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Literacia informacional uma revisão sistemática de literatura

RESUMO

Introdução:

O artigo tem como objetivo verificar o atual cenário de pesquisa sobre a Literacia, tanto na perspectiva do tipo de abordagem- literacia digital ou literacia informacional- quanto às áreas do conhecimento em que se investiga o tema.

Método:

Revisão Sistemática da Literatura (Systematic Literature Review).

Resultados:

Foi possível constatar que a literacia informacional é o tema com maior ênfase nos estudos pesquisados, como também a Biblioteconomia e a Educação foram as áreas de conhecimento com maior destaque nos estudos analisados.

Conclusões:

Estudos que se dedicam à literacia informacional representam não somente uma demanda da atual sociedade, como também exprimem uma preocupação no desenvolvimento de ações que possam inserir o tema no âmbito da educação formativa e da aprendizagem para a vida em um contexto de avanços tecnológicos sem precedentes na história da humanidade.

PALAVRAS-CHAVE:
Literacia informacional; Literacia digital; Mídias digitais; Competência informacional

ABSTRACT

Introduction:

The article aims to verify the research scenario on Literacy, both as a type of approach - digital literacy or information literacy - as well as the main knowledge areas in which the subject is studied.

Method:

Systematic Literature Review (SLR).

Results:

The literature reviewed showed that information literacy is discussed with great emphasis in the papers retrieved, mainly in the areas of Librarianship and Education.

Conclusions:

Studies with focus on Information Literacy represent not only a demand of the present society but also express a concern about the development of actions that can insert it in the scope of lifelong learning in the nowadays context of technological advancement.

KEYWORDS:
Information literacy; Digital literacy; Digital media; Information competence

1 INTRODUÇÃO

As mídias e demais provedores de informação, notadamente a Internet, ampliaram nos últimos anos, as fontes de pesquisa e busca por informações. As possibilidades e recursos oferecidos, principalmente no contexto da rede, podem explicar a grande adesão e expansão de seu uso em âmbito mundial. No caso da população brasileira, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016, apontou que 64,7% dos brasileiros, com mais de 10 anos, podem ser considerados usuários ativos da Internet.

Estar conectado à rede pode levar à duas visões otimistas muitas vezes fazendo crer em uma relação direta e positiva entre elas: a primeira, de que esses usuários pertencentes ao ambiente digital, estão familiarizados com os recursos e ferramentas disponíveis e a segunda que eles têm domínio no uso das informações produzidas nesses ambientes. Entretanto, o que se percebe é uma realidade diferente, onde nem sempre aquele usuário que detém o conhecimento dos recursos e meios digitais detém também domínio sobre o uso das informações produzidas por esses meios.

Seguindo este enfoque, é possível elaborar uma perspectiva crítica que leve em consideração a importância de se preparar os usuários para lidar com o poder das mídias e de seus recursos na atual sociedade - literacia digital - mas que também se preocupe em como os internautas fazem uso das informações originadas através das mídias que permeiam o mundo, e que deve ter como base a formação de cidadãos críticos no uso e na relação com esses meios - literacia informacional.

Nesse sentido Campello (2003CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ci. Inf., Brasília, v. 32, n. 3, p. 28-37, set./dez. 2003.) alerta que ter fluência em tecnologia é apenas um dos componentes da literacia informacional ou competência informacional, uma vez que esta envolve a habilidade de ler e usar informação necessária para a vida cotidiana.

Acredita-se assim, que a literacia digital (LD) é um passo importante para alcançar a literacia informacional (LI) que por sua vez vai além dos recursos e ferramentas digitais não sendo possível, portanto, estabelecer uma relação necessariamente positiva de consequência desta em relação àquela. Conforme postulado pela UNESCO (2005), a LI é considerada como um direito básico tão ou mais importante que o acesso à tecnologia.

Saber lidar com a informação na perspectiva de boas práticas na busca, seleção e uso faz parte das competências que envolvem a literacia informacional e, por conseguinte, o papel dos usuários em relação ao acesso e uso de mídias tradicionais e digitais não se limita a uma área de conhecimento específica. Um exemplo disso, segundo Silva e Marcial (2010) foi que, na década de 80, a prática formativa e cultural dos bibliotecários levou à criação de padrões a fim de que os usuários das bibliotecas aprendessem a lidar com o conteúdo informacional. No entanto, conforme as autoras alertam o fenômeno da literacia informacional vai além dos padrões de boas práticas da área de Biblioteconomia.

Assim surgem algumas indagações: sob quais abordagens está sendo pesquisada a literacia informacional? Em qual(is) área(s) do conhecimento está sendo pesquisada a literacia informacional?

Tais indagações motivaram a realização de um estudo que teve como objetivo verificar o panorama de estudos da literacia informacional sob duas perspectivas: a primeira pelo foco de abordagem do tema - literacia digital ou literacia informacional - e a segunda pela(s) área(s) do conhecimento em que o tema é investigado. O estudo adotou como metodologia a revisão sistemática da literatura (RSL), e este artigo apresenta seus resultados.

A sequência do artigo, após esta Introdução, tem a seguinte estrutura: a segunda seção apresenta os conceitos norteadores; o método utilizado e o processo da pesquisa são abordados na seção 3; a análise dos artigos selecionados é apresentada na seção 4, e as considerações finais são descritas na seção 5.

2 LITERACIA DIGITAL E LITERACIA INFORMACIONAL

A atual sociedade, que vive uma “era” marcada pelo desenvolvimento massivo das tecnologias de informação e comunicação (TIC), está envolta em um cenário caracterizado por grande volume de informação facilmente acessado por diversas pessoas em diversos dispositivos, sem limite de tempo e espaço. Os usuários dessas informações, tanto podem ser produtores quanto consumidores diretos não havendo, em muitos casos, a necessidade de intermediários para validar processos de interação informacional e comunicacional.

Nesse sentido, observa-se que a disponibilidade dessas informações acompanha os avanços das ferramentas e recursos tecnológicos que ditam um ritmo cujas competências pessoais para a gestão da informação como busca, seleção, avaliação e uso não conseguem acompanhar. Conforme aponta Hatschbach (2002HATSCHBACH, Maria Helena de Lima. Information Literacy: aspectos conceituais e iniciativas em ambiente digital para o estudante de nível superior. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002., p. 9) “a informação é um recurso estratégico a ser gerido e matéria-prima da maioria dos profissionais do século XXI”.

Com efeito, faz-se cada vez mais necessária a preparação dos profissionais para os desafios que emergem da atual sociedade demandando cidadãos competentes em lidar com a grande quantidade de informação veiculada no universo digital da Sociedade da Informação.

É nesse contexto que o termo literacia informacional emerge e, como seria de se esperar, na mesma década em que surge o conceito de Sociedade da Informação. O termo LI foi preconizado em 1974 pelo bibliotecário americano Paul Zurkowski, por meio da publicação do relatório The Information service environment relationships and priorities.

A pessoa letrada em informação foi considerada em 1979 pela Information Industry Association (IIA) como aquela que conhece técnicas e habilidades para usar ferramentas informacionais, a fim de encontrar soluções para a resolução de problemas. O termo foi ganhando discussão nos Estados Unidos e na Austrália e por isso segundo Virkus (2003VIRKUS, Sirje. Information literacy in Europe: a literature review. Information Research, v. 8, n. 4, 2003. Disponível em: http://informationr.net/ir/8-4/paper159.html. Acesso em 05 ago. 2018.
http://informationr.net/ir/8-4/paper159....
) o maior volume de literatura sobre o assunto se encontra nesses países.

Com a evolução das tecnologias da informação e comunicação nas décadas de 80 e 90 houve um crescimento, sem precedentes, no volume de informações disponíveis no ambiente digital, influenciando assim, o conceito de literacia informacional que, por sua vez, ganhou necessidade de diferenciação face ao conceito de literacia digital. A proximidade entre as duas literacias (entendidas também como competências) pode levar à confusão ou mesmo à presunção de que um termo equivale ao outro.

Cabe, portanto, distingui-los. Para este estudo, adotou-se a distinção feita pela UNESCO (2008) que caracteriza a competência midiática como uma convergência de conhecimentos, habilidades e atitudes, em relação ao uso e compreensão dos meios e processos de comunicação de massa, que ocorre em estados avançados de desenvolvimento da sociedade. Já a competência informacional é compreendida como a mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas com o universo informacional, portanto, para além do manuseio de ferramentas digitais, integrando capacidades de leitura e escrita, busca e uso da informação, organização e manipulação de dados visando a produção de novas informações e conhecimentos, sua disseminação e preservação para seu reuso futuro.

Assim, é importante reconhecer que ser competente no uso dos meios de acesso à informação, principalmente nas TIC - literacia digital - é uma forma de pertencimento ao universo informacional, no entanto tal competência não é necessariamente garantia de competência ou literacia informacional. Conforme alertam Schuhmacher, et al. (2016SCHUHMACHER, Elcio; SCHUHMACHER, Vera Rejane N.; OLIVEIRA, Lia Raquel; COUTINHO, Clara Maria Gil Ferreira Fernandes Pereira. A literacia midiática e informacional em alunos de ciências exatas. Revista Dynamis. FURB, Blumenau, v. 22, n. 1, p. 3-13, 2016.) a competência midiática, que tem a sua ênfase na tecnologia, requer habilidades de operar, comunicar e entender o funcionamento da tecnologia e dos programas e aplicações (...). Para os autores, o uso instrumental das tecnologias não garante um cidadão esclarecido e participativo, pois a manipulação dos programas não exige competências, capacidade de raciocínio e abstração, já que as tecnologias foram desenvolvidas para serem funcionais e “amigáveis” ao usuário.

Portanto, pode-se afirmar que a literacia informacional possibilita o desenvolvimento de habilidades que permitem à pessoa identificar, localizar, avaliar e usar a informação necessária para resolução de problemas. É com esse sentido que a American Library Association (ALA) estabeleceu a definição até hoje largamente aceita e citada na literatura, “literacia informacional é definida como a habilidade em saber quando há necessidade da informação; é ser capaz de identificar, localizar, avaliar, e usar eficazmente essa informação.” (ALA, 1989).

3 MÉTODO

De acordo com o objetivo deste artigo, foi adotado como método de pesquisa a revisão sistemática da literatura (RSL), por ser um método bem definido para identificar, avaliar e interpretar estudos relevantes em relação a uma determinada questão de pesquisa ou área de estudo, conforme descrevem Mahdavi-Hezavehi e Galster (2013).

Para analisar os estudos sobre literacia informacional, três etapas foram seguidas:

  • 1) Planejamento: nesta etapa foram definidos o protocolo da revisão e a questão de pesquisa;

  • 2) Execução: etapa em que ocorreu a seleção dos estudos de acordo com o planejado na etapa anterior;

  • 3) Análise: última etapa em que foi feita a análise dos resultados encontrados após a execução.

1.1 Questão de Pesquisa

Para alcance do objetivo proposto neste artigo, a RSL trouxe subsídios para responder à questão principal [QP] deste trabalho: Em qual(is) área(as) está(ão) sendo realizada(s) pesquisa(s) sobre a literacia informacional? E para definir o foco dentro do contexto da resposta da [QP], foram planejadas duas ações específicas [AE]:

[AE1]: Identificar estudos que focam a literacia informacional como competência midiática (literacia digital), ou seja, ênfase na tecnologia;

[AE2]: Identificar estudos que focam a literacia informacional como competência informacional, ou seja, ênfase na gestão da informação.

1.2 Processo de Pesquisa e Artigos Selecionados

A pesquisa teve início com a identificação de periódicos constantes do Portal Sucupira nas áreas de “Comunicação e Informação” e “Ensino”, posicionados nos extratos A1, A2 e B1, por serem indicadores de qualidade em publicações científicas. Foram consideradas as publicações escritas em português do período compreendido entre 2013 e 2016.

Os termos de busca utilizados foram: “literacia da informação” e “literacia informacional”. Como os resultados se mostraram insatisfatórios, uma vez que foram localizados poucos estudos, optou-se por direcionar a busca, com os mesmos termos, sem filtro de data, para periódicos da “Área interdisciplinar” mantendo os mesmos extratos A1, A2 e B1: Revista Ciência da Informação, Revista Comunicação e Sociedade, Revista Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia, Revista Comunicação e Inovação.

Para ampliar a pesquisa optou-se pela busca, com os mesmos termos, em outros repositórios de grande repercussão no meio acadêmico Scientific Electronic Library (SCIELO) e Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI). Uma vez que o repositório SCIELO disponibiliza para pesquisa a opção “por assunto” foram escolhidas como áreas “Ciências Sociais Aplicadas” e “Ciências Humanas” por serem áreas conexas, com possibilidade de trabalharem o tema pesquisado.

A fim de recuperar um maior número de artigos para análise, ampliando o rigor dos resultados, foi adicionada a busca pelo Google Scholar (acadêmico) por se tratar de uma fonte de pesquisa e referência, cuja organização é feita por meio de palavras-chaves facilitando e agilizando assim, a localização dos artigos publicados no período inicialmente definido - 2013 a 2106.

Os artigos identificados foram selecionados seguindo três etapas de filtragem:

  • 1) Eliminação por título. Nesta etapa foi feita a leitura dos títulos dos artigos e aqueles que não apresentaram pertinência com relação aos objetivos da pesquisa foram eliminados;

  • 2) Eliminação pela estratégia do tipo skimming, onde por meio da leitura do “resumo” foi possível eliminar aqueles artigos cuja ideia principal não apresentava conformidade com os enfoques da abordagem da pesquisa;

  • 3) Leitura completa com análise de conteúdo. Nessa última etapa foi feita a leitura dos artigos em sua íntegra, com a finalidade de selecionar o conjunto de trabalhos, conforme mostra o quadro 1.

Quadro 1
Quantidade de artigos por periódico/repositório pesquisado

Na terceira etapa, onde se fez a leitura completa dos artigos, foi definido que cada trabalho seria classificado quanto à(s) área(s) do conhecimento em que se investiga o tema e quanto ao foco de abordagem - literacia digital ou literacia informacional. O quadro 2 apresenta os autores, os títulos e os repositórios dos 19 artigos selecionados durante a revisão sistemática, bem como o enquadramento de cada um deles na classificação adotada.

Quadro 2
Artigos selecionados

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos artigos selecionados, foi possível responder à questão principal de pesquisa proposta neste trabalho e assim, identificar especificamente os enfoques dados pelos estudos, conforme apresentado a seguir.

4.1 [AE1] Identificar estudos que focam a literacia informacional como competência midiática (literacia digital), ou seja, ênfase na tecnologia.

Com esse enfoque Silva, Ramos e Batista (2016SILVA, Elbênia Marla Ramos; RAMOS, Fernando Manuel dos Santos; BATISTA, João Carlos Lopes. Desafios no desenvolvimento de competências comunicacionais nos cursos de licenciatura das universidades do Nordeste brasileiro. Ci. Inf. Brasília, DF, v. 45, n. 2, p. 2640, maio/ago. 2016.), investigadores do termo literacia no âmbito da Educação, destacam a necessidade de formação docente para utilizar as tecnologias que se referem à literacia digital para o uso das tecnologias da comunicação, sobretudo em cursos de licenciatura, que preparam novos professores. Pela ideia dos autores, o professor que possui literacia digital tem nova postura como orientador que irá auxiliar o aluno a organizar as informações, a formular as suas opiniões e, consequentemente, construir o próprio conhecimento.

Com estudos na mesma área Medeiros Neto e Costa (2016) com foco na Educação de Jovens e Adultos (EJA) afirmam que, apesar da realidade no Brasil não enfatizar a questão do uso das tecnologias pelo estudante, a existência deste serviço em uma escola em turno noturno, oportunizou uma experiência diferenciada aliando letramento linguístico com literacia digital. Os autores destacam a evasão escolar como um problema recorrente no país, e se apoiaram em depoimentos dos estudantes para enfatizar a importância do desenvolvimento da habilidade e destreza digital como forma de aproximação entre aluno e escola. Segundo os autores a aquisição de competências de leitura e de cálculo para melhoria das práticas e rotinas cotidianas ficou evidenciada, nas falas dos estudantes de EJA, como a justificativa para o retorno à escola.

O estudo de Serra (2014), cuja área de conhecimento foi a Biblioteconomia, destaca a importância da capacitação dos usuários de bibliotecas para uso de livros digitais, os chamados e-books, uma vez que eles têm mostrado uma tendência forte de crescimento, com oferta de títulos, serviços e fornecedores se expandindo. O autor enfatiza ser premente a necessidade de capacitação da equipe da biblioteca e dos usuários para que tenham condições de usufruírem dos recursos existentes. Ele destaca ainda para os bibliotecários a importância da competência informacional como uma ferramenta de gestão de conteúdos digitais e que qualquer planejamento para inclusão de conteúdo digital nos acervos deve prever a capacitação dos usuários, tanto internos quanto externos.

4.2 [AE2] Identificar estudos que focam a literacia informacional como competência informacional, ou seja, ênfase na gestão da informação.

Com esse tipo de abordagem Andrade (2013ANDRADE, Tiago Fernandes. Formação do bibliotecário escolar: estudo de caso sobre o curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação da UFSCar. Biblioteca Escolar em Revista, Ribeirão Preto, v. 2, n. 1, p. 1-19, 2013.) enfatiza a necessidade do entendimento do papel da biblioteca escolar por parte dos diretores, coordenadores e professores como fundamental para a formação de parcerias rumo à educação do século XXI proposta por órgãos internacionais, visando capacitar o aluno e torná-lo competente em informação e um sujeito autônomo diante de suas necessidades informacionais, de busca, recuperação, identificação e resolução de situações problemáticas. Segundo o autor, o bibliotecário preparado para atuação nas unidades de educação, executa atividades culturais, de lazer e de ensino para a comunidade escolar através de programas na biblioteca e deve realizar, em seu contexto social e de atuação, intervenções junto ao plano docente para o estímulo a práticas de ensino que levem em consideração o lúdico no aprendizado rumo à competência informacional.

Compartilhando da mesma ideia Passos e Pieruccini (2016PASSOS, Marcos Paulo de; PIERUCCINI, Ivete. Informação e Conhecimento: A noção de atitude. Anais [...] Salvador: [s.n.], 2016. Disponível em: http://www.ufpb.br/evento/index.php/enancib2016/enancib2016/paper/view/4045. Acesso em: 01 ago. 2018.
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) investigaram como a pesquisa escolar atua na construção de atitudes de interesse pelo conhecimento e do espírito investigativo nos estudantes. Essas atitudes e desejo investigativo vão além do acesso às tecnologias. Elas demandam, o que os autores chamam de “pedagogia da informação” sob o enfoque de dispositivos informacionais educativos e a formação de atitude de interesse pelo conhecimento e a “aprender pela pesquisa”. Enfatizam ainda que os pressupostos adotados no estudo ancoram-se na Infoeducação, cujo foco são as dinâmicas e práticas que se articulam aos interesses dos sujeitos, ao universo da busca pelo conhecimento, atuando na formação de atitudes, na construção e participação crítica e criativa dos sujeitos no universo dos signos, nos processos e desafios que a ordem informacional, da chamada Sociedade do Conhecimento, impõe ao desejo de conhecer, de saber, de compreender e dizer-se no mundo.

Com relação a atitudes dos sujeitos, Fonseca e Gomes (2014FONSECA, Eliane Rosa da; GOMES, Sandra Lucia Rebel. A interação entre o bibliotecário e o usuário no ambiente de uma biblioteca hospitalar universitária: um estudo sobre literacia em informação na área de saúde. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 15., 2014, Belo Horizonte. Anais [...] Belo Horizonte: UFMG, 2014.) compartilham ideia semelhante, na medida em que evidenciaram em seus estudos que os usuários da informação ao explicitarem a sua necessidade de informação junto ao bibliotecário, no serviço de referência, determinam, por meio de um passo inicial porém definitivo, que a literacia aconteça, bem como o alcance de maior autonomia e, consequentemente, o desenvolvimento de competências para localizar, recuperar e usar a informação demandada.

O estudo de Marcos (2017MARCOS, Isabel Pacheco Marques Vaz. Promoção da literacia da informação numa universidade de ensino a distância: uma experiência de sucesso. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 581-595, ago./nov., 2017.) feito na área de Biblioteconomia propôs o acrônimo ALFIN “alfabetização informacional” como equivalente à literacia informacional explicando que tal nomenclatura, no contexto da formação de usuários da informação, inclui não só o desenvolvimento das capacidades técnicas para permitir o acesso à informação digital, mas também às competências para analisá-la e avaliá-la. A autora cita Martins (2013) para ressaltar que atualmente, a formação de usuários amplia o campo de ação, acrescentando ao seu objetivo tradicional de dotar os usuários de competências no uso da biblioteca, dos catálogos e de outras ferramentas de informação, novas tarefas mais complexas, como a recuperação de informação, de forma a estimular o pensamento crítico e a tomada de decisões.

Santos, Simeão e Nascimento (2016SANTOS, Rafael Barcelos; SIMEÃO, Elmira Luzia Melo Soares; NASCIMENTO, Fernanda Regina. Competência em informação aplicada aos discentes da faculdade Unb Planaltina: desafios e integração das ações bibliotecária e docente. Número Temático: Competências infocomunicacionais em ambientes digitais: desafios para o século XXI. Ci. Inf., Brasília, DF, v. 45, n. 2, p.1-130, maio/ago. 2016.) investigaram a oferta da disciplina “Competência em Informação” (CoInfo) em diversos cursos da Faculdade UNB Planaltina- DF. Segundo os autores a CoInfo pode ser compreendida como a mobilização e a integração de conhecimentos, habilidades e atitudes que possibilitam o uso inteligente das informações registradas nos variados suportes, permitindo a atuação crítica e ativa dos sujeitos nos diversos setores da sociedade da informação. Salientam que a CoInfo transcende a mera aquisição das habilidades necessárias para utilizar os recursos informacionais e tecnológicos disponíveis, visto que envolve a capacidade do sujeito de assimilar e compreender as informações para transformar determinada realidade social, tendo como base os aspectos éticos, de igualdade e de sustentabilidade.

Nesse mesmo sentido Campello (2003CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ci. Inf., Brasília, v. 32, n. 3, p. 28-37, set./dez. 2003.) enfatiza que ter fluência em tecnologia é apenas um dos componentes da literacia informacional ou competência informacional que, por sua vez envolve a habilidade de ler e usar informação necessária para a vida cotidiana. Segundo a autora, que se apoiou em estudos de Kuhlthau e Behrens, a competência informacional envolve também o reconhecimento da necessidade de informação e sua busca para tomar decisões bem embasadas requerendo o manuseio de massas complexas de informação geradas por computador e pela mídia, e aprendendo ao longo da vida, à medida que mudanças sociais e técnicas demandam novas habilidades e conhecimentos.

O estudo de Damásio (2008) na área de Educação possibilitou isolar duas variáveis essenciais para a expansão do conceito de literacia: a produtividade e a interação. O autor descreve que complementarmente às competências interpretativas, tradicionalmente associadas ao conceito de literacia, devemos acrescentar uma variável produtiva que se refere, não apenas à capacidade de escrita, mas também à capacidade de manipulação e alteração da mensagem, bem como outra variável relacionada com a capacidade de ampliar o conhecimento por meio da interação suportada em tecnologia. Segundo o autor, através deste estudo foi possível redefinir a literacia como um processo e não como uma propriedade estática. Ele afirma que o quadro teórico permitiu isolar propriedades de uso e consumo dos mídias em ambientes digitais que, se empiricamente comprovadas, podem ajudar a compreender melhor a natureza da experiência contemporânea, e a modelar de forma mais eficiente o processo educativo para adaptá-lo às novas habilidades apresentadas por crianças e jovens que adquirem a literacia mediática em ambientes digitais informais.

Silva (2008SILVA, Patrícia Olinda Loureiro Dias da. Possibilidades e limites das TIC para a literacia cívica. Comunicação e Sociedade, vol. 14, p. 15-32, 2008.) realizou a abordagem da literacia informacional sob o foco da cidadania. Inicialmente a autora descreve o conceito da literacia digital como equivalente às competências essenciais para que um cidadão se informe através da Internet. No entanto, ela adverte que para além de uma preocupação com competências técnicas no domínio da informática ou da navegação na Internet, discute-se, por exemplo, o investimento e a incorporação nos programas educativos oficiais da educação para as mídias. Segundo a autora, trata-se, todavia, de uma proposta já defendida em relação aos meios de comunicação de massas que precederam a disseminação das tecnologias da informação. Ela alerta ainda que antes da aquisição de competências online, outras aprendizagens precisam ser feitas e cita Benjamin Barber que refere-se entre estas aquisições a “aprender a ler um ensaio individual; aprender a procurar os dados de que precisa, numa biblioteca ou num laboratório, em vez de ganhar acesso fácil a correntes sem fim de dados dos quais não se tem qualquer necessidade”, uma vez que a posse dessas competências off-line é condição primeira para fazer uso das online.

Pela visão da autora, maior difusão de informação não significa necessariamente melhor compreensão, nem mais conhecimento. A autonomia na coleta e seleção de informação, a que subjaz a transformação de cada um de nós em seu próprio jornalista e editor, implica em um acréscimo de competências. É necessário saber procurar, selecionar, parar, avaliar a confiabilidade da informação encontrada, perceber como conjugar as várias fontes para elaborar a “montagem” e, por fim, saber como utilizar o produto final para a tarefa que tinha dado início à busca. Assim, ela finaliza o estudo caracterizando o conjunto dessas competências como sendo a “literacia cívica” que por sua vez prende-se, entre outros fatores, a uma capacidade de análise crítica da informação política veiculada pelos diferentes meios de comunicação.

Em se tratando da diversidade das mídias, Caprino, Pessoni e Aparício (2013CAPRINO, Mônica Pegurer; PESSONI, Arquimedes; APARÍCIO, Ana Silvia Moço. Mídia e Educação: A necessidade do Multiletramento. Comunicação & Inovação, São Caetano do Sul, v. 14, n. 26, p. 13-19, jan./jun. 2013.) afirmam que a media literacy é “a capacidade de acessar, analisar, avaliar e comunicar mensagens em uma variedade de formas”. Os autores recorrem a Pérez Tornero (2008PÉREZ TORNERO, José Manuel. Media literacy: new conceptualisation, new approach. In: CARLSSON, Ulla et al. (ed.). Empowerment through media education: an intercultural dialogue. Göteborg: Nordicom/Göteborgs Universitet, 2008. p. 103-116.) para explicar que o termo é usado para descrever as competências e habilidades requeridas para o desenvolvimento independente e consciente do cidadão no novo entorno comunicacional - digital, global e multimídia - da sociedade da informação. A media literacy (a alfabetização mediática1 1 Pérez Tornero faz uso do termo “alfabetização mediática” para traduzir media literacy ) é considerada o resultado do processo de media education. Segundo os autores para enfrentar o desafio das novas tecnologias, é necessário pensar em novos letramentos, ou habilidades cognitivas de leitura de texto, imagens e sons que, incluem todos os tipos de mídia, até mesmo o “velho” jornal impresso. Na atualidade não basta que o aluno seja alfabetizado; ele deve estar preparado para deparar-se com qualquer tipo de mensagem e saber dar tratamento e interpretação adequados a cada um.

Quanto a desafios, Alonso-Arévalo, Lopes e Antunes (2016) destacam a abundância de informação, determinada pela extensão das tecnologias da informação e comunicação, que exige das pessoas e entidades a capacidade de identificar as fontes essenciais para dispor da informação de que necessitam e poder distinguir entre a relevante e a acessória, o que requer maiores competências tanto cognitivas, quanto sociais e profissionais para o seu acesso e uso.

Para os autores, o ambiente das redes sociais e das comunidades on-line, geradoras de tecnologias colaborativas inovadoras, desafia as definições tradicionais de literacia informacional e desempenha um determinante papel na atualidade. Neste contexto, a informação não é um objeto estático a que simplesmente se acessa e recupera, mas é uma entidade dinâmica produzida e partilhada em colaboração. Tal percepção exige repensar a literacia informacional como uma metaliteracia, que engloba vários tipos de literacias: a digital, a midiática, a visual e a tecnológica. Saber ler é apenas o começo; saber como enquadrar uma questão, realizar uma pesquisa, interpretar os textos recuperados, organizar, avaliar e usar a informação para gerar um novo conhecimento é a essência do que se designa como “literacia informacional”.

O artigo de Andrade et al. (2015ANDRADE, Isabel; CAMOTIM, Nita; CORREIA, Maria Antônia; DUARTE, Rosário; LOPES, Suzana; MARQUES, Amália; ROXO, Ana; STORY, Sean. O Curso de Literacia da Informação da NOVA Escola Doutoral. In: CONGRESSO NACIONAL BAD, 12., 2015. Évora. Anais [...] Évora: Universidade de Évora, 2015.) relatou uma avaliação do curso de literacia informacional ofertado pela NOVA Escola Doutoral de Lisboa aos alunos de doutoramento e seus orientadores. O modelo formativo teve características inovadoras, começando pelo desafio colocado aos potenciais participantes: “Saiba como o uso eficaz da informação pode contribuir para o seu sucesso académico”. Para os autores, o curso tem atendido aos interesses e necessidades dos participantes e afirmam que a definição de «information literacy» proposta pela Association of College and Research Libraries, ao enfatizar o dinamismo, a flexibilidade, o crescimento individual e a aprendizagem em comunidade, sintetiza este novo paradigma: “Information literacy is the set of integrated abilities encompassing the reflective discovery of information, the understanding of how information is produced and valued, and the use of information in creating new knowledge and participating ethically in communities of learning.2 2 Literacia informacional é o conjunto de capacidades integradas que englobam a descoberta reflexiva da informação, a compreensão de como a informação é produzida e valorizada e a utilização da informação na criação de novos conhecimentos e na participação ética nas comunidades de aprendizagem.

Simeão e Costa (2016) realizaram um estudo nas áreas de Educação e Ciência da Informação, onde identificaram o conceito da Information literacy 3 3 As autoras fazem uso do termo em sua forma original. (IL) como integrador entre elas. Embora o estudo tenha sido realizado na área da Ciência da Informação, os autores alertam que este conceito, seus desdobramentos e aplicações práticas apontam para uma concepção aberta, flexível, multivocal, híbrida e não restrita ao uso de bibliotecas. Os autores finalizam o artigo descrevendo que o desenvolvimento de competências relacionadas ao uso, acesso e comunicação da informação se constitui hoje em elemento fundamental na promoção de uma sociedade inclusiva nos aspectos sociais e digitais relacionados às pessoas portadoras de deficiências. No âmbito educacional eles apontam que a exigência de competências específicas recai sobre a figura do professor, que precisa empreender grandes esforços na gestão de sua prática docente cuja complexidade aumenta à medida em que também aumenta a complexidade da sociedade.

Compartilhando a mesma ideia no campo educacional, Tavares et al. (2015TAVARES, Rita; LARANJEIRO, Maria Dionísia; OLIVEIRA, David; FERRAZ, Clarice Vanderlei; POMBO, Lúcia. Literacia da Informação no Ensino Superior: proposta de módulo de formação em educação a Distância. Indagatio Didactica, v. 7, n. 4, 2015.) apontam que os atuais modelos de aprendizagem, caracterizados pela construção do conhecimento participativo e centrado no desenvolvimento de competências pelo aluno, determinam a percepção e compreensão crítica dos processos ligados à comunicação da ciência e à sua publicação pelos meios formais e informais. Eles afirmam que as bibliotecas acadêmicas assumem um papel essencial, disponibilizando serviços com valor agregado aos seus usuários, notadamente na promoção do desenvolvimento de competências ligadas ao acesso, avaliação e uso proficiente de (fontes de) informação científica.

Ainda na área de Educação, mas com foco em alunos do curso das Ciências Exatas, Schuhmacher et al.(2016SCHUHMACHER, Elcio; SCHUHMACHER, Vera Rejane N.; OLIVEIRA, Lia Raquel; COUTINHO, Clara Maria Gil Ferreira Fernandes Pereira. A literacia midiática e informacional em alunos de ciências exatas. Revista Dynamis. FURB, Blumenau, v. 22, n. 1, p. 3-13, 2016.) explicam que o aluno que chega à universidade e que participa da atual Sociedade da Informação e do Conhecimento, precisa ser competente em tipos de literacias emergentes, não apenas a capacidade de ler, escrever ou efetuar cálculos, mas também a capacidade de manusear os meios digitais e as informações. Os autores citam a Declaração de Alexandria, de 2005, onde se declara que a competência informacional e a aprendizagem ao longo da vida são os faróis da sociedade de informação, determinantes para o desenvolvimento, a prosperidade e a liberdade dos indivíduos e das nações.

Eles verificaram que as competências no manuseio das tecnologias são rapidamente adquiridas pelos alunos, que se sentem confortáveis no seu uso, mas as dificuldades se avolumam, quando está em causa o acesso crítico à informação com o objetivo de apresentar trabalhos acadêmicos ou em pesquisas para a aquisição de conhecimentos, em contextos de ensino e aprendizagem. A dificuldade de transformar a informação em conhecimento é preocupante, pois os alunos demonstram falta de competências informacionais e verifica-se um desrespeito pelos direitos autorais. Finalizam o artigo descrevendo que as competências midiáticas (literacia digital) na percepção dos alunos, se resumem à aptidão para utilizar as tecnologias, no que demonstram grandes habilidades, o que pode ser creditado à utilização cotidiana dos recursos das TIC em casa, na escola ou no ambiente de trabalho. No entanto, as competências necessárias para passar da destreza ao conhecimento ainda estão muito abaixo do desejável, pois o uso hábil das ferramentas tecnológicas não é garantia de resolução de problemas.

Silva et al. (2016SILVA, Elbênia Marla Ramos; RAMOS, Fernando Manuel dos Santos; BATISTA, João Carlos Lopes. Desafios no desenvolvimento de competências comunicacionais nos cursos de licenciatura das universidades do Nordeste brasileiro. Ci. Inf. Brasília, DF, v. 45, n. 2, p. 2640, maio/ago. 2016.) realizaram um estudo sobre o nível de competências informacionais de estudantes portugueses do Ensino Superior e do Ensino Secundário. Embora parciais, os resultados obtidos permitiram antever como a orientação para efetuar pesquisas e usar a informação deve constituir parte integrante do processo de ensino/aprendizagem, assumindo o professor um papel importante, embora não se possa ignorar a influência dos amigos e da família neste âmbito. Alertam para a necessidade de trabalhar no sentido de uma articulação entre a tríade educacional formal (professor, aluno e biblioteca escolar) e o nível informal, composto por uma mistura de grupos/parceiros, sem esquecer o papel das TIC e a sua influência na motivação e satisfação dos estudantes, considerando que estamos perante uma geração “nativa digital”. Segundo os autores, a análise conduz naturalmente à proposta de medidas de intervenção. Contudo, não consideram que o problema da LI possa ser resolvido com um conjunto de receitas. Eles constataram que o Espaço Europeu de Ensino Superior traz novas exigências aos estudantes portugueses, tornando-se evidente que estes não possuem o nível desejado para responder com sucesso a tais demandas. É evidente, também, que o papel dos diferentes agentes é muito importante na hora de implementar medidas e ações necessárias, mas o que é verdadeiramente crucial é o estabelecimento de uma política educativa que trabalhe na busca da articulação de agentes e que evidencie um verdadeiro interesse e compromisso para com o problema da LI naquele país.

O último estudo analisado neste artigo, cujo autores são Antunes, Lopes e Sanches, (2018ANTUNES, Maria da Luz; LOPES, Carlos; SANCHES, Tatiana. Literacia da informação e ciência aberta em saúde: o antes e o depois. In: JORNADAS APDIS-BIBLIOTECAS DA SAÚDE: DA CIÊNCIA ABERTA À INVESTIGAÇÃO E PRÁTICA CLÍNICA, 13. Lisboa: APDIS, 2018. p. 1-18.) aponta para uma relação associativa entre a literacia informacional e a Ciência Aberta, que, por sua vez, visa fazer a ligação do ambiente acadêmico com um público mais amplo, representando a transparência dos processos de pesquisa e o acesso aberto a dados e a publicações científicas. Os autores explicam que, de um modo geral, os pesquisadores possuem competências sobre as estratégias de busca de informação, avaliação dos resultados recuperados, criação de alertas, gestão de referências e publicação de resultados. Com a Ciência Aberta, no entanto, são exigidas novas competências para gestão dos dados científicos, das fontes abertas e para publicação em acesso aberto (open acess). É neste entendimento que, segundo os autores, a Ciência Aberta se cruza com a literacia informacional. A Ciência Aberta é, pelo exposto, fonte e resultado da pesquisa científica, do ensino e da aprendizagem em contexto universitário, no qual as bibliotecas de ensino superior devem contribuir por meio da literacia informacional, ou seja, do fomento de práticas que envolvem o saber pesquisar, selecionar, avaliar e utilizar a informação. São competências que contribuem para a melhoria do desempenho dos estudantes e beneficiam o trabalho dos pesquisadores. Os autores finalizam o estudo reiterando que a literacia informacional é uma ferramenta de aprendizagem essencial para o desenvolvimento da Ciência Aberta, aprimorando e capacitando a compreensão crítica de conteúdo, juntamente com o desenvolvimento e progresso da pesquisa.

Assim, pela análise dos artigos selecionados por essa RSL e representada visualmente pelo gráfico 1 é possível verificar que 84% dos estudos teve como foco a literacia informacional contra 16% que abordaram a literacia digital.

Gráfico 1
Artigos analisados pelo foco de abordagem

Por esses dados é possível inferir que apesar da literacia digital ser considerada um dos patamares para se alcançar a literacia informacional, há ênfase nos estudos sobre essa em detrimento daquela. Fato que pode ser explicado tanto pelo cenário de exigências no desenvolvimento das competências necessárias aos cidadãos da atual Sociedade da Informação, pois ser letrado em tecnologia, conforme afirmado anteriormente, não significa aptidão ou destreza no uso ético e adequado da informação, nem tampouco, aquisição de novos conhecimentos. Paralelamente, pessoas nascidas e socializadas neste contexto socio-técnico costumam apresentar grande facilidade em lidar com os aparatos tecnológicos, ou seja, são detentores da literacia digital de forma quase espontânea, o que diminui a importância e necessidade de pesquisas a este respeito.

Frente a isso, pode-se observar a ação paradoxal dos atuais avanços da tecnologia da informação. Ao mesmo tempo que possibilitam acesso a um grande volume de informações, independentemente de tempo e espaço, exigem a capacidade, sem precedentes, da análise crítica do conteúdo acessado. Conforme alerta Garcia (2016GARCIA, José Antônio Cordon. Prólogo. In: In: LOPES, C.; SANCHES, T. et al. (ed.). Literacia da informação em contexto universitário: tendências e expectativas. Lisboa: Edições ISPA, 2016. p. 109-152. E-book.) “num contexto de excesso de informação, o pensamento crítico e a necessidade de identificar seletivamente os fatores concorrenciais em qualquer tipo de mensagem representam valor irrenunciável da literacia informacional.”

Ter competência informacional significa, no atual contexto pervasivo das TIC, estar apto em lidar com o excesso de conteúdo informacional e sua variedade de formatos em um ambiente em que a informação nem sempre é requerida pelo usuário, ela muitas vezes chega às mãos dele mesmo antes da percepção de sua necessidade.

Em se tratando das áreas de conhecimento, pelo gráfico 2 é possível verificar que a Biblioteconomia e a Educação foram as áreas que deram maior ênfase nas pesquisas sobre o assunto, 33% e 37%, respectivamente. As demais áreas ficaram assim representadas: Ciência da Informação com 11% dos estudos, Saúde com 8%, Comunicação com 7% e Ciência Exatas com 4% dos estudos.

Gráfico 2
Artigos analisados pela área de conhecimento

Em função do termo LI ter surgido no contexto da Biblioteconomia, é compreensível a ênfase dos estudos recaírem nesta área, no entanto, o tema deve se estender às demais áreas do conhecimento, uma vez que a competência informacional remete ao usuário da informação, independentemente da área em que ele atue ou vá atuar. A LI refere-se a competências imprescindíveis ao sujeito na sociedade contemporânea. Conforme citado pela UNESCO é a mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas com o universo informacional, englobando capacidade de leitura e escrita, busca e uso da informação, organização e manuseio de dados visando a produção de novas informações e conhecimentos, sua disseminação e preservação para seu reuso futuro.

Assim, além de não atribuir o exercício da LI à uma área específica do conhecimento, Sanches (2016SANCHES, Tatiana. Modelos de literacia da informação e desenho de um programa para bibliotecas do ensino superior: Uma proposta. In: In: LOPES, C. et al. (ed.). Literacia da informação em contexto universitário: tendências e expectativas. Lisboa: Edições ISPA, 2016. p. 153-173. E-book.) defende a ideia de não legitimar uma única disciplina como específica para seu estudo e disseminação, mas torná-la presença constante em todas as disciplinas curriculares de qualquer curso, portanto de qualquer área do conhecimento.

4.3 Trabalhos Futuros

Os artigos analisados nesta RSL mostraram uma equivalência na nacionalidade dos autores: metade deles é composta por autores brasileiros e a outra metade por autores portugueses.

Assim, sugere-se como trabalhos futuros uma investigação aprofundada para verificar o nível de publicação de autoria nacional dentro do contexto brasileiro.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresentou uma revisão sistemática de literatura para verificar o panorama de estudos da literacia no período assinalado. Nesse sentido, observou-se que a ênfase na gestão da informação se sobrepôs ao acesso à tecnologia, confirmando o que foi relatado anteriormente - o acesso à tecnologia por si só não garante boas práticas no universo informacional.

Com efeito, a geração imersa em ambientes permeados pelas TIC, cuja destreza e familiaridade se tornaram bem comuns, evidenciam dependência em recursos para localização e seleção de informações, conforme aponta Sanches (2016SANCHES, Tatiana. Modelos de literacia da informação e desenho de um programa para bibliotecas do ensino superior: Uma proposta. In: In: LOPES, C. et al. (ed.). Literacia da informação em contexto universitário: tendências e expectativas. Lisboa: Edições ISPA, 2016. p. 153-173. E-book.):

embora os jovens demonstrem uma aparente facilidade e familiaridade com computadores, eles dependem fortemente dos motores de busca, visualizam superficialmente a informação ao invés de a lerem e não possuem as competências críticas e analíticas para avaliar as informações encontradas na internet. Em síntese, é uma evidência que contraria a suposição habitual de que a “Geração Google” é webalfabetizada, ou seja, a mais web-letrada. (SANCHES, 2016SANCHES, Tatiana. Modelos de literacia da informação e desenho de um programa para bibliotecas do ensino superior: Uma proposta. In: In: LOPES, C. et al. (ed.). Literacia da informação em contexto universitário: tendências e expectativas. Lisboa: Edições ISPA, 2016. p. 153-173. E-book., p. 165)

Ajudar os usuários da informação a pesquisar, selecionar e usar a informação de forma crítica e reflexiva trará benefícios que repercutirão na aprendizagem ao longo de toda vida. Deste modo, estudos que se dediquem a essa abordagem- literacia informacional- representam não somente uma demanda da atual sociedade, como também exprimem uma preocupação no desenvolvimento de ações que possam inserir a LI no âmbito da educação e da aprendizagem para a vida em um contexto de avanços tecnológicos sem precedentes na história da humanidade.

Com efeito, a LI refere-se a uma habilidade pessoal e deve fazer parte dos diversos contextos de formação em áreas específicas do conhecimento onde se trabalha o universo informacional, ou seja, onde há necessidade do desenvolvimento do pensamento crítico e da seletividade para uso adequado da informação, e também dos processos de socialização das novas gerações para promover um grau de cidadania participativa e responsável. Uma vez que a literacia digital não garante a formação de cidadãos mais integrados, o domínio das competências desenvolvidas por meio da literacia informacional pode assegurar ao cidadão maior capacidade crítica, interativa e interventiva na sociedade, possibilitando ainda a geração de novos conhecimentos para efetiva adequação e autonomia em suas decisões.

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  • XIII JORNADAS APDIS. BIBLIOTECAS DE SAÚDE. 2018. Lisboa. Literacia da informação e Ciência Aberta em Saúde: o antes e o depois. Lisboa: Escola superior de tecnologia de saúde de Lisboa, 2018. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/35259 Aceso em: 4 de jun. 2019.
    » http://hdl.handle.net/10451/35259
  • 1
    Pérez Tornero faz uso do termo “alfabetização mediática” para traduzir media literacy
  • 2
    Literacia informacional é o conjunto de capacidades integradas que englobam a descoberta reflexiva da informação, a compreensão de como a informação é produzida e valorizada e a utilização da informação na criação de novos conhecimentos e na participação ética nas comunidades de aprendizagem.
  • 3
    As autoras fazem uso do termo em sua forma original.
  • JITA:

    CE. Literacy.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    30 Jul 2020
  • Aceito
    19 Ago 2020
  • Publicado
    15 Set 2020
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