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Medidas de qualidade lexical na avaliação da proficiência de leitura em alunos universitários brasileiros

RESUMO

Objetivos:

comparar o desempenho de alunos universitários brasileiros a partir de tarefas com habilidades de qualidade lexical e avaliar a influência do nível socioeconômico no desempenho da leitura e nos componentes que formam a qualidade lexical.

Métodos:

testes linguísticos on-line foram aplicados em 44 estudantes de duas universidades federais, sendo 19 da Universidade Federal do ABC e 25 da Universidade Federal do Ceará. Para análise foram utilizados os testes Mann-Whitney (Wilcoxon rank-sum test) de duas vias e a Correlação de Pearson com p<0,05.

Resultados:

foram obtidas correlações altas e médias entre os diferentes componentes da qualidade lexical, tais como vocabulário e reconhecimento ortográfico, além de terem sido encontradas diferenças significativas entre o desempenho dos alunos das duas universidades e de diferentes níveis socioeconômicos.

Conclusão:

menor tempo de leitura apresentou correlação com maior quantidade de acertos na leitura de palavras em voz alta, a quantidade de acertos no teste de homônimos correlacionou-se a quantidade de acertos no teste de leitura de palavras em voz alta e ambas correlacionaram-se com o tempo de resposta destes testes. Houve, também, influência do nível socioeconômico no desempenho da leitura e nos componentes que formam a qualidade lexical.

Descritores:
Leitura; Alfabetização; Adulto Jovem; Universidades

ABSTRACT

Purpose:

to assess the reading ability of university students using tasks to measure Lexical Quality (LQ) and evaluate the influence of socioeconomic status (SES) on both the reading performance and the components of Lexical Quality (LQ).

Methods:

44 students from two federal universities took online linguistic tests, 19 from the Federal University of the Great ABC Region (UFABC) and 25 from the Federal University of Ceará (UFC), Brazil. Two-ranked Mann-Whitney (Wilcoxon rank-sum test) and Pearson’s Correlation tests at p<0,05 were applied to analyze the data.

Results:

high and medium correlations were obtained among the different components of LQ, such as vocabulary and spelling recognition. In addition, significant differences were found between the performances of the two universities' students and their distinct socioeconomic levels.

Conclusion:

shorter reading times were correlated to higher accuracy in the Test of Word Reading Efficiency for Adults. The number of correct answers in the homonym test was correlated to the higher accuracy of the Test of Word Reading Efficiency for Adults, and both were correlated to the reaction time measures of these tests. The influence of socioeconomic status on reading performance and Lexical Quality components tasks was also found.

Keywords:
Reading; Higher Education; Young Adult; Literacy

INTRODUÇÃO

A leitura e a escrita têm tido um papel importante na história e no desenvolvimento da humanidade em seus diversos campos de práticas e aprendizados, pois por meio delas foi possível registrar, recuperar, acumular, usufruir e propagar o conhecimento. Como um recurso cognitivo, a leitura nos possibilita acesso mais amplo ao conhecimento, ao trabalho e à integração social, sendo, por isso, uma forma primária de socialização do indivíduo. Com efeito, a falha nesse processo representa um custo elevado para a sociedade11. Rastle K. The place of morphology in learning to read in English. Cortex. 2019 jul;116:45-54. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2018.02.008 PMID: 29605387.
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.

De acordo com a World Literacy Foundation (2022)22. Home - World Literacy Foundation [Webpage on the internet]. World Literacy Foundation. 2017 [accessed 2024 march 14]. Available at: https://worldliteracyfoundation.org/
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, o analfabetismo e a baixa proficiência na leitura custam cerca de 1,19 trilhão para a economia global anualmente, ou seja, 2% do Produto Interno Bruto (PIB) de países desenvolvidos, 1,5% dos emergentes e 0,5% dos em desenvolvimento, apenas em custos diretos. Rastle11. Rastle K. The place of morphology in learning to read in English. Cortex. 2019 jul;116:45-54. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2018.02.008 PMID: 29605387.
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informa que os custos indiretos devem ser ainda maiores, uma vez que as falhas do alfabetismo impedem que as pessoas entendam com clareza informações sobre higiene, alimentação e segurança. A autora ainda explica que o baixo alfabetismo é o que mais contribui para a desigualdade social, onerando ainda mais o Estado com gastos na previdência social, na saúde e segurança pública, além de ser o maior responsável por manter um grande contingente de pessoas dependente das políticas assistenciais. Discutir proficiência na habilidade de leitura, portanto, é mais do que falar de educação, é falar de economia.

A inserção no mundo letrado é um desafio multifacetado. As pesquisas indicam que a interação com as instituições escolares e os usos da escrita têm relação com a qualidade de alfabetização33. Batista AAG, Ribeiro VM. Cultura escrita no Brasil: modos e condições de inserção. Educação & Realidade [journal on the internet]. 2004; 29(2). [accessed 2024 march 14]. Available at: https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/25394
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. No contexto brasileiro, tem sido visto baixo desempenho em avaliações de leitura e compreensão de texto em todos os anos de escolarização, do Ensino Fundamental (EF) ao Ensino Médio (EM). Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o desempenho no Português se vê estagnado ou numa evolução lenta nos últimos 10 anos, tendo decaído em todos os anos de escolarização nas últimas duas publicações44. Sistema de Avaliação da Educação Básica [Webpage on the internet]. Saeb-Inep. [accessed 2024 march 14]. Available at: https://download.inep.gov.br/institucional/apresentacao_saeb_ideb_2021.pdf
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. A pontuação vai de 0 até 500, sendo que, partindo de 2019 para 2021, a pontuação do 5º ano decaiu de 215 para 206, a do 9º ano decaiu de 260 para 258 e a do EM decaiu de 278 para 275.

Outro indicador de proficiência na leitura, o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF) (2018)55. Indicador de Alfabetismo Funcional [Webpage on the internet]. Inaf. [accessed 2024 march 14]. Available at: https://alfabetismofuncional.org.br/
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, classifica a proficiência na leitura e compreensão em três categorias e cinco níveis. A primeira categoria contempla Analfabeto Funcional, com a ausência de habilidade de leitura (nível Analfabeto) e conhecimento básico de leitura no nível Rudimentar. A segunda categoria tem apenas um nível definido como Elementar, com capacidade de leitura de pequenos textos e algumas inferências. O terceiro nível, chamado de Alfabetismo Consolidado, subdivide-se em nível Intermediário, caracterizado pelas habilidades de localizar informação expressa de forma literal e fazer inferências em textos de diferentes níveis, e nível Proficiente, com habilidades plenas. De acordo com os dados do INAF, em 2018, no Nordeste apenas 68% dos universitários se encontravam na categoria de Alfabetismo Consolidado, ou Proficiência na língua portuguesa e, no Sudeste, essa porcentagem era de 70%. Na avaliação de alunos do EM do INAF 2018, apenas 52% dos alunos do Sudeste se encontram na categoria de Alfabetismo Consolidado e, no Nordeste, esse número cai pra 35%. Esses indicadores sugerem que a qualidade de leitura dos alunos do EM é insuficiente e, uma vez que são os mesmos que matricular-se-ão na faculdade, pode-se inferir que muitos leitores com baixa proficiência de leitura adentram os portões da universidade.

Da Silva e Novais66. da Silva MAM, Novais JO de S. O hábito de leitura dos estudantes do curso de letras. Leitura 2022; [journal on the internet]. 73(1):28-41. [accessed 2024 march 14]. Available at: https://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/download/13148/9904
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mediram, em 2022, a fluência de leitura em adultos universitários do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mostraram que um número significativo de estudantes desempenhou uma taxa de automaticidade de leitura abaixo do esperado para o nível de instrução. Aniceto et al.77. Aniceto A, Alexandra C, Lucena E, Dantas J. Compreensão leitora e estratégias de estudo: estudo correlacional com universitários. Psicologia argumento. 2016;34(86). https://doi.org/10.7213/psicol.argum.34.086.AO03
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fizeram, em 2016, estudos em relação à compreensão leitora de alunos universitários de diversas universidades da Paraíba e concluíram que existe uma baixa proficiência na leitura no grupo estudado. Desta forma, é importante avaliar o nível de leitura dos universitários para melhor caracterização do problema. Isso é possível por meio do levantamento das habilidades essenciais para uma leitura proficiente na perspectiva da Hipótese da Qualidade Lexical (HQL) em adultos.

Dentro do escopo de HQL de leitura, a qualidade lexical (QL) postula-se como a qualidade da representação da palavra no léxico mental88. Perfetti C. Reading ability: Lexical quality to comprehension. Scientific Studies of Reading. 2007;11(4):357-83. https://doi.org/10.1080/10888430701530730
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,99. Perfetti C, Harris L. Learning to read English. In: Verhoeven L, Perfetti C, editors. Learning to read across languages and writing systems. Cambridge: Cambridge University Press; 2017. p. 323-46.. A alta QL é aquela que possui um preciso delineamento dos traços linguísticos da palavra lida: ortográficos, fonológicos, morfossintáticos e semânticos. O leitor proficiente compreende que a palavra tem identidade baseada nos componentes que a definem: a forma linguística, que inclui a fonologia e a morfossintaxe; a forma ortográfica, que envolve a estrutura da palavra; e a forma conceitual, que envolve semântica e contexto de uso88. Perfetti C. Reading ability: Lexical quality to comprehension. Scientific Studies of Reading. 2007;11(4):357-83. https://doi.org/10.1080/10888430701530730
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9. Perfetti C, Harris L. Learning to read English. In: Verhoeven L, Perfetti C, editors. Learning to read across languages and writing systems. Cambridge: Cambridge University Press; 2017. p. 323-46.

10. Verhoeven L, Reitsma P, Elbro C, Perfetti CA, Hart L. The lexical quality hypothesis. In: Verhoeven L, Elbro C, Reitsma P, editors. Precursors of functional literacy. Amsterdam, England: J. Benjamins Publishing Company; 2002. p. 189-213.
-1111. Perfetti CA. Lexical quality revisited. In: Segers E, Broek P, editors, Developmental perspectives in written language and literacy: In honor of Ludo Verhoeven. Amsterdam, England: John Benjamins Publishing Company; 2017. p. 51-67.. Dessa forma, a identidade da palavra no léxico mental estabelece-se como uma interação entre os componentes precisos, mas com interação redundante, para que se dê conta de sobreposições ortográficas e fonológicas (palavras homógrafas e homófonas, por exemplo). Ainda, segundo Perfetti, qualquer falha na representação ou interação dos componentes da palavra representa uma ameaça à qualidade lexical e à recuperação da palavra88. Perfetti C. Reading ability: Lexical quality to comprehension. Scientific Studies of Reading. 2007;11(4):357-83. https://doi.org/10.1080/10888430701530730
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9. Perfetti C, Harris L. Learning to read English. In: Verhoeven L, Perfetti C, editors. Learning to read across languages and writing systems. Cambridge: Cambridge University Press; 2017. p. 323-46.

10. Verhoeven L, Reitsma P, Elbro C, Perfetti CA, Hart L. The lexical quality hypothesis. In: Verhoeven L, Elbro C, Reitsma P, editors. Precursors of functional literacy. Amsterdam, England: J. Benjamins Publishing Company; 2002. p. 189-213.
-1111. Perfetti CA. Lexical quality revisited. In: Segers E, Broek P, editors, Developmental perspectives in written language and literacy: In honor of Ludo Verhoeven. Amsterdam, England: John Benjamins Publishing Company; 2017. p. 51-67..

Perfetti1111. Perfetti CA. Lexical quality revisited. In: Segers E, Broek P, editors, Developmental perspectives in written language and literacy: In honor of Ludo Verhoeven. Amsterdam, England: John Benjamins Publishing Company; 2017. p. 51-67., por meio da HQL, refere-se ao papel causal que o conhecimento lexical desempenha na leitura, implicando em diferenças individuais na velocidade e eficiência da recuperação das palavras. A baixa QL, em contraste à alta qualidade, é também proveniente de uma relação não sincrônica entre os três componentes (linguístico, ortográfico e conceitual), sendo que a falha na prontidão e/ou recuperação de um deles impacta no processo de recuperação da identidade da palavra na memória de um leitor. Esse evento acarreta uma menor fluidez no que diz respeito à leitura ao nível da palavra, demandando um maior tempo de processamento e empenho dos recursos cognitivos adicionais. Desta forma, baixa QL resulta em menos recursos disponíveis para o processamento ao nível da frase na integração das palavras e para a compreensão contextual.

A QL tem sido avaliada por meio de diferentes habilidades cognitivas, tais como reconhecimento de palavras, avaliação do vocabulário, leitura e compreensão de textos e leitura de pseudopalavras em voz alta1212. Andrews S, Veldre A, Clarke IE. Measuring lexical quality: The role of spelling ability. Behavior Research Methods. 2020;52(6):2257-82. https://doi.org/10.3758/s13428-020-01387-3
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. Além da avaliação dos componentes da QL, podem ser coletadas as medidas mais subjetivas sobre a proficiência, por meio de questionários de hábitos de leitura com questões sobre gêneros literários e conhecimento de diferentes autores, que pretendem aferir a exposição do indivíduo à palavra escrita1313. Taylor JN, Perfetti CA. Eye movements reveal readers' lexical quality and reading experience. Reading and Writing. 2016;29(6):1069-103. https://doi.org/10.1007/s11145-015-9616-6
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.

Andrews e colegas1212. Andrews S, Veldre A, Clarke IE. Measuring lexical quality: The role of spelling ability. Behavior Research Methods. 2020;52(6):2257-82. https://doi.org/10.3758/s13428-020-01387-3
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13. Taylor JN, Perfetti CA. Eye movements reveal readers' lexical quality and reading experience. Reading and Writing. 2016;29(6):1069-103. https://doi.org/10.1007/s11145-015-9616-6
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14. Andrews S, Hersch J. Lexical precision in skilled readers: Individual differences in masked neighbor priming. Journal of Experimental Psychology: General. 2010;139(2):299-318. https://doi.org/10.1037/a0018366
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15. Andrews S, Lo S. Not all skilled readers have cracked the code: Individual differences in masked form priming. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition. 2012;38(1):152-63. https://doi.org/10.1037/a0024953
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16. Veldre A, Andrews S. Lexical quality and eye movements: Individual differences in the perceptual span of skilled adult readers. Quarterly Journal of Experimental Psychology. 2014;67(4):703-27. https://doi.org/10.1080/17470218.2013.826258
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-1717. Veldre A, Andrews S. Parafoveal preview benefit is modulated by the precision of skilled readers' lexical representations. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. 2015;41(1):219-32. https://doi.org/10.1037/xhp0000017
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avaliaram as diferenças individuais no processamento da língua por meio de várias medidas de proficiência. Ao longo dos trabalhos publicados, Andrews et al.1212. Andrews S, Veldre A, Clarke IE. Measuring lexical quality: The role of spelling ability. Behavior Research Methods. 2020;52(6):2257-82. https://doi.org/10.3758/s13428-020-01387-3
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13. Taylor JN, Perfetti CA. Eye movements reveal readers' lexical quality and reading experience. Reading and Writing. 2016;29(6):1069-103. https://doi.org/10.1007/s11145-015-9616-6
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14. Andrews S, Hersch J. Lexical precision in skilled readers: Individual differences in masked neighbor priming. Journal of Experimental Psychology: General. 2010;139(2):299-318. https://doi.org/10.1037/a0018366
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15. Andrews S, Lo S. Not all skilled readers have cracked the code: Individual differences in masked form priming. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition. 2012;38(1):152-63. https://doi.org/10.1037/a0024953
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16. Veldre A, Andrews S. Lexical quality and eye movements: Individual differences in the perceptual span of skilled adult readers. Quarterly Journal of Experimental Psychology. 2014;67(4):703-27. https://doi.org/10.1080/17470218.2013.826258
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-1717. Veldre A, Andrews S. Parafoveal preview benefit is modulated by the precision of skilled readers' lexical representations. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. 2015;41(1):219-32. https://doi.org/10.1037/xhp0000017
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buscaram encontrar uma forma de avaliar a precisão ortográfica, que é umas das características centrais da Qualidade Lexical. Ela é importante, pois a identificação rápida e exata por meio do acesso lexical requer do leitor extração dos traços mais relevantes da palavra por meio do input perceptual, a visão, e com estes traços o leitor mapeia a palavra lida nas representações lexicais existentes em seu léxico mental.

Andrews et al.1212. Andrews S, Veldre A, Clarke IE. Measuring lexical quality: The role of spelling ability. Behavior Research Methods. 2020;52(6):2257-82. https://doi.org/10.3758/s13428-020-01387-3
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apontam que testes combinando ditado e reconhecimento ortográfico, aplicados juntamente com provas que avaliam a proficiência lexical, como vocabulário, leitura e compreensão de texto, entre outros, demonstram que a prontidão no reconhecimento ortográfico é capaz de prever essa variação singular1212. Andrews S, Veldre A, Clarke IE. Measuring lexical quality: The role of spelling ability. Behavior Research Methods. 2020;52(6):2257-82. https://doi.org/10.3758/s13428-020-01387-3
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13. Taylor JN, Perfetti CA. Eye movements reveal readers' lexical quality and reading experience. Reading and Writing. 2016;29(6):1069-103. https://doi.org/10.1007/s11145-015-9616-6
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14. Andrews S, Hersch J. Lexical precision in skilled readers: Individual differences in masked neighbor priming. Journal of Experimental Psychology: General. 2010;139(2):299-318. https://doi.org/10.1037/a0018366
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15. Andrews S, Lo S. Not all skilled readers have cracked the code: Individual differences in masked form priming. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition. 2012;38(1):152-63. https://doi.org/10.1037/a0024953
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16. Veldre A, Andrews S. Lexical quality and eye movements: Individual differences in the perceptual span of skilled adult readers. Quarterly Journal of Experimental Psychology. 2014;67(4):703-27. https://doi.org/10.1080/17470218.2013.826258
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17. Veldre A, Andrews S. Parafoveal preview benefit is modulated by the precision of skilled readers' lexical representations. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. 2015;41(1):219-32. https://doi.org/10.1037/xhp0000017
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18. Veldre A, Andrews S. Parafoveal preview effects depend on both preview plausibility and target predictability. Quarterly Journal of Experimental Psychology. 2018;71(1):64-74. https://doi.org/10.1080/17470218.2016.1247894
-1919. Veldre A, Drieghe D, Andrews S. Spelling ability selectively predicts the magnitude of disruption in unspaced text reading. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. 2017;43(9):1612-28. https://doi.org/10.1037/xhp0000425
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. Os autores enfatizam que há evidência acumulada de que medidas de proficiência lexical preveem variação sistemática no desempenho da leitura de adultos, devido às diferenças individuais adquiridas na alfabetização e consolidadas por meio da experiência de leitura.

A motivação do presente estudo foi a necessidade de se formular uma avaliação eficaz das habilidades essenciais na leitura de adultos brasileiros. Os instrumentos disponíveis para essa população em português são escassos e, muitas vezes, não são sensíveis para diferenciar o desempenho de leitura entre os leitores adultos ou são direcionados para distinguir grupos clínicos, como da dislexia, por exemplo. Entre os testes publicados no Brasil para a população adulta, encontram-se o RAN (rapid automatized naming)2020. Michelino MS, Macedo EC. Consciência fonológica, nomeação automática rápida e leitura em adultos analfabetos funcionais. CoDAS. 2021;33(1):e20190206. https://doi.org/10.1590/2317-1782/20202019206 PMID: 33886745.
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que avalia o acesso lexical e o Teste de Competência de Leitura de Palavras para Adultos (TCLP-2)2121. Dias NM, Mecca TP, de Oliveira PV, Pontes JM, de Macedo EC. Adult reading assessment tools: A psychometric study. Rev. CEFAC. 2016;18(5):1169-78. https://doi.org/10.1590/1982-0216201618523615
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, que avalia reconhecimento de palavras.

Desta forma, o objetivo do presente estudo foi comparar o desempenho de alunos universitários brasileiros a partir de tarefas com habilidades de QL e avaliar a influência do nível socioeconômico no desempenho da leitura e nos componentes que formam a QL.

MÉTODOS

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do ABC, sob parecer de número 5.073.251 e CAAE: 44406721.6.1001.5594, em conformidade com a Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, que é recomendado para pesquisas em seres humanos.

Na língua inglesa, Andrews usou o Nelson Denny Test (NDT) como ferramenta para avaliar a qualidade lexical1212. Andrews S, Veldre A, Clarke IE. Measuring lexical quality: The role of spelling ability. Behavior Research Methods. 2020;52(6):2257-82. https://doi.org/10.3758/s13428-020-01387-3
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. O NDT consiste em 80 questões de vocabulário. O participante deve escolher uma entre cinco alternativas que podem ser sinônimos/antônimos ou a definição da palavra que se correlaciona melhor com uma palavra apresentada. Ele também tem uma parte de leitura e compreensão de texto, em que são feitas 38 perguntas de compreensão a partir de sete textos curtos sobre assuntos variados. O teste também avalia a velocidade de leitura dos participantes em um minuto. Também foi utilizado o Spelling Recognition Test, que consiste em 88 palavras, metade com erros ortográficos, sendo que o participante deve escolher qual palavra apresenta a grafia errada.

A partir destes instrumentos validados na língua inglesa, foram criados testes exploratórios no português. A criação destes testes não se trata da validação de um novo instrumento, nem de tradução dos testes da língua inglesa, mas sim de uma exploração de testes criados na língua portuguesa, com base nas lógicas utilizadas em outros testes já validados na língua inglesa, para fins futuros de validação.

Participantes

Os dados foram coletados com 44 estudantes de duas universidades federais (UF), sendo 19 da Universidade Federal do ABC (UFABC) e 25 da Universidade Federal do Ceará (UFC). A amostra da UFABC foi composta majoritariamente de graduandos da Neurociência, sendo heterogênea em relação ao semestre do curso. A amostra da UFC foi majoritariamente do sexto semestre de estudantes do curso de Letras - inglês. A média de idade dos participantes foi de 23,51 anos (DP = 4,07), com 52,83% de mulheres. Todos os participantes reportaram português como sua língua materna.

Instrumentos de avaliação de HQL

Teste de Reconhecimento Ortográfico de Palavras (TRO) (de autoria própria): em uma tentativa foram mostradas quatro palavras, sendo que três palavras eram ortograficamente incorretas e uma era correta. O participante deveria escolher, dentre as alternativas, qual era a palavra com a ortografia correta. No total havia sete questões e o desempenho foi avaliado por meio dos acertos e tempo de resposta.

Teste de Homônimos (TH) (de autoria própria): foram apresentadas frases com uma lacuna e, após a leitura, o participante deveria indicar qual, entre duas alternativas de palavras homônimas com significados diferentes, era a palavra correta tanto semanticamente como ortograficamente. No total havia 25 questões. O desempenho foi avaliado por meio dos acertos e tempo de resposta.

Teste de Leitura e Compreensão (TLC) (de autoria própria): foi pedida a leitura e compreensão de textos oriundos de gêneros discursivos usuais do EF e EM. A tarefa consistia em passagens narrativas, jornalísticas e científicas, que foram apresentadas para a leitura e foram seguidas por uma pergunta de compreensão. No total havia sete textos. O desempenho foi avaliado por meio de acertos das perguntas e tempo médio da leitura de todos os textos.

Teste de Leitura de Palavras em Voz Alta (TLPV) (de autoria própria): foi apresentada uma lista de palavras de baixa frequência e orientada a leitura rápida e correta em voz alta. No total o teste continha 126 palavras divididas em cinco páginas, com duas colunas cada uma. A tarefa foi gravada, transcrita e o desempenho foi avaliado por meio de acertos de pronúncia e rapidez da leitura.

Critério Brasil (ABEP): questionário socioeconômico criado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas que divide os participantes em classes sociais por meio de uma avaliação de pontos.

Procedimento

Devido à coincidência do período de coleta com a pandemia por Covid-19, os contatos e as coletas foram feitos de forma remota. O contato com os participantes e o recrutamento foi feito de duas maneiras: por meio do WhatsApp ou e-mail. Os participantes passaram pelo procedimento com sequência de tarefas controlada da seguinte forma: metade dos participantes iniciou com as perguntas de múltipla escolha na plataforma JsPsych e depois continuou com a leitura das palavras pelo Google Meet e a outra metade dos participantes fez a ordem inversa. Apesar de as tarefas serem de fácil compreensão, durante toda avaliação, o examinador(a) permaneceu disponível via WhatsApp para sanar qualquer tipo de dúvida que surgisse no decorrer da aplicação. Todos os participantes concluíram todos os testes de qualidade lexical e o questionário socioeconômico.

Foram realizados testes de estatística inferencial, sendo aplicados o Mann-Whitney (Wilcoxon rank-sum test) de duas vias e a Correlação de Pearson, os dados foram analisados por meio do programa de análise estatística, open-source, JASP. Foi utilizado o valor de significância 0,05.

A pontuação e o tempo de reação dos testes que avaliaram os componentes de QL passaram pela análise de normalidade que mostrou distribuição não-normal (teste Shapiro-Wilk; p < 0,001) e, portanto, foram adotadas as comparações não-paramétricas.

RESULTADOS

Inicialmente a amostra dos alunos foi caracterizada de acordo com a classe socioeconômica para cada universidade, UFABC e UFC, cujo resultado está descrito na Figura 1. Os alunos cobriram as faixas socioeconômicas de A até C2, porém o maior número de alunos de ambas as universidades foi concentrado na faixa B2.

Figura 1
Gráfico de frequência relativa de classe econômica em relação à universidade do participante. A classificação socioeconômica foi baseada no critério Brasil de 2019 da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP).

Os desempenhos dos alunos de ambas as amostras (UFC vs UFABC) foram comparados para as pontuações totais (acerto) e tempo de reação (RT) em cada uma das tarefas. De forma geral, os grupos de alunos apresentaram diferença estatisticamente significativa em alguns dos testes, principalmente na velocidade de execução. Alunos da UFC realizaram tarefas em tempo menor no reconhecimento ortográfico e reconhecimento dos homônimos, sem prejuízo no nível de acerto. A pontuação foi estatisticamente diferente apenas na tarefa de Leitura e Compreensão, com maior acerto no grupo UFC. Todas as médias, medianas e desvios-padrão de cada teste estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1
Pontuação Média e tempo de reação por grupo nos testes

Tendo em vista a diferença nos desempenhos, os grupos foram unidos e foram feitas análises de correlação entre as tarefas, a fim de se avaliar a relação entre os componentes de QL. Os resultados mostraram correlação negativa entre o tempo de leitura e acertos no TLPV (r = -0,40; p < 0,01), o que indica que alunos que têm uma leitura lenta (tempo maior) também leem de forma menos correta (acerto menor). Encontrou-se alta correlação entre acertos das tarefas TH e TRO (r = 0,484; p < 0,001) e o tempo de resposta dessas tarefas (r = 0,739; p < 0,001), indicando que um bom e rápido reconhecimento de ortografia correlaciona-se com uma correta e rápida avaliação dos homônimos. Além disso, houve uma correlação entre TH e TLPV (r = 0,46; p < 0,01), indicando relação entre acertos no vocabulário e no reconhecimento ortográfico.

Figura 2
Gráficos de dispersão das correlações significativas, com intervalos de predição de modelo em 95% na linha pontilhada verde. Figura esquerda mostra a correlação de TRO x TH; figura do meio aponta a correlação de TH x TLPV; já a figura direita mostra a correlação de TLPV x TLPV(rt).

Ademais, o acerto na TH mostrou uma correlação média (r = 0,415; p < 0,05) com nível socioeconômico, indicando que os leitores com maior conhecimento de vocabulário também pertencem às classes mais altas. A mesma tendência foi observada para a correlação do nível socioeconômico e o tempo de resposta para o TLC (r = 0,352), ou seja, os alunos com maior nível socioeconômico tendem a ler um conjunto de textos mais rápido. Os dados estão descritos na Figura 3.

Figura 3
Gráfico de dispersão das correlações significativas entre acertos na tarefa de homônimos e a classe socioeconômica dos participantes. Intervalos de predição de modelo em 95% na linha pontilhada verde. Nessa correlação apenas foram considerados 29 alunos, devido a problemas no preenchimento do formulário.

DISCUSSÃO

O presente estudo utilizou os pressupostos da HQL e avaliou instrumentos para mensurar os componentes da QL em leitores adultos. Veldre e Andrews1717. Veldre A, Andrews S. Parafoveal preview benefit is modulated by the precision of skilled readers' lexical representations. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. 2015;41(1):219-32. https://doi.org/10.1037/xhp0000017
https://doi.org/10.1037/xhp0000017...
relataram a confiabilidade nos testes de reconhecimento (ortográfico, fonológico e morfológico) para verificar medidas de HQL e mostraram correlação com algumas outras medidas de habilidade de leitura, como vocabulário, leitura e compreensão e velocidade de leitura. Essas evidências são parcialmente reproduzidas no presente trabalho, que encontrou correlações importantes entre a leitura em voz alta, identificação de homônimos (que envolve vocabulário e ortografia) e o reconhecimento ortográfico. Diferentemente do esperado em relação aos achados na língua inglesa, na amostra brasileira de leitores universitários não foram encontradas correlações positivas entre os acertos e a velocidade de execução nos testes de habilidades ortográficas, ou seja, quem acerta mais em um teste o faz com mais rapidez. Uma das possíveis explicações é a própria transparência da língua portuguesa que é maior do que a do inglês, sendo que leitores em línguas transparentes cometem menos erros, do que em línguas opacas. Outras possíveis causas devem ser investigadas nos próximos estudos.

De forma geral, as tarefas aplicadas neste estudo mostraram evidências de que são capazes de avaliar os componentes de QL, que são habilidades essenciais para diferenciar o nível de proficiência na leitura em adultos. Atualmente não há testes similares no Brasil para essa população.

Outro achado importante é a relação entre classe socioeconômica e pontuação em alguns dos componentes da QL, especificamente no teste de homônimos e na velocidade de leitura de textos. Participantes de classes maiores mostraram melhor desempenho nessas tarefas e, uma vez que o bom desempenho no teste de homônimos e na velocidade de leitura requer conhecimentos ortográficos e de vocabulário, pode-se hipotetizar que essas são habilidades deficientes nos alunos de baixa renda. Outro estudo2222. Castro FM, Rodrigues AS, Costa FLP da. Right to read: What we can learn from neurosciences to augment childhood and literacy policies? Educ Pesqui. 2023;49:e249518. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349249518eng
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349...
mostrou que um déficit prévio pode ser carregado desde os anos iniciais de alfabetização. O aluno com baixo acesso ao treino de leitura, isto é, o aluno que é obrigado a trabalhar e/ou está passando por insegurança alimentar tem menos tempo livre para praticar a leitura do que um aluno que não precisa trabalhar2323. Carnevale AP, Smith N. Balancing work and learning: Implications for low-income students [Webpage on the internet]. 2018. [accessed 2024 march 14]. Available at: https://cew.georgetown.edu/cew-reports/learnandearn/#resources
https://cew.georgetown.edu/cew-reports/l...
.

Esse achado é importante, porém sua interpretação é limitada por uma sub-representação das classes D e E no presente estudo, o que é condizente com estudos recentes sobre o perfil dos estudantes de graduação no Brasil. De acordo com o 10º Mapa do Ensino Superior no Brasil do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp)2424. Download - 10º Mapa do Ensino Superior - Instituto Semesp [Webpage on the internet]. Semesp. [accessed 2024 march 14]. Available at: https://www.semesp.org.br/mapa/edicao-10/download/
https://www.semesp.org.br/mapa/edicao-10...
, em 2018, apenas 19% da população brasileira entre 18-24 da classe D estava matriculada no ensino superior, destes apenas 5,4% estava em uma instituição pública; da classe E, temos apenas 10,5% da população matriculada no ensino superior e destes apena 4,2% no ensino público. Comparativamente temos 61,9%, 54,7% e 30,1% das populações da classe A, B e C, respectivamente, matriculadas no ensino superior, com 15,5%, 16,7% e 6,8% representados nas universidades públicas. Esse dado mostra que o nível socioeconômico tem impacto direto na entrada do jovem na universidade pública e este artigo complementa esses dados, indicando que os jovens que entram nas universidades públicas ainda sofrem com os efeitos negativos de sua condição socioeconômica em alguns dos componentes de sua leitura. O efeito disso na desistência e abandono escolar deve ser ainda avaliado.

Os resultados do presente estudo são coerentes com a teoria da HQL, na qual se verifica que indivíduos com um amplo conhecimento lexical apresentam melhor desempenho nas tarefas de reconhecimento ortográfico e na decodificação de palavras1010. Verhoeven L, Reitsma P, Elbro C, Perfetti CA, Hart L. The lexical quality hypothesis. In: Verhoeven L, Elbro C, Reitsma P, editors. Precursors of functional literacy. Amsterdam, England: J. Benjamins Publishing Company; 2002. p. 189-213.. Além disso, o melhor desempenho dos alunos da UFC, na tarefa de leitura e compreensão, pode ser justificado pela amostra mais homogênea de estudantes de Letras, comparada a amostra mais heterogênea de estudantes de diversos semestres da UFABC. Pode-se hipotetizar que a carga de leitura da faculdade de Letras é mais consistente do que a carga dos alunos de Neurociências. Conforme Da Silva e Novais77. Aniceto A, Alexandra C, Lucena E, Dantas J. Compreensão leitora e estratégias de estudo: estudo correlacional com universitários. Psicologia argumento. 2016;34(86). https://doi.org/10.7213/psicol.argum.34.086.AO03
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, muitos alunos do curso de Letras não mantêm um hábito de leitura frequente, mesmo assim, esse hábito pode ser superior ao de alunos de Neurociências.

Esse estudo apenas levantou evidências iniciais da problemática de qualidade de leitura em universitários, um tema relevante e pouco estudado no Brasil. Algumas das limitações deste estudo devem ser sanadas nas próximas investigações. Entre elas, devem ser citados o baixo número de participantes e a ausência das medidas validadas. A amostra foi pequena, porém representativa de dois estados brasileiros com realidades sociodemográficas distintas. No entanto, não possibilitou análises de sensibilidade dos instrumentos e uma categorização dos níveis de leitura dos estudantes brasileiros. Já a ausência de outros testes no mercado brasileiro impediu o levantamento das medidas de validade. Outra limitação do estudo foi ter comparado estudantes majoritariamente de Letras com os de Neurociências, uma maior homogeneidade deve ser considerada nos próximos estudos.

CONCLUSÃO

Menor tempo de leitura apresentou correlação com maior quantidade de acertos na leitura de palavras em voz alta; a quantidade de acertos no teste de homônimos correlacionou-se a quantidade de acertos no teste de leitura de palavras em voz alta e ambas correlacionaram-se com o tempo de resposta destes testes. Houve, também, influência do nível socioeconômico no desempenho da leitura e nos componentes que formam a QL.

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  • Estudo realizado na Universidade Federal do ABC, São Bernardo, São Paulo, Brasil e na Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.
  • Fonte de financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, código de Financiamento 2020/15916-4

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    15 Set 2023
  • Revisado
    18 Nov 2023
  • Aceito
    10 Abr 2024
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