RESUMO
Introdução:
O aumento da busca por formação em nível superior na modalidade a distância reflete a demanda social por aprendizagem mediada por tecnologias, corroborando para criação de documentos digitais, recursos educacionais abertos, metodologias de ensino apropriadas ao ambiente virtual, aumentando a possibilidade de acesso à graduação em diferentes domínios do conhecimento. Objetivo: Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo analisar os níveis de competência em informação, conforme os conceitos do Framework for Information Literacy for Higher Education, da Association of College & Research Libraries, dos estudantes do curso de Biblioteconomia na modalidade a distância, e suas habilidades em pesquisa no contexto digital. Metodologia: Trata-se de um estudo de caso com abordagem quali-quantitativa. O universo corresponde aos 173 estudantes matriculados nos quatro polos do curso na Bahia (Santo Amaro, Juazeiro, Vitória da Conquista e Ilhéus), e tem como instituição acadêmica o Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia. Resultados: Os resultados apontam que os estudos acadêmicos e profissionais são a principal motivação para as pesquisas realizadas em ambiente virtual. A competência para avaliação crítica da informação se evidencia, sobretudo, no âmbito da qualidade da informação. Conclusão: Para o desenvolvimento de competências em informação, em relação à avaliação de fontes de informação, deve-se considerar um projeto pedagógico do curso orientado à formação crítica em informação, e à formação continuada dos estudantes em nível superior.
PALAVRAS-CHAVE:
Fontes de informação; Competência em informação; Ensino superior; Padrões ACRL/ALA; Avaliação crítica da informação.
ABSTRACT
Introduction:
The increase in the search for training at a higher level in the distance modality reflects the social demand for learning mediated by technologies, corroborating for the creation of digital documents, open educational resources, teaching methodologies appropriate to the virtual environment, increasing the possibility of access to graduation in different knowledge domains. Objective: In this context, this work has the objective of analyzing the levels of information literacy, according to the concepts of the Framework for Information Literacy for Higher Education, of the Association of College & Research Libraries, two students of the Library Science course in the distance modality, and His research skills in the digital context. Methodology: It is a case study, with a qualitative-quantitative approach. The universe corresponds to the 173 students enrolled in the four poles of the course in Bahia (Santo Amaro, Juazeiro, Vitória da Conquista and Ilhéus), and they count as an academic institution or Institute of Information Science, of the Universidade Federal da Bahia. Results: The results suggest that academic and professional studies are the main motivation for the research carried out in a virtual environment. The competence for critical evaluation of the information is evident, above all, in the area of the quality of the information. Conclusion: For the development of information skills, in relation to the evaluation of information sources, a pedagogical project of the course oriented to critical training in information, and to the continuous training of higher-level students, should be considered.
KEYWORDS:
Information sources; Information literacy; higher education; ACRL/ALA Standards; Critical evaluation of the information.
1 INTRODUÇÃO
A informação, independentemente do contexto de uso, é representada como um dispositivo de poder na sociedade, seja para as instituições no aperfeiçoamento de suas atividades, tomada de decisões em diferentes esferas sociais, ou ainda, para a conquista de novos horizontes profissionais. Neste aspecto, as competências para acesso, tratamento e uso da informação, têm se tornado ainda mais necessárias, sobretudo, na composição da transformação digital.
O aumento da busca por formação em nível superior na modalidade a distância reflete a demanda social por aprendizagem mediada por tecnologias, corroborando para criação de documentos digitais, recursos educacionais abertos, metodologias de ensino apropriadas ao ambiente virtual, aumentando a possibilidade de acesso à graduação em diferentes domínios do conhecimento. Este cenário de ensino e aprendizagem on-line privilegia a criatividade, a interatividade, a flexibilidade e o aprendizado contínuo.
No âmbito dos cursos superiores em Biblioteconomia, nas universidades federais de diversos estados brasileiros, a modalidade a distância vem sendo aplicada, especialmente após o convênio firmado entre o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (BRASIL, 2009BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA. Ensino a distância: assinado acordo de cooperação técnica entre uab e cfb. Boletim Eletrônico do Sistema CFB/CRB, Brasília, v. 02, p. 1-1, 23 nov. 2009. Disponível em: https://l1nq.com/fVXL5. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://l1nq.com/fVXL5...
). A formação do profissional bibliotecário, que envolve o conjunto teóricoprático para o tratamento, organização, disseminação, acesso e uso da informação, exige constante atualização metodológica, visto que tem como objeto de estudo e prática a informação, um objeto fronteiriço a outras áreas do conhecimento.
A evolução nos processos informacionais, sobretudo nas formas de acesso, consoante aos fenômenos e demandas sociais, influencia diretamente nos instrumentos utilizados para organização do conhecimento, exigindo novas competências à sua atuação profissional.
A atuação da(o) bibliotecária(o) em organizações gestoras de documentação e informação, tais como bibliotecas, arquivos, museus, editoras, jornais, possui ampla discussão na literatura especializada e a necessidade deste profissional nestes campos amplia-se para outros espaços de atuação, a exemplo da área de saúde, tecnologia da informação, cultura e educação. Neste contexto, a educação a distância favorece a universalização e equalização das oportunidades de ensino da Biblioteconomia, podendo atender exigências específicas de aprendizagem, contribuindo para a solução de problemáticas que envolvem qualificação e emprego.
Sob esta perspectiva, o desenvolvimento deste estudo tem como principal questão os desafios em competência em informação de estudantes do ensino superior na modalidade à distância, uma vez que a autonomia e o uso de tecnologias são essenciais neste modo de ensino. Por isso, teve como objetivo analisar, segundo os parâmetros da American Library Association (ALA), as competências em informação dos estudantes do Curso de Biblioteconomia a distância, em referência às suas habilidades de acesso, avaliação crítica e uso de fontes de informação digitais, sobretudo, durante a pandemia do novo coronavírus. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem quali-quantitativa, utilizando-se como método de investigação o estudo de caso no Curso de Biblioteconomia na modalidade a distância, da Universidade Federal da Bahia, iniciado em 2019, com 173 estudantes matriculados nos quatro polos do curso na Bahia (Santo Amaro, Juazeiro, Vitória da Conquista e Ilhéus).
A partir dos dados coletados em análise, este estudo possibilitou traçar o perfil dos estudantes de Biblioteconomia, na modalidade a distância da UFBA, em relação às competências em informação para o ensino superior (ACRL/ALA). Teve-se como principal resultado a identificação da principal motivação para as pesquisas realizadas em ambiente virtual, e indicadores do nível de competência para avaliação crítica da informação no aspecto da qualidade da informação pelos estudantes.
As discussões aqui instauradas, direcionam para reflexões em pesquisas futuras voltadas para o comportamento informacional de estudantes em suas redes de comunicação on-line.
2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DA FORMAÇÃO DE UM CONCEITO AO ENSINO DA BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL
A Educação a distância (EAD) é a modalidade na Educação que tem como principal ferramenta mediadora de aprendizagem os recursos tecnológicos. A aplicação efetiva desta modalidade se deu, em especial, pela carência em diversos níveis de acesso ao ensino, sobretudo em nível superior, seja na ampliação de vagas de cursos de graduação, na possibilidade de flexibilizar horário de trabalho e estudo e, consequentemente, aumento da procura nos cursos superiores, ou ainda, no atendimento às demandas de mercado, oportunizando a empregabilidade em múltiplos setores.
Importante ressaltar que a aprendizagem a distância tem seu marco histórico no século XVIII, quando era comum professores oferecerem tutoria em alguma disciplina por correspondência e, a partir do século XIX, tem seu marco institucional com o Instituto Líber Hermondes em 1829, na Suécia, que possibilitou mais de 150 mil pessoas realizarem seus estudos a distância (Gouvêa; Oliveira, 2006GOUVÊA, G.; OLIVEIRA, C. I. Educação a distância na formação de professores: viabilidades, potencialidades e limites. 4. ed. Rio de Janeiro: Vieira e Lent. 2006.; Vasconcelos, 2010VASCONCELOS, S. P. G. Educação a distância: histórico e perspectivas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 2010. Disponível em: www.filologia.org.br/viiifelin/19.htm. Acesso em: 21 maio 2021.
www.filologia.org.br/viiifelin/19.htm...
).
No Brasil, embora a educação na modalidade EAD tenha sido reconhecida em 1996, por meio da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Leis/L9394.htm . Acesso em: 20 de mai. 2021.
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Lei...
), foi somente através do Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que se estabeleceu oficialmente o conceito de EAD:
Art. 1 Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a Educação a Distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005BRASIL. Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o artigo 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 20 dez. 2005. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm. Acesso em: 20 maio. 2021.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_A... ).
No entanto, este conceito foi reformulado por meio do Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017BRASIL. Portaria Normativa nº 11, de 2017. Estabelece normas para o credenciamento de instituições e a oferta de cursos superiores a distância, em conformidade com o Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Portaria Normativa Nº 11, de 20 de junho de 2017. Brasília, 20 jun. 2020. Disponível em: https://acesse.one/sWmlk. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://acesse.one/sWmlk...
, caracterizando e Educação a Distância como
[...] modalidade educacional na qual a mediação didático pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL, 2017BRASIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Dispõe sobre a oferta de cursos na modalidade a distância. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 25 maio. 2017. Disponível em: https://l1nk.dev/brzpJ. Acesso em: 20 mai. 2021.
https://l1nk.dev/brzpJ... , destaque nosso).
Já no início do século XX, há registros no Brasil sobre experiências relacionadas com a modalidade de ensino e aprendizagem a distância, por exemplo, no ano de 1904, o Jornal do Brasil ofereceu profissionalização por correspondência para datilógrafo; em 1959, nasce o Movimento de Educação de Base (MEB), um marco na EAD (não formal) no Brasil, que utilizou de sistema rádio-educativo para o aprendizado de jovens e adultos; na década 1990, criou-se Universidade Aberta de Brasília; nos anos 2000, é criada a Universidade Aberta do Brasil, uma parceria entre o MEC, estados e municípios (Hermida; Bonfim, 2006HERMIDA, J. F.; BONFIM, C. R. S. A educação à distância: história, concepções e perspectivas. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. especial, p.166-181, ago. 2006. Disponível em: https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/4919/art11_22e.pdf. Acesso em: 20 maio 2021.
https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicac...
; Maia; Mattar, 2007MAIA, C.; J. MATTAR. ABC da EaD: a educação a distância hoje. São Paulo: Pearson. 2007.; Marconcin, 2010MARCONCIN, M. A. Desenvolvimento histórico da educação a distância no Brasil. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta a Distância, [S. l.], v. 10, p 1-7, 2010.)
No século XXI, em 2017, são fixadas diretrizes no Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017BRASIL. Portaria Normativa nº 11, de 2017. Estabelece normas para o credenciamento de instituições e a oferta de cursos superiores a distância, em conformidade com o Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Portaria Normativa Nº 11, de 20 de junho de 2017. Brasília, 20 jun. 2020. Disponível em: https://acesse.one/sWmlk. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://acesse.one/sWmlk...
, e na Portaria Normativa n.11, de 20 de junho de 2017 sobre acessibilidade, infraestrutura dos polos, credenciamento e avaliação para os cursos e instituições que se propõem a oferecer a modalidade EAD e, recentemente, no ano de 2020, o MEC autoriza, enquanto durar a pandemia da Covid-19, o ensino à distância na educação básica e aulas à distância no ensino superior (BRASIL, 2017BRASIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Dispõe sobre a oferta de cursos na modalidade a distância. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 25 maio. 2017. Disponível em: https://l1nk.dev/brzpJ. Acesso em: 20 mai. 2021.
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).
No âmbito do curso de Biblioteconomia a distância no Brasil, tem-se como marco o primeiro curso nesta modalidade na Universidade de Caxias do Sul (UCS) em 2012 (Russo, 2016RUSSO, M. Inovação no Ensino da Biblioteconomia no Brasil: implantação do Bacharelado na Modalidade de Educação a Distância. Informação & Sociedade: Estudos, [S. l.], v. 26, n. 1, 2016. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/28772. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.ph...
). Há, inclusive, oferta do curso de bacharelado em Biblioteconomia em várias instituições de ensino do país, a maioria em rede privada. Contudo, no que tange a oferta a distância por instituições públicas federais, o primeiro curso a iniciar atividades de ensino foi na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em agosto de 2020, seguindo-se da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Fundação Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Barbalho; Rozados; Gomes; Valentim, 2021BARBALHO, C. R. S. et al. Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na modalidade a distância: relato da experiência da Universidade Aberta do Brasil/CAPES. Revista Eletrônica da ABDF, n. 1, v. 5, p. 68-104, 2021.).
O processo para viabilizar o curso nacional de bacharelado em Biblioteconomia na modalidade a distância começou com o primeiro contato da Universidade Aberta do Brasil (UAB)/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em parceria com o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) em 2008, que buscava a formação de auxiliares de bibliotecas para atender as demandas das bibliotecas instaladas nos polos do Sistema UAB, somando-se a urgência da universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País, regulamentada pela Lei nº 12.244, de 24 de maio de 2010 (BRASIL, 2010BRASIL. Lei nº 12244, de 2010. Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País. Lei Nº 12.244 de 24 de maio de 2010. Brasília, 24 maio 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_a...
).
Após a elaboração do projeto de curso de graduação em Biblioteconomia, na modalidade a distância, submetido e aprovado pela plenária do CFB em 2010, o lançamento oficial do curso nacional de bacharelado em Biblioteconomia na modalidade a distância (BibEAD), foi realizado em 2018 e, na ocasião, foi homenageada a professora Mariza Russo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que integrou a equipe que elaborou o projeto do curso (Russo; Fonseca; Barbalho, 2012RUSSO, M; FONSECA, M. V. A.; BARBALHO, C. R. S. Formação em biblioteconomia a distância: a implantação do modelo no brasil e as perspectivas para o mercado de trabalho do bibliotecário. Informação & Sociedade: Estudos, [S. l], p. 61-81, dez. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/view/14387/8601. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php...
; CAPES, 2018BRASIL. CAPES. Novo curso de biblioteconomia a distância homenageia prof.ª Mariza Russo. 2018. Disponível em: https://l1nk.dev/C3D5i. Acesso em: 23 ago. 2023.
https://l1nk.dev/C3D5i...
).
O Acordo de Cooperação Técnica entre o CFB e a CAPES, visou estabelecer estratégias que garantissem o planejamento e implantação do curso de bacharelado em Biblioteconomia, tais como a criação de grupos de trabalho que observassem as diretrizes curriculares para esta área, estabelecidas pela Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN) e pelo Ministério da Educação (MEC). O BibEaD, como é intitulado pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil, é o Bacharelado em Biblioteconomia na modalidade a distância, e possui entre os objetivos:
[...] formar profissionais na área de biblioteconomia, sobretudo no interior do País, onde há maior carência deste profissional; promover articulação com outras políticas nacionais, dentre elas a política de incentivo à instalação de bibliotecas públicas em todos os municípios brasileiros e o fortalecimento da educação básica (BRASIL, 2020BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). BibEad. 2020. Disponível em: https://l1nk.dev/aYqfz. Acesso em: 26 maio 2021.
https://l1nk.dev/aYqfz... ).
Além disso, destaca-se a oportunidade de inclusão social dos sujeitos que por diversas razões têm seu acesso ao ensino público superior limitado, em especial nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Na Bahia, por exemplo, o curso é oferecido pela Universidade Federal da Bahia, com aulas iniciadas em 2020. E, nesse contexto, seja em qualquer área do conhecimento, a formação esperada envolve a contemplação das dimensões técnico-científica para o mundo do trabalho, e política para a formação do cidadão, incluindo a interdisciplinaridade e a contextualização da realidade.
Tais dimensões estão diretamente relacionadas à competência em informação, que envolve habilidades em diversos processos informacionais, sobretudo, no contexto educacional, que implica na compreensão e interpretação de conteúdos textuais informativos e exige um pensar crítico para seu uso em diferentes esferas da sociedade, discutidos na próxima seção.
2.1 Competência em informação no Ensino Superior e os padrões ACRL/ALA
O estudo sobre competência em informação tem seu início na década de 1970, pelo bibliotecário Paul Zurkowisk, presidente da Information Industry Association (IIA), no seu relatório The information service environment relationships and priorities, quando se utilizou a terminologia pela primeira vez. Para Zurkowik,
Uma pessoa competente em informação são pessoas treinadas para o uso de fontes de informação no seu trabalho. Elas devem aprender técnicas e desenvolver habilidades para lidar com as possibilidades das ferramentas informacionais, bem como o uso de fontes primárias, a fim de encontrar informações para resoluções dos problemas (Zurkowisk, 1974ZURKOWISK, P. The information service environment relationships and priorities. Washington: National Commission on Libraries and Information Science, 1974. Disponível em: http://files.eric.ed.gov/fulltext/ED100391.pdf . Acesso em: 25 maio. 2021.
http://files.eric.ed.gov/fulltext/ED1003... , p. 6, tradução nossa).
Na década de 1970, o conceito de information literacy surge simultaneamente ao fenômeno do crescente volume de informações disponibilizadas, período em que o conceito de informação pairava sobre o paradigma físico, sobretudo pelo aspecto técnico na troca de informações através da rede de computadores estritamente utilizada para o contexto científico e militar, considerando a partir de então enunciados do capitalismo informacional - a informação com valor estratégico orientado nas tecnologias de informação e comunicação. Esta realidade, evidenciou a necessidade de mudanças no perfil do profissional com graduação em Biblioteconomia, uma vez que determinadas práticas já não eram suficientes para atender a demanda tecnológica aliadas ao crescimento exponencial da informação, que caracterizam a Sociedade da Informação em desenvolvimento.
A partir dos anos de 1980, iniciou-se uma ampliação do conceito de competência em informação (CoInfo), sustentado inicialmente por Patricia S. Breivik, à época diretora da Biblioteca da University of Colorado - Denver/EUA, passando a reconhecer as relações deste tipo de competência a outros aspectos da atividade de investigação humana - conhecimentos, habilidades e atitudes (Belluzzo, 2020BELLUZZO, R. C. B. Competência em informação: das origens às tendências. Informação & Sociedade: Estudos, v. 30, n. 4, p. 1-28, 2020. DOI: 10.22478/ufpb.1809-4783.2020v30n4.57045. Acesso em: 17 set. 2022.
https://doi.org/10.22478/ufpb.1809-4783....
). Esta concepção foi posteriormente concebida como base estruturante da CoInfo, em 1996, por Scott Parry, validando dentro do campo de estudos o acrônimo CHA, no artigo "The quest for competencies", estendido para CHAI (Conhecimentos, Habilidades, Atitudes e Interesses), no final da década de 1990, por Gramigna (1999)GRAMIGNA, M. R. M. Gestão por competência. Empresas e Tendências, São Paulo, v.6, n.50, p.20-23, jun. 1999.. Considera-se ainda, como fator determinante para a expansão desse conceito o uso das TIC (um marco para essa década), sobretudo em bibliotecas, modificando a forma de se produzir, armazenar, disseminar e acessar a informação.
Nos anos 1990, o conceito de CoInfo foi amplamente difundido pela American Library Association (ALA) e, em decorrência disso, vários programas educacionais voltados para a competência em informação foram implantados em todo o mundo. Percebe-se, portanto, um estreitamento das relações entre o fazer da/o bibliotecária/o e os ambientes educacionais. Essa inciativa possibilitou, em 1997, a criação do Institute of information literacy (ACRL) da ALA, cujo principal objetivo é treinar esses profissionais e dar suporte as implementações de programas voltados para a competência em informação no ensino superior. Desde então, vem oferecendo de forma constante, treinamentos multiplicadores para tal finalidade.
Por meio da ACRL, divisão da ALA, foram aprovados no ano 2000 os padrões para competência em informação no documento: Information Literacy Competency Standards for Higher Education, na Reunião Midwinter da ALA, em San Antonio, Texas, no qual estabelece cinco padrões (Quadro 1) e vinte e dois indicadores de desempenho, cujo objetivo é auxiliar a avaliação da competência informacional de estudantes de ensino superior.
Padrões de Competência ACRL/ALA (2000ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARIES (ACRL). American Library)
Segundo destacam Farias e Belluzzo (2017FARIAS, G. B.; BELLUZZO, R. C. B. Competência em Informação: perspectiva didática pedagógica. Informação & Informação, Londrina, v. 22, n. 3, p. 112-135, set. 2017. Disponível em: https://ury1.com/9nufs. Acesso em: 25 maio 2021.
https://ury1.com/9nufs...
, p. 117, destaque nosso), os padrões e indicadores da ACRL/ALA são voltados “[...] aos ambientes de ensino superior, [...] para oferecer subsídio à formação de pessoas capazes de enfrentar a diversidade informacional dentro de vários ambientes, seja de trabalho, educacional ou na vida pessoal.” A competência em informação é um elemento fundamental na prática universitária, uma vez que permitirá ao estudante o desenvolvimento de habilidades críticas, criativas e reflexivas para aprendizagem dos componentes curriculares e a produção de conhecimento.
Ao considerar perspectiva semelhante, o estudo desenvolvido por Almeida e Damian (2021)ALMEIDA, A. L.; DAMIAN, I. P. M. A competência em informação para o ensino universitário. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 17, p. 1-21, 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/163059. Acesso em: 17 set. 2022.
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aponta para questões voltadas aos impactos no ensino universitário, quando não se considera as habilidades críticas e comunicativas no desenvolvimento de competências em informação, sobretudo, sob a dimensão sociocultural na formação de sujeitos ativos, conscientes e autônomos no processo de construção do conhecimento.
No contexto de aprendizagem mediada por tecnologias, tal qual a educação a distância, no ambiente educacional formado por estudantes, professores e tutores, o fluxo informacional é constituído por atores com funções distintas, implicando em ações diferenciadas no acesso e uso da informação em cada nível de participação no processo de ensino-aprendizagem. O tutor, por exemplo, age na identificação das principais necessidades informacionais dos estudantes e, a partir da habilidade para localizar, selecionar, acessar, avaliar e usar fontes de informação, desenvolve estratégias visando solucionar questões de ordem informativa no conteúdo de formação dos estudantes (Souza; Cavalcante, 2021SOUZA, J. G. T.; CAVALCANTE, L. F. B. Competência em informação no contexto EAD: reflexões sobre as práticas profissionais do tutor a distância. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, p. 126-158, 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/164599. Acesso em: 17 set. 2022.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
).
Para Borges et al. (2012)BORGES, J.; BEZERRA, L.; DIOMONDES, S.; COUTINHO, L. Competências infocomunicacionais: um conceito em desenvolvimento. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 13., 2012, Rio de Janeiro, RJ. Anais [...]. Rio de Janeiro, RJ: ICICT, 2012. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/181123. Acesso em: 20 ago. 2022.
https://brapci.inf.br/index.php/res/down...
, as competências em ambientes digitais propõem uma relação entre as competências em informação e comunicação, e culmina no termo competências infocomunicacionais. Para a autora, ser competente infocomunicacional significa estar apto para compreender os direitos sociais essenciais à vida, apropriando-se deles e criando novos meios de informação para que outros também tenham acesso ao conhecimento, estabelecendose uma rede de colaboração, onde todos compartilham conteúdos entres si.
A base, portanto, deste processo, é a interação e a possibilidade de aprender produzindo de forma colaborativa, direcionando-se para novas competências em informação - New Media Literacy (Jenkins et al., 2009JENKINS, H. et al. Confronting the Challenges of Participatory Culture: media Education for the 21st Century. Cambridge (Mas.). London: MIT Press, 2009. Disponível em: http://mitpress.mit.edu/9780262513623/ .Acesso em: 10 set. 2022.
http://mitpress.mit.edu/9780262513623/...
), Transliteracy (Thomas et al., 2007THOMAS, S. et al. Transliteracy: Crossing divides. First Monday, [S. l.], v. 12, n. 12, 2007. DOI: 10.5210/fm.v12i12.2060. Disponível em: https://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/2060. Acesso em: 17 set. 2022.
https://firstmonday.org/ojs/index.php/fm...
), ou ainda Metaliteracy (Mackey; Jacobson, 2011MACKEY, T. P.; JACOBSON, T. E. Reframing Information Literacy as Metaliteracy. C & RL: College and Research Libraries, [S. l.], v. 72, n.1, p.62-78, 2011. Disponível em: https://crl.acrl.org/index.php/crl/article/view/16132/17578. Acesso em: 10 set. 2022.
https://crl.acrl.org/index.php/crl/artic...
). Esse último termo, defendido inicialmente por Thomas P. Mackey e Trudi E. Jacobson, em 2011, compreende, além dos critérios que caracterizam o conceito de competência em informação, a consciência crítica sobre o que é ser competente e como se dá essa competência no cotidiano.
Embora a ideia de evolução do termo e conceito tenha sido proposta especialmente para contemplar o uso competente da informação nas mídias sociais, a exemplo de redes sociais online, tomando-se como narrativa a intencionalidade no compartilhamento de informação em sites de redes sociais (Facebook, Instagram, Tik Tok, etc.), quando a publicação de informações pode rapidamente se tornar desinformação, o conceito de metaliteracy está associado a outras competências: competência midiática, competência digital, competência visual, competência crítica, competência cibernética, e fluência em informação (Mackey; Jacobson, 2011MACKEY, T. P.; JACOBSON, T. E. Reframing Information Literacy as Metaliteracy. C & RL: College and Research Libraries, [S. l.], v. 72, n.1, p.62-78, 2011. Disponível em: https://crl.acrl.org/index.php/crl/article/view/16132/17578. Acesso em: 10 set. 2022.
https://crl.acrl.org/index.php/crl/artic...
).
A concepção conceitual de Mackey e Jacobson (2011)MACKEY, T. P.; JACOBSON, T. E. Reframing Information Literacy as Metaliteracy. C & RL: College and Research Libraries, [S. l.], v. 72, n.1, p.62-78, 2011. Disponível em: https://crl.acrl.org/index.php/crl/article/view/16132/17578. Acesso em: 10 set. 2022.
https://crl.acrl.org/index.php/crl/artic...
sobre o conjunto de competências em informação, em especial no âmbito da aprendizagem em contextos contemporâneos, serviu como fundamentação do uso do termo metaliteracy no Framework for Information Literacy in Higher Education, publicado pela ACRL/ALA, em 2016, uma revisão dos padrões de competências em informação.
Nesse sentido a ACRL discorre acerca desse movimento:
[...] o ambiente de ensino superior em rápida mudança, juntamente com o ecossistema de informações dinâmico e muitas vezes incerto no qual todos nós trabalhamos e vivemos, exigem que uma nova atenção seja focada em ideias fundamentais sobre esse ecossistema. Os alunos têm um papel e responsabilidade maiores na criação de novos conhecimentos, na compreensão dos contornos e nas dinâmicas de mudança do mundo da informação e no uso de informações, dados e estudos de forma ética. O corpo docente tem uma responsabilidade maior na elaboração de currículos e tarefas que promovam um maior envolvimento com as ideias centrais sobre informação e conhecimento em suas disciplinas. Os bibliotecários têm uma responsabilidade maior na identificação de ideias centrais dentro de seu próprio domínio de conhecimento que podem estender o aprendizado para os alunos, na criação de um novo currículo coeso para a alfabetização informacional e na colaboração mais ampla com o corpo docente (ACRL, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
https://www.ala.org/acrl/standards/ilfra... , p. 1, tradução nossa).
Mas, o que é Framework? A terminologia tem sua origem na tecnologia, porém pode ser utilizada em outros contextos. É uma série de ações e estratégias que visam solucionar um problema específico (Noleto, 2020NOLETO, C. Framework: o que é, como ele funciona e para que serve? 2020. Disponível em: https://blog.betrybe.com/framework-de-programacao/o-que-e-framework/. Acesso em: 30 mar. 2022.
https://blog.betrybe.com/framework-de-pr...
). No contexto da CoInfo, o Framework “[...] é chamado intencionalmente de framework porque é baseado em um conjunto de conceitos centrais interconectados, com opções flexíveis para implementação, ao invés de um conjunto de padrões ou resultados de aprendizagem, ou qualquer enumeração prescritiva de habilidades.” (ACRL, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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, p. 1, tradução nossa).
O Framework está organizado em seis conceitos, cada um consistindo de um aspecto central para a competência em informação, um conjunto de práticas de conhecimento e um conjunto de disposições. Os seis conceitos são: (1) a autoridade é construída e contextual; (2) a criação de informação como processo; (3) a informação possui valor; (4) a pesquisa como investigação; (5) pesquisa como debate; (6) a busca como exploração estratégica. A ACRL entende que:
Essa estrutura conceitual abre caminho para bibliotecárias (os), docentes, discentes e outros atores no âmbito educacional remodelar o percurso do ensino-aprendizagem, remodelar os cursos e os currículos; conectar a competência em informação às iniciativas dos alunos (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
https://www.ala.org/acrl/standards/ilfra... , p. 1, tradução nossa)
No Quadro 2, apresenta-se a estrutura conceitual do Framework em seus seis aspectos:
Para cada estrutura conceitual do Framework, a ACRL/ALA (2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
https://www.ala.org/acrl/standards/ilfra...
) apresenta as relações práticas para os estudantes do ensino superior para melhor exemplificar. No âmbito da autoridade é construída e contextual (1) os estudantes definem diferentes tipos de autoridade (como experiência no tema de pesquisa, sua posição na sociedade, experiências especiais); utilizam ferramentas de investigação e indicadores de autoridade para determinar a credibilidade das fontes; entendem que muitas disciplinas têm reconhecidas autoridades e publicações de prestígio e que outros acadêmicos podem questionar a autoridade dessas fontes; reconhecem que estão desenvolvendo suas próprias vozes autorizadas em uma área específica e reconhecem as responsabilidades que isto traz; (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
Já o processo de criação de informação (2), vai mais além do formato e forma de entrega de informações. A criação de informação é valorizada de forma e em contextos distintos (no ambiente de trabalho, no ambiente acadêmico…). A dinamicidade da criação e disseminação das informações requerem atenção contínua para entender as atualizações nos processos de criação. No processo de criação das informações, os especialistas analisam os processos subjacentes, bem como o produto final, para avaliar criticamente a utilidade da informação criada. O propósito é que os estudantes iniciantes comecem a reconhecer a importância do processo de criação, os conduzindo a escolhas mais sofisticadas ao combinar produtos de informação com suas necessidades informacionais (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
No âmbito da informação possui valor (3), o estudante pode na prática aprender a dar crédito às ideias originais (exemplo de citação adequadas); a entender a importância da propriedade intelectual; a compreender o propósito e as características distintas de direitos autorais, uso justo, acesso aberto e domínio público; identificar problemas de acesso ou falta de acesso a fontes de informação; aprendem a decidir onde e como suas informações são publicadas; entre outras possibilidades (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
A pesquisa como investigação (4), o estudante poderá formular questões para pesquisa com base em lacunas de informação; determinar um escopo apropriado de investigação; poderá também lidar com pesquisas complexas; saber utilizar vários métodos de pesquisa, com base na necessidade, circunstância e tipo de investigação; organizar informações de maneiras significativas; sintetizar ideias reunidas de fontes distintas; tirar conclusões razoáveis com base na análise e interpretação das informações (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
Em relação à pesquisa como debate (5), o estudante terá condições de citar o trabalho de outros em sua própria produção de informação; poderá contribuir na comunicação acadêmicas em um nível apropriado (em discussões guiadas, diário de pesquisa de graduação, apresentação em conferência/sessão de pôsteres); identificar as principais barreiras para entrar em diálogos acadêmicos; avaliar criticamente as contribuições feitas por outros em ambientes de informação participativa; identificar a contribuição que determinados artigos, livros e outros trabalhos acadêmicos fazem ao conhecimento disciplinar; reconhecer que um trabalho acadêmico pode não representar a única ou mesmo a maioria das perspectivas sobre um determinado assunto (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
No que tange à pesquisa como exploração estratégica (6), o estudante terá condições de determinar o escopo inicial da tarefa necessária para atender às suas necessidades de informação; identificar as atores de seu interesse, como acadêmicos, organizações, governos e indústrias, que podem produzir informações e determinar como acessar essas informações; utilizar a estratégia do pensamento divergente e convergente ao pesquisar; poderá combinar necessidades de informação e estratégias de busca com ferramentas de busca apropriadas; terá condições de projetar, refinar necessidades e estratégias de pesquisa conforme necessário, com base nos resultados da pesquisa; terá capacidade de entender como os sistemas de informação (ou seja, coleções de informações registradas) são organizados para acessar informações relevantes; poderá usar diferentes tipos de linguagem de pesquisa (por exemplo, vocabulário controlado, palavras-chave, linguagem natural) apropriadamente; e por fim, poderá gerenciar processos de busca e resultados de forma eficaz (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
Para além da leitura e análise minuciosa da estrutura histórico-conceitual do Framework da ACRL/ALA (2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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), buscou-se identificar trabalhos correlatos a esta pesquisa, visando ampliar as fontes de evidência no estudo de caso apresentado, conforme Quadro 3.
Levantamento de artigos científicos sobre o uso do Framework da ACRL/ALA como instrumento de análise para verificar a competência em informação no ensino superior
A busca foi realizada na Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI) (36 artigos) e também, no Portal de Periódicos da CAPES (31 artigos), utilizando a seguinte estratégia de busca - (Framework AND competência em informação AND educação) - , com o recorte temporal de 2015 a 2023, considerando o período em que o Framework da ACRL/ALA foi desenvolvido. Embora tenham-se recuperado 67 artigos científicos, ao realizar a leitura e análise dos textos, verificou-se que apenas cinco (5), listados no Quadro 3, tratam do Framework da ACRL/ALA como instrumento de análise para verificar a competência em informação no ensino superior, e somente um destes aborda a educação a distância, todavia com tutores.
Analisado o aspecto conceitual do Framework e sua aplicação prática, apresenta-se na próxima seção o percurso metodológico deste estudo, sua caracterização, análise e discussão dos dados sobre os níveis de competência em informação dos estudantes do curso de Biblioteconomia na modalidade a distância, da Universidade Federal da Bahia, destacando-se a importância do desenvolvimento de uma competência reflexiva em informação, sobretudo no âmbito da formação do profissional bibliotecário, a qual terá impacto direto no seu modus operandi, como profissional da informação no mercado de trabalho.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NA PESQUISA
Trata-se de pesquisa exploratória, quanto aos objetivos, com abordagem qualitativa e quantitativa, endossada por Costa e Costa (2013)COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Projeto de pesquisa: entenda e faça. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2013., quando dizem que a visão realista/objetiva atenderá a abordagem quantitativa, e a visão idealista/subjetiva atenderá a abordagem qualitativa. Quanto ao nível de investigação, a pesquisa tem caráter descritivo para verificação dos níveis de competência em informação por parte dos estudantes do curso de Biblioteconomia na modalidade a distância da UFBA, no que tange a avaliação crítica de fonte de informação, no contexto digital.
Em relação ao método, caracteriza-se como estudo de caso, pois “[...] permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real.” (Yin, 2001YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001., p. 21). Nesta perspectiva, o caso em análise é o curso oferecido pela Universidade Federal da Bahia, justificando-se esta escolha por ter sido o curso com maior número de matriculados no ano de lançamento nacional da modalidade a distância, em 2020, conforme indicado em Barbalho, Rozados, Gomes e Valentim (2021)BARBALHO, C. R. S. et al. Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na modalidade a distância: relato da experiência da Universidade Aberta do Brasil/CAPES. Revista Eletrônica da ABDF, n. 1, v. 5, p. 68-104, 2021.. Para o desenvolvimento do estudo de caso, seguindo-se o modelo apresentado por Yin (2001)YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001., elaborou-se um protocolo de evidências a ser consideradas na coleta de dados, a saber: a) fontes bibliográficas e documentais sobre avaliação de competências em informação no ensino superior; b) interesses de análise relacionados ao objetivo da pesquisa, os quais foram traduzidos para o instrumento de coleta de dados - questionário; c) pré-teste com estudantes do curso presencial de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal da Bahia, do primeiro e terceiro semestre; d) observação participante, uma vez que as pesquisadoras constituem o quadro docente do referido curso.
Assim, o universo desta pesquisa são os estudantes do curso de Bacharelado em Biblioteconomia na modalidade a distância, oferecido na UFBA, com unidade acadêmica no Instituto de Ciência da Informação (ICI). O questionário eletrônico aplicado (Google Docs) foi enviado em maio de 2021 aos 173 estudantes matriculados, distribuídos em 04 polos existentes (Ilhéus, Juazeiro, Santo Amaro e Vitória da Conquista). O instrumento de coleta de dados utilizado foi estruturado nas seguintes categorias de análise:
-
Caracterização da amostra (perfil dos estudantes) (7 questões);
-
Ambiente de aprendizagem on-line e acesso à internet (3 questões);
-
Necessidades informacionais (2 questões);
-
Acesso à informação efetiva e eficientemente (2 questões);
-
Avaliação crítica de fontes de informação (2 questões);
-
Uso da informação para cumprir um propósito específico (2 questões);
-
Comunicação ética da informação (2 questões).
A maioria das questões (das categorias 3 a 7) foram elaboradas no modelo de Escala Likert, em que os participantes apontaram os níveis entre “Muito importante”, “Importante”, “Sem opinião formada”, “Pouco importante” e “Sem importância”. As demais foram questões de múltipla escolha.
Obtiveram-se 65 respostas, amostra considerada neste estudo, o que representa um nível de confiança de 95% ao considerar um erro amostral menor que 10% da população total (173), conforme distribuição de Gauss. O questionário, baseado no marco referencial do Framework teve como objetivo analisar os níveis de competência em informação dos estudantes e suas habilidades para avaliação e uso de fontes de informação digitais, que serão apresentados e discutidos nas próximas subseções.
3.1 Caracterização da Amostra
Para compreender melhor o contexto deste estudo, fez-se necessária a caracterização dos estudantes quanto ao gênero, faixa etária e outras formações escolares/acadêmicas. Os resultados coletados evidenciam que os estudantes são, em sua maioria, mulheres (75% da amostra é do sexo feminino) legitimando que a predominância do gênero feminino ainda é uma das características na procura do curso em Biblioteconomia. Em geral, pode-se inferir que são pessoas com certa experiência de vida, pois a maioria (43,8%) possui mais de 40 anos de idade, com outra formação em nível superior (71,9%) e 65,6% já tiveram contato com algum ambiente virtual de aprendizagem (Moodle, por exemplo).
Quanto aos dispositivos utilizados para acessar internet, o mais utilizado é o notebook com 71,9% de uso, seguido pelo smartphone com 70,3%. Os participantes afirmaram possuir bom acesso à internet (89%), a qual pode oscilar, mas raramente cai. Esses dados mostram que há, entre os participantes, um grau regular nas habilidades de uso das tecnologias de informação, o que pode ter sido desenvolvido a partir das demandas da primeira graduação, fator significativo para o desenvolvimento das competências em informação.
4 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA NA UFBA
Delineado o perfil dos estudantes de Biblioteconomia na modalidade a distância da UFBA, nesta seção são apresentados a análise, discussão e resultado dos dados referentes aos níveis de competência em informação, a partir de categorias, segundo o marco referencial do Framework.
4.1 Necessidade de informação
Esta categoria pretendeu identificar quais as principais necessidades informacionais da amostra analisada, em consonância com o marco referencial do Framework, sobretudo os conceitos 2, 4 e 6, investigando as motivações dominantes para a realização de pesquisas no ambiente virtual pelos estudantes (Gráfico 1).
A inserção no ambiente de aprendizagem na modalidade a distância justifica que o uso de pesquisas em ambiente virtual para estudos seja de 92,2% (59), seguido de 59,4% (38) de uso para trabalho. Quando perguntados acerca da frequência em que realiza pesquisas no ambiente virtual, mais da metade (56,3%) afirma que realiza pesquisas on-line diariamente e 29,7% pelo menos de duas a três vezes na semana. Infere-se, a partir das respostas, que tal frequência está relacionada à demanda solicitada pelos componentes curriculares que os estudantes estão cursando no momento, ou mesmo para uso do tempo de demandas pessoais e/ou de trabalho. Este dado também pode indicar a mudança comportamental nas atividades laborais dos estudantes, uma vez que já atuam no mercado de trabalho, corroborando com as transformações ocasionadas pela pandemia da Covid-19, a exemplo do teletrabalho (home office).
A motivação dos estudantes para realizar pesquisas no ambiente virtual está relacionada à sua capacidade de determinar estratégias que atendam às suas necessidades de informação. Além disso, a frequência de uso deste ambiente também está ligada à flexibilidade mental dos estudantes em encontrar caminhos adequados para buscar informações à medida que uma nova demanda de pesquisa surge, conforme o conceito 6 (seis) "pesquisa como exploração estratégica", do Framework da ACRL/ALA (ACRL/ALA, 2015Association (ALA). Framework for Information Literacy for Higher Education. 2015. Disponível em: https://www.ala.org/acrl/standards/ilframework. Acesso em: 30 mar. 2022.
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).
4.2 Acesso à informação efetiva e eficientemente
Nesta categoria, pretendeu-se investigar como os participantes traçam suas estratégias de busca concordantes com o conceito 6 do Framework, no que diz respeito à busca eficiente e eficaz da informação. Quanto aos recursos utilizados para delimitar uma pesquisa no ambiente virtual (Gráfico 2), 50% dos participantes informaram que utilizam o modo avançado de pesquisa, que já predetermina os campos de busca, bastando preenchê-los com as informações necessárias.
Destaca-se, contudo, que 31,1% dos inquiridos afirmaram não utilizar nenhum recurso, contradizendo os dados coletados referentes a esse conceito, o que denota para uma competência estreita no que tange ao uso de estratégias de busca.
Ainda com relação à busca de informações no ambiente virtual, como também os aspectos relevantes para a seleção dos materiais coletados e frequência de uso, a tabela abaixo revela que entre as fontes mais utilizadas (soma dos resultados para Muito frequente e Frequente) estão Bancos de teses e dissertações (56,26%), Sites de instituições (79,68%), E- books de Domínio Público (70,32%).
O uso de fontes de informação digitais no contexto atual é mais que uma alternativa para o acesso a conteúdos informacionais, é resultado das transformações no comportamento de busca por informação pela sociedade. Além disso, com a interoperabilidade entre documentos digitais, é possível interagir com múltiplos recursos documentais, possibilitando ao usuário a capacidade de relacionar de forma simultânea conteúdos em diferentes plataformas.
O documento da ACRL/ALA (2000ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARIES (ACRL). American Library) define padrões para competência em informações, que incluem o Padrão 3. Esse padrão destaca a importância de avaliar fontes de informações de forma crítica e incorporar conhecimentos selecionados. Esse padrão também destaca a habilidade de relacionar conteúdos de diferentes plataformas, ideia corroborada pelos estudos de Borges et al. (2012)BORGES, J.; BEZERRA, L.; DIOMONDES, S.; COUTINHO, L. Competências infocomunicacionais: um conceito em desenvolvimento. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 13., 2012, Rio de Janeiro, RJ. Anais [...]. Rio de Janeiro, RJ: ICICT, 2012. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/181123. Acesso em: 20 ago. 2022.
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sobre competências infocomunicacionais. Esses estudos sugerem que mudanças no comportamento da busca por informações podem levar à criação de novos meios de informação, a fim de que mais pessoas possam ter acesso ao conhecimento.
Em relação às principais categorias de fontes de informação, em nível de pesquisa, percebe-se o uso frequente de fontes secundárias pelos estudantes (e-books e sites de instituições), que em geral apresentam informações já organizadas para o usuário e os direcionam a documentos primários, a exemplo de teses e dissertações, que segundo os estudantes seu uso é relevante, apontando para o tipo de conteúdo que mais se aplica às necessidades de informação da amostra analisada.
4.3 Avaliação crítica de fontes de informação
O objetivo desta categoria foi compreender o modo como os estudantes de Biblioteconomia na modalidade a distância da UFBA avaliam as fontes de informação localizadas no ambiente digital, competência mencionada nos conceitos 1 e 3 do referencial teórico do Framework.
Trata-se de um aspecto importante, sendo considerada por Tomaél, Acará e Silva (2008) como uma tarefa imprescindível e constante.
As referidas autoras criaram critérios de qualidade para avaliar as fontes de informação disponibilizadas em redes. Segundo elas, as fontes para atender aos seus usuários devem passar por constantes avaliações:
A qualidade de uma informação ou de uma fonte de informação está diretamente relacionada ao seu uso, ou seja, ao usuário que dela necessita. Para que uma fonte seja de qualidade, deve atender a propósitos específicos de uma comunidade de usuários e isso requer avaliação” (Tomaél; Alcará; Silva, 2008TOMAÉL, M. I.; ALCARÁ, A. R.; SILVA, T. E. Fontes de Informação na Internet: critérios de qualidade. Londrina: EdUEL, 2008., p. 6).
Ao avaliar o grau de importância dos aspectos da qualidade da informação questionados aos estudantes, pode-se destacar que eles consideram “Muito importante” e “Importante” as Credenciais de Autoria, com 95,31%, e Autoridade com 85,94%. Segundo Tomaél, Alcará e Silva (2008)TOMAÉL, M. I.; ALCARÁ, A. R.; SILVA, T. E. Fontes de Informação na Internet: critérios de qualidade. Londrina: EdUEL, 2008., esses dois critérios de qualidade estão relacionados à credibilidade (autoria reconhecida) e responsabilidade (racionalidade no discurso, objetividade, criticidade), o que indica competência crítica por parte dos respondentes.
Ainda sobre a avaliação das fontes e seu grau de importância, para equalizar as informações obtidas e validá-las, questionou-se aos estudantes, de forma fictícia, acerca de um trabalho científico localizado na internet, pedindo-lhes que indicassem o grau de importância de acordo com o tema pesquisado. Notou-se que ratificaram a resposta dada na pergunta anterior, indicando as Credenciais do autor (escrito por doutores 90,32%; escrito por um mestrando 95,74%; escrito por um estudioso conhecido na área 95,31%) como referência para avaliação da fonte, conforme apresentado no Gráfico 3:
Aspectos da qualidade da informação para avaliação de fontes informacionais em pesquisa científica pelos estudantes
De modo geral, há um equilíbrio nas diferenças entre as respostas, em relação ao grau de importância dos critérios apresentados no questionário, destacando-se que nenhum desses aspectos foi considerado mais importante do que o outro pelos respondentes. Logo, esta constância revela que os estudantes possuem critérios na avaliação das fontes, o que corresponde a uma postura crítica e responsável no uso de fontes de informação, temática da próxima subseção.
4.4 Uso da informação para cumprir um propósito específico
Nesta categoria, analisou-se como os estudantes fazem o uso efetivo da informação coletada, conforme os conceitos 4 e 5 do Framework. A princípio, buscou-se identificar as esferas de uso da informação por meio do grau de importância avaliado pelos respondentes. Todas as esferas (científica, sanitária, social, política, econômica e tecnológica) apresentaram um alto grau de importância (Muito Importante e Importante). Destaca-se a esfera científica, com 100%, e a tecnológica, com 95,31%, o que se pode constatar que o uso de fontes nessas esferas está diretamente relacionado ao uso para fins educacionais, ou ainda, uma necessidade orgânica em virtude do contexto que estão inseridos - a aprendizagem e o conhecimento fundamental no uso de tecnologias.
Outro fator investigado nesta categoria foi o produto informacional decorrente do uso das informações coletadas no ambiente virtual. E, coadunando com as esferas de uso, pode-se notar que um dos principais produtos é “Um trabalho de uma disciplina” com 87,5%, seguido da produção de “Um artigo científico”, com 51,65%. Destaca-se também, o uso para “Desenvolvimento profissional”, com 65,6%, conforme mostra o Gráfico 4:
Estes dados apontam para a competência no uso da informação pelos estudantes para alcançar um objetivo específico. Em geral, vê-se que tais objetivos estão concentrados no contexto acadêmico e profissional, todavia, considera-se importante destacar que, mesmo com 21,9% das respostas para “Desenvolvimento de estratégias para fins comunitários”, há valor ético e estético no que tange às competências em informação em prol da coletividade, como aponta Vitorino e Piantola (2011)VITORINO, E. V.; PIANTOLA, D. Dimensões da competência informacional. Ciência da Informação, Brasília/DF, v. 40, n. 1, p. 99-110, jan./abr. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v40n1/a08v40n1.pdf .Acesso em: 28 jun. 2018.
http://www.scielo.br/pdf/ci/v40n1/a08v40...
.
4.5 Comunicação ética da informação
Buscou-se analisar nesta categoria o uso ético da informação obtida na internet pelos participantes da pesquisa, investigando-se incialmente quanto à creditação do uso da fonte escolhida, concordantes com os conceitos 1 e 6 do Framework. Infere-se que, em decorrência do conhecimento obtido nas graduações anteriores, a maioria dos estudantes compreendem a importância ética na citação de autores utilizados para elaboração de um texto, que corresponde ao entendimento, mesmo que parcial, do uso adequado da informação em materiais bibliográficos cobertos pela lei de direitos autorais, conforme Gráfico 5:
Em relação aos canais (formais e informais) de informação em que esses estudantes compartilham as informações, destaca-se o uso de aplicativos de mensagens em dispositivos móveis como Whatsapp, Telegram, entre outros, com 71,9% e, em segundo lugar, estão as redes sociais on-line, como Facebook, Instagram, Twitter, com 56,3%. Salienta-se que essas mídias sociais, têm sido amplamente utilizadas para disseminação de informações falsas, fake news, provocando a desinformação, ou ainda, o excesso da circulação de informações sem qualidade, a infodemia (Gráfico 6).
Este dado confirma dados de outras pesquisas sobre a temática da desinformação em mídias sociais (Corrêa; Caregnato, 2021CORRÊA, M. V.; CAREGNATO, S. E. Desinformação e comportamento informacional nas mídias sociais: a divulgação científica na prevenção ao novo coronavírus. Informação & Informação, [S. l.], v. 26, n. 1, p. 161-185, 2021. DOI: 10.5433/1981-8920.2021v26n1p161. Disponível em: https://l1nq.com/llZuw. Acesso em: 12 jun. 2021.
https://l1nq.com/llZuw...
; Costa; Nóbrega; Maia, 2021COSTA, L. M.; NÓBREGA, L. B.; MAIA, C. T. Combate à desinformação na pandemia da Covid-19: ações afirmativas das plataformas digitais. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, [S. l.], v. 23, n. 1, p. 162-177, 2021. Disponível em: https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/14647. Acesso em: 12 jun. 2021.
https://seer.ufs.br/index.php/eptic/arti...
; Soares et al., 2021SOARES, F. B. et al. Desinformação sobre o Covid-19 no WhatsApp: a pandemia enquadrada como debate político. Ciência da Informação em Revista, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 74-94, 2021. DOI: 10.28998/cirev.2021v8n1e. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/cir/article/view/11246 . Acesso em: 12 jun. 2021.
https://www.seer.ufal.br/index.php/cir/a...
), sobretudo a partir eleições norte-americanas em 2016, brasileiras em 2018 e, que vem causando maior agravamento, sobretudo durante a pandemia da Covid-19, em especial no Brasil.
Obviamente que, o uso de aplicativos de mensagens em dispositivos móveis para compartilhar informações tenha sido prioritário nas respostas, isto não confirma tal uso pelos estudantes para impulsionar mensagens de natureza duvidosa, mas, acentua a discussão para o comportamento informacional dos sujeitos neste momento de transformação digital, e a possibilidade de medidas educativas para o uso crítico e consciente das tecnologias de informação e comunicação, a exemplo de componentes curriculares que possuam como ementa as competências em informação, ou ainda, de forma ampla, cursos em formação continuada para alfabetização digital.
5 CONCLUSÃO
Os estudos em competência em informação, sobretudo na Biblioteconomia e na Ciência da Informação, têm procurado compreender as necessidades de informação de múltiplos sujeitos sociais a fim de caracterizar seus perfis enquanto usuários da informação e, assim, contribuir no desenvolvimento de modelos e/ou diretrizes sobre o uso competente da informação. Neste trabalho, o viés está na análise das competências em informação durante a formação dos futuros profissionais bibliotecários, em especial, na modalidade a distância. Por isso, teve como objetivo identificar tais competências nos estudantes de Biblioteconomia na modalidade a distância, da Universidade Federal da Bahia, em referência às suas habilidades de acesso, avaliação e uso da informação em pesquisas no contexto digital, sobretudo, na pandemia da Covid-19, com base no marco referencial do Framework.
O instrumento para coleta de dados utilizado, questionário on-line, possibilitou extrair resultados sobre os níveis de competência em informação dos estudantes, indicando que a principal necessidade de informação está relacionada aos seus estudos acadêmicos e profissionais, sendo a motivação efetiva das pesquisas realizadas em ambiente virtual. A metade dos estudantes respondentes utilizam estratégias de busca para pesquisa, sendo que as fontes secundárias de informação são mais acessadas e utilizadas. Em geral, apresentam competência para avaliação crítica da informação no aspecto da qualidade da informação, apontando para critérios que observam o reconhecimento da autoria da fonte e a racionalidade, objetividade e criticidade no discurso.
Os produtos gerados pelo uso da informação são, sobretudo, para fins educacionais e que estão relacionados à esfera científica e tecnológica, indicando a constante necessidade de aprendizagem e conhecimento sobre o uso de tecnologias. Destaca-se que uma parte da amostra, indica o uso da informação com o propósito de desenvolver estratégias para fins comunitários, agregando as dimensões ética e estética às competências em informação identificadas. Verificou-se ainda, que os estudantes possuem, mesmo que parcial, a compreensão da importância ética na citação de autores utilizados para elaboração de um texto, atendendo ao padrão de comunicação ética da informação.
Traçou-se aqui, o perfil dos estudantes de Biblioteconomia na modalidade a distância, da UFBA, contudo ressalta-se que, embora atendam de forma básica os níveis em competência informacional aqui delineados, demonstram pouco conhecimento nas estratégias de busca e a avaliação da qualidade de informação concentra-se em critérios que precisam ser discutidos no contexto da desinformação, incluindo-se competência visual da informação, que exige maior criticidade no uso de mídias sociais, por exemplo. Ratifica-se que os estudantes, mesmo aqueles já graduados em outro curso de nível superior, estão em formação, não se exigindo alto grau de competência em informação, uma vez que, para este público, se considera o desenvolvimento dessas habilidades em parceria com a instituição de ensino, docentes; e o projeto pedagógico orientado à formação crítica em informação.
Limita-se a esta pesquisa dados que não foram delineados em razão de não constituírem o objetivo principal deste estudo, tal como o comportamento informacional dos estudantes em suas redes de comunicação on-line, sendo, portanto, agenda para investigação futura. Como contribuição, acredita-se que seja um dos primeiros trabalhos científicos a perfilar e tratar sobre aspectos informacionais que envolvem os estudantes dos cursos de Biblioteconomia na modalidade a distância, oferecidos pela UAB/CAPES, possibilitando o desenvolvimento da gestão educacional desses cursos e seu projeto pedagógico.
Nesta perspectiva, a aprendizagem tem se configurado como um processo cada vez mais orientado à constituição de redes comunitárias. Isto significa refletir sobre uma nova abordagem social, quando a conexão e a interação entre as pessoas potencializam a construção do conhecimento, direcionando, assim, para novos estudos voltados para a evolução das competências em informação e comunicação baseados em emergentes formas de aprendizado.
Reconhecimentos
Não aplicável.
-
Financiamento: Não aplicável.
-
Aprovação ética: Não aplicável.
-
Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.
-
JITA: CE. Literacy.
REFERÊNCIAS
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Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
27 Nov 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
07 Fev 2023 -
Aceito
07 Ago 2023 -
Publicado
11 Set 2023