Acessibilidade / Reportar erro

Evidências bibliométricas do reconhecimento científico em resenhas e entrevistas notas teóricas e modelo de análise

RESUMO

Introdução:

Resenhas e entrevistas publicadas em periódicos científicos têm recebido pouca atenção em pesquisas do campo da Ciência da Informação. O estudo defende a ideia de que a análise desses gêneros textuais pode evidenciar o reconhecimento científico quando são tomados como objetos de estudo a partir de uma perspectiva bibliométrica e analisados com base no referencial teórico da Ciência da Informação, Sociologia da Ciência e Linguística.

Objetivos:

Realizar um ensaio teórico sobre esses gêneros textuais e elaborar e aplicar um modelo de análise em uma amostra de resenhas e entrevistas publicadas na Revista Estudos Feministas (REF) entre 2018 e 2020.

Método:

Pesquisa exploratória e descritiva que utiliza abordagens quantitativas e qualitativas advindas das análises bibliométrica e de conteúdo.

Resultados:

O ensaio teórico destacou as características das resenhas e entrevistas, e o modelo de análise elaborado contém indicadores que sinalizam o reconhecimento científico: os perfis das resenhas e das obras resenhadas (n=69), dos resenhistas (n=81) e resenhados (n=95); das entrevistas e dos entrevistados (n=9), dos entrevistadores (n=13), bem como os valores acadêmicos e atributos que costumam ser valorizados na elaboração desses gêneros textuais.

Conclusão:

A análise das resenhas e entrevistas publicadas na REF baseada em modelo de análise elaborado a partir de uma perspectiva interdisciplinar entre Ciência da Informação, Sociologia da Ciência e Linguística ofereceu uma caixa de ferramentas analítica relevante para o estudo do reconhecimento científico.

PALAVRAS-CHAVE:
Resenhas; Entrevistas; Reconhecimento científico; Bibliometria

ABSTRACT

Introduction:

Reviews and interviews published in scientific journals have received little attention in research in the field of Information Science. The study defends the idea that the analysis of these textual genres can demonstrate scientific recognition when they are taken as objects of study from a bibliometric perspective and analyzed based on the theoretical framework of Information Science, Sociology of Science and Linguistics.

Objectives:

Conduct a theoretical essay on these textual genres and develop and apply an analysis model to a sample of reviews and interviews published in Revista Estudos Feministas (REF) between 2018 and 2020.

Method:

Exploratory and descriptive research that uses quantitative and qualitative approaches from bibliometric and content analysis.

Results:

The theoretical essay highlighted the characteristics of reviews and interviews, and the analysis model developed contains indicators that signal scientific recognition: the profiles of reviews and reviewed works (n = 69), reviews (n = 81) and reviewed (n = 95); the interviews and the interviewees (n = 9), the interviewers (n = 13), as well as the academic values and attributes that are usually valued in the elaboration of these textual genres.

Conclusion:

The analysis of reviews and interviews published in REF based on an analysis model elaborated from an interdisciplinary perspective between Information Science, Sociology of Science and Linguistics offered an analytical toolbox relevant to the study of scientific recognition.

KEYWORDS:
Book reviews; Interviews; Scientifc recognition; Bibliometrics

1 INTRODUÇÃO

No campo dos estudos métricos da informação o protagonismo dos artigos publicados em periódicos científicos é quase absoluto, especialmente aqueles baseados em análises de citação. Impulsionados principalmente pela demanda de insumos para o financiamento de pesquisas, tais estudos utilizam diversos índices de citação - fator de impacto, h-index, por exemplo - para avaliar periódicos científicos e as atividades acadêmico-científicas desenvolvidas por pesquisadores ou grupos de pesquisa, instituições, departamentos, áreas de conhecimento etc. Esses estudos proliferam nos principais periódicos da área, ao passo que objetos de estudo como os livros, os capítulos de livros e outras obras monográficas, como por exemplo, as teses e dissertações, ocupam um papel secundário nos estudos de avaliação da produção científica.

Ademais, entre as diversas seções dos periódicos científicos, a de “artigos” é a que apresenta o maior volume de contribuições, o mesmo acontecendo com as principais bases de dados de publicações científicas nacionais e internacionais, nas quais o artigo científico é o principal alvo das análises bibliométricas. Esse cenário de supremacia do artigo científico como principal objeto de estudo no âmbito da Bibliometria e Cientometria nada mais é do que o reflexo da importância histórica que esse tipo documental tem assumido no processo de produção e comunicação da ciência, e de avaliação das atividades científicas, tanto no âmbito nacional quanto internacional.

Um ingrediente a mais nessa discussão diz respeito ao lugar central e predominante ocupado pelo livro nas ciências humanas e sociais. Apesar de existirem outros meios de disseminação do trabalho acadêmico, o livro ainda é considerado o “padrão ouro” do processo de comunicação científica nessa área, como referem Williams et al (2009WILLIAMS, Peter et al. The role and future of the monograph in arts and humanities research. Aslib Proceedings, v.61, n.1, p.67-82, 2009., p.76). De acordo com esses autores, as monografias publicadas nas ciências humanas são o “prato principal de uma refeição, enquanto os artigos de periódicos e outras comunicações acadêmicas são como aperitivos”. Aliás, a importância do livro no contexto das humanidades já havia sido assinalada por Hicks (2005, p.484) ao alertar que “os bibliometristas que ignoram os livros correm o risco de distorcer a imagem das ciências sociais”.

De uma perspectiva “citacionista”, Zucalla (2013) alega que embora a comunidade bibliométrica reconheça a distinção entre as Ciências Humanas e as demais ciências, as citações de artigos reinam de modo supremo nos procedimentos de avaliação. Conforme esclarecem Giménez-Toledo, Mañara-Rodriguez, Tejada-Artigas (2015) não se ocupar dos livros significa deixar à margem dos resultados das investigações realizadas nessas disciplinas um canal fundamental de comunicação.

Contudo, alguns sinais ainda tímidos de mudança desse cenário têm sido dados por parte das principais fornecedoras de índices de citações com a inclusão em suas bases de dados de outros tipos documentais: capítulos de livros, múltiplos tipos de revisões (de livros, de eventos, de filmes, peças musicais, de teatro e performances de dança), entre outros.

No que tange ao banco de dados Scopus, em 2020 foram indexados no Book Titles Expansion mais de 120.000 títulos de livros (ELSEVIER, 2020). Em 2011, com a criação do Book Citation Index (BKCI) a Thomson Reuters (atualmente, Clarivate Analytics) passou a indexar mais de 60.000 livros de humanidades, ciências sociais, artes e ciências, sendo que 10.000 novos livros são adicionados anualmente, gerando mais de 15 milhões de novas citações na Web of Science (CLARIVATE, 2020). A seleção das obras que compõem o BKCI é baseada em fatores como editora, data de publicação e evidência de alto impacto de citação (TESTA, 2012TESTA, James. The book selection process for the Book Citation Index in Web of Science. 2012. Disponível em: http://wokinfo.com/media/pdf/BKCI-SelectionEssay_web.pdf. Acesso em abril de 2020.
http://wokinfo.com/media/pdf/BKCI-Select...
). Embora o BKCI possua ferramentas que permitem desenvolver indicadores bibliométricos, esse índice ainda tem um longo caminho a percorrer devido a sua cobertura, ausência de dados de afiliação institucional e países dos autores, e ao fato de que o idioma das obras é praticamente limitado ao inglês (GORRAIZ; PURNELL; GLÄNZEL, 2013GORRAIZ, Juan; PURNELL, Phillip; GLÄNZEL, Wolfgang. Opportunities for and limitations of the Book Citation Index. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.64, n.7, p.1388-1398, 2013.; TORRESSALINAS et al, 2014, CHI et al, 2015CHI, Pei-Shan; JEURIS, Wouter; THIJS, Bart; GLÄNZEL, Wolfgang. Book bibliometrics: a new perspective and challenge in indicator bulding based on the Book Citation Index. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SCIENTOMETRICS AND INFORMETRICS, 15., 2015. [S.l.]: Proceedings of the..., 2015. p.1161-1169.). Desse modo, ainda há resistência por parte dos bibliometristas em utilizar tais ferramentas para fins de avaliação, conforme sustenta Zuccala (2013ZUCCALA, Alesia. Evaluating humanities: vitalizing the “forgotten sciences”. Research Trends, Copenhagen, v.32, p.3-6, Mar. 2013.).

Assim, se os artigos podem ser vistos como a coluna vertebral dos periódicos científicos, atraindo, portanto, os olhares dos bibliometristas para os diferentes tipos de pesquisa que podem resultar de seu estudo, porque as demais seções dos periódicos científicos - por exemplo, resenhas e entrevistas - têm recebido pouca atenção dessa comunidade de pesquisadores?

É nesse contexto que se insere este artigo, que busca por novos temas e objetos de estudo no âmbito dos estudos métricos, como forma de contribuir para o alargamento do conhecimento nesse campo de científico, e dirige o foco de sua atenção para as resenhas e entrevistas publicadas em periódicos científicos. Assim, a pesquisa foi norteada pela seguinte questão: como se configuram os elementos teóricos da literatura científica sobre resenhas e entrevistas que podem embasar uma proposta de modelo de análise das evidências bibliométricas de reconhecimento científico? Desse modo, o estudo realizado defende a ideia de que esses gêneros textuais podem evidenciar o reconhecimento científico quando são tomados como objetos de estudo a partir da perspectiva bibliométrica e analisados com base no referencial teórico da Ciência da Informação, Sociologia da Ciência e Linguística, pois sinalizam o valor e a contribuição dos resenhados e entrevistados para o campo de conhecimento no qual estão inseridos. O reconhecimento científico, na visão mertoniana da ciência, está inserido no sistema de recompensas da ciência, pois fornece “um modelo simplificado, porém básico, da estrutura e dinâmica da comunidade científica”, conforme explica Storer (1979STORER, Norman William. Prefatory note. In: MERTON, R. The Sociology of science: theoretical and empirical investigations.Chicago: University of Chicago Press, 1979. p.281-285., p. 281). Assim, uma vez que a ciência não é privada, e sim pública, e que somente publicando seus trabalhos os cientistas podem dar sua contribuição, “o reconhecimento por pares qualificados é a forma básica de recompensa extrínseca” (MERTON, 1979MERTON, Robert King. The sociology of science: theoretical and empirical investigations. Chicago: University of Chicago Press, 1979., p.vi). Pode-se inferir desses pressupostos que a recompensa também é concedida não apenas quando o trabalho é publicado - tornando-o público e garantindo que o autor reivindique-o como seu - e citado, mas também quando esses pares fazem uma avaliação pública dessa publicação em uma resenha, ou quando a trajetória acadêmica e as contribuições de um autor são divulgadas em uma entrevista. Assim como as citações são uma forma de reconhecimento científico, ao dar crédito a quem o crédito é devido, as resenhas e entrevistas também fazem parte do sistema de avaliação da ciência. O objetivo normativo da resenha é alertar os leitores sobre o valor de um texto recém-publicado, como conforme elucida Zuccala (2012ZUCCALA, Alesia; BOD, Rens. Book reviews as a mega-citations: a fresh look at citation theory. In: Proceedings of the 17th International Conference on Science and Technology Indicators, 2012.), destacando que a função retórica da resenha serve como uma medida de influência disciplinar tanto quanto uma citação adequada.

A pesquisa teve como objetivos realizar um ensaio teórico sobre resenhas e entrevistas, elaborar um modelo de análise desses gêneros textuais baseado na categorização de seus principais elementos, e aplicar esse modelo em uma amostra de resenhas e entrevistas publicadas em um periódico científico do campo dos estudos feministas e de gênero. Justificase esse estudo pela possibilidade de oferecer um referencial teórico e metodológico para futuras pesquisas que visem compreender como as resenhas e entrevistas podem revelar o reconhecimento científico, o que confere originalidade à proposta.

As próximas seções apresentam um conjunto de notas teóricas sobre resenhas e entrevistas, o caminho metodológico, o modelo de análise e os resultados obtidos a partir da aplicação desse modelo.

2 NOTAS TEÓRICAS SOBRE RESENHAS E ENTREVISTAS

2.1 Resenhas

Uma resenha é uma forma vernácula de conversa acadêmica que nos ajuda a dizer o que está acontecendo no nosso mundo, o quão bem estamos trabalhando e como podemos reformular o nosso trabalho. ( STOWE, 1991 STOWE, Steven. Thinking about reviews. The Journal of the American History, v.78, n.2, p.591-595, Sep.1991. , p.592)

A epígrafe que abre esse tópico situa as resenhas no contexto da produção do conhecimento científico. Lindholm-Romantschuk (1998, p.vii) assinala que as resenhas de livros são “indicadores significativos da comunicação acadêmica e podem ser utilizados para rastrear o fluxo de informação dentro e entre domínios de conhecimento”. Na visão de SalagerMeyer, Alcaraz Ariza e Pabón Berbesí (2007) as resenhas oferecem uma plataforma retórica em que os pesquisadores podem expressar seus pontos de vista, sinalizar sua fidelidade a um grupo específico e participar da conversa em curso de suas disciplinas, argumentando como, por que e até que ponto os livros freqüentemente publicados em seus respectivos campos contribuem para a construção do conhecimento.

O linguista e especialista em comunicação acadêmica Ken Hyland (2009HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. Introduction. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. (ed.). Academic evaluation: review genres in university settings. London: MacMillan, 2009.) pondera que a resenha desempenha um papel importante tanto na comunicação disciplinar como na avaliação pública da pesquisa, embora muitas vezes seja negligenciada como um gênero de pesquisa. Em seu entendimento, as resenhas são altamente visíveis e fornecem aos pesquisadores uma tribuna para proclamar uma posição pública sem argumentos detalhados, dados empíricos ou um processo de revisão prolongada. Hyland (2009, p. 89) também verificou que no campo da Filosofia, uma resenha pode ser uma importante contribuição para a pesquisa no campo e “será citada porque naquela revisão pode ser a primeira vez que uma pessoa articulou um argumento que outras pessoas consideraram persuasivo”.

Na opinião de Hartley (2005HARTLEY, James. Book reviewing in the BJET: a survey of BJET’s referees’ and writers’ views. British Journal of Educational Technology, v.36, n.5, p.897-905, 2005.) as principais características que os acadêmicos procuram em uma resenha incluem a presença de um nome como autor da resenha, a apresentação de uma visão objetiva da obra, uma crítica dos principais argumentos da obra, uma tentativa de posicionar o livro em seu contexto histórico, além de uma avaliação de sua credibilidade acadêmica.

Sobre essas características da resenha e do resenhista, Zuccala e van Leeuwen (2011ZUCCALA, Alesia; van LEEUWEN, Ted. Book reviews in humanities research evaluations. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.62, n.10, p.1979-1991, 2011.) recorreram às diretrizes para a elaboração de resenhas da Universidade de Alberta e explicaram que o papel do resenhista envolve: criticar o estilo da escrita do autor, avaliar a intenção do autor por trás do livro, determinar se o autor apresentou suas ideias de forma lógica e consistente, confirmar a capacidade do autor em contextualizar o trabalho em seu campo de estudo, e examinar os silêncios críticos ou omissões que possam enfraquecer o conteúdo do livro resenhado.

Contudo, em vários campos de conhecimento uma boa resenha não deve oferecer apenas uma perspectiva crítica e perspicaz, com base em conhecimentos consideráveis do campo, mas também “deve responder às demandas complexas dessa delicada situação de interação, mostrando uma consciência da expressão adequada de elogios e crítica” (HYLAND; DIANI, 2009HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. Introduction. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. (ed.). Academic evaluation: review genres in university settings. London: MacMillan, 2009., p.8). Esses autores também comentam que uma resenha assinada por uma autoridade reconhecida no campo tem um peso maior do que aquela assinada por um jovem estudioso desconhecido. Isso faz com que os periódicos mais prestigiosos sejam seletivos na escolha dos resenhistas. Todavia, Sanz (2009SANZ, Rosa Lorés. (Non-)critical voices in the reviewing of history discourse: a crosscultural study of evaluation. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana (ed). Academic evaluation: review genres in university settings. London: Palgrav MacMillan, 2009.) observa que em resenhas publicadas na Espanha, estas tendiam a ser deixadas nas mãos de pesquisadores juniores, devido à baixa classificação atribuída a esse tipo de publicação nos currículos e atividades profissionais dos pesquisadores.

Desse modo, conforme destaca East (2011EAST, John. The scholarly book review in the Humanities: an academic Cinderella?” Journal of Scholarly Publishing, v.43, n.1, p.52-67, 2011.), o papel do editor de resenhas é bastante importante, embora o nível de envolvimento editorial de resenhas varie de acordo com o perfil das revistas.

Ademais, o fato de uma mesma resenha ser publicada em vários periódicos relevantes do campo confere um impacto significativo. A publicação de uma resenha em um periódico de prestígio terá alta visibilidade, mas não atingirá o público-alvo de forma tão efetiva como aquela publicada em uma revista especializada de circulação limitada, conforme explica East (2011EAST, John. The scholarly book review in the Humanities: an academic Cinderella?” Journal of Scholarly Publishing, v.43, n.1, p.52-67, 2011.). O autor propõe os seguintes indicadores da alta qualidade das resenhas: análise imparcial que situa o livro na literatura da disciplina e cita outros trabalhos relevantes no mesmo campo, autor bem qualificado, extensão adequada da resenha, obra resenhada recente e facilmente acessível.

Embora as resenhas possam ser muito influentes, poucos estudos foram realizados para avaliar o seu impacto em campos acadêmicos, o que motivou Hartley (2006HARTLEY, James. Reading and writing book reviews across disciplines. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.57, n.9, p.1194-1207, 2006.) a realizar um inquérito com pesquisadores da área de Humanidades e das Ciências Naturais com o objetivo de verificar a frequência com que leram e escreveram resenhas, quão úteis elas são consideradas e quais recursos os pesquisadores consideravam importantes nas revisões de livros. Os resultados dessa pesquisa mostraram que os resenhistas e leitores de resenhas têm opiniões claras sobre o conteúdo das resenhas, por exemplo, se elas devem incluir citações de outras obras.

Zuccala e Bod (2012ZUCCALA, Alesia; BOD, Rens. Book reviews as a mega-citations: a fresh look at citation theory. In: Proceedings of the 17th International Conference on Science and Technology Indicators, 2012.) observam que há pouca reflexão sobre a escolha ou concordância de um estudioso específico em escrever uma resenha, sendo que geralmente o resenhista e o autor resenhado são pares da mesma disciplina. Em contrapartida, LindholmRomantschuk (1998) apontou que um número significativo de resenhas publicadas em revistas disciplinares é de livros originários de outras disciplinas. Em sua visão, as resenhas são importantes no âmbito acadêmico porque conferem idade e importância ao autor do livro e comentários críticos de seus pares disciplinares, ao mesmo tempo em que dão visibilidade aos resenhistas. Nesse contexto, é válido recordar que o eminente sociólogo Robert Merton, considerado o pai fundador da Sociologia da Ciência, escreveu mais de duas centenas de resenhas ao longo de sua trajetória acadêmica, e 65 delas foram elaboradas quando ainda era um jovem investigador assistente de George Sarton e Pitirim Sorokin em Harvard (SICA, 2011SICA, Alan. The wondrous world of online book reviewing. Contemporary Sociology, v.40, n.3, p.261-263, May. 2011.; FLECK, 2015FLECK, Christian; MERTON, Robert King. In: WRIGHT, James (ed.) International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences. Burlington: Elsevier Science, 2015. p.246-251.).

Vale lembrar que no âmbito da Sociologia da Ciência mertoniana, o sistema de recompensas na ciência privilegia autores já consagrados, de tal modo que os cientistas mais experientes são mais valorizados pela comunidade científica recebendo mais créditos em relação aos desconhecidos, de tal modo que as recompensas estão desigualmente distribuídas nesse sistema estratificado da ciência (MERTON, 1985MERTON, Robert King. La sociologia de la ciencia. Madrid: Alianza Editorial, 1985.). O reconhecimento científico também foi objeto de estudo de Bourdieu (2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Trad. Denice Barbara Catani. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.), ao propor o conceito de campo científico como um espaço social de competição e lutas entre agentes que ocupam posições desiguais e desenvolvem estratégias para acumular um capital simbólico composto por créditos científico. Em suas palavras:

[...] o capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado sobre atos de conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento (ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior do campo científico (o número de menções do Citation Index é um bom indicador). (BOURDIEU, 2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Trad. Denice Barbara Catani. São Paulo: Ed. UNESP, 2004., p.26)

Por sua vez, Zuccala e Bod (2012ZUCCALA, Alesia; BOD, Rens. Book reviews as a mega-citations: a fresh look at citation theory. In: Proceedings of the 17th International Conference on Science and Technology Indicators, 2012.) asseveram que no sistema de recompensas da ciência o benefício recebido pelo autor da resenha é praticamente nulo, embora Hartley (2006HARTLEY, James. Reading and writing book reviews across disciplines. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.57, n.9, p.1194-1207, 2006.) tenha mostrado que pesquisadores de várias áreas de conhecimento tendem a concordar que seria positivo receber reconhecimento institucional pelas resenhas publicadas.

Ao analisarem a função retórica e avaliativa das resenhas, Hyland e Diani (2009HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. Introduction. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. (ed.). Academic evaluation: review genres in university settings. London: MacMillan, 2009.) observaram que elas revelam o funcionamento de um grupo de pares em seu papel mais normativo, definindo publicamente padrões, estimando o mérito e indiretamente avaliando a reputação dos resenhados. Na visão desses autores, assim como os demais textos acadêmicos, as resenhas são projetadas para persuadir o leitor de algo.

Tse e Hyland (2006TSE, Polly; HYLAND, Ken. So what is the problem this book adresses? Interactions in academic book reviews. Text & Talk, v.26, n.6, p.767-790, 2006.) entendem que a resenha proclama não só o status de um livro, chamando a atenção para muitas publicações não reconhecidas que aparecem todos os anos, mas também o do revisor, que adota uma posição de autoridade em relação à obra resenhada e se apresenta como um especialista qualificado para falar com e para a disciplina. Na visão desses autores, as avaliações podem, portanto, ser potencialmente preocupantes tanto para os revisados quanto para os revisores, e por isso precisam ser gerenciadas através de enquadramentos cuidadosos que respondam aos efeitos interpessoais, ao mesmo tempo em que abordam as demandas do gênero.

As resenhas também se enquadram no domínio da comunicação científica, pois envolvem produtores e usuários acadêmicos, e são disseminadas através dos canais formais (SPINK; ROBINS; SCHAMBER, 1998SPINK, Amanda; ROBINS, David; SCHAMBER, Linda. Use of scholarly book reviews: implications for electronic publishing and scholarly communication. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.49, n.4, p.364-374, 1998.; ZUCCALA; van LEEUWEN, 2011ZUCCALA, Alesia; van LEEUWEN, Ted. Book reviews in humanities research evaluations. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.62, n.10, p.1979-1991, 2011.). Além disso, as resenhas fazem parte do processo de revisão pelos pares, pois são concebidas como avaliações do trabalho acadêmico.

Lindholm-Romantschuk (1998) assinala que uma diferença importante entre a resenha acadêmica e outros tipos de revisão por pares, uma vez que ela é um processo de revisão póspublicação. Zuccala e Bod (2012ZUCCALA, Alesia; BOD, Rens. Book reviews as a mega-citations: a fresh look at citation theory. In: Proceedings of the 17th International Conference on Science and Technology Indicators, 2012.) também reforçam esse entendimento, ao assinalarem que os livros recebem críticas após serem publicados, mas as críticas recebidas pelos artigos de periódicos científicos geralmente ocorrem antes da publicação, durante o processo de avaliação pelos pares. Esse aspecto já havia sido assinalado por Sabosik (1988SABOSIK, Patricia. Scholarly review and the role of Choice in the postpublication review process. Book Research Quarterly, v.25, p.10-18, 1988.) ao afirmar que a revisão acadêmica se subdivide em duas áreas: a revisão prévia, isto é a arbitragem realizada pelos pares no processo de avaliação de artigos de periódicos e a revisão de livros, referente à avaliação de livros pós-publicação.

Um aspecto interessante a respeito das resenhas foi assinalado por Zuccala e van Leeuwen (2011ZUCCALA, Alesia; van LEEUWEN, Ted. Book reviews in humanities research evaluations. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.62, n.10, p.1979-1991, 2011.). Na visão desses autores pesquisas relativas a resenhas se concentraram menos em seu uso em avaliações acadêmicas do que em seu conteúdo e aplicabilidade para processos de seleção de livros e desenvolvimento de coleções em bibliotecas. Além disso, as resenhas podem focalizar somente o livro resenhado ou incluir outras referências além da obra resenhada, o que confere a característica de ensaio literário a esse tipo de resenha.

O estudo de Diodato (1984DIODATO, Virgil. Impact and scholarliness in arts and humanities book reviews: a citation analysis. ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN SOCIETY FOR INFORMATION SCIENCE, 47., 1984. Proceedings of the..., 1984. p.217-221.) mostrou que as críticas de livros expostas nas resenhas raramente são citadas. Nicolaisen (2002aNICOLAISEN, Jeppe. The J-shaped distribution of citedness. Journal of Documentation, v.58, n.4, p.383-395, 2002a.) investigou esse aspecto e descobriu que os livros que recebem críticas positivas ou favoráveis tendem a ser citados com maior frequência do que aqueles que recebem comentários negativos de um resenhista. A esse respeito LindholmRomantschuk (1998) assinala que uma resenha negativa poderia impedir que as ideias de um livro atingissem um público mais amplo, contudo uma resenha positiva poderia facilitar a difusão dessas ideias na comunidade acadêmica. Em outro estudo, Nicolaisen (2002b) também notou um aumento no número de resenhas de livros que fazem referências adicionais a outros trabalhos. Para o autor, a resenha que contém muitas referências é considerada confiável ou mais “acadêmica”, pois aponta que a obra resenhada estava relacionada com trabalhos anteriores no campo.

Ao questionar porque as resenhas são escritas, Obeng-Odoom (2014) contestou a ideia de que essas são rotineiramente rejeitadas pelos editores por serem consideradas fáceis de escrever e publicar, ou seja, por serem comumente vistas como meros resumos e declarações acríticas de elogios, bem como truques de marketing. Em sua visão, essas são impressões enganosas sobre as resenhas, pois elas possuem outros méritos quando se consideram as perspectivas do resenhista, do autor resenhado, e da comunidade acadêmica mais ampla. Para o autor, escrever críticas é uma ótima maneira de se tornar conhecido como especialista ou pesquisador do campo no qual se insere. Uma resenha persuasiva e abrangente evoca um sentimento de respeito pelo resenhista, se este ainda não é conhecido, de tal modo que os benefícios de ser aceito como especialista são numerosos, pois conferem visibilidade, impacto e atenção, entre outros aspectos.

O status, o papel e as características da resenha como uma forma de publicação acadêmica no campo das humanidades foram analisados por East (2011EAST, John. The scholarly book review in the Humanities: an academic Cinderella?” Journal of Scholarly Publishing, v.43, n.1, p.52-67, 2011.). O sugestivo subtítulo de sua pesquisa, em forma de pergunta - uma Cinderela acadêmica? - alude à heroína do conto de fadas de Perrault para questionar o valor ainda não reconhecido das resenhas, as quais deveriam merecer maior atenção. Para o autor, apesar da importância que a comunidade acadêmica das humanidades atribui às resenhas, a frequência de citações de livros não reflete o importante papel desempenhado pelas críticas e o seu significado como resultado acadêmico. Em sua visão, isso ocorre porque em alguns círculos, especialmente fora das humanidades, o termo “resenha” evoca a imagem de uma coluna no jornal de fim de semana, ou uma publicação no site de alguma livraria, embora a resenha seja muito mais que isso. Desta feita, o autor defende a necessidade de reavaliar a revisão de livros e aumentar o seu status acadêmico, e também deixa claro que se na escrita acadêmica a citação de publicações anteriores revelantes é um indicador de pesquisas aprofundadas, e desse modo, se uma das funções das resenhas é situar o livro no contexto da literatura existente sobre o assunto, então o revisor precisará citar outras publicações além da obra resenhada. Esse aspecto também foi notado por Diodato (1984DIODATO, Virgil. Impact and scholarliness in arts and humanities book reviews: a citation analysis. ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN SOCIETY FOR INFORMATION SCIENCE, 47., 1984. Proceedings of the..., 1984. p.217-221.) que encontrou muitas citações nas resenhas que analisou.

Como as resenhas se referem a livros publicados, Zuccala e Bod (2012ZUCCALA, Alesia; BOD, Rens. Book reviews as a mega-citations: a fresh look at citation theory. In: Proceedings of the 17th International Conference on Science and Technology Indicators, 2012.) destacam os elementos que devem ser considerados em estudos bibliométricos: a posição do livro no seu campo específico de conhecimento; o prestígio do editor do livro; uma citação do livro em um artigo de periódico dentro e fora do campo; uma citação do livro por outro livro; e uma resenha sobre o livro em um periódico que deve ser referida como mega-citação.

Alguns surveys foram realizados para verificar os seguintes aspectos sobre as resenhas: buscar evidências sobre as atitudes dominantes dos resenhistas, a correlação entre a avaliação dos resenhistas e as taxas de citação de resenhas da área de Química (SCHUBERT et al, 1984SCHUBERT, Andras et. Quantitative analysis of a visible tip of the peer review iceberg: book reviews in Chemistry. Scientometrics, v.6, n.6, p.433-443, 1984.); a importância das resenhas e sua utilização em diferentes áreas de conhecimento (NANOWITZ; CARLO, 1997NANOWITZ, Allen; CARLO, Paula. Evaluating review content for book selection: an analysis of American history reviews in Choice, American Historical Review, and Journal of American History. College & Research Libraries, v.58, n.4, Jul. 1997.); a relevância das resenhas e sua utilidade para o ensino e pesquisa de professores das áreas de Humanidades, Ciências Sociais e Ciência e Tecnologia (SPINK; ROBINS; SCHAMBER, 1998SPINK, Amanda; ROBINS, David; SCHAMBER, Linda. Use of scholarly book reviews: implications for electronic publishing and scholarly communication. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.49, n.4, p.364-374, 1998.); a importância dos livros e resenhas como critério de contratação e promoção em departamentos universitários de literatura e idiomas (CRONIN; LA BARRE, 2004CRONIN, Blaise; LA BARRE, Kathryn. Mickey Mouse and Milton: book publishing in the humanities. Learned Publishing, v.17, p.85-98, 2004.); o papel das resenhas no contexto acadêmico para os membros do corpo editorial do British Journal of Educational Technology visando determinar com que frequência eles leram e escreveram resenhas, quão úteis elas foram consideradas e quais recursos eles achavam importantes nas revisões de livros (HARTLEY, 2005HARTLEY, James. Book reviewing in the BJET: a survey of BJET’s referees’ and writers’ views. British Journal of Educational Technology, v.36, n.5, p.897-905, 2005.); o valor das resenhas para os bibliotecários de referência (DILEVKO et al, 2006DILEVKO, Juris et al. Investigating the value of scholarly book reviews for the work of academic reference librarians. Journal of Academic Librarianship, v.32, n.5, p.452-466, 2006.); verificar como os estudiosos de diferentes áreas gerenciam o potencial conflito acadêmico causado pela resenha de um livro (MORENO; SUÁREZ, 2008MORENO, Ana; SUÁREZ, Lorena. Managing academic conflict in English and Spanish academic book reviewing: an intercultural rethoric study. In: INTERLAE CONFERENCE, 2008, Zaragoza, 2008. [S.l.]: Proceedigns of…, 2008.); analisar a utilidade das resenhas em função da reputação do revisor e da profundidade da revisão tomando como objeto de estudo as resenhas publicadas no website Amazon (CHUA; BANERJEE, 2015CHUA, Alton; BANERJEE, Snehasish. Understanding review helpfulness as a function of reviewer reputation, review rating, and review depth. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.66, n.2, p.354-362, 2015.).

Resenhas publicadas em periódicos de várias áreas de conhecimento também foram investigadas. Na área de Sociologia, Champion e Morris (1973CHAMPION, Dean, MORRIS, Michel. A content analysis of book reviews in the AJS, ASR, and Social Forces. American Sociological Review, v.78, n.5, p.1256-1265; 1973.) analisaram a regionalidade dos resenhistas e os tipos de críticas presentes nas resenhas publicadas nos periódicos American Journal of Sociology, American Sociological Review e Social Forces. No campo da Educação Hartley (2005HARTLEY, James. Book reviewing in the BJET: a survey of BJET’s referees’ and writers’ views. British Journal of Educational Technology, v.36, n.5, p.897-905, 2005.) investigou a opinião sobre resenhas junto a membros do comitê editorial do British Journal of Educational Technology, e Schepis, Purchase e Brennan (2015SCHEPIS, Daniel; PURCHASE, Sharon; BRENNAN, David Ross. At 21: The Journal of Business-to-Business Marketing: Book review section with an analysis of book reviews rendered: looking toward the future. Journal of Business-to-Business Marketing, v.22, n.12, p.125-144, 2015.) analisaram a seção de resenhas do Journal of the Business-to-Business Marketing para verificar se as tendências temáticas e o ambiente de publicação mais amplo em que os livros focalizados nessas resenhas são incorporados nessa área de conhecimento.

Outras pesquisas mais recentes sobre resenhas também foram conduzidas visando, entre outros aspectos: apontar suas vantagens para a área do Direito Ambiental (STALLWORTHY, 2013STALLWORTHY, Mark. The review in the environmental law discourse. Journal of Environmental Law, v.25, n.3, p.547-562, 2013.); avaliar sua utilidade como um critério de seleção para o Book Citation Index descrevendo a relação entre livros, resenhas e citações (GORRAIZ; GUMPENBERGER; PURNELL, 2014GORRAIZ, Juan; GUMPENBERGER, Christian; PURNELL, Phillip. The power of book reviews: a simple and transparent enhancement approach for book citation indexes. Scientometrics, v.98, n.2, p.841-852, 2014.); discutir o status das resenhas no sistema de comunicação acadêmica no contexto da história cultural e humanidades (STEPANOV, 2016STEPANOV, Boris. Crisis of the genre: book reviews in studies of scholarly communication. Laboratorium, v.8, n.1, p.82-106, 2016.); obter uma melhor compreensão dos padrões de comunicação em diferentes tipos de publicações e a aplicabilidade do Índice de Citações do Livro (BKCI) para a construção de indicadores em estudos de informetria e avaliação de pesquisa (GLÄNZEL; THJIS; CHI, 2016GLÄNZEL, Wolfgang; THIJS, Bart; CHI, Pei-Shan. The challenges to expand bibliometric studies from periodical literature to monographic literature with a new data source: the book citation index. Scientometrics, v.109, n.3, p.2165-2179, Dec. 2016.); avaliar os padrões e a dinâmica das resenhas na Web of Science’s Science Citation Index Expanded, Social Sciences Citation Index, e Arts & Humanities Citation Index (LIU; DING; GU, 2017LIU, Weishu; DING, Yishan; GU, Mengdi. Book reviews in academic journals: patterns and dinamics. Scientometrics, v.110, n.1, p.355-364, 2017.); investigar a ascensão e a queda de resenhas publicadas na área de Psicologia (HARTLEY; HO, 2017HARTLEY, James; HO, Yu-Shan. The decline and fall of book reviews in psychology: a bibliometric analysis. Scientometrics, v.112, n.1, p.655-657, Jul. 2017.).

A questão de gênero em resenhas acadêmicas também foi discutida em vários estudos. Por exemplo, Moore (1978MOORE, Michael. Discrimination or favoritism? Sex bias in book reviews. American Psychologist, v.33, n.10, p.936-938, Oct. 1978.) avaliou o viés de gênero em resenhas escritas por homens e mulheres concluindo que ambos são tendenciosos em favor de si mesmos. McCorkle (1990) investigou as desigualdades de gênero nas resenhas publicadas no periódico Speech Communication Association ao longo da década de 1980, e McGinty e Moore (2008) analisaram a questão de gênero entre autores e resenhistas do American Political Science Review. Por sua vez, Black (2011BLACK, Kimberly. Reviewing the unspeakable: an analysis of book-reviewing practices of Afro American women's writings of the 1980s. Black Women, Gender & Families, v.5, n.1, p.1-16, 2011.) avaliou a qualidade de resenhas de livros escritos ou compilados por mulheres afro-americanas publicadas entre 1980 e 1993 e que apareceram em importantes fontes freqüentemente consultadas por bibliotecários para a atividade de desenvolvimento de coleções. No estudo realizado por Usmani e Shri (2016USMANI, Meena; SHRI, Madhu. Bibliometric analysis of book reviews published in Indian Journal of Gender Studies (1994-2014). International Journal of Library Information Network and Knowledge, v.1, n.1, p.1-16, Feb. 2016.) foram analisadas as resenhas publicadas no Indian Journal of Gender Studies, ao passo que Harvey e Lamond (2016HARVEY, Melinda; LAMOND, Julieanne. Taking mesure of gender disparity in Australian book Reviewing as a field, 1985 and 2013. Australian Humanities Review, v.60, p.84-107, 2016.) investigaram as disparidades de gênero em resenhas de livros australianos publicadas no Australian Book Reviews e The Australian entre 1985 e 2013. Thelwall (2017THELWALL, Mike. Reader and author gender and genre in Goodreads. Journal of Librarianship & Information Science, v.51, n.2, p.403-430, 2017.) investigou o site Goodreads.com propondo uma relação direta entre o gênero dos autores e resenhistas, e verificou que a nota dada a uma obra costuma ser mais alta quanto mais resenhistas e autor forem do mesmo gênero.

2.2 Entrevistas

A entrevista é, de fato, um empreendimento comum na produção do conhecimento. O ‘poder do conhecimento’, senão outros tipos de poder, está do lado do entrevistado. O que os pesquisadores têm a oferecer em troca não são suas opiniões, mas sua atenção respeitosa e interessada. ( CZARNIAWSKA, 2004 CZARNIAWSKA, Barbara. Narratives in social science research. Thousand Oaks: Sage, 2004. , p.47-8)

No que tange às entrevistas, há um volume significativo de manuais de metodologia científica destacando suas principais características como técnica de coleta de dados utilizada na pesquisa social qualitativa (BAUER; GASKELL, 2002BAUER, Martin, GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes; 2002.). De acordo com o método adotado as entrevistas podem ser caracterizadas, entre outros tipos, como estruturadas, não-estruturadas, semi-estruturadas, ou em profundidade. Estas últimas são mais flexíveis e permitem ao entrevistado construir suas respostas sem ficar preso a um nível mais rigoroso de diretividade e mediação por parte do entrevistador. Além disso, são bastante valorizadas pela riqueza de informações que podem ser obtidas e pela possibilidade de ampliar o entendimento do objeto investigado através da interação entre o entrevistado e entrevistador. Como instrumento de coleta de dados na pesquisa qualitativa essas entrevistas contribuem para a obtenção de informações sobre realidades sociais e para o aprimoramento do conhecimento em determinada área de investigação. As entrevistas também podem ser focalizadas ou dirigidas, centradas no problema, etnográficas, jornalísticas, psicológicas ou biográfica. Como gênero textual e do discurso, as formas de análise das entrevistas podem ser vinculadas a diferentes orientações epistemológicas, por exemplo, o interacionismo sóciodiscursivo, a análise do discurso, a análise de conteúdo e a análise narrativa.

Considerando que o público alvo das entrevistas publicadas em periódicos científicos é composto por acadêmicos, intelectuais e experts pode-se supor que os pressupostos das entrevistas biográficas (DELORY-MOMBERGER, 2012DELORY-MOMBERGER, Christine. Abordagens metodológicas na pesquisa biográfica. Revista Brasileira de Educação, v. 17, n.51, p. 523-536, set./dez. 2012.), das entrevistas científicamente informadas (LAUDEL; GLÄSER, 2007LAUDEL, Grit; GLÄSER, Jochen. Interviewing scientists. Science, Technology & Innovation Studies, v.3, n. 2, p. 91-111, 2007.) e das entrevistas com especialistas (GLÄSER; LAUDEL, 2009; 2010) sejam os mais apropriados para esse tipo de publicação. A primeira permite “ouvir o que o entrevistado tem a dizer em toda a sua singularidade, como alguém inserido em um contexto social, mas que também atua para modificá-lo” (FONTES, 2019FONTES, Baruc Correia. A entrevista biográfica na sociologia. Revista Sociais & Humanas, v.32, n.3, p. 83-97, 2019., p. 95). Nessa entrevista o protagonismo é do entrevistado e não do entrevistador; contudo, devese observar para que sua narrativa não se torne um instrumento de “ilusão biográfica”, ou seja, é preciso evitar que o entrevistado torne-se um “ideólogo da própria vida” selecionando certos acontecimentos significativos de sua trajetória passada para dar um sentido ao presente, conforme aponta Bourdieu (1996BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. p. 74-82., p.74-75). Por sua vez, a entrevista com especialistas (LAUDEL; GLÄSER, 2007, p. 98) baseia-se na compreensão da situação da entrevista como “um processo de comunicação em que os dois parceiros - entrevistador e entrevistado - constroem em conjunto os significados das perguntas e respostas”. Isso requer “uma preparação extensiva da entrevista, a construção de uma linguagem comum para a comunicação durante a entrevista e a negociação de um nível adequado de profundidade científica entre o entrevistador e o entrevistado” (LAUDEL; GLÄSER, 2007, p.108). E a entrevista científica informada é baseada no papel de especialista do entrevistado, isto é, aquele que possui conhecimentos específicos dos fatos a serem reconstruídos e do fenômeno social no qual o entrevistador está interessado (GLÄSER; LAUDEL, 2009, 2010).

Finalmente, três aspectos chamaram atenção no exame dessa literatura científica sobre resenhas e entrevistas. Em primeiro lugar notou-se a ausência de estudos publicados por autores brasileiros, em especial aqueles do campo da Ciência da Informação, confirmando a lacuna mencionada anteriormente. Em segundo lugar, assim como nas citações, as perspectivas normativas e retóricas das resenhas e entrevistas foram destacadas nos estudos de Sociologia da Ciência e da Linguistica, e indicaram que esses gêneros textuais têm um papel essencial no processo de comunicação científica. Em terceiro lugar, os estudos analisados ofereceram diversas características das resenhas e entrevistas que podem se constituir em indicadores quantitativos e qualitativos do reconhecimento científico, como por exemplo: os tipos de críticas recebidas nas obras resenhadas, a profundidade do texto das resenhas e das entrevistas; e a presença de citações nas obras resenhadas e entrevistas, entre outros.

3 METODOLOGIA

Caminante, no hay camino, se hace el caminho al andar. ( MACHADO, 1969 MACHADO, Antonio. Poesías completas. 12.ed. Madrid: Espasa-Calpe, 1969. , p.158)

A pesquisa é do tipo exploratória e descritiva, e adotou como abordagens metodológicas a pesquisa bibliográfica (PIZZANI et al, 2012PIZZANI, Luciana et al. A arte da pesquisa bibliográfica na busca do conhecimento. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 10, n.2, p. 5366, jul./dez. 2012. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/ article/view/1896/pdf_28. Acesso em: 20 abr. 2020.
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
) e as análises bibliométrica e de conteúdo. A análise bibliométrica é realizada por meio do mapeamento e extração de informações de um conjunto de publicações visando a elaboração de indicadores que permitem explorar a base de conhecimento e a estrutura intelectual de um campo científico (VAN RAAN, 2019VAN RAAN, Anthony. Measuring science: basic principles and application of advanced bibliometrics. In: GLÄNZEL, Wolfgang et al. (ed.). The Springer handbook of science and technology indicators. Cham-Switzerland: Springer, 2019. p. 237-280.). Como referem Gläser e Laudel (2015GLÄSER, Jochen; LAUDEL, Grit. A bibliometric reconstruction of research trials for qualitative investigations of scientific innovations. Historical Social Research, v.40, n.3, p. 299-303, 2015., p. 303), os métodos bibliométricos “são um meio excelente para a triangulação de métodos baseados em entrevistas ou etnográficos”, no entanto, esses métodos “não evitam completamente o problema de analisar o conteúdo da pesquisa porque os resultados dos métodos bibliométricos precisam ser interpretados”. Por sua vez, análise de conteúdo consiste em um conjunto de operações utilizadas para analisar de forma objetiva e sistemática as mensagens enunciadas em um texto possibilitando a inferência de conhecimentos (BARDIN, 2011BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.). Para o desenvolvimento da pesquisa as seguintes etapas foram realizadas:

  • a) exame da literatura sobre resenhas e entrevistas visando a construção do referencial teórico e metodológico da pesquisa e do modelo de análise proposto. Para essa tarefa foram utilizados artigos disponíveis em bases de dados científicas nacionais e internacionais por meio de acesso ao Portal Capes de Periódicos Científicos, bem como livros e capítulos de livros abrangendo obras clássicas e atuais dos campos da Sociologia da Ciência, Ciência da Informação e Linguística que cobriram o período entre 1973 e 2020. Contudo, notou-se a ausência de estudos sobre entrevistas publicadas em periódicos científicos, a despeito da profusão de textos centrados nos aspectos metodológicos das entrevistas como técnica de coleta de dados de pesquisa.

  • b) elaboração do modelo de análise de resenhas e entrevistas. Nessa etapa, a literatura científica examinada, e a leitura crítica das resenhas e entrevistas publicadas na Revista Estudos Feministas (REF) forneceram as categorias bibliométricas e de conteúdo desses gêneros textuais publicados em periódicos científicos.

  • c) seleção de uma amostra de resenhas (n=69) e entrevistas (n=9) publicadas no período entre 2018 e 2020 na REF. O periódico está disponível na biblioteca eletrônica SciELO abrangendo os volumes publicados desde 2001, mas a coleção completa desde a primeira edição em 1992 pode ser acessada no site do periódico (REF, 2020a). Justifica-se a escolha desse periódico pela familiaridade com temática sobre estudos feministas e de gênero na ciência demonstrada em estudos anteriores (HAYASHI et al., 2007HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini et al. Indicadores da participação feminina em ciência e tecnologia. Transinformação, Campinas, SP, v.19, n.2, p. 169-187, maio/ago.2007. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S0103-37862007000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 20 abr. 2020.
    https://www.scielo.br/scielo.php?script=...
    ; RIGOLIN; HAYASHI; HAYASHI, 2013RIGOLIN, Camila Carneiro Dias; HAYASHI, Carlos Roberto Massao; HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini. Métricas da participação feminina na ciência e na tecnologia no contexto dos INCTs: primeiras aproximações. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.9, n.1, p.143-170, maio 2013. Disponível em: http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3400/ 2987. Acesso em: 20 abr. 2020.
    http://revista.ibict.br/liinc/article/vi...
    ; CAMARGO; HAYASHI, 2017CAMARGO, Juliana Ravaschio Franco de; HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini. Coautoria e participação feminina em periódicos brasileiros da área de cirurgia: estudo bibliométrico. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v.15, n.1, p.148-170, jan./abr. 2017. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/8646289. Acesso em: 20 abr. 2020.
    https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/in...
    ; HAYASHI et al., 2018) que ofereceu segurança teórica e metodológica para a escolha da REF. Além disso, constatou-se a existência de um alto índice de resenhas (539) e entrevistas (n=59) publicadas na REF desde 1992 até 2020, comparativamente com aquelas publicadas em outro periódico do campo dos estudos feministas e de gênero, a revista Cadernos Pagu (CP), que no período entre 1993 e 2020 publicou 140 resenhas e 12 entrevistas. No período entre 2018 e 2020, referente à amostra selecionada, os dois periódicos publicaram 78 resenhas e 9 entrevistas. Comparando esses escores com os de outros dois periódicos de referência no campo da Educação - Educação & Sociedade, com 42 anos de existência, e a Revista Brasileira de Educação, publicada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), desde 1995 - ambos classificados no estrato A1 da lista Qualis/CAPES - verificou-se que estes publicaram no mesmo período, respectivamente, 7 e 15 resenhas, e 4 e 3 entrevistas. Por sua vez, em igual período, os periódicos da área de Ciência da Informação (n=13) classificados nos estratos A1 e A4 (n=13) publicaram 22 resenhas e 5 entrevistas.

  • d) coleta e registro dos dados em uma planilha Excel contendo as categorias e as variáveis quantitativas e qualitativas referentes ao modelo de análise. Nessa etapa, as resenhas e entrevistas selecionadas foram lidas na íntegra visando a operacionalização dos indicadores de reconhecimento científico.

  • e) elaboração de indicadores quantitativos e qualitativos. Nessa fase os dados registrados na planilha foram tabulados e cruzados gerando tabelas, quadros e gráficos para melhor descrição e visualização dos resultados.

  • e) análise e interpretação dos resultados. Nessa etapa final os construtos teóricos e metodológicos da Ciência da Informação e da Sociologia da Ciência foram mobilizados para interpretação dos achados da pesquisa.

4 MODELO DE ANÁLISE DE RESENHAS E ENTREVISTAS

Todo modelo teórico é parcial e aproximativo: não apreende senão uma parcela das particularidades do objeto representado. (BUNGE, 1974BUNGE, Mario. Teoria e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1974., p.30)

Os aportes teóricos sobre os sistemas de avaliação e de recompensas da ciência (MERTON, 1979MERTON, Robert King. The sociology of science: theoretical and empirical investigations. Chicago: University of Chicago Press, 1979.; MERTON, 1985), bem como sobre os conceitos de campo, capital e crédito científicos formulados por Bourdieu (2004BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Trad. Denice Barbara Catani. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.) foram essenciais para a construção desse modelo de análise. As contribuições de Hyland (2009HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. Introduction. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. (ed.). Academic evaluation: review genres in university settings. London: MacMillan, 2009.) e Hyland e Diani (2009) sobre discursos científicos e gêneros de revisão no contexto de avaliação acadêmica também contribuíram para a elaboração do modelo de análise.

Também foram importantes para a construção do modelo de análise os principais elementos que devem constar das resenhas entrevistas contidos nas diretrizes aos autores que desejam publicar esse tipo de publicação na REF (2020b).

O modelo de análise contempla as categorias e os respectivos indicadores presentes nas resenhas e entrevistas destacando os aspectos positivos e negativos desses gêneros textuais. Importa mencionar que essas categorias e indicadores não são fixos, podendo ser ampliados ou reduzidos de acordo com o conteúdo do corpus investigado e mediante o confronto com a literatura científica que embasa a proposta de análise.

Quadro 1
Modelo de análise de resenhas e entrevistas

Vale enfatizar que alguns indicadores desse modelo se referem a dados quantitativos, permitindo analisar, por exemplo: a distribuição anual das resenhas e entrevistas publicadas; o total dos diferentes tipos de autoria (individual, coautoria e institucional) da obra resenhada e das autorias dos resenhistas; tipos de obras resenhadas (livros, coletâneas, handbook, ou outros); o entrevistador e o resenhista mais prolífico, isto é, aqueles que realizaram mais de uma resenha e entrevista; a atualidade das resenhas levando em consideração o tempo decorrido entre a publicação da obra e da resenha; as citações de outras obras nas resenhas; o gênero dos resenhistas, entrevistados e entrevistadores visando identificar possíveis assimetrias; a presença da obra resenhada em indexadores de livros, dentre outras características dos indicadores passíveis de quantificação.

Por sua vez, os indicadores qualitativos baseados no conteúdo desses gêneros textuais revelam atributos e qualidades que costumam ser valorizados na elaboração de resenhas e na realização de entrevistas, por exemplo: as qualidades intrínsecas e extrínsecas da obra resenhada; os tipos de avaliações críticas presentes nas resenhas; a contextualização da temática tratada; a síntese biográfica do entrevistado, dentre outras características.

As evidências bibliométricas do reconhecimento científico não estão relacionadas apenas aos autores das obras resenhas e aos entrevistados. Por exemplo, no modelo de análise a identificação de resenhistas e entrevistadores juniores pode sinalizar uma oportunidade para que pesquisadores no início de carreira incluam suas próprias vozes nos debates atuais em seus próprios campos especializados, como já referiram Hyland e Diani (2009HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. Introduction. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. (ed.). Academic evaluation: review genres in university settings. London: MacMillan, 2009.). Em suma, a análise de resenhas e entrevistas pode desempenhar um papel essencial como objetos empíricos que auxiliam na identificação de valores quantitativos e qualitativos sobre o reconhecimento científico em campos científicos específicos.

Por último, é válido assinalar algumas limitações do modelo de análise. Por exemplo, alguns indicadores - principalmente os qualitativos - nem sempre estarão presentes nas resenhas e entrevistas, pois estas diferem em relação aos seus conteúdos. A disponibilidade de fontes para coleta de informações sobre os resenhistas, resenhados, entrevistados e entrevistadores podem se constituir em empecilho ou atrasar o processo de coleta de dados da pesquisa. Isso exige não apenas uma leitura minuciosa desses gêneros textuais, como também a busca de informações biográficas, de afiliação institucional e do gênero dos resenhados, resenhistas, entrevistados e entrevistadores por meio de consultas à Plataforma Lattes de currículos do CNPq, sites pessoais e de universidades e/ou centros de pesquisa, na Wikipedia e no Google Scholar, em perfis de redes acadêmicas e sociais como Researchgate, Twitter e Facebook. Contudo, essa etapa é bastante morosa, e em alguns casos a taxa de sucesso pode ficar abaixo do desejado, pois a atualização dos dados nessas diversas plataformas de informações acadêmicas e redes sociais depende dos autores. No entanto, apesar de demorado, esse método é necessário para garantir uma melhor precisão dos dados coletados. A codificação das autorias por gênero também é um processo complexo em estudos bibliométricos, pois identificações equivocadas podem ter reflexos na acurácia dos dados. Assim, conhecer o campo de estudo dos autores das obras resenhadas e dos entrevistados contribui para uma melhor consistência teórica no momento da análise dos indicadores. Considerando que o modelo de análise foi aplicado em uma amostra de um único periódico, o grau de comparação e/ou generalização dos resultados é limitado. Isso sinaliza a necessidade de ampliação do corpus investigado em futuros estudos, para possibilitar análises longitudinais e também contribuir com uma melhor compreensão sobre o sistema de recompensas da ciência em diferentes campos de conhecimento. A despeito dessas limitações, o modelo de análise cumpre seus objetivos ao ter em mente seus desafios e apontar possíveis soluções para evidenciar o reconhecimento científico nesses gêneros textuais.

5 APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE

(....) o reconhecimento e a estima são atribuídos aos cientistas que melhor cumpriram seus papéis, àqueles que deram contribuições importantes para o estoque comum de conhecimento. (MERTON, 1979MERTON, Robert King. The sociology of science: theoretical and empirical investigations. Chicago: University of Chicago Press, 1979., p.399)

Para aplicação do modelo de análise foi selecionada uma amostra de resenhas (n=69) e entrevistas (n=9) publicadas na Revista Estudos Feministas - REF no período entre 2018 e 2020. A seguir são apresentados e analisados alguns indicadores quantitativos e qualitativos do modelo de análise relacionados aos perfis dos resenhistas, resenhados, entrevistadores e entrevistados, e também aos perfis da resenha, da obra resenhada, e das entrevistas. Esses indicadores evidenciam o reconhecimento científico presente nesses gêneros textuais.

As resenhas e entrevistas publicadas na REF apresentaram a seguinte distribuição anual: a) resenhas - 2018 (n=18); 2019 (n=26) e 2020 (n=25); b) entrevistas - 2018 (n=3); 2019 (n=4) e 2020 (n=2). Nesse período, as médias das resenhas (n=23) e das entrevistas (n=3) mantiveram-se estáveis.

Em relação ao total de autores (n=198) envolvidos nessas publicações os resultados apontaram a seguinte distribuição: resenhistas (n=81), resenhados (n=95), entrevistados (n= 9) e entrevistadores (n=13). Ao investigar os tipos de autorias verificou-se que a autoria individual está presente na maioria das obras resenhadas (n=54) e entre os resenhistas (n=57). As coautorias duplas foram identificadas nas obras resenhadas (n=6) e entre os resenhistas (n=12). A coautoria tripla vigorou entre os entrevistadores (n=2) e nas obras resenhadas (n=6). E a coautoria quádrupla foi identificada apenas em uma obra resenhada. Foi constatado que uma autora (Djamila Ribeiro) e uma coautora (Nancy Fraser) tiveram duas obras resenhadas, e que duas obras (de Raquel Solnit e Claudia Korol) foram resenhadas por uma mesma resenhista (Paula Queiroz Dutra). Além disso, uma mesma entrevistadora (Gabrielle Vivian Bittelbrun) realizou duas entrevistas (Catarina Martins e Ana Gabriela Macedo) e também foi autora de uma obra resenhada.

A identificação do gênero é um aspecto é relevante nos estudos bibliométricos, pois afeta uma série métricas tais como: produtividade científica, fomentos recebidos, ordem de autoria, etc. o que pode revelar desigualdades e vieses nas análises de autoria científica.

Embora existam sites que identificam o gênero pelo primeiro nome das pessoas - Baby Names Guess (2020), Predict Gender (2020), Genderize.io (2020) - todos possuem limitações. Nesse aspecto concordamos com Eichmann-Kalwara, Jorgensen e Weingart (2018) que o processo de identificação do gênero dos autores sem seu consentimento ou contribuição é suscetível de simplificações grosseiras. Além disso, as suposições sobre a relação entre gênero e nomes podem gerar distorção de dados. Dworkin et al (2020DWORKIN, Jordan D. et al. The extent drivers of gender imbalance in neuroscience reference lists. bioRxvi, p.1-28, Apr. 8, 2020., p.2) também chamam a atenção para o fato de que “instâncias de gênero conhecido e inferido têm o potencial de incitar preconceitos explícitos ou implícitos na citação de autores” alertando sobre as consequências da atribuição binária de gênero desconsiderando o transgênero ou não-binário. Na visão de Earhart, Risam e Bruno (2020EARHART, Amy; RISAM, Roopika; BRUNO, Matthew. Citational politics: quantitying the influence of gender on citation in Digital Scholarship in the Humanities. Digital Scholarship in the Humanities, fqaa011, p.1-14, Aug. 2020., p.6) a criação de uma categoria não-binária, “representa melhor a fluidez do gênero tantas vezes negligenciada pela bibliometria”.

O Gráfico 1 apresenta os resultados da pesquisa e permite observar que as mulheres são maioria correspondendo a 79,2% (n=156) do total, e 20,8% (n=41) são homens. Esses resultados sugerem a sub-representação dos homens nas autorias desses gêneros textuais.

Gráfico 1
Distribuição dos autores por gênero (*)

No Gráfico 1, ao considerar a representação de gênero dos autores adotamos as categorias de “homens” e “mulheres”, embora reconhecendo as limitações dessa categorização, pois como referem Ehart, Risam e Bruno (2020), seria melhor dar oportunidade aos autores de contribuir com seus dados de gênero caso desejassem. Portanto, cabe esclarecer que a identificação do gênero dos autores da REF foi obtida mediante informações contidas nos textos e no rodapé das resenhas e entrevistas respeitando a identidade de gênero declarada, embora não tenha havido consulta aos autores. Quando isso não foi suficiente, outras fontes foram consultadas tais como: websites pessoais e institucionais, programas de busca, perfis em mídias acadêmicas e sociais. Evitamos a utilização de bases de dados online que fazem previsão de gênero baseada no nome da pessoa, a despeito dos índices de precisão apresentados, por entender que os resultados não abrangem os entendimentos atuais sobre a construção de gênero.

A análise dos perfis dos resenhistas, resenhados, entrevistadores e entrevistados de acordo com a sua localização geográfica (Tabela 1) revelou a prevalência de autores do Brasil (n=138) em todas as categorias, o que não surpreende considerando que a REF é um periódico voltado para a consolidação do campo dos estudos feministas e de gênero no país, conforme declarado no website da revista. Pode-se notar ainda a presença de autores (n= 19) de outros países da América do Sul. Entre os autores da América do Norte(n=20) prevaleceram aqueles dos EUA. Da Europa (n= 17) destacaram-se os autores oriundos de Portugal (n=6). Além desses, também foram identificados autores da Oceania (n=2), África (n=1) e Ásia (n=1).

Esses resultados demonstram que na REF as resenhas e entrevistas têm sido um espaço expressivo de divulgação de estudos feministas e gênero provenientes das vozes da IberoAmérica e de outras com origem geográfica diversificada.

Tabela 1
Distribuição dos autores por países

Os indicadores de formação dos autores confirmaram os achados de Sanz (2009SANZ, Rosa Lorés. (Non-)critical voices in the reviewing of history discourse: a crosscultural study of evaluation. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana (ed). Academic evaluation: review genres in university settings. London: Palgrav MacMillan, 2009.) sobre o perfil dos resenhistas, ao apontar que as resenhas publicadas na Espanha tendiam a ser deixadas nas mãos de estudantes. Ou seja, os resultados obtidos revelaram que a maioria dos resenhistas (n=44) da REF são pesquisadores juniores, isto é, aqueles que ainda estão em formação e realizam cursos de graduação (n=1), mestrado (n=17) e doutorado (n=26). Com escores próximos foram identificados resenhistas (n=37) que já realizaram pós-graduação nos níveis doutorado (n=36) e mestrado (n=1) representando 45,7% dessa categoria. Inversamente, a maioria dos resenhados são doutores (n=74) e mestres (n=6) e os resenhados que são pesquisadores juniores (n=3) representaram 3,2% do total.

Entre os entrevistadores (n=13) o cenário se repete com a maioria tendo finalizado o doutorado (n=7) e mestrado (n=1), e os demais (n=5) são pesquisadores juniores ainda em fase de obtenção de titulação para a graduação, mestrado e doutorado. Entre os entrevistados (n=9) a maioria (n=6) já finalizou o doutorado, não havendo pesquisadores juniores nessa categoria.

Também se observou a presença de profissionais (n=15) de várias áreas entre os resenhados (n=11), entrevistados (n=3) e entrevistador (n=1) distribuídos entre escritoras (n=6), jornalistas (n=2), psicólogos (n=2), advogada (n=1), arquiteta (n=1), educadora popular (n=1), fisioterapeuta (n=1) e psicanalista (n=1).

Entre as várias instituições (n=89) nas quais os autores (n=198) estão vinculados prevaleceram as universidades (n=78) de vários países (n=16).

Tabela 2
Vinculação institucional dos autores por países

Entre as instituições brasileiras a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) alcançou o maior escore de autores (n=37), com resenhistas (n=25), resenhados (n=6) e entrevistadores (n=6) vinculados à instituição sede da REF, denotando que essa é um celeiro de autores que contribuem com a revista para a realização de resenhas e entrevistas. Dentre os autores (n=14) vinculados às universidades dos EUA (n=12) destacaram-se aqueles da The New School for Social Research (n=3). Nas universidades de países europeus, sobressaíram os autores (n=4) das universidades de Portugal e os autores (n=5) de universidades da Espanha. Outros autores (n=12) apresentaram vinculação a Associações (n=3), órgãos governamentais e de fomento (n=5), organizações não governamentais (n=2) e imprensa (n=2), isto é, instituições (n=10) de países do Brasil (n=5), EUA (n=3), Uruguai (n=2) e Argentina (n=1). Os autores aposentados são do Brasil (n=2), Moçambique (n=1) e Reino Unido (n=1), e os autores sem vínculo são do Brasil (n=7), EUA (n=2), Reino Unido (n=1), Alemanha (n=1), Argentina (n=1), Uruguai (n=1).

Na Tabela 3 são apresentados outros indicadores relacionados às resenhas (n=69).

Tabela 3
Indicadores relacionados às resenhas

Verificou-se que a maioria (n=62) das resenhas segue a recomendação da REF sobre a necessidade de as obras terem sido publicadas no máximo há dois anos no Brasil e quatro anos no exterior. Contudo, existe uma minoria (n=5) de resenhas que ultrapassou esses tempos.

Quanto aos idiomas das obras resenhadas observou-se a prevalência de obras em português (n=38) e traduzidas para o português (n=14) representando juntas 75,4% do total. Essas obras (n=52) em português foram publicadas no Brasil (n=51) e Portugal (n=1). Em contrapartida, apenas 24,6% (n=17) do total das obras foram publicadas nos idiomas espanhol (n=9) e inglês (n=8). Dentre as obras publicadas em países da América do Norte, destacam-se aquelas publicadas nos EUA (n=6). Nos países da Europa sobressaem as obras publicadas na Espanha (n=4). Vale observar que uma das obras em inglês resenhada em 2020 foi publicada nos EUA em 2016, mas trata-se de um texto originalmente escrito em 1974 por Marilyn Strathern que permaneceu arquivado por quatro décadas e só então veio à luz. Como refere a resenhista, este “pode ser considerado uma espécie de clássico extraviado do feminismo setentista, visto que mesmo com o passar do tempo, aborda com vívida relevância contemporânea questões sobre gênero e desigualdade” (SANDER, 2020SANDER, Vanessa. Before and after gender: o ‘livro perdido’ de Marilyn Strathern. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 3, e69914, p.1-4, 2020., p. 1).

A análise das obras resenhadas revelou que a minoria (n=12) é oriunda de pesquisas acadêmicas para a obtenção dos graus de mestrado (n=3) e doutorado (n=8) e resultante de pesquisa de pós-doutorado (n=1). Dentre essas destacam-se três obras que foram premiadas. Barros (2016) recebeu o Prêmio Gilberto Velho de Teses (UFRJ) pela pesquisa sobre arte feminista brasileira. O estudo de Cubas (2018CUBAS, Caroline Jaques. Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018.) recebeu o prêmio de pesquisa Memórias Reveladas concedido pelo Arquivo Nacional e o Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, e retrata a atuação de freiras frente ao regime militar brasileiro entre os anos 1960 e 1985. Como realçaram Pellegrini e Boen (2020PELLEGRINI, Elizabete; BOEN, Mariana Tordin. “Quem são as ‘vítimas de verdade’ nas delegacias da mulher?”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 3, p.1-4, 2020., p.1), nessa obra “a historiadora visa realocar essas mulheres como sujeitos históricos, destacando a participação efetiva de resistência à ditadura civil-militar”. A obra de Lins (2018LINS, Beatriz Accioly. A lei nas entrelinhas: a Lei Maria da Penha e o trabalho policial. São Paulo: Editora Unifesp, 2018.) recebeu o prêmio da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) e investigou como a criação da Lei no. 11.430/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, teve impacto no funcionamento das Delegacias de Defesa da Mulher. Como refere Silva (2019SILVA, Kelly Caroline da. “As freiras que resistiram: atuação de religiosas durante a ditadura militar no Brasil”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 3, e60625, 2019., p. 1), essa obra “investigou a lei nas ‘entrelinhas’ do cotidiano das profissionais que manuseiam e aplicam a normativa, procurando explicar escolhas, dilemas e procedimentos que definem os laços entre norma e prática”.

Ao considerar a tipologia das obras resenhadas verificou-se que a maioria são ensaios (n=29) de renomados autores do campo dos estudos feministas e de gênero do exterior (n=18) e do Brasil (n=11), tais como Mary Beard, Sylvia Bashevkin, Seyla Benhabib, Judith Butler, Nancy Fraser, Marilyn Strathern, Débora Diniz, Mirian Goldenberg, Flávia Birolli, juntamente com as obras derivadas de pesquisas acadêmicas (n=10) representaram 56,5% do total das resenhas. Essa modalidade de gênero textual acadêmico é bastante usual nas áreas de Ciências Humanas, e consiste na exposição aprofundada de ideias e pontos de vista pessoais sobre determinado tema, com conclusões originais.

As coletâneas (n=18) e antologias (n=2) compuseram 28,9% do total de resenhas contemplando autorias brasileiras (n=12) e estrangeiras (n=8) com destaque para obras que podem ser consideradas clássicas do pensamento feminista e de gênero, por exemplo, a antologia organizada por Angela Davis (2016DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Trad. Heci Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016.) que reúne diversos estudos tendo como eixo condutor o racismo e o sexismo na dinâmica da exclusão capitalista; a coletânea de artigos sobre masculinidades publicados por Raewyn Connell (2016CONNELL, Raewyn. Gênero em termos reais. Trad. Marília Moschovich. São Paulo: nVersos, 2016.) ao longo de sua carreira; e a coletânea de artigos que retratam 50 anos de mobilizações, conquistas e desafios feministas na Argentina, Brasil e Chile, organizada por Eva Alterman Blay e Lúcia Avelar (2017BLAY, Eva Alterman; AVELAR, Lúcia. 50 anos de feminismo: Argentina, Brasil e Chile: a construção das mulheres como atores políticos e democráticos. São Paulo: Edusp, 2017.). As demais tipologias das obras resenhadas representaram 17,4% (n=10) do total e reúnem diversos gêneros textuais, tais como obras literárias de ficção, romance, poesia e literatura infanto-juvenil, além de biografias, entre elas a do sociólogo Herbert Daniel (GREEN, 2018GREEN, James Naylor. Revolucionário e gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel. Trad. de Marília Sette Câmara, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.), e memórias, como as de Esther Newton (2018NEWTON, Esther. My butch career: a memoir. Durham: Duke University Press, 2018.), antropóloga cultural reconhecida pelo seu pioneirismo no campo da etnografia de comunidades gays e lésbicas nos Estados Unidos.

Observou-se que a maior parte (n=39) das resenhas apresentou uma síntese biográfica do(s) autor(es) resenhados, e as demais (n=30) não continham esse tipo de informação, contrariando, portanto, as diretrizes para autores da REF. Por sua vez, observou-se que a maioria das resenhas (n=35) ofereceram perspectivas críticas sobre a obra resenhada, contudo, resenhas com um escore próximo (n=34) se limitaram a fazer um resumo da obra.

A forte presença de citações (n= 280) foi notada na maioria das resenhas (n=59). Em contrapartida, poucas resenhas (n=10) não apresentaram citações. Esses resultados corroboram o argumento de Nicolaisen (2002bNICOLAISEN, Jeppe. The scholarliness of published peer reviews: A bibliometric study of book reviews in selected social science fields. Research Evaluation, v.11, n.3, p.129-140, 2002b.) de que as citações em resenhas de livros oferecem mais confiabilidade ao texto, quando comparadas com aquelas que apenas se referem à obra revisada. Ou seja, ao utilizarem citações os resenhistas lançam mão de um importante recurso para apoiar seus pontos de vista expressos nas obras resenhadas e também para relacionar estas com outras obras no mesmo campo de conhecimento.

Outro aspecto das citações e resenhas diz respeito à indexação da obra resenhada no Google Books, um banco de dados online que disponibiliza visualização completa ou parcial de livros, e permite localizar palavras-chaves, informações bibliográficas e citações. Como referem Kousha e Thelwall (2017THELWALL, Mike. Reader and author gender and genre in Goodreads. Journal of Librarianship & Information Science, v.51, n.2, p.403-430, 2017.), o Google Books indexa um grande número de livros acadêmicos e é uma importante fonte de citações de livros. Para os autores, na área de Ciências Humanas as citações do Google Books são mais numerosas do que as do Book Citation Index (BKCI) constituindo-se em um indicador de impacto particularmente útil para disciplinas baseadas em livros. Os resultados mostraram que 63,8% (n=44) das obras resenhadas estão indexadas no Google Books incluindo as obras com visualização total (n=24) e parcial (n=20), ao passo que as demais 36,2% (n=25) estão ausentes

Verificou-se que a maioria (n=42) das obras já foram resenhadas em outros periódicos do Brasil (n=31) e do exterior (n=11). Esses achados sugerem que resenhas publicadas em mais de um periódico podem conferir a essas obras maior visibilidade e possibilidade de serem citadas. Em contrapartida 39,1% (n=27) das obras foram resenhadas apenas na REF. Sobre a citação na Web of Science (WoS) dos autores resenhados, os resultados revelaram que 51,6% (n=49) receberam citações nessa base, com destaque para os escores de Nancy Fraser (n=5.085) e Marilyn Strathern (n=1.844). Entre as autoras brasileiras resenhadas Miriam Pillar Grossi (n=833) e Rita Schmitt (n=254) receberam o maior número de citações.

Na Tabela 4 são apresentados alguns indicadores sobre as entrevistas, conforme o modelo de análise.

Tabela 4
Indicadores relacionados às entrevistas, entrevistadores e entrevistados

Embora nas instruções aos autores a REF não estabeleça que as entrevistas a serem publicadas tenham de ser recentes, verificou-se que o tempo decorrido entre a realização e a publicação da maioria (n=7) das entrevistas foi entre um e quatro anos. Apenas duas entrevistas excederam em muito esse tempo, isto é, ocorreram há treze e 38 anos desde a publicação. A primeira aconteceu no verão de 1981 por meio de uma troca de correspondências entre Christie McDonald, professora de Literatura Comparada na Universidade de Yale, e o filósofo Jacques Derrida. Justificou-se a tradução e republicação dessa entrevista na REF considerando o objetivo de “ampliar a leitura e fomentar a recepção do pensamento da desconstrução no âmbito filosófico brasileiro” (GRENHA; RODRIGUES, 2019GRENHA, Tatiana; RODRIGUES, Carla. “’Coreografias’: entrevista com Jacques Derrida”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 1, e50638, 2019., p. 1). Por sua vez, a entrevista publicada em 2019 com a advogada Therezinha Zerbini ocorreu em 2006 e foi realizada por Ana Rita Fonteles para sua tese de doutorado. De acordo com o editorial da REF, sua publicação foi justificada por ser considerada “um importante documento da memória de parte fundamental da resistência feminina à ditadura militar no país” (LAGO et. al., 2019LAGO, Mara Coelho de Souza; WOLFF, Cristina Scheibe; MINELLA, Luzinete Simões; RAMOS, Tânia Regina Oliveira. Não soltaremos as mãos. Revista Estudos Feministas, v. 27, n.1, 2019., p. 3).

Quanto aos locais de realização das entrevistas três ocorreram durante o 13º. Congresso Mundos de Mulheres e Seminário Internacional Fazendo Gênero 11, realizado em 2017 na Universidade Federal de Santa Catarina, denotando que a comunicação científica nos colégios invisíveis se constitui em uma importante oportunidade para o contato vis-à-vis entre os pares de pesquisa, conforme sustentam Hayashi e Guimarães (2016HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; GUIMARÃES, Vera Aparecida Lui. A comunicação da ciência em eventos científicos na visão dos pesquisadores. Em Questão, v.22, n.3, p. 161-183, set./dez. 2016. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/63251/38662. Acesso em: 20 abr. 2020.
https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/...
).

Ao analisar as metodologias adotadas nas entrevistas (n=9) os resultados revelaram igual distribuição entre três tipos. As entrevistas biográficas (n=3) foram realizadas com a cartunista brasileira Cecília Alves Pinto, mais conhecida como Ciça, a escritora moçambicana Paulina Chiziane e a advogada Therezinha Zerbini. As entrevistas com especialistas (n=3) foram aquelas realizadas com as pesquisadoras portuguesas Ana Gabriela Macedo, Catarina Martins e com a escritora brasileira Conceição Evaristo. E as entrevistas cientificamente informadas (n=3) foram realizadas com a pesquisadora Núria Pomar Beltrán, da Universidad de Barcelona, com o filósofo franco-argelino Jacques Derrida e com a maestrina brasileira Ligia Amadio, regente titular da Orquestra Filarmônica de Montevideo.

Embora não seja uma exigência da REF para que as entrevistas apresentem uma síntese biográfica das(os) entrevistadas(os), a maioria (n=8) expôs um breve perfil contribuindo para que o leitor possa situar a trajetória acadêmica e profissional dos entrevistados no contexto da temática abordada na entrevista. A única exceção foi a entrevista com Jacques Derrida, embora as tradutoras pudessem ter apresentado um resumo biográfico do filósofo à guisa de esclarecimento para leitores neófitos no campo da Filosofia.

A existência de relação prévia entre entrevistadores e entrevistados foi observada na minoria (n=2) das entrevistas. Por exemplo, Christie McDonald e Jacques Derrida já haviam se encontrado em um congresso na Universidade de Montreal em 1979 e desse encontrou originou uma publicação conjunta (DERRIDA; LEVESQUE; MCDONALD, 1982DERRIDA, J. L’oreille de l’autre: otobiographies, transferts, traductions: textes et débats avec Jacques Derrida, sous la direction de Claude Lévesque et Christie McDonald. Montréal: VLB, 1982.). No caso da entrevista com a maestrina Ligia Amadio, uma das entrevistadoras referiu que já a conhecia, pois na infância estudaram juntas e se reencontraram mais tarde quando ingressaram no ensino superior na mesma universidade (PINI; ARISI; CARAMORI, 2020PINI, Marcela; ARISI, Barbara Maisonnave; CARAMORI, Alessandra Paola. “La primera mujer directora de la Orquesta Filarmónica de Montevideo: entrevista con Ligia Amadio”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 2, p.1-12, 2020.). Todas as entrevistas também apresentaram uma contextualização da temática tratada, bem como incluíram no texto citações (n=45) de obras das(os) entrevistadas(os) e de outros autores. Sobre as citações dos entrevistados na Web of Science, os resultados apontaram que Jacques Derrida (n= 1866), Ligia Amadio (n=194) e Conceição Evaristo (n=6) foram os únicos que receberam citações. Os demais (n=6) não foram citados na WoS.

Por último, mas não menos importante, são apresentados alguns indicadores (Quadro 2) que expressam os valores atribuídos às resenhas e entrevistas, conforme o modelo de análise. Vale observar o caráter qualitativo desses indicadores, uma vez que são baseados no conteúdo das resenhas e entrevistas e foram extraídos dos textos completos e dos títulos desses gêneros textuais publicados na REF.

Quadro 2
Valores atribuídos às resenhas e às entrevistas

Nem todos os valores que podem ser atribuídos às resenhas e entrevistas estavam presentes na amostra desses gêneros textuais publicados na REF. Por exemplo, nas entrevistas, não foram identificadas perguntas que contemplassem o público leigo e o especializado. Contudo, como realça Alvesson (2011ALVESSON, Matts. Interpreting interviews. London: Sage, 2011.) é importante estar ciente da gama limitada do que pode ser capturado por meio de entrevistas, uma vez que a situação de entrevista é um evento complexo do ponto de vista social e linguístico. Também não foram identificadas nas resenhas, passagens que pudessem sugerir uma tentativa de persuasão do leitor sobre algum aspecto da obra resenhada. Esses resultados demonstram que o modelo de análise proposto deve ser entendido como flexível, uma vez que nem sempre todos os indicadores estarão presentes no corpus investigado.

5 CONCLUSÕES

Nesse fluxo de muitos textos que vêm e vão, nesse movimento de leituras a teorias, a história e a crítica se escrevem. ( RAMOS, LAGO, MINELLA, 2018 RAMOS, Tânia Regina; LAGO, Mara Coelho de Souza; MINELLA, Luzinete Simões. Revista Estudos Feministas: 26 anos de publicação. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.26, n.2, e26021, 2018. ).

O modelo de análise, elaborado por meio de uma abordagem multidisciplinar baseada em diferentes tradições de pesquisa, como a Bibliometria, a Sociologia da Ciência, e a Linguistica, e os resultados obtidos na aplicação desse modelo espelharam o fato de que o reconhecimento científico está presente nas resenhas e entrevistas, conforme apontaram os resultados da análise de uma amostra desses gêneros textuais publicados na REF. Entre os indicadores de reconhecimento científico revelados na análise podem ser destacados, por exemplo, as resenhas de obras premiadas, a atuação de pesquisadores juniores como resenhistas e entrevistadores, a presença de pesquisadores de destaque no campo dos estudos feministas e de gênero entre os resenhados, resenhistas, entrevistados e entrevistadores, e a inserção de citações de outras obras para fundamentar as resenhas e entrevistas, entre outros. De certa forma, se tomados por uma perspectiva bourdieusiana, esses indicadores podem sinalizar um aumento do estoque de capital científico dos atores envolvidos nesse processo de comunicação científica.

Considerando as singularidades desses gêneros textuais sugere-se que a aplicação desse modelo em futuros estudos possa ser enriquecida com a seleção de um corpus de pesquisa diversificado, mediante a seleção de periódicos de diferentes áreas de conhecimento, como forma de permitir comparações entre os achados. Também é válido sublinhar que a análise das citações presentes nas resenhas e entrevistas da REF podem ampliar o escopo dos resultados, ao revelar, por exemplo, o argumento de Costa e Alvarez (2013, p. 579) de que “as práticas de citação são responsáveis pela formação de cânones acadêmicos” e como “um cânone feminista é construído por um mercado de citações transnacional”.

Finalmente, para além de eleger como objeto de estudo as resenhas e entrevistas no campo da Ciência da Informação, propor e aplicar um modelo de análise desses gêneros textuais, a pesquisa demonstrou que as resenhas e entrevistas podem ocupar, ao lado das citações, um lugar de destaque no processo de comunicação científica e no sistema de recompensas da ciência.

Agradecimentos

Ao CNPq pela concessão da Bolsa de Produtividade em Pesquisa que possibilitou a realização deste estudo, e aos revisores da RDBCI pelos seus valiosos comentários.

REFERÊNCIAS

  • ALVESSON, Matts. Interpreting interviews. London: Sage, 2011.
  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
  • BAUER, Martin, GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes; 2002.
  • BLACK, Kimberly. Reviewing the unspeakable: an analysis of book-reviewing practices of Afro American women's writings of the 1980s. Black Women, Gender & Families, v.5, n.1, p.1-16, 2011.
  • BLAY, Eva Alterman; AVELAR, Lúcia. 50 anos de feminismo: Argentina, Brasil e Chile: a construção das mulheres como atores políticos e democráticos. São Paulo: Edusp, 2017.
  • BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996. p. 74-82.
  • BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Trad. Denice Barbara Catani. São Paulo: Ed. UNESP, 2004.
  • BUNGE, Mario. Teoria e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1974.
  • CAMARGO, Juliana Ravaschio Franco de; HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini. Coautoria e participação feminina em periódicos brasileiros da área de cirurgia: estudo bibliométrico. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v.15, n.1, p.148-170, jan./abr. 2017. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/8646289 Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/8646289
  • CHAMPION, Dean, MORRIS, Michel. A content analysis of book reviews in the AJS, ASR, and Social Forces. American Sociological Review, v.78, n.5, p.1256-1265; 1973.
  • CHI, Pei-Shan; JEURIS, Wouter; THIJS, Bart; GLÄNZEL, Wolfgang. Book bibliometrics: a new perspective and challenge in indicator bulding based on the Book Citation Index. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SCIENTOMETRICS AND INFORMETRICS, 15., 2015. [S.l.]: Proceedings of the..., 2015. p.1161-1169.
  • CHUA, Alton; BANERJEE, Snehasish. Understanding review helpfulness as a function of reviewer reputation, review rating, and review depth. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.66, n.2, p.354-362, 2015.
  • CLARIVATE ANALYTICS: Putting books back into the library: completing the research picture: The Book Citation IndexSM 2020. Disponível em: http://wokinfo.com/products_tools/multidisciplinary/bookcitationindex/. Acesso em: 02 abr 2020.
    » http://wokinfo.com/products_tools/multidisciplinary/bookcitationindex
  • CONNELL, Raewyn. Gênero em termos reais. Trad. Marília Moschovich. São Paulo: nVersos, 2016.
  • COSTA, Claudia; ALVAREZ, Sonia. A circulação das teorias feministas e os desafios da tradução. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n.2, p. 579-586, maio/ago.2018.
  • CRONIN, Blaise; LA BARRE, Kathryn. Mickey Mouse and Milton: book publishing in the humanities. Learned Publishing, v.17, p.85-98, 2004.
  • CUBAS, Caroline Jaques. Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018.
  • CZARNIAWSKA, Barbara. Narratives in social science research. Thousand Oaks: Sage, 2004.
  • DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Trad. Heci Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016.
  • DELORY-MOMBERGER, Christine. Abordagens metodológicas na pesquisa biográfica. Revista Brasileira de Educação, v. 17, n.51, p. 523-536, set./dez. 2012.
  • DERRIDA, J. L’oreille de l’autre: otobiographies, transferts, traductions: textes et débats avec Jacques Derrida, sous la direction de Claude Lévesque et Christie McDonald. Montréal: VLB, 1982.
  • DILEVKO, Juris et al. Investigating the value of scholarly book reviews for the work of academic reference librarians. Journal of Academic Librarianship, v.32, n.5, p.452-466, 2006.
  • DIODATO, Virgil. Impact and scholarliness in arts and humanities book reviews: a citation analysis. ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN SOCIETY FOR INFORMATION SCIENCE, 47., 1984. Proceedings of the..., 1984. p.217-221.
  • DWORKIN, Jordan D. et al. The extent drivers of gender imbalance in neuroscience reference lists. bioRxvi, p.1-28, Apr. 8, 2020.
  • EAST, John. The scholarly book review in the Humanities: an academic Cinderella?” Journal of Scholarly Publishing, v.43, n.1, p.52-67, 2011.
  • EARHART, Amy; RISAM, Roopika; BRUNO, Matthew. Citational politics: quantitying the influence of gender on citation in Digital Scholarship in the Humanities. Digital Scholarship in the Humanities, fqaa011, p.1-14, Aug. 2020.
  • EICHMANN-KALWARA, Nickoal; JORGENSEN, Jeana; WEINGART, Scott. Representation in digital humanities conferences (2000-2015). In: LOSH, Elisabeth; WERNIMONT, Jacqueline. (ed.). Bodies of information: intersectional feminism and digital humanities. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2018. p.72-92.
  • ELSEVIER. Scopus content coverage guide: update January 2016. Disponível em: https://www.elsevier.com/solutions/scopus/how-scopus-works/content Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://www.elsevier.com/solutions/scopus/how-scopus-works/content
  • FLECK, Christian; MERTON, Robert King. In: WRIGHT, James (ed.) International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences. Burlington: Elsevier Science, 2015. p.246-251.
  • FONTES, Baruc Correia. A entrevista biográfica na sociologia. Revista Sociais & Humanas, v.32, n.3, p. 83-97, 2019.
  • GLÄNZEL, Wolfgang; THIJS, Bart; CHI, Pei-Shan. The challenges to expand bibliometric studies from periodical literature to monographic literature with a new data source: the book citation index. Scientometrics, v.109, n.3, p.2165-2179, Dec. 2016.
  • GLÄSER, Jochen; LAUDEL, Grit. On interviewing “good” and “bad” experts. In: BOGNER, Alexander; LITTIG, Beate; MENZ, Wofgang. (ed.). Interviewing Experts. London: Palgrave Macmillan, 2009. p. 117-137.
  • GLÄSER, Jochen; LAUDEL, Grit. Experteninterviews und qualitative inhaltsanalyse als instrumente rekonstruierender untersuchungen. Wiesbaden: Springer, 2010.
  • GLÄSER, Jochen; LAUDEL, Grit. A bibliometric reconstruction of research trials for qualitative investigations of scientific innovations. Historical Social Research, v.40, n.3, p. 299-303, 2015.
  • GIMÉNEZ-TOLEDO, Elea; MAÑANA-RODRIGUEZ, Jorge; TEJADA-ARTIGAS, Carlos Miguel. Scholarly book publishing: its information sources for evaluation in the social sciences and humanities. El profesional de la información, v.24, n.6, p.705-715, nov.-dic. 2015.
  • GORRAIZ, Juan; PURNELL, Phillip; GLÄNZEL, Wolfgang. Opportunities for and limitations of the Book Citation Index. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.64, n.7, p.1388-1398, 2013.
  • GORRAIZ, Juan; GUMPENBERGER, Christian; PURNELL, Phillip. The power of book reviews: a simple and transparent enhancement approach for book citation indexes. Scientometrics, v.98, n.2, p.841-852, 2014.
  • GRENHA, Tatiana; RODRIGUES, Carla. “’Coreografias’: entrevista com Jacques Derrida”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 1, e50638, 2019.
  • GREEN, James Naylor. Revolucionário e gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel. Trad. de Marília Sette Câmara, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
  • HARTLEY, James. Book reviewing in the BJET: a survey of BJET’s referees’ and writers’ views. British Journal of Educational Technology, v.36, n.5, p.897-905, 2005.
  • HARTLEY, James. Reading and writing book reviews across disciplines. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.57, n.9, p.1194-1207, 2006.
  • HARTLEY, James; HO, Yu-Shan. The decline and fall of book reviews in psychology: a bibliometric analysis. Scientometrics, v.112, n.1, p.655-657, Jul. 2017.
  • HARVEY, Melinda; LAMOND, Julieanne. Taking mesure of gender disparity in Australian book Reviewing as a field, 1985 and 2013. Australian Humanities Review, v.60, p.84-107, 2016.
  • HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini et al. Gênero nos estudos bibliométricos apresentados nos ENANCIBs (1996-2016). Revista ACB, v.23, n.1, p. 54-68, 2018. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1396/pdf Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1396/pdf
  • HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini et al. Indicadores da participação feminina em ciência e tecnologia. Transinformação, Campinas, SP, v.19, n.2, p. 169-187, maio/ago.2007. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S0103-37862007000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S0103-37862007000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
  • HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini; GUIMARÃES, Vera Aparecida Lui. A comunicação da ciência em eventos científicos na visão dos pesquisadores. Em Questão, v.22, n.3, p. 161-183, set./dez. 2016. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/63251/38662 Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/63251/38662
  • HICKS, Diana. The four literatures of social science. In: MOED, Henk; GLÄNZEL, Wolfgang; SCHMOCH, Ulrich. Handbook of quantitative science and technology research. Dordrecht: Kluwer Academic Pub., 2004. p.473-496.
  • HYLAND, Ken Academic discourse: english in a global context. London: Continuum, 2009.
  • HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. Introduction. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana. (ed.). Academic evaluation: review genres in university settings. London: MacMillan, 2009.
  • KOUSHA, Kayvan; THELWALL, Mike. Are Wikipedia citations importante evidence of the impact of the Scholarly articles and books? Journal of the Association for Information Science and Technology, v.68, n.3, p. 762-779, 2017.
  • LAGO, Mara Coelho de Souza; WOLFF, Cristina Scheibe; MINELLA, Luzinete Simões; RAMOS, Tânia Regina Oliveira. Não soltaremos as mãos. Revista Estudos Feministas, v. 27, n.1, 2019.
  • LAUDEL, Grit; GLÄSER, Jochen. Interviewing scientists. Science, Technology & Innovation Studies, v.3, n. 2, p. 91-111, 2007.
  • LINDHOLM-ROMANTSCHUK, Ylva. Scholarly book reviewing in the social sciences and humanities: the flow of ideas within and among disciplines. Westport: Greenwood Press, 1998.
  • LINS, Beatriz Accioly. A lei nas entrelinhas: a Lei Maria da Penha e o trabalho policial. São Paulo: Editora Unifesp, 2018.
  • LIU, Weishu; DING, Yishan; GU, Mengdi. Book reviews in academic journals: patterns and dinamics. Scientometrics, v.110, n.1, p.355-364, 2017.
  • MACHADO, Antonio. Poesías completas. 12.ed. Madrid: Espasa-Calpe, 1969.
  • MCCORKLE, Suzanne. Gender and book reviews in SCA Publications: 1980-1989. Boise: Boise State University, 1990. (Technical Report).
  • MCGINTY, Stephan; MOORE, Anne. Role of gender in reviewers’ appraisals of quality in political science books: a content analysis. Journal of Academic Librarianship, v.34, n.4, p.288-294, July 2008.
  • MERTON, Robert King. La sociologia de la ciencia. Madrid: Alianza Editorial, 1985.
  • MERTON, Robert King. The sociology of science: theoretical and empirical investigations. Chicago: University of Chicago Press, 1979.
  • MOORE, Michael. Discrimination or favoritism? Sex bias in book reviews. American Psychologist, v.33, n.10, p.936-938, Oct. 1978.
  • MORENO, Ana; SUÁREZ, Lorena. Managing academic conflict in English and Spanish academic book reviewing: an intercultural rethoric study. In: INTERLAE CONFERENCE, 2008, Zaragoza, 2008. [S.l.]: Proceedigns of…, 2008.
  • NANOWITZ, Allen; CARLO, Paula. Evaluating review content for book selection: an analysis of American history reviews in Choice, American Historical Review, and Journal of American History. College & Research Libraries, v.58, n.4, Jul. 1997.
  • NEWTON, Esther. My butch career: a memoir. Durham: Duke University Press, 2018.
  • NICOLAISEN, Jeppe. The J-shaped distribution of citedness. Journal of Documentation, v.58, n.4, p.383-395, 2002a.
  • NICOLAISEN, Jeppe. The scholarliness of published peer reviews: A bibliometric study of book reviews in selected social science fields. Research Evaluation, v.11, n.3, p.129-140, 2002b.
  • OBENG-ODOOM, Franklin. Why write book reviews? Australian Universities’ Review, v.56, n.1, p.78-82, 2014.
  • PALLARES-BURKE, Maria Lucia. As muitas faces da história: nove entrevistas. São Paulo: EdUNESP, 2000.
  • PELLEGRINI, Elizabete; BOEN, Mariana Tordin. “Quem são as ‘vítimas de verdade’ nas delegacias da mulher?”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 3, p.1-4, 2020.
  • PINI, Marcela; ARISI, Barbara Maisonnave; CARAMORI, Alessandra Paola. “La primera mujer directora de la Orquesta Filarmónica de Montevideo: entrevista con Ligia Amadio”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 2, p.1-12, 2020.
  • PIZZANI, Luciana et al. A arte da pesquisa bibliográfica na busca do conhecimento. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 10, n.2, p. 5366, jul./dez. 2012. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/ article/view/1896/pdf_28 Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/ article/view/1896/pdf_28
  • RAMOS, Tânia Regina; LAGO, Mara Coelho de Souza; MINELLA, Luzinete Simões. Revista Estudos Feministas: 26 anos de publicação. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.26, n.2, e26021, 2018.
  • REVISTA ESTUDOS FEMINISTAS (REF) Edições anteriores. 2020a. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/issue/archive Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/issue/archive
  • REVISTA ESTUDOS FEMINISTAS (REF). Instruções aos autores. 2020b. Disponível em https://www.scielo.br/revistas/ref/pinstruc.htm Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://www.scielo.br/revistas/ref/pinstruc.htm
  • REVISTA ESTUDOS FEMINISTAS (REF). Sobre nós. 2020c. Disponível em: https://www.scielo.br/revistas/ref/paboutj.htm Acesso em: 20 abr. 2020.
    » https://www.scielo.br/revistas/ref/paboutj.htm
  • RIGOLIN, Camila Carneiro Dias; HAYASHI, Carlos Roberto Massao; HAYASHI, Maria Cristina Piumbato Innocentini. Métricas da participação feminina na ciência e na tecnologia no contexto dos INCTs: primeiras aproximações. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.9, n.1, p.143-170, maio 2013. Disponível em: http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3400/ 2987 Acesso em: 20 abr. 2020.
    » http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3400/ 2987
  • SABOSIK, Patricia. Scholarly review and the role of Choice in the postpublication review process. Book Research Quarterly, v.25, p.10-18, 1988.
  • SALAGER-MEYER, Françoise; ARIZA, María Angéles Alcaraz; BERBESÍ, Maryelis Pabón. Collegiality, critique and construction of scientific argumentation in medical book reviews: a diachronic approch. Journal of Pragmatics, v.39, p.1758-1774, 2007.
  • SANDER, Vanessa. Before and after gender: o ‘livro perdido’ de Marilyn Strathern. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 3, e69914, p.1-4, 2020.
  • SANZ, Rosa Lorés. (Non-)critical voices in the reviewing of history discourse: a crosscultural study of evaluation. In: HYLAND, Ken; DIANI, Giuliana (ed). Academic evaluation: review genres in university settings. London: Palgrav MacMillan, 2009.
  • SCHEPIS, Daniel; PURCHASE, Sharon; BRENNAN, David Ross. At 21: The Journal of Business-to-Business Marketing: Book review section with an analysis of book reviews rendered: looking toward the future. Journal of Business-to-Business Marketing, v.22, n.12, p.125-144, 2015.
  • SCHUBERT, Andras et. Quantitative analysis of a visible tip of the peer review iceberg: book reviews in Chemistry. Scientometrics, v.6, n.6, p.433-443, 1984.
  • SICA, Alan. The wondrous world of online book reviewing. Contemporary Sociology, v.40, n.3, p.261-263, May. 2011.
  • SILVA, Kelly Caroline da. “As freiras que resistiram: atuação de religiosas durante a ditadura militar no Brasil”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 3, e60625, 2019.
  • SPINK, Amanda; ROBINS, David; SCHAMBER, Linda. Use of scholarly book reviews: implications for electronic publishing and scholarly communication. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.49, n.4, p.364-374, 1998.
  • STALLWORTHY, Mark. The review in the environmental law discourse. Journal of Environmental Law, v.25, n.3, p.547-562, 2013.
  • STEPANOV, Boris. Crisis of the genre: book reviews in studies of scholarly communication. Laboratorium, v.8, n.1, p.82-106, 2016.
  • STORER, Norman William. Prefatory note. In: MERTON, R. The Sociology of science: theoretical and empirical investigations.Chicago: University of Chicago Press, 1979. p.281-285.
  • STOWE, Steven. Thinking about reviews. The Journal of the American History, v.78, n.2, p.591-595, Sep.1991.
  • TESTA, James. The book selection process for the Book Citation Index in Web of Science. 2012. Disponível em: http://wokinfo.com/media/pdf/BKCI-SelectionEssay_web.pdf Acesso em abril de 2020.
    » http://wokinfo.com/media/pdf/BKCI-SelectionEssay_web.pdf
  • THELWALL, Mike. Reader and author gender and genre in Goodreads. Journal of Librarianship & Information Science, v.51, n.2, p.403-430, 2017.
  • TORRES-SALINAS, Daniel et al. Analyzing the citation characteristics of books: edited books, book series and publisher types in the book citation index. Scientometrics, v.98, p.2113-2127, 2014.
  • TSE, Polly; HYLAND, Ken. So what is the problem this book adresses? Interactions in academic book reviews. Text & Talk, v.26, n.6, p.767-790, 2006.
  • USMANI, Meena; SHRI, Madhu. Bibliometric analysis of book reviews published in Indian Journal of Gender Studies (1994-2014). International Journal of Library Information Network and Knowledge, v.1, n.1, p.1-16, Feb. 2016.
  • VAN RAAN, Anthony. Measuring science: basic principles and application of advanced bibliometrics. In: GLÄNZEL, Wolfgang et al. (ed.). The Springer handbook of science and technology indicators. Cham-Switzerland: Springer, 2019. p. 237-280.
  • ZUCCALA, Alesia. Quality and influence in literary work: evaluating the ‘educated imagination’. Research Evaluation, v.21, p.229-241, 2012.
  • ZUCCALA, Alesia. Evaluating humanities: vitalizing the “forgotten sciences”. Research Trends, Copenhagen, v.32, p.3-6, Mar. 2013.
  • ZUCCALA, Alesia; van LEEUWEN, Ted. Book reviews in humanities research evaluations. Journal of the American Society for Information Science and Technology, v.62, n.10, p.1979-1991, 2011.
  • ZUCCALA, Alesia; BOD, Rens. Book reviews as a mega-citations: a fresh look at citation theory. In: Proceedings of the 17th International Conference on Science and Technology Indicators, 2012.
  • WILLIAMS, Peter et al. The role and future of the monograph in arts and humanities research. Aslib Proceedings, v.61, n.1, p.67-82, 2009.
  • JITA:

    BB. Bibliometric methods

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    02 Ago 2020
  • Aceito
    26 Nov 2020
  • Publicado
    02 Dez 2020
Universidade Estadual de Campinas Rua Sérgio Buarque de Holanda, 421 - 1º andar Biblioteca Central César Lattes - Cidade Universitária Zeferino Vaz - CEP: 13083-859 , Tel: +55 19 3521-6729 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: rdbci@unicamp.br