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Quem semeia vento colhe tempestade? Microrrealidades socioambientais transformadas pelo turismo em São Miguel do Gostoso - RN

Resumo

Este texto apresenta a cidade turística de São Miguel do Gostoso, RN, a partir do viés teórico e metodológico da Micro-História. A proposta é destacar como as microrrealidades constroem importantes narrativas sobre o lugar. Para a fundamentação argumentativa, apresenta-se a Micro-História e como ela pode contribuir para a análise das transformações advindas do turismo. O percurso metodológico de construção da pesquisa pautou-se na observação direta participante com uso de entrevistas semiestruturadas e análise de películas. Neste artigo, realizamos um recorte com 16 pesquisados, de um universo de 52 atores, representados por: donos de escolas e/ou guarderias de esporte à vela; constituintes do poder público municipal; moradores integrantes de associações, ONGs e/ou comitês; representação religiosa; grupo de moradores com representatividade na história local. Por fim, as últimas considerações apontam para a indissociabilidade entre cultura e natureza percebidas na relação intrínseca do ambiente com a vida dos atores e a premência de pensarmos as microrrealidades para refletirmos sobre o turismo e os planejamentos de futuro.

Palavras-chave:
Turismo; Microrrealidades socioambientais; São Miguel do Gostoso; Micro História

Abstract

This study investigates the tourist city of São Miguel do Gostoso, from the theoretical and methodological viewpoint of Micro-History. The proposal is to highlight how micro-realities construct outstanding narratives about the place. For the argumentative foundation Micro-History is presented. This is the methodological route for the research construction that gave rise to this study. The methodological course of construction of the research was based on direct participant observation using semi structured interviews and analysis of films In this article, we made use of a sample with 16 subjects, out of a universe with 52 participants, here represented by: owners of sailing boats schools or marinas; municipal government members; dwellers that are members of associations, NGOs and/or committees; religious representations, and dwellers representing local history. Therefore, our conclusions point to an inextricable relationship between culture and nature, perceived within the intrinsic relation of environment and participants’ lives, as well as the urgency to think over micro-realities, so that we can reflect on tourism and future developments.

Keywords:
Tourism; Socio-environmental micro-realities; São Miguel do Gostoso; Micro-History

Resumen

Este artículo presenta la ciudad turística de São Miguel do Gostoso (RN), desde lo sesgo teórico y metodológico de la Micro-História. La propuesta es destacar como las microrrealidades construyen importantes narrativas sobre el lugar, constituyéndose como fuentes alternativas a los discursos turísticos y empresariales. Lo mismo tiempo, lo texto cumple lo papel político al destacar los valores de estés relatos para construcción de lo saber científico y de las políticas públicas en diferentes escalas. Para fundamentación argumentativa es presentada la Micro-História, lo recorrido metodológico de construcción de la investigación que se originó este estudio. El camino metodológico de construcción de la investigación fue pautado en la observación directa participante y con el uso de entrevistas semiestructuradas y análisis de películas. Este artículo realizamos un recorte con 16 individuos, de un universo con 52 investigados, presentados por empresarios de escuelas o guarderias de deportes de vela; lo poder público municipal; habitantes locales que integran las asociaciones, ONG`s o comités; representación religiosa; moradores con alguna representatividad en la historia local. Por fin, las últimas consideraciones apuntan para una indissociabilidad cultura y naturaleza percibidas en la relación intrínseca de lo ambiente con la vida dos pesquisados e la urgencia que pensemos las microrrealidades para reflejemos sobre el turismo y los planeamientos del futuro.

Palavras clave:
Turismo; Microrealidades socioambientales; São Miguel do Gostoso; Micro Historia

1 INTRODUÇÃO

O caráter multifacetado e ambíguo do Turismo tem possibilitado inúmeras inter-relações e novas perspectivas de interpretações. Esta pesquisa aliou abordagens teóricas e metodológicas da Micro-História, para explicar o que denominamos de microrrealidades de uma cidade em processo de transformação causada pelo turismo.

A singularidade deste texto é a busca pela aplicação dos fundamentos da Micro-História, através do seu quadrante basilar, para aprofundar o estudo do Turismo. Parte-se de pontos crucias, como: uma história voltada para pessoas comuns, e assim vista de baixo, um formato de linguagem que se aproxime da literatura, um aprofundamento exaustivo das fontes e um certo olhar de investigador policial (percebendo indícios) para entender as falas, os olhares, a mudez e o comportamento dos indivíduos (Barriera,1999Barriera, D. G. (1999). Las babas de la Microhistoria: del mundo seguro al universo de lo posible. Prohistoria: Historia, Politicas de la Historia. 3, 177-186.; Levi,1992Levi, G. (1992). Sobre a Micro-História. In: Burke, P. (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo, Brasil: UNESP.).

A abordagem micro-histórica pode agregar uma nova dimensão aos estudos turísticos, fugindo, assim, dos padrões estatísticos e massivos, pondo o ser humano em sua individualidade e, ao mesmo tempo, coletividade, no palco das discussões do fazer turismo. Com isso em mente, a presente pesquisa aliou a literatura científica em Turismo e História à literatura não científica e ao uso de películas cinematográficas, para relacionar facetas intrigantes de uma população frente às transformações socioambientais que o turismo causou no seu dia a dia.

Narrada pelos discursos turísticos, como “onde o vento faz a curva”, a cidade por nós investigada foi descoberta pelo turismo, por suas belezas naturais e devido aos fortes ventos que sopram na região ( adequados à prática de esportes radicais como kitesurf e windurf), ventos que trouxeram viajantes, aventureiros, turistas, investidores que semearam profundas transformações nesta população, que quase dobrou de tamanho em 20 anos.

As pesquisas que envolvem localidades praieiras e a influência do turismo no cotidiano das comunidades são consolidadas por diversos estudos nacionais e internacionais realizados nas últimas décadas (Lorena Rodiles, López Guevara & López Hernández, 2015Lorena Rodiles, S.; López Guevara, V. & López Hernández, S. (2015). Pesca tradicional y desarrollo turístico en Bahías de Huatulco. Una lectura desde la historia oral de los pescadores locales. Investigaciones turísticas, 10, julio/diciembre, 150-169. https://doi.org/10.14198/INTURI2015.10.07
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; Ramón Cardona, 2014Ramón Cardona, J. (2014). Tipos de oferta turística y actitudes de los residentes: el caso de Ibiza. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. São Paulo, 8(1), Jan/abr, 3-22 http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.704
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; Toneva, 2017Toneva, P.I. (2017). Studying the impacts of event tourism on the host communities in Bulgaria. Economic Processes Management: Internacional Scientfic Journal. 1.; Vieira & Araújo, 2015Vieira, A. F. & Araújo, J. L .L (2015). Turismo e sustentabilidade ambiental na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia (PI). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. São Paulo. 9(3), set/dez, 519-536 http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v9i3.994
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). O diferencial deste trabalho é a análise microhistórica relacionada ao turismo em uma comunidade de praia. Um levantamento em quinze periódicos reconhecidos na área de Turismo (em âmbito nacional e internacional), com qualis entre A1 e B4, registrou apenas um estudo com Micro- História e Turismo entre 2010 e 2019. Desta forma, reforça-se aqui, o caráter inovador de buscar na microanálise, respaldo para entender as transformações um município brasileiro pelo turismo.

Nosso objetivo foi identificar e analisar as transformações socioambientais ocorridas no município ao longo de duas décadas, provenientes da atividade turística e de outros fatores pós emancipação do município. O trabalho que segue é fruto parcial de uma pesquisa de doutoramento realizado entre 2014 e 2017, no município de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte (RN), cerca de 100 km ao norte da capital Natal.

2 MICRO-HISTÓRIA: UM FRAGMENTO QUE REVELA O TODO?

A mim, como dramaturgo, o que interessa é que Branca existiu, foi perseguida e virou lenda. A verdade histórica, em si, no caso, é secundária; o que importa é a verdade humana e as ilações que dela possamos tirar. Se isto não aconteceu exatamente como aqui vai contado, podia ter acontecido, pois sucedeu com outras pessoas, nas mesmas circunstâncias, na mesma época e em outras épocas. E continua a acontecer (Gomes, 2002Gomes, D. (2002). O santo inquérito. (21ed). Rio de Janeiro, Brasil: Ediouro., p.13).

Na obra “O Santo Inquérito”, do dramaturgo Dias Gomes, a história da perseguição de Branca Dias pelo Padre Bernardo, na Paraíba do século XVIII, revela os bastidores da Santa Inquisição. A fogueira impetrada à personagem Branca, enquadrada nos autos eclesiásticos e culpada de heresia, é um microcosmo de uma realidade. Uma mulher comum, à frente do seu tempo, impondo convicções com ingenuidade de comportamento e dominada pela intransigência representada pela figura do padre católico. “Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar, nem mesmo em troca da liberdade, nem mesmo em troca de sol” (Gomes, 2002, p. 100).

A fogueira que ceifou Branca Dias é uma micro-história, um fragmento de tantas outras contadas ou não contadas. Esta micro-história, somada a outras, esclarece as microrrealidades empoeiradas pelo tempo, guardadas na gaveta, mas que evidenciam realidades como a da era da Inquisição. Se Branca Dias, de fato, existiu ou não, não é a questão. O fato é que a narrativa do texto desnuda a luta da hierarquia constituída, impondo um dogma sobre pessoas comuns, afligidas pela defesa da liberdade. A história de Menocchio, de Ginzburg (2006Ginzburg, C. (2006). O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo, Brasil: Companhia das letras.), reforça a discussão sobre Micro-História e microrrealidades iniciada com Branca Dias. A abordagem micro-histórica realça o protagonismo das pessoas comuns:

A história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de que sempre se concentrando nos grandes feitos ou grandes homens, estadistas, generais e ocasionalmente eclesiásticos, ao resto da humanidade foi designado um papel secundário no drama na história (Burke, 1992Burke, P. (org.) (1992). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo, Brasil: UNESP., p.12).

O que são microrrealidades? São histórias de pessoas comuns que traduzem e elucidam aspectos microscópicos de uma realidade. A pequenez dessa realidade não a desqualifica, pelo contrário, é tecida diariamente ao longo dos anos com ricos conteúdos que não são contemplados pelas lentes macroscópicas que evidenciam os fenômenos. Deste modo, “o normal e o cotidiano tornam-se assim protagonistas da história, e situações singulares assumem a intensidade dos pontos de vista pelos quais se podem explicar os funcionamentos sociais complexos” (Levi, 2009Levi, G. (2009). Prefácio. In: Oliveira, M. R. & Almeida, C. M. C. (Orgs). Exercícios de micro-história. Rio de Janeiro, Brasil: FGV., p.15)

Na perspectiva de Zuluaga Ramírez (2006bZuluaga Ramírez, F. U. (2006b). El paraguas: las formas de hacer historia local. 1ª. parte. Revista historia y espacio. Vol.2, n.26. 109-133.), a publicação em 1959 do livro “Pickett’s Charge: A microhistory of the final attack at Gettysburg, July 3, 1863”, por George Stewart, é um marco temporal para a Micro-História. Este termo aparece pela primeira vez nas investigações de Stewart (1959), mas, possivelmente, a obra de maior impacto tenha sido a do historiador Luiz Gonzalez y Gonzalez, em 1968, “Pueblo in vito: Microhistoria de San Jose de Garcia”. Com Gonzalez y Gonzalez, já se configurava, então, uma contribuição latino-americana para os estudos de Micro-História (Zuluaga Ramírez, 2006b).

Segundo Lima Filho (2006Lima Filho, H. E. (2006). A micro-história italiana: escalas, indícios e singularidades. Rio de Janeiro Brasil: Civilização brasileira.), os anos 1960 foram profícuos quanto ao avanço do debate contemporâneo da História na Itália pós-guerra. Nomes de historiadores atuantes neste país, na década de 1960, possibilitaram o surgimento da revista Quaderni Storici dele Marche (entre 1965 e 1966). Em 1976, o pesquisador italiano Carlo Ginzburg publica “O queijo e os vermes”. Na literatura internacional, é quase unânime a citação de sua obra como um texto marcante como pilar na discussão sobre Micro-História. Tanto Carlo Ginzburg, quanto Giovanni Levi e Edoardo Grendi, todos eles pesquisadores e historiadores italianos, fecundaram o termo Micro-História a partir da segunda metade dos anos 1970 e cumpriram papéis como protagonistas fundamentais nesse campo de estudo (Lima Filho, 2006). A relevância da análise é assim descrita:

Cuando, enfocando la lente a un nivel micro, la historia local nos abre las puertas hacia la comprensión de la singularidad de las sociedades humanas se está, de hecho, haciendo una elección sobre la forma de acceder al conocimiento de la realidad social, permitiendo penetrar en el mundo de los sentimientos, las emociones, las valoraciones, las realidades psicológicas profundas y demás motivaciones de los actores que analizamos (Kindgard, 2011Kindgard, A. M. (2011). Sobre historia regional y microhistoria italiana: Diálogos a propósito de una experiencia política local en la argentina de 1930. Historelo. revista de Historia Regional y Local. 3(5), jan/junio, 113-146. https://doi.org/10.15446/historelo.v3n5.20654
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, p.126).

As microrrealidades de um povo constroem sua Micro-História. Personagens e roteiros fora dos holofotes, que, cotidianamente, respiram e dão a vida à gota d’agua. Além do aquário, do pequeno mundo onde esses atores transitam e se relacionam, existem outras gotas d’agua nesse oceano de existências transformadas. “A partir de la comprensión de la singularidad de una comunidad se puede descubrir su parecido con otras comunidades y con la sociedad que la engloba” (Arias, 2006Arias, P. (2006). Luís Gonzalez: Microhistória e história regional. Desacatos. 21, 177-186. mayo/agosto., p.182).

Outra particularidade da abordagem micro-histórica é o paradigma indiciário, que pode ser percebido no filme argentino “El secreto de sus ojos” (2009)1 1 Filme argentino, coproduzido com a Espanha em 2009. Inspirado na obra “La pregunta de sus ojos” de Eduardo Alfredo Sacheri. Ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, dentre outros prêmios. , dirigido por Juan José Campanella. A personagem Benjamin Espósito (interpretada pelo ator Ricardo Darín) é um servidor aposentado da justiça penal argentina. Após um homicídio de uma moça, abusada sexualmente, Espósito consegue identificar, folheando um álbum de fotografias, um olhar estranho de um homem que admirava constantemente a vítima. Por esse indício (visto por outros e não identificado), inicia-se a investigação. “Os olhos falam demais, melhor que se calem” (El secreto de sus ojos, 2009). É esse mesmo caráter indiciário que a Micro-História revela gradativamente. E, assim, um fato despercebido pela grande maioria delata o que se esconde atrás do biombo. “Quando você vê as coisas de outro ângulo, isto faz olhar sua própria vida” (El secreto de sus ojos, 2009).

O último aspecto relevante para tratarmos de Micro-História é sua forma inovadora de relatar uma investigação.

O conteúdo de um texto, cedo aprende o historiador, não pode se resumir à superfície de sua mensagem. Há os entreditos, os interditos, o vocábulo revelador [...] o texto costuma falar através dos seus detalhes mais insignificantes, como um criminoso que fala através das pistas que deixam escapar descuidadamente (Barros, 2013bBarros, J. D`A. (2013b). O campo da história: especialidades e abordagens. (9ed). Petrópolis: Vozes., p.140)

A narrativa na Micro-História foge do padrão de um convencionalismo científico. Perseguições religiosas, falsas identidades, crimes e situações que escapariam de um estudo científico ganham nela um status de análise e interpretação. Personagens que, a princípio, parecem insignificantes trazem à tona um rico contexto sociocultural, capaz de sintetizar um período histórico, um comportamento social, uma crença arraigada. Assim eles são retratados: “Suas vidas e suas interações com um amplo contexto social surgem como chaves de entendimento de ângulos ignorados deste contexto, como se fossem fachos de luz, capazes de alcançar lugares escuros de uma sala que a luminária do teto não alcança” (Fausto, 2009Fausto, B. (2009). O crime do restaurante chinês: carnaval, futebol e justiça na São Paulo dos anos 1930. São Paulo, Brasil: Companhia das letras., p.10). A narrativa na Micro-História é diferente, aproxima-se de uma ficção, da poesia, da crônica, da literatura policial, das biografias, leva em consideração registros de inquéritos, das minúcias, incoerências de depoimentos, “o detalhe e o acidental” (Barros, 2013bBarros, J. D`A. (2013b). O campo da história: especialidades e abordagens. (9ed). Petrópolis: Vozes., p. 142). Os indícios encontram-se em todo lugar: um olhar, palavras soltas aparentemente sem sentido, pormenores negligenciados. Esse “paradigma indiciário”, levado por Ginzburg (2006Ginzburg, C. (2006). O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo, Brasil: Companhia das letras.) e reapresentado por Barros (2007), explicita a possibilidade de trabalhar os indícios e fugir da obviedade.

A tarefa do historiador, certamente, não será a de julgar um crime, mas avaliar as representações, expectativas, motivações produtoras de versões diferenciadas, condições de produção dessas versões, além de captar a partir da documentação detalhes que serão reveladores do cotidiano, do imaginário, das peculiaridades de um grupo social, das suas resistências, das suas práticas e modos de vida (Barros, 2007Barros, J. D`A. (2007). Sobre a feitura da Micro-História. Opsis. 7(9), 167-185. https://doi.org/10.5216/o.v7i9.9336
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, p.182).

A Micro-História também respeita o estilo do autor, sua forma de contar a história que escolheu. Segundo Levi (1992Levi, G. (1992). Sobre a Micro-História. In: Burke, P. (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo, Brasil: UNESP.), duas características são importantes na narrativa da Micro-História: a primeira é fugir da “generalização e formalização quantitativa” (id, ibid), que, segundo o historiador, falseiam e distorcem a realidade da sociedade. Outra característica é “fugir de uma forma autoritária de discurso” (id, ibid) e fazer o leitor participar da construção. “Na Micro-História, ao contrário, o ponto de vista do pesquisador torna-se uma parte intrínseca do relato” (Levi, 1992, p.153). Essa liberdade da escrita é assim evidenciada:

En esta corriente de la microhistoria donde es más notorio el papel de la narrativa en su función argumentativa y en la capacitación de los elementos propios del mundo estudiado para construir el relato histórico. Cada autor permite apreciar formas claras de construcción del relato con intencionalidad de dejar en claro la rigurosidad en el análisis de los textos y los hechos para que su relato no pierda la condición de histórico y que, simultáneamente la argumentación, la interpretación valorativa y la preocupación por el lector, den como resultado textos atractivos (Zuluaga Ramírez, 2006bZuluaga Ramírez, F. U. (2006b). El paraguas: las formas de hacer historia local. 1ª. parte. Revista historia y espacio. Vol.2, n.26. 109-133., p.124).

A Micro-História abre um portal de possibilidades de análise, uma vez que foge da rigidez de alguns métodos de investigação. Barros (2007Barros, J. D`A. (2007). Sobre a feitura da Micro-História. Opsis. 7(9), 167-185. https://doi.org/10.5216/o.v7i9.9336
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) chama atenção para as similaridades de um investigador policial ou de um psicanalista, para adentrar em questões, que segundo ele, abundam na literatura. A arte de decifrar pormenores, ater-se a detalhes e enxergar acima dos ombros do inquisidor (Ginzburg, 2006Ginzburg, C. (2006). O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo, Brasil: Companhia das letras.) retratados em livros de mistério e policiais de Arthur Conan Doyle, Eduardo Sacheri ou Ágatha Christie, por exemplo, podem ajudar o investigador científico nos esquadrinhamentos de um objeto de estudo. Essa percepção apurada aparece com maestria em “O queijo e os vermes”, de Ginzburg (2006).

3 PERCURSO METODOLÓGICO

Inspirado tanto por Menocchio (Ginzburg, 2006Ginzburg, C. (2006). O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo, Brasil: Companhia das letras.) como por Espósito (El secreto de sus ojos, 2009), segundo os quais pessoas comuns e visões minuciosas do mundo trazem indícios do ambiente que passam despercebidos pela maioria dos envolvidos, designamos a Micro-História com um dos pilares de investigação. Tratamos também com pessoas comuns, com suas pequenas realidades por vezes pormenorizadas pela história, mas que reproduzem um mundo peculiar repleto de memórias, vivências e experiências. “La pretensión de construir universos a partir de fragmentos de realidad” (Zuluaga Ramírez, 2006, p.8).

A intenção da investigação não foi a comunidade em si, mas as possibilidades de microrrealidades: “o olhar micro-historiográfico necessita desta análise intensiva, incisiva, atenta aos pequenos pormenores como às grandes conexões” (Barros, 2007Barros, J. D`A. (2007). Sobre a feitura da Micro-História. Opsis. 7(9), 167-185. https://doi.org/10.5216/o.v7i9.9336
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, p.184). Essa comunidade está repleta de eventos, ocorrências e dilemas que incidem sobrem suas realidades, por isso a Micro-História fundamenta um dos pilares metodológicos, devido à sua adequação aos nossos objetivos.

São Miguel do Gostoso possui 26 distritos e uma considerável extensão de praia, indo do município de Touros (RN) ao sul, até o município de Pedra Grande (RN) ao norte. As praias do Distrito Sede são: Maceió, Xêpa2 2 Segundo depoimento, era o local onde os soldados do pelotão do exército acampados da Segunda Guerra faziam suas refeições. A população local era convidada a participar da Xêpa (horário da refeição). Cardeiro3 3 Cardeiro é um tipo de cacto de grande porte, muito comum na região. e Ponta do Santo Cristo, no sentido norte-sul. A área de praia de todo o município de São Miguel do Gostoso (RN) corresponde a 24 km de extensão. As praias de uso compartilhado entre pescadores artesanais e praticantes de kite surf e wind surf se localizam no Distrito Sede, destacadas na Figura 1.

Figura 1
Trecho de orla de São Miguel do Gostoso

Determinamos o distrito Sede como nosso recorte pelo fato de ser o único urbano, onde estão concentrados os atrativos e equipamentos turísticos, órgãos municipais e associações, além da maior parcela populacional.

Entre o fim do segundo semestre de 2014 e o segundo semestre de 2016, foram pesquisados 52 atores em seis imersões de campo. Os atores da pesquisa foram donos de escolas e/ou guarderias de esporte à vela; constituintes do poder público municipal; moradores integrantes de associações, organizações não governamentais e/ou comitês; representação religiosa; grupo de moradores com representatividade na história local. No presente artigo, realizamos um recorte com 16 pesquisados.

Os dezesseis atores selecionados foram escolhidos dentro de um grupo de pesquisados que realizaram alguma ação socioambiental na cidade, e sua história confunde-se com a própria história do município. Esse grupo é formado por representantes de Organizações não governamentais (ONGs), representação religiosa, moradores nascidos na localidade que atuam ou atuaram em movimentos socioambientais, moradores não nascidos no município, mas que participam ou participaram de ações socioambientais e integrantes do trade turístico.

Optou-se por entrevistas semiestruturadas, com consentimento formal, gravadas em áudio. “O objetivo da entrevista é compreender as perspectivas e experiências dos entrevistados” (Marconi & Lakatos, 2011Marconi, M. de A. & Lakatos, E. M. (2011). Metodologia científica. (6ed(. São Paulo, Brasil: Atlas., p.281). Dentro do roteiro pré-estabelecido, limitou-se ao número de 15 questões (ou tópicos) para cada entrevistado, reforçando o modelo de entrevista despadronizada modalidade focal.

Padronizamos os entrevistados por números, visto que geraria maior amplitude de sujeitos do que o uso de letras. Em três momentos da coleta de dados, 2 sujeitos foram entrevistados simultaneamente. Nesse caso, elegemos usar o mesmo número seguido das letras A e B (29A e 29B, por exemplo). Importante esclarecer que o número de cada entrevistado seguiu a sequência das entrevistas agendadas, portanto, eles não categorizam os grupos.

Além das entrevistas, decidimos pela observação direta participante na intencionalidade de obter informações sobre o fenômeno (Malhotra, 2012Malhotra, N. (2012). Pesquisa de marketing. (6ed). Porto Alegre, Brasil: Bookman.). O maior desafio da observação participante foi, sem dúvida, inteirar sem interferir, participar do cotidiano da cidade sem emitir opiniões sobre o que se observava, por meio de comprometimento e ética com a pesquisa cientifica, sem assumir posicionamentos políticos ou partidários, entender o funcionamento do microssistema sob diversas perspectivas e averiguar o não dito verbalmente, mas projetado além das palavras. Somado a isso, complementa Barros (2013bBarros, J. D`A. (2013b). O campo da história: especialidades e abordagens. (9ed). Petrópolis: Vozes., p.177): “O olhar micro-historiográfico necessita desta análise intensiva, incisiva, atenta aos pequenos pormenores como às grandes conexões”.

Na observação participante, o pesquisador insere-se na vida da comunidade, vivenciando seu dia a dia e participando das atividades rotineiras da cidade (Gil, 2014Gil, A. C. (2014). Métodos e técnicas de pesquisa social. (6ed). São Paulo, Brasil: Atlas.). Além de que exige-se um período mais prolongado na imersão de campo, contato mais intenso com os sujeitos e com os contextos (Flick, 2009Flick, U. (2009). Introdução à pesquisa qualitativa. (3ed). Porto Alegre, Brasil: Artmed.).

Tanto os moradores nascidos (categorizados por N) ou não nascidos na cidade (categorizados por Ñ), foram escolhidos por meio de uma amostragem não probabilística, do tipo bola de neve. Zikmund (2006Zikmund, W. G. (2006). Princípios da pesquisa de marketing. (2ed.). São Paulo, Brasil: Pioneira Thomson Learning.) esclarece que, na amostragem bola de neve, os membros da população são indicados por outros respondentes, o que é reforçado por Malhotra (2012Malhotra, N. (2012). Pesquisa de marketing. (6ed). Porto Alegre, Brasil: Bookman.): “escolhe-se um grupo inicial de entrevistados geralmente de forma aleatória. Após serem entrevistados, solicita-se que indiquem outros que pertençam à população-alvo de interesse” (Malhotra, 2012, p.278). Por que a bola de neve? A indicação dos nomes referenciais foi o melhor caminho para o afunilamento das entrevistas, numa cidade que a população na sua totalidade flutua no patamar dos oito mil habitantes. Partiu-se um de nome de um morador, que recorrentemente era citado nas pré-visitas ao município. Ele foi o primeiro entrevistado. Além disso, esses nomes foram validados pelo recurso fílmico, visto que as mesmas pessoas citadas também apareciam nas películas.

Foram utilizadas informações de dados visuais provenientes de duas películas, para entender alguns componentes do mosaico das microrrealidades do município. O primeiro documentário, produzido pelos estúdios Jura Films na Suíça, por Lucienne Lanaz, intitula-se: “Dona Anna: Des soins de sante primaires au nord est du Bresil”, de 2003Lanaz, L. (dir. e prod.) (2003) Dona Anna: Des soins de santé primaires au nord-est du Brésil. [DVD] Grandval Suiça: Fundation Serra do Mel & Jura Films. O outro documentário consultado foi o do cineasta Eugenio Puppo, chamado “São Miguel do Gostoso”, de 2011Puppo, E. (prod. e dir.) (2011). São Miguel do Gostoso [DVD]. São Paulo, Brasil: Heco.. A primeira película trata da trajetória da enfermeira suíça Anne Louise Raboud, no então distrito de São Miguel e seu legado deixado na cidade durante décadas de atividades relacionadas à educação ambiental, cidadania e resgate das raízes culturais. O outro filme evidencia as transformações mais recentes do município, como o turismo, a especulação imobiliária, a memória, a cultura e seus marcos simbólicos. Os dois filmes trazem entrevistas, imagens do município em uma perspectiva temporal de 10 anos entre um e outro.

A abordagem fílmica inspirou-se na abordagem qualitativa de Denzin (2004) e Flick (2009Flick, U. (2009). Introdução à pesquisa qualitativa. (3ed). Porto Alegre, Brasil: Artmed.), de que o cinema cria novos caminhos de interpretação e representação da realidade (Denzin, 2004). A análise do cinema documentário é defendida pelo autor como um campo de múltiplas experiências, um misto entre realidade e construção emotiva da linguagem. “The real, or the slice of reality that is captured, can never be reproduced, for what is represented can only occur one” (Denzin, 2004, p. 240). Já Flick (2009), assim explana sobre o uso fílmico:

Comparados às entrevistas, eles fornecem o componente não-verbal dos eventos e das práticas, que, de outra maneira, apenas poderiam ser documentados em protocolo de contexto. As situações observadas são efêmeras, ao passo que a gravação dos eventos com a utilização de mídias permite o acesso repetido a esses eventos, podendo-se transpor as limitações da percepção e da documentação característicos da observação. (Flick, 2009Flick, U. (2009). Introdução à pesquisa qualitativa. (3ed). Porto Alegre, Brasil: Artmed., p.255)

Adotou-se as quatro orientações de análise fílmica documental de Denzin (2004). Primeiro tratar o contexto visual como descrição de um fenômeno; segundo que o registro apresenta afirmações da verdade sobre o mundo e os eventos que nele ocorrem; terceiro de que o recurso possibilita acesso a análise dos conteúdos, dos diálogos e dos detalhes; por último, que esses leituras validarão as afirmações de verdade que o filme faz sobre o real.

Por fim, um dos fatores estimulantes pelo uso das películas, foi a ênfase que Denzin (2004) deu a estrutura microanalítica fílmica, orientando passo a passo como proceder, valorar e analisar as partes constituintes do recurso. Entende-se também que o documentário é um recorte estético, técnico e emotivo de quem o produz.

4 TRANSFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS: AS PESSOAS, O LIXO, A ÁGUA E O MAR

Para viver numa cidade como essa é preciso três coisas: Não criticar: Se você criticar é inimigo. Não fazer nada, porque se você fizer alguma coisa gera ciúme. E não elogiar. Se você elogiar você é babaca, um puxa-saco... é exatamente isso! (Depoimento 3 Ñ)

A interação entre visitantes e residentes afloram nos estudos em Turismo, mas as abordagem diferentes se completam pra entender ora a tipologia de turismo (Ramón Cardona, 2014Ramón Cardona, J. (2014). Tipos de oferta turística y actitudes de los residentes: el caso de Ibiza. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. São Paulo, 8(1), Jan/abr, 3-22 http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.704
http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.704...
), ora a relação com pescadores locais (Lorena Rodiles et al, 2015Lorena Rodiles, S.; López Guevara, V. & López Hernández, S. (2015). Pesca tradicional y desarrollo turístico en Bahías de Huatulco. Una lectura desde la historia oral de los pescadores locales. Investigaciones turísticas, 10, julio/diciembre, 150-169. https://doi.org/10.14198/INTURI2015.10.07
https://doi.org/10.14198/INTURI2015.10.0...
) ou os impactos econômicos da atividade na vida dos residentes (Toneva, 2017Toneva, P.I. (2017). Studying the impacts of event tourism on the host communities in Bulgaria. Economic Processes Management: Internacional Scientfic Journal. 1.). Aqui, partimos da microanálise para entender as transformações socioambientais do município.

A história do município de São Miguel do Gostoso pode ser dividida em três fases. Uma antes de 1993, quando era distrito de Touros (RN). A segunda quando se emancipou (julho de 1993), e a terceira, na primeira metade dos anos 2000, quando o turismo se estabeleceu na cidade, propiciado principalmente pelos esportes náuticos.

A cidade de São Miguel do Gostoso carrega, na sua história, uma herança da enfermeira suíça Anna Louise Raboud, que, ao longo de duas décadas (iniciada nos princípios dos anos 1990), realizou um trabalho de comprometimento com a comunidade, quanto às questões de saúde, identidade cultural, saneamento e lixo. Atualmente Anna Raboud não mora mais em Gostoso, apesar de ter um imóvel na Praia do Santo Cristo, mas retorna à cidade todos os anos no período de veraneio. Nas entrevistas realizadas, seu nome aparece constantemente como referência de educação ambiental da população. “Ela fazia mutirões gigantescos para a limpeza da praia (...) ela influenciou muito aqui (...) ela trabalhava de voluntária nessa parte de saneamento básico” (Depoimento 5 N).

Anna Raboud é a prática do que se conhece na teoria do movimento social. Não é só movimento, é ação. Anna Raboud era a pessoa da ação (...) pode ir em qualquer outra cidade da região e você vai encontrar córrego, esgoto no meio-fio (...) aqui você não vai encontrar por causa de Anna Raboud, que dizia assim: você vai fazer sua fossa no quintal porque é sua responsabilidade (Depoimento 30 Ñ).

Anna Raboud não veio para São Miguel do Gostoso pelo turismo, veio em prol de um projeto socioambiental. Seu trabalho para a saúde do município envolveu ações, como a vacinação, educação sexual, higiene pessoal e, principalmente, com os resíduos produzidos (Dona Anna, 2003). Para um dos entrevistados, poucas pessoas foram tão cuidadosas com o município quanto Leonardo Godoy e Anna Raboud. “Anna Raboud já era uma gringa, uma gringa que tava fazendo tudo” (Depoimento 27 Ñ). Embora considerados “estrangeiros” e “alienígenas” (Depoimento 21 Ñ), esses dois personagens mexeram estruturalmente com aspectos sociais, ambientais e políticos da cidade.

Nós temos uma pessoa chamada Anna Raboud (...) foi ela que mudou esse hábito de como se coletar o lixo, como desfazer do lixo... ela mobilizou a população, ela sempre fazia mutirões, conscientizava as crianças na época e foi educando toda a comunidade em relação à limpeza (Depoimento 25 N).

Segundo o levantamento realizado nas imersões de campo, antes de Anna Raboud, não havia coleta de lixo, e os moradores agrupavam seus resíduos no quintal de suas casas, no monturo4 4 Era considerado monturo o lixo acumulado nos quintais das casas, que normalmente era enterrado e/ou queimado. . Para os moradores, São Miguel do Gostoso é uma cidade limpa porque isso foi sementado no cidadão. “São Miguel do Gostoso é uma cidade limpa, se comparada com outras da região” (Depoimento 33 Ñ). Segundo o entrevistado 33 Ñ, o papel da suíça Anna Raboud foi determinante para essa conscientização, formação e sensibilização dos indivíduos. Para ele, o legado que ela deixou é comparado a “ouro, diamante”. Dois moradores assim definiram o trabalho de Raboud “Para mim ela foi uma figura muito importante para o desenvolvimento de São Miguel do Gostoso... quanto ao lixo e à saúde” (Depoimento 32 N);

Recorrentemente, o nome da enfermeira suíça vem à tona: “Foi ela quem ajudou a educar as pessoas, a como lidar com o lixo, com as praias, contribuiu muito com isso (...) eu acredito que São Miguel aprendeu muito com ela (...) ela passou mais de vinte anos aqui” (Depoimento 1N). O trabalho desenvolvido nesse período (anos 1990 e anos 2000) pode ser visto até os dias atuais, conforme a Figura 2. A semente plantada pela enfermeira resultou na criação de uma ONG, a ASDEGE.

Passou por aqui uma senhora que trabalhou a questão da consciência ambiental das pessoas, dos nativos, a questão do lixo, a questão do saneamento (...) O lixo era jogado na rua, o esgoto era para a rua, hoje em dia não tem mais isso, graças ao trabalho de uma estrangeira. Todo mundo fala dela com muito respeito, que ela abriu e alertou muita gente pra essa questão ambiental (Depoimento 24 Ñ).

Figura 2
Campanha de educação ambiental em Gostoso

Há no trabalho de Anna Raboud uma forma não usual de lidar com os lugares menos favorecidos. É comum, tanto aos viajantes nacionais como estrangeiros que desembarcam em lugarejos como São Miguel do Gostoso usufruírem desses espaços, adquirirem terrenos, explorarem a mão de obra e lucrar com seus negócios. A vivência da enfermeira suíça caminha na contramão de comportamentos habituais de turistas que se tornam moradores, visto que ela se envolveu na comunidade como partícipe, desenvolveu trabalhos socioambientais e deixou um legado para o município. “Eu considero ela uma nativa” (Depoimento 25 N).

São Miguel do Gostoso é uma cidade com características peculiares. O fato de muitos visitantes terem fixado residência e decidido participar ativamente de ações em prol do município criou outra atmosfera de convivência. No caso de Anna Raboud, ela recebeu dos moradores o título de “Ministra do Lixo”, pelo seu trabalho intenso quanto à saúde ambiental (Pesquisa Direta, 2016; São Miguel do Gostoso, 2011).

O trabalho visionário realizado por Raboud nos anos 1990 e 2000 em São Miguel do Gostoso foi determinante para despertar uma conscientização socioambiental no município. Apesar disso, a cidade hoje lida com outros impasses decorrentes do crescimento. Dentre os dilemas mais corriqueiros citados pelos entrevistados, a poluição sonora, o abastecimento de água e o destino do lixo são os que mais preocupam. Os discursos dos entrevistados são muito coerentes sobre as questões ambientais locais, o que pode ser visto na seguinte afirmação: “As pessoas têm o costume de culpar o aumento do turismo pela maioria dos problemas ambientais, mas eu culpo os governantes e em pequena parte os empreendedores” (Depoimento 22 Ñ).

Naturalmente, em decorrência dos visitantes temporais, que, somados aos moradores, geram mais lixo e mais consumo de água, São Miguel do Gostoso padece com o volume dos resíduos. Na questão do lixo, a cidade não conta com um aterro sanitário, mas existe uma coleta sistemática semanal nos distritos. Os resíduos são despejados a 4 km de distância do Distrito Sede. O lixão desvalorizou os terrenos próximos, no trecho chamado Estrada da Paz.

A cidade não tem esgotamento sanitário, e o abastecimento de água é realizado precariamente por uma companhia municipal, a SAAE (Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto), por meio do sistema de poços artesianos. O esgoto do município é armazenado em fossas, e a água potável provém dos poços artesianos individuais ou da SAAE. Os depoimentos realçam a problemática da água na cidade. “A água da SAAE é péssima” (Depoimento 13 N). O abastecimento não consegue atender à demanda da população, e é recorrente a escassez de água no verão, quando o número de turistas aumenta. “A água que vem da rede é salgada (...) cada casa tem um poço (...) tem problemas sérios com a água” (Depoimento 35 N). Devido a isso, muitos empreendimentos e moradores cavam seus próprios poços, sem um controle efetivo desse processo. “Quem tem dinheiro, cava um poço” (Depoimento 18 Ñ). Isso acarretará investimentos futuros da gestão pública na obtenção e distribuição de água.

Com o aumento do número de meios de hospedagem, intensificou-se também o uso de poços artesianos para atender à demanda de turistas. Para um dos entrevistados, o futuro de São Miguel do Gostoso reserva exacerbação de problemas ainda não resolvidos pela gestão pública: “O primeiro problema que vai aparecer é decorrente de não ter esgotos sanitários, de alguma forma isso vai aparecer” (Depoimento 27 Ñ). Os problemas levantados em São Miguel do Gostoso são semelhantes aos identificados pelos pesquisadores Vieira et al (2015Vieira, A. F. & Araújo, J. L .L (2015). Turismo e sustentabilidade ambiental na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia (PI). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo. São Paulo. 9(3), set/dez, 519-536 http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v9i3.994
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) em outra comunidade de praia do Nordeste brasileiro: ausência de esgotamento sanitário, problemas de abastecimento, destino do lixo, perfuração de poços artesianos em demasia, água salobra, dentre outros.

Nas imersões de campo e por meio da Micro-História, a variável ambiental se mostrou como uma das mais preocupantes para o futuro do município, como uma “morte anunciada”. Problemas ambientais não resolvidos atingirão outras dimensões de caráter socioeconômico e cultural.

A circulação de automóveis nas praias e a preservação dos ninhos das tartarugas são exemplos de conflitos ambientais citados pelos entrevistados. O receio pela ocupação imobiliária e o fluxo contínuo de turistas na praia são duas questões que têm mobilizado a população, ONGs, comitês e as ações da prefeitura.

O trânsito de veículos na praia não só atropela tartarugas marinhas, como também põe em risco seus ninhos à beira-mar. Apesar da sinalização em toda a extensão da orla, ainda é comum o tráfego de motos, quadriciclos, buggies e carros de tração 4x4, tanto de moradores como de turistas. Esse tipo de passeio turístico é extremamente danoso para o ecossistema local. Além do atropelamento dos animais marinhos, põem em risco as pessoas que circulam livremente pela extensão da orla.

A ONG mais lembrada e citada nas entrevistas foi a AMJUS (Associação de Meio Ambiente Cultura e Justiça Social), criada em 2009 e que atua principalmente com educação e justiça socioambiental por meio de envolvimento e articulação da juventude. Além da AMJUS, o Espaço Tear e o CDHEC (Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania ) foram lembrados como organizações atuantes na cidade. As ONGs constituem um elemento importante para a localidade, pois ocupam lacunas onde os governos deixam de atuar. O terceiro setor vai paulatinamente ocupando espaços vazios ou esquecidos, confrontando as estruturas de poder e ganhando credibilidade perante a população (Rabinovici, 2009Rabinovici, A. (2009). Organizações não governamentais e turismo sustentável: trilhando conceitos de participação e conflitos. (Tese de doutorado). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas. SP. Disponível em: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000465869 . Acesso em: 22 jun. 2016.
http://libdigi.unicamp.br/document/?code...
). Um dos entrevistados, assim define o papel das ONGs que atuam no município:

Quando eu cheguei aqui em São Miguel do Gostoso me deparei com esse panorama. Eu não tenho certeza de quantas ONGs existem, mas cerca de nove ou dez .... mas eu percebi que o pessoal tem esse espírito solidário, de se envolver com o social, de ajudar. As ONGs têm características diferentes, um perfil diferente. Algumas trabalham com a questão da cultura, outras com o protagonismo juvenil, outras com meio ambiente, outras com esporte, enfim, todas elas têm um papel fundamental quando se juntam” (Depoimento 26 Ñ).

O trabalho mais representativo da AMJUS são as ações em prol da preservação das tartarugas marinhas, com monitoração de 14 km de praia em São Miguel do Gostoso. De acordo com o relatório de demarcação das áreas de tartarugas marinhas, duas espécies são encontradas na região: tartaruga verde e tartaruga-de-pente (Pesquisa direta, 2016; Relatório de demarcação, 2014;).

Segundo o relatório produzido pela ONG Amjus, o número de tartarugas mortas e de ninhos destruídos ainda é muito alto. Há claramente um esforço conjunto entre os monitores ambientais voluntários (chamados tartarugueiros), voltado à educação ambiental da população local e dos visitantes. Os passeios turísticos com veículos nas praias (buggies, motos, carros particulares tipo 4x4 e quadriciclos), promovidos pelas empresas turísticas locais, consistem em um agravante quanto à preservação das tartarugas marinhas. Contudo, como já descrito, apesar da sinalização turística, da fiscalização e denúncias, veículos ainda transitam na orla.

Além do fluxo de veículos, outro agravante, segundo o relatório, é o movimento intenso de praticantes de kite surf e wind surf. Há também outros riscos provenientes da construção de quiosques e barracas, depredação de ninhos por animais, caça e pesca acidental e a própria maré.

Há de se ressaltar que houve um considerável avanço no lidar com as tartarugas nos últimos anos. No passado, elas serviam de alimento para alguns moradores, mas, com o trabalho de sensibilização e conscientização da comunidade, hoje são protegidas. Porém, depois da chegada do turismo, os problemas decorrentes são outros, visto que o fluxo de pessoas nas áreas de desova prejudica os animais marinhos. O nascimento das tartarugas é monitorado e divulgado pela ONG, evento que agrupa locais e visitantes. Mesmo compreendendo a atuação das ONGs no município, “Nem as ONGs, nem o turismo constituem salvação para todas as mazelas da comunidade” (Rabinovici, 2009Rabinovici, A. (2009). Organizações não governamentais e turismo sustentável: trilhando conceitos de participação e conflitos. (Tese de doutorado). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas. SP. Disponível em: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000465869 . Acesso em: 22 jun. 2016.
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, p. 283). Na opinião de um dos entrevistados as ONGs assumiram papéis pertencentes ao poder público e “se terceirizou a responsabilidade” (Depoimento 30 Ñ).

Naturalmente, o turismo é um setor que se utiliza do patrimônio natural para se concretizar como atividade e uma complexa rede de inter-relações. São Miguel do Gostoso não escapou incólume desse processo. Os impactos sociais, ambientais e econômicos do turismo (tanto positivos como negativos) destacados por Kim, Uysal & Sirgy (2013Kim, K.; Uysal, M. & Sirgy, M.J. (2013). How does tourism in a community impact the quality of life of community residents? Tourism management. 36, June. 527-540. https://doi.org/10.1016/j.tourman.2012.09.005
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) e Haralambopoulos & Pizam (1996Haralambopoulos, N & Pizam, A. (1996). Perceived impacts of tourism: the case of Samos. Annals of tourism research. 23(3), 503-526. https://doi.org/10.1016/0160-7383(95)00075-5
https://doi.org/10.1016/0160-7383(95)000...
) estão claramente presentes no município: incremento em investimentos, uso e ocupação da terra, deterioração da cultura local, entorpecentes, tráfego intenso de veículos, oportunidades de interação social, transformações das formas e tipos de ocupações, influência no estilo de vida, demografia, dentre outros. “Apesar disso, o turismo ainda é uma indústria relativamente limpa, com menos problemas de poluição se comparado com outros tipos de indústria” (Kim et al, 2013, p.528).

Em compensação São Miguel do Gostoso ganhou visibilidade turística e ambiental (pelo projeto de preservação das tartarugas marinhas), prestígio e notoriedade, identificação dos visitantes com a localidade, comprometimento e popularização da comunidade anfitriã no país, todos estes aspectos destacados também pelos estudos de Toneva (2017Toneva, P.I. (2017). Studying the impacts of event tourism on the host communities in Bulgaria. Economic Processes Management: Internacional Scientfic Journal. 1.).

Lugares turísticos padecem de um duplo conflito: o meio ambiente como recurso fundamental e como destino dos resíduos. Existe, de fato, “o perigo e a tendência de uma exploração excessiva dos recursos naturais e a utilização da natureza como fonte de recursos e como recipiente de rejeitos” (Altvater, 1995Altvater, E. (1995). O preço da riqueza: pilhagem ambiental e a nova (des) ordem mundial. São Paulo, Brasil: UNESP., p.38). Embora o turismo seja considerado uma atividade limpa, comparada ao impacto de indústrias, sua massificação agrava problemas sociais e ambientais. Primeiro, porque as cidades pequenas não estão preparadas para lidar tão afinadamente com o cosmopolitismo e, segundo, porque o ambiente natural transforma-se em produto turístico, passível de consumo, uso e descarte.

Por fim, o quadro 1 expressa o resumo entre as ações positivas e negativas identificadas na pesquisa, intensificadas pelo fenômeno do turismo na localidade.

Quadro 1
Influências positivas e negativas do turismo nas transformações socioambientais em São Miguel do Gostoso (RN)

Os problemas socioambientais de pequenas localidades de praia, decorrentes do fluxo turístico, são fruto de um mosaico de interrelações que envolvem setor público, setor privado e comunidade. O turismo ainda é usado como estandarte da salvação, de promoção desvairada e discurso desenvolvimentista nos três âmbitos. Mas quem supõe alheamento dos moradores engana-se:

O que fere mesmo é na base [...] como eu compreendo e entendo o turismo[...] que se reflete em vários danos e que existe uma mercantilização do natural, algo que não é de ninguém e passa a ser prioridade de alguém e passa a ter um valor comercial, isso é turismo[...]isso, por si só, não nasce bem (Depoimento 27 Ñ)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar o Turismo como um agente transformador não é algo novo. A história desta pesquisa se desenha na particularidade de pensar o Turismo sob um ângulo das microrrealidades. A Micro-História desnuda as interferências de estrangeiros na terra, os novos fluxos e as singularidades que influenciam e ajudam a reescrever as realidades cotidianas. A realidade do turismo se confunde com a realidade de cada um, dando novas cores e formatos, ora defendendo o natural, ora usufruindo dele como produto e descarte.

O que temos aqui é o presente passageiro, repleto de personagens não lineares, sem maniqueísmos, mas com magnetismos e subjetividades que afloram pela pele. Que rumo esses ventos vão tomar? Não sabemos! Apesar de todas as confrontações do passado e as perspectivas do que aconteceu em outros lugares e que, talvez, se projetem em São Miguel do Gostoso, mesmo contraditório, tudo tende a se repetir, seja em qual escala estejamos falando. Dos neurônios ao cosmos, existem padrões e comportamentos de muita semelhança, que se aplicam em outras esferas da vida comum, nas microrrealidades. Mesmo com traços únicos de particularidades microscópicas, a universalização e a replicação de situações ocorrem como encadeamentos.

Sim, a cidade de São Miguel do Gostoso foi transformada pelo turismo. As microrrealidades locais foram influenciadas, em primeiro momento, pelo trabalho embrionário de Anna Raboud. É perceptível como a educação socioambiental plantada nos anos 1990 reverberou em ações mais contundentes de preservação nos anos 2000 até a atualidade. Esse legado tem postergado uma massificação que se anuncia lentamente. Posteriormente, o turismo desembarcou e trouxe com ele uma avalanche de novas intervenções, numa proporção difícil de manejar.

Uma rosa dos ventos simboliza essa busca por um caminho a seguir, por bons ventos, representando os pontos cardeais, os elementos da terra e sua unidade, levando em consideração todas as direções possíveis. Espera-se que outros achados, outras abordagens, outros autores, posicionamentos e perspectivas sejam possíveis em futuras investigações, até porque cada recorte é uma escolha. O turismo foi escolhido como objeto de estudo, como agente transformador, mas outras forças externas exercem sua influência no município, num avolumado somatório de reconfigurações interdisciplinares.

Nenhum ator (nativo ou não nativo) associou sua história de vida com o dinamismo do turismo. As lembranças foram buscadas num passado remoto, e os vínculos sempre relacionaram elementos culturais ou da natureza. A Micro-História revelou a forte identificação dos entrevistados com os elementos socioambientais: a terra, o mar, o ecossistema e a indissociável relação homem-natureza.

A história do homem é uma história ambiental. As conquistas, as ocupações dos territórios, os deslocamentos e as relações com os elementos naturais fazem parte da história de cada lugar e de cada indivíduo. Essas relações homem e meio vão, aos poucos, alterando a paisagem, a noção de pertencimento, esquecimento, memória, gratidão e os vínculos. O ambiente não é estático, e o homem, tampouco. “As relações dos homens com a natureza são indissociáveis das relações que os homens mantêm entre si ao longo do tempo” (Duarte, 2004Duarte, R. H. (2004). Por um pensamento ambiental histórico: o caso do Brasil. Luso-brazilian review, 41(2), 144-161. https://doi.org/10.1353/lbr.2005.0005
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, p.152).

A São Miguel do Gostoso dessa investigação migrará para outros entendimentos num futuro próximo, e talvez uma diferente cidade possa nascer. “Você acha que o vento vai mudar?” (Depoimento 28 Ñ). Sim, os ventos vão mudar! Os tons das hélices dos aerogeradores fincados à terra, as flâmulas coloridas do kite surf, os triciclos turísticos na praia, o nascimento das tartarugas marinhas, os sotaques, os sons e os sentidos múltiplos de um lugar camaleônico, que cede ao crescimento e reinventa-se pelos ventos. Ventos alísios, ventos da história, ventos do turismo. Quiçá outras Anas virão! E, sobre a máxima popular, quem planta vento corre o risco de colher tempestade.

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  • 1
    Revisado por pares.
  • 1
    Filme argentino, coproduzido com a Espanha em 2009. Inspirado na obra “La pregunta de sus ojos” de Eduardo Alfredo Sacheri. Ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, dentre outros prêmios.
  • 2
    Segundo depoimento, era o local onde os soldados do pelotão do exército acampados da Segunda Guerra faziam suas refeições. A população local era convidada a participar da Xêpa (horário da refeição).
  • 3
    Cardeiro é um tipo de cacto de grande porte, muito comum na região.
  • 4
    Era considerado monturo o lixo acumulado nos quintais das casas, que normalmente era enterrado e/ou queimado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020

Histórico

  • Recebido
    13 Abr 2019
  • Aceito
    28 Ago 2019
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