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BIBLIOTECAS ESCOLARES E COMUNITÁRIAS NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE FLORIANÓPOLIS: DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ACERVO

RESUMO

Este artigo integra uma pesquisa de mestrado profissional, vinculada ao Programa de Pós-Graduação - Gestão da Informação da Universidade do Estado de Santa Catarina, que visa conhecer os critérios de desenvolvimento de coleções utilizados pelas Bibliotecas Escolares e comunitárias do município de Florianópolis. A política de desenvolvimento de coleções está relacionada ao papel social da biblioteca escolar, e especialmente, a função no processo de ensino-aprendizagem. O tema Desenvolvimento de Coleções fundamenta-se nos estudos de Weitzel (2013) e Vergueiro (2010). Os estudos revelaram que gerenciar coleções, atualmente, é um compromisso do bibliotecário que anseia assegurar a continuidade da biblioteca na sociedade, conservando a atribuição de gestora do conhecimento produzido. A metodologia segue os princípios da pesquisa descritiva cuja análise dos dados se guiou pela abordagem qualiquantitativa de Creswell e Clark (2010). Através desta pesquisa foi possível inferir que é muito importante organizar uma política de desenvolvimento de coleções com base em critérios bem definidos que supra as expectativas de seus interagentes. O produto deste estudo foi a elaboração de um manual de diretrizes com sugestões para nortear o desenvolvimento de coleções. Conclui-se que as bibliotecas escolares precisam atender as necessidades da unidade escolar da qual fazem parte, tendo seus objetivos definidos, facilitando o desenvolvimento de coleções.

PALAVRAS-CHAVE:
Biblioteca Escolar; Política de Desenvolvimento de Coleções; Bibliotecário

ABSTRACT

This article integrates a research of professional master's degree, linked to the Graduate Program - Information Management of the Santa Catarina State University, that aims to identify the collection development criteria used by School and Community Libraries in the city of Florianópolis. The collection development policy is related to the social role of the school library, and especially, their role in the teaching-learning process. The topic Collection Development is based on Weitzel (2013) and Vergueiro (2010) studies. These revealed that managing collections, nowadays, is a commitment of the librarian who seeks to ensure the continuity of the library in society, thus maintaining the attribution of knowledge production manager. The methodology follows the principles of a descriptive research in which data analysis follows the qualitative and quantitative approach of Creswel and Clark (2010). Through this research it was possible to conclude that is very important to organize a collection development policy based on well-defined criteria that meet the expectations of its members. A product of this study was the elaboration of a manual containing suggestions that guide the collections development. It is concluded that school libraries must meet the needs of the school unit which they are part of, having their goals defined, facilitating the development of collections.

KEYWORDS:
School Library; Collection Development Policy; Librarian

1 Introdução

A biblioteca é o espaço que organiza a informação de qualidade de acordo com as diferentes necessidades de sua comunidade. Com isso, no âmbito das bibliotecas são realizadas estratégias de gestão das informações acondicionadas em coleções ofertando o acesso aos documentos, disponibilizados em diferentes suportes de informação. Destarte, os documentos reunidos em coleções requerem um conjunto de procedimentos gerenciados inicialmente e constantemente por bibliotecários capazes de agregar valor ao acervo.

É nessa discussão que o desenvolvimento de coleções, também intitulado de gestão das coleções ou gestão de estoques de informação, vem se destacando nos últimos anos, ainda que suas práticas sejam antigas. Gerenciar coleções, atualmente, é um compromisso do bibliotecário que anseia assegurar a continuidade da biblioteca na sociedade, conservando a atribuição de gestora da produção de conhecimento.

Com o passar dos anos, o modo de armazenar os materiais nas bibliotecas foi se transformando, diante do crescimento da produção bibliográfica, o qual se tornou mais fácil em virtude da evolução dos suportes técnicos e tecnológicos. Com o crescimento da produção bibliográfica e a evolução tecnológica, novos métodos foram e são utilizados pelos bibliotecários. Essas mudanças foram ocorrendo de forma gradativa, tornando essas atividades cada vez mais imprescindíveis na rotina do trabalho em biblioteca (WEITZEL, 2012). Para Corrêa e Santos (2015CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; SANTOS, Luana Carla de Moura. De formação e desenvolvimento de coleções para gestão de estoques de informação: um panorama da mudança terminológica no Brasil. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 13, n. 2, p. 343-355, maio/ago. 2015. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/download/.../3390. Acesso em: 11 jun. 2018.
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), a formação de acervos teve vários momentos, desde o desenvolvimento de coleções e gestão de coleções até a atualidade, com o surgimento das coleções digitais e práticas mais desenvolvidas como a Gestão de Estoques de Informação.

Desta forma, independente da nomenclatura que receba, a ação de gerir coleções requer a organização de critérios, padrões e metodologias, objetivando o crescimento racional do acervo (WEITZEL, 2006WEITZEL, Simone da Rocha. Elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.). Com a finalidade de padronizar procedimentos contidos em uma política específica, levando em consideração as necessidades da comunidade escolar, utilizadora da coleção, institui-se a padronização, com perspectiva na racionalidade (MIRANDA, 2007).

Weitzel (2006WEITZEL, Simone da Rocha. Elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.), Corrêa e Santos (2015CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; SANTOS, Luana Carla de Moura. De formação e desenvolvimento de coleções para gestão de estoques de informação: um panorama da mudança terminológica no Brasil. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 13, n. 2, p. 343-355, maio/ago. 2015. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/download/.../3390. Acesso em: 11 jun. 2018.
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), Vergueiro (2010VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Seleção de materiais de informação. 3. ed. Brasília: Brinquet Lemos, 2010.), que são estudiosos da área, confirmam a necessidade e importância de uma regularidade dos processos, sabendo que as unidades compartilham procedimentos, métodos, técnicas e experiências, a prática de cada unidade de informação é bem individual. Percebe-se, às vezes, que as atividades do bibliotecário relacionadas ao desenvolvimento da coleção ocorrem a critério do profissional, para atender necessidades específicas da unidade, ou seja, o processo de formação e desenvolvimento de coleções opera-se de diferentes modos, especialmente no que se refere às diferentes modalidades de biblioteca. De acordo com Vergueiro (1993, p. 18): “[...] A adequação do desenvolvimento de coleções às características da organização bibliotecária em que se realiza parece ser uma tendência quase dominante”. Com base nessa descrição referente ao processo de formação e desenvolvimento de coleções, percebe-se os princípios que norteiam critérios para uma política que viabilize o gerenciamento e organização de coleções.

De acordo com o Manifesto da Unesco (1976, p. 158-163), “Biblioteca é a porta de entrada para o conhecimento, fornece as condições básicas para o aprendizado permanente, autonomia das decisões e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais”. Com isso, a escola enquanto unidade educacional tem o dever de proporcionar conhecimento a todos. E os profissionais que nela atuam têm um papel importante, sendo necessário ter a percepção que a educação é bilateral entre aluno e comunidade escolar.

As diretrizes da IFLA/UNESCO (2005) para a biblioteca escolar vêm ao encontro do propósito do desempenho das bibliotecas escolares no que se refere ao desenvolvimento e atualização do acervo, buscando torná-lo adequado à comunidade escolar e de fácil acesso.

A política de desenvolvimento de coleções de uma biblioteca está relacionada às normas e diretrizes para auxiliar o bibliotecário no momento de decidir entre incluir ou excluir um determinado item para a formação do acervo. Com base na política adotada, é gerado um documento que explicita os critérios para seleção de materiais e seus diferentes suportes informacionais, bem como suas formas de aquisição e, ainda, a indicação de descarte ou remanejamento. Todas as atividades têm o foco no atendimento das necessidades de informação de seu público, facilitando o acesso e a recuperação de informações.

Entretanto, se faz necessário que se tenha indivíduos no processo decisório, como: professores, alunos, direção e bibliotecários responsáveis, nos quais a comunidade escolar, em conjunto, encontre maneiras de fazer com que todos os assuntos de interesse da unidade escolar se desenvolvam, criando recursos que possibilitem atender às necessidades da comunidade. É nesse contexto que a implantação de uma política de desenvolvimento de coleções em uma biblioteca escolar faz a diferença, para que haja uma contínua atualização dos acervos a serem consultados, garantindo a eficácia do processo de transmissão do conhecimento.

2 Desenvolvimento de Coleções - Uma Contextualização

O contexto da atual sociedade da informação é caracterizado por um grande fluxo de informação. Acontecimentos como o surgimento da prensa dos tipos móveis atrelado à evolução das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) contribuíram para o aumento da circulação da informação e do conhecimento.

Na literatura da Biblioteconomia são apresentadas várias nomenclaturas definindo o desenvolvimento de coleções (DC). Entre os estudiosos definiram o conceito de DC estão: Cunha e Cavalcanti (2008CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordelia Robalinho. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília, DF: Lemos Informação e Comunicação, 2008.), Carvalho e Klaes (1991CARVALHO, Maria Carmen Romcy de; KLAES, Rejane Raffo. Desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias: proposta de metodologias e estatísticas. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 7, 1991, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UFRJ, 1991. p. 1-22.), Miranda (2004MIRANDA, Ana Claudia Carvalho de. A política de desenvolvimento de coleções no âmbito da informação jurídica. In: PASSOS, Edilenice (Org.). Informação jurídica: teoria e prática. Brasília: Thesaurus, 2004.), Dias, Silva e Cervantes (2013DIAS, Geneviane Duarte; SILVA, Terezinha Elizabeth da; CERVANTES,Brígida Maria Nogueira. Políticas de informação nas bibliotecas universitárias: um enfoque no desenvolvimento de coleções. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v.11, n.1, p. 39-54, jan./abr. 2013. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/1650. Acesso em 05 mar. 2018.
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) e Vergueiro (1989VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis, 1989.). As diferentes terminologias estão relacionadas a compreensão dos seus autores em relação as atribuições do Desenvolvimento de Coleções, desde a seleção de livros, construção de coleções, administração de coleções, gestão de acervos, gestão de estoques informacionais. E também processo que envolve preservação, seleção, aquisição, avaliação, desbastamento, descarte, conservação, restauração, estudo de comunidade e formação do acervo.

Cunha e Cavalcanti (2008CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordelia Robalinho. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília, DF: Lemos Informação e Comunicação, 2008., p. 120), no Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia, definem o verbete desenvolvimento de coleções como

planejamento para aquisição de material bibliográfico de acordo com o interesse dos usuários. Pode incluir a avaliação sistemática do tamanho e da utilidade do acervo em relação aos objetivos da biblioteca, dos usuários e da organização à qual a biblioteca está subordinada

A definição dos autores acima nos remete aos processos administrativos das bibliotecas, em que as atividades burocráticas costumam ser obstáculos ao bom funcionamento do DC.

Percebe-se então que o propósito do DC é a busca da qualidade da coleção da biblioteca, independente de qual suporte informacional esteja relacionado e sempre tendo em vista as demandas da comunidade. Segundo Carvalho e Klaes (1991CARVALHO, Maria Carmen Romcy de; KLAES, Rejane Raffo. Desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias: proposta de metodologias e estatísticas. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 7, 1991, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UFRJ, 1991. p. 1-22., p. 3), o Desenvolvimento de Coleções “[...] pode ser definido como um conjunto de atividades caracterizado por um processo decisório que determina a conveniência de se adquirir, manter ou descartar materiais bibliográficos, tendo como base critérios previamente estabelecidos”. Pois pensar no crescimento do acervo de forma planejada tanto no que diz respeito ao espaço físico como também à qualidade, assim como na quantidade de material bibliográfico e a comunidade que faz parte das atividades da gestão do bibliotecário.

Frente a isso, Miranda (2004MIRANDA, Ana Claudia Carvalho de. A política de desenvolvimento de coleções no âmbito da informação jurídica. In: PASSOS, Edilenice (Org.). Informação jurídica: teoria e prática. Brasília: Thesaurus, 2004., p. 141), frisa que desenvolver coleções “[...] implica sistematizar e criar procedimentos para seleção, aquisição, avaliação e desbastamento do acervo”. Concordando com Cunha e Cavalcanti (2008CUNHA, Murilo Bastos da; CAVALCANTI, Cordelia Robalinho. Dicionário de biblioteconomia e arquivologia. Brasília, DF: Lemos Informação e Comunicação, 2008.), o desenvolvimento de coleções atua como um planejamento para aquisição de acordo com os interesses da sua comunidade, tendo o potencial para conter a avaliação do acervo e sua utilidade em relação aos objetivos da biblioteca, do seu público e da organização à qual a biblioteca está inserida. Pensar no crescimento do acervo de forma planejada tanto no que diz respeito ao espaço físico e à qualidade, assim como na quantidade de material bibliográfico e na comunidade faz parte das atividades da gestão do bibliotecário.

Com isso, para Dias, Silva e Cervantes (2013DIAS, Geneviane Duarte; SILVA, Terezinha Elizabeth da; CERVANTES,Brígida Maria Nogueira. Políticas de informação nas bibliotecas universitárias: um enfoque no desenvolvimento de coleções. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v.11, n.1, p. 39-54, jan./abr. 2013. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/1650. Acesso em 05 mar. 2018.
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), o processo de desenvolver coleções em bibliotecas é composto por formar e administrar o acervo para atender às necessidades de informação adequadas ao seu público alvo. Desse modo, para o melhor desenvolvimento da coleção é preciso um plano preestabelecido de modelo para que garanta sua continuidade e adequação fundamental à formação do acervo nos seus diversos formatos. Assim, cabe ao bibliotecário, gestor da biblioteca, organizar a coleção para que ela cresça em todas as áreas do conhecimento na formação do acervo, a fim de impedir que o acervo cresça desordenadamente, sem objetivo e disponibilizar acesso equitativo dos recursos informacionais para a comunidade, no suporte adequado, deixando-os ao alcance dos seus alunos.

O valor do processo de desenvolvimento de coleções é indicado por Vergueiro (1989VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis, 1989.), como sendo uma atividade que requer planejamento, além de ser ininterrupto, sistêmico e cíclico. As atividades referentes ao acervo não devem ser realizadas separadamente, por ser uma tarefa rotineira no cotidiano das bibliotecas. Essas ações devem estar sempre vinculadas aos objetivos e ao público alvo da biblioteca, com a finalidade de garantir à comunidade uma variedade de obras para melhor atender suas necessidades.

Segundo Vergueiro (1989VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis, 1989.), a política de desenvolvimento de coleções norteia parâmetros que auxiliam a tomada de decisão dos bibliotecários em relação à escolha do material a ser inserido no acervo. A atividade de gerenciar coleções é imprescindível para se administrar acervos nas bibliotecas, levando em consideração que a mesma funciona como um filtro do conhecimento registrado para o consumo adequado de seus alunos.

Sob outra perspectiva, Vergueiro (1987VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Estabelecimento de políticas para desenvolvimento de coleções. Rev.Biblioteconomia de Brasília, Brasília, DF, v. 15, n. 2, p. 193-202, jul./dez. 1987. Disponível em: http://www.brapci.ufpr.br/documento. php?dd0=0000002545ⅆ1=c252f. Acesso em: 13 fev. 2017.
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, p. 194) aborda que no “[...] Brasil, esta não é ainda uma preocupação muito comum aos bibliotecários. É normal encontrar por parte desses profissionais, quase completa indiferença em relação ao assunto.” Acerca disso, mais tarde o mesmo autor (VERGUEIRO, 1993VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Desenvolvimento de coleções: uma nova visão para o planejamento de recursos informacionais. Ci. Inf., Brasília, DF, v. 22, n. 1, p. 13-21, 1993. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/512/512. Acesso em: 19 fev. 2017.
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, p. 19), chama a atenção sobre o caso: “[...] afinal, as coleções estão sendo realmente desenvolvidas com critérios neste país? Estão elas seguindo qualquer tipo de parâmetro para seu desenvolvimento?” O autor, quando fez esses questionamentos sobre o assunto em 1993, já tinha uma reposta em uma de suas publicações alguns anos antes. Em 1987 ele afirmou:

As bibliotecas brasileiras são, em geral, compostas por coleções que não chegaram a desenvolver-se de forma adequada. Ou melhor: as coleções de boa parte das nossas bibliotecas apenas cresceram aleatoriamente - incharam! - não chegaram, na realidade, a desenvolver-se. Considerando-se este fato, é até facilmente explicável - ou, ao menos, compreensível - a situação desanimadora em que se encontram, em geral, as bibliotecas deste País, reflexo do descaso pela cultura e do pouco planejamento a ela dedicado. (VERGUEIRO, 1987VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Estabelecimento de políticas para desenvolvimento de coleções. Rev.Biblioteconomia de Brasília, Brasília, DF, v. 15, n. 2, p. 193-202, jul./dez. 1987. Disponível em: http://www.brapci.ufpr.br/documento. php?dd0=0000002545ⅆ1=c252f. Acesso em: 13 fev. 2017.
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, p. 193)

Portanto, profissionais da área e pesquisadores que abordam o tema salientam que para a composição de uma política é fundamental ter conhecimento de alguns elementos como: a situação da coleção; quais as áreas de maior interesse; as necessidades informacionais dos usuários a serem atendidas; o conhecimento dos objetivos do ambiente em que a biblioteca está inserida. Por isso, a biblioteca, para atender as necessidades de seus usuários, deve garantir a utilidade de seus serviços e produtos, por meio da adoção de uma política de formação e desenvolvimento do acervo.

3 Bibliotecas Escolares

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), publicados em 1997, discorrem sobre a temática sobre as bibliotecas com o propósito do desenvolvimento de leitores e o gosto pela leitura. Pode-se destacar que, no mesmo ano, o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), previa a promoção do acesso à cultura e o incentivo à leitura por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência. Ressalta-se que no ano de 2010 foi aprovada a Lei Federal nº 12.224/2010 sobre a universalização das bibliotecas escolares nas instituições de ensino no país, estabelecendo o prazo de 10 anos para a sua efetivação, prazo este que expirará daqui a 2 anos (BRASIL, 2010).

A biblioteca escolar é um espaço que proporciona a prática da cidadania, a busca pelo conhecimento, o lazer e o acesso à informação. É voltada ao público infantil e tem, em seus ambientes, variedades literárias com o propósito que ocorra a sociabilidade da comunidade escolar, a construção do conhecimento e, consequentemente, o incremento na qualidade do ensino. As bibliotecas escolares são locais que auxiliam na formação do interagente enquanto indivíduo e, também, como cidadão inserido na sociedade.

As bibliotecas deixaram de ser espaços estagnados, fechados e silenciosos, no qual as pessoas se fechavam para realizar seus estudos; hoje elas passam a constituir espaços ativos e dinâmicos. Para Campello et al. (2012CAMPELLO, Bernadete Santos et al. Situação das bibliotecas escolares no Brasil: o que sabemos?. Biblioteca Escolar em Revista, Ribeirão Preto, v. 1, n. 1, p. 1-29, maio 2012. Universidade de São Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/berev/article/view/106555. Acesso em: 06 mar. 2018.
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), as bibliotecas escolares são ambientes que reúnem, organizam e disponibilizam informações com o objetivo de atender às necessidades informacionais da comunidade escolar, interagindo com a equipe de professores no desenvolvimento de atividades pedagógicas, dinamizando o processo de ensinoaprendizagem, formando cidadãos críticos e reflexivos.

A biblioteca escolar tem como função desenvolver nos alunos, desde seu início na vida escolar, habilidades para selecionar e interpretar informação, contribuindo com a escola no processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, a biblioteca escolar deve estar voltada ao processo educativo. Assim, para Moro (2011MORO, Eliane Lourdes da Silva. Biblioteca escolar: presente! Porto Alegre: Evangraf, 2011., p 17), “A escola congrega pessoas, e pessoas pulsam vida. Se a escola se transformar no pulsar da vida, a biblioteca é o coração que bombeia o estímulo do prazer para aprender”. Desse modo, a biblioteca escolar é centro de mediação entre a vida e a informação que proporciona um espaço de aprendizagem, o qual o aluno deve buscar espontaneamente e aprender por prazer.

A biblioteca escolar serve como um instrumento no apoio didático-pedagógico. Assim, se faz necessária a existência de interação entre todos os profissionais da escola, pois a missão da biblioteca é formar efetivos utilizadores da informação em todos os suportes. Com isso, tem o dever de atender a comunidade escolar, à qual cabe a responsabilidade de disponibilizar o serviço de disseminação da informação e atendimento ao interagente, de modo que seja uma ferramenta de auxílio à aprendizagem.

Para Feldman e Eggert-Steindel (2017FELDMAN, Daniele; EGGERT-STEINDEL, Gisela. Práticas de seleção, aquisição e descarte do livro didático em escolas públicas: um estudo. Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 22, n.1, p. 50-60, abr. 2017. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1302 . Acesso em: 04 set. 2018.
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, p. 50),

os recursos informacionais que compreendem a Biblioteca Escolar (BE) auxiliam os alunos na absorção de informações, ideias, habilidades e competências, bem como os professores nas disciplinas ministradas, em ações e atividades desenvolvidas na escola.

De acordo com Moro (2011MORO, Eliane Lourdes da Silva. Biblioteca escolar: presente! Porto Alegre: Evangraf, 2011.), quando a biblioteca se fecha, ela priva o aluno do direito à informação. E o mais triste é quando se fecha para sua comunidade, pois o aluno que não tem acesso à informação vai perdendo suas perspectivas.

A biblioteca escolar é um ambiente essencial dentro das escolas. É por meio dela que os alunos são estimulados e desenvolver o interesse pela leitura e escrita. Para Lankes (2016LANKES, R. David. Expect more: melhores bibliotecas para um mundo complexo. São Paulo: FEBAB, 2016., p.38), “Bibliotecas escolares são muito envolvidas com o processo de alfabetização, indo das habilidades básicas de leitura às habilidades de pesquisa e aos exercícios de pensamento crítico.” Alguns estudantes não têm muitos recursos financeiros e têm seu primeiro contato com o universo literário por meio da biblioteca. O autor ainda diz que “[...] as bibliotecas proporcionam acesso a um mundo de recursos e serviços àqueles que têm menos condições de pagar por isso.” (LANKES, 2016LANKES, R. David. Expect more: melhores bibliotecas para um mundo complexo. São Paulo: FEBAB, 2016., p. 39).

Sendo assim, as bibliotecas escolares têm uma função no processo de ensino e aprendizagem e no desenvolvimento mental dos alunos em fase escolar. Assim, a missão da biblioteca escolar deve promover serviços que deem suporte à aprendizagem, possibilitando a comunidade escolar se tornar crítica e utilizadora da informação, em todos os formatos e meios (IFLA; UNESCO, 1999).

É pertinente ressaltar a importância de que a biblioteca seja um recurso da escola, com o intuito de promover e estimular a leitura, dando suporte às atividades desenvolvidas dentro da sala de aula.

A biblioteca escolar é uma transmissora de leitura e cultura para sua comunidade, assim, ela deve ser acessível para todos. Além disso, as bibliotecas escolares, além de auxiliar na disseminação da cultura e da leitura, devem funcionar como uma ampliação da educação para o contexto escolar de professores, alunos e funcionários. De acordo com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, que classifica os tipos de bibliotecas, a biblioteca escolar:

Tem por objetivo atender os interesses de leitura e informação da sua comunidade e trabalha em consonância com o projeto pedagógico da escola na qual está inserida. Atende, prioritariamente, alunos, professores, funcionários da unidade de ensino, podendo, também, ampliar sua ação para atender os familiares de alunos e a comunidade moradora do entorno. Está localizada dentro de uma unidade de ensino pré-escolar, fundamental e/ou médio. Segue os preceitos do Manifesto da IFLA/UNESCO para a Biblioteca Escolar, e no Brasil a Lei nº. 12.244 dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino no país. (SISTEMA NACIONAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS, 2018, grifo nosso).

As Diretrizes da Federação Internacional das Associações e Instituições ligadas às Bibliotecas (IFLA/UNESCO), para as Bibliotecas Escolares (IFLA, 2005), mencionadas na passagem citada acima, complementam que:

A biblioteca escolar propicia informação e ideias que são fundamentais para o sucesso de seu funcionamento na sociedade atual, cada vez mais baseada na informação e no conhecimento. A biblioteca escolar habilita os alunos para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve sua imaginação, preparando-os para viver como cidadãos responsáveis. (IFLA, 2005, p.4).

A biblioteca escolar capacita os alunos para a aprendizagem ao longo da fase escolar e desenvolve sua imaginação, preparando-os para viver como cidadãos responsáveis e viabiliza o acesso a informação. Assim, a biblioteca escolar deve ser organizada para interagir com a sala de aula no desenvolvimento do currículo escolar, com a finalidade de despertar a leitura, desenvolvendo o prazer de ler, podendo auxiliar seus alunos em suas necessidades de informação no cotidiano.

4 Metodologia

A metodologia é parte destinada para delinear a pesquisa, pois conduz os caminhos a serem tomados, partindo do princípio de que toda pesquisa busca solucionar um problema proposto. Os caminhos metodológicos escolhidos para esse estudo fundamentaram-se nos princípios da pesquisa descritiva cuja análise dos dados se guiou pela abordagem qualiquantitativa. Para Creswell e Clark (2010CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 296 p.), trata-se de uma pesquisa com a abordagem metodológica quali+quanti, no qual as etapas são simultâneas, ou seja, os métodos se complementam na fase de análise de dados com a integração dos resultados para se compreender melhor o contexto.

Para conhecer como ocorre a política de desenvolvimento de coleções foram contatados 31 bibliotecários que atuam nas bibliotecas da Rede e salas de leitura para que participassem da entrevista via contato digital.

Foram examinados documentos que guiam a gestão das bibliotecas escolares no que se refere ao desenvolvimento de coleções, bem como outros documentos administrativos da rede de bibliotecas de Florianópolis. Por se tratar de uma pesquisa científica, que necessita fundamentar as reflexões elencadas e análises dos dados, foram examinadas bibliografias da área. Esses estudos permitiram compreender os documentos cedidos dentro do contexto investigado, e embasar seus resultados com a finalidade de apresentar uma proposta de produto.

Os dados foram analisados de acordo com a abordagem metodológica qualiquantitativa, na concepção de Creswell (2010CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 296 p.). A abordagem qualitativa permitiu análise profunda das respostas dos participantes. Porém, em alguns momentos foi necessário quantificar alguns dados para obter dados de identificação geral referente a existência de uma política de desenvolvimento de coleções e formalização de um documento.

5 Análise e Discussão dos Dados

O universo da pesquisa pode ser identificado no próprio site da prefeitura de Florianópolis. O município possui uma Rede de Bibliotecas Escolares e Comunitária situadas em 29 Unidades de Bibliotecas Escolares com relativa autonomia gerencial, distribuídas ao longo do município, estando presente em todas as regiões com “[...] uma biblioteca Central no Centro de Educação Continuada, uma sala de leitura no Polo de EJA Silveira de Souza e 08 salas de leitura” (FLORIANÓPOLIS, 2018, s/n).

Essas bibliotecas não são autônomas. A Prefeitura Municipal de Florianópolis possui um Departamento de Bibliotecas Escolares e Comunitárias (DEBEC), que tem atribuições de planejar, organizar e assessorar ações relativas à Rede de Bibliotecas. Também cabe a esse departamento oferecer e ministrar formação continuada aos bibliotecários e auxiliares de biblioteca, através de cursos, palestras, oficinas e eventos, bem como mediar às ações do Programa Nacional do Livro Didático e adquirir obras para o acervo, mobiliário e equipamentos para as bibliotecas.

A seguir apresenta-se a análise e discussão dos dados obtidos por meio de questionário enviado aos bibliotecários da Rede de Bibliotecas Escolares e Comunitária do município de Florianópolis, conforme supramencionado na metodologia

A questão 1 do questionário indagou sobre a existência ou não de uma política de formação e desenvolvimento de coleções formalmente instituída na biblioteca.

Gráfico 1
Política de formação e desenvolvimento de coleções

Conforme o Gráfico 1, constatou-se que 13 (92%) dos bibliotecários informaram que não há uma política instituída, tendo em vista a dificuldade que os profissionais da área têm em preparar esse documento que exige planejamento, dedicação e estudo.

Gráfico 2
Documento formalizado

Mediante a inquietação de haver ou não um documento formalizado, com regras estabelecidas para seleção, aquisição, avaliação e descarte de material, observou-se a necessidade de perguntar aos sujeitos da pesquisa sobre sua existência. Apurou-se através dos dados obtidos que 9 (64%) dos bibliotecários apontaram que não possuem este documento de gestão, correspondendo assim ao que é apontado por Vergueiro, (1987VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Estabelecimento de políticas para desenvolvimento de coleções. Rev.Biblioteconomia de Brasília, Brasília, DF, v. 15, n. 2, p. 193-202, jul./dez. 1987. Disponível em: http://www.brapci.ufpr.br/documento. php?dd0=0000002545ⅆ1=c252f. Acesso em: 13 fev. 2017.
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, 1993) na literatura.

Por outro lado, apenas 5 (36%) bibliotecários informaram que existe um documento formalizado sobre o descarte de material, sendo um termo a ser seguido conforme as orientações da Secretaria de Educação. Outro respondente informou a existência de um documento apenas para descarte de livros didáticos. Assim sendo, fazendo uma relação dos gráficos 1 e 2, percebe-se que os bibliotecários tiveram uma percepção equivocada ao responder o questionário, pois quem tem uma política de desenvolvimento de coleções tem o documento, que é parte integrante do desenvolvimento de coleções.

Para Almeida e Machado (2017), um documento formalizado institucionalmente para o desenvolvimento de coleções deve conter os procedimentos para cada atividade que compõe e forma o acervo, bem como os responsáveis pela execução das mesmas. Para que este processo seja vantajoso e contínuo nas bibliotecas escolares, torna-se necessário a existência de um documento formal com diretrizes para instrumentalizar as atividades de gestão da biblioteca.

Quanto à responsabilidade pelas atividades de seleção, aquisição, avaliação e descarte de materiais, observa-se no Gráfico 3 que os bibliotecários aparecem como os maiores responsáveis por essas atividades, no entanto, devido às características administrativas dos processos da gestão escolar, a direção escolar, coordenação pedagógica, professores e secretaria de educação, em proporção muito menor, aparecem também como responsáveis por essas atividades no gráfico.

Gráfico 3
Responsáveis pelas atividades de formação e desenvolvimento das coleções das bibliotecas.

Com base no Gráfico 3, em 12 das 14 bibliotecas analisadas, os bibliotecários participam da seleção de acervo, aquisição e avaliação. Sendo que das cinco bibliotecas que possuem política de desenvolvimento de coleções todas tem participação do bibliotecário, de forma isolada ou em equipe.

No entanto, no descarte de acervo, em 13 das 14 escolas analisadas, o bibliotecário participa desse processo. É curioso que em uma das cinco bibliotecas que tem política de desenvolvimento de coleções o bibliotecário não participa do descarte.

Administrar uma coleção é uma das tarefas mais pertinentes da prática bibliotecária. Essa tarefa permite que o profissional antecipe as demandas de sua comunidade, sendo “[...] o conjunto de ações realizadas em prol da formação de uma determinada coleção. No bojo das bibliotecas, esse processo condiz com o ato de formar a coleção e viabilizar o seu preciso crescimento.” (SANTA ANNA, 2014SANTA ANNA, Jorge. Desenvolvimento de coleções no sistema de biblioteca da Ufes: comparativo entre os modelos teóricos de Evans e Baughman e proposta de adequação ao modelo de Evans. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 18. Anais eletrônicos... Belo Horizonte: UFMG, 2014. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/biblio/article/view/27933/15715 . Acesso em: 18 fev. 2016.
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php...
, p. 6). Daí a importância do compartilhamento de informações de cada representante da área de educação com o bibliotecário.

O planejamento orçamentário de uma biblioteca deve contemplar investimento em recursos para a ampliação do acervo, na capacitação dos profissionais, na informatização e na ampliação das instalações físicas das bibliotecas.

As bibliotecas escolares atualmente têm grande dificuldade de acompanhar o crescimento acelerado do mercado editorial para formar coleções disponíveis, devido à atualização das informações, das mais variadas demandas informacionais. Em contrapartida, as bibliotecas enfrentam grandes dificuldades no orçamento para desenvolver suas coleções.

Gráfico 4
Origem dos recursos para aquisição de acervo

De acordo com o Gráfico 4, 11 dos 14 entrevistados assinalaram que a origem dos recursos para aquisição do acervo da biblioteca provém de verba de órgãos superiores. Assim sendo, o órgão responsável, no âmbito federal e como ferramenta do Ministério da Educação, é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), que atua através do Programa Nacional Biblioteca Da Escola (PNBE). O PNBE foi criado em 1997 com o objetivo de distribuir acervo para escolas, professores e alunos, atendendo a todas as escolas públicas de educação básica, desde que estejam cadastradas no Censo Escolar.

Sobre o acervo das bibliotecas, a Lei nº 12.244/2010 (BRASIL, 2010), determina que as bibliotecas escolares devam ter um livro para cada aluno matriculado. Entretanto, conforme os parâmetros para bibliotecas escolares (CAMPELLO, 2010), os livros didáticos disponibilizados pelos programas do governo não deveriam ser contabilizados estatisticamente como acervo das bibliotecas. Tendo em vista que a cada fim de ano letivo, os livros didáticos destinados aos alunos, se acumulam nas bibliotecas escolares tirando o espaço para novos acervos, ajudando a maquiar as estantes com acervo considerado novo, mas, que na realidade, é excesso de livros didáticos.

Entre os 14 bibliotecários que participaram das entrevistas, 10 informaram que os recursos para aquisição acontecem por meio da Associação de Pais e Professores (APP). Essas verbas são oriundas da própria comunidade escolar, através de contribuição espontânea, recebida para atender as necessidades básicas da escola. De acordo com Sales (2004, p.48), as APPs são “organizadas formalmente com o objetivo de colaborar com o aprimoramento do processo educacional, através da assistência ao aluno, da arrecadação de recursos para melhorias nos estabelecimentos de ensino e da integração entre a escola e a comunidade”. Em uma gestão democrática de uma escola, faz-se necessário a participação e o envolvimento da APP no processo ensino e aprendizagem, a fim de que as medidas e providências coletivas colaborem com os objetivos da Escola Pública. Importa ainda notar que cinco bibliotecários, informaram que a verba é da escola e um relatou que a verba é da biblioteca.

Conclui-se que a verba dos órgãos superiores, como a Secretaria de Educação, é vista pelos bibliotecários como a maior agregadora na aquisição do acervo. Em segundo lugar, a verba da APP tem um comprometimento na origem dos recursos para aquisição de acervo.

Considerando o fato de que muitas vezes é o bibliotecário que acessa essas fontes de recursos para aquisição do acervo, sua presença no contexto da gestão do desenvolvimento de coleções é essencial para dinamizar o acervo da biblioteca, por isso ele deve ser visto como parte fundamental da biblioteca da escola. Para tanto é importante que esteja familiarizado com as políticas educacionais que fazem parte de sua função como profissional.

6 Considerações Finais

A respeito do que foi pesquisado, podemos considerar que é muito importante organizar uma política de desenvolvimento de coleções com base em critérios bem definidos que supra as expectativas de sua comunidade. Conclui-se que as bibliotecas escolares precisam atender as necessidades da unidade escolar da qual fazem parte, tendo seus objetivos definidos, facilitando o desenvolvimento de coleções.

Os resultados apontam para a carência e subsequente necessidade da elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções para a rede de bibliotecas pesquisada, que possa fazer jus à legislação e aos fundamentos teóricos acerca da função educativa e informativa da biblioteca escolar nesse contexto.

Portanto, o presente estudo se inscreve nos termos de uma discussão mais ampla sobre os desafios da biblioteca escolar na atualidade. Os entrevistados demonstraram desconhecimento sobre a existência de uma política de desenvolvimento de coleções. Há no DEBEC uma comissão organizando as diretrizes para a política, portanto, pode-se concluir que até o momento não há uma política estruturada. As bibliotecas escolares seguem as diretrizes da UNESCO, porém, isso não diminui a importância de se elaborar uma política de desenvolvimento de coleções que esteja contextualizada com as bibliotecas, objeto deste estudo.

Como contribuição dessa dissertação de mestrado profissional foi elaborado o manual de “diretrizes... Esse manual foi produzido com base nos documentos da IFLA “Directrizes para uma política de desarrollo de las colecciones sobre la base del modelo Conspectus”, Instrução Normativa da Biblioteca Pública e Escolar de Itajaí, Site da Biblioteca Barreiros Filho e Política de Desenvolvimento de Coleções das Bibliotecas Universitárias UFSC, UDESC e também nas informações prestadas pelos bibliotecários. Esse documento pretende ser um aporte aos bibliotecários na Rede de BE’s. As considerações desse trabalho poderão fomentar discussões referentes a importância da política de coleções para bibliotecas escolares.

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  • Checagem antiplagiarismo
  • JITA:

    DE. School libraries.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    30 Maio 2019
  • Aceito
    06 Ago 2019
  • Publicado
    11 Set 2019
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