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Belarmino de Mattos: o Didot da imprensa maranhense no Império

RESUMO

Este artigo discorre sobre a trajetória pessoal e profissional de Berlarmino de Mattos, tipográfo que atuou na Província do Maranhão no oitocentos e face a qualidade dos seus impressos - livros, jornais, folhetos, etc - recebeu o codinome de Didot maranhense. Caracteriza-se este estudo como histórico-documental, tendo como suporte os fundamentos da Nova História Cultural. Mattos, além de exercer as atividades da arte de Gutemberg defendeu a sua categoria profissional ao fundar a Associação Tipográfica Maranhense, em 1853. Considera-se que esta pesquisa traz importantes e férteis contribuições para a História da Imprensa, do Livro e da Leitura no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE:
História da imprensa; Tipografia; Maranhão - Império; Belarmino de Mattos

ABSTRACT

This article discusses the personal and professional trajectory of Berlarmino de Mattos, a typographer who worked in the Province of Maranhão in the eighteen hundreds and in view of the quality of his prints - books, newspapers, leaflets, etc. - received the code name Didot Maranhense. This study is characterized as documentary-historical, supported by the foundations of the New Cultural History. Mattos, besides performing the art activities of Gutemberg defended his professional category when founding the Maranhense Tipographic Association, in 1853. It is considered that this research brings important and fertile contributions to the History of the Press, Book and Reading in Brazil.

KEYWORDS:
History of the press; Typography; Maranhão - Empire; Belarmino de Mattos

1 INTRODUÇÃO

Procurar indícios, rastros e sinais (GINZBURG, 2002GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras: 2002.) para tecer um discurso histórico não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente quanto mais recuamos no tempo, por dois motivos: o primeiro pela necessidade de localização das fontes, nem sempre disponíveis ou quando existem, estão dispersas em diferentes lugares da memória1 1 Lugar de memória é um conceito histórico posto em evidência pela obra Les Lieux de Mémóire, editada a partir de 1984 sob a coordenação de Pierre Nora, formada por sete tomos, sendo o primeiro Les Lieux de Mémoire, os três seguintes La République e posteriormente mais três volumes intitulados Les France. Essas obras se tornaram referência para o estudo da história cultural na França. Os lugares de memória, para Nora, são lugares em todos os sentidos do termo, vão do objeto material e concreto ao mais abstrato, simbólico e funcional, simultaneamente e em graus diversos, esses aspectos devem coexistir sempre. (NORA, 1991). (NORA, 1993NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP. n. 10, 1993.), como arquivos, bibliotecas, museus ou mesmo em acervos particulares entre outros. O segundo, que prescinde do entendimento dos termos, expressões e formas de construção textual do passado. Esses são desafios a serem enfrentados pelos historiadores que, ao adentrarem nesses lugares, precisam entender, também, as regras e as estruturas de organização dadas pelos profissionais da informação (bibliotecários, arquivistas, por exemplo) ao arrumarem em uma perspectiva labiríntica as fontes bibliográficas e arquivísticas (BARATIN; JACOB, 2006BARATIN, Marc; JACOB, Christian. O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente. 2. ed, Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.).

Neste texto, procuramos compreender a história da imprensa maranhense no oitocentos, notadamente sobre a ação dos tipógrafos, isto é, os sujeitos que faziam com que as ideias e o conhecimento se materializassem e circulassem quer na forma de livros, jornais, revistas pelas ruas e ladeiras de São Luís do Maranhão e demais localidades da Província e nas diversas Regiões do Brasil, o que contribuiu para a constituição do epiteto desta cidade como Atenas Brasileira, a exemplo da Antônio de Frias, Sátiro de Brito, Ignacio José Ferreira, Belarmino de Mattos, dentre outros. Para Marques (1970MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Fon-fon e Seleta, 1970., p. 340), “ [...] em meados do século XIX, a produção de livros, como manifestação incidental da prosperidade maranhense, alcançara um alto padrão de excelência técnica e estética e volume suficiente para chamar a atenção para as edições provinciais”. Somente com a expansão das casas tipográficas os livros passaram a ser editados na Província, destacando-se, entre elas, a de Frias e de Berlamino de Mattos, os maiores impressores do Maranhão no oitocentos (HALLEWELL, 2012HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.). Essas tipografias contribuíram para a circulação em jornais os anúncios de compra e venda de livros vindos de Portugal, da Inglaterra e, principalmente, da França, que tratavam de filosofia, direito, línguas, dentre outros assuntos, a exemplo deste anúncio que circulou no Jornal Publicador Maranhense, em 26 de novembro de 1834:

João Antônio da Costa Rodrigues, rua da estrela n. 38, tem para vender por preços cômodos as seguintes obras: Dicionário da Literatura por Lahaupe - 14 volumes Dicionário da Indústria - 6 volumes Dicionário de Artes e Ofícios - 3 volumes Dicionário de Química - 3 volumes Lições de Direito - 2 volumes História do Filosofismo Inglês - 2 volumes História Crítica da Filosofia - 3 volumes Filosofia da Natureza - 10 volumes Teatro de Corneille - 10 volumes O Grande Dicionário Geográfico - 10 volumes (PUBLICADOR, 1834,p.3)

Dentre os vários tipógrafos maranhenses do oitocentos, nos interessou, particularmente, Belarmino de Mattos, por ser considerado o Didot Maranhense2 2 Didot é o nome de uma família de famosos impressores franceses, perfuradores e editores. Por meio de suas conquistas e avanços em impressão, publicação e tipografia, a família emprestou seu nome às medidas tipográficas desenvolvidas por François-Ambroise Didot e ao tipo de letra Didot desenvolvido por Firmin Didot, reconhecidamente os melhores impressores daquela época (ROCHA, 2013). , de cujas mãos saíram impressos que mereceram reconhecimento em nível nacional e internacional e pelo seu envolvimento na defesa da sua categoria profissional, ao criar em 1857, a Associação Tipográfica Maranhense, com o objetivo de defender os impressores que sofriam, censuras e perseguições da sociedade “endinheirada” e política da época.

Antônio Lopes, na História da Imprensa no Maranhão, afirma que:

Com Belarmino de Mattos, simples operário que se imortalizou pelo amor ao trabalho, espírito progressista, gosto artístico e probidade, a arte tipográfica chegou no Maranhão a um nível de perfeição superior ao que havia alcançado em outros pontos do Brasil. Para a sua tipografia afluíam encomendas do Pará, Ceará, Pernambuco e Bahia [...]. Sem esse obreiro-editor não seria possível o movimento intelectual que no século XIX granjeou para o Maranhão o título de Atenas brasileira (LOPES, 1959LOPES, Antonio. História da imprensa no Maranhão. Rio de Janeiro: DASP, 1959. , p. 17).

Sobre Belarmino de Mattos, o trabalho mais alongado sobre sua trajetória pessoal e profissional encontra-se na obra Pantheon Maranhense: ensaios biographicos dos maranhenses illustres já falecidos, de autoria de Antônio Henriques Leal, publicada pela Imprensa Nacional de Lisboa, em quatro volumes em 1873.

O Pantheon Maranhense é um instrumento para se perceber de onde os sujeitos sociais, membros da Athenas, falavam, embora não sejam eles que falam, e sim o autor, que fala por eles. Ainda que não retrate toda a elite, aliás, nunca foi essa a sua intenção, os critérios de inclusão na obra - consequentemente, os de exclusão - não levam em consideração somente a capacidade intelectual dos biografados, perfilando literatos, jornalistas, juristas, oradores, entre outros, mas também de políticos, reforçando o elemento de distinção social por condição de notoriedade como qualidade de pertencimento a uma elite (BORRALHO, 2010BORRALHO, José Henrique de Paula. Uma Athenas equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. São Luís: EDFUNC, 2010, 444 p., p. 36, grifo nosso).

Essa citação de Borralho (2010BORRALHO, José Henrique de Paula. Uma Athenas equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. São Luís: EDFUNC, 2010, 444 p.) nos possibilita a tecer alguns comentários com relação à Belarmino de Mattos. Primeiro, que ele não se situa em nenhuma dessas categorias expressas pelo autor, “[...] literatos, jornalistas, juristas, oradores” (BORRALHO, 2010BORRALHO, José Henrique de Paula. Uma Athenas equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. São Luís: EDFUNC, 2010, 444 p., p. 36), apesar de ter alguns escritos publicados na imprensa, não podemos restringi-lo ao exercício de uma dessas profissões, portanto, o enquadramos na categoria “entre outros”. Segundo, apesar de não fazer parte de uma “elite política e econômica” no oitocentos, pertencia a um grupo de homens que contribuíram para formar um pensamento sobre a Athenas a partir das suas atividades como tipógrafo. Terceiro, pela análise nas matérias publicadas nos jornais A Imprensa e O Publicador Maranhense, podermos afirmar que a presença de Belarmino na obra de Henriques Leal se deu pelas relações de amizade, melhor dizendo pelas suas redes de sociabilidades quer no âmbito profissional como em recorrência de suas concepções político-partidárias na medida em que ambos militavam no partido liberal, defendendo a autonomia da província maranhense e a valorização dos deputados junto à Assembleia Nacional, assumem ainda, o movimento em prol da classe dos tipógrafos, a partir da Associação Tipográfica Maranhense.

Foi em Belarmino de Mattos que a Divina Providencia encarnou a ideia da criação da Associação Typografica Maranhense, e ele, purificado na crença de ser útil e com o coração aberto ao esmeril do trabalho, confiou depois esse segredo da sua consciência e generosa proteção, ao seu amigo, o ilustrado Dr. Antonio Henriques Leal, e o incumbiu da confecção dos Estatutos, de acordo com as bases que lhe apresentara” (REVISTA TYPOGRÁFICA, n. 5, p. 1, 26 jul. 1908, grifo nosso).

No que tange as fontes deste estudo, um dos documentos relevantes foi a Revista Typográfica Maranhense publicada pelo Órgão das Classes Gráficas do Maranhão, impressa nas oficinas do Diário do Maranhão. Ela começou a circular em de outubro de 1907, com periodicidade bimensal, e, provavelmente, parou de circular em fevereiro de 1914. Destacamos, dentre as suas várias edições, o número 40, de 1907, dedicada exclusivamente a Belarmino de Mattos.

2 BELARMINO DE MATTOS: DO NASCIMENTO AO SEU ENCONTRO COM A TIPOGRAFIA

Belarmino de Mattos nasceu no povoado de Axixá, que pertencia à Vila de Icatu, uma das regiões mais antigas do Maranhão3 3 A Vila de Icatu, inicialmente, se chamou Arrayal de Santa Maria de Guaxenduba, denominação dada pelo seu fundador Jerônimo d'Albuquerque Maranhão. Adquiriu categoria de cidade em 1824. Segundo Varnhagen, o topônimo “Icatu” ou “Hycatu” significa “Pontes Boas”. Já Ayres Casal a traduz por “Águas Boas” (MARQUES,1970). , fundada no século XVII sob a denominação de “Arraial de Santa Maria de Guaxenduba”, torna-se um importante centro econômico e político da região do Rio Munim.

Nas primeiras horas do dia 24 de maio de 1830, nasce Belarmino de Mattos, do ventre de Dona Silvina Rosa Ferreira, o historiador Henriques Leal não nomeia seu pai, de onde é possível inferir que fosse filho de mãe solteira. Isso significava para ela, viver estigmatizada, provavelmente pobre e, que por necessidade de sobrevivência, os filhos deveriam aprender um ofício mecânico, que garantisse uma profissão no futuro.

Aos seis anos, a mãe de Belarmino deixa a cidade natal rumo à capital da província, fugindo da Balaiada4 4 A Balaiada, chamada também de Guerra dos Bem-te-vis, foi o movimento popular mais longo ocorrido no Maranhão no período de 1838 a 1841, que reivindicava melhores condições de vida para a população pobre e contou com a participação de vaqueiros, escravos e outros grupos desprovidos dos bens materiais e econômicos (SERRA, 2008). e também com a finalidade de oportunizar o acesso à instrução e uma vida mais confortável para sua prole. Quando da sua chegada na capital da Província, o método mútuo5 5 O Método Lancaster, também conhecido como “Ensino Mútuo” ou “Monitorial”, tinha como objetivo ensinar um maior número de alunos, usando pouco recurso, em pouco tempo e com qualidade. Foi criado por Joseph Lancaster, quaker inglês, influenciado pelo trabalho do pastor anglicano Andrew Bell. Contudo, Lancaster amparou seu método no ensino oral da repetição e memorização, pois acreditava que esta dinâmica inibia a preguiça, a ociosidade, e aumentava o desejo pela quietude. Nesta metodologia não se esperava que os alunos tivessem originalidade ou elucubração intelectual na atividade pedagógica, mas disciplinarização mental e física. Diante do problema da falta de professores, e da necessidade de ensinar para a massa, a solução veio com o elemento monitor. Estes eram alunos mais adiantados que recebiam, separadamente, orientações de um único professor e depois repassavam para os demais, os mais jovens, em números de dez, as decúrias. Nesse processo, um único professor era capaz de lecionar, ao mesmo tempo, para um grupo imenso de alunos. Por se tratar de um ensino para uma quantidade de alunos, com objetivos voltados para formação e controle social, as aulas eram organizadas de forma a seguir uma ordem metodológica e espacial. Eram ministradas em um ambiente retangular, sem nenhum tipo de divisão, onde os alunos ficavam enfileirados, sentados um atrás do outro e a mesa do professor ficava em um ponto mais alto de onde podia visualizar todo o ambiente. Nenhum aluno poderia chegar-se a ele, somente os monitores, para receberem informações e repassarem aos demais. Para que todo o processo funcionasse, o procedimento de estímulo foi superior ao do castigo, instituindo uma nova forma de pensar a disciplina escolar. (BASTOS; FARIA FILHO, 1999) era o estimulado pelo governo para o ensino das primeiras letras, ministrado em 44 salas, com maior incidência na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição.

Aos sete anos de idade entrou Belarmino para a para escola pública de instrução primária da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, regida então pelo Sr. Alexandre José Rodrigues que, apesar de bastante idoso, não se despediu ainda de todo da função de educador (LEAL, 1957, p. 230).

A escola do Professor Alexandre José funcionava em sua residência onde ministrava, para meninos, a leitura, a escrita e as quatro operações matemáticas de modo que pudessem exercer alguma atividade profissional ou, àqueles de maiores posses, adentrarem ao Liceu Maranhense, instituição criada pela Lei n. 77, de 24 de julho de 1838. Além dessas aulas particulares, Alexandre atuou no Colégio de Nossa Senhora da Conceição, de Antônio Joaquim Gomes Braga, onde Belarmino estudou.

Com três anos de assídua aplicação tinha-se Belarmino habilitado para passar por um exame de instrução primária, limitada, como era, a poucas matérias, e em que foi aprovado plenamente. Sabendo aos dez anos ler e escrever correntemente, cuidou sua mãe em aplicá-lo a uma arte mecânica, e para isso meteu-o em 1840 de aprendiz na Typographia da Temperança, de que era proprietário Manoel Pereira Ramos (REVISTA TYPOGRAPHICA, n.8, p.6, 17 set.1914).

Diante do movimento da imprensa no Maranhão, havia uma forte inclinação dos pais em alocarem seus filhos para aprenderem o ofício de tipógrafo. Diferente de outros meninos que aprendiam a ler através dos jornais, Belarmino de Mattos, ao adentrar esse ambiente, já dominava os fundamentos ensinados na instrução primária. A esse respeito, Frias descreve que na tipografia maranhense “A educação intelectual começa, com poucas exceções, por virem aprender a ler na tipografia. [...] [às vezes] não com o fim de aprender uma arte da qual deseja ser oficial, mas para começar logo a ganhar dinheiro” (FRIAS, 1866FRIAS, J. M. C. de. Memória sobre a tipografia maranhense. Apresentado como prova tipográfica na Exposição Provincial de 1866. São Luís: Indústria do Maranhão, 1866. , p. 22). Certamente foi esse um dos motivos pelos quais D. Silvina o colocou como aprendiz na oficina da Tipografia da Temperança, de propriedade de Manuel Pereira Ramos.

A Tipografia da Temperança integrava um conjunto de empreendimentos para publicação de textos no Maranhão no oitocentos. A primeira foi a Tipografia Nacional Maranhense fundada em 1821, pelo governador Bernardo da Silveira e tendo Antônio Marques da Costa Soares como diretor e este, através da Portaria nº 405, de 13 de novembro deste ano, nomeia uma comissão para a sua administração, sendo José Leandro da Silva, Lázaro Antônio da Silva Guimarães, presidente e tesoureiro, respectivamente e que todas as despesas fossem custeadas pelos cofres da Fazenda.

Devido à escassez de mão de obra qualificada para colocarem o empreendimento em funcionamento, foram contratados de Portugal: Francisco José Nunes Cascaes (compositor); Francisco Antônio da Silva (impressor); Antônio Pedro Nolasco (impressor) e Antônio da Silva Neves (guarda e servente de oficina), que, de acordo com Marques (1878MARQUES, César Augusto. História da imprensa do Maranhão. [Primeira parte]. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo XLI, p. 199-225, 1878., p. 220), formam o quadro dos primeiros operários do progresso e da luz da civilização. Nesse aspecto afirma Castellanos (2017CASTELLANOS, Samuel Luis Velázquez. O livro escolar no Maranhão Império. São Luís: EDUFMA; Café & Lápis, 2017., p.72-77)

No Maranhão, a imprensa emerge a partir do movimento denominado de Revolução Liberal e Constitucionalista do Porto (ou somente Revolução do Porto), em 1820 - em meio a diversas reivindicações políticas. Tal movimento originou-se na cidade do mesmo nome e espalhou-se por toda Portugal até alcançar Lisboa, conquistando nessa trajetória o apoio da burguesia, do clero, da nobreza e do exército como reação ao decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808). Decreto no qual se transferia o monopólio comercial dominante durante quase três séculos a outros países, sobretudo à Inglaterra, deslocando-se parte significativa dos recursos econômicos da Metrópole e proibindo-se durante esse longo período tanto a edição e a produção de impressos brasileiros (livros, jornais, panfletos), como a sua circulação e consumo, sempre que não fossem licenciados pelo Desembargo do Paço.

Essa tipografia, de novembro de 1821 a julho de 1823,

[...] prioritariamente publicou O Conciliador, depois desse período imprimia também documentos oficiais e outros folhetos de vida efêmera como a Palmatoria Semanal e os primeiros livros impressos no Maranhão Tratado de moral para o gênero humano, tirado da filosofia e fundado sobre a natureza por Mr. De Salis. Modo de curar a diarreia de sangue para uso dos lavradores e mais pessoas que vivem longe da cidade e Memória sobre a necessidade de abertura do furo (LOPES, 1958, p. 22, grifo do autor).

Até 1830 foi essa a única casa tipográfica em São Luís, quando Clementino José Lisboa funda a Tipografia Constitucional, “Data que marca o crescimento do número de tipografias. Esse crescimento foi de tal ordem que, em dez anos, essa indústria expandiu-se em demasia e uma concorrência feroz acarretou um declínio dos padrões artesanais” (HALLEWELL, 2012HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012., p. 187) que segundo Lopes (1959LOPES, Antonio. História da imprensa no Maranhão. Rio de Janeiro: DASP, 1959. , p. 22).

A partir de 1830 contou S. Luís, muitas outras tipografias e algumas se destacaram por melhoramentos que introduziram nas artes gráficas no Maranhão: a Tipografia Monárquica Constitucional, de Francisco de Salles Nunes Cascaes, que, em 1840 ou 1843, tendo indo a Europa, trouxe de lá prelos franceses e outras novidades; a Tipografia Maranhense [...] a Tipografia Teixeira [ a Tipografia d´O Progresso ], dentre outras.

Belarmino de Mattos, já com certa experiência na arte de imprimir adquirida como aprendiz na Temperança, é contratado por Satyro de Faria, que exerceu forte influência na imprensa, pela publicação de jornais como a Malagueta Maranhense, onde Belarmino de Mattos trabalhava como tipógrafo, recebendo 200 réis por dia, passando a ser provedor de sua família. Com esse valor, que nada contribuía para a sua manutenção, mesmo tendo sido um dedicado empregado, acabou se despedindo, indo, então, trabalhar nas oficinas de Francisco Salles Nunes Cascaes que também se encontrava com problemas financeiros, sendo obrigado a pagar “as férias dos empregados com vales que não achavam curso no mercado” (FRIAS, 1866FRIAS, J. M. C. de. Memória sobre a tipografia maranhense. Apresentado como prova tipográfica na Exposição Provincial de 1866. São Luís: Indústria do Maranhão, 1866. , p. 231).

Segundo Frias em Memórias da Tipografia Maranhense (1866FRIAS, J. M. C. de. Memória sobre a tipografia maranhense. Apresentado como prova tipográfica na Exposição Provincial de 1866. São Luís: Indústria do Maranhão, 1866. ), as dificuldades enfrentadas pelos tipógrafos maranhenses ocorriam pelos seguintes fatores:

  • a) valor pago aos impressos quando comparado a outras atividades artísticas;

  • b) equipamentos obsoletos;

  • c) mão de obra pouco capacitada para o trabalho nos prelos, sendo preciso recorrer à mão de obra escrava e aos jovens aprendizes;

  • d) descontinuidade das publicações, principalmente dos jornais que se constituíam na maior demanda das oficinas;

  • e) privilégio do governo nos serviços de alguns tipógrafos.

O período em que Belarmino estava “perambulando” pelas tipografias corresponde a primeira fase da imprensa, a de recuo: de 1821 a 1841, como denomina Frias (1866FRIAS, J. M. C. de. Memória sobre a tipografia maranhense. Apresentado como prova tipográfica na Exposição Provincial de 1866. São Luís: Indústria do Maranhão, 1866. ). Sendo a segunda estacionária; de 1841 a 1848; e, a terceira de 1849 até 1866, de avanço. Assim:

A marcha um pouco lenta da tipografia, é ainda, oriunda de outras causas, que tem princípio a falta de justiça de quem pode e deve auxiliar a indústria sendo ainda maus culpados aqueles que tendo à sua disposição recursos e proteção, que tocava ao escândalo, nunca deram um passo, nunca fizeram um sacrifício em prol d´aquela, que os enriquecia e que por eles era espezinhada. Em todos os países os trabalhos tipográficos, que mais avultam são os administrativos, e no Maranhão, alguns anos atrás, pode-se dizer que eram os únicos que tinham importância. Se estes trabalhos fossem divididos um por cada estabelecimento, é óbvio que o desejo de bem servir para ser preferido ou ao menos contemplado na sua vez traria o melhoramento do trabalho e o desenvolvimento da arte. Estes trabalhos eram monopolizados por quem desprezando a arte, que sempre abastardou, procurava junto à administração tornar-se proprietário deles, fazendo crer, que só e unicamente ele podia fazê-lo (FRIAS, 1866FRIAS, J. M. C. de. Memória sobre a tipografia maranhense. Apresentado como prova tipográfica na Exposição Provincial de 1866. São Luís: Indústria do Maranhão, 1866. , p. 23).

O Progresso foi o primeiro jornal a circular diariamente em São Luís, exigindo, portanto, um empenho dos editores e tipógrafos em manter a produção diária em quatro páginas que continham informações as mais variadas, tanto da Província do Maranhão, como de outros lugares do Brasil ou do Exterior. A partir de 1849, Antônio José da Cruz assume como proprietário e a periodicidade, que antes era de circulação diária, passa ser de três vezes por semana, sob a redação de Carlos Fernando Ribeiro e por José Joaquim Ferreira Vale.

De forte oposição ao presidente da província, Antônio Candido da Cruz Machado6 6 Antonio Candido da Cruz Machado (Minas Gerais, 1820-1905).Visconde de Serro Velho. Advogado foi professor das provincias de Goiás, Bahia e Maranhão (1855-1857) (MARQUES, 1970). , por vingança manda “prender todos os operários para que ingressassem no serviço militar. [...]” (JORGE, 2008JORGE, Sebastião. A linguagem dos pasquins. São Luís: Lithograf, 2008., p. 203) e arrombar o prédio onde funcionava a oficina deste jornal. Segundo Jorge (2008JORGE, Sebastião. A linguagem dos pasquins. São Luís: Lithograf, 2008.), Belarmino encabeça o movimento junto com os demais operários, denunciando tais arbitrariedades.

Todavia, os ganhos financeiros de Belarmino não favoreciam o seu sustento e o da sua família, o que exigia várias jornadas de trabalhos extras para aumentar a renda. À noite imprimia orações, santos e outros serviços menores “que com cuja venda engrossava o seu salário” (LEAL, 1874LEAL, Antônio Henriques. Pantheon maranhense: ensaios biographicos dos maranhenses illustres já fallecidos. Tomo 2. Imprensa Nacional: Lisboa, 1874., p. 232) e, ao retornar para casa, continuava com as suas tarefas de tipógrafo até a madrugada, posto que

Não havia no mercado papel de impresso no formato do Progresso, pelo que era forçoso emendarem-se as folhas. Belarmino, em obséquio ao seu antigo mestre e ora patrão, tomava sobre si esse afanoso encargo e acurvado até alta noite sobre a mesa, não ia procurar o repouso sem que tivesse grudado pelo menos uma resma de papel (LEAL, 1874LEAL, Antônio Henriques. Pantheon maranhense: ensaios biographicos dos maranhenses illustres já fallecidos. Tomo 2. Imprensa Nacional: Lisboa, 1874., p. 232-233).

Segundo Leal, essa atividade noturna não era reconhecida por Antônio José da Cruz que mesmo sabendo das suas dificuldades e do seu empenho com a oficina d’O Progresso, não facilitava os custos da impressão dos avulsos que Belarmino tomava para si, como meio de sustento, ao contrário, cobrava-lhe os mesmos valores aplicados a quaisquer outros indivíduos que desejassem fazer uso dos prelos deste jornal.

Parece que Cruz foi um patrão particularmente mesquinho e os níveis de remuneração eram tão inferiores à alta do custo de vida que o jovem Belarmino, então com 19 anos, viu-se obrigado a trabalhar regularmente três a quatro horas extras diárias para garantir uma subsistência adequada (HALLEWEEL, 2012, p. 195).

Contudo, o reconhecimento da qualidade de Belarmino de Mattos como editor e impressor ultrapassou as fronteiras de São Luís, tendo recebido convite para atuar no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Contudo, rejeita as propostas com a justificativa de que tinha compromisso pessoal com o proprietário d’O Progresso e com a sua família.

2.1 O defensor da classe tipográfica maranhenses

Em 1854, Antônio José da Cruz, já velho e cansado dos afazeres com a tipografia, cede à pressão do governo e entrega a direção d’O Progresso para Carlos F. Ribeiro, levando consigo todos os empregados. Belarmino de Mattos ainda não estava com 24 anos de idade quando se encarrega da direção desse empreendimento, “encomendando os mais modernos equipamentos e prelos belgas, franceses e americanos” (HALLEWELL, 2012HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012., p. 195). Sendo este periódico o centro das disputas entre conservadores e liberais nas eleições de 1856, onde “as massas populares gitavam-se com a promessa de ser respeitada a liberdade das urnas” (LEAL, 1874LEAL, Antônio Henriques. Pantheon maranhense: ensaios biographicos dos maranhenses illustres já fallecidos. Tomo 2. Imprensa Nacional: Lisboa, 1874., p. 235), isto é, a oposição ao governo despertara depois de longa letargia em que jazia desde 1849.

A estratégia dos membros do partido conservador capitaneado pelo presidente da província, Antônio Candido da Cruz Machado, para arrefecer os ânimos antes das eleições de 1856, que representava a possibilidade de os liberais alcançarem o poder passa a perseguir jornais e impressores, por ser a imprensa o palco principal desse debate em denunciar as arbitrariedades, isto é, os editores d’O Conciliação e os do Diário do Maranhão e d´O Progresso antes do pleito postergavam qual deveria ser o papel da imprensa, não omitindo a capacidade desse veículo de cumprir seu verdadeiro papel, que, segundo eles, era o de informar, conforme pode se verificar neste verdadeiro manifesto:

Vão se aproximando as eleições para deputados geraes e observa-se uma completa mudez nos jornaes acerca dos homens que nos devem ir representar no parlamento. Bom seria que o jornalismo, cujo fim é esclarecer o público sobre seus interesses, tratasse d’indicar os candidatos para que estes fossem apreciados com anticipação por aquelles que lhe teem de prestar seus votos, e não sejão apresentados da eleição, como tem acontecido até hoje. É tempo que a população desta província reconheça e se convença que os seus representantes devem ser apreciados pelos seus merecimentos e virtudes civis, para poderem defender os direitos e interesses públicos; e que é preciso de uma vez dar de mão a esses homens sem capacidade que só vão arranjar para si ou para os parentes-bécas-commendas-baronatos-empregos de pingues rendimentos e despachos para os intrigantes de partidos etc & etc; é mister enfim que o reinado do ventre caia e suba ao throno em seu lugar o da intelligencia e do mérito. Nós que infelizmente não temos um grande numero de pessoas aptas para bem nos representar, devemos aproveitar esses poucos que temos escolhendo os seguintes cidadãos, na nossa opinião os melhores, e que nos parecem reunir sufficiente somma de capacidade, em quanto nos não apresentarem outros que os excedam: Os Srs. Francisco José Furtado. Fábio Alexandrino de Carvalho Reis. Francisco de Mello Coutinho de Vilhena. João Francisco Lisboa. Cândido Mendes de Almeida João Nunes de Campos (DIÁRIO DO MARANHÃO, 6 fev 1856. p.3).

O jornalismo opositor expunha os atos arbitrários e as intervenções indevidas do governo, tornando públicos os atos ilegais que esse havia utilizado para garantir que seus candidatos conservadores vencessem as eleições. Em um possível arroubo de vaidade, o presidente da Província do Maranhão, Antônio Candido da Cruz Machado, edita portaria por meio da qual ordena que as autoridades policiais impedissem o ingresso de eleitores que denunciavam como falso o pleito e os prendessem, instaurando processos contra eles.

Na tarde do dia 10 de janeiro de 1857, os operários da Tipografia do Sr. J.M.C. Frias, onde se imprimia O Conciliação, bem como os operários da Tipografia do Sr. Carlos Fernando Ribeiro, onde se publicava O Progresso, foram surpreendidos com a ação policial que tinha o objetivo de prendê-los à porta das respectivas oficinas. Tomados pela surpresa da ação, empreenderam fuga, no entanto, dois foram capturados: os tipógrafos Falcão e Luís Carlos Barbosa, levados à prisão e obrigados a “assentar praça” (servir o exército). Tal ação atentava diretamente, contra os direitos de liberdade de pensamento explícitos na Constituição Nacional. As tipografias oposicionistas fecharam suas portas, os tipógrafos esconderam-se da justiça. Havia um pavor instalado na sociedade maranhense. Os redatores dos jornais então lavraram um protesto, simples, impresso no pequeno prelo do Sr. Carlos Fernando Ribeiro, que tivera a ideia de transferi-lo para uma casa em frente, onde residia. O sentimento de indignação na maioria da população encontrou eco no que veio a seguir.

O protesto dos redatores oposicionistas maranhenses teve forte repercussão e denúncia junto às Associações Imperial Tipográfica Fluminense e Pernambucana.

A defesa dos maranhenses pelos companheiros de profissão do Rio de Janeiro, junto ao Monarca, foi decisiva para que muitos dos que estavam em prisões no quartel ou em domicílio voltassem para suas atividades (ver quadro que segue). Em reconhecimento ao apoio dos tipógrafos dessas províncias, foram publicadas no jornal A Imprensa (1857) as seguintes matérias:

E com o coração a transbordar de alegria que, que nos dirigimos à vós, irmãos, pela nobre profissão que seguimos, para agradecer-vos do intimo da alma a a generosa e espontânea parte, que tomastes nos nossos sofrimentos. A arca santa da liberdade, que está em parte a nós confiada, porque somos um dos instrumentos de que ela se serve para dilatar-se por todos os ângulos a terra, foi pela prepotência e o crime violada aqui com a prisão e homisio de alguns de nossos irmãos, e vós senhores, ali tomastes sem demora a causa como vossa e a levastes ante o trono do nosso adorado Monarca para que ele, que é sábio justo e reto, e não deixa uma ferida sem o balsamo de sua justiça, uma lágrima correr na sua presença que não a enxague, ouvisse os gemidos dos tipógrafos oprimidos e reparasse a injustiça , que fizeram contra os tipógrafos maranhenses, e punisse o criminoso [neste caso o presidente da província Antonio da Cruz Machado]. Nós os oprimidos, nós os homisiados tipógrafos do Progresso, Estandarte e Diário do Maranhão, e conosco das tipografias do Publicador Maranhense, da Temperança e do Observador, dirigimos este agradecimentos à Imperial Associação Tipográfica Fluminense, e a todos os tipógrafos dos Rio de Janeiro, que tanto se interessaram pela sorte dos perseguidos, e com todas as veias do nosso coração, e cheios de reconhecimentos lhes asseguramos que nunca se nos varrerá da lembrança seu nobre proceder e o empenho tão valioso, que mostrou essa ilustre Associação por nós que tanto sofremos do poder arbitrário. Creiam, senhores, na sinceridade de nossos protestos de gratidão.

Somos

Vossos irmãos de trabalho

São Luís, 4 de março de 1857 (A IMPRENSA, 4 mar.1957, p.4)

Na mesma edição, os tipógrafos perseguidos do Maranhão agradecem o apoio vindo de Associação Tipográfica Pernambucana

Lemos com prazer, e cheios de reconhecimento, o comunicado que fizestes inserir no N. 1302 do Liberal Pernambucano.

Vós que sois nossos irmãos pelo trabalho, vós que sabeis como nós o sabor do pais das fadigas, o os pesares que acompanham os párias deste século, sentistes as nossas magoas, sofrestes como nós as dores, pela voz poderosa da imprensa, que nos alimenta e todos duplamente, com a nutrição do corpo e da inteligência, e vossas vozes, quando por ventura não fossem ouvidas por mais ninguém, se-lo-iam. Como foram, por nós os oriundos pela prepotência de um Regulo, por nós os hosiados, por todos os nossos irmãos, os compositores e impressores das outras tipografias do Maranhão, e as repercutiremos em mil bênção e gravá-lo-emos eternamente na nossa memória. O vosso comportamento é belo e nobre, como o dos nossos irmãos fluminenses e de vós filhos briosos dessa terra de Liberdade, nem curvou a cerviz ao latejo da tirania não era de esperar de outro modo obrasse. Do fundo da alma agradecemos a vós briosos tipógrafos compositores e impressores pernambucanos, a parte ativa que tendes tomado em favor dos perseguidos tipógrafos maranhenses. Crede que nunca nos esqueceremos do auxílio que nos prestastes nesta quadra e que servirá ele se incentivo para que não nos deslizemos nunca do caminho nobre trilhado até hoje.

Maranhão, 2 de março de 1857. ( A IMPRENSA, 4 mar.1957, p.4)

No quadro 1 que segue explicitamos instituições tipográficas e tipógrafos envolvidos no processo.

Quadro 1
Tipógrafos envolvidos no processo

Diante a estas denúncias D. Pedro II solicita averiguação dos fatos e para atender o clamor da opinião pública, demite o presidente da província em respeito à lei postergada. Passaram-se apenas 42 dias entre o referido ato do presidente e sua demissão e expulsão do Maranhão sob vaias e zombarias por parte de grande parte da população.

Passando esse episódio, Belarmino e seus companheiros de profissão voltaram ao trabalho, mas permaneciam temerosos com as animosidades que pairavam no ar. Esse clima de incerteza e de insegurança levou os operários d´O Progresso a recolherem os equipamentos e prelos para que pudessem dar continuidade à publicação do jornal.

Entretanto, mesmo com os alardes, os liberais sofreram mais uma derrota: o Barão de São Bento foi eleito Deputado; Carlos Ribeiro abandonou luta política no Maranhão e seguiu para o Amazonas para ser secretário do presidente da Província, exatamente o seu conterrâneo e correligionário, João Pedro Dias Vieira; e, Ferreira Vale ingressou na carreira diplomática (BORRALHO, 2010BORRALHO, José Henrique de Paula. Uma Athenas equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. São Luís: EDFUNC, 2010, 444 p., p. 157).

Essas questões foram determinantes para que Belarmino de Mattos fundasse, em 11 de maio de 1857, a Associação Tipográfica Maranhense com o apoio do presidente da província, Manuel Gomes da Silva Belford7 7 Manuel Gomes da Silva Belfort (1788-1860) foi um fidalgo e político, nomeado barão de Coroatá por decreto de 2 de dezembro de 1854. Foi Presidente da província do Maranhão, em 1857. Filho do capitão Filipe Marques da Silva (falecido em 1801), cavaleiro fidalgo da Casa Imperial, e de Inácia Maria Freire. (MARQUES, 1970) , o Barão de Coroatá, e de vários jornalistas, tipógrafos e intelectuais sob as bênçãos do bispo diocesano.

Sob as bênçãos da igreja católica, representada pelo Bispo D. Manoel Joaquim da Silveira, é aprovado o Estatuto da Associação Tipográfica Maranhense. Os estatutos, após serem elaborados pelos membros da diretoria, foram entregues ao bispo, pela Comissão escolhida para este fim. Entre os sócios efetivos estavam: Manoel Teixeira de Sousa, Ayres Firmino Cesar Gomes e João Thomaz de Melo. No discurso de entrega do documento, Manoel de Sousa diz:

Exmo. E Rvm. Sr. - Como órgão da Associação Typograhica Maranhense, instalada nesta capital, temos a honra de beijar o anel de V. Ex. Rvm., recebendo ao mesmo tempo a bênção do ilustre e distinto pastor desta diocese, ao apresentar a V. Exc. Rvm. os estatutos, porque se rege a mesma Associação.

É nesta ocasião solene, e para nós de indivizivel prazer, que temos a honra de anunciar a V. Exc. Rvm. Que a nossa Associação, compenetrada dos deveres públicos, que tem a cumprir, não duvidou lançar sua nascente esperança de melhor futuro para a Alta Pessoa de V. Exc. Que se digne de aceitar o lugar de seu Protetor e ampara-la com a sua reconhecida ilustração e muito piedade religiosa.

A Associação Typographica Maranhense, que só tem em vista o melhoramento material e moral dessa sublime arte e dos Maranhenses que a professam, ousa esperar da bondade inata de V. Exc. Que esta acolhida pelo paternal coração de V. Exc. Rvma. , no qual jamais entrou uma só faúla, que não fosse de uma das muitas virtudes que fazem o florão de gloria que orna a cabeça do Príncipe da Igreja Maranhense. Pelo órgão da comissão, que se acha perante V. Exc. Rvma., a Associação Typographica Maranhense rende a V. Exc. Os seus mais puros e sinceros agradecimentos, e prostrada recebe com a humildade do cristão a bênção do seu santo e venerado pastor.

Maranhão, 13 de setembro de 1857.(A IMPRENSA, 1857, p.4)

Para a sua manutenção financeira, a Associação recorre a loterias, cujos bilhetes poderiam ser comprados nas tipografias, boticas e outros locais de São Luís e de outras localidades da Província sob o controle do tesoureiro João Marcelino Romeu, maneira pela qual a Associação custeava suas atividades, incluindo o pagamento do imóvel situado à Travessa do Teatro, n. 10, na Freguesia da Vitória, em São Luís, tendo no hall de entrada um retrato de Gutemberg.

Mas qual o fim desta Sociedade? O jornal O Paiz, de 1863, informa que:

Os tipógrafos formam nesta cidade uma sociedade para fins tão filantrópicos que dizê-los é o maior elogio que se possa fazer a esses filhos do trabalho. Reuniram-se como irmãos, tiraram parte das suas economias, uma parte desse pão ganho com tanto suor. Se um adoece a sociedade corre em seu socorro não o deixa à mingua e se morre sepulta-o com decência. Eis o que é a Sociedade Tipográfica. (O PAIZ, 1863, p. 3, grifo nosso).

Entendemos que essa atribuição ocorreu após a consolidação da Associação, posto que o motivo primordial que motivou sua criação foi a perseguição aos tipógrafos e, por conseguinte, a liberdade da imprensa e a necessidade da garantia do seu oficio.

Para tanto, a associação era composta por um conjunto de homens-tipógrafos, jornalistas e outros profissionais ligados à imprensa, os quais assumiam diferentes funções no interior da agremiação dividida entre os sócios efetivos e honorários que mensalmente realizavam reunião para debaterem questões relativas à profissão e a organização e administração da Associação.

A diretoria era eleita para um mandado de um ano. Era composta por um presidente, vice-presidente, primeiro e segundo secretários que deveriam zelar pela organização da casa, manter atualizado o cadastro dos sócios, redigir e emitir documentos e convocar a diretoria para as assembleias gerais e conduzir as mesmas, assim como manter contato com associações congêneres. O tesoureiro tinha como atribuição manter em ordem as finanças, apresentar o balancete anual e promover loterias para arrecadação de recursos. O conselho fiscal, sendo que essa atividade no decorrer no tempo passa a ser denominada de “conselho de sindicância”, cuja finalidade era receber e fiscalizar as condições de trabalhos nas oficinas e indicar novos sócios. A Diretoria, após eleita, deveria ser nomeada pelo presidente da Província.

Os membros honorários eram escolhidos entre pessoas que diretamente contribuíam para o engrandecimento da Associação e eram de caráter permanente, a exemplo de Henriques Leal e Belarmino de Mattos, que depois de assumir a primeira presidência passa a essa função, assim como Antônio de Frias.

No decorrer do século XIX, vários tipógrafos assumiram a direção da Associação, no qual apresentamos alguns exemplos (quadro 2):

Quadro 2
Membros da Associação no século XIX

A cada ano, a Associação promovia uma festa comemorativa em referência à data da sua fundação. O evento contava com a presença de todos os membros e familiares, autoridades civis e eclesiásticas. Na oportunidade, eram realizadas várias atividades, como conferências, exposições de materiais impressos, no intuito de mostrar para a sociedade os avanços da arte de impressão e a incorporação de novos membros que deveriam prestar o “juramento de estilo”. Nessa ocasião, também eram recitadas poesias pelos membros, sempre tratando da profissão de tipógrafo.

Associação Typographica. No dia 08 de corrente teve lugar na casa do Sr. José Maria Correia de Frias a sessão solemne da Associção Typographica Maranhense. O público já tem conhecimento do programna do festejo e, portanto, só nos cumpre accrescentar que esse programna foi muito e muito excedido. Perante o Exm. Sr. Presidente da Provincia e um luzido concurso de pessoas gradas e artistas de diversas profissões abrio-se a sessão solemne estanto presente quase todos os operários typographos maranhenses.

Os sócios honorários Dr. Jorge Junior José de Conselho Estrella e Jorge Sobrinho pronunciarão discursos análogos, e em seguida fizerão o mesmo o Sr. Tenente-Coronel Fernandes Luiz Ferreira, redactor do artista, o Sr. Mesquita artista typograpo e os relatores das comissões das Sociedades Atheneu Maranhense, Luso-brasileira e a do Gabinete Portuguez de Leitura.

O Sr. Dr. Antonio Henriques Leal, digno presidente honorário da Associação Typographica depois de proferir uma allocução, convidou a nova mesa administrativa a tomar posse. Empossada esta, o Sr. Correia de Frias, Presidente effectivo da Associação convidou os circunstantes para um copo d'agua, depois de ter feito distribuir uma bella poesia do Sr. Rocha Borba, magnificamente impressa n'aquelle momento.

A mesa estava servida com esplendor e profissão. Forão feitos entre outros os seguintes brindes:

- a memória de Guttemberg; a arte typographica; ao Exm c Revm. Sr. Arcebiso da Bahia, protector da Associação Typographica maranhense e ao Exm. Sr. Presidente da Província pelo Sr. Correia de Frias.

- a imprensa, grave e moralisada da provincia, representada ali pelos Srs. Dr. Gentil Braga, Joaquim Serra, cônego Santos Themistocles Aranha e tenente-coronel Ferreira, ao decano da imprensa maranhense, o illustrado Sr. Sotero dos Reis, que se achava ausente, pelo Sr. Dr. Antonio Henriques Leal.

- ao digno presidente honorário da Associação Typographica, ao Sr. Belarmino de Mattos, Frias, Bezerra, aos proprietários das typographias, J. J. Ferreira mencionados, pelo Sr. Gentil Braga.

- ao Exm. Sr. Presidente da Provincia, pelo Sr. Themistocles Aranha.

- Aos Srs. Ex-redactores de jornaes, que se achavão presentes. Drs. Rego, Roxo, Leal e Jorge Junior, as glórias litterarias do Maranhão, os Sr. Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Gomes de Sousa e João Lisboa, pelo Sr. Serra.

Finalmente o Exm. Sr. Presidente da Província fez um brinde aos maranhenses e a prosperidade da Associação Typographica, rematando as saudades feitas na primeira mesa de S. M. o imperador por Exa. ( A COALIÇÃO, 11 set. de 1862, ano I, n. 63, p. 1).

Essa associação adentrou a República com os mesmos propósitos da sua criação por Belarmino de Mattos. Ela publica a Revista Typográfica que começou a circular em 31 de outubro de 1907, com periodicidade bimestral e, provavelmente, circulou até 1914, com o objetivo de divulgar as atividades da classe gráficas do Maranhão.

A referida revista apresentava, na primeira página, o expediente com o nome do redator principal, Artur Lima Brandão, auxiliado por José Simeão de Assis e tendo como Secretário da Redação, André Avelino Espírito Santo Ferreira e de todos os colaboradores, sócios e diretores e redatores. A sua impressão era realizada nas oficinas da imprensa oficial do Estado.

Observando os detalhes da logomarca da revista na figura abaixo, notamos as efígies de três personalidades importantes na criação da tipografia de tipos móveis. Estão inseridos na parte interna da letra R, lado a lado. A primeira delas é de Gutemberg, inventor da prensa de tipos móveis. A segunda de Johann Fust ou Faust, que patrocinou as pesquisas de Gutemberg, sendo seu patrono, e a terceira é de Peter Schöffer ou Petrus Schoeffer que atuou como impressor, estudou em Paris e trabalhou como copista de manuscritos, antes fora aprendiz de Gutemberg.

Outro detalhe igualmente importante é a homenagem da revista ao incorporar, em sua marca, uma flâmula com os nomes dos mais célebres tipógrafos do Maranhão oitocentista: Belarmino de Mattos, Antônio de Frias e Satyro Faria. Observamos que o nome de Belarmino vem em primeiro lugar, um indício de que, para a classe dos tipógrafos, ele seria o mais renomado deles.

Essa revista circulou em várias partes do Maranhão e do Brasil, visto que encontramos artigos de agradecimento pelo recebimento dos números do periódico em outras unidades da federação, notadamente por maranhenses que estavam nessas localidades, a exemplo de Artur Azevedo, que, ao receber um número da revista, assim se manifesta:

Recebi da capital do meu Estado o segundo número do periódico a Revista Tipográfica que se diz órgão da classe dos gráficos e dos qual é diretor o Sr. Artur Lima Brandão. Nos tempos felizes em que o meu Maranhão era cognominado Atenas Brasileira. Havia quem lhe chamasse também a Leipzig do Brasil, por que era a capital do reino da Saxônia, a cidade do mundo em que mais progresso fizera a arte tipográfica. (REVISTA TYPOGRAPHICA, n.8, p.6, 17 set.1914).

Figura 1
Detalhe de capa da Revista Typographica (1907)

3 O IMPRESSOR/EDITOR BELARMINO DE MATTOS

Conforme relatado na Revista Typographica (1913), dos prelos do Didot Maranhense, saiu um conjunto de obras impressas que mereceu reconhecimento em nível nacional, [...] sua elegância e execução artística, tão alentadas nos volumes tão razoáveis nos preços que distingue-se o Maranhão como parte do Brasil onde a arte tipográfica mais adiantada se achava, sendo os produtos de suas oficinas colocados entre os primeiros, tanto em qualidade com em barateza e aceio seus comerciais com vantajosos salários para o Ceará e Pará (REVISTA TYPOGRAPHICA, n. 7, p. 2, 1913).

O Almanaque Administrativo Mercantil e Industrial organizado por Belarmino de Mattos, com a contribuição de vários personagens, com destaque por Antônio Henriques Leal, “Esses materiais se constituem em um precioso manancial a quem quer que deseje conhecer o Maranhão de então” (REVISTA TYPOGRAPHICA, n. 7, p. 2, 1913). Ver a figura 2 que segue.

Figura 2
Detalhe do Prólogo do Almanaque do Maranhão (1858)

Nesse rol de almanaques, Belarmino publicou outras séries em 12 volumes, nos anos de 1858 a 1869, sendo que as edições de 1860, 1862 e 1864 são as mais procuradas, em função dos conteúdos nelas expressos, o que resultou em uma tiragem de número bastante elevado como podemos observar o quadro 3.

Quadro 3
Obras impressas por Belarmino de Mattos8 8 As obras que não conseguimos obter a data provável de impressão, optamos apenas por fazê-las constar o registro de seu nome e autor.

Dos seus prelos, também saíram edições de O Progresso (1806), o primeiro jornal diário que circulou no Maranhão e que teve como redatores Fábio Alexandrino de Carvalho Reis, Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, Antônio Rego, dentre outras figuras da literatura e da política maranhense no oitocentos. Além desse jornal, Belarmino publica também O Paiz, considerado um dos jornais de maior circulação e importância do Nordeste do Brasil, igualando-se ao Diário de Pernambuco.

Além de tais jornais e muitos outros de menor formato e circulação, foram impressos por Belarmino de Mattos, nas províncias do Pará, Ceará, Piauí e Pernambuco, bem como livros escolares literários e traduções, o que evidencia a qualidade e quantidade de materiais que passaram pelas suas hábeis mãos de impressor. O que ocasionou, por conseguinte, a ampliação do espaço de instalação de sua oficina para proporções mais adequadas.

Em 1863, possuía já elle uma officina de proporções taes que era acanhado o prédio da rua de Santa’Anna para conter a typographia do dr. Carlos F. ribeiro, de cuja conservação e guarda estava incubido, e a sua tão copiosa em prelos, machinas, e caixas de typos de diversos pontos e caracteres.

Accrescia que, a um material tão vasto, correspondia o pessoal de operários, muito superior ao de todas as outras. Teve, portanto, de passar seu estabelecimento para a rua da Paz (hoje Coronel Collares Moreira) vindo ocupar todo o correr de casas fronteiro á actual Bibliotheca, presentemente sob n.º 9, 11 e 13, mas que n’aquelle tempo formava um só predio.

Foi ahi que teve a ventura de conhece-lo quem escreve estas linhas; foi d ahi que sahiram as suas ultimas e mais primorosas edições; foi ahi, também, que, a 26 de fevereiro de 1870, veio a morte surprehendel o em plena actividade do trabalho (REVISTA TYPOGRAPHICA, n.7, 1913,p.3).

CONSIDERAÇÕES PONTUAIS

Como se pode depreender, Belarmino de Mattos, como impressor, teve uma atuação muito representativa ao fazer circular jornais e livros que ultrapassaram as fronteiras da Província do Maranhão.

Sendo assim, Belarmino de Mattos foi um importante mediador da cultura escrita na medida em que, de seus prelos foram publicados importantes jornais que circularam em toda a província e dos livros dos mais eminentes intelectuais do período, contribuindo para o epíteto de São Luís como Atenas Brasileira, mas não somente como tipógrafo, mas como editor, mestre do seu ofício, líder de causa política de sua classe e um representante respeitável de sua arte.

Por fim, acreditamos que este trabalho venha a contribuir com a história da imprensa maranhense no oitocentos, notadamente sobre a figura de Belarmino de Mattos, na medida em que, com exceção do texto de Antônio Henriques Leal, os demais trabalhos se reportam a ele de maneira fragmentada e lacunar.

Todavia, entendemos que seja necessária uma incursão mais profunda nesses registros, uma reflexão acerca dos sinais que não foram ainda percebidos e a ampliação deste estudo bem como a descrição da trajetória de outros tipógrafos maranhenses que atuaram no oitocentos.

REFERÊNCIAS

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  • BASTOS, Maria Helena C.; FARIA FILHO, Luciano M. de. A escola elementar no século XIX: o método monitorial/mútuo. Passo Fundo: EDUPF, 1999.
  • BRAGA, Maria de Fátima Almeida. Livros, folhetos, jornais..., tudo à venda na Botica de Padre Tezinho. Rio de Janeiro: Novas Edições Acadêmicas, 2015.
  • BORRALHO, José Henrique de Paula. Uma Athenas equinocial: a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro. São Luís: EDFUNC, 2010, 444 p.
  • CASTELLANOS, Samuel Luis Velázquez. O livro escolar no Maranhão Império. São Luís: EDUFMA; Café & Lápis, 2017.
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  • DIÁRIO DO MARANHÃO. São Luís, 6 fev.1856.
  • FRIAS, J. M. C. de. Memória sobre a tipografia maranhense. Apresentado como prova tipográfica na Exposição Provincial de 1866. São Luís: Indústria do Maranhão, 1866.
  • GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras: 2002.
  • HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EDUSP, 2012.
  • JORGE, Sebastião. A linguagem dos pasquins. São Luís: Lithograf, 2008.
  • LEAL, Antônio Henriques. Pantheon maranhense: ensaios biographicos dos maranhenses illustres já fallecidos. Tomo 2. Imprensa Nacional: Lisboa, 1874.
  • LOPES, Antonio. História da imprensa no Maranhão. Rio de Janeiro: DASP, 1959.
  • HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.
  • A IMPRENSA. São Luís, 4 mar.1857.
  • MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro: Fon-fon e Seleta, 1970.
  • MARQUES, César Augusto. História da imprensa do Maranhão. [Primeira parte]. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo XLI, p. 199-225, 1878.
  • NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP. n. 10, 1993.
  • O PAIZ. São Luís, n. 62, p. 1, 1863.
  • PUBLICADOR MARANHENSE. São Luís, 26.nov.1834.
  • REVISTA TYPOGRÁFICA, São Luís, n. 5, p. 1, 26 jul. 1908.
  • REVISTA TYPOGRAPHICA, São Luís,1913, n. 7, p. 2, 13 maio 1913.
  • REVISTA TYPOGRAPHICA, São Luís, n.8, p.6, 17 set.1914.
  • ROCHA, Claúdio. A letra impressa. São Paulo: SENAI, 2013.
  • SERRA, Astolfo. A balaiada. 2. ed. São Luís: Instituto Geia, 2008.
  • 1
    Lugar de memória é um conceito histórico posto em evidência pela obra Les Lieux de Mémóire, editada a partir de 1984 sob a coordenação de Pierre Nora, formada por sete tomos, sendo o primeiro Les Lieux de Mémoire, os três seguintes La République e posteriormente mais três volumes intitulados Les France. Essas obras se tornaram referência para o estudo da história cultural na França. Os lugares de memória, para Nora, são lugares em todos os sentidos do termo, vão do objeto material e concreto ao mais abstrato, simbólico e funcional, simultaneamente e em graus diversos, esses aspectos devem coexistir sempre. (NORA, 1991).
  • 2
    Didot é o nome de uma família de famosos impressores franceses, perfuradores e editores. Por meio de suas conquistas e avanços em impressão, publicação e tipografia, a família emprestou seu nome às medidas tipográficas desenvolvidas por François-Ambroise Didot e ao tipo de letra Didot desenvolvido por Firmin Didot, reconhecidamente os melhores impressores daquela época (ROCHA, 2013).
  • 3
    A Vila de Icatu, inicialmente, se chamou Arrayal de Santa Maria de Guaxenduba, denominação dada pelo seu fundador Jerônimo d'Albuquerque Maranhão. Adquiriu categoria de cidade em 1824. Segundo Varnhagen, o topônimo “Icatu” ou “Hycatu” significa “Pontes Boas”. Já Ayres Casal a traduz por “Águas Boas” (MARQUES,1970).
  • 4
    A Balaiada, chamada também de Guerra dos Bem-te-vis, foi o movimento popular mais longo ocorrido no Maranhão no período de 1838 a 1841, que reivindicava melhores condições de vida para a população pobre e contou com a participação de vaqueiros, escravos e outros grupos desprovidos dos bens materiais e econômicos (SERRA, 2008).
  • 5
    O Método Lancaster, também conhecido como “Ensino Mútuo” ou “Monitorial”, tinha como objetivo ensinar um maior número de alunos, usando pouco recurso, em pouco tempo e com qualidade. Foi criado por Joseph Lancaster, quaker inglês, influenciado pelo trabalho do pastor anglicano Andrew Bell. Contudo, Lancaster amparou seu método no ensino oral da repetição e memorização, pois acreditava que esta dinâmica inibia a preguiça, a ociosidade, e aumentava o desejo pela quietude. Nesta metodologia não se esperava que os alunos tivessem originalidade ou elucubração intelectual na atividade pedagógica, mas disciplinarização mental e física. Diante do problema da falta de professores, e da necessidade de ensinar para a massa, a solução veio com o elemento monitor. Estes eram alunos mais adiantados que recebiam, separadamente, orientações de um único professor e depois repassavam para os demais, os mais jovens, em números de dez, as decúrias. Nesse processo, um único professor era capaz de lecionar, ao mesmo tempo, para um grupo imenso de alunos. Por se tratar de um ensino para uma quantidade de alunos, com objetivos voltados para formação e controle social, as aulas eram organizadas de forma a seguir uma ordem metodológica e espacial. Eram ministradas em um ambiente retangular, sem nenhum tipo de divisão, onde os alunos ficavam enfileirados, sentados um atrás do outro e a mesa do professor ficava em um ponto mais alto de onde podia visualizar todo o ambiente. Nenhum aluno poderia chegar-se a ele, somente os monitores, para receberem informações e repassarem aos demais. Para que todo o processo funcionasse, o procedimento de estímulo foi superior ao do castigo, instituindo uma nova forma de pensar a disciplina escolar. (BASTOS; FARIA FILHO, 1999)
  • 6
    Antonio Candido da Cruz Machado (Minas Gerais, 1820-1905).Visconde de Serro Velho. Advogado foi professor das provincias de Goiás, Bahia e Maranhão (1855-1857) (MARQUES, 1970).
  • 7
    Manuel Gomes da Silva Belfort (1788-1860) foi um fidalgo e político, nomeado barão de Coroatá por decreto de 2 de dezembro de 1854. Foi Presidente da província do Maranhão, em 1857. Filho do capitão Filipe Marques da Silva (falecido em 1801), cavaleiro fidalgo da Casa Imperial, e de Inácia Maria Freire. (MARQUES, 1970)
  • 8
    As obras que não conseguimos obter a data provável de impressão, optamos apenas por fazê-las constar o registro de seu nome e autor.
  • JITA:

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2020
  • Aceito
    04 Abr 2020
  • Publicado
    19 Abr 2020
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