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Treinamento e implementação da RDA olhares e perspectivas

RESUMO

Introdução:

A RDA anuncia grandes mudanças no processo de catalogação e uma nova maneira de representar os recursos informacionais. O treinamento e a implementação da RDA em bibliotecas requerem grandes esforças dos catalogadores. Este artigo apresenta parte dos resultados de uma dissertação de mestrado.

Objetivo:

Apontar as principais ações de treinamentos para implementação da RDA desenvolvidos pelos países membros que participaram do seu desenvolvimento, pelas bibliotecas de outros países e identificar as principais preferências de programas, métodos e tópicos de conteúdo para treinamento da RDA pelos catalogadores da UFMG.

Método:

Utilizou-se a metodologia de objetivos exploratórios e descritivos e de aspectos quantitativos, a pesquisa bibliográfica, e também, como instrumento para coleta de dados a entrevista semiestruturada.

Resultados:

Apontam que o treinamento presencial é o método preferido pelos catalogadores e o conteúdo preferido para treinamento são as mudanças em relação a RDA e AACR2.

Conclusão:

Ressalta-se que o treinamento é uma etapa importante para a implementação da RDA e que a identificação de preferencias de treinamentos por parte das instituições é um passo primordial para definir bem que instrumentos de treinamentos serão utilizados e introduzidos ao pessoal de suas comunidades de informação.

PALAVRAS-CHAVE:
Catalogação; AACR2; RDA; Treinamento; Implementação

ABSTRACT

Introduction:

The RDA announces major changes in the cataloging process and a new way of representing information resources. The training and implementation of RDA in libraries requires great efforts from cataloguers. This article presents part of the results of a master's thesis.

Objective:

Point out the main training actions for the implementation of the RDA developed by member countries that participated in its development and by libraries in other countries, and identify the main preferences for programs, methods and content topics for training the RDA by UFMG cataloguers.

Method:

It was used the methodology of exploratory and descriptive objectives and quantitative aspects, the bibliographical research, and also, as an instrument for data collection, the semi-structured interview.

Results:

They point out that face-to-face training is the preferred method by cataloguers and the preferred content for training are changes in relation to RDA and AACR2.

Conclusion:

It is noteworthy that training is an important step for the implementation of the RDA and that the identification of training preferences by the institutions is an essential step to define well which training instruments will be used and introduced to the staff of their communities of information.

KEYWORDS:
Cataloging; AACR2; RDA; Training; Implementation

1 INTRODUÇÃO

A biblioteca desde a antiguidade aparece como instituição guardiã do legado informacional da humanidade procurando fornecer o acesso adequado a qualquer tipo de informação para seu público e sempre se adaptando evolutivamente as novas tecnologias de ponta e os novos ambientes informacionais, em decorrência da rápida desatualização de tecnologias passadas.

As recentes tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) trouxeram alterações nos ambientes informacionais que contribuíram para o aparecimento de novos tipos de documentos, formatos, suportes, conteúdos e novas formas de acesso à informação e com isso uma nova maneira de se registrar recursos. Dessa maneira, surge a norma de catalogação que substituirá o Anglo American Catalogue Rules (AACR2), a Resource Description and Access (RDA), que é uma realidade já utilizada por várias bibliotecas de outros países.

Em decorrência da evolução destes novos ambientes informacionais, principalmente de ambiente digitais, e o aumento de novos formatos, suportes e maneiras de acesso, surge à necessidade de adaptação de regras e normas para se ajustar a essa nova realidade onde ocorra uma representação descritiva mais aprimorada de recursos. Nesse caso uma nova demanda de fundamentos teóricos e conceituais moldados nos modelos FRBR’s (FRBR, FRAD, FRSAD) foram subsídios para estruturar novas instruções e diretrizes para esses ambientes, que consequentemente desencadeou em revisões e atualizações do AACR2R.

A transição do AACR2R, para a atual norma, a RDA, anuncia grandes mudanças no processo de catalogação e uma nova maneira de representar os recursos informacionais.

O treinamento e a implementação da RDA em bibliotecas implicam conhecer sua história, objetivos, princípios, estrutura, regras, a ferramenta de disponibilização on-line (o RDA Toolkit) e seus relacionamentos, além do seu impacto direto na catalogação de recursos e no modo como seus os dirigentes precisarão proceder para sua implementação.

A adoção da RDA já é uma realidade nos países membros do comitê que participou do seu desenvolvimento, e em grande parte em outros países que começaram a pensar essa implementação. Antes mesmo do lançamento da RDA oficialmente em 2010 por meio da fermenta RDA Toolkit, o Joint Steering Committee for Development of RDA (JSC)1 1 The Joint Steering Committee for Development of RDA (JSC) é responsável por manter a "RDA: Resource Description and Access" . A JSC era anteriormente responsável pela manutenção das Regras de Catalogação Anglo-Americanas (AACR), que a RDA foi desenvolvida para substituir. composta pela Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Estados Unidos, já haviam realizado estudos de percepção em suas bibliotecas para traçarem as necessidades de treinamento e um plano de implementação da norma RDA, inicialmente, a partir de suas bibliotecas nacionais e consequentemente levada para outras bibliotecas acadêmicas, públicas e escolares como mencionados abaixo:

[...] vários estudos foram publicados em muitos casos por organizações de bibliotecas nacionais para medir o estado atual do conhecimento sobre a RDA e examinar as necessidades de treinamento desde que o novo código de catalogação foi lançado oficialmente em junho de 2010. Dados para esses estudos conduzido antes da implementação completa da RDA foram recolhidos por meio de inquéritos de várias comunidades de partes interessadas em vários países que adotaram a nova norma. (PARK; TOSAKA, 2015PARK, Jung-ran; TOSAKA, Yuji. RDA Implementation and Training Issues across United States Academic Libraries: An In-Depth E-Mail Interview Study. Journal of Education for Library and Information Science, Seattle, v. 56, nº 3, p. 252-266, jun. 2015. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1074659.pdf. Acesso em: 19 Jun. 2018.
https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ107...
, p. 253, tradução nossa).

Este artigo apresenta parte dos resultados de uma dissertação de mestrado que trata da implementação da RDA e tem por objetivo apontar as principais ações de treinamentos para implementação da RDA desenvolvidos pelos países membros que participaram do seu desenvolvimento e pelas bibliotecas de outros países, e identificar as principais preferências de programas, métodos e tópicos de conteúdo para treinamento da RDA pelos catalogadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para melhor compreensão da temática abordada e para dar um suporte adequado a esse artigo, é importante que alguns conceitos sejam esclarecidos. Assim nas seções a seguir serão abordados alguns conceitos sobre a catalogação, sobre os modelos conceituais que fundamentam a norma RDA, sobre suas características e alguns aspectos sobre o treinamento e a implementação da RDA.

2.1 Catalogação

A catalogação é o “estudo, preparação e organização de mensagens codificadas, com base em itens existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir interseção entre as mensagens contidas nos itens e as mensagens internas dos usuários”, atua na descrição, como subsídio para a organização informacional (MEY, 1995MEY, Eliane Serrão Alves. Introdução à catalogação. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 1995., p. 05).

Dentre umas das funções ou especificações do profissional biblioteconômico, está a organização, o tratamento e a disseminação de conhecimentos registrados para seu público de usuários. A prática da catalogação consiste em um conjunto de informações que representam um registro do conhecimento, implicando no levantamento das características desse registro e a cognição das características do usuário.

O primeiro evento no sentido da normalização internacional da catalogação foi a International Conference on Cataloguing Principles (ICP), em Paris, no ano de 1961. A conferência estabeleceu a Declaração de Princípios Internacionais de Catalogação, a qual instituiu os princípios que integram a descrição bibliográfica. Barbosa (1978BARBOSA, Alice Príncipe. Novos rumos da catalogação. Rio de Janeiro: BNG/Brasilart, 1978., p. 41) menciona a ICP, de 1961, como a precursora da normalização das entradas (mais tarde pontos de acesso) e cabeçalhos das obras existentes e passíveis de serem catalogadas.

Após a conferência de Paris vários códigos de catalogação surgiram, e entre eles, o Anglo American Catologing Rules (AACR), em sua primeira publicação, em 1967, sua segunda edição em 1978, a AACR2, que foi traduzida no Brasil pela FEBAB (Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários) de 1983 a 1985. Em seguida o AACR2, sofreu uma atualização, dando origem a uma segunda edição revisada, as AACR2R, em 1988 e várias emendas e revisões até 2005. (MEY; SILVEIRA, 2009MEY, Eliane Serrão Alves; SILVEIRA, Naiara Cheistofoletli. Catalogação no plural. Brasília: Briquet de Lemos, 2009., p. 78).

De acordo com Oliver (2011OLIVER, Chris. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília: Briquet de Lemos, 2011., p. 46), o AACR foi originalmente elaborado num ambiente de materiais majoritariamente impressos e de catálogos em fichas, tornando-se um conjunto de regras internacionais que subsidiam o tratamento da informação, as quais visam à representação da informação por meio da elaboração de descrições bibliográficas para atribuição dos pontos de acesso, cabeçalhos de pessoas, localizações geográficas e entidades coletivas, como também de títulos uniformes e remissivas.

O AACR2R foi revisado em 2002, pelo Comitê Internacional, denominado Joint Steering Committee for Revision AACR (JSC), com representantes das instituições: American Library Association (ALA); Library of Congress (LC); Australian Committee on Cataloguing (ACC) ; British Library (BL)e Canadian Committee on Cataloguing (CCC), responsáveis pela revisão e implementação do AACR2 (OLIVER, 2011OLIVER, Chris. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília: Briquet de Lemos, 2011., p. 54).

Entretanto, com as mudanças ocorridas na sociedade e com a influência das TIC´s, houve a necessidade de outra revisão do AACR2R em 2004, pelo Joint Steering Committee for Revision of AACR (MEY; SILVEIRA, 2009MEY, Eliane Serrão Alves; SILVEIRA, Naiara Cheistofoletli. Catalogação no plural. Brasília: Briquet de Lemos, 2009., p. 90)

A década de 60 é marcada também pelo desenvolvimento dos recursos computacionais. A Library of Congress (LC), a partir de 1960, iniciou estudos para elaboração de um formato que transformasse as informações escritas em um catálogo manual para um automatizado. Destes estudos resultou o formato MARC, “[...] acrograma para Machine Readable Cataloging (Catalogação Legível por Computador)”, conforme Barbosa (1978BARBOSA, Alice Príncipe. Novos rumos da catalogação. Rio de Janeiro: BNG/Brasilart, 1978., p. 199), que foi adotado por bibliotecas em suas bases de dados.

Segundo Simionato (2012SIMIONATO, Ana Carolina. Representação, acesso, uso e reuso da imagem digital. 2012. 141 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2012. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/93646/simionato_ac_me_mar.pdf?sequen ce=1&isAllowed=y. Acesso em: 26 maio 2018.
https://repositorio.unesp.br/bitstream/h...
, p. 87) “o MARC é um padrão para entrada e manuseio de informações bibliográficas em computador com um protocolo de intercâmbio de dados para exportação e importação de dados”. O formato MARC 21 é utilizado como “[...] estrutura legível por máquina, e consegue suportar a descrição de recursos informacionais, cujo conteúdo dos seus campos é determinado por regras de catalogação.

O Quadro 01, a seguir, apresenta as principais tags ou campos utilizados no MARC 21:

Quadro 1
Principais campos do MARC 21.

Em virtude da criação da norma RDA e de sua nova proposta para descrição de recursos e definição de elementos necessários à descrição e ao acesso, ela oferece instruções sobre como formular o dado a ser registrado em cada elemento. A norma indica como essa transição pode ocorrer de forma mais tranquila e a possibilidade da codificação de dados RDA com o MARC 21 e a preservação e permanência da mesma exibição dos dados bibliográficos.

2.2 Família FR

Os Functional Requeriment for Bibliographic (FRBR) foram elaborados como sendo um modelo conceitual do tipo entidade-relacionamento. Esse modelo provém de conceitos acerca da modelagem de banco de dados como caracteriza Chen (1990CHEN, Peter. Modelagem de dados: a abordagem entidade-relacionamento para projeto lógico. Tradução de Cecília Camargo Bartalotti. São Paulo: Mcgraw Hill, 1990., p. 2), “os registros em um banco de dados são interligados, de forma que itens de dados relevantes em registros diferentes possam ser recuperados sem dificuldade”. Este modelo define uma representação de informações baseadas em entidades, em atributos e em relacionamentos entre as entidades.

Segundo Fusco (2011FUSCO, Elvis. Aplicação dos FRBR na modelagem de catálogos digitais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. Disponível em: http://bibliotecadigital.puc- campinas.edu.br/services/e-books/Aplicacao_dos_FRBR_na_modelagem_de_catalogos_ bibliograficos_digitais.pdf. Acesso em: 14 Mar. 2019.
http://bibliotecadigital.puc- campinas.e...
, p. 11):

Os FRBR têm como finalidade aperfeiçoar a construção dos registros bibliográficos, a catalogação e, por consequência, os catálogos. Foram criados para estabelecer conceitos sobre muitos tipos de materiais descritos nas bases de dados pertencentes a uma biblioteca ou unidade de informação e tomar os catálogos automatizados mais usualmente simplificados aos olhos do usuário e a promover compatibilidades internacionais sobre seus usos, de modo a tornar a recuperação de registros bibliográficos cada vez mais eficientes e universais, auxiliando no reexame dos princípios fundamentais do tratamento descritivo da informação (FUSCO, 2011FUSCO, Elvis. Aplicação dos FRBR na modelagem de catálogos digitais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. Disponível em: http://bibliotecadigital.puc- campinas.edu.br/services/e-books/Aplicacao_dos_FRBR_na_modelagem_de_catalogos_ bibliograficos_digitais.pdf. Acesso em: 14 Mar. 2019.
http://bibliotecadigital.puc- campinas.e...
, p. 11).

A família FR é composta pelo Functional Requeriment for Bibliographic (FRBR) (baseada em três grupos distintos: Grupo 1 - produto intelectual/artístico, Grupo 2 - responsabilidade e Grupo 3 - assunto); pelos Functional Requeriment for Authority Data (FRAD), que se configuram como ampliação do FRBR, que incluem todas às entidades adicionais especificas do controle de autoridade; pelos Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade de Assunto (FRSAD), criado com o proposito para assumir por completo as entidades e relações pertinentes para as autoridades de assunto; e mais atualmente o IFLA Library Reference Model (LRM) que é o modelo de referência conceitual de alto nível que consolida os modelos anteriores.

2.3 Resource Description and Access (RDA)

Em 2004 houve uma revisão do AACR2R para adequá-lo a essa nova realidade informacional. Essa revisão foi gerenciada, pelo Joint Steering Committee (JSC), e propunha uma nova edição do AACR2R, o AACR3, com consideráveis mudanças. No entanto, tais mudanças foram tão abrangentes que levou a JCS em 2005, iniciar o desenvolvimento de uma nova norma que, chamaram de RDA (MEY; SILVEIRA, 2009MEY, Eliane Serrão Alves; SILVEIRA, Naiara Cheistofoletli. Catalogação no plural. Brasília: Briquet de Lemos, 2009., p.90).

A RDA foi desenvolvida em um processo colaborativo entre quatro países (Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Estados Unidos), liderados pelo Joint Steering Committee for Development of RDA - JSC. O JSC é composto por representantes de seis grandes comunidades de catalogação anglo-americanas, a American Library Association (ALA), o Australian Committee on Cataloguing (ACOC), a British Library (BL), o Canadian Committee on Cataloguing (CCC), o Chartered Institute of Library and Information Professionals (CILIP), e a Library of Congress (LC) (CAVALCANTI, 2013CAVALCANTI, Larissa Andrade Batista. Recursos: Descrição e Acesso (RDA): uma análise dos elementos centrais, 2013. 106 f. Monografia apresentada ao curso de Biblioteconomia da Universidade de Brasília (UNB), 2013. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/7289/1/2013_LarissaAndradeBatistaCavalcanti.pdf. Acesso em: 31 ago. 2019.
http://bdm.unb.br/bitstream/10483/7289/1...
, p. 53).

A RDA é a norma de catalogação que está substituindo as Anglo-American Cataloguing Rules, 2nd edition (AACR2R). Apesar de manter uma forte relação com as AACR2R, a RDA difere em muitos aspectos, devido a sua construção ter sido baseada numa estrutura teórica, e ter sido projetada para o ambiente digital, além de seu escopo ser mais abrangente do que o do AACR2R (OLIVER, 2011OLIVER, Chris. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília: Briquet de Lemos, 2011., p. 01).

A RDA é uma norma de conteúdo e sua função é criar um grupo robusto de informações que alimentam as bases de dados atuais, além de criar estrutura para os novos desafios de coleta e consulta de informação no futuro. Esta norma oferece uma série de instruções; instrui quais dados armazenar e como o fazer. Estes dados são analisados e distribuídos de maneira a serem utilizados de modo pertinente. São como uma trama de informações que funcionam relacionando elementos de uma maneira inteligente em um ambiente de rede (SILVA; SERRA; CASSARES; VALENCIA, 2012 p. 115).

Dentre um dos grandes diferenciais da RDA, que a distingue dos demais códigos de catalogação, está a sua abrangência. Ela é uma norma que não se destina somente as bibliotecas, mas tem seu escopo ampliado para atender as necessidades de outras comunidades de informação. A RDA possibilita a descrição de todos os tipos de recursos, sejam eles tradicionais das bibliotecas ou recursos de outras comunidades ligadas ao patrimônio cultural, como arquivos, museus ou repositórios institucionais.

Outra característica presente na RDA é o seu contexto internacional. A norma optou por deixar de lado a perspectiva anglo-americana, ajustando a aplicação das suas regras para atender a diversidade dos sistemas de escrita, de numeração, calendários e unidades de medidas diferentes. (OLIVER, 2011OLIVER, Chris. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília: Briquet de Lemos, 2011., p.5).

Para cumprir esse objetivo de “internacionalização”, a norma foi publicada primeiramente em inglês, mas já conta com iniciativas de tradução em outras línguas: Catalão, chinês, finlandês, francês, alemão, italiano, norueguês e espanhol. O site do RDA Toolkit fornece o acompanhamento dessas traduções, bem como, a política de tradução recomendada e no caso das versões em francês e alemão já disponibiliza alguns arquivos preliminares. Infelizmente, até o presente momento não há informações públicas sobre uma tradução brasileira.

A estrutura da norma RDA foi desenvolvida paralelamente a International Conference on Cataloguing Principles (ICP) de 2009, e por isso mantém um forte alinhamento entre eles, que se comprova no rascunho da introdução da RDA, divulgado em novembro de 2008, onde “[...] consta as Declarações de Princípios e informa os princípios de catalogação usados em todo a RDA”. [...] “Isso faz com que o novo código procure satisfazer as expectativas da comunidade internacional”. (ASSUMPÇÃO; SANTOS, 2009ASSUMPÇÃO, Fabrício Silva; SANTOS, Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa. Resource Description and Access (RDA): objetivos, características e desenvolvimento do novo padrão para descrição de recursos e acesso. 2009. Disponível em: http://docs.fabricioassumpcao.com/2009-assumpcao-santos-resource-description-and- access.pdf. Acesso em: 11 mar. 2019.
http://docs.fabricioassumpcao.com/2009-a...
, p.3-4).

Compreender a configuração da RDA a priori não é uma tarefa fácil. É necessário se desprender de toda a estrutura até então compreendida ao utilizar o AACR2R, desde a sua organização até o seu conteúdo e principalmente, estar bastante familiarizado com os conceitos da família FR e mais atualmente com o IFLA Library Reference Model (LRM). Embora se torne repetitivo falar sobre eles, os modelos além de serem fundamentais para o entendimento e para a aplicação da norma, permeiam a estrutura e as terminologias dos textos da RDA.

2.4 RDA Toolkit

A norma RDA está disponível para acesso de duas formas: impressa e online. A grande vantagem de se adquirir na forma online, consiste na sua atualização constante que acontece em tempo real, ou seja, o bibliotecário não precisa comprar a nova edição. Ele já tem acesso às atualizações assim que alterações e aperfeiçoamentos são realizados.

Além disso, na versão online que é acessada através de uma ferramenta designada “RDA Toolkit”, o bibliotecário também tem acesso a um material rico para a compreensão e treinamento dos profissionais da informação.

Para ter acesso on-line à norma é necessária uma assinatura e o desembolso de uma quantia razoável de dinheiro. Esse acesso se dá pelo pacote de ferramentas do RDA Toolkit (falaremos mais adiante) e a assinatura pode ser feita para um usuário individual ou para usuário institucional, que disponibiliza um acesso por vez e caso a instituição deseje acessos simultâneos terá que pagar um valor adicional para cada usuário. O valor pode ser cotado em dólares americanos, dólares canadenses, libras esterlinas, dólares australianos, euros, e dólares de Singapura, a depender da região do assinante (CAVALCANTI, 2013CAVALCANTI, Larissa Andrade Batista. Recursos: Descrição e Acesso (RDA): uma análise dos elementos centrais, 2013. 106 f. Monografia apresentada ao curso de Biblioteconomia da Universidade de Brasília (UNB), 2013. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/7289/1/2013_LarissaAndradeBatistaCavalcanti.pdf. Acesso em: 31 ago. 2019.
http://bdm.unb.br/bitstream/10483/7289/1...
, p. 57).

Dessa maneira o usuário individual ou institucional que se interessar em assinar a ferramenta on-line terá que desembolsar uma quantia de $195 (cento e noventa e cinco dólares), sendo que há um desconto para um número maior de usuários. Por exemplo, 2 para 4 usuários pagariam $ 185, num total de $ 370, enquanto 5 para 9 usuários pagariam $ 181, num total de $ 905. Neste caso a compra de mais de um usuário permite que o assinante tenha simultaneamente vários usuários acessando a conta (RDA Toolkit, 2021).

A RDA Toolkit é um produto on-line integrado baseado em navegador que permite aos usuários interagir com uma coleção de documentos e recursos relacionados à catalogação, incluindo a norma RDA, entre os outros recursos disponíveis através do Toolkit estão:

  • Documento em texto integral da RDA;

  • O documento AACR2 para ajudá-lo, a saber, por onde começar;

  • Declarações de Política da Biblioteca do Congresso (LCPS);

  • Fluxos de Trabalho e outras documentações procedimentais criadas por assinantes e que podem ser compartilhadas dentro de uma organização ou com toda a comunidade de assinantes;

  • Mapeamentos da RDA para vários esquemas de codificação, incluindo MARC 21.

Há várias formas de navegar ou fazer buscas na RDA Toolkit, bem como alterar a exibição. O Toolkit inclui fluxos de trabalho e mapeamentos (tabelas de correspondências), características que podem dar apoio à integração da RDA ao trabalho diário, permitindo a liberdade de criar e incluir arquivos e documentos personalizados. Fazer a implementação da RDA implica o treinamento e aprender o conteúdo da norma e aprender a usar a nova ferramenta em rede. (OLIVER, 2011OLIVER, Chris. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília: Briquet de Lemos, 2011., p. 91).

2.5 Treinamento e Implementação

O conteúdo da RDA foi desenvolvido como iniciativa internacional com a participação formal de representantes dos quatro países autores da norma: Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Estados Unidos, estando à coordenação dos planos e as decisões distribuídas entre os quatro países autores (OLIVER, 2011OLIVER, Chris. Introdução à RDA: um guia básico. Brasília: Briquet de Lemos, 2011., p. 109).

Antes dos testes da RDA dos Estados Unidos, organizações de bibliotecas nacionais em outros países de língua inglesa como a Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Grã-Bretanha, também, realizaram pesquisas para avaliar as opiniões dos profissionais sobre o novo código de catalogação. Essas pesquisas forneceram um pouco mais de esclarecimento sobre “as necessidades dos catalogadores” e os “métodos preferidos para treinamento”. (PARK; TOSAKA, 2015PARK, Jung-ran; TOSAKA, Yuji. RDA Implementation and Training Issues across United States Academic Libraries: An In-Depth E-Mail Interview Study. Journal of Education for Library and Information Science, Seattle, v. 56, nº 3, p. 252-266, jun. 2015. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1074659.pdf. Acesso em: 19 Jun. 2018.
https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ107...
, p. 252, tradução nossa).

Segundo Hanford (2014HANFORD, Dana. A Look at How We Got Here: RDA Implementation at Central Connecticut State University. Journal of Library Metadata, United Kingdom, v. 14, n. 3-4, p. 152-165, 02 October, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/19386389.2014.977725. Acesso em: 11 set. 2019.
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
, p. 156, tradução nossa), o teste formal consistiu em três fases:

(a) a fase de treinamento dos participantes da RDA, que ocorreu do início de 2010 até 30 de setembro de 2010; (b) a fase de produção de registros de 1º de outubro de 2010 a 31 de dezembro de 2010, durante a qual foram criados registros e levantamentos do processo de criação; e (c) a fase de análise de 1º de janeiro de 2011 a 31 de março de 2011, durante a qual o United States RDA Test Coordinating Committee (Comitê de Coordenação de Testes dos EUA), aprovou os resultados das pesquisas e preparou um relatório para a administração das três bibliotecas nacionais.

A atividade de conscientização sobre a RDA no Canadá foi iniciada desde 2008, conforme relatado por Oliver (2009, apudMANSOR; RAMDZAN, 2014MANSOR, Yushiana; RAMDZAN, Emilia. RDA perceptions among Malaysian catalogers. Library Review, v. 63, n. 3, p.176-188, 2014. Disponível em: https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/LR-06-2013-0085. Acesso em: 11 jun. 2018.
https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/1...
, p. 178, tradução nossa) no relatório Canadian Committee on Cataloging (CCC). Os membros do CCC têm desempenhado importante papel em manter a comunidade de catalogação canadense informada sobre o desenvolvimento, mudanças e apresentações do RDA.

Cross; Andrews; Grover; Oliver; Riva (2014CROSS, Emma; ANDREWS, Sue; GROVER, Trina; OLIVER, Chris; RIVA, Pat. In the company of my peers: implementation of RDA in Canada. Cataloging & Classification Quarterly, New York, v. 52, n. 6-7, p.747-774, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01639374.2014.899535. Acesso em: 11 set. 2019.
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
, p. 02, tradução nossa), apontam que o treinamento, seja ele formal ou informal, é o ponto de partida para a implementação de um novo padrão. Quando se olha para a implementação da RDA no Canadá, há uma diferença notável na forma como o treinamento ocorreu nas comunidades de catalogação de língua inglesa e francesa. No inglês do Canadá, o treinamento não foi coordenado a partir de um ponto central. Houve algum treinamento organizado e ministrado por um grupo de pares ad hoc, mas também houve iniciativas individuais de base para o autotreinamento usando recursos disponíveis na web e em outros lugares. No Canadá de língua francesa, a parte canadense da equipe que traduziu o RDA para o francês tornou-se uma fonte de autoridade para a comunidade de catalogação de língua francesa e essa equipe organizou e ministrou treinamento em francês.

Nesta era da Internet e dos serviços da Web, a distância não deve importar. Dado o financiamento, exigências e os cortes nos orçamentos das bibliotecas, muitos funcionários da biblioteca contam com documentos da web e apresentações na web para adquirir conhecimento teórico e prático. No entanto, como visto durante a implementação da RDA, permanece uma firme preferência pela transmissão de conhecimento por pares, seja através de conferências, pré-conferências ou workshops de treinamento. (CROSS; ANDREWS; GROVER; OLIVER; RIVA, 2014CROSS, Emma; ANDREWS, Sue; GROVER, Trina; OLIVER, Chris; RIVA, Pat. In the company of my peers: implementation of RDA in Canada. Cataloging & Classification Quarterly, New York, v. 52, n. 6-7, p.747-774, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01639374.2014.899535. Acesso em: 11 set. 2019.
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
, p. 04, tradução nossa).

Os resultados da pesquisa em língua inglesa no Canadá indicaram uma forte dependência da documentação da web, mas também de apresentações presenciais, como sessões de conferência, workshops, palestrantes convidados, etc. As bibliotecas canadenses aproveitaram tanto os recursos canadenses quanto aqueles disponibilizados por outros países.

Segundo Cross; Andrews; Grover; Oliver; Riva (2014CROSS, Emma; ANDREWS, Sue; GROVER, Trina; OLIVER, Chris; RIVA, Pat. In the company of my peers: implementation of RDA in Canada. Cataloging & Classification Quarterly, New York, v. 52, n. 6-7, p.747-774, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01639374.2014.899535. Acesso em: 11 set. 2019.
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
, p. 08, tradução nossa) em 2009- 2010, alguns membros do Technical Services Interest Group (TSIG)2 2 Em português Grupo de Interesse de Serviços Técnicos (TSIG) era um grupo de interesse dentro da Canadian Library Association (CLA). Grupos de interesse foram substituídos por redes em 2011 e esse grupo agora é conhecido como TSN (Technical Services Network). da Canadian Library Association (CLA) começaram a discutir a implementação e o treinamento do RDA. Durante este período de tempo, um pequeno grupo dentro do TSIG realizou um levantamento das bibliotecas canadenses para avaliar o nível de conscientização da RDA e coletar informações sobre as preferências por métodos de treinamento.

Um esboço de treinamento foi criado e compartilhado por meio do Google Docs, que era novo na época é infelizmente também bloqueado por algumas instituições, como bibliotecas governamentais. Uma chamada foi feita para os voluntários e a resposta foi encorajadora.

O grupo de trabalho desenvolveu alguns módulos originais, mas também fez uso do trabalho já feito pela Biblioteca do Congresso. A Library of Congress (LC) havia criado várias séries de módulos enquanto passavam pelo período de teste e então iniciavam a implementação e o treinamento de todos os seus funcionários. Eles forneceram acesso gratuito a esses módulos em seu site. Foi o primeiro conjunto definitivo de materiais de treinamento e foi um elemento- chave no treinamento de RDA, pois demonstrou como implementar a RDA em um ambiente MARC 21. (CROSS; ANDREWS; GROVER; OLIVER; RIVA, 2014CROSS, Emma; ANDREWS, Sue; GROVER, Trina; OLIVER, Chris; RIVA, Pat. In the company of my peers: implementation of RDA in Canada. Cataloging & Classification Quarterly, New York, v. 52, n. 6-7, p.747-774, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01639374.2014.899535. Acesso em: 11 set. 2019.
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1...
, p. 08, tradução nossa).

No caso da Austrália estabeleceu-se um cronograma de aplicação da norma, alinhado com a agenda de testes realizados nos Estados Unidos, sendo a implementação iniciada em meados de 2011 e finalizada em 2013. A National Library of Australia (NLA), também promoveu alterações na Australian National Bibliographic Database (ANBD) revisou as políticas de catalogação existentes; procedeu à conversão dos pontos de acesso; e implementou mudanças para acomodar a RDA ao catálogo coletivo local (United States RDA Test Coordinating Committee, 2011, p. 25, tradução nossa).

O Australian Committee on Cataloguing (ACOC) define na sua página, da National Library of Australia (NLA), algumas tarefas possíveis a serem adotadas pelas bibliotecas para a implementação da RDA (NLA, 2019, tradução nossa):

  • Acesso ao RDA Toolkit: Acesse as instruções RDA serão necessárias para implementação nas bibliotecas. A RDA Toolkit está disponível como um produto online, baseado na Web. Embora a maneira preferida de acessar a RDA seja on-line por meio do RDA Toolkit, cópias de impressão das instruções da RDA também estão disponíveis para compra. Antes de assinar o produto online, as bibliotecas devem determinar o contrato de licença mais adequado com base no número de usuários simultâneos que eles esperam estar usando o RDA Toolkit.

  • Treinamentos: As bibliotecas precisarão providenciar para que sua equipe seja treinada na RDA. O treinamento exigido pelos catalogadores diferirá em conteúdo e duração do treinamento exigido por outros funcionários da biblioteca, como bibliotecários de referência. Também pode ser necessário treinamento adicional por catalogadores de tipos específicos de material, como folhetins, músicas ou filmes. As bibliotecas têm a opção de contratar um treinador externo ou treinar sua própria equipe. Se as bibliotecas decidirem treinar sua própria equipe, é importante dar tempo suficiente para adaptar os materiais de treinamento, de acordo com as políticas e práticas locais.

A British Library (BL) anunciou a implementação da RDA em 2008, embora somente tenha ocorrido efetivamente após abril de 2013 quando começou a usar a RDA, principalmente devido a atrasos na publicação dos resultados do teste norte-americano em torno da RDA. De 1981 a 2013, ela estava usando o AACR2R, então a mudança para o RDA foi uma evolução natural, uma vez que substituiu o AACR2R. (MORILLO CARELO; GÓMEZ PRADA, 2015MORILLO CARELO, Maria Jésus; GÓMEZ PRADA, Roberta. RDA, Resource Description & Access: estratégias de implementación em países europeos. Boletin ANABAD, Madrid, v. 65, n. 2, p. 185-208, abr. 2015. Disponível em: https://www.anabad.org/2015-num-2-abril- junio-boletin-de-anabad/. Acesso em: 19 jun. 2018.
https://www.anabad.org/2015-num-2-abril-...
, p.192, tradução nossa).

Grupos de especialistas foram criados, e retirados de catalogadores experientes e líderes de equipe para fornecer a vanguarda de treinadores e profissionais. O treinamento foi o aspecto mais intensivo da implementação. Foram desenvolvidos planos diferentes para atender às necessidades de diferentes grupos de funcionários, como mostrado a seguir:

  • Formadores de RDA: receberam treinamento em como ministrar treinamento. Eles também receberam treinamento introdutório em RDA com base nos módulos de treinamento desenvolvidos pela Biblioteca do Congresso. Eles receberam o tempo e o incentivo para irem e praticarem e voltarem com perguntas e problemas, os quais, então, tentar-se-ia resolver e dar feedback materiais de treinamento.

  • Equipe de processamento: selecionadores, equipe de aquisições, catalogadores de cópias, finalizadores e marcadores de prateleira receberam treinamento focado no trabalho. O treinamento foi entregue principalmente no ambiente de equipe, com algumas sessões em sala de aula. Os gerentes dessas equipes receberam o treinamento do catalogador.

  • Catálogos: o plano de treinamento para catalogadores era mais complexo. A conscientização e a compreensão dos FRBR e RDA foram fomentadas por meio do nosso programa de desenvolvimento profissional contínuo (PDC), enquanto o RDA estava sendo desenvolvido. Sessões de atualização foram entregues antes do início do treinamento.

O treinamento foi complementado por revisão abrangente e revisão da documentação existente. As decisões e políticas de aplicativos foram documentadas em fluxos de trabalho. Os fluxos de trabalho também atuam como uma camada de mediação que orienta os catalogadores por meio do fluxo de trabalho de criação de registros para diferentes fluxos de conteúdo. Criar e manter os fluxos de trabalho é uma sobrecarga, mas eles reforçaram o treinamento e continuam sendo muito usados. Os fluxos de trabalho da British Library (LC) foram publicados no RDA Toolkit para a comunidade em geral. (DANSKIN, 2014DANSKIN, Alan. RDA implementation and application: British Library. O-bib. Das offene Bibliotheks journal, Alemanha, v. 1, n. 1, p. 187-191, 01 December, 2014. Disponível em: https://www.o-bib.de/article/view/2014H1S187-191/1252. Acesso em: 22 out. 2018
https://www.o-bib.de/article/view/2014H1...
, p. 191, tradução nossa).

Ainda segundo Morillo Calero e Gómez Prada (2015, p. 193), para o treinamento de pessoal foram utilizados os módulos de formação proporcionados pela Library of Congress (LC), mas também foram desenvolvidos, por exemplo, um curso interno para permitir catalogar registros em RDA sem usar MARC, usando a ferramenta RDA in Many Metadata Formats (RIMMF)3 3 RIMMF2. http://www.marcofquality.com/wiki/rimmf/doku.php. O RIMMF é uma ferramenta para visualizar os dados RDA fora do ambiente MARC, ajudando assim a desenvolver um entendimento mais profundo das estruturas subjacentes do RDA baseadas em FRBR. desenvolvido pelo The MARC of Quality.

Após perpassar por algumas das ações de implementação e treinamento da RDA nos países membros responsáveis pela coordenação e organização da norma, e apontado, a seguir, no Quadro 02, as ações de treinamento decorrentes das inciativas propostas de outros países que já possuem estratégias de implementação.

Figura 1
Pilares, complexidade do objeto e fases do processo de contratação pública.

Percebe-se que em alguns casos as bibliotecas nacionais destes países são os órgãos gestores responsáveis pela divulgação desses treinamentos, e principalmente pela disseminação de informações sobre a RDA em suas páginas.

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa se caracteriza como aplicada, pois procura melhorar o entendimento de problemas dentro uma instituição específica, no caso as bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); criar soluções para os problemas; e desenvolver conclusões de relevância prática para resolução desses problemas.

O paradigma de investigação que se baseia a abordagem científica desta pesquisa é o processo de descoberta indutiva, onde o avanço dos detalhes da investigação parte de fragmentos para uma visão conectada da situação.

Em relação aos objetivos propostos, este estudo configura-se como sendo exploratório e descritivo. No que se refere à abordagem do problema, esta pesquisa apresenta aspectos de métodos mistos, os quais são uma abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativas e quantitativas.

O universo de pesquisa é a população de catalogadores do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Geral (BU/SB), atualmente constituído por 25 bibliotecas, sendo que houve o retorno para a participação da entrevista, uma amostra de 17 bibliotecas com respectivamente um catalogador de cada, ou seja, 17 catalogadores que participaram das entrevistas.

Utilizou-se a pesquisa bibliográfica que consistiu em conhecer de forma mais aprofundada o tema em estudo. Para tal se fez necessária uma busca em fontes de informações e em bases de dados e em outras, tais como: livros, artigos científicos, teses e dissertações, que tratam do tema. Foram pesquisadas em bases nacionais da área de ciência da informação: na Base de Referências de Artigos e Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI); Base Peri; Base Scielo; e foram feitas buscas, também, no Portal de Periódicos Capes nas bases Library and Information Science Abstracts (LISA); Web of Science, Scopus e também no Google Acadêmico.

Ressalta-se que a coleta de dados da primeira parte que relata as ações de implementação dos países membros responsáveis pelo desenvolvimento do RDA (Austrália, Canadá, Grã-Bretanha e Estados Unidos) foram feitas durante o período de junho de 2018 a setembro de 2019, e a segunda parte, referente, ao Quadro 2, foram coletada durante o período de julho de 2020.

O estudo utilizou, também, como instrumento para coleta de dados a entrevista semiestruturada baseada numa lista de questões com perguntas fechadas e abertas (comentários), e o bloco temático, e suas respectivas questões, foram construídos de acordo com a fundamentação teórica da pesquisa conforme o Quadro 03.

Quadro 3
Esboço da fundamentação teórica com os blocos temáticos.

No contexto da proposta de análise deste estudo, os dados desta pesquisa foram analisados primeiramente pelo método quantitativo, conforme a análise das perguntas fechadas, e num segundo momento pelo método qualitativo, conforme a análise das perguntas fechadas e abertas propostas na entrevista, sendo que os comentários aparecerão citados conforme a maior preferência de programas, métodos e conteúdo para treinamento apresentados, e pela sua análise e discussão.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Propõe-se identificar as necessidades de preferência de programas, métodos e tópicos de conteúdos para treinamento da RDA. As questões estão disponibilizas com alternativas que confirmem as melhores ou mais condizentes preferências dos entrevistados conforme sua escolha e de acordo com a questão sugerida do bloco temático. Sendo assim apresenta-se, a seguir, a análise, representação e interpretação dos dados coletados conforme entrevista realizada.

4.1 Programas e métodos preferidos para treinamento

Sugere-se identificar as preferências de programas ou métodos para treinamento sobre os tópicos mais relevantes ou de interesses de escolha dos catalogadores. Cada catalogador foi indicado a selecionar até duas alternativas de acordo com sua preferência.

Gráfico 1
Programas e métodos preferidos para treinamento.

De acordo com o Gráfico 01, 76% (13 catalogadores) preferem como método de treinamento o treinamento presencial conforme suas preferências, enquanto 53% (09 catalogadores) indicaram o programa de curso preparatório como preferência para treinamento, 24% (04 catalogadores) informam que o treinamento (EAD) seria a melhor escolha como preferência para treinamento da RDA, igualmente, 18% (03 catalogadores) declaram os Workshops realizados na sua instituição, e 18% (03 catalogadores) declaram o treinamento semipresencial como preferências de métodos para treinamento e apenas 12% (02 catalogadores) dizem optar pelo programa webinars e outras sessões de treinamento on-line como preferência para treinamento da RDA.

Para melhor entendimento da análise ocorrida, no Quadro 4, a seguir, os comentários feitos pelos catalogadores (C1, C2, C3,...) confirmam a escolha identificada.

Quadro 4
Comentários sobre programas ou métodos para treinamento.

Dentre os métodos para treinamento da RDA, a maioria dos catalogadores demonstra sua preferência pelo treinamento presencial como analisado nos comentários.

Mering (2014MERING, Margaret. The RDA workbook: learning the basic of Resource Description and Access. Santa Barbara, California: Libraries Unlimited, 2014., p. 112) aponta que os catalogadores precisarão de treinamento para tudo, desde o reconhecimento de um registro em RDA até a criação de um registro em RDA a partir de um formulário em branco. No nível básico, os catalogadores precisarão ser capazes de identificar aspectos de um registro em RDA. Além disso, os catalogadores podem encontrar registros em RDA incompletos e registros híbridos em AACR2/RDA.

Ou seja, talvez nesse ponto apresentando por Mering os catalogadores nos seus comentários prefiram os treinamentos presenciais por serem mais intimistas, por ter um especialista que abordara o tema, porque apresenta o envolvimento de pessoas presencialmente. No caso, o conhecimento será repassado de forma igual para todos e as dúvidas serão tiradas no momento presente, não haverá comodismo de um treinamento on-line e os exercícios poderão ser feitos juntos.

O treinamento presencial e os cursos preparatórios foram escolhidos pelos catalogadores como preferências de programas e métodos para treinamento. Isso se justifica porque os catalogadores sugerem que o treinamento presencial seja mais completo em questão de conteúdo, que seja num ambiente onde terá contato com pessoas que estarão lá compartilhando perguntas e dúvidas sobre o assunto, e não ocorrerão descuidos, desinteresse, ou dispersão dos envolvidos como num ambiente on-line, e também porque pode haver um acompanhamento de partes práticas no momento do treinamento onde as dificuldades poderão ser tiradas naquela hora.

Além disso, como relatado pelos catalogadores, até se justifica essa preferência, pelo fato de ser um hábito do sistema de bibliotecas da UFMG, quando aparecem coisas novas para serem repassadas, utilizarem os treinamentos presenciais e cursos preparatórios onde há reunião dos catalogadores e entrega de apostilas como material de acompanhamento. Alguns catalogadores sugerem também que quanto mais tipos e formas de orientação e treinamento, melhor será para aprendizagem dos mesmos, e um especialista que esteja disponível nesse momento será um diferencial para tirar dúvidas corriqueiras.

Como identificado nos estudos de Choi, Yusof, Ibrahim (2014CHOI, Kathy; YUSOF, Haslinda Md ; IBRAHIM, Fauziah. RDA: National Library Board Singapore's Learning Journey. Cataloging & Classification Quarterly, New York, v. 52, n. 6-7, p. 608-620, 2014. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10. 1080/01639374.2014.891165. Acesso em: 8 out. 2018.
https://www.tandfonline.com/doi/full/10....
, p. 613) sobre a implementação da RDA na Biblioteca Nacional de Singapura, o método de treinamento foi uma combinação de treinamento em sala de aula, grupo de estudo e Webinars. Embora o treinamento em sala de aula e os Webinars tivessem como objetivo fornecer uma boa introdução e uma visão geral sólida do RDA havia a necessidade de continuar o treinamento prático; revisão constante de registros RDA recém-criados e discussão contínua das novas regras, sua interpretação e aplicação.

Ainda segundo estudos de Hitchens e Symons apud Long (2018, p. 99) enfatiza-se a necessidade de usar vários formatos educacionais para fornecer o conteúdo do treinamento, incluindo a educação on-line e as conferências e workshops presenciais. Numerosos levantamentos em nível nacional e relatórios de bibliotecas que participaram do programa inicial de testes de RDA reforçaram a avaliação de Hitchens e Symons apud Long (2018, p. 99) geralmente concordando que uma ampla variedade de métodos de treinamento deveria ser disponibilizada.

4.2 Tópicos de preferência de conteúdo para treinamento

Nesta seção pretende-se identificar tópicos de preferência de conteúdo para treinamento da RDA mais relevantes ou de interesses de escolha dos catalogadores conforme enunciado proposto. Cada catalogador foi indicado a selecionar até três alternativas de acordo com sua preferência.

Gráfico 2
Conteúdo de preferência de treinamento.

Conforme identificado no Gráfico 02, a maior parte, 82% (14 catalogadores) escolheram como preferência de conteúdo para o treinamento da RDA o tópico Instruções RDA versus AACR2: o que mudou, 47% (08 catalogadores) optaram como preferência o tópico Visão geral da RDA, os tópicos de preferência de conteúdo A relação entre o formato MARC 21 e a RDA e Políticas de catalogação para a implementação da RDA ficaram igualmente com 35% (06 catalogadores) para cada tópico, igualmente também, os tópicos de preferência de conteúdo Uso da RDA Toolkit, Descrição de recursos em termos de entidades, atributos e relacionamentos e Antecedentes do desenvolvimento da RDA: modelos conceituais (FRBR, FRAD e FRSASD), obtiveram 29% (05 catalogadores) de escolha como tópico de conteúdo para treinamento, enquanto o tópico Substituindo o DGM por três novos elementos RDA obteve 6% (somente 01 catalogador). Somente o tópico Usando a RDA com outros padrões de metadados não obteve nenhuma escolha dos catalogadores a respeito do enunciado proposto.

Como apresentado no Gráfico 02, identificou-se que os catalogadores elegeram como tópico de preferência de conteúdo para treinamento a alternativa Instruções RDA versus AACR2: o que mudou. Seguem, no Quadro 05, alguns comentários dos catalogadores (C1, C2, C3,...) referentes à escolha do tema.

Quadro 5
Comentários sobre conteúdos de preferência para treinamento.

Confirmando os resultados da perspectiva quantitativa, nos comentários dos catalogadores a respeito da preferência de conteúdo para treinamento eles apontam suas breves motivações para a escolha do conteúdo, “acho isso importante para você ver quais são as diferenças (C1)”; “eu acho interessante para gente visualizar num todo, o que está mudando (C4)”; “seria muito interessante (C5)”; “para a gente perceber essa mudança (C8)”; “acho que seria a maior dúvida questão de identificar, para agente que já trabalha com isso (C11)”; “está todo mundo viciado no AACR2, entendeu, a gente há muitos anos usa o AACR2 (C13)”.

Dentre os três tópicos de preferência de conteúdo indicados pelos catalogadores estão as “instruções RDA versus AACR2: o que mudou”, essa preferência justifica-se porque atualmente, ainda, a AACR2R é o código utilizado pelos catalogadores, então partir dele, entender quais seriam as diferenças relacionadas com a RDA, e identificar o que está mudando, facilitaria o entendimento para compreender a RDA.

Em seguida “visão geral da RDA” foi apontada porque os catalogadores entendem que seria interessante, até mesmo, por falta de conhecimento geral dos catalogadores sobre a norma, trazer uma introdução para começar a entender o processo de mudança.

Em terceiro estão os temas: “Antecedentes do desenvolvimento da RDA: modelos conceituais (FRBR, FRAD e FRSAD)”, pela importância de se entender a base de estrutura da RDA para utilizá-la, as “Políticas de catalogação para a implementação da RDA” porque são de grande importância para direcionar, dar um norte, a todos os catalogadores em relação a tudo que for feito, para que não haja execuções convenientes para cada um, e a “A relação entre formato MARC 21 e RDA” porque como o AACR2, o MARC é o esquema vigente de catalogação, então seria interessante partir dele para entender melhor essa transição para o RDA.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo permitiu entender como os países membros do comitê responsável pelo desenvolvimento da RDA e em grande parte em outros países que começaram a pensar a sua implementação, desenvolveram suas ações de treinamento, e que pesquisas de estudos em países que já adotaram a RDA contribuíram significativamente para examinar com maior precisão as necessidades de treinamento das bibliotecas.

As ações de treinamento percebidas pelos países que já implementaram e os que estão implementando a RDA são as mais diversas possíveis, sendo que suas Bibliotecas Nacionais estão envolvidas diretamente nas atividades e processos de elaboração e divulgação dos treinamentos em seus países, juntamente com os comitês, conselhos e grupos responsáveis pela implementação, principalmente, por meio da disponibilização nas páginas nos sites destas Bibliotecas Nacionais, que trazem todos os tipos de treinamento e recursos relacionados nessa etapa de implementação.

Estudos e conhecimento prévio, do pessoal da biblioteca e da administração, a respeito de programas, métodos, bem como conteúdos, contribuem bastante para a criação de um plano de treinamento mais direcionado e direcionado aos interesses de todos e com temas mais assertivos para suas necessidades de aprendizagem da RDA, além da economia de tempo e esforços para se decidir o que introduzir num treinamento.

Apesar da preferência de escolha dos catalogadores por métodos de treinamento e cursos preparatórios presenciais, o treinamento EAD pode ser uma realidade que veio para ficar em virtude da pandemia do Covid-19 que se disseminou em 2020 e que trouxe mudanças de comportamentos que afetam o convívio diário, a comunicação e o acesso à informação.

É imprescindível que haja práticas de treinamentos que reafirmem a conscientização para conhecimento da RDA por parte da administração das bibliotecas, a aprendizagem e o estudo continuado da norma por parte dos catalogadores. Além disso, atualmente, é preciso se inteirar acerca do Projeto RDA 3R, que promoveu a reestruturação e o redesenho do RDA Toolkit, bem como da norma RDA, e para melhorar o alinhamento das mudanças nas práticas de catalogação, propõe-se o entendimento e examine do conteúdo da nova estrutura e organização da RDA, e sua familiaridade, e consonância com o Library Reference Model (LRM) proposto pela IFLA.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa, como instrumento básico de apoio aos programas de pós- graduação stricto sensu em prol da excelência acadêmica.

REFERÊNCIAS

  • 1
    JITA: IA. Cataloging, bibliographic control.
  • RECONHECIMENTOS:

    O autor agradece a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa, como instrumento básico de apoio aos programas de pós-graduação stricto sensu em prol da excelência acadêmica.
  • FINANCIAMENTO:

    Este estudo foi parcialmente financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES).
  • APROVAÇÃO ÉTICA:

    Não é aplicável.
  • DISPONIBILIDADE DE DADOS E MATERIAL:

    Não é aplicável.
  • 1
    The Joint Steering Committee for Development of RDA (JSC) é responsável por manter a "RDA: Resource Description and Access" . A JSC era anteriormente responsável pela manutenção das Regras de Catalogação Anglo-Americanas (AACR), que a RDA foi desenvolvida para substituir.
  • 2
    Em português Grupo de Interesse de Serviços Técnicos (TSIG) era um grupo de interesse dentro da Canadian Library Association (CLA). Grupos de interesse foram substituídos por redes em 2011 e esse grupo agora é conhecido como TSN (Technical Services Network).
  • 3
    RIMMF2. http://www.marcofquality.com/wiki/rimmf/doku.php. O RIMMF é uma ferramenta para visualizar os dados RDA fora do ambiente MARC, ajudando assim a desenvolver um entendimento mais profundo das estruturas subjacentes do RDA baseadas em FRBR.

Disponibilidade de dados

Não é aplicável.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    22 Jun 2021
  • Aceito
    13 Jul 2021
  • Publicado
    28 Jul 2021
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