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SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DO CONHECIMENTO: PERFIL DE AUTORIA E ANÁLISE TEMÁTICA DAS PUBLICAÇÕES DO KM BRASIL NO PERÍODO DE 2002 A 2016

RESUMO

Analisam-se, com foco no tema sustentabilidade, os documentos publicados nos anais eletrônicos do KM Brasil, correspondente às treze edições do evento, no período de 2002 a 2016. Tem-se por objetivo identificar a amplitude do tema sustentabilidade, o perfil de autoria e a diversidade temática, no âmbito das discussões relacionadas à gestão do conhecimento, a partir da base histórica do KM Brasil, o maior evento do tema na América Latina. A fundamentação teórica apresenta breve caracterização sobre gestão do conhecimento e sustentabilidade. O estudo descritivo caracteriza-se por uma abordagem quanti-qualitativa, com utilização das técnicas da bibliometria, sobretudo, por meio de estatística descritiva, complementada por uma análise de conteúdo. A análise quantitativa abrangeu, inicialmente, 605 documentos, concentrando-se, posteriormente, nos 18 artigos que apresentaram o tema sustentabilidade no título e/ou nas palavras-chave, sendo a análise qualitativa restrita somente a estes 18 artigos. Dentre os resultados, destaca-se a ocorrência de 54 autores que publicaram sobre o tema sustentabilidade, com prevalência de autoria do gênero masculino, coletiva, com vínculo acadêmico e atuação no setor público; além de terem sido identificados 42 assuntos e 18 focos relacionados à sustentabilidade e à gestão do conhecimento. Conclui-se se evidenciando que, apesar do grande número de participantes atuantes no mercado empresarial, há uma considerável predominância da academia na realização dos estudos sobre sustentabilidade e que a quantidade de 18 documentos sobre sustentabilidade é pouco representativa diante do total das 605 publicações que fazem parte da base histórica do KM Brasil.

PALAVRAS-CHAVE:
Bibliometria; Gestão do Conhecimento; Sustentabilidade; Produção científica

ABSTRACT

The documents published in the electronic records of KM Brasil, corresponding to the thirteen editions of the event, from 2002 to 2016, are analyzed with a focus on sustainability. The objective is to identify the breadth of the sustainability theme, the authorship profile and the thematic diversity, within the framework of the discussions related to knowledge management, from the historical basis of KM Brazil, the biggest event of the theme in Latin America. The theoretical foundation presents a brief characterization about knowledge management and sustainability. The descriptive study is characterized by a quantitative-qualitative approach, using bibliometric techniques, mainly through descriptive statistics, complemented by a content analysis. The quantitative analysis initially covered 605 documents, focusing later on the 18 articles that presented the theme sustainability in the title and / or keywords, and the qualitative analysis is restricted to these 18 articles. Among the results, we highlight the occurrence of 54 authors who published on the subject of sustainability, with prevalence of authorship of the masculine gender, collective, with academic link and performance in the public sector; in addition to 42 subjects and 18 foci related to sustainability and knowledge management. It is concluded that, despite the large number of participants in the business market, there is a considerable predominance of the academy in the studies on sustainability, and that the number of 18 documents on sustainability is not very representative in relation to the total of the 605 publications that make part of the historical basis of KM Brazil.

KEYWORDS:
Bibliometry; Knowledge management; Sustainability; Scientific production

1 Introdução

As discussões sobre sustentabilidade vêm ganhando cada vez mais alcance nos ambientes empresarial e governamental, na sociedade, em geral, e na academia.

Empresas vêm aperfeiçoando seus modelos de gestão, a fim de aprimorar suas práticas em todas as dimensões da sustentabilidade - ambiental, social e econômico, adotando mecanismos que evidenciem um elevado nível de ética e transparência em seus negócios, seja pela consciência dos empresários, razões mercadológicas, imposições regulatórias ou exigências dos consumidores.

Governos em todo o mundo são chamados a formularem legislações, políticas públicas e modelos de desenvolvimento que permitam o progresso no presente sem comprometer o futuro do planeta.

A sociedade, aqui mais representada pelas ONGs, direciona suas reflexões para os impactos sociais e ambientais decorrentes do crescimento econômico, sobretudo, da exploração do trabalho humano e da degradação dos recursos naturais, colocando-se em questão a qualidade de vida da humanidade e a sua própria sobrevivência.

Já a academia, por sua vez, atua no desenvolvimento de estudos de natureza teórica, técnica e comportamental, relacionados aos aspectos econômicos, ambientais e sociais da sustentabilidade. É próprio do ambiente acadêmico ser um elo entre as discussões de interesse empresarial e governamental e as de interesse social. É nesse contexto que se buscou entender “Como o tema sustentabilidade foi abordado ao longo das 13 edições do Congresso Brasileiro de Gestão do Conhecimento (KM Brasil), considerado o maior evento da América Latina?”.

O evento em si apresenta-se como um locus propício para a discussão sobre sustentabilidade, já que é organizado pela Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que atua na promoção da prática e do desenvolvimento da gestão do conhecimento (GC), por meio da integração das organizações privadas e públicas, do terceiro setor e da academia.

Parte-se da premissa de que há uma sinergia entre os temas sustentabilidade e gestão do conhecimento, pois ambos tratam de aspectos relacionados à estratégia de criação de valor e ao desenvolvimento das organizações. Assim, tendo-se por objetivo identificar a amplitude do tema sustentabilidade, o perfil de autoria e a diversidade temática, no âmbito das discussões relacionadas à gestão do conhecimento, a partir da base histórica do KM Brasil, segue-se uma breve fundamentação teórica sobre gestão do conhecimento e sustentabilidade, a descrição do método, os resultados e as conclusões.

2 Referencial Teórico

2.1 Gestão do Conhecimento

A gestão do conhecimento pode ser considerada a partir de diferentes perspectivas: foco no conhecimento (tácito ou explícito), no capital (humano, organizacional, de relacionamento), nas práticas ou na estratégia.

Como neste estudo busca-se compreender a relação entre gestão do conhecimento e sustentabilidade, a abordagem conceitual sobre gestão do conhecimento também seguirá esta relação, focando-se na estratégia e, para isso, recorrendo-se à visão da empresa baseada em recursos (RBV, do inglês resource based view) e mais especificamente à visão baseada no conhecimento (KBV, do inglês knowledge-based view).

A concepção da gestão do conhecimento com foco na gestão dos recursos trata da capacidade da organização de empregar de maneira produtiva o conjunto de recursos que possui de modo a gerar riqueza e garantir sua sustentabilidade.

Esta capacidade pode ser entendida como a “competência organizacional”, definida por Fernandes, Fleury e Mills (2006FERNANDES, Bruno Henrique Rocha; FLEURY, Maria Tereza Leme; MILLS, John. Construindo o diálogo entre competência, recursos e desempenho organizacional. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 46, n. 4, p. 1-18, out./dez. 2006., p. 49) como “um conjunto de recursos coordenados que geram valor à organização, são difíceis de imitar, podem ser transferidos a outras áreas, produtos ou serviços da organização, e impactam o desempenho organizacional em um fatorchave a seu sucesso”.

Para Bierly e Chakrabarty (1996BIERLY, P.; CHAKRABARTY, A. Generic knowledge strategies in the U.S. pharmaceutical industry. Strategic Management Journal, v. 17, p.123-35, Winter 1996.) os desempenhos diferentes entre empresas resultam de diferentes bases de seus conhecimentos e diferentes capacidades no desenvolvimento e desdobramento desses conhecimentos.

De acordo com Sveiby (2001SVEIBY, K.E. A Knowledge-based theory of the firm to guide in strategy formulation. Journal of Intellectual Capital, v. 2, n. 4, p. 344-58, 2001.) uma formulação de estratégia baseada no conhecimento deve começar pela competência das pessoas, entendida por ele como o recurso intangível primário.

O conhecimento é um recurso primordial à criação de capacidades essenciais para geração de vantagem competitiva sustentável. As organizações já perceberam a necessidade de gerir o conhecimento para manterem-se competitivas. Inúmeros benefícios podem ser obtidos por uma empresa que tem um processo eficaz de gestão do conhecimento: compartilhar melhores práticas de gestão, acelerar inovação, organizar a informação disponível, mapear competências individuais, reter talentos facilitar a contribuição individual dos colaboradores. (ROSA, 2012ROSA, Fabiana Pereira. Visão baseada em recursos: a gestão do conhecimento como estratégia competitiva sustentável. Revista Trajetória, Multicursos, Faculdade Cenecista de Osório, v. 5, n. 6, p. 118-136, jul. 2012., p. 132).

Assim, adota-se a compreensão de gestão do conhecimento a partir do conceito da APQC (2018), a qual a define como “um esforço sistemático para permitir que a informação e o conhecimento cresçam, fluam e criem valor”, considerando, ainda, que a gestão do conhecimento “trata da criação e gerenciamento de processos para obter o conhecimento certo, para as pessoas certas, no momento certo e ajudar as pessoas a compartilhar e agir sobre as informações, a fim de melhorar o desempenho organizacional”.

Neste contexto, reforça-se o entendimento de que há uma interface entre gestão do conhecimento e sustentabilidade e que o seu estudo pode contribuir para o desenvolvimento de ambos os temas.

2.2 Sustentabilidade

Sustentabilidade é um termo que expressa preocupação com a qualidade do sistema que integra homem e natureza e avalia suas propriedades e características, abrangendo os aspectos ambientais, sociais e econômicos (FEIL; SCHREIBER, 2017FEIL, Alexandre André; SCHREIBER, Dusan. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados. Cad. EBAPE.BR, v. 14, n. 3, Artigo 7, Rio de Janeiro, jul./set.2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cebape/v15n3/1679-3951-cebape-15-03-00667.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.
http://www.scielo.br/pdf/cebape/v15n3/16...
). Embora este tema tenha ganhado eco nas últimas décadas, podemos afirmar que não se trata de um movimento recente, mas uma ideia que vem amadurecendo por, pelo menos, três séculos (GROBER, 2007GROBER, U. Deep Roots: A Conceptual History of “sustain¬able Development” (Nachhaltigkeit). Discussion papers, Wissenschaftszentrum Berlin für Sozialforschung. Berlin: WZB, 2007. Disponível em: https://bibliothek.wzb.eu/pdf/2007/p07-002.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.
https://bibliothek.wzb.eu/pdf/2007/p07-0...
).

Relaciona-se a uma questão presente na sociedade há muito tempo: a escassez de recursos naturais e sua utilização pouco criteriosa. Em torno de 1700, na Saxônia, a indústria de mineração mantinha milhares de pessoas que se viram ameaçadas, não pela exaustão das minas, mas pela escassez de madeira. A fundição de minérios havia consumido as florestas nos arredores e não houve esforços para restaurá-las. Os preços da madeira subiram, levando à falência parte da indústria de mineração.

Mais tarde, quando o progresso da civilização ocidental alcançou o auge e emergiram os efeitos nocivos da Revolução Industrial, o debate toma impulso, diante do uso abusivo dos recursos naturais e da percepção crescente de que o padrão de produção e consumo no mundo não poderia perdurar (NASCIMENTO, 2012NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao econômico. Estudos Avançados, v. 26, n. 74, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-0142012000100005&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 3 maio 2018.
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). De 1713 a 1987, a ideia de sustentabilidade aparece em várias publicações e discussões, ainda que carente de conceituação consistente.

Não há consenso na literatura sobre a origem e o conceito de sustentabilidade no contexto de desenvolvimento. Segundo Kidd (1992KIDD, Charles V. The evolution of sustainability. Journal of Agricultural and Environmental Ethics, v. 5, n. 1, p. 1-26, 1992. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/227128571_The_evolution_of_sustainability. Acesso em: 3 maio 2018.
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), o termo sustentabilidade foi utilizado associado ao desenvolvimento, pela primeira vez, em 1974, em conferências sobre questões florestais. Já para Barbosa, Drach e Corbella (2014BARBOSA, Gisele Silva; DRACH, Patrícia Regina; CORBELLA, Oscar Daniel. A conceptual review of the terms sustainable development and sustainability. International Journal of Social Sciences, v. 3, n. 2, 2014. Disponível em: http://www.iises.net/download/Soubory/soubory-puvodni/pp-01-15_ijossV3N2.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.
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) a origem e o conceito de sustentabilidade nesse contexto são desconhecidos. Porém, apontam que uma das primeiras definições surgiu na Primeira Guerra Mundial, conforme descrições de Lester Brown em meados de 1980.

Shrivastava e Hart (1994SHRIVASTAVA, Paul; HART, Stuart. Greening Organisations - 2000. International Journal of Public Administration, v. 17, n. 3-4, p. 607-35, 1994. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01900699408524910. Acesso em: 3 maio 2018.
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) afirmam que o conceito de desenvolvimento sustentável tem origem na obra Silent Spring, de Carson (1962). Oficialmente, a versão mais difundida do conceito que integra sustentabilidade e desenvolvimento foi inaugurada no Relatório Brundtland, em 1987: o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades (CMMAD, 1991).

Mas, Feil e Schreiber (2017FEIL, Alexandre André; SCHREIBER, Dusan. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados. Cad. EBAPE.BR, v. 14, n. 3, Artigo 7, Rio de Janeiro, jul./set.2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cebape/v15n3/1679-3951-cebape-15-03-00667.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.
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) advertem que, apesar deste conceito ser o mais citado na Literatura e de ele ter sido creditado à Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ideia original é de Evelyn (1664), que possuía a mesma essência, porém com mais ênfase nos recursos naturais. Eles partem do termo sustentável, como uma espécie de “guarda-chuva”, que abriga a ideia de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, tendo como base a preocupação com a existência futura de recursos naturais para viabilizar a continuação da vida humana no planeta.

Porém, explicam que os termos não são sinônimos, já que seus atributos têm significados distintos e cada um se relaciona com uma práxis específica. No entanto, convergem para o mesmo objetivo, não podendo ser consideradas práticas isoladas. “O alcance dos atributos do sustentável se dá pela combinação dos atributos da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável” (FEIL; SCHREIBER, 2017FEIL, Alexandre André; SCHREIBER, Dusan. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as sobreposições e alcances de seus significados. Cad. EBAPE.BR, v. 14, n. 3, Artigo 7, Rio de Janeiro, jul./set.2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cebape/v15n3/1679-3951-cebape-15-03-00667.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.
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, p. 681). Hove (2004HOVE, Hilary. Critiquing sustainable development: a meaningful way of mediating the development impasse? Undercurrent, v. 1, n. 1, p. 48-54, 2004. Disponível em: http://connection.ebscohost.com/c/articles/18428191/critiquing-sustainable-developmentmeaningful-way-mediating-development-impasse. Acesso em: 3 maio 2018.
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) esclarece a diferença entre os dois conceitos: desenvolvimento sustentável é o acesso para se alcançar a sustentabilidade, sendo esta a meta de longo prazo.

Nota-se, então, que sustentabilidade não é um fenômeno recente e tem seu conceito em constante reformulação, tendo derivado ou se relaciona com vários outros conceitos (BACHA, SANTOS; SCHAUN, 2010BACHA, Maria de Lourdes; SANTOS, Jorgina; SCHAUN, Angela. Considerações teóricas sobre o conceito de sustentabilidade. In.: Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 7., 2010. Anais eletrônicos. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos10/31_cons%20teor%20bacha.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.
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).

Além da ausência de consenso, observa-se na literatura diversidade de conceitos, correntes de pensamento, abordagens e enfoques. Mas, também há convergência, especialmente, no que diz respeito à busca por integrar viabilidade econômica, prudência ecológica e justiça social nas três dimensões do Tripple Bottom Line, concebido por Elkington (1999ELKINGTON, John. Cannibals with Forks - The Tipple Bottom Line of 21st Century Business. Capstone,1999.). O tripé da sustentabilidade, como também é conhecido, traz a ideia de que as três dimensões (econômica, social e ambiental) devem interagir, holisticamente, para que os resultados das ações das organizações sejam de fato sustentáveis (ALMEIDA, 2002ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.).

Assim, esse é um esforço que deve ser realizado pela união de todos os stakeholderes - sociedade, mercado, academia, poder público entre outros - local, regional, nacional e internacionalmente.

3 Método

Trata-se de um estudo descritivo com uma abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa quantitativa caracteriza-se pela análise bibliométrica, a partir dos documentos publicados nos anais eletrônicos do KM Brasil, disponibilizados no site da SBGC, com exceção do ano de 2006, cujos documentos não estavam disponíveis, tendo sido os mesmos obtidos a partir do CD-ROM do ano correspondente. A base de análise foi gerada no período de fevereiro de 2017 a maio de 2018.

Buscou-se identificar a ocorrência de determinado evento e de sua frequência (considerando-se as repetições), adotando-se para o tratamento dos dados a análise por meio de estatística descritiva.

A análise geral consistiu na avaliação de todos os documentos publicados nos anais eletrônicos no período de 2002 a 2016 e a análise específica somente daqueles relacionados ao tema sustentabilidade. Embora na estrutura da grade de programação do KM Brasil faça parte a seção de sustentabilidade, a análise específica adotou o critério de relevância, considerando-se, assim, os documentos que apresentaram o termo sustentabilidade no título ou nas palavras-chave, independentemente da seção em que foram enquadrados na programação.

Para análise dos documentos, adotou-se o seguinte modelo de análise:

Quadro 1
Modelo de análise bibliométrica das Publicações no KM Brasil (2002 - 2016)

Cada documento, constante dos Anais eletrônicos do KM Brasil, no período de 2002 a 2016, foi analisado segundo as categorias da Figura 1. Nos casos em que não era possível identificar a informação adotou-se “Não identificado”. Quanto à consistência dos dados, destaca-se a divergência de conteúdo entre os anais eletrônicos do site da SBGC e dos CDROMs.

Assim, optou-se por analisar os documentos disponibilizados a partir do site da SBGC, instituição responsável pela organização do KM Brasil. Contudo, ainda em relação aos anais eletrônicos do site da SBGC, é importante relatar outras inconsistências tais como: variação na identificação de um mesmo autor, falta de identificação de autoria, falta de identificação de vínculo institucional, falta de identificação de escolaridade; identificação da autoria no site diferente da identificação da autoria no arquivo do documento, indisponibilidade de arquivos de documentos listados no site e ausência dos documentos do evento do ano de 2006.

Finalmente, em relação aos artigos sobre sustentabilidade, complementou-se com uma pesquisa qualitativa a partir da análise de conteúdo, a fim de identificar os assuntos relacionados a sustentabilidade e os focos específicos dos documentos, por meio da análise temática, acompanhados de uma síntese descritiva.

4 Resultados

4.1 Análise geral

No período de 2002 a 2016, foram publicados, nos anais eletrônicos do KM Brasil, 605 documentos: 574 artigos, 17 pôsteres, 7 relatos técnicos e 7 não identificados, pois os arquivos não estão disponíveis no site. O ponto mais elevado de publicações ocorreu em 2003, quando foram publicados 160 artigos.

Gráfico 1
Evolução Quantitativa de Publicações no KM Brasil (2002 - 2016)

O perfil geral das autorias, considerando-se todas as publicações, corresponde à ocorrência de 1.136 autores e frequência de 1.619 (contando as repetições), com prevalência de autoria do gênero masculino, coletiva, com vínculo acadêmico e atuação no setor público. Fez-se a tentativa de analisar a escolaridade dos autores, de forma agregada, mas em função da rara disponibilidade da informação nos documentos analisados não foi possível realizar tal análise.

Dos 25 autores que mais publicaram no KM Brasil no período 2002 a 2016 (aqueles que tiveram de 5 a 14 publicações) seis trataram do tema sustentabilidade. Os 25 publicaram de forma coletiva, sendo que um deles publicou tanto de forma coletiva quanto individual.

Todos os 25 autores são vinculados à academia, 20 vinculados a instituições públicas (UFSC, CEFET-PR, UFPR, UTFPR, UNICENTRO-PR, UFES, UFRJ, UFCG, UFPB) e 5 vinculados a instituições privadas (UCB e PUC-PR e PUC-SP). As instituições que mais publicaram são predominantemente da Região Sul do Brasil.

A autora que mais publicou no KM Brasil no período de 2002 a 2016 foi Faimara do Rocio Strauhs, com 14 publicações, todas coletivas, com nível de escolaridade doutorado e vinculada ao CEFET-PR e à UTFPR. Nenhuma das suas 14 publicações tratou do tema sustentabilidade.

Dos 25 autores que mais publicaram, 17 são do sexo masculino e 8 feminino; 17 têm doutorado, 1 doutorado incompleto e 7 não tiveram seus níveis de escolaridade identificados.

Quadro 2
Autores que mais publicaram no KM Brasil no período de 2002 a 2016

4.1 Análise dos artigos de sustentabilidade

Especificamente em relação ao tema sustentabilidade, 18 artigos abordaram o tema, tendo-se a ocorrência de 54 autores e frequência de 58 (considerando-se as repetições). Para fim das análises, a seguir, serão considerados os dados de frequência.

Em relação ao gênero, há a predominância de autores do sexo masculino.

Gráfico 2
Gênero dos autores que publicaram sobre sustentabilidade no KM Brasil (2002 - 2016)

Quanto ao tipo de autoria, a predominância se dá em relação à autoria coletiva.

Gráfico 3
Tipo de autoria dos artigos sobre sustentabilidade no KM Brasil (2002 - 2016)

A maioria dos autores está vinculada à Academia.

Gráfico 4
Vínculo dos autores dos artigos sobre sustentabilidade no KM Brasil (2002 - 2016)

Em relação ao setor de atuação, há a predominância do setor público.

Gráfico 5
Setor de atuação dos autores dos artigos sobre sustentabilidade no KM Brasil (2002 - 2016)

Assim como no caso da análise geral, não foi possível fazer a análise de escolaridade, uma vez que 56 autores não tiveram seus níveis de escolaridade identificados. Com 3 artigos, Paulo Maurício Selig, com nível de escolaridade não identificado e vinculado à UFSC, é o autor que mais publicou sobre sustentabilidade no período (2002 a 2016). Destaca-se que os artigos por ele elaborados sobre sustentabilidade foram apresentados em 2007, 2009 e 2010. Em 2016, este autor apresentou um pôster no KM Brasil, não relacionado à sustentabilidade, sendo possível identificar, nesta ocasião, o grau de doutorado.

Quanto ao universo temático, considerando-se as palavras-chave dos artigos, foram identificados 42 temas, incluindo-se o tema sustentabilidade.

Quadro 3
Assuntos relacionados aos artigos sobre sustentabilidade no KM Brasil (2002 - 2016)
Quadro 4
Análise dos artigos sobre o tema sustentabilidade no KM Brasil (2002 - 2016)

Quanto à variação dos termos relacionados a sustentabilidade, foram identificadas, nos títulos e nas palavras-chave das publicações, as expressões: sustentabilidade das empresas de serviços, sustentabilidade do setor bancário, sustentabilidade em edificações, sustentabilidade ambiental, sustainable competitive, crescimento sustentado, desenvolvimento local sustentável, desenvolvimento sustentado do transporte terrestre no Brasil, desenvolvimento local sustentável e desenvolvimento sustentável.

Destaca-se que a categoria de sustentabilidade, nos anais eletrônicos do KM Brasil, surgiu a partir do ano de 2007, dentre as áreas temáticas do evento. Porém, cabe notar que apesar da existência da área temática, é possível encontrar artigos relacionados à sustentabilidade (considerando-se o título e/ou palavras-chave) em outras categorias, tais como: Ativos Intangíveis, capital intelectual e humano; TI e ferramentas de suporte aplicadas à GC; Inovação e aspectos estratégicos de GC; Redes sociais, ensino e aprendizagem com foco em GC; e Novos saberes e abordagens interdisciplinares relacionadas à GC.

Por fim, há artigos listados na categoria sustentabilidade que não apresentam o tema em seus títulos nem em suas palavras-chave, o que sugere que ainda que o tema possa a ser abordado ao longo do texto tende a ter pouca relevância para a categoria sustentabilidade.

5 Conclusões

Quanto às limitações do estudo destacam-se:

  • a) Adoção do critério de relevância, restringindo a análise somente aos documentos que apresentaram o termo sustentabilidade no título e/ou nas palavras-chave;

  • b) Diferença de conteúdo dos anais eletrônicos no site da SBGC para os anais eletrônicos em CD;

  • c) Falta de padronização das informações, sobretudo, a ausência em grande quantidade de documentos das informações de escolaridade; e múltiplas identificações do nome de um mesmo autor;

  • d) Teve-se, ainda, casos de documento sem autoria e de nomes que podem ser usados para os gêneros masculino ou feminino, o que interfere na precisão da análise.

Nesse contexto, faz-se, à SBGC e ao público acadêmico, as seguintes recomendações:

  • a) A fim de viabilizar estudos futuros sobre a produção científica do KM Brasil, que se defina qual a fonte de referência para tais estudos (se os anais disponibilizados no site da SBGC ou se os publicados em CD-ROM);

  • b) Considerando-se a grande participação no KM Brasil de pesquisadores do ambiente acadêmico, que a SBGC estabeleça parceria com alguma instituição acadêmica com o objetivo de gerar uma base de dados dos anais do KM Brasil, estruturada com metadados, que permita a busca dos documentos e exportação dos registros da base, para análise. É importante que a SBGC dê publicidade à comunidade acadêmica, no caso de adoção desta recomendação, a fim de evitar duplicidade de esforços;

  • c) Que se incluam, nas diretrizes para submissão de documentos para o evento, as orientações quanto à identificação do autor (preferencialmente, que tal recomendação seja o nome por extenso, a fim de facilitar o cruzamento de dados), de escolaridade e de vínculo institucional. Tais informações são importantes para a caracterização do perfil dos autores; e

  • d) Que sejam realizados estudos complementares, ampliando-se os campos de análise para resumo e texto completo, para a definição dos documentos relacionados a sustentabilidade.

Destaca-se o fato de o KM Brasil ser um evento que conta com um grande número de participantes atuantes no mercado empresarial, mas, ao mesmo tempo, há uma considerável predominância da academia na realização dos estudos sobre sustentabilidade, assim como para os demais temas.

Por fim, considera-se que a quantidade de documentos sobre sustentabilidade é pouca diante do total das 605 publicações que fazem parte da base histórica do KM Brasil, o que demonstra grande oportunidade para o desenvolvimento de estudos sobre o tema.

Referências

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  • APQC (AMERICAN PRODUCTIVITY & QUALITY CENTER). APQC Among 100 'Companies That Matter' in Knowledge Management. Houston, 2018. Disponível em: https://www.apqc.org/node/308096 Acesso em: 13 maio 2018.
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  • BACHA, Maria de Lourdes; SANTOS, Jorgina; SCHAUN, Angela. Considerações teóricas sobre o conceito de sustentabilidade. In.: Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 7., 2010. Anais eletrônicos. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos10/31_cons%20teor%20bacha.pdf Acesso em: 3 maio 2018.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    15 Set 2018
  • Aceito
    26 Maio 2019
  • Publicado
    05 Jul 2019
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