RESUMO
Objetiva-se neste estudo evidenciar aproximações conceituais de abordagens que associem informação, tecnologia, empreendedorismo e inovação com potencial de promover o desenvolvimento científico interdisciplinar. Justifica-se pelas demandas do ambiente das startups envolvidas em atividades diretamente relacionadas ao fluxo de informações internas e externas. Caracteriza-se o estudo como uma pesquisa exploratória, descritiva e analítica, com uso do método SystematicSearchFlow (SSF) e busca realizada na Web of Science e Scopus, em maio de 2018. Como resultado obteve-se um portfólio relevante de 20 artigos categorizados à luz dos modelos dominantes de estudo da informação propostos por Araújo (2014). Verificou-se que o entrelaçamento conceitual do tema “informação, tecnologia e inovação” encontra-se presente também em outras áreas do conhecimento, o que permite a expansão do conhecimento sobre o assunto. Considera-se que futuros estudos poderão abordar como e quanto os paradigmas descrevem, e são ou não suficientes na produção e gestão da informação nos novos ambientes caracterizados pelas startups em ambientes específicos, bem como na literatura cinzenta.
PALAVRAS-CHAVE:
Interdisciplinaridade; Ciência da Informação; Startups; Epistemologia em Ciência da Informação
ABSTRACT
The objective of this study is to present conceptual approaches that associate information, technology, entrepreneurship and innovation with the potential to promote interdisciplinary scientific development. It is justified by the demands of the environment of the startups involved in activities directly related to the flow of internal and external information. The study is characterized as an exploratory, descriptive and analytical research using the SystematicSearchFlow (SSF) method and the search conducted in the Web of Science and Scopus, in may 2017. As a result, a relevant portfolio of 20 articles categorized according to dominant models of information study proposed by Araújo (2014). It was verified that the conceptual interweaving of the theme "information, technology and innovation" is also present in other areas of knowledge, which allows the expansion of knowledge about the subject. It is considered that future studies will may address how and how much the paradigms describe and are or no sufficient in information production and management in the new environments characterized by startups in specific environments as well as in the gray literature.
KEYWORDS:
Interdisciplinarity; Information Science; Startups; Epistemology in Information Science
1 INTRODUÇÃO
A Ciência da Informação é desafiada a expandir suas contribuições em abordagens científicas que envolvem de forma associada informação, tecnologia e inovação sobre questões que decorrem dessas interações, e nem sempre surgem ou estão sendo desenvolvidas apenas no âmbito tradicional da pesquisa da área.
Nesses novos contextos socioeconômicos e para responder a esses desafios, são necessários estabelecer processos ampliados e disciplinados de desenvolvimento de interfaces conceituais interdisciplinares, a partir das quais possa contribuir e receber contribuições de outras áreas que abordam os termos citados.
A sociedade contemporânea demanda uma ciência aliada a tecnologia capaz de promover a inovação, e a proposta conceitual de Ciência da Informação apresentada por Saracevic (1996SARACEVIC, T. Ciência da Informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v.1,n,1,p.41-62,jan./jun.,1996. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/235. Acesso em: 1 jul. 2016.
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) vem ao encontro da demanda corrente, quando afirma que o campo dedicase à investigação científica e prática profissional. Aborda os problemas de registro do conhecimento e sua efetiva comunicação entre seres humanos, no contexto de utilização e necessidades sociais, institucionais e/ou individuais de informação. A investigação científica envolve os componentes, elementos e estruturas relacionados aos usos e necessidade de informação.
Goulart (2004GOULART, A. Informação: precisamos definir esse termo. Observatório da Imprensa, n. 286, jul. 2004. Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/index2.asp?edi=286. Acesso em: 10/12/16.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com...
) afirma que a informação é a chave para a sobrevivência em nossa sociedade informatizada, e compreender sua natureza e significado é o primeiro passo para podermos controlá-la e utilizá-la para o progresso social e individual. Segundo Francelin e Pellegatti (2004FRANCELIN, M. M.; PELLEGATTI, C. Filosofia da informação: reflexos e reflexões. Transinformação, Campinas, v. 16, n. 2, p. 123-132, maio/ago. 2004., p.124), numa disposição formal, o fenômeno da informação é estudado em disciplinas diversas, confirmando assim as ramificações complexas interdisciplinares e manifestações a ela associadas.
Nesse sentido, cabe delimitar e explicitar nos estudos em Ciência da Informação e para fins de uma efetiva interdisciplinaridade, que disciplinas e conceitos estão sendo utilizados em determinada investigação afim de reduzir os ruídos, favorecer a cientificidade e uma adequada fundamentação teórica dos estudos.
Logo, esse estudo objetiva evidenciar aproximações conceituais de abordagens que associem informação, tecnologia e inovação com potencial de promover o desenvolvimento cientifico interdisciplinar.
Parte-se do pressuposto de que a Filosofia da Tecnologia e a Administração possuem contribuições fundamentais para abordagens interdisciplinares que envolvem empreendedorismo e inovação, por se tratarem de campos tradicionalmente associados à Ciência da Informação.
A Filosofia ao estudar a tecnologia subsidia a compreensão da evolução dos artefatos utilizados para a comunicação desde os primórdios da humanidade e de forma crítica permite um olhar para além do pragmatismo econômico. E na Administração, o estudo da inovação subsidia-se o entendimento da ocorrência desta como campo para o empreendedorismo e o intraempreendedorismo.
Diante do exposto, a análise epistemológica que se propõe poderá subsidiar a Ciência da Informação ir ao encontro da área da Filosofia relacionando-a com conceitos de tecnologia, e da Administração relacionando-a com conceitos de inovação, conforme Quadro 1.
Por meio do Quadro 1 é possível visualizar as correlações de cada área para os conceitos propostos. É importante salientar que, segundo Paim et. al.. (2001PAIM, I. et. al. Interdisciplinaridade na Ciência da Informação: início de um diálogo. Perspectiva da Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 6, n. 1, p. 19-26, jan./jun. 2001., p. 19):
[...] A utilização de conceitos importados de outros domínios do conhecimento ocorre muito frequentemente na ciência da informação, mas as apropriações são, na maioria das vezes, feitas de forma acrítica, superficial, inadequada, constituindo-se em meras extrapolações mecânicas e, muitas vezes, decorrentes de modismos passageiros. Como consequência, verificam-se constantes deturpações de conceitos (termos, noções, categorias, metáforas) originais, falta de organicidade conceitual, de consistência e de pertinência.
É no sentido de uma convergência conceitual do termo informação que esse artigo buscará analisar as interfaces na literatura científica encontrada nas bases de dados Web of Science e Scopus à luz dos modelos dominantes de estudo da informação propostos por Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.). Ressalta-se que, ambas bases são interdisciplinares e representam a elite da ciência mundial, sendo a segunda de maior cobertura da produção científica.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Caracteriza-se esse estudo como uma pesquisa exploratória, descritiva e analítica. Exploratória porque se estabelece as correlações propostas com o objetivo de procurar padrões e ideias associadas entre os termos nas bases citadas. Descritiva, pois busca explicitar o comportamento dos fenômenos para identificar e obter informações sobre as características da questão. E analítica porque é uma continuação da pesquisa descritiva ao analisar e explicar como os fatos estão acontecendo. (COLLIS; HUSSEY, 2005COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em Administração. 2. ed. São Paulo: Ed. Bookman, 2005.).
A partir dos termos apresentados procurou-se estabelecer critérios de busca nas bases selecionadas e mencionadas na introdução. Para uma sistematização na busca utilizou-se o método SystematicSearchFlow1
1
Para maiores detalhes sobre o método SSF, sugerimos consulta da citação na íntegra em https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1194/pdf.
(SSF) de Ferenhof e Fernandes (2016FERENHOF, H. A.; FERNANDES, R. F. Desmistificando a revisão de literatura como base para redação científica: método SSF. Revista ACB, v. 21, n. 3, p. 550-563, ago. /nov. 2016. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1194/pdf. Acesso em: 23 dez. 2016.
https://revista.acbsc.org.br/racb/articl...
p. 556), o qual consiste em uma sistematização do processo de buscas em base dados científicas “a fim de garantir a repetibilidade e evitar viés do pesquisador.” (Figura 1). Dessa forma, este método pode ser utilizado para uma revisão de literatura que subsidie a identificação da produção científica pertinente.
Seguindo as 4 fases (Protocolo de Pesquisa, Análise, Síntese e Escrita) e 8 atividades estabelecidas pelo método SSF conforme figura 1, na fase 1 definiu-se o protocolo de busca. Quanto a atividade 1, a estratégia de busca utilizada foi a definição do operador lógico “AND” para recuperar documentos que continham os termos estabelecidos na pesquisa, e o uso das “aspas” para recuperar os termos exatos.
Quanto a atividade 2, realizou-se a busca em maio de 2018 por artigos publicados na delimitação de 5 anos (2012 - 2016), com a utilização das palavras-chave information AND startup AND technology AND innovation, nas bases Scopus onde recuperou-se 14 documentos, e Web of Science com 24 documentos recuperados. O total de documentos nesta atividade foi de 38.
Quanto a atividade 3, o software organizador de bibliografias utilizado foi o EndNote®. Nesta atividade, eliminou-se documentos duplicados, com links e anexos indisponíveis e, que não se referiam a artigos (referência a livros, por exemplo), pois o intuito foi de recuperar artigos científicos publicados em periódicos e eventos no período de 2012 a 2016.
Quanto a atividade 4, padronização da seleção dos artigos recuperados, foi realizada a leitura dos títulos, resumos (abstracts) e palavras-chaves de cada artigo.
Quanto a atividade 5, o portfólio de artigos selecionados foi de 20 artigos para serem lidos e analisados na íntegra, os quais são apresentados de forma detalhada de acordo com as atividades 6, 7 e 8 do método SSF na seção 4, correspondente aos resultados.
3 TECNOLOGIA, INFORMAÇÃO E INOVAÇÃO
O desenvolvimento e uso das tecnologias e técnicas de registro da informação e comunicação acompanham as mudanças nas civilizações e no viver em sociedade, estando em aperfeiçoamento constante (BLATTMANN; FRAGOSO, 2003BLATTMANN, U.; FRAGOSO, G.M. Emoção em tecnologia da informação e da comunicação. In: BLATTMANN, U.; FRAGOSO, G.M.(Org.). O zapear a informação em bibliotecas e na Internet. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.).
Entretanto as tecnologias e técnicas de uma sociedade são mais que apenas objetos de registro (artefato palpável), tratam-se de um resultado ou estado final de processos muitas vezes contínuos e até mesmo imperceptíveis.
Cupani (2013CUPANI, A. Filosofia da tecnologia: um convite. 2. ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013.) menciona que a tecnologia apresenta-se não apenas em forma de objetos e conjuntos de objetivos, mas também como sistemas, como processos, modos de proceder e até mesmo como certa mentalidade.
E Ihde (1990IHDE, D. Technology and the lifeworld from garden to earth. Bloomington: Indiana University Press, 1990. Cap. 5.) apresenta a relação homem-tecnologia no sentido de integração contínua. O autor trata de uma relação de incorporação eu - tecnologia - mundo, quando afirma que a tecnologia torna-se praticamente imperceptível, por exemplo, no caso do indivíduo que utiliza lentes de contato ou possui marca passo, obturação e; de uma relação hermenêutica eu - tecnologia - mundo, quando a tecnologia é mais perceptível, por exemplo, no caso do indivíduo que realiza a leitura de um texto, obtendo a informação pelo registro escrito, mas em contrapartida percebendo as limitações estabelecidas nas perspectivas abordadas.
Apresenta ainda uma terceira relação em que a tecnologia se destaca do mundo e do sujeito que faz seu uso, torna-se quase que autônoma, por exemplo, no caso da inteligência artificial, em que o computador é percebido como equivalente ao ser humano.
Ferré (1995FERRÉ, F. Philosophy of Technology. (orig.1988). Athens-London: The University of Georgia Press, 1995. Cap. 1 a 4.) distingue a inteligência prática e inteligência teórica, diferenciando-as e exemplifica que a primeira abarca a inteligência presente no cotidiano dos seres humanos e dos animais em geral e, a segunda como sendo a inteligência que vai além do cotidiano, sendo a preocupação em fundamentar o que se faz. Pode-se inferir que por meio da junção de Inteligência Prática e Teórica, o homem aprimora as formas de comunicação e registro de ideias.
Considera-se que são na organização e sistematização da informação desses processos técnicos de inteligência prática e teórica, gradativamente incorporados ao desenvolvimento científico e tecnológico que a necessidade de adquirir, armazenar, processar e disseminar informações torna-se fator crítico para o sucesso.
A partir dessa evolução de técnicas e tecnologias de comunicação e registro de informações, a Ciência da Informação emerge como área que investiga o comportamento e propriedades da informação, estando ligada ao conjunto de conhecimentos referentes à origem, coleta, organização, estocagem, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e uso da informação (BORKO, 1968BORKO, H. Information Science: what is it? American Documentation, v.19, n.1, p.3-5, Jan. 1968., ZINS, 2007ZINS, C. Knowledge map of information science. Journal of The American Society for Information Science and Technology, New York, v. 58, n. 4, p. 526-535, 2007. ISSN 15322882. Disponível em: http://www.success.co.il/is/zins_kmapof_is.pdf. Acesso em: 16 dez. 2016.
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).
E por sua vez, o empreendedorismo “consiste no prazer de realizar com sinergismo e inovação qualquer projeto pessoal ou organizacional, em desafio permanente às oportunidades e riscos. ” (BAGGIO; BAGGIO, 2014BAGGIO, A. F.; BAGGIO, D. K. Empreendedorismo: conceitos e definições. Revista de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, v.1, n. 1, p. 25-38, 2014. Disponível em: <https://seer.imed.edu.br/index.php/revistasi/article/download/612/522>. Acesso em 1 jul. 2016.
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). Dessa forma, a geração de um conhecimento novo, capaz de modificar algo que já existe, produto ou serviço, de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005), promove a inovação, ou seja, quando há a “introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne às suas características ou usos previstos”.
As abordagens iniciais do empreendedorismo associavam-se a empresas, mas “[...] teve seu significado ampliado para manifestações humanas voltadas para a realização de novos projetos organizacionais independentes ou vinculados a uma organização já existente. ” (GIMENEZ; FERREIRA; RAMOS, 2008GIMENEZ, F. A. P.; FERREIRA, J. M.; RAMOS, S. C. Configuração empreendedora ou configurações empreendedoras? Indo um pouco além de Mintzberg. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO (ENANPAD), 32, 2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008. p.1., p.1).
Nesses novos ambientes, a tomada de decisão é concentrada no empreendedor, mas também é em muito influenciado por gestores de capital de risco toda vez que esse capital é utilizado (NAKAMURA; FORTE; AGUIAR, 2006NAKAMURA, W.; FORTE, D.; AGUIAR, J. Análise do Processo Decisório dos Gestores de Capital de Risco no Brasil In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 31, 2007, Rio de Janeiro. Anais... Salvador, 2006.).
Nessa perspectiva, dentre as contribuições da Ciência da Informação encontra-se a possibilidade de evidenciar e sistematizar a informação para promoção de processos de comunicação capazes de fomentar o desenvolvimento cientifico e tecnológico.
De forma específica, os novos arranjos organizacionais se encontram diretamente relacionados ao uso intensivo de informação onde se organizam as startups, que são empresas novas, embrionárias ou ainda em fase de constituição, que contam com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras e empreendedorismo.
Startup é termo utilizado para empresas novas, até mesmo embrionárias ou ainda em fase de constituição, que contam com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras com baixos custos iniciais, sendo altamente escaláveis, ou seja, possuindo uma expectativa de crescimento muito grande quando dão certo. Algumas empresas diretamente ligadas à informação e comunicação como o Google e o Yahoo são consideradas startups.
Gihaty (2016GIHATY, Y. O que é uma startup? São Paulo : Exame-Abril, 3 fev. 2016. Disponível em: https://exame.abril.com.br/pme/o-que-e-uma-startup/. Acesso em: 16 dez. 2016.
https://exame.abril.com.br/pme/o-que-e-u...
) afirma que termo surgiu durante a época chamada de “bolha da Internet”, entre 1996 e 2001 e define uma Startup como um modelo de negócios replicável e escalável, criado por pessoas para trabalharem em condições de extrema incerteza.
Para Ries (2012RIES, E. A startup enxuta. São Paulo: Leya, 2012.) as startups são empresas ou instituições humanas que se constroem nos mais diversos ramos, surgindo espontaneamente no risco e incerteza e tendo em sua essência a inovação para criar produtos e serviços os quais pretendem revolucionar o mercado.
O ambiente das startups envolve atividades diretamente relacionadas à troca de informações internas e externas disponíveis em diversos formatos, muitas das quais simultaneamente, o que tem sido pouco discutido na literatura em Ciência da Informação.
Dinâmico, o ambiente envolve intenso volume de dados utilizados nas interações informacionais, o que suscita a necessidade de estudos de monitoramento ambiental sobre o fluxo das informações relevantes para as empresas a partir das fontes pertinentes e adequadas para acesso e uso em momento oportuno.
Para tanto, é fundamental a compreensão de como a literatura cientifica de diversas áreas categoriza ou reúne a produção em torno dos paradigmas correntes na Ciência da Informação, o que auxilia a reduzir ruídos comunicacionais e obter padrões que, segundo Jannuzzi (1999JANNUZZI, C. A. S. C. Informação tecnológica e para negócios no Brasil: conceitos e terminologias. 1999. 139 f. Dissertação (Mestrado em Biblioteconomia e Ciência da Informação) - Pontifícia Universidade Católica, Campinas, 1999., p. 24) ocorrem devido a diversidade de aplicações de conceitos e termos.
Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.), referenciando as sistematizações do conceito de informação de Miguel Ángel Rendón Rojas, Tefko Saracevi, Anders Orom, Jan Carolos Fernández Molina e Félix de Moya Anegón, Jesse Shera, Armando Malheiro da Silva e Fernanda Dias Ribeiro, Rafael Capurro, Jean-Michel Salaün e Clément Arsenaut, propôs uma categorização em três modelos dominantes de estudo da informação:
-
Modelo Físico (positivista) - Referente ao paradigma físico da informação, ao estudo dos documentos, dos itens informacionais fisicamente tangíveis. Envolvendo pequeno ou nenhum processamento cognitivo.
-
Modelo Semântico (cognitivo) - Referente ao paradigma cognitivo, ao estudo daquilo que altera um conhecimento inicial na mente do sujeito. Resultado da interação entre duas estruturas cognitivas.
-
Modelo Pragmático (sociológico) - Referente ao paradigma social, ao estudo e valorização do contexto do conhecimento registrado. A informação existe em um contexto.
Posto isso, estes três modelos dominantes de estudo da informação pela Ciência da Informação, elucidados por Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.), contribuem para a compreensão da forma em que a informação pode ser categorizada no contexto tecnológico e inovador do ecossistema de startups.
4 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
Destaca-se nesse ponto que, após a atividade 4, descrita inicialmente nos procedimentos metodológicos (padronização da seleção dos artigos recuperados), foi realizada a leitura dos títulos, resumos (abstracts) e palavras-chaves de cada artigo e, em seguida na atividade 5, estabeleceu-se um portfólio de 20 artigos que foram lidos e analisados na íntegra para a realização da atividade 6 (consolidação dos dados), conforme Quadro 2.
A fase 2 do método SSF, correspondeu a análise. Assim com o portfólio definido na fase 1 iniciou-se analisando se as autorias dos artigos se repetiam, o que pode ser observado que não ocorre, conforme Quadro 2. Quanto ao ano de publicação: verificou-se no ano de 2015 mais publicações relacionadas à busca, totalizando em 6 publicações; seguido do ano de 2016 com 5 publicações; 2014 com 4 publicações; 2013 com 3; e 2012 com 2 publicações. Quanto aos periódicos e eventos, estes também não se repetem.
Dos artigos recuperados, apenas um pertence a periódico da área de Ciência da Informação, sendo ele Profesional de la Informacion, com o artigo de Salaverria (2015SALAVERRIA, R. Labs as a formula for media innovation. Profesional De La Informacion, v. 24, n. 4, p. 397-404, 2015. Disponível em: http://recyt.fecyt.es/index.php/EPI/article/download/epi.2015.jul.06/20705. Acesso em: 24 ago. 2016.
http://recyt.fecyt.es/index.php/EPI/arti...
), intitulado de Labs as a formula for media innovation. Neste ponto, é perceptível um horizonte de futuras pesquisas que abarquem contextos do empreendedorismo enfatizando não somente as atribuições técnicas e empreendedoras do profissional da informação, mas os conhecimentos teóricos da área de Ciência da Informação.
Seguindo para a fase 3 do método SSF (atividade 7), apresenta-se o Quadro 3 no qual se cruzou as temáticas dos artigos recuperados com os modelos dominantes de estudo da informação de Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.). Para uma melhor visualização do entrecruzamento realizado, os trechos retirados dos artigos que fazem menção a informação receberam grifo em cinza na parte específica de relação com o/ou modelo(s), sendo que o mesmo foi realizado na identificação dos modelos.
Relação de artigos recuperados à luz dos modelos dominantes de estudo da informação de Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.)
Realizado o cruzamento das menções ao termo “informação” nos artigos encontrados à luz dos modelos estabelecidos por Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.), seguiu-se para a fase 4 do método SSF, realizando-se a atividade 8, ou seja, a consolidação dos resultados (FERENHOF; FERNANDES, 2016FERENHOF, H. A.; FERNANDES, R. F. Desmistificando a revisão de literatura como base para redação científica: método SSF. Revista ACB, v. 21, n. 3, p. 550-563, ago. /nov. 2016. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1194/pdf. Acesso em: 23 dez. 2016.
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).
Dos 20 artigos analisados, 8 apresentam menção ao termo informação sob a perspectiva dos três modelos, físico, semântico e pragmático; 4 sob a perspectiva dos modelos físico e pragmático; 4 sob a perspectiva do modelo físico; 2 sob a perspectiva dos modelos físico e semântico; 1 sob a perspectiva de modelo semântico e; 1 sob a perspectiva dos modelos semântico e pragmático.
É perceptível que o termo informação mais constatado nos artigos está sob a perspectiva do modelo físico, presente em 18 artigos. Pode ser considerado compreensível quando se remete ao início da Ciência da Informação e ao estabelecimento do primeiro conceito de informação que era “vinculado à sua dimensão material, física, sendo o fenômeno estudado a partir de uma perspectiva quantitativa e positivista.” (ARAÚJO, 2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014., p. 145).
Em seguida o modelo mais perceptível foi o pragmático, constando em 13 artigos. Segundo Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014., p. 146), as tendências “implicam um grau maior de complexidade e abstração, com a inserção da informação no escopo da ação humana e no âmbito de contextos socioculturais concretos”. No caso do ecossistema de startups o próprio conceito justifica a presença do modelo, pois startups são empresas inovadoras, baseadas em tecnologia para atender seu público (SOARES, 2016SOARES, J. Saiba mais sobre o que são e como funcionam as start-ups. Folha de São Paulo, 24 jul. 2016. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1794464saiba-mais-sobre-o-que-sao-e-como-funcionam-as-start-ups.shtml. Acesso em: 24 jul. 2016.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/20...
).
O modelo semântico embora tenha ficado em terceiro lugar na análise do entrecruzamento, foi perceptível em 12 artigos. Ocorrência justificável, pois neste modelo a informação está associada à interação entre dados e conhecimento, “e seu estudo relacionado à identificação de significados, interpretações.” (ARAÚJO, 2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014., p. 145). No segmento de tecnologia e inovação, esse processo de identificação e interpretação é realizado o tempo inteiro para o traçar de um novo serviço e/ou produto.
Concluída a apresentação e discussão dos resultados obtidos, segue-se para seção das considerações finais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do objetivo de evidenciar aproximações conceituais de abordagens que associassem informação, tecnologia e inovação no contexto das startups, com potencial de promover o desenvolvimento cientifico interdisciplinar, verificou-se que o entrelaçamento dos temas encontra-se presente também em outras áreas do conhecimento, conforme é possível observar nos resultados apresentados nos quadros 2 e 3, o que permite a expansão do conhecimento científico sobre o assunto.
A produção científica recuperada pode ser considerada representativa para o desenvolvimento de interfaces conceituais interdisciplinares, a partir das quais torna-se capaz de contribuir e receber contribuições de outras áreas que abordam os termos citados. Confirmase assim, de forma empírica e limitada ao escopo desse estudo o que elucida Araújo (2014ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014., p. 147) após apresentação dos três modelos de estudo de informação, quando abordou que “são complementares, mais do que excludentes”.
Nota-se, que mesmo representativa, a produção científica recuperada ainda é pequena se comparada a outras temáticas, fato que pode estar relacionado a abordagem científica recente do tema. Futuros estudos poderão abordar como e quanto os paradigmas descrevem, e são ou não suficientes na produção e gestão da informação nos novos ambientes caracterizados pelas startups em suas especificidades, bem como na literatura cinzenta (teses e dissertações, relatórios etc.).
REFERÊNCIAS
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» http://cmr.ucpress.edu/content/58/2/111 - ARAÚJO, C. A. A. Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível. Brasília, DF: Briquet de Lemos. São Paulo: Associação Brasileira de Profissionais da Informação (ABRAINFO), 2014.
- BAGGIO, A. F.; BAGGIO, D. K. Empreendedorismo: conceitos e definições. Revista de Empreendedorismo, Inovação e Tecnologia, v.1, n. 1, p. 25-38, 2014. Disponível em: <https://seer.imed.edu.br/index.php/revistasi/article/download/612/522>. Acesso em 1 jul. 2016.
» https://seer.imed.edu.br/index.php/revistasi/article/download/612/522 - BLATTMANN, U.; FRAGOSO, G.M. Emoção em tecnologia da informação e da comunicação. In: BLATTMANN, U.; FRAGOSO, G.M.(Org.). O zapear a informação em bibliotecas e na Internet. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
- BORKO, H. Information Science: what is it? American Documentation, v.19, n.1, p.3-5, Jan. 1968.
- CESTYAKARA, A. et al. Social Media Adoption Model for Smart Entrepreneur. 2013 International Conference on Ict for Smart Society (Iciss): Think Ecosystem Act Convergence. 2013. Disponível em: Go to ISI://WOS:000332483900029. Acesso em: 24 ago. 2016.
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Para maiores detalhes sobre o método SSF, sugerimos consulta da citação na íntegra em https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/1194/pdf.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Mar 2024 -
Data do Fascículo
2019
Histórico
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Recebido
05 Set 2018 -
Aceito
14 Out 2018 -
Publicado
23 Out 2018