Resumos
Foi conduzido um experimento para determinar o nível de proteína bruta (PB) das rações com suplementação de aminoácidos para leitoas mestiças (Landrace x Large White) mantidas em ambiente de conforto térmico. Os animais (peso médio inicial de 30,1 kg) foram distribuídos em delineamento experimental inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos (19, 18, 17, 16 e 15% de PB com suplementação de lisina metionina, triptofano, treonina e valina, para se manter a mesma qualidade proteica), cinco repetições e dois animais por unidade experimental. As rações experimentais foram fornecidas à vontade até o final do experimento, quando os animais atingiram peso médio de 60,3 kg. O nível de PB da ração influenciou o ganho de peso diário e a conversão alimentar, mas não influiu no consumo de ração diário. A deposição de proteína não variou entre os níveis de 19 e 16% de PB da ração, enquanto os animais que consumiram a ração com menor nível de PB (15%) apresentaram o menor valor. Os tratamentos não influenciaram os pesos absoluto e relativo dos órgãos avaliados. Concluiu-se que o nível de PB da ração para leitoas dos 30 aos 60 kg mantidas em ambiente de conforto térmico pode ser reduzido de 19 para 15%, sem prejudicar o desempenho, desde que as rações sejam devidamente suplementada com os aminoácidos essenciais limitantes.
ambiente térmico; composição de carcaça; desempenho; proteína ideal; vísceras
An experiment was conduced to determine the crude protein (CP) level in diets with amino acids supplementation for gilts maintained in a thermal comfort environment. Fifty crossbreed crossbred gilts (Landrace x Large White) with initial average weight of 30.1 kg were allotted to a completely randomized experimental design, with five treatments (19, 18, 17, 16 and 15% of CP with supplementation of lysine, methionine, tryptophan, threonine and valine to maintain the same protein quality) five replicates and two animals per experimental unit. The experimental rations were fed ad libitum until the end of the experiment, when the animals reached the average weight of 60.3 kg. The CP level of the ration influenced the daily weight gain and the feed:gain ratio however the treatments did not influence the daily feed intake. The protein deposition (PD) did not change from 19 to 16% of CP of the diet. However the animals that fed diet with smaller level showed the lowest value of PD. The treatments did not influence the absolute and relative weights of all evaluated organs. It was concluded that the crude protein level, for gilts from 30 to 60 kg, maintained in thermal comfort environment can be reduced from 19 to 15% with no negative effect on performance since rations are supplemented with limiting essential amino acids
carcass composition; ideal protein; organs; performance; thermal environment
MONOGÁSTRICOS
Níveis de proteína bruta e suplementação de aminoácidos em rações para leitoas mantidas em ambiente de conforto térmico dos 30 aos 60 kg1 1 Parte da tese de Mestrado do primeiro autor Projeto apoiado pela Ajinomoto.
Crude protein levels of ration with amino acid supplementation to gilts maintained in a thermal comfort environment from 30 to 60 kg
Uislei Antonio Dias OrlandoI; Rita Flávia Miranda de OliveiraII; Juarez Lopes DonzeleII; Aloízio Soares FerreiraII; Francisco Carlos de Oliveira SilvaIII; Rafaela Antonia Ramos GenerosoIV; Roberta Gomes Marçal Vieira VazV; Jefferson Costa de SiqueiraIV
IDoutor em Zootecnia, Perdigão (und@perdigao.com.br)
IIProfessor do DZO/UFV. E.mail: flavia@ufv.br; donzele@ufv.br
IIIPesquisador da EPAMIG
IVEstudante do curso de Zootecnia do DZO/UFV
VEstudante de Doutorado do DZO/UFV
RESUMO
Foi conduzido um experimento para determinar o nível de proteína bruta (PB) das rações com suplementação de aminoácidos para leitoas mestiças (Landrace x Large White) mantidas em ambiente de conforto térmico. Os animais (peso médio inicial de 30,1 kg) foram distribuídos em delineamento experimental inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos (19, 18, 17, 16 e 15% de PB com suplementação de lisina metionina, triptofano, treonina e valina, para se manter a mesma qualidade proteica), cinco repetições e dois animais por unidade experimental. As rações experimentais foram fornecidas à vontade até o final do experimento, quando os animais atingiram peso médio de 60,3 kg. O nível de PB da ração influenciou o ganho de peso diário e a conversão alimentar, mas não influiu no consumo de ração diário. A deposição de proteína não variou entre os níveis de 19 e 16% de PB da ração, enquanto os animais que consumiram a ração com menor nível de PB (15%) apresentaram o menor valor. Os tratamentos não influenciaram os pesos absoluto e relativo dos órgãos avaliados. Concluiu-se que o nível de PB da ração para leitoas dos 30 aos 60 kg mantidas em ambiente de conforto térmico pode ser reduzido de 19 para 15%, sem prejudicar o desempenho, desde que as rações sejam devidamente suplementada com os aminoácidos essenciais limitantes.
Palavras-chave: ambiente térmico, composição de carcaça, desempenho, proteína ideal, vísceras
ABSTRACT
An experiment was conduced to determine the crude protein (CP) level in diets with amino acids supplementation for gilts maintained in a thermal comfort environment. Fifty crossbreed crossbred gilts (Landrace x Large White) with initial average weight of 30.1 kg were allotted to a completely randomized experimental design, with five treatments (19, 18, 17, 16 and 15% of CP with supplementation of lysine, methionine, tryptophan, threonine and valine to maintain the same protein quality) five replicates and two animals per experimental unit. The experimental rations were fed ad libitum until the end of the experiment, when the animals reached the average weight of 60.3 kg. The CP level of the ration influenced the daily weight gain and the feed:gain ratio however the treatments did not influence the daily feed intake. The protein deposition (PD) did not change from 19 to 16% of CP of the diet. However the animals that fed diet with smaller level showed the lowest value of PD. The treatments did not influence the absolute and relative weights of all evaluated organs. It was concluded that the crude protein level, for gilts from 30 to 60 kg, maintained in thermal comfort environment can be reduced from 19 to 15% with no negative effect on performance since rations are supplemented with limiting essential amino acids
Key Words: carcass composition, ideal protein, organs, performance, thermal environment
Introdução
A suinocultura representa importante segmento do agronegócio brasileiro. Deve-se, portanto, buscar alternativas para reduzir custos com alimentação (70% dos custos de produção) e, por conseguinte, aumentar a rentabilidade da exploração. Entretanto, apesar de sua importância econômica, sabe-se que a exploração suinícola, por se caracterizar por alta concentração de animais em pequenas áreas, tem impacto negativo de poluição ambiental, em razão do grande volume de dejetos produzido. Atualmente, devem ser priorizadas estratégias nutricionais que objetivem reduzir o potencial poluente dos dejetos de suínos; uma alternativa é a redução do nível de proteína bruta da ração com a suplementação de aminoácidos sintéticos (Baker et al., 1993; Cromwell 1996; Reese & Koelsch, 2000; Carlson, 2001; Ford, 2003), uma vez que estes ingredientes podem reduzir acentuadamente as perdas de nitrogênio para o ambiente, sem reflexo negativo no desempenho dos animais. De acordo com Kerr & Easter (1995), cada 1% de redução da proteína da ração diminui em 8% o nitrogênio excretado nos dejetos.
Um ponto importante na utilização da técnica de redução de proteína bruta, a partir da substituição por aminoácidos sintéticos, é que as rações com aminoácidos são mais próximas do perfil de proteína ideal e, por conseguinte, diminuem as perdas de nitrogênio nos dejetos. Ford (2003) mostrou que a utilização de quatro aminoácidos sintéticos (lisina, metionina, treonina e triptofano) levou à redução de 40% na excreção de nitrogênio nas fezes e urina, melhorando o aspecto sanitário das instalações e as condições de trabalho para os funcionários das granjas.
Como o desempenho e a fisiologia dos animais podem ser influenciados pelo ambiente térmico em que estes são criados, a redução do nível de proteína da ração pode proporcionar resultados diferentes em razão do ambiente no qual os animais são criados (Oliveira, 1996; Edmonds et al., 1998).
Segundo Möhn & De Lange (1998), quando os animais são mantidos em ambiente livre de estresse, com adequado consumo de nutrientes essenciais, eleva-se a deposição de proteína e, conseqüentemente, o ganho de peso, com o consumo de energia até um limite máximo geneticamente determinado.
Este estudo foi conduzido para avaliar os efeitos da redução da proteína bruta em rações com a suplementação de aminoácidos sobre o desempenho, a composição de carcaça e o peso de vísceras de leitoas mestiças dos 30 aos 60 kg mantidas em ambiente de conforto térmico (20ºC).
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG.
Cinqüenta leitoas mestiças (Landrace x Large White), com peso inicial de 30,1 ± 0,63 kg, foram distribuídas em delineamento experimental inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos (19, 18, 17, 16 e 15% de proteína bruta na ração com suplementação de lisina metionina, triptofano, treonina e valina, para se manter a mesma qualidade protéica), cinco repetições e dois animais por unidade experimental.
Os animais foram alojados em gaiolas metálicas, suspensas, com pisos e laterais telados, providas de comedouro semi-automático e bebedouro tipo chupeta, e mantidos em sala de alvenaria com janelas de vidro do tipo basculante, forro de madeira e cobertura com telha de barro.
A temperatura interna da sala foi mantida por um conjunto de seis campânulas elétricas, distribuídas em dois corredores, a aproximadamente 40 cm acima do piso, e por dois aparelhos de ar condicionado de 30.000 BTU cada, controlados por sensores instalados no centro da sala, regulados para temperatura de 20ºC.
A temperatura e a umidade relativa internas da sala foram monitoradas diariamente durante o período experimental, três vezes ao dia (8, 13 e 18h), por meio de termômetro de máxima e mínima, termômetro de bulbo seco e bulbo úmido e termômetro de globo negro mantidos em uma gaiola vazia a uma altura correspondente à meia altura do corpo dos animais.
Os valores registrados foram convertidos no índice de temperatura de globo e umidade (ITGU), segundo Buffington et al. (1981), caracterizando o ambiente térmico em que os animais foram mantidos.
As rações experimentais e suas composições centesimal e nutricional calculadas encontram-se na Tabela 1. As rações foram formuladas à base de milho e farelo de soja e suplementadas com minerais e vitaminas para serem isoenergéticas (3.400 kcal de ED/kg) e isolisínicas digestíveis (0,875%). Os níveis de PB das rações experimentais foram obtidos ajustando-se as quantidades de milho e de farelo de soja. A fim de tornar as rações isolisínicas digestível, foi adicionada lisina sintética (L-lisina-HCl 78,5%) à medida que se reduziu o nível de PB. Os demais aminoácidos (treonina, metionina, triptofano e valina) foram suplementados à proporção que suas relações com a lisina digestível ficaram abaixo daquelas preconizadas na proteína ideal, de acordo com as recomendações de Füller (1996). Para o cálculo dos aminoácidos digestíveis dos ingredientes utilizados na formulação, foram aplicados os coeficientes de digestibilidade obtidos nas tabelas Rhodimet... (1993). As rações experimentais e a água foram fornecidas à vontade.
Ao término do período experimental, quando atingiram o peso médio de 60,3 ± 1,94 kg, os animais foram submetidos a jejum alimentar por 24 horas. Após o jejum, um animal de cada unidade experimental, com o peso mais próximo de 60 kg, foi abatido, por desensibilização e sangramento. Em seguida, procedeu-se à toalete e à abertura da carcaça para retirada dos órgãos. O fígado, os rins e o intestino delgado foram colocados à sombra, para o escorrimento do sangue, por 20 minutos e, após, foram pesados.
Um grupo adicional de cinco leitoas com peso médio de 30,1 ± 0,73 kg foi abatido, seguindo-se o mesmo procedimento de abate usado com os animais submetidos às rações experimentais, para determinação da composição da carcaça dos animais no início do experimento e posterior determinação da deposição de proteína na carcaça, conforme técnica descrita por Donzele et al. (1992).
As carcaças dos animais abatidos foram divididas longitudinalmente, e a metade esquerda de cada carcaça (incluindo cabeça e pés), sem as vísceras e o sangue, foi triturada por 15 minutos em "cutter" comercial de 30 HP e 1.775 revoluções por minuto. Após homogeneização do material triturado, foram retiradas amostras das carcaças, que foram estocadas em congelador a -12°C. Ao se prepararem as amostras para as análises laboratoriais, em razão da alta concentração de gordura do material, procedeu-se à pré-secagem em estufa, com ventilação forçada a ± 60°C, por 72 horas. Em seguida, foi realizado o pré-desengorduramento, a quente, em aparelho extrator do tipo "Soxlet", por quatro horas.
As amostras pré-secadas e pré-desengorduradas foram moídas e acondicionadas em vidros com tampa de polietileno devidamente identificados, para posteriores análises laboratoriais. A água e a gordura retiradas no preparo das amostras foram consideradas para fazer a correção dos valores das análises subseqüentes.
As análises de proteína das amostras foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da UFV, de acordo com técnicas descritas em Silva (1990).
As análises estatísticas das variáveis de desempenho (ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar), de deposição de proteína nas carcaças e de pesos dos órgãos foram realizadas utilizando-se o programa computacional SAEG 8.0 (Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas), desenvolvido na UFV (2000).
A avaliação da possibilidade de redução da proteína bruta da ração, com suplementação de aminoácidos, foi feita com base nos resultados de desempenho (ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar), nos consumos de lisina, de nitrogênio e de energia digestível diários, na eficiência de utilização de nitrogênio para ganho de peso e na deposição de proteína na carcaça, utilizando os modelos linear, quadrático e/ou descontínuo "Linear Reponse Plateau" LRP, conforme o melhor ajuste obtido para cada variável.
Resultados e Discussão
A temperatura interna da sala manteve-se, durante o período experimental, em 20,2 ± 1,5°C, com umidade relativa de 71,8 ± 6,6% e temperatura de globo negro de 20,3 ± 1,5°C. O índice de temperatura de globo e umidade (ITGU), calculado no período, foi de 66,7 ± 1,9. O valor de ITGU, que caracterizou o ambiente termoneutro neste trabalho, foi similar àqueles obtidos por Tavares et al. (2000) e Orlando (2001), com suínos de 30 aos 60 kg (69,1 ± 1,19 e 68,7 ± 0,93, respectivamente).
Os resultados de desempenho, dos consumo de lisina, de energia digestível e de nitrogênio diários, da eficiência de utilização de nitrogênio para ganho e da deposição de proteína na carcaça das leitoas, mantidas em ambiente de conforto térmico dos 30 aos 60 kg, são apresentados na Tabela 2.
Não se observou variação (P>0,05) nos valores de ganho de peso diário (GPD) a medida que se reduziu o nível de proteína das rações. Resultado semelhante foi obtido por Le Bellego et al. (2001) e Kerr et al. (2003a,b), que, avaliando a redução de níveis de proteína das rações de suínos em crescimento, mantidos em ambiente de termoneutralidade, também não observaram variação significativa no GPD dos animais, em razão dos níveis de proteína das rações.
Por outro lado, Pieterse et al. (2000), trabalhando com redução de proteína bruta de 20 para 14%, e Figueroa et al. (2002), avaliando a redução de quatro pontos percentuais no nível de proteína bruta (16 para 12%) em rações para suínos na fase de crescimento, em ambiente termoneutro, constataram melhora no GPD, em razão dos tratamentos. Em contrapartida, Gómez et al. (2002a) constataram piora no GPD dos suínos mantidos em condições de termoneutralidade, quando o nível de PB da ração foi reduzido em 4,2 pontos percentuais.
A diferença de resposta do GPD dos animais, observada entre os dados deste estudo com aqueles obtidos por Gómez et al. (2002a) pode estar relacionada ao fato de que estes autores não adicionaram o aminoácido valina à ração com menor nível de PB, o que resultou em relação de valina digestível:lisina digestível abaixo da utilizada neste trabalho. Esta hipótese esta consistente com o relato destes mesmos autores de que a inadequada ingestão de um quinto aminoácido essencial que não lisina, metionina, treonina e triptofano, pode ter sido a causa de uma piora no desempenho.
O nível de PB da ração não influenciou (P>0,05) o consumo de ração diário (CRD) que neste estudo correspondeu a 4,2% do peso corporal médio dos animais. As respostas de CRD obtidas foram semelhantes às observadas por diversos autores (Tuitoek et al., 1997a; Canh et al., 1998; Pieterse et al., 2000; Le Bellego, et al., 2001; De La Llata et al., 2002; Figueroa et al., 2002; Gómez et al., 2002a; Kerr et al., 2003b) que também não constataram efeito do nível de PB da ração sobre o CRD dos animais.
Apesar de não ter variado significativamente, constatou-se que o CRD dos animais que receberam a ração com níveis reduzidos de PB, com exceção daquele dos animais que receberam o tratamento correspondente ao nível de 16% de PB, foi em média 6,5% maior em relação aos dos animais que receberam a ração com 19% de PB. O menor valor absoluto de consumo de ração observado nos animais que receberam a ração com maior nível de PB está consistente com os resultados obtidos por Le Bellego & Noblet (2002).
Considerando que o imbalanço de aminoácidos pode influenciar negativamente o CRD dos animais, conforme relatado por Le Bellego & Noblet (2002), pode se deduzir que o perfil de aminoácidos das rações utilizadas neste estudo provavelmente tenha sido adequado.
Os valores de conversão alimentar (CA) não variaram (P<0,05) entre os tratamentos, o que está em acordo com os resultados obtidos por Tuitoek et al. (1997a) e de Canh et al. (1998), que não observaram variação significativa na CA dos suínos em crescimento em razão da diminuição do nível de PB da ração. Mais recentemente, Kerr et al. (2003b), trabalhando com suínos na fase de crescimento, em ambiente termoneutro, também não constataram variação significativa na CA dos animais quando o nível de proteína bruta da ração foi reduzido de 16 para até 12%, com suplementação de aminoácidos.
Por outro lado, Kendall et al. (1998) e Gómez et al. (2002a) observaram piora na CA com a redução de 4,5 a 4,2 pontos percentuais no nível de PB das rações, respectivamente. Nestes estudos, a possível deficiência de um quinto aminoácido foi considerada pelos autores determinante na piora do desempenho. Esta proposição está em consonância com o relato de Kendall et al. (1998) de que a suplementação de lisina, metionina, treonina e triptofano não é suficiente para assegurar bom desempenho dos animais, quando o nível de PB da ração foi reduzido em mais de três pontos percentuais.
A variação de resultados de CA observada entre os trabalhos pode estar relacionada à diferença no perfil de aminoácidos essenciais com a lisina e a genética dos animais, entre outros fatores. Com relação à genética dos animais, Mahan & Shieds (1998) relataram que, em razão de o tecido muscular provavelmente exigir mais lisina e, possivelmente, outros aminoácidos essenciais do que outros tecidos, a relação dos aminoácidos essenciais com a lisina, na ração de suínos com alto potencial para deposição de carne na carcaça, pode ser diferente daquela de suínos de médio ou baixo potencial.
Os consumos de lisina (CLD) e de energia digestível (CED) diários não foram influenciados (P>0,05) pela redução do nível de PB da ração. Resultados semelhantes foram obtidos por Ferreira (2001), em trabalho conduzido para avaliar redução dos níveis de PB das rações para suínos na fase de crescimento. Estes resultados podem ser explicados pelo CRD, que não diferiu entre os tratamentos, uma vez que as rações foram isoenergéticas e isolisínicas.
Os tratamentos influenciaram (P<0,01) de forma linear o consumo de nitrogênio diário (N) que diminuiu segundo a equação Y = 5,30239 + 2,69463PB (r2 = 0,86). Porém, a eficiência de utilização de nitrogênio para ganho (EUNG) aumentou (P<0,01) de forma linear de acordo com a equação Y = 35,0757 1,06565PB (r2 = 0,91), à medida que se diminuiu o nível de PB das rações, e os animais alimentados com ração contendo 15% de PB apresentando EUNG superior (30,6%) à obtida com os animais que receberam a ração com 19% de PB em 7,9%.
Resultado similar de EUNG foi também observado por Kerr & Easter (1995), Tuitoek et al. (1997a), Canh et al. (1998) e Figueroa et al. (2002). Da mesma forma, Ferreira (2001), em estudo conduzido no Brasil, observou melhora gradativa na EUNG com a redução do nível de PB da ração. Essa coerência de resultados entre os trabalhos está em conformidade com os dados de Shriver et al. (2003), em que a redução de PB da ração, com adequada suplementação de aminoácidos, diminuiu significativamente a excreção de nitrogênio, sem influir no desempenho dos suínos em crescimento e terminação. Ainda de acordo com Chung & Baker (1992), a EUNG aumenta quando o perfil de aminoácido da ração estiver o mais próximo do ideal.
A deposição de proteína (DP) na carcaça foi influenciada (P<0,01) de forma quadrática pela redução dos níveis de PB das rações, com o melhor resultado obtido no nível de 17,4% de PB (Figura 1).
O aumento na DP observado entre os níveis de PB de 19 a 17,4%, neste estudo, difere dos resultados de Tuitoek et al. (1997b) e de Le Bellego & Noblet (2002), que não verificaram alteração na DP dos animais que receberam a ração com menor nível de PB em relação aos que receberam os tratamentos com PB na forma intacta. Por outro lado, o menor valor de DP ocorrido no menor nível de PB avaliado nesse estudo (15%) está em conformidade com o resultado de Gómez et al. (2002b), que, avaliando a composição da carcaça de suínos em crescimento recebendo rações formuladas com PB intacta (15,9%) e com baixa PB (11,7%) suplementadas com aminoácidos, observaram menor valor de DP nos animais que receberam a ração com o mais baixo nível proteico mais suplementação aminoacídica.
Os resultados de pesos absoluto e relativo dos diferentes órgãos avaliados (fígado, rins e intestino) são apresentados na Tabela 3.
Apesar da participação direta do fígado e dos rins no processo de degradação dos aminoácidos em excesso, não se observou efeito (P>0,05) da redução do nível de PB da ração e, conseqüentemente, da concentração total de aminoácidos das rações sobre os pesos absoluto e relativo de nenhum dos órgãos avaliados.
De forma semelhante, Ferreira (2001), Gómez et al. (2002b) e Le Belego & Noblet (2002) não constataram variação significativa do peso do fígado e dos rins em razão da redução do nível de PB da ração. Em contrapartida, Chen et al. (1998) verificaram diminuição nos pesos do fígado e rins, enquanto Kerr et al. (2003b), redução no peso dos rins, sem variação no peso do fígado dos suínos em decorrência de decréscimo do nível de PB da ração.
A princípio, não há uma explicação biológica para justificar a falta de consistência de resultados entre os trabalhos quanto ao efeito da redução do nível de PB da ração sobre o peso de órgãos de suínos.
Conclusões
O nível de PB da ração para leitoas mestiças dos 30 aos 60 kg mantidas em ambiente de conforto térmico (20ºC) pode ser reduzido em 4% (19 para 15%), sem prejudicar o desempenho dos animais, desde que as rações sejam devidamente suplementadas com os aminoácidos essenciais limitantes.
Literatura Citada
Recebido em: 12/02/03
Aceito em: 06/12/04
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- UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. SAEG (Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas) Viçosa, MG (Versão 8.0). 2000.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Ago 2005 -
Data do Fascículo
Fev 2005
Histórico
-
Aceito
06 Dez 2004 -
Recebido
12 Fev 2003