METODOLOGIA DA PESQUISA EM COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

RESUMO

A Competência em Informação tem sido objeto de estudo em Ciência da Informação desde seu surgimento em 1974. As pesquisas relacionadas à temática levaram à proliferação de modelos de Competência em Informação, utilizados como quadro de referência, para aplicação em outras pesquisas ou na prática bibliotecária. Tendo isso em vista, questiona-se: quais foram os modelos de Competência em Informação utilizados como quadro de referência em dissertações e teses defendidas em Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação, no período de 2014 a 2018? O presente trabalho tem como objetivo geral: identificar os modelos de Competência em Informação utilizados com mais frequência na pesquisa sobre Competência em Informação no Brasil. E como objetivos específicos: a) apresentar um panorama da pesquisa brasileira sobre Competência em Informação; b) apresentar as principais tendências na produção de teses e dissertações sobre Competência em Informação no Brasil; c) realizar uma revisão sistemática da pesquisa brasileira em nível de Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação entre 2014-2018. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, que utiliza como método de pesquisa bibliográfica a revisão sistemática dos resultados obtidos em levantamento realizado na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Conclui apontando para o fato de que os modelos de Competência em Informação são tidos como essenciais para o desenvolvimento da pesquisa sobre a temática e servem como fundamentação teórica e metodológica para a crítica, a interpretação e aplicação de conceitos e métodos sobre Competência em Informação.

PALAVRAS-CHAVE:
Competência em informação; Métodos de pesquisa; Revisão de literatura

ABSTRACT

Information Literacy has been the object of study in Information Science since its inception in 1974. Research related to the theme has led to the proliferation of Information Literacy models, used as reference framework, for application in other researches or in librarian practice. With this in view, we ask: what were the models of Information Literacy used as reference framework in dissertations and theses defended in Information Science Graduate Programs, from 2014 to 2018? The present work has as general goal: to identify the models of Information Literacy used more frequently in the research on Information Literacy in Brazil. And as specific goals: a) present a panorama of the Brazilian research on Information Literacy; b) present the main trends in the production of theses and dissertations on Information Literacy in Brazil; c) to carry out a systematic review of Brazilian research in Master's and Doctoral degrees in Information Science between 2014-2018. This is an exploratory, qualitative approach that uses as a method of bibliographic research the systematic review of the results obtained in a survey carried out at the Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD, in the Portuguese acronym) of the Brazilian Institute of Information in Science and Technology (IBICT, in the Portuguese acronym). It concludes by pointing to the fact that the Information Literacy models are considered essential for the development of research on the subject and serves as theoretical and methodological basis for the critique, interpretation and application of concepts and methods on Information Literacy.

KEYWORDS:
Information literacy; Research methods; Literature review

1 Introdução

A Competência em Informação tem se tornado objeto de discussão desde 1974, quando o bibliotecário americano e presidente da Information Industries Association (IIA) Paul Zurkowski mencionou pela primeira vez o termo information literacy em um relatório apresentada à Comissão Nacional sobre Biblioteconomia e Ciência da Informação.

Zurkowski (1974, p. 27) ressaltava a importância da competência em informação como meio de tornar os indivíduos capazes de lidar com a superabundância informacional atual e como saída eficaz para a formação de uma sociedade democrática, compreendendo a necessidade de serem engendrados esforços governamentais para que os “[...] cidadãos fossem treinados para usarem as ferramentas informacionais já existentes, assim como as que estão em desenvolvimento ou em fase de testes”.

A Competência em Informação se desenvolve assim como um conjunto de habilidades que um indivíduo deve possuir para lidar com a informação. O documento Information Literacy Compentecy for Higher Education (INFORMATION Literacy…, 2000) define esse conjunto como cinco: identificar sua necessidade informacional, acessar, avaliar, usar informação para a resolução de um problema ou para uma tomada de decisão, e compreender as questões sociais, econômicas e legais que cercam o uso de informação.

No Brasil, os primeiros indícios de estudos sobre Competência em Informação surgiram nos inícios dos anos 2000, com as publicações de Caregnato (2000), Dudziak (2001), Hatschbach (2002) e Campello (2002) (CAMPELLO, 2003), trazendo a discussão sobre a renovação do papel pedagógico da biblioteca e dos bibliotecários no país e sobre a necessidade de que esses se preocupem em tornar os usuários aos quais atendem em indivíduos cada vez mais competentes, autônomos e responsáveis ao lidar com a informação, principalmente com o surgimento das novas tecnologias da informação e da comunicação.

Desde então, a pesquisa brasileira de Competência em Informação vem aumentando de modo exponencial, através da publicação de artigos científicos e a defesa de teses e dissertações que abordem o tema sob uma diversidade de olhares e pautados em modelos teóricos, metodológicos e conceituais, que visam refletir sobre o tema ou aplicá-lo a uma nova realidade.

Tendo em vista essa proliferação de pesquisas sobre a temática e do uso e da aplicação de modelos de Competência em Informação, questiona-se: quais foram os modelos de Competência em Informação utilizados como quadro de referência em dissertações e teses defendidas em Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação, no período de 2014 a 2018?

Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo geral: identificar os modelos de Competência em Informação utilizados na pesquisa sobre Competência em Informação no Brasil. E como objetivos específicos: a) apresentar um panorama da pesquisa brasileira sobre Competência em Informação; b) apresentar as principais tendências na produção de teses e dissertações sobre Competência em Informação no Brasil; c) realizar uma revisão sistemática da pesquisa brasileira em nível de Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação entre 2014-2018.

Esse estudo faz parte da pesquisa de mestrado sobre “Competência em Informação na Educação Profissional” desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal do Ceará, que tem como objetivo identificar indicadores de Competência em Informação a serem desenvolvidos por alunos dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, ofertados por um instituto da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

2 Competência em Informação: história, conceitos, modelos

Paul Zurkowski foi o pioneiro no estabelecimento da Competência em Informação. Campello (2003) destaca ainda que na década de 1970, dois outros autores, Hamelink (19 76) e Owens (1976), trouxeram novas contribuições à reflexão sobre Competência em Informação, incluindo uma dimensão social ao conceito e dando a ele um papel importante na formação de cidadãos e na busca por uma sociedade cada vez mais democrática.

Esses avanços foram essenciais para que a solidificação do conceito de Competência em Informação nas discussões da American Library Association (ALA) se tornasse efetivo. Exemplo disso é a publicação, em 1989, do Relatório Final do Presidential Comitee of Information Literacy, que oferece, pela primeira vez, uma definição oficial para o termo.

A Competência em Informação é entendida como um processo de aprendizagem que envolve:

• saber quando se tem uma necessidade de informação

• identificar a informação de que necessita para resolver um determinado problema ou questão

• encontrar a informação de que necessita e avaliá-la

• organizar a informação

• usar a informação efetivamente para responder um problema ou questão. (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1989).

De acordo com esse processo, o indivíduo competente em informação deve saber identificar suas necessidades informacionais, estabelecendo questões ou problemas a serem resolvidos, através de um processo reflexivo. Essas informações necessitadas devem ser identificadas, com a seleção de, por exemplo, fontes potenciais formais ou informais. O indivíduo então deve buscar a informação nas fontes selecionadas e avaliá-las, organizando as relevantes, tendo em vista a sua utilização para a resolução da questão/problema que deu início à sua busca.

Os estudos sobre Competência em Informação então levaram a criação de modelos teórico-metodológicos e conceituais que visassem o desenvolvimento de habilidades informacionais de maneira sistemática entre os usuários de bibliotecas, principalmente no ensino básico e no superior.

O Information Power: Building Partnerships for Learning foi uma proposta de modelo de Competência em Informação voltado para a educação básica americana, no final da década de 1990. O documento, criado pela American Association of School Librarians (ASSL) em conjunto com a Association for Educational Communication and Technology (AECT), divide-se em categorias, padrões e indicadores. De acordo com o documento, o aluno competente em informação acessa, avalia e usa a informação eficiente e efetivamente, sendo um aluno que aprende com independência e atua com responsabilidade junto à comunidade de aprendizagem à qual está vinculado (AMERICAN ASSOCIATION OF SCHOOL LIBRARIAS; ASSOCIATION FOR EDUCATIONAL COMMUNICATION AND TECHNOLOGY, 1998).

Já no âmbito do ensino superior, em 2000, a Association of College and Research Libraries (ACRL) lançou o documento Information Literacy Competency Standards for Higher Education, que trouxe a possibilidade de se refletir e se traçarem ações para o desenvolvimento de ações sistemáticas que permitissem que universitários pudessem ampliar suas habilidades informacionais. O documento definiu como Competência em Informação cinco padrões específicos, estando mais atrelado ao Relatório Final da ALA (1989): identificar a própria necessidade de informação, buscar informação, avaliar informação, usar informação e compreender as questões sociais, econômicas e legais que cercam o uso da informação (ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARIES, 2000).

Alves e Alcará (2014) destacam, porém, que outros modelos de Competência em Informação também foram desenvolvidos, principalmente voltados ao contexto universitário. O quadro abaixo mostra o levantamento realizado pelas autoras:

Quadro 1
Modelos de Competência em Informação e suas aplicações

Modelo	Aplicação
Information Search Process de Carol Kuhlthau (1993). EUA.	Brasil. Estudantes. Realizado no Curso de Biblioteconomia da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais.
The Seven Pillars of Information Literacy de SCONUL (1999). Reino Unido	Reino Unido. Estudantes. Realizado nas universidades: Abertay em Dundee; Cardiff; Southampton; Wales em Newport; Bradford; York (ILIAD Project).
Information Literacy Competency Standards for Higher Education da ACRL (2000). EUA.	China. Estudantes. Realizado na Hong Kong Baptist University.
(CI2) Competencias Informáticas e Informacionales (2004). Espanha	Espanha. Estudantes. Realizado nas universidades espanholas.
Empowering 8 do National Institute of Library and Information Sciences (2004). Sri Lanka	Indonésia. Estudantes. Realizado na Faculty of Languages and Arts, State University of Jakarta.

• Fonte: ALVES; ALCARÁ (2014)

Além desses também podem ser destacadas novas perspectivas sobre a Competência em Informação apresentadas em documentos como Standards for the 21st-Century Learner da American Association of School Librarians (AMERICAN ASSOCIATION OF SCHOOL LIBRARIANS, 2009), Framework of Information Literacy in Higher Education, que além de ser uma atualização de ACRL (ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARIES, 2016), traz uma abordagem voltada para o conceito de metaliteracy, e o Marco de Avaliação Global da Alfabetização Midiática e Informacional: disposição e competências do País (MARCO..., 2016), com uma abordagem que incluía a competência para o uso das mídias ao discurso da Competência em Informação.

No Brasil, muitos modelos de Competência em Informação também têm sido construídos, seja tomando empréstimos dos modelos conceituais internacionais ou mesmo inserindo inovações adequadas à realidade nacional. Essa proliferação de modelos no país é resultante, principalmente de pesquisas em nível de Mestrado e Doutorado e atendem às diversas realidades e facetas da competência em informação na sociedade.

A professora e pesquisadora Regina Célia Baptista Belluzzo apresentou em 2004 duas contribuições importantes para o desenvolvimento da área no Brasil. Por um lado, junto com Kerbauy (BELLUZZO; KERBAUY, 2004), ela lança a sua proposta de “Padrões e indicadores de performance de Competência em Informação” voltados para a formação de professores, apresentado forte influência dos Standards da ACRL (2000) e, por outro lado, junto a Kobayashi e Feres, apresenta o seu “Guia de Pesquisa e Uso de Informação em Diferentes Tipos de Fontes” (BELLUZO; KOBAYASHI; FERES, 2004).

Enquanto que os “Padrões e Indicadores” renovam e contextualizam para o contexto brasileiro os Standards da ACRL (2000), o Guia surge como uma inovação na área, sendo subdivididos em nove etapas, que têm como objetivo definir como se dá o processo de busca e uso da informação. Essas nove etapas são:

1. Planificar, em que o estudante deverá agrupar assuntos, identificar tópicos de pesquisa, definir grandes temas, objeto de pesquisa, metodologias e palavras-chaves para a pesquisa;

2. Localizar as fontes de informação adequadas, em que serão definidas as possíveis fontes de pesquisa, identificadas que tipo de informações são necessitadas e quais fontes devem ser as primeiras consultadas;

3. Escolher as fontes de mais adequadas, em que também se identifica se as informações são atualizadas, se fazem referência a outras fontes e se correspondem às necessidades dos estudantes;

4. Identificar as fontes consideradas de informação, por meio de referências bibliográficas;

5. Fazer leitura/interpretação das informações/documentos identificadas;

6. Redigir o texto do projeto;

7. Desenvolver o projeto investigativo ou projeto de pesquisa;

8. Redigir o trabalho/produto final;

9. Apresentação e avaliação do trabalho e produto final (BELLUZO; KOBAYASHI; FERES, 2004)

O Guia proposto por Belluzzo, Kobayashi e Feres (2004) demonstra o interesse das autoras em fornecer um caminho metodológico que facilite o processo de desenvolvimento de Competência em Informação, fornecendo aos estudantes um modelo que os auxiliem acessar, avaliar e usar informação de maneira competente, independente e efetiva.

Um exemplo mais recente é a proposta de Vitorino e Piantola (2009). Desde 2009, a professora Elizete Vieira Vitorino junto a outros autores vem pesquisando sobre a Competência em Informação sob uma perspectiva multidimensional, apresentando um Quadro de Referência que se utiliza como referencial teórico a obra da autora Terezinha Azeredo Rios.

O quadro de referência proposto por Vitorino e Piantola (2009) compreende o fato de que o conceito de Competência em Informação é constituído de várias dimensões, que estas dimensões podem ser classificadas em: técnica, estética, política e ética (como pode ser visto no quadro abaixo).

Quadro 2
Resumo das características das dimensões da competência informacional

Dimensão técnica	Dimensão estética	Dimensão ética	Dimensão política
Meio de ação no contexto da informação. Consiste nas habilidades adquiridas para encontrar, avaliar e usar a informação que precisamos. Ligada à ideia de que o indivíduo competente em informação é aquele capaz de acessar com sucesso e dominar as novas tecnologias.	Criatividade sensível. Capacidade de compreender, relacionar, ordenar, configurar e ressignificar a informação. Experiência interior, individual e única do sujeito ao lidar com os conteúdos de informação e sua maneira de expressá-la e agir sobre ela no âmbito coletivo.	Uso responsável da informação. Visa a realização do bem comum Relaciona-se as questões de apropriação e uso da informação, tais como propriedade intelectual, direitos autorais, acesso à informação e preservação da memória do mundo.	Exercício de cidadania. Participação dos indivíduos nas decisões e nas transformações referentes à vida social. Capacidade de ver além da superfície do discurso. Considera que a informação é produzida a partir de (e em) um contexto específico.

• Fonte: VITORINO; PIANTOLA (2011, p. 109).

As dimensões apresentadas por Vitorino e Piantola (2009) são interconectadas e apresentam as características multifacetadas de um indivíduo competente em informação, desde os saberes práticos dos indivíduos quanto ao acesso e uso da informação e dos recursos informacionais (dimensão técnica), passando pela sua criatividade em apreciar e expressar a informação (na dimensão estética), pela compreensão dos aspectos contextuais, políticos e sócio-culturais que cercam o uso da informação (dimensão política) e culminando no comportamento ético e no uso responsável da informação pelo indivíduo (dimensão ética).

Os modelos de Competência em Informação buscam, dessa forma, não apenas estabelecer o conceito no campo da Biblioteconomia e Ciência da Informação, mas de se ressaltar o papel pedagógico da biblioteca em atuar na formação de indivíduos aptos a lidarem com a informação na contemporaneidade.

3 Procedimentos Metodológicos

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória, pois tem “[...] como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses para estudos posteriores” (GIL, 2007, p. 43). Dessa forma, o tipo de pesquisa aqui adotado permite identificar o panorama das pesquisas sobre Competência em Informação no Brasil e definir estratégias de pesquisas pautadas na produção brasileira sobre a temática.

De abordagem qualitativa, utiliza como método de coleta de dados a revisão bibliográfica sistemática. De acordo com Costa e Zoltowski (2014, p. 56) baseado em Fernández-Ríos e Buela-Casal (2009),

A revisão sistemática é um método que permite maximizar o potencial de uma busca, encontrando o maior número possível de resultados de uma maneira organizada. O seu resultado não é uma simples relação cronológica ou uma exposição linear e descritiva de uma temática, pois a revisão sistemática deve se constituir em um trabalho reflexivo, crítico e compreensivo a respeito do material analisado.

A proposta aqui apresentada é, portanto, não apenas realizar um levantamento da produção científica sobre Competência em Informação no Brasil, mas refletir sobre os percursos metodológicos adotados e a relação destes com os modelos de Competência em Informação escolhidos como quadro de referência.

De acordo com Akobeng (2005 apudCOSTA; ZOLTOWSKI, 2014, p. 56), a revisão sistemática pode seguir os seguintes passos para ser realizada:

1. delimitação da questão a ser pesquisada;

2. escolha das fontes de dados;

3. eleição das palavras-chave para a busca;

4. busca e armazenamento dos resultados;

5. seleção de artigos pelo resumo, de acordo com critérios de inclusão e exclusão;

6. extração dos dados dos artigos selecionados;

7. avaliação dos artigos;

8. síntese e interpretação dos dados.

A questão da pesquisa aqui realizada é: quais foram os modelos de Competência em Informação utilizados como quadro de referência em dissertações e teses defendidas entre 2014-2018? Como fontes de coletas de dados as dissertações e teses presentes na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).

Sabendo que a tradução de information literacy para o português é ainda tema de debate, utilizou-se, na opção Busca Avançada, da BDTD, ligados pela opção “QUALQUER termo” (que permite que os termos selecionados sejam ou não recuperados durante o processo de pesquisa), as palavras-chave: Competência em Informação, Competência Informacional, Letramento Informacional, Letramento em Informação, Alfabetização informacional, Alfabetização em Informação, Literacia e Information Literacy.

Outros filtros utilizados foram: a delimitação para obras em português (sigla: por), defendidas entre 2014 e 2018, sem preferência para obras com ou sem ilustração ou para tipo de documento (tese ou dissertação). O sistema recuperou um total de 141 resultados (95 teses e 45 dissertações), em um tempo de busca estimado em 0,29s.

A fase 5 aborda a necessidade de ser adotar critérios de inclusão e de exclusão de documentos visando um afunilamento da pesquisa, para tornar os resultados cada vez mais precisos. Nessa fase, portanto, utilizou-se aqui três critérios de exclusão: 1) documentos cujos descritores que não estivessem estritamente relacionados às palavras-chaves adotadas; 2) documentos, cujos descritores fossem relacionados aos conceito de Media and Information Literacy e suas variantes; e 3) documentos que não evidenciassem no resumo como parte da metodologia o uso de modelos de Competência em Informação

O primeiro critério de exclusão esteve relacionado aos descritores de assunto da obra: todos aqueles documentos cujos descritores não estivessem de acordo com as palavras-chaves adotadas na busca, deveriam ser excluídos. Dessa forma, das 141 teses e dissertações apenas 74 ainda permaneceram nessa primeira etapa.

O segundo critério adotado foi a exclusão de todos os documentos cujos descritores de assunto fossem relacionados ao conceito de “Media and Information Literacy”, por entedê-lo como uma abordagem mais abrangente do uso da informação, que inclui a comunicação e o uso das mídias. Dessa foram, além do termo referente ao conceito, também foram excluídos documentos cujos descritores fossem “Media Literacy” “Competências comunicativas”, “Competência em Informação e Midiática”, “Letramento informacional e midiático”, “Competências infocomunicacionais” dentre outras formas. Dessa exclusão, apenas 57 obras restaram.

Como a questão de pesquisa sendo “Quais foram os modelos de Competência em Informação utilizados como quadro de referência em dissertações e teses defendidas entre 2014-2018?”, o terceiro e último critério de exclusão aqui adotado foi o de documentos que não evidenciaram no resumo o uso de algum tipo de modelo ou quadro de referência (framework) de Competência em Informação.

Desse processo, apenas 5 obras estavam adequadas à presente pesquisa. Atendendo à recomendação da fase 6 da revisão sistemática segundo Akonberg, os dados do documento estão abaixo descritos:

Quadro 3
Dados dos artigos selecionados

Autor	Título	Ano	Tipo	Origem
Manhique, Ilídio Lobato Ernesto	Competência Informacional e o desafio das bibliotecas universitárias: o caso da Biblioteca Central Brazão Mazula da Universidade Eduardo Mondlane de Moçambique	2014	Tese	UFBA
Oliveira, Alexandre Pedro de	A dimensão técnica da competência informacional: um estudo com bibliotecários de referência da Grande Florianópolis, SC	2014	Dissertação	UFSC
Santos, Jaires Oliveira	Competência em informação dos egressos do curso de Biblioteconomia: uma análise na região Nordeste do Brasil	2015	Dissertação	UFBA
Lucca, Djuli Machado de	A dimensão política da competência informacional: um estudo a partir das necessidades informacionais de idosos	2015	Dissertação	UFSC
Pellegrini, Eliane	A dimensão ética da competência em informação: a experiência narrada dos bibliotecários do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC)	2016	Dissertação	UFSC

• Fonte: o autor.

Os resultados apontam para um total de 1 tese e 4 dissertações, defendidas em um período que se estende de 2014 a 2017. Os trabalhos são provenientes de três universidades, sendo duas delas federais (Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal de Santa Catarina) e uma estadual (Universidade Estadual de São Paulo). De acordo com a fase 7, avaliação, todos os documentos são pertinentes à pergunta de pesquisa.

4 Resultados e Discussão

A avaliação dos documentos selecionados obedeceu aos objetivos do presente artigo sobre conhecer as trajetórias metodológicas de teses e dissertações sobre Competência em informação. Nesse sentido, a análise se síntese dos resultados restringiu-se aos percursos metodológicos adotados nas teses e dissertações, principalmente sobre a tomada de decisões dos autores a respeito do uso e da aplicação de modelos de Competência em Informação em seus trabalhos, como pode ser visto a seguir:

a) Competência Informacional e o desafio das bibliotecas universitárias: o caso da Biblioteca Central Brazão Mazula da Universidade Eduardo Mondlane de Moçambique.

A tese trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, de abordagem mista, quantitativa e qualitativa, sendo adotadas tendo em vista, por um lado, avaliação quantitativa dos serviços da biblioteca e na integração da competência em informação no ensino superior, e, por outro lado, a sistematização qualitativa das observações. Trata-se de um estudo de caso que se debruça sobre a Biblioteca Central da Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique.

Utilizou como instrumento de coleta de dados: 2 questionários de perguntas fechadas, sendo um voltado para alunos de graduação em geral e outro apenas para estudantes do 4º semestre que passaram por treinamento na biblioteca, visando identificar diferenças entre os que passaram e os que não passaram por educação para competência em informação; 1 entrevista semiestruturada com os bibliotecários que atuam na biblioteca estudada, visando conhecer a concepção e execução das atividades de Competência em Informação, nesse caso, com perguntas baseadas nos modelos de desenvolvimento de programas de educação para Competência em Informação da ACRL (2003) e MOFUS (2008), e sobre suas competências profissionais; e também utilizou a observação direta para avaliar: o funcionamento da biblioteca, o processo de formação de usuários, o atendimento e os recursos informacionais disponíveis na unidade de informação.

O método de análise de resultados foi a Análise de Conteúdo de Bardin, sendo analisadas sob três categorias: 1) Panorama geral da competência informacional de Moçambique; 2) biblioteca central e seus serviços; 3) competência informacional dos estudantes. Essa última categoria foi pautada nos padrões 1 e 3 do ACRL (2000), para abranger a) identificação das fontes de informação; b) utilização dos recursos e fontes de informação; c) critérios de avaliação das fontes de informação.

b) A dimensão técnica da competência informacional: um estudo com bibliotecários de referência da Grande Florianópolis, SC

Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória de abordagem qualitativa. Utilizou a pesquisa bibliográfica para fazer levantamento do conceito de técnica e de Competência em Informação. É uma pesquisa pautada nas 4 Dimensões de Competência em Informação de Vitorino e Piantola (2011), destacando a dimensão técnica. Tem, como cenário de pesquisa, as bibliotecas universitárias da Mesorregião da Grande Florianópolis, provenientes apenas de Universidades, de acordo com a classificação do MEC, excluindo-se assim centros universitários, faculdades e Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia. Os sujeitos de pesquisa foram bibliotecários de referência com no mínimo três anos de atuação, selecionados por meio de amostra intencional e por conveniência. Instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista, como objetivo de levantar informações sobre a prática informacional e a dimensão técnica da competência em informação. Os resultados foram analisados com base na Análise de Conteúdo elaborada por Laurence Bardin, através de sete categorias, sendo uma delas a dimensão técnica da Competência em Informação.

c) Competência em informação dos egressos do curso de Biblioteconomia: uma análise na região Nordeste do Brasil

A dissertação trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, que utiliza como método de coleta de dados o survey, no formato questionário e escala Likert. As questões foram elaboradas baseando-se no ACRL (2000), por meio dos padrões 1, 2, 3 e 5. O cenário de pesquisa foram as universidades federais do Nordeste brasileiro e os sujeitos de pesquisas os egressos dos cursos de Biblioteconomia dessas universidades. A amostragem foi intencional e, dos 382 egressos de 2004 a 2014, houve um total de 237 questionários totalmente respondidos. Análise dos resultados foi realizada por meio da Análise de Conteúdo de Bardin. As categorias analisadas foram: perfil; necessidades identificação de fontes; estratégias de seleção de recursos; avaliação de informação; e aspectos legais da informação.

d) A dimensão política da competência informacional: um estudo a partir das necessidades informacionais de idosos

Essa dissertação trata-se de uma pesquisa social de abordagem qualitativa, que usa como método de sustentação científica a Fenomenologia em relação aos objetivos e a Teoria das Representações Sociais em relação à análise dos resultados. A coleta de dados ocorreu primeiramente através de pesquisa bibliográfica para o desenvolvimento de referencial teórico, e, posteriormente, na pesquisa de campo, por meio de entrevista semiestruturada. O público-alvo foi um grupo de 9 idosos selecionados por meio de uma amostragem intencional e aleatória, moradores da cidade de São José, da Mesorregião da Grande Florianópolis e frequentadores de Centro de Atendimento ao Idoso (CATI). Análise dos dados foi realizada por meio da técnica de Análise do Discurso do Sujeito Coletivo, que torna o grupo de entrevistados representantes da totalidade de indivíduos pertencentes ao qual estão atrelados (no caso, idosos). Utiliza como base teórica, o quadro de referência das 4 Dimensões da Competência em Informação de Vitorino e Piantola (2011), enfatizando a dimensão política.

e) A dimensão ética da competência em informação: a experiência narrada dos bibliotecários do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC)

A dissertação é uma pesquisa tanto de tipo exploratória como descritivo, de abordagem qualitativa e que usa como método de sustentação científica a fenomenologia. Possui uma pesquisa bibliográfica e documental inicial para a construção do referencial teórico. E é pautada nas 4 Dimensões da Competência em Informação de Vitorino e Piantola (2011), enfatizando a dimensão ética. O cenário da pesquisa foram as bibliotecas do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina e os sujeitos da pesquisa os bibliotecários que atuam nessas bibliotecas. A escolha da amostra foi intencional e não probabilística, sendo de um universo de 30 bibliotecários, um total de 6 entrevistados. A técnica de coleta de dados foi a entrevista narrativa. Análise dos dados foi baseado na análise fenomenológica tendo como fundamentação o Padrão 5 da ACRL (2000).

4.1 Síntese e Avaliação Crítica

As teses e dissertações selecionadas apresentaram uma uniformidade no uso da abordagem qualitativa no estudo de Competência em Informação apesar de assumirem a possibilidade do uso de dados quantificáveis como no caso do survey e questionário de perguntas fechadas. Essa adoção de abordagens qualitativas pode vir de uma compreensão de que a Competência em Informação não pode ser analisada de acordo com parâmetros, mas que é um tipo de competência que se desenvolve por meio de atitudes, habilidades e vivência do sujeito em interação com o universo informacional.

Os tipos de pesquisas adotados foram, principalmente, a pesquisa exploratória e a descritiva porque buscavam se debruçar sobre temas pouco pesquisados e identificar perfis e atitudes. Isso porque a pesquisa sobre Competência em Informação no Brasil, apesar de em ascensão, ainda encontra pouca expressão na prática cotidiana das bibliotecas, ainda enfocadas nos paradigmas tradicionais de educação de usuários.

Um total de 3 pesquisas tiveram como lócus bibliotecas universitárias, 1 em biblioteca de Instituto Federal e 1 voltada para o contexto não educacional, que seria o Centro de Atendimento ao Idoso. Das pesquisas, 2 voltaram-se para apenas para o bibliotecário como público-alvo, enquanto 1 buscava compreender tanto ouvir o bibliotecário como usuário, 2 compreender apenas um lado do usuário da informação. Essa escolha majoritária de ambientes acadêmicos pode dever-se ao fato de que há instrumentos consolidados na área de Competência em Informação voltados para este público e a escolha de 3 pesquisadores de dedicarem-se a identificar as opiniões dos bibliotecários, deve estar atrelado à necessidade de identificar ações relacionados à temática no cotidiano das bibliotecas.

Das obras selecionadas, 4 utilizaram algum tipo de entrevista, 2 utilizaram algum tipo de questionário e 1 a observação como instrumento de coleta de dados. Os instrumentos escolhidos demonstram a necessidade de os pesquisadores perceberem com mais aproximação a relação dos sujeitos com a Competência em Informação, por meio da entrevista, e de identificarem os níveis de Competência em Informação desses sujeitos baseados em modelos já consolidados.

Das pesquisas também, 3 usaram como instrumento de análise de resultados a Análise de Conteúdo de Bardin, enquanto 1 utilizou a Análise do Discurso do Sujeito Coletivo e 1 a Análise Fenomenológica. A escolha de métodos de análise dos dados deveu-se à necessidade de categorização dos resultados obtidos, principalmente aqueles que usaram a Análise de Conteúdo, e aos métodos de sustentação científica (como a Teoria das Representações Sociais e a Fenomenologia).

Quanto aos modelos de Competência em Informação, três fizeram uso do ACRL (2000) e 3 das 4 Dimensões de Competência em Informação de Vitorino e Piantola (2009). O uso dos padrões da ACRL devem-se ao fato de oferecerem indicadores de performance da habilidades relacionadas à Competência em Informação, facilitando assim a sistematização dos resultados. Já o uso das dimensões de Vitorino e Piantola (2009) se deve, primeiramente, ao fato de que as três dissertações estão ligadas à mesma linha de pesquisa, e também porque esse quadro oferece um referencial filosófico e educacional sobre a Competência em Informação e suas aplicações.

5 Considerações Finais

A Competência em Informação tem se tornado referencial conceitual para bibliotecários na introdução da educação para informação em seus ambientes de trabalho, ensinando o seu público a acessar, avaliar e usar informação de maneira competente, independente e responsável.

Para avaliar esse processo são desenvolvidos modelos, quadros conceituais (frameworks), padrões, dentre outras ferramentas que permitem aos profissionais de informação estabelecer métodos, técnicas, produtos e serviços de formação de usuários, assim como identificar as habilidades informacionais destes.

A presente pesquisa, por meio da técnica da Revisão Sistemática, realizou um levantamento das pesquisas brasileiras de Mestrado e Doutorado na área da Ciência da Informação que atuam sobre a temática em que o uso dessas ferramentas é percebido, tendo como resultado 5 obras (1 tese e 4 dissertações) defendidas entre 2014 e 2018, que adotaram modelos de Competência em Informação como parte fundamental de seus procedimentos metodológicos.

Os principais modelos adotados foram os Information Literacy Compentency Standards for Higher Education (ACRL, 2000) e as 4 Dimensões da Competência em Informação (VITORINO; PIANTOLA, 2011). Os dois modelos podem ser considerados como recursos que facilitam a pesquisa, uma vez que o primeiro oferece uma lista de indicadores de performance que um indivíduo competente em informação deve apresentar, enquanto que o segundo oferece subsídios filosóficos e educacionais para a criação de um quadro conceitual sobre a Competência em Informação.

Os resultados obtidos não excluem o fato de que outras teses e dissertações, como no caso de Passos (2015), tenham utilizado modelos de Competência em Informação em seus percursos metodológicos ou que outros modelos, além dos encontrados aqui, tenham sido usados em pesquisas brasileiras. Esses outros documentos apenas não foram assistidos pelos critérios adotados.

O presente trabalho conclui apontando para o fato de que os modelos de Competência em Informação são tidos como essenciais para o desenvolvimento da pesquisa sobre a temática e servem como fundamentação teórica e metodológica para a crítica, a interpretação e aplicação de conceitos e métodos sobre Competência em Informação.

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• JITA:

  CE. Literacy

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  22 Mar 2024
• Data do Fascículo
  2019

Histórico

• Recebido
  27 Jun 2018
• Aceito
  20 Dez 2018
• Publicado
  04 Fev 2019