EDITORIAL
A cirurgia no século XXI
The surgery in XXI century
ECBC Augusto Paulino Netto
Ao completar 53 anos de prática da medicina e cirurgia, com amplo contato com as doenças, quer do lado do médico como do lado do paciente, alguns conceitos merecem ser relembrados para que os novos cirurgiões mantenham nossa tradição para o futuro.
As grandes mudanças no tratamento médico, mais especificamente na cirurgia, aconteceram nos últimos 80 anos, idade de nosso Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Os nomes de Barbosa Vianna, Brandão Filho, Armando Aguinaga, Augusto Paulino, Domingos de Góes, Carlos Werneck, Jayme Poggi, Mario Kroeff, Fernando Vaz, Jorge de Gouvêa, Vinelli Baptista, Pedro Paulo Paes de Carvalho, Castro Araujo, Alfredo Monteiro, Ugo Pinheiro Guimarães e muitos outros, estão indelevelmente ligados à criação de nosso Colégio.
A lembrança e a herança deixada por eles devem continuar em nossas mentes. Sem história e tradição uma instituição não se mantém. Todos os seus seguidores e cada Diretoria do Colégio Brasileiro de Cirurgiões têm se esforçado em manter esta tradição viva. Sem tradição e herança cada geração deverá iniciar de novo um processo de aperfeiçoamento.
A cirurgia moderna no Brasil nasceu em 1900, quando Eduardo Chapot Prevost,, professor de Histologia na Escola de Medicina do Rio de Janeiro realizou a primeira separação das gêmeas xifópagas na Casa de Saúde São Sebastião. Só Rosalina sobreviveu, mas o fato foi reconhecido em todo o mundo, à época.
Com o avanço da medicina e cirurgia nos últimos 60 anos, criou-se um sistema integrado de saúde, que prefiro denominar "sistema integrado de tratamento de doenças", que, baseado em informações obtidas por evidências comprovadas, possibilita melhor tratamento médico na atualidade. Atualmente, devido às novas tecnologias, há necessidade de que este tratamento seja efetuado por equipes especializadas, pois é impossível a um só médico conhecer os detalhes de cada aparelho, cada novo refinamento técnico, havendo necessidade do auxílio de engenheiros e técnicos como auxiliares inestimáveis nessas equipes.
O cirurgião continuará sendo uma peça importantíssima nestas equipes, principalmente na área do trauma, que nunca deixará de se fazer presente no mundo atual. Os custos de tratamento e prevenção de doenças vêm se tornando cada vez mais alto, devido, principalmente às descobertas, quer no âmbito de medicamentos e vacinas, e principalmente, na pesquisa, construção e manutenção de novas máquinas, como para cirurgia (cirurgia endoscópica, laparoscópica, toracoscópica, robótica), imagenologia, radioterapia e tantas outras.
O que nós aprendemos com nossos predecessores? Francis Moore escreveu em seu livro que "o ato fundamental da prática médica é o de assumir a responsabilidade". Esta responsabilidade não se restringe a nossos pacientes, mas também a nossos alunos, auxiliares, professores, colegas e a todos os chamados profissionais de saúde enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, laboratório, radiologia e tantos outros. Atualmente, nota-se uma quebra deste sentimento de responsabilidade e parece que os novos médicos, em minoria, esquecem que a razão de nossa existência é nosso paciente, pelo qual devemos dedicar nossas vidas, deixando de lado, com frequência, família e lazer.
Bondade, carinho, atenção, cuidado contínuo, são obrigações nossas com todos aqueles sob nossa responsabilidade. O cirurgião do futuro deverá participar das atividades do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, não somente como assistente ou participante de congressos e jornadas, mas ainda como colaborador, trazendo idéias para aperfeiçoamento de suas atividades, com a finalidade de, como um conjunto coeso, o Colégio possa cada vez mais efetivamente, participar no aperfeiçoamento, prática e pesquisa no campo de cirurgia.
Termino com uma frase do Professor Augusto Paulino escrita na década de 30 do século passado e ainda muito atual nos dias de hoje:
"O verdadeiro cirurgião deve ter sempre em vista que a grandeza do homem não está nem na riqueza, nem na glória, nem no exercício do poder público, nem nas altas posições sociais, nem mesmo no brilho do seu talento e na vastidão da sua cultura, mas na força e na energia de seu caráter, na firmeza de suas convicções. É nelas que se acha a verdadeira nobreza do homem. Esto vir!"
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
07 Jun 2010 -
Data do Fascículo
Abr 2010