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Transplante facial: considerações da literatura

Carta ao editor

O livro “Transplantação da face humana: efeitos neurofisiológicos na exibição e no reconhecimento das emoções básicas: estudo de caso com Carmem Tarleton” é fruto do doutorado da psicóloga portuguesa Daniela Alves, sob a orientação do PhD, MD Armindo Freitas-Magalhães. Insere o leitor em uma realidade não estudada no Brasil e, portanto, interessante de ser apresentada ao pesquisador brasileiro.

De acordo com a autora, os impactos do transplante facial resultaram em benefícios clínicos, estéticos, funcionais, sociais e emocionais, embora o procedimento ainda tenha caráter experimental e alguns pacientes tenham experimentado rejeição, complicações imunodepressoras e morte.

O procedimento tem sido realizado em casos com grande deformidade facial e, mesmo frente aos resultados positivos supracitados, há relatos na literatura de dificuldades, por parte dos transplantados, na execução da expressão facial emocional devido a lesões neuromusculoesqueléticas faciais, afetando, por consequência, o reconhecimento das expressões faciais evocadas pelos pacientes e desta forma, a comunicação.

O transplante facial é geralmente aceito pelos pacientes, uma vez que almejam ter uma face menos desfigurada, porém, segundo a autora, há dificuldades quanto à reconstituição de sua nova identidade, uma vez que a face de outra pessoa foi transplantada sobre seu arcabouço ósseo, bem como a aceitação dessa nova face por parte de sua rede social (família e amigos), revelando uma série de complexidades geradas a partir do procedimento.

Destaca ainda que a avaliação, o procedimento cirúrgico e o pós-operatório são acompanhados por equipe multidisciplinar experiente composta por médicos, enfermeiros, psiquiatras, psicólogos e outros. Apesar da autora não citar o fonoaudiólogo (ou terapeuta da fala), infere-se que este profissional também seja essencial na equipe multiprofissional, em todas as fases de intervenção.

O primeiro capítulo do livro trata sobre o tema do desfiguramento facial, definindo-o, revelando suas possíveis causas, as dificuldades sentidas pelos pacientes, seu impacto no autoconceito, na interação social entre outros aspectos.

O segundo capítulo aprofunda o tema sobre o transplante facial, revelando seus aspectos históricos, tipos de transplante, aspectos neuropsicoanatomofisiológicos, a identificação da face antes e após o transplante e a abordagem psicossocial. Evidencia o procedimento como recente no mundo, sendo que até 2015 haviam sido realizados 28 transplantes faciais no mundo, mais especificamente na França (nove casos), nos Estados Unidos (sete), Turquia (cinco), Espanha (três), Polônia (dois), China e Bélgica (um para cada País).

A expressão facial da emoção é discutida no terceiro capítulo, desde seus aspectos teóricos até os processos neuroanatomofisiológicos envolvidos nas emoções tidas como básicas: alegria, tristeza, surpresa, aversão, raiva, desprezo, medo e a aplicação do Sistema de Codificação da Ação Facial (Facial Acting Coding System - FACS) para a análise da expressão facial emocional.

No capítulo seguinte a autora descreveu sobre o processo metodológico de sua pesquisa centrada em estudo de casos de paciente submetida a transplante facial e a profissionais, por meio de entrevistas dirigidas a essa paciente e a quatro profissionais que realizaram ou participaram da equipe dos transplantes, além de análise de documentação (fotográfica e vídeos) da paciente americana transplantada. A autora apresenta várias fotografias da paciente dos momentos pré-incidente traumático, pós-incidente traumático (queimadura provocada pelo ex-marido por produto químico, ficando com 80% do corpo atingido), bem como comparando as emoções básicas nesses três momentos.

No capítulo de conclusão, expõe sobre a importância da compreensão do processo neuropsicofisiológico na exibição e no reconhecimento das emoções básicas após o transplante da face, evidenciando também as limitações expressivas faciais na paciente transplantada, acarretando em limitações comunicativas, porém, contribuindo na autoestima, na qualidade de vida e na (re)construção de sua identidade.

O livro traz contribuições científicas sobre o assunto e permite reflexões sobre a importância da expressão facial emocionais na vida cotidiana.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    11 Maio 2017
  • Aceito
    22 Maio 2017
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