Open-access Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de um condomínio de empresas de alta tecnologia

Capacidad de trabajo entre trabajadores en un condominio de empresas de alta tecnología

Work ability among workers from a condominiun of high technology companies

Resumos

Importantes transformações ocorreram nas duas últimas décadas, no setor industrial como a incorporação de estagiários e terceirizados. Estudo epidemiológico transversal (n=190 trabalhadores) que teve por objetivo avaliar a capacidade para o trabalho e traçar o perfil sociodemográfico, estilo de vida e de trabalho, de trabalhadores permanentes, terceirizados e estagiários de um condomínio de empresas de alta tecnologia. Foi utilizado o Índice de Capacidade para o Trabalho e questionário com dados sociodemográficos e estilo de vida. Houve predomínio dos jovens e solteiros (63,2%). Poucos eram tabagistas (13,2%); 62,6% realizavam atividades físicas e 44,2% tinham doença com diagnóstico médico. Este estudo é de grande importância devido a rotatividade dos trabalhadores e a ausência, em geral, de um serviço de saúde do trabalhador.

Saúde ocupacional; Avaliação da capacidade de trabalho; Saúde do trabalhador


Importantes transformaciones han ocurrido en las dos últimas décadas, en el sector industrial el uso de trainees y de terceros. En un estudio transversal, 190 trabajadores, con el objetivo de evaluar la habilidad para el trabajo y trazar el perfil sociodemográfico, estilos de vida y de la función de trabajadores, terceros y trainees, en un condominio de empresas de alta tecnología. Utilizado el Índice de Habilidad para el Trabajo y un cuestionario con datos demográficos y estilo de vida. Hubo, predominando jóvenes y solteros (63,2%). Pocos eran fumadores (13,2%), 62,6% realizaban actividades físicas, 44,2% tenían enfermedad con diagnóstico médico. El estudio es de gran importancia, teniendo en vista su rotatividad y la ausencia, en general, de un servicio de salud del trabajador.

Salud ocupacional; Evaluación de capacidad de trabajo; Salud laboral


Remarkable transformation occurred in the last two decades on the industrial sector, such as the use of trainees and outsourced labor. In a epidemiological cross-sectional study, 190 workers, aimed at assessing work ability and building up a socio-demographic life styles of workers, outsourced workers and trainees, who work at a corporate condominium comprising high technology companies. The Work Ability Index was employed with a questionnaire concerning lifestyle and demographic data. Gender balance was noticed, with a prevalence of youngsters and single people (63.2%). Few were tobacco smokers (13.2%), 62.6% performed physical exercise. In addition, 44.2% were medically diagnosed with some illness. This study is very important due to their interchangeability and to the general lack of a worker's health service.

Occupational health; Work capacity evaluation; Occupational health


PESQUISA

Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de um condomínio de empresas de alta tecnologia

Work ability among workers from a condominiun of high technology companies

Capacidad de trabajo entre trabajadores en un condominio de empresas de alta tecnología

Ângela Cristina Puzzi FernandesI; Maria Inês MonteiroII

IEnfermeira. Mestre em Enfermagem, Enfermeira do Trabalho da Fundação CPqD, Campinas, SP. puzzi@cpqd.com.br

IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, SP. Orientador da Dissertação. inesmon@fcm.unicamp.br

RESUMO

Importantes transformações ocorreram nas duas últimas décadas, no setor industrial como a incorporação de estagiários e terceirizados. Estudo epidemiológico transversal (n=190 trabalhadores) que teve por objetivo avaliar a capacidade para o trabalho e traçar o perfil sociodemográfico, estilo de vida e de trabalho, de trabalhadores permanentes, terceirizados e estagiários de um condomínio de empresas de alta tecnologia. Foi utilizado o Índice de Capacidade para o Trabalho e questionário com dados sociodemográficos e estilo de vida. Houve predomínio dos jovens e solteiros (63,2%). Poucos eram tabagistas (13,2%); 62,6% realizavam atividades físicas e 44,2% tinham doença com diagnóstico médico. Este estudo é de grande importância devido a rotatividade dos trabalhadores e a ausência, em geral, de um serviço de saúde do trabalhador.

Descritores: Saúde ocupacional; Avaliação da capacidade de trabalho; Saúde do trabalhador.

ABSTRACT

Remarkable transformation occurred in the last two decades on the industrial sector, such as the use of trainees and outsourced labor. In a epidemiological cross-sectional study, 190 workers, aimed at assessing work ability and building up a socio-demographic life styles of workers, outsourced workers and trainees, who work at a corporate condominium comprising high technology companies. The Work Ability Index was employed with a questionnaire concerning lifestyle and demographic data. Gender balance was noticed, with a prevalence of youngsters and single people (63.2%). Few were tobacco smokers (13.2%), 62.6% performed physical exercise. In addition, 44.2% were medically diagnosed with some illness. This study is very important due to their interchangeability and to the general lack of a worker's health service.

Descriptors: Occupational health; Work capacity evaluation; Occupational health.

RESUMEN

Importantes transformaciones han ocurrido en las dos últimas décadas, en el sector industrial el uso de trainees y de terceros. En un estudio transversal, 190 trabajadores, con el objetivo de evaluar la habilidad para el trabajo y trazar el perfil sociodemográfico, estilos de vida y de la función de trabajadores, terceros y trainees, en un condominio de empresas de alta tecnología. Utilizado el Índice de Habilidad para el Trabajo y un cuestionario con datos demográficos y estilo de vida. Hubo, predominando jóvenes y solteros (63,2%). Pocos eran fumadores (13,2%), 62,6% realizaban actividades físicas, 44,2% tenían enfermedad con diagnóstico médico. El estudio es de gran importancia, teniendo en vista su rotatividad y la ausencia, en general, de un servicio de salud del trabajador.

Descriptores: Salud ocupacional; Evaluación de capacidad de trabajo; Salud laboral.

1. INTRODUÇÂO

A globalização é o conjunto de transformações de ordem política e econômica que vêm acontecendo nas últimas décadas, no qual qualquer mercado tem acesso a bens e serviços produzidos em qualquer país, o que coloca a maioria das empresas brasileiras em competição com empresas de qualquer ponto do globo. As empresas passam a ser avaliada através de indicadores de desempenho como: custo, qualidade, prazo de entrega, resposta rápida às solicitações, entre outros.

A empresa de tecnologia da informação estudada é a maior do hemisfério sul, concentra grande parcela do conhecimento tecnológico em telecomunicações do país, sendo responsável por algumas conquistas notáveis: a criação das centrais eletrônicas digitais; o desenvolvimento da fibra óptica brasileira, além de numerosos avanços nas comunicações via satélite, na comunicação de dados e em softwares.

Entretanto, na empresa estudada, a precarização do trabalho também acontecia, em paralelo, pois os serviços de apoio, como os de limpeza, manutenção, jardinagem, vigilância e restaurante estavam terceirizados, desde 1976, através de contratos com empresas que formam a rede de subcontratação(1).

Para suportar os processos que influem diretamente nos seus resultados, a empresa passou a ser extremamente rigorosa nas exigências de desempenho, escalibilidade* e disponibilidade dos sistemas de missão crítica.

Por um lado, a população tende a crescer, pelo aumento da expectativa de vida e pelas melhorias generalizadas das condições de saúde e a demanda por trabalhadores tende a diminuir (mecanização e informatização intensivas; automatização; robotização). A sobrevivência no mercado de trabalho, o crescimento pessoal e o sucesso profissional passam a exigir dos trabalhadores maior empenho e envolvimento pessoal, com custo e reflexos diretos na saúde das pessoas.

No Brasil há duas modalidades de terceirização: "a primeira é aquela que é identificada como parte das mudanças nas práticas de gestão e organização do trabalho com a reestruturação produtiva em curso no plano mundial: a terceirização justificada pela busca da produtividade, qualidade e competitividade (...)" e a segunda modalidade é "(...) determinada pela redução de custos, que contraria a idéia de qualidade, de modernização empresarial e tem precarizado as condições de trabalho e de emprego, comprometendo, inclusive a qualidade do produto"(1).

Os trabalhadores terceirizados, em geral, têm menor acesso a oportunidades de carreira nas empresas, pela menor escolaridade ou por ser essencialmente operacional. Esse grupo tende a caracterizar-se por uma alta taxa de rotatividade, o que torna as reduções da força de trabalho relativamente fáceis, por desgaste natural.

O mercado de trabalho passou por uma radical reestruturação. Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição e do estreitamento das margens de lucro, os patrões tiram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente (desempregados e subempregados) para impor regimes e contratos de trabalhos mais flexíveis(2).

O conceito de promoção da saúde envolve tanto atitudes que implicam em diminuição de risco de adoecimento, como também na melhoria da qualidade de vida. A promoção da saúde no local de trabalho propõe uma abordagem mais ampla no estudo do ser humano no trabalho, com uma estratégia nova e integrada: a relação pessoas saudáveis em organizações saudáveis.

Pesquisadores finlandeses realizaram estudos sobre capacidade para o trabalho, tendo em vista, a importância da preservação e manutenção da saúde dos trabalhadores. O estudo utilizando o Índice de Capacidade para o Trabalho ICT - realizado na Finlândia, entre 1981 e 1992, com 6.259 trabalhadores municipais de diferentes ocupações, teve como objetivo a prevenção de doenças e da incapacidade para o trabalho entre trabalhadores em envelhecimento e também a análise de meios para a manutenção da saúde e da capacidade para o trabalho (3).

O Índice de Capacidade para o trabalho é composto pelos seguintes itens:

Capacidade para o trabalho Objetivos das medidas

Baixa 7-27 Restaurar a capacidade para o trabalho Moderada 28-36 Melhorar a capacidade para o trabalho Boa 37-43 Melhorar a capacidade para o trabalho Ótima 44-49 Manter a capacidade para o trabalho (4).

Estes autores concluíram que a capacidade para o trabalho pode estar diminuída antes mesmo da aposentadoria, devido à presença de doenças e da organização do trabalho, desfavoráveis à saúde dos trabalhadores, como o ambiente de trabalho, ergonomia, relacionamento entre trabalhadores e supervisores(3).

"Nos países em desenvolvimento, a faixa etária dos trabalhadores em envelhecimento a ser considerada deve ser inferior a 45 anos, sendo que a promoção para o trabalho deve iniciar na faixa etária entre 30 a 35 anos"(5).

Os pesquisadores finlandeses trabalham com o conceito de que o se trabalhador mantiver sua capacidade para o trabalho e para a vida, terá, após sua aposentadoria, mais 10 a 20 anos de "vida significativa, independente e ativa"(6). Os trabalhadores com demanda de trabalho mental consumiam maior quantidade de álcool semanalmente que os trabalhadores com demanda física e mista; e os com demanda de trabalho predominantemente física e mista fumavam maior quantidade de cigarros que os com demanda predominantemente mental(3).

A intensificação da prática de esportes e de atividades físicas, em geral, dos trabalhadores com demanda mental foram as grandes mudanças no estilo de vida. Os trabalhadores com demanda mental utilizavam seu tempo livre para realizarem atividades físicas mais do que aqueles com demanda física. Os sujeitos com trabalho mental eram mais ativos, no estudo, em atividades sociais, enquanto que aqueles com trabalho físico apresentavam maior afinidade com o artesanato. Os trabalhadores com demanda mental estavam mais satisfeitos com sua situação de vida. A satisfação dos sujeitos mais velhos (com idade maior ou igual a 49 anos, em 1981) era maior que a dos mais jovens (com idade menor que 49 anos, em 1981)(3).

Estudo realizado com 807 servidores forenses, para avaliar o envelhecimento funcional e condições de trabalho desses trabalhadores, que utilizou o ICT e a Análise Ergonômica do trabalho encontrou que 75% dos entrevistados possuíam nível superior de escolaridade e 61,1% deles precisavam ter sua capacidade para o trabalho melhorado ou restaurado(7).

Estudo realizado em um hospital privado relata que "a equipe de enfermagem apresentava 1,9 vezes mais chances de perda de capacidade para o trabalho que os outros funcionários; que as mulheres apresentaram maiores chances de perderem a capacidade para o trabalho mais precocemente; e que os trabalhadores de higiene hospitalar e da manutenção apresentavam mais chances de perda da capacidade para o trabalho do que os outros trabalhadores"(8).

Outro estudo entre trabalhadores de enfermagem, realizado no Pronto Socorro de um Hospital Universitário público, do interior do Estado de São Paulo; com 54 trabalhadores, com idade entre 23 a 53 anos a média do ICT foi de 42 pontos. Observou-se uma perda precoce para o trabalho mais acentuada nos trabalhadores mais jovens(9).

Pesquisa realizada junto aos trabalhadores não terceirizados, do Serviço de Higiene e Limpeza de um Hospital Universitário público, com 69 trabalhadores, evidenciou que 21,7% tinham ótima capacidade para o trabalho; 31,9% boa; 31,9% moderada e 14,5% baixa. As doenças com diagnósticos médicos mais freqüentes foram às lesões por acidentes, as músculos-esqueléticos, cardiovasculares, respiratórias e emocionais leve(10).

O ICT aplicado em pequena população de jovens trabalhadores de uma empresa de telecomunicações, com idade entre 16 e 17 anos, identificou capacidade para o trabalho moderada em 5%; boa, em 40% e ótima em 55% da amostra(11).

Estudo realizado em empresa de tecnologia da informação e telecomunicação com 173 sujeitos, sendo 60,1% homens, com idade entre 21 a 62 anos; 72,8% tinham concluído a faculdade; 78,5% trabalhavam na companhia há mais de dez anos. A capacidade para o trabalho foi moderada para 9,2% dos entrevistados; boa para 42,2% e ótima, para 48,6%(12).

Em pesquisa realizada com trabalhadores de enfermagem do plantão noturno de um Hospital Universitário público, com 312 sujeitos, dos quais 83,7% eram do sexo feminino, idade média de 39,7 anos (DP7, 39), foi avaliada que a capacidade para o trabalho foi baixa para 2,6%, moderada para 25,6% dos entrevistados; boa para 47,4% e ótima, para 24,4%(13).

Estudar as diferenças de perspectivas do ICT comparando estagiários e profissionais terceirizados permite antever como eles irão envelhecer no mundo do trabalho globalizado. Esses estarão sob menor proteção da legislação de aposentadoria e sofrerão impactos sobre a saúde, requerendo alternativas que possam minorar as conseqüências negativas que se exteriorizam na forma de doenças e acidentes de trabalho.

Este estudo teve por objetivo avaliar a capacidade para o trabalho, perfil sociodemográfic e morbidade referida em grupos de trabalhadores com demandas laborais e em estagiários.

2. MÉTODO

Estudo epidemiológico transversal realizado em condomínio empresarial de empresas de tecnologia da informação e telecomunicações em uma cidade do interior do Estado de São Paulo de grande porte, com três grupos distintos de pessoas trabalhadores que estão focados num único produto; estudantes que trabalham através de bolsa-estágio e trabalhadores terceirizados de um condomínio empresarial de alta tecnologia. Posteriormente, para fins de análise estatística, foram divididos em dois grupos: estagiários e trabalhadores terceirizados/ vinculados à empresa originária.

Os instrumentos utilizados foram o ICT(6), a Análise Ergonômica do Trabalho AET(14) e um questionário com dados sociodemográficos, estilo de vida e condições de trabalho**.

Os dados da pesquisa foram colhidos no período de junho a novembro de 2002, durante o qual foram realizadas visitas nas áreas de trabalho, para observação e análise ergonômica, que foi finalizada em setembro de 2003.

A amostra foi composta por 190 sujeitos - 77 estagiários, 23 da empresa originária e 90 terceirizados - de um total de 321, com taxa de resposta de 59,1%.

Para a análise estatística, foi utilizados o Programa SAS (Statiscal Analysis System), versão 6.12 e o banco de dados foi digitado no Programa Excel. Para descrever os grupos foram apresentadas tabelas de freqüência das variáveis categóricas e medidas de posição e dispersão das variáveis contínuas; para verificar a associação entre o ICT e outras variáveis foram utilizados os testes Qui-quadrado ou exato de Fisher (se o valor esperado era menor do que 5), para variáveis categóricas e o teste de Mann-Whitney, para variáveis contínuas. O nível de significância adotado foi de 5%, ou seja, p<0, 05.

Na análise de regressão linear múltipla entre os itens do ICT, ajustados para idade e sexo, foi utilizado o critério Stepwise para seleção das variáveis mais significativas, conjuntamente.

Para avaliação ergonômica do trabalho, foram selecionadas três funções de acordo com as cargas de trabalho e exigências físicas, mentais, mistas e utilizou-se o método de Rohmert e Landau(14).

Como já foi referido, o estudo foi desenvolvido junto a dois grupos de trabalhadores (trabalhadores terceirizados, trabalhadores de empresa agregada) e um grupo de estagiários com bolsa-estágio, de um condomínio empresarial gerenciado por uma empresa de alta tecnologia, no ramo de telecomunicações e tecnologia da informação, na região de Campinas, Estado de São Paulo, que iniciou suas atividades em 1976 e que atua no Brasil e no exterior prestando consultoria, desenvolvendo sistemas e produtos relativos a telecomunicações e tecnologia da informação.

Como alternativa para tentar sobreviver à globalização e à concorrência acirrada do mercado, esta empresa transformou sua área física em um condomínio empresarial de alta tecnologia, na década de 2000, com a agregação de outras empresas.

O condomínio empresarial possui infra-estrutura para implantação e funcionamento das empresas que estão ou serão instaladas neste local, como duas agências bancárias, uma agência de viagem, uma locadora de carros, uma biblioteca, três restaurantes e um clube recreativo e ocupa uma área física de 360.000 m2, com 50.000 m2 de área construída. Existe um controle de acesso de trabalhadores e de pessoas externas ao condomínio, para preservar o sigilo empresarial e a segurança física dos condôminos e do patrimônio.

Há um Serviço de Saúde Ocupacional, que pertence à fundação de direito privado, ao qual tem acesso os trabalhadores e estagiários, além dos próprios trabalhadores e estagiários pertencentes à empresa originária da fundação.

As demais empresas instaladas neste condomínio podem ter acesso aos serviços prestados pelo Serviço de Saúde Ocupacional mediante contratos de prestação de serviço.

Este serviço está instalado há mais de duas décadas, com um quadro de pessoal formado por dois médicos do trabalho, uma enfermeira do trabalho, uma estagiária de enfermagem, um engenheiro do trabalho e uma menor aprendiz; desenvolve atividades de Saúde Ocupacional como exames admissionais, periódicos, demissionais, avaliações ergonômicas e programas de promoção à saúde.

O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, tendo sido aprovado. Foi utilizado o consentimento livre e esclarecido, sendo garantido aos sujeitos da pesquisa que a não participação não acarretaria nenhum prejuízo em relação ao seu trabalho.

O presente estudo integra o projeto de pesquisa "Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de diferentes ramos produtivos", desenvolvido junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde e trabalho Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, coordenado pela Profa. Dra. Maria Inês Monteiro.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados encontrados nos sujeitos estudados evidenciam que, em sua maioria, os estagiários eram solteiros e quase metade dos trabalhadores (50,46%) eram casados.

Em relação ao número de filhos a maioria dos estagiários (97,53%) não tinha filhos, enquanto que aproximadamente metade dos trabalhadores (49,54%) tinha filhos. Essa situação era até previsível, visto que os estagiários não têm garantia de emprego, e seu contrato de trabalho é encerrado no dia que termina o seu vínculo com a universidade, além do fato de que a maioria dos estagiários (81,48%) tinha entre 20 e 29 anos e a metade (50,46%) dos trabalhadores tinha idade maior ou igual a 30 anos, situação essa também esperada, devido ao fato dos estagiários ainda estudarem.

A maioria dos estagiários (87,7%) cursava a educação superior, enquanto que no grupo de trabalhadores (trabalhadores terceirizados e os da empresa originária) 46,8% tinham pelo menos 11 anos de estudo e 40,4% ensino fundamental incompleto ou eram analfabetos.

Entre os trabalhadores apenas 16,5% ocupavam cargos de chefia, mostrando que existe uma tendência a horizontalização da hierarquia nas organizações.

Em relação ao estilo de vida apenas 4,9% dos estagiários referiram ser tabagistas, bem como 19,3% dos trabalhadores. Estes dados se devem ao fato que é desenvolvido um programa de prevenção ao tabagismo há mais de duas décadas na empresa privatizada. O referido programa já foi premiado, por duas vezes, pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho (1994/1997). Em estudo em empresa semelhante, com trabalhadores permanentes, 12,1% dos trabalhadores eram tabagistas(12). Só é permitido fumar no condomínio fora dos ambientes fechados. Quanto à ingestão de bebidas alcoólicas foi referida apenas por 38% dos trabalhadores e 42% dos estagiários. Este dado é concordante com outro estudo(12) realizado com trabalhadores do ramo de tecnologia da informação e telecomunicações e encontrou que 50,3% dos entrevistados tinham o hábito de ingerir bebidas alcoólicas.

As atividades físicas foram referidas por 70,4%, dos estagiários e 56,9% dos trabalhadores, que são fatores primordiais em relação à manutenção e melhora da capacidade física(3).

Entre os entrevistados, 83,2% (158) realizavam pelo menos uma atividade de lazer diariamente; no grupo dos estagiários 43,8% (35) realizavam mais que dez diferentes atividades de lazer, enquanto que no grupo dos trabalhadores, este percentual limitou-se a 17,6%. As atividades de lazer também são importantes para a manutenção da capacidade para o trabalho(3). Valores semelhantes foram encontrados em relação à freqüência das atividades de lazer realizadas por trabalhadores do ramo de tecnologia da informação e telecomunicações(12).

A realização de tarefas domésticas foi referida por 48,2% dos estagiários e pela maioria dos trabalhadores (71,6%).

O ICT categórico foi ótimo para a maioria dos estagiários (56,79%) e dos trabalhadores (63,3%); bom, para 43,21% dos estagiários e 31,19% dos trabalhadores; moderado para 5,5% dos trabalhadores e nenhum estagiário. Não houve trabalhador ou estagiário na categoria baixa, de modo semelhante ao que foi encontrado em pesquisa semelhante(12) e de modo contrário ao encontrado em estudos realizados com trabalhadores do Setor de limpeza que apresentaram valores de ICT na categoria "baixa capacidade para o "trabalho"(7,10)".

Os estudos transversais em epidemiologia ocupacional excluem o possível doente levando ao efeito do trabalhador saudável(15).

Em relação ao ICT categórico houve uma ligeira diminuição entre os trabalhadores com 40 anos ou mais, sendo corroborado pelos estudos finlandeses(3), os quais mostraram que, os trabalhadores de maior idade tendem a ter a capacidade para o trabalho diminuída, com o decorrer dos anos, quando não são realizados programas de preservação e manutenção para o trabalho.

Em relação à "capacidade atual para o trabalho", a média de pontos dos estagiários foi de 8,6 (DP 1,2) e a dos trabalhadores 8,9 (DP 1,17) (teste de Mann-Whitney, p= 0,0499), indicando que os estagiários estão com a capacidade para o trabalho pior que a dos trabalhadores terceirizados. Deve aqui ser considerado que os estagiários, além da jornada de trabalho na empresa ainda cursam faculdade/ensino médio.

Embora os estagiários e parte dos trabalhadores (principalmente, os da empresa originária) realizem trabalho com exigência mental, a capacidade para o trabalho em relação às exigências mentais foi referida como muito boa por apenas 32,5% (estagiários) e 44,0% (trabalhadores) e como boa por 62,5% (estagiários) e 51,4 (trabalhadores). A capacidade para o trabalho sofre influências das condições laborais e de saúde, do estilo de vida e do envelhecimento biológico(4).

As questões relativas às condições de trabalho (ambiente físico, organização, relações etc) podem ter repercussões negativas sobre a vida psíquica do trabalhador e devem ser consideradas com atenção, pois não se trata simplesmente de identificar e tratar uma doença, mas, de promover a saúde e a qualidade de vida do trabalhador, isto é, prevenir, evitar o sofrimento, o desgaste, a doença ou a morte e retomar o trabalho como atividade fundamental na constituição do sujeito e da vida digna.

A capacidade atual para o trabalho em relação às exigências físicas foi referida muito boa por 55% dos estagiários e 58% dos trabalhadores; como boa por 42,5% (estagiários) e 36,7% (trabalhadores) e moderada para 2,5 % (estagiários) e 9,17% (trabalhadores), como moderada. Deve ser considerado que parte dos trabalhadores realiza atividades laborais com exigência predominantemente física.

Em relação às "doenças na própria opinião", 49,4% dos estagiários e 51,4% dos trabalhadores responderam afirmativamente a esta questão (p= 0,7858, Teste de Qui-quadrado).

No grupo dos estagiários, 38,3% apresentaram "doenças com diagnóstico médico", bem como 49,5% dos trabalhadores (p= 0,7858, Teste de Qui-quadrado).

Em relação à ausência no trabalho devido aos problemas de saúde, 78% dos trabalhadores não tiveram afastamentos e 46,9% dos estagiários ficaram de um até nove dias afastados. Durante as entrevistas os trabalhadores e estagiários relataram existir um banco de horas, no qual são computadas as horas extras de trabalho e que são transformadas em dias de descanso e não pagas em remuneração, sendo que os contratos dos estagiários podem durar um ano ou mais e eles não têm direito a férias. Os trabalhadores utilizavam o banco de horas para consultas médicas e resolver assuntos familiares e os estagiários, em geral, para usufruir períodos de descanso. Porém, os estagiários não tinham banco de horas e isto pode justificar os dados mencionados anteriormente, em relação aos dias de afastamentos, cuja maior porcentagem foi entre os estagiários.

Em relação ao "prognóstico próprio da capacidade para o trabalho daqui há dois anos", todos os estagiários e 86,1% dos trabalhadores referiram ser "bastante provável". Estes dados são concordantes com os de pesquisa em empresa do mesmo ramo (97,7%)(12).

A maioria dos trabalhadores (70,7%) referiu ser capaz de apreciar suas atividades diárias sempre e a metade dos estagiários (50,6%), quase sempre.

A maioria dos trabalhadores (68,8%) e menos que a metade dos estagiários (45,7%) referiu sempre se "sentir ativo e alerta". Este dado pode ser evidenciado pelo fato dos estagiários terem uma sobrecarga de atividades (oito horas de estágio, em geral, e mais uma média de cinco horas de atividades de estudo diárias) causando uma fadiga física e mental.

Pesquisa realizada com estudantes do ensino fundamental constatou que o trabalho estava associado ao cansaço no fim do dia, baixa concentração no estudo, acidentes, sono durante as aulas, dores no corpo, menor número de horas de sono, entre outros(16).

A maioria dos trabalhadores (69,7%) e a metade dos estagiários (50,6%) referiram "sentir-se continuamente cheios de esperança para o futuro".

Na análise de regressão linear simples do grupo dos estagiários, na qual o ICT foi considerado como variável dependente, as seguintes variáveis independentes tiveram significância estatística: tempo na empresa: de 1,0 a 1,9 (p=0,0056) e se tempo maior ou igual a dois anos p=0,0003; realização de atividade física (p=0,0014); atividade física maior ou igual a 120 minutos por semana (p=0,0012); tempo de deslocamento (p=0,0427) e ouvir música diariamente (p=0,0235).

4. CONCLUSÕES

Em relação às transformações que têm ocorrido na inserção e relações do trabalho, devem ser consideradas a globalização da economia, a sociedade da informação, o desemprego estrutural e de longa duração, os novos riscos para saúde e o bem-estar, as novas formas de trabalho (terceirização, trabalho temporário, trabalho informal), a evolução sociodemográfica, a femininização da força de trabalho e o envelhecimento, entre outros aspectos. A noção de empregabilidade não pode ficar reduzida às qualificações profissionais, à educação e a formação para a vida laboral.

A partir do objetivo desta pesquisa, que foi estudar os trabalhadores de uma empresa do ramo de telecomunicações e tecnologia da informação e de empresas agregadas, bem como os seus estagiários em relação à sua capacidade para o trabalho e suas características sociodemográficas, constatou-se, em relação ao estilo de vida, que os estagiários (96,06%) fumam menos que os trabalhadores (80,27%), mas ingerem mais bebidas alcoólicas.

O Índice de Capacidade para o Trabalho ótimo foi menor entre os estagiários.

Em síntese, os novos conhecimentos e competências são exigidos cada vez mais dos trabalhadores e para manter a capacidade para o trabalho é fundamental a promoção à saúde no trabalho.

Submissão: 19/12/2005

Aprovação: 04/07/2006

Este artigo é uma síntese da dissertação de Mestrado intitulada "Capacidade para o trabalho em diferentes modalidades de inserção de um condomínio empresarial da alta tecnologia", defendida em 15 de dezembro de 2003 no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas;

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Mar 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2006

Histórico

  • Aceito
    04 Jul 2006
  • Recebido
    19 Dez 2005
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