil-Monte PR. El síndrome de quemarse por el trabajo ("Burnout"): Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide; 2005..

As consequências da SB podem ser em curto ou em longo prazo e vão desde a ansiedade, a apatia, os sintomas físicos e psicológicos, o absenteísmo e licenças médicas frequentes até a incapacidade total para o trabalho33. Carlotto MS. Síndrome de Burnout: diferenças segundo níveis de ensino. Psico. 2010;41(4):495-502.. Por conseguinte, a SB tem sido considerada como um problema de saúde pública de relevância crescente nos últimos anos44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75..

No elenco das categorias laborais, a classe docente tem sido uma das mais afetadas pela SB por lidar com grandes exigências psicoemocionais, sociais e pedagógicas no seu contexto de trabalho55. Lago RR, Cunha BS, Borges MFSO. Percepção do Trabalho Docente em uma Universidade da Região Norte do Brasil. Trab Educ Saude. 2015;13(2):429-50.. A literatura tem abordado diferenças entre os níveis de ensino33. Carlotto MS. Síndrome de Burnout: diferenças segundo níveis de ensino. Psico. 2010;41(4):495-502.) e o contexto laboral em escolas públicas, pois nestas o desenvolvimento da SB foi associado aos baixos salários, à jornada excessiva de trabalho, à violência por parte dos alunos66. Levy GCTM, Nunes Sobrinho FP, Souza CAA. Síndrome de Burnout em professores da rede pública. Produção. 2009;19(3):458-65., à indisciplina estudantil, à falta de apoio dos pais e da direção da escola e à sobrecarga de trabalho77. Diehl L, Carlotto MS. Conhecimento de professores sobre a Síndrome de Burnout: processo, fatores de risco e consequências. Psicol Estud. 2014;19(4):741-52.. Apesar das diferentes abordagens e metodologias adotadas para mensurar a SB, estudos têm evidenciado o aumento de sua prevalência em docentes no cenário internacional88. Masmoudi R, Trigui D, Ellouze R, Sellami R, Baati I, Feki I, et al. Burnout and associated factors among Tunisian teachers. Eur Psychiatry. 2016;33(S1):S636. e nacional44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.. Na Tunísia, a prevalência da síndrome entre docentes foi de 40,5%99. Figueroa AEJ, Gutiérrez MJJ, Celis ERM. Burnout, apoyo social y satisfacción laboral en docentes. Psicol Esc Educ. 2012;16(1):125-34. e no Chile, de 58%1010. Salgado Roa JÁ, Leria Dulcic FJ. Síndrome de burnout y calidad de vida profesional percibida según estilos de personalidad en profesores de educación primaria. CES Psicol. 2018;11(1):69-89.. Já no Brasil, ela variou de 31,0%1111. Tabeleão VP, Tomasi E; Neves SF. Qualidade de vida e esgotamento profissional entre docentes da rede pública de Ensino Médio e Fundamental no Sul do Brasil. Cad Saude Publica. 2011;27(12):2401-8.) a 41,5%1212. Borba BMR, Diehl L, Santos AS, Monteiro JK, Marin AH. Síndrome de Burnout em professores: estudo comparativo entre o ensino público e privado. Psicol Argum. 2015;33(80):270-81..

Considerando a repercussão da SB na profissão docente, os prejuízos em sua saúde física e mental, o absenteísmo, a baixa produtividade e os onerosos custos financeiros à Saúde Pública1212. Borba BMR, Diehl L, Santos AS, Monteiro JK, Marin AH. Síndrome de Burnout em professores: estudo comparativo entre o ensino público e privado. Psicol Argum. 2015;33(80):270-81.), (1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.) ligados à rotatividade de pessoal, às licenças médicas e às aposentadorias precoces1414. Esteves-Ferreira AA; Santos DE, Rigolon RG. Avaliação comparativa dos sintomas da síndrome de burnout em professores de escolas públicas e privadas. Rev Bras Educ. 2014;19(59):987-1002., há ainda uma escassez de estudos sobre o tema na maioria das regiões brasileiras, pois estes concentraram-se principalmente no Sul do país33. Carlotto MS. Síndrome de Burnout: diferenças segundo níveis de ensino. Psico. 2010;41(4):495-502.), (44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.), (1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.. Este estudo objetivou identificar a prevalência e os fatores associados à síndrome de burnout entre os docentes do ensino básico da rede pública estadual de um município de médio porte populacional no estado de Minas Gerais, destacando suas dimensões e o perfil dos acometidos.

Métodos

Desenho e população do estudo

Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal, analítico, originado do projeto intitulado “Condições crônicas de saúde e fatores associados entre professores da rede pública: estudo de base populacional - Projeto ProfsMoc”, com resultados publicados em estudo prévio1515. Vieira MRM, Magalhães TA, Silva RRV, Vieira MM, Paula AMB, Araújo VB, et al. Hipertensão Arterial e trabalho entre docentes da educação básica da rede pública de ensino. Cien Saude Colet. 2020;25(8):3047-61..

A população do estudo foi composta pelos 1.851 docentes da educação básica (ensino fundamental e médio), dentre as 55 escolas da rede pública estadual de ensino distribuídas nas zonas urbana e rural de Montes Claros (MG); 49 escolas estaduais da área urbana foram selecionadas para o estudo, sendo sorteadas 35 escolas eleitas como unidades primárias de amostragem (UPA) considerando-se a probabilidade proporcional ao tamanho (PPT), uma vez que o número de professores em cada escola foi o parâmetro de referência para o sorteio. Todos os docentes vinculados às escolas selecionadas que exerciam a docência há pelo menos um ano foram convidados a participar, excluindo-se aqueles em desvio da função docente ou afastados do trabalho.

O tamanho amostral foi definido considerando a prevalência de 50% do evento de interesse, nível de confiança de 95% e margem de erro de 5% para populações finitas, a fim de garantir poder de inferência para maior número de condições pesquisadas e acréscimo de 10% para compensar as possíveis perdas. Para atenuar o efeito e compensar a homogeneidade presente do procedimento de amostragem por conglomerados sobre esse critério de precisão, decidiu-se duplicar o número de entrevistas (deff = 2), que representa a razão entre a variância de uma estimativa obtida com uma amostra de conglomerados e a variância que seria obtida com uma amostra aleatória simples de mesmo tamanho1616. Luiz RR, Magnanini MMF. A lógica da determinação do tamanho da amostra em investigações epidemiológicas. Cad Saude Colet. 2000;8(2):9-28.; assim, estimou-se a participação de 700 docentes.

Coleta de dados e instrumento

Realizou-se estudo piloto prévio, para teste e acerto do instrumento e da estratégia de coleta de dados. A coleta de dados foi realizada por meio de três etapas em cada escola sorteada no período de março a dezembro de 2016 por profissionais treinados. A primeira etapa deu-se pelo contato com os diretores e supervisores para obter o consentimento da instituição. A segunda caracterizou-se pela sensibilização dos docentes acerca da pesquisa e pela distribuição dos questionários autoaplicáveis e do termo de consentimento para os que aceitaram participar do projeto. A última etapa deu-se, em média, 15 dias após a sensibilização, com o intuito de recolher e conferir os questionários.

O instrumento para coleta de dados foi um questionário autoaplicável com as seguintes variáveis: 1) sociodemográficas: sexo, idade, estado civil, filhos e renda familiar per capita; 2) aspectos de formação e ocupação: titulação, nível de ensino em que atua, tempo de trabalho docente, se exerce outra atividade remunerada além da docência, tipo de vínculo empregatício, rede de atuação no ensino e carga horária semanal de trabalho; 3) satisfação com o trabalho: satisfação quanto ao trabalho e quanto ao desejo de mudar de profissão; 4) condições laborais: condições de trabalho que causam incômodos (violência por parte dos alunos, indisciplina dos alunos, superlotação de turma, infraestrutura e recursos materiais, falta de segurança no local de trabalho, falta de capacitação, falta de colaboração entre a equipe, falta de apoio da escola, baixo salário e falta de apoio das famílias dos alunos; e 5) perfil de saúde: licença médica por estresse ocupacional/depressão ou ansiedade e síndrome de burnout.

Para identificação dos docentes com SB, utilizou-se a versão em português do instrumento Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (CESQT) validada para a população de professores brasileiros11. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Validation of the Brazilian version of the "Spanish Burnout Inventory" in teachers. Rev Saude Publica. 2010;44(1):140-7.. O modelo teórico da validade fatorial e de construto se ajustou satisfatoriamente aos profissionais brasileiros. Todos os fatores apresentaram um alfa de Cronbach superior a 0,7011. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Validation of the Brazilian version of the "Spanish Burnout Inventory" in teachers. Rev Saude Publica. 2010;44(1):140-7.. Esse instrumento possui 20 questões e avalia a SB em quatro dimensões: 1) ilusão pelo trabalho (sentimentos de baixa realização pessoal e profissional); 2) desgaste psíquico (esgotamento emocional e físico no trabalho); 3) indolência (atitudes negativas de indiferença); e 4) culpa (sentimento de culpa pelo próprio comportamento e atitudes negativas desenvolvidas no trabalho). Os itens que compõem o instrumento são avaliados por meio de uma escala Likert de cinco pontos, com as opções de respostas variando de 0 (nunca) a 4 (frequentemente, todos os dias) (22. Gil-Monte PR. El síndrome de quemarse por el trabajo ("Burnout"): Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide; 2005.), (1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011. (Quadro 1).

Quadro 1
Cuestionário para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (CESQT)

Análise de dados

Para caracterização da amostra, foram realizadas análises descritivas das variáveis, com a apresentação de frequências absoluta e relativa (variáveis categóricas), e correção pelo efeito do desenho. Para isso, cada professor foi associado a um peso, que correspondeu ao inverso de sua probabilidade de inclusão na amostra; essa correção promove uma diferença na estimativa da prevalência1616. Luiz RR, Magnanini MMF. A lógica da determinação do tamanho da amostra em investigações epidemiológicas. Cad Saude Colet. 2000;8(2):9-28.. A probabilidade foi estimada proporcionalmente ao tamanho (PPT) das escolas, isto é, ela foi aferida de modo proporcional ao número de docentes, levando-se em consideração a taxa de não resposta.

A prevalência global da SB foi estimada por meio do escore total (variável SB-Total), calculado a partir da média dos 15 itens que compõem as dimensões “ilusão pelo trabalho”, “desgaste psíquico” e “indolência”, não levando em consideração a dimensão “culpa”. Os docentes com SB-Total < 2 foram considerados “não acometidos pela SB” (baixo nível da SB) e aqueles com SB-Total ≥ 2, considerados “acometidos pela SB” (alto nível da SB) (1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011.. A escala de respostas dos itens da dimensão “ilusão pelo trabalho” foi invertida para o cálculo do escore total, uma vez que pontuações mais baixas dessa dimensão refletem maior comprometimento pela SB22. Gil-Monte PR. El síndrome de quemarse por el trabajo ("Burnout"): Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide; 2005.), (1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011..

Apesar da dimensão “culpa” não estar incluída no cálculo da pontuação SB-Total, o escore médio dessa dimensão foi utilizado para distinguir dois diferentes perfis dos “acometidos pela SB”. O Perfil 1 (SB-Total ≥ 2 e Culpa < 2) constitui-se em docentes acometidos pela SB, mas que não apresentam níveis altos do sentimento de culpa. Esses podem manter-se durante longo tempo no trabalho sem desenvolver problemas individuais relevantes, ainda que suas atitudes danifiquem sua saúde e afetem a qualidade das atividades laborais1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011.. Já o Perfil 2 (SB-Total > 2 e Culpa > 2) constitui-se em casos mais graves dos acometidos pela SB, conhecidos também como deteriorados, pois, além dos sintomas descritos no Perfil 1, acrescentam-se níveis altos do sentimento de culpa, sugerindo que esses profissionais apresentam maior intensidade de problemas psicossomáticos vinculados ao estresse laboral22. Gil-Monte PR. El síndrome de quemarse por el trabajo ("Burnout"): Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide; 2005.), (1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011..

Foram também estimadas as prevalências de acometimento para cada dimensão do CESQT (Quadro 1). Para isso, foram estimadas as médias dos escores dos itens que compõem cada dimensão. Para a dimensão “ilusão pelo trabalho”, consideraram-se acometidos pela SB os docentes com média do escore < 2 e para as dimensões “desgaste psíquico”, “indolência” e “culpa”, os docentes com média dos escores ≥222. Gil-Monte PR. El síndrome de quemarse por el trabajo ("Burnout"): Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide; 2005.), (1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011.. A adoção desse ponto de corte baseou-se em Shiron1818. Shiron A. Burnout in work organizations. In: Cooper CL, Robertson I, editores. International Review of Industrial and Organizational Psychology. New York: Wiley & Sons; 1989. e em outros estudos com docentes1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.), (1919. Batista JBV, Carlotto MS, Coutinho AS, Augusto LGS. Prevalência da Síndrome de Burnout e fatores sociodemográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):502-12.), (2020. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Prevalence of burnout in a sample of Brazilian teachers. Eur J Psychiatry. 2011;25(4):205-12., sendo considerada uma boa alternativa a ser adotada em países que ainda não possuem pontos de corte validados, pois, a partir dela, podem-se identificar os acometidos pela SB com base na frequência de sintomas. Os dados numéricos obtidos para a prevalência da SB-Total, Perfil 1, Perfil 2 e as dimensões da síndrome foram avaliados de acordo com o manual da SB e os cálculos realizados em concordância com a metodologia preconizada proposta pelo autor1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011..

A variável dependente (desfecho) foi a SB-Total, categorizada em “não acometidos pela SB” e “acometidos pela SB”. As variáveis independentes foram reunidas em blocos: bloco 1: sociodemográficas; bloco 2: aspectos de formação e ocupacionais; e bloco 3: satisfação com o trabalho, condições laborais que geram incômodo e perfil de saúde. Para fins da análise estatística, algumas variáveis foram dicotomizadas: idade, satisfação com o trabalho, carga horária, tempo de trabalho docente, renda per capita, condições laborais e licença médica por estresse, depressão ou ansiedade.

Para a análise bivariada, foram estimadas razões de prevalência (RP) brutas, com seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%)considerando os testes qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher, a depender da frequência observada para as classes das variáveis analisadas. As variáveis que apresentaram nível descritivo (p ≤ 0,25) foram selecionadas para análise múltipla.

Na análise múltipla, foi proposto um modelo hierarquizado, cujas variáveis independentes foram alocadas em níveis distal, intermediário e proximal, conforme a interação desses níveis no processo de desenvolvimento da SB. O modelo proposto foi construído após a revisão de literatura sobre modelagem hierarquizada2121. Alcântara MA, Assunção AA. Influência da organização do trabalho sobre a prevalência de transtornos mentais comuns dos agentes comunitários de saúde de Belo Horizonte. Rev Bras Saude Ocup. 2016;41:e2.) e sobre fatores associados à SB44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.), (1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.), (1919. Batista JBV, Carlotto MS, Coutinho AS, Augusto LGS. Prevalência da Síndrome de Burnout e fatores sociodemográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):502-12..

O nível distal foi composto pelas variáveis do bloco 1; o nível intermediário foi constituído pelas variáveis do bloco 2; e, no nível proximal, incluíram-se as variáveis do bloco 3 (Figura 1).

Figura 1
Modelo teórico hierarquizado dos possíveis fatores associados à síndrome de burnout entre docentes da educação básica da rede pública de ensino de Montes Claros, MG

Levantou-se a hipótese, nesse modelo, de que as relações das variáveis nos três blocos produzem efeitos na SB de acordo com a alocação dos níveis propostos. Assim, o nível distal, composto pelas variáveis sociodemográficas, tende a produzir tanto efeito direto sobre a SB como indireto, ao influenciar a magnitude da associação entre as variáveis dos níveis intermediário e proximal com a SB. Considerou-se também que as variáveis do nível intermediário exercem efeitos nas condições laborais, na satisfação com o trabalho e no perfil de saúde (nível proximal) que, por sua vez, estariam associadas à SB. Em resumo, quanto mais desfavoráveis as condições laborais, mais insatisfeito com o trabalho e quanto pior o perfil de saúde do professor, maiores as chances de apresentar a SB2222. Garcia LP, Höfelmann DA, Facchini LA. Self-rated health and working conditions among workers from primary health care centers in Brazil. Cad Saude Publica. 2010;26(5):971-80..

Realizou-se, então, a inclusão dos blocos de variáveis independentes no modelo múltiplo pelo método passo à frente (stepwise forward procedure). O bloco das variáveis sociodemográficas (nível distal) foi o primeiro incluído no modelo, permanecendo como fator de ajuste para os determinantes intermediários e proximais. Igualmente, foram incluídas as variáveis do nível intermediário e, por último, foram alocadas as variáveis do bloco proximal, permanecendo no modelo de cada bloco somente aquelas que apresentaram nível descritivo p ≤ 0,05 após o ajuste para os três níveis das variáveis independentes. A magnitude da associação entre o desfecho e as variáveis independentes foi estimada pela razão de prevalência (RP) ajustada com seus respectivos intervalos de 95% de confiança, utilizando-se o modelo de regressão de Poisson com variância robusta. Para avaliar a qualidade de ajuste do modelo múltiplo, utilizou-se o teste deviance e o critério de informação de Akaike (AIC). Os dados foram tabulados e analisados com auxílio do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 20.0.

O estudo atendeu aos princípios éticos da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n°466/2012 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/ Unimontes, no 1.293.458). Todos os participantes da pesquisa receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os docentes identificados como acometidos pela SB foram encaminhados a um serviço de apoio psicológico e psiquiátrico parceiro do projeto.

Resultados

Participaram do presente estudo 745 docentes regentes de sala de aula. Dentre as quatro dimensões pesquisadas no instrumento CESQT, as mais prevalentes e que estão relacionadas ao acometimento pela síndrome de burnout foram o “desgaste psíquico” (39,4%) e a “ilusão pelo trabalho” (19,7%). A partir da análise das dimensões, foi estimada uma prevalência de 109 (13,8%) docentes acometidos pela SB-total, sendo 72 (9%) classificados como Perfil 1 e 37 (4,8%) como Perfil 2 (Tabela 1).

Tabela 1
Prevalência da síndrome de burnout (Dimensões, SB-total, Perfil 1 e Perfil 2) entre docentes da educação básica da rede pública de ensino, Montes Claros, MG, 2016 (n = 745)

No perfil sociodemográfico, destaca-se que mais de 80% dos participantes eram do sexo feminino. As categorias “casado”, “com filhos” e “com salário menor ou igual a R$ 1.496,50” tiveram resultado positivo em torno de 60% das respostas. Aproximadamente 80% dos participantes não tinham outro trabalho além da docência, e mais de 90% eram docentes exclusivos da rede pública de ensino. Dentre as 25 variáveis independentes submetidas à verificação de associação com a variável dependente (SB-Total) por meio de análise bivariada, 21 delas apresentaram p-valor ≤ 0,25 (ou limítrofe) e foram selecionadas para compor o modelo hierarquizado testado na análise múltipla (Tabela 2).

Tabela 2
Análise descritiva e bivariada entre a síndrome de burnout total (SB-Total) e as variáveis sociodemográficas, aspectos de formação/ocupacional, satisfação com o trabalho, condições laborais que geram incômodos e perfil de saúde entre docentes da educação básica da rede pública de ensino, Montes Claros, MG, 2016 (n = 745)

Na análise múltipla, percebeu-se que prevaleceram as variáveis que já apresentavam as maiores evidências de associação (< p-valor) na análise bivariada. No bloco do nível distal, a prevalência da SB foi 82% maior entre os professores com 21 a 40 anos (RP: 1,82; IC 95%: 1,22-2,73) e 45% maior entre professores sem filhos (RP: 1,45; IC 95%: 1,00-2,09), após ajuste pelas variáveis internas do bloco 1. No nível intermediário, em relação às variáveis significativamente associadas à SB, após ajuste pelas demais variáveis do bloco 2 e as variáveis do nível distal, identificou-se maior prevalência (88%) nos professores que possuíam vínculo empregatício como concursado/efetivo (RP: 1,88; IC 95%: 1,33-2,65). No nível proximal, verificou-se uma prevalência associada à SB aproximadamente 3 vezes maior em professores que relataram insatisfação com o trabalho (RP: 3,16; IC 95%: 2,11-4,75) e desejo de mudar de profissão (RP: 2,94; IC 95%: 1,27-6,81) e mais de 2 vezes maior entre aqueles que autorrelataram não ter apoio da direção escolar (RP: 2,38; IC 95%: 1,27-4,48), após ajuste pelas variáveis dos blocos hierarquicamente superiores. Constatou-se boa qualidade de ajuste do modelo final com os testes de deviance (0,438) e AIC (350,643) (Tabela 3).

Tabela 3
Resultado da análise de regressão de Poisson hierarquizada dos fatores associados à síndrome de burnout total (SB-Total) em docentes da educação básica da rede pública de ensino, Montes Claros, MG, 2016

Discussão

Observou-se prevalência de 13,8% de acometimento da SB-total entre os docentes, sendo a maior parte deles classificada no Perfil 1 (9%). O desgaste psíquico foi a dimensão mais afetada. O modelo teórico hierarquizado revelou-se apropriado, uma vez que, mesmo após ajuste, permaneceram variáveis alocadas em todos os blocos investigados. A análise estatística adotada seguindo níveis hierárquicos de determinação permitiu identificar os fatores associados à SB de forma independente. A probabilidade de ser acometido pela SB foi maior entre os docentes mais novos, com filhos, que eram concursados/efetivos, que estavam insatisfeitos com o trabalho, que apresentavam desejo de mudar de profissão e que relataram a falta de apoio da direção escolar como incômodo relacionado ao trabalho.

A prevalência de acometimento da SB entre docentes da rede pública de ensino verificada em Montes Claros (MG) foi inferior à verificada em estudos conduzidos no Chile (58%)1010. Salgado Roa JÁ, Leria Dulcic FJ. Síndrome de burnout y calidad de vida profesional percibida según estilos de personalidad en profesores de educación primaria. CES Psicol. 2018;11(1):69-89.) e no Rio Grande do Sul (41,5%)1212. Borba BMR, Diehl L, Santos AS, Monteiro JK, Marin AH. Síndrome de Burnout em professores: estudo comparativo entre o ensino público e privado. Psicol Argum. 2015;33(80):270-81., que também utilizaram o CESQT como instrumento de rastreamento. Entretanto, esses estudos adotaram um ponto de corte diferente, baseado em percentis (P10, P33, P66 e P90) que classificava a SB em 5 níveis (muito baixo, baixo, médio, alto e crítico) (1111. Tabeleão VP, Tomasi E; Neves SF. Qualidade de vida e esgotamento profissional entre docentes da rede pública de Ensino Médio e Fundamental no Sul do Brasil. Cad Saude Publica. 2011;27(12):2401-8. e que pode justificar tal diferença1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011.. Em outro estudo realizado em Porto Alegre com 1.250 professores do ensino básico da rede pública, houve uma prevalência geral de 25,8% da SB, utilizando-se como base os percentuais encontrados nos Perfis 1 e 2 do instrumento do CESQT2323. Carlotto MS, Câmara, SG. Prevalence and predictors of Burnout Syndrome among public elementary school teachers. Analise Psicol. 2019;37(2):135-46.. Estudo desenvolvido com professores de instituições públicas e privadas da região metropolitana de São Paulo apontou que 52% dos pesquisados apresentaram o nível médio de burnout e evidenciou relação significativa e positiva com eventos estressores no trabalho e com a depressão2424. Baptista MN, Soares TFP, Raad AJ, Santos LM. Burnout, estresse, depressão e suporte laboral em professores universitários. Rev Psicol Organ Trab. 2019;19(1):564-70..

Quanto aos estudos que utilizaram outros instrumentos, uma pesquisa longitudinal desenvolvida com docentes no sul da Suécia apontou resultado semelhante ao encontrado neste estudo, uma vez que os professores avaliados no início e no final do acompanhamento obtiveram respectivamente 14% e 15% da frequência do nível alto de burnout2525. Arvidsson I, Leo U, Larsson A, Håkansson C, Persson R, Björk J. Burnout among school teachers: quantitative and qualitative results from a follow-up study in southern Sweden. BMC Public Health. 2019;19(1):655.. No entanto, a prevalência da SB entre docentes da educação básica diversificou-se em 31% no Brasil1111. Tabeleão VP, Tomasi E; Neves SF. Qualidade de vida e esgotamento profissional entre docentes da rede pública de Ensino Médio e Fundamental no Sul do Brasil. Cad Saude Publica. 2011;27(12):2401-8., 40,5% no Chile99. Figueroa AEJ, Gutiérrez MJJ, Celis ERM. Burnout, apoyo social y satisfacción laboral en docentes. Psicol Esc Educ. 2012;16(1):125-34., e 49,7% na Tunísia77. Diehl L, Carlotto MS. Conhecimento de professores sobre a Síndrome de Burnout: processo, fatores de risco e consequências. Psicol Estud. 2014;19(4):741-52., com associação frequente da SB à depressão2626. Silva NR, Bolsoni-Silva AT, Loureiro SR. Burnout e depressão em professores do ensino fundamental: um estudo correlacional. Rev Bras Educ. 2018;23:e230048..

Destaca-se a escassez de pesquisas que mensuram a prevalência dessa síndrome com base no escore global do CESQT, ou seja, com base no SB-Total. Geralmente os estudos apresentam resultados relacionados ao escore do perfil e das dimensões da SB 1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.), (2020. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Prevalence of burnout in a sample of Brazilian teachers. Eur J Psychiatry. 2011;25(4):205-12.), (2323. Carlotto MS, Câmara, SG. Prevalence and predictors of Burnout Syndrome among public elementary school teachers. Analise Psicol. 2019;37(2):135-46.), (2727. Figueiredo-Ferraz H, Gil-Monte PR, Grau-Alberola E. Prevalencia del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (Burnout) en una muestra de maestros portugueses. Aletheia. 2009;(29):6-15., o que limita a comparação da prevalência total da SB.

Quanto ao perfil da SB, a prevalência de docentes classificados como Perfil 1 (SB sem níveis altos de sentimento de culpa) nesta pesquisa foi de 9%. Na literatura, observa-se ampla variação dessa prevalência entre docentes da educação básica, variando de níveis maiores a próximos do verificado neste estudo: 30,6% no Rio Grande do Sul1414. Esteves-Ferreira AA; Santos DE, Rigolon RG. Avaliação comparativa dos sintomas da síndrome de burnout em professores de escolas públicas e privadas. Rev Bras Educ. 2014;19(59):987-1002., 21,4% no Uruguai2828. Silva MI, Garcia RC, González MDC, Ratto A. Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo y variables sociodemográficas en un grupo de maestras de Montevideo. Cienc Psicol. 2015;9(1):55-62., 14,2% em Portugal2727. Figueiredo-Ferraz H, Gil-Monte PR, Grau-Alberola E. Prevalencia del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (Burnout) en una muestra de maestros portugueses. Aletheia. 2009;(29):6-15. e 12% em outro estudo no Rio Grande do Sul1212. Borba BMR, Diehl L, Santos AS, Monteiro JK, Marin AH. Síndrome de Burnout em professores: estudo comparativo entre o ensino público e privado. Psicol Argum. 2015;33(80):270-81.. Essa diversidade também foi observada para o Perfil 2 (SB grave); estudos prévios encontraram tanto prevalências menores aos 4,8% verificados em Montes Claros (MG), como 1,4% no Uruguai2828. Silva MI, Garcia RC, González MDC, Ratto A. Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo y variables sociodemográficas en un grupo de maestras de Montevideo. Cienc Psicol. 2015;9(1):55-62.) e 1,9% em Portugal2727. Figueiredo-Ferraz H, Gil-Monte PR, Grau-Alberola E. Prevalencia del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (Burnout) en una muestra de maestros portugueses. Aletheia. 2009;(29):6-15., como prevalências maiores que o aqui reportado, com variação entre 5,6%2020. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Prevalence of burnout in a sample of Brazilian teachers. Eur J Psychiatry. 2011;25(4):205-12. e 18,3% no Rio Grande do Sul2323. Carlotto MS, Câmara, SG. Prevalence and predictors of Burnout Syndrome among public elementary school teachers. Analise Psicol. 2019;37(2):135-46.. Essa diversidade de prevalências parece refletir a diversidade de contextos laborais a que os docentes da educação básica estão submetidos. Nos estudos sobre a prevalência da SB, devem ser avaliadas as características do trabalho de professor, as especificidades das instituições de ensino e o nível de ensino no qual atuam, bem como as questões de regionalidade33. Carlotto MS. Síndrome de Burnout: diferenças segundo níveis de ensino. Psico. 2010;41(4):495-502..

Somando a isso, há também a dificuldade na padronização na aferição da síndrome, uma vez que existem diversos instrumentos e que quando há o uso de instrumento semelhante, pode ocorrer a adoção de diferentes pontos de corte. Além disso, alguns estudos apresentam dados em prevalência, enquanto outros estimam médias para a SB. Isso limita as comparações com maior número de estudos, dificuldades que também foram enfrentadas em outros estudos22. Gil-Monte PR. El síndrome de quemarse por el trabajo ("Burnout"): Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide; 2005.)- (44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.), (1717. Gil-Monte PR. Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo CESQT: Manual. Madrid: TEA; 2011..

As dimensões “desgaste psíquico” e “ilusão pelo trabalho” apresentaram as maiores prevalências da SB nesta investigação, com resultados superiores àqueles reportados em estudos prévios realizados no Chile2929. Gutiérrez RJ, Herrera CO, Núñez CT, Magnata EV. Síndrome de Burnout en una muestra de profesores/as de enseñanza básica de la ciudad de Copiapó. Summa Psicol UST. 2014;11(2):115-34., no Uruguai2828. Silva MI, Garcia RC, González MDC, Ratto A. Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo y variables sociodemográficas en un grupo de maestras de Montevideo. Cienc Psicol. 2015;9(1):55-62. e no Rio Grande do Sul1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.), (2020. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Prevalence of burnout in a sample of Brazilian teachers. Eur J Psychiatry. 2011;25(4):205-12.. O desgaste psíquico esteve associado ao conflito, à ambiguidade de papel e à iniquidade no trabalho em estudo com docentes no Sul do Brasil. Os autores apontaram que a redução desse desgaste poderia ser alcançada por meio do aumento da autonomia, do apoio social e da satisfação obtida com o trabalho docente1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27..

O modelo hierarquizado estimado revelou que, no nível distal (sociodemográfico), os docentes mais jovens mostraram maiores chances de apresentar a síndrome, o que está em consonância com estudos anteriores44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.), (1919. Batista JBV, Carlotto MS, Coutinho AS, Augusto LGS. Prevalência da Síndrome de Burnout e fatores sociodemográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):502-12.), (3030. Carlotto MS. Síndrome de Burnout em professores: prevalência e fatores associados. Psic Teor Pesq. 2011;27(4):403-10.. Estudo prévio concluiu que os profissionais mais jovens possuem um sentimento idealizado e carregado de falsas expectativas em relação à profissão, o que poderia desencadear maior frustração em relação à profissão2828. Silva MI, Garcia RC, González MDC, Ratto A. Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo y variables sociodemográficas en un grupo de maestras de Montevideo. Cienc Psicol. 2015;9(1):55-62.. Docentes jovens em início de carreira precisam se adaptar a seu novo papel e a sua nova realidade. Dessa forma, eles tendem a se envolver excessivamente com o trabalho na busca por autorrealização e possuem maiores tendências ao entusiasmo e altruísmo44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.. Além disso, podem se apresentar mais inconformados com a realidade laboral e com dificuldades para lidar com as diversas situações em sala de aula por insegurança, falta de experiência ou por formação inadequada. Em contrapartida, com o avanço da idade, a maturidade oferece aos docentes uma sensação de satisfação ou de adaptação profissional66. Levy GCTM, Nunes Sobrinho FP, Souza CAA. Síndrome de Burnout em professores da rede pública. Produção. 2009;19(3):458-65..

Os docentes sem filhos foram mais vulneráveis à ocorrência da SB neste estudo. Resultado semelhante foi encontrado com professores da região metropolitana de Porto Alegre (RS), pois acredita-se que a falta de experiência afetiva de ser pai e mãe possa ser um fator dificultador nas relações que exigem paciência3030. Carlotto MS. Síndrome de Burnout em professores: prevalência e fatores associados. Psic Teor Pesq. 2011;27(4):403-10.. Ademais, a relação entre a SB e os problemas da vida familiar pode influenciar o manejo em lidar com outras pessoas durante situações de crise3131. Goebel DK, Carlotto MS. Preditores sociodemográficos, laborais e psicossociais da Síndrome de Burnout em docentes de educação a distância. Av Psicol Latinoam. 2019;37(2):295-311..

No nível intermediário, o acometimento da SB apresentou maior prevalência entre os efetivos, assemelhando-se aos apresentados em estudos com docentes da região Nordeste do Brasil3232. Gomes AR, Montenegro N, Peixoto AMBC, Peixoto ARBC. Stress ocupacional no ensino: um estudo com professores dos 3º ciclo e ensino secundário. Psicol Soc. 2010;22(3):587-97. e em Januária, Norte de Minas, que apontaram os professores efetivos/efetivados com grau mais agudo da SB3333. Silva AF, Maria MFM, Lima CAG, Guedes IT, Pedreira KC, Silva DAS, et al. Fatores que prevalecem ao esgotamento profissional em professores. Cad Bras Ter Ocup. 2017;25(2):333-9.. Provavelmente esse achado seja justificado pelo contexto laboral docente precário66. Levy GCTM, Nunes Sobrinho FP, Souza CAA. Síndrome de Burnout em professores da rede pública. Produção. 2009;19(3):458-65.), (3434. Carlotto MS, Braun AC, Rodriguez SYS, Diehl L. Burnout em professores: diferença e análise de gênero. Contextos Clinic. 2014;7(1):86-93., marcado pela baixa remuneração, jornada de trabalho excessiva e desvalorização da classe profissional, que são agravadas pelo desinteresse e indisciplina dos alunos, pela violência por parte dos alunos, insegurança dentro e fora da escola2929. Gutiérrez RJ, Herrera CO, Núñez CT, Magnata EV. Síndrome de Burnout en una muestra de profesores/as de enseñanza básica de la ciudad de Copiapó. Summa Psicol UST. 2014;11(2):115-34. e pela falta de apoio social1010. Salgado Roa JÁ, Leria Dulcic FJ. Síndrome de burnout y calidad de vida profesional percibida según estilos de personalidad en profesores de educación primaria. CES Psicol. 2018;11(1):69-89.) e institucional77. Diehl L, Carlotto MS. Conhecimento de professores sobre a Síndrome de Burnout: processo, fatores de risco e consequências. Psicol Estud. 2014;19(4):741-52.), (3434. Carlotto MS, Braun AC, Rodriguez SYS, Diehl L. Burnout em professores: diferença e análise de gênero. Contextos Clinic. 2014;7(1):86-93.. Nesse sentido, é possível que a estabilidade profissional tenha um peso maior, pois nem mesmo a segurança do emprego garante a satisfação profissional3232. Gomes AR, Montenegro N, Peixoto AMBC, Peixoto ARBC. Stress ocupacional no ensino: um estudo com professores dos 3º ciclo e ensino secundário. Psicol Soc. 2010;22(3):587-97., o que gera sintomas de desgaste ocupacional e, consequentemente, uma qualidade de vida reduzida66. Levy GCTM, Nunes Sobrinho FP, Souza CAA. Síndrome de Burnout em professores da rede pública. Produção. 2009;19(3):458-65.), (3434. Carlotto MS, Braun AC, Rodriguez SYS, Diehl L. Burnout em professores: diferença e análise de gênero. Contextos Clinic. 2014;7(1):86-93.. Acrescenta-se, também, que há a possibilidade de uma maior pressão e ansiedade entre os docentes efetivos no que diz respeito ao cumprimento da agenda pedagógica, provavelmente por serem titulares do cargo e possuírem um vínculo com a comunidade escolar.

No nível proximal, após ajuste pelas variáveis dos níveis intermediário e distal, constatou-se que a insatisfação com o trabalho, o desejo de mudar de profissão e a falta de apoio da direção escolar estiveram significativamente associados à SB na classe docente pesquisada. Esses resultados corroboram outras pesquisas realizadas com a classe docente na Noruega3535. Skaalvik EM, Skaalvik S. Teacher job satisfaction and motivation to leave the teaching profession: Relations with school context, feeling of belonging, and emotional exhaustion. Teach Educ. 2011;27(6):1029-38. e na região Sul do Brasil44. Koga GKC, Melanda FN, Santos HG, Sant'Anna FL, González AD, Mesas AE, et al. Fatores associados a piores níveis na escala de Burnout em professores da educação básica. Cad Saude Colet. 2015;23(3):268-75.), (77. Diehl L, Carlotto MS. Conhecimento de professores sobre a Síndrome de Burnout: processo, fatores de risco e consequências. Psicol Estud. 2014;19(4):741-52.. A insatisfação no trabalho repercute em sentimentos psicoemocionais que afetam o estado de saúde do trabalhador, possibilitam maior fragilidade ao burnout2222. Garcia LP, Höfelmann DA, Facchini LA. Self-rated health and working conditions among workers from primary health care centers in Brazil. Cad Saude Publica. 2010;26(5):971-80. e levam o docente a ter um desencanto ou desejo de mudar de profissão1919. Batista JBV, Carlotto MS, Coutinho AS, Augusto LGS. Prevalência da Síndrome de Burnout e fatores sociodemográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):502-12.), (2020. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Prevalence of burnout in a sample of Brazilian teachers. Eur J Psychiatry. 2011;25(4):205-12.), (3333. Silva AF, Maria MFM, Lima CAG, Guedes IT, Pedreira KC, Silva DAS, et al. Fatores que prevalecem ao esgotamento profissional em professores. Cad Bras Ter Ocup. 2017;25(2):333-9.), (3434. Carlotto MS, Braun AC, Rodriguez SYS, Diehl L. Burnout em professores: diferença e análise de gênero. Contextos Clinic. 2014;7(1):86-93.. O burnout está intimamente relacionado às variáveis de contentamento e satisfação no trabalho, que podem variar de acordo com a organização e com as condições laborais, como apontado por estudo de revisão sistemática em que os investigados que apresentaram sintomas mais elevados de burnout foram aqueles que relataram menor satisfação no trabalho3636. Luz JG, Pessa SLR, Luz RP, Schenatto FJA. Implicações do ambiente, condições e organização do trabalho na saúde do professor: uma revisão sistemática. Cien Saude Colet. 2019;24(12):4621-32.. Já outra revisão sistemática que estudou a SB em médicos acrescentou que a maneira pela qual os profissionais enfrentam o estresse também se relaciona ao acometimento pela síndrome3737. Moreira HA, Souza KN, Yamaguchi MU. Síndrome de Burnout em médicos: uma revisão sistemática. Rev Bras Saude Ocup. 2018;43:e3..

Estudo com docentes no Rio Grande do Sul revelou que as mudanças significativas que ocorreram na carreira docente nos últimos anos, relacionadas especialmente à falta de apoio da direção escolar, isto é, à falta de suporte organizacional99. Figueroa AEJ, Gutiérrez MJJ, Celis ERM. Burnout, apoyo social y satisfacción laboral en docentes. Psicol Esc Educ. 2012;16(1):125-34.) e de políticas educacionais ineficazes, aumentaram as chances dos sintomas da síndrome em professores77. Diehl L, Carlotto MS. Conhecimento de professores sobre a Síndrome de Burnout: processo, fatores de risco e consequências. Psicol Estud. 2014;19(4):741-52.. Pesquisa desenvolvida em Uberlândia (MG) com professores da rede privada de ensino superior apontou que a SB percebida foi desencadeada principalmente pela falta de suporte organizacional nesse grupo de profissionais3838. Silva, SMF, Oliveira AF. Burnout em professores universitários do ensino particular. Psicol Esc Educ. 2019;23:e187785.. Portanto, professores que recebem apoio social de seus supervisores e colegas tendem a minimizar o sofrimento emocional e aumentar a sua autoestima. Isso ajuda a resolver seus problemas relacionados ao estresse e, consequentemente, melhora o sentimento de realização profissional3939. Carlotto MS, Câmara SG. Riscos psicossociais associados à síndrome de burnout em professores universitários. Av Psicol Latinoam. 2017;35(5):447-57..

Essas condições são mais prevalentes entre docentes da rede pública de ensino quando comparados aos docentes da rede particular99. Figueroa AEJ, Gutiérrez MJJ, Celis ERM. Burnout, apoyo social y satisfacción laboral en docentes. Psicol Esc Educ. 2012;16(1):125-34.), (1111. Tabeleão VP, Tomasi E; Neves SF. Qualidade de vida e esgotamento profissional entre docentes da rede pública de Ensino Médio e Fundamental no Sul do Brasil. Cad Saude Publica. 2011;27(12):2401-8.), (2828. Silva MI, Garcia RC, González MDC, Ratto A. Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo y variables sociodemográficas en un grupo de maestras de Montevideo. Cienc Psicol. 2015;9(1):55-62.) e são potencializadas devido ao desgaste físico e emocional gerado pelo estresse laboral recorrente1313. Carlotto, MS, Librelotto R, Pizzinato A, Barcinski M. Prevalência e fatores associados à Síndrome de Burnout nos professores de ensino especial. Analise Psicol. 2012;30(3):315-27.), (4040. Carlotto MS, Dias SRS, Batista JBV, Diehl L. O papel mediador da autoeficácia na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout em professores. Psico USF. 2015;20(1):13-23. que sofre influências não somente dos fatores individuais e predisponentes2626. Silva NR, Bolsoni-Silva AT, Loureiro SR. Burnout e depressão em professores do ensino fundamental: um estudo correlacional. Rev Bras Educ. 2018;23:e230048., mas também dos fatores organizacionais que incitam diretamente na insatisfação com o trabalho, o que torna a classe docente vulnerável ao acometimento pela SB3636. Luz JG, Pessa SLR, Luz RP, Schenatto FJA. Implicações do ambiente, condições e organização do trabalho na saúde do professor: uma revisão sistemática. Cien Saude Colet. 2019;24(12):4621-32..

O desgaste profissional não aparece repentinamente e as manifestações da SB são respostas aos agentes estressores do seu cotidiano laboral, que podem se dar por sinais e sintomas físicos, psíquicos, comportamentais ou defensivos e repercutir na produtividade na forma do absenteísmo e do aumento de licenças médicas, o que ocasiona grandes prejuízos para o sistema educacional1414. Esteves-Ferreira AA; Santos DE, Rigolon RG. Avaliação comparativa dos sintomas da síndrome de burnout em professores de escolas públicas e privadas. Rev Bras Educ. 2014;19(59):987-1002.), (1919. Batista JBV, Carlotto MS, Coutinho AS, Augusto LGS. Prevalência da Síndrome de Burnout e fatores sociodemográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(3):502-12..

Nesse contexto, os profissionais da educação possuem grandes desafios a enfrentar, pois, além de conviverem diariamente com situações conflitantes no âmbito escolar, é essencial que apresentem uma adaptação ao meio externo com base nos seus recursos pessoais, profissionais e sociais, desenvolvendo a cada dia a sua capacidade de resiliência, com o propósito de crescer pessoal e profissionalmente e, ao mesmo tempo, de encontrar satisfação no trabalho e bem-estar pessoal aliados ao compromisso contínuo com a profissão2222. Garcia LP, Höfelmann DA, Facchini LA. Self-rated health and working conditions among workers from primary health care centers in Brazil. Cad Saude Publica. 2010;26(5):971-80.), (2626. Silva NR, Bolsoni-Silva AT, Loureiro SR. Burnout e depressão em professores do ensino fundamental: um estudo correlacional. Rev Bras Educ. 2018;23:e230048..

Os resultados encontrados nesta investigação referem-se a uma escala de rastreamento de estudos epidemiológicos para os possíveis casos da SB, sendo necessária a realização de diagnósticos clínicos e de avaliação psicológica para descartar possíveis sintomas que podem interferir na atividade docente. Ainda assim, esses resultados expressam uma urgência de suporte aos docentes, pois os identificados com os sintomas da síndrome estão em exercício funcional, o que agrava seu quadro de saúde e, por conseguinte, compromete os diversos processos da área educacional1414. Esteves-Ferreira AA; Santos DE, Rigolon RG. Avaliação comparativa dos sintomas da síndrome de burnout em professores de escolas públicas e privadas. Rev Bras Educ. 2014;19(59):987-1002.), (2020. Gil-Monte PR, Carlotto MS, Câmara SG. Prevalence of burnout in a sample of Brazilian teachers. Eur J Psychiatry. 2011;25(4):205-12., uma vez que, apesar da SB constar nas leis trabalhistas brasileiras, seu desconhecimento por parte dos docentes e, até mesmo, dos profissionais de saúde dificulta o diagnóstico e retarda o adequado tratamento1414. Esteves-Ferreira AA; Santos DE, Rigolon RG. Avaliação comparativa dos sintomas da síndrome de burnout em professores de escolas públicas e privadas. Rev Bras Educ. 2014;19(59):987-1002..

O presente estudo apresenta como limitação o fato de ser transversal, o que impossibilita estabelecer relação causal. Ressalta-se que podem existir outros fatores dentro do contexto laboral e do âmbito individual, como o aprofundamento nas relações familiares/pessoais e a influência do tipo de organização da instituição de trabalho, que não foram contemplados nesta avaliação e que podem influenciar o desfecho da síndrome. O fato de terem sido excluídos os docentes com licenças médicas durante o período de coleta de dados pode ter subestimado a real prevalência da síndrome, tendo em vista que o motivo do seu afastamento pode estar relacionado com a SB. Entretanto, o estudo apresenta pontos fortes, como a amostra robusta, a variável dependente do estudo gerada a partir de um instrumento validado, a digitação em duplicata dos resultados e a auditoria do banco de dados, o que minimiza as possibilidades de vieses e confere maior confiabilidade aos resultados, ao modelo teórico e à análise hierarquizada.

Conclusão

A síndrome de burnout esteve presente em aproximadamente 14% dos docentes do ensino básico da rede estadual de ensino de Montes Claros (MG), associando-se aos seguintes fatores: docentes mais jovens, sem filhos, com vínculo empregatício estável, que referiram insatisfação com o trabalho, que desejaram mudar de profissão e que relataram incômodo com a falta de apoio da direção escolar. Observou-se que a insatisfação com o trabalho, o desejo de mudar de profissão e a falta de apoio da direção escolar estão fortemente associados à SB, o que corrobora a maioria dos estudos prévios. Assim, estar satisfeito e contente com o trabalho parece ser fator de proteção ao burnout.

É possível, por meio desses dados, refletir a situação atual da classe docente da rede pública estadual. Espera-se que os resultados deste estudo possam nortear as diretrizes de políticas públicas de prevenção e promoção da saúde ocupacional dos docentes, com vistas a estabelecer intervenções, com estratégias de enfrentamento sobre as variáveis laborais e psicossociais, de modo a prevenir a ocorrência da síndrome de burnout nessa categoria profissional.

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  • Os autores informam que este estudo não foi apresentado em evento científico.
  • Trabalho baseado na dissertação de mestrado de Tatiana Almeida de Magalhães, intitulada “Síndrome de Burnout em professores da rede pública de ensino de Montes Claros-MG: um estudo de base populacional”, defendida em 2017 no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (PPGCS/Unimontes).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    02 Jul 2018
  • Revisado
    30 Abr 2020
  • Aceito
    25 Maio 2020
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