Percebendo ausência de linguagem e conduta única na rede
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Aponta para a ausência de protocolos ou fluxos bem estabelecidos que guiem, de forma articulada e equânime, o atendimento aos pacientes, tendo em vista que não há linguagem e condutas definidas coletivamente na rede, não há coesão nas práticas estabelecidas e nem fluxo bem definido. As subcategorias apontam para necessidade de melhorar a qualidade da comunicação, variação no atendimento, conforme equipe de plantão e conforme médico que atende o paciente na UPA, sendo que há prejuízo do atendimento pela não homogeneidade da conduta, havendo possibilidade de pacientes com condições clínicas similares serem atendidos de formas diferentes ou que seja possibilitado tratamento adequado a alguns, enquanto que, a outros, não, conforme quem atenda. |
[...] não existe uma homogeneidade de abordagem a certas situações dentro mesmo das unidades, não existe uma fala única, mesmo existindo um protocolo [...]. (ES3) [...] a contrarreferência às vezes é um pouco tumultuada [...] eu, particularmente, não discuto muito com o médico que está ali, porque o SAMU é para atender o paciente onde ele estiver e até o destino, então, quando chega no destino que vai ser contrarreferenciado, eles ficam achando que não é a função deles, então eu ligo para regulação do SAMU, falo qual o problema, para gente tentar fazer a contrarreferência. A gente tem obrigação de dizer que não tem leito, os chefes de plantão ficam em uma situação difícil, porque aí tem que deixar a maca em que o paciente está, para encostar lá na recepção [...]. (EH10) |
Percebendo entraves nas relações profissionais |
É sustentada por seis subcategorias, que elencam dificuldades relacionais entre serviços e nos serviços, indicando dificuldades na relação SAMU-UPA, SAMU-Hospital e com o Chefe de Plantão do hospital, elemento da rede responsável por aceitar receber o paciente ou negar a vaga na unidade terciária. Ademais, há relação prejudicada na unidade de referência, evidenciada pela carga excessiva de trabalho, por ser unidade referência para várias patologias e pela superlotação, além de entraves nas relações internas à UPA, que tendem a prejudicar o atendimento. |
[...] observo que existe uma resistência maior de acolher o paciente do SAMU no hospital referência, apesar da comunicação prévia da Central de Regulação informando o estado em que se encontra o paciente [...] e apesar dessa unidade ser a referência para esse tipo de atendimento, são criadas barreiras para dificultar e impedir que a equipe adentre o serviço [...] prolongando por um tempo desnecessário a ocorrência, [...] criando uma certa inimizade por parte dos profissionais da unidade referência com os profissionais do SAMU. (ES25) [...] a gente não tem apoio da equipe médica, porque, se eu avalio esse paciente [no ACCR] e se eu entendo que ali tem uma suspeita e se ele não me escuta, não valoriza, eu escrevo e, às vezes, ele nem lê [...]. (EUPA24) |
Desconhecendo a função do outro na rede
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Traz elementos, como o não reconhecimento do outro e do seu papel na rede, a distorção do outro serviço, não enxergando suas necessidades, que parecem afastar o conceito de rede da realidade vivenciada. Ademais, é notado o isolamento dos serviços quando o profissional refere que o paciente é do serviço de origem (do SAMU, da UPA, do hospital), não entendendo que o paciente pertence à rede como um todo. O SAMU, serviço pré-hospitalar, ao adentrar o ambiente hospitalar com o paciente, mantém-se responsável por este, encaminhando-o à tomografia, procurando pelos profissionais do hospital, empurrando maca e transferindo o paciente de leito no lugar dos maqueiros, que habitualmente não auxiliam, permanecendo muito tempo no ambiente da instituição sem serem liberados até definição de conduta médica ou até surgir maca ou até surgir leito ou até decidirem contrarreferenciar o paciente. |
[...] o paciente é da rede, a rede é minha, a rede é sua, a rede é de todo mundo. Às vezes, esquecem que nosso objetivo é o paciente. O hospital não é meu feudo. O SAMU não é meu feudo. O meu objetivo é o paciente. Então, eu vou lhe ajudar, você vai me ajudar para que a gente juntos tratemos bem o paciente, atendamos bem o paciente. [...] cada um olhando para seu próprio umbigo esquecendo que nosso objetivo é atender o paciente [...]. (ES10) [...] hoje, não é uma realidade da gente, mas a gente já trabalhou em situação de ficar sem maca na emergência. Acabou ocupando todas as macas, de estar com 7 ou 8 na sala vermelha que é pequena e que deveria caber só a metade. Mas a grande maioria deles não consegue ver nosso outro lado, o lado que a gente também tem essas dificuldades, que eles têm pressa em liberar a ambulância e deixar o paciente com a gente, mas que nem sempre a gente consegue essa liberação de maneira imediata [...]. (EH5) |
Encontrando dificuldade em regular o paciente na rede |
Faz referência a uma das atividades de integração entre os serviços, que é a regulação. Traz nas suas subcategorias as dificuldades atreladas às restrições dos hospitais em receber esse paciente, ao fato de haver a autorização de encaminhamento hospitalar apenas para avaliação neurológica e não para admissão, à dificuldade de contato com o Chefe de Plantão e à maior dificuldade em regular pacientes que estão fora de janela ou que são contrarreferenciados para outras unidades e precisam de nova regulação. |
[...] quando os pacientes estão fora da janela para trombólise, além das 4,5 horas, o atendimento se tona mais difícil no acolhimento em unidades terciárias [...]. (ES5) [...] temos dificuldade em regular propriamente. O médico regulador tem dificuldade de falar com o chefe de plantão, ou com o plantonista da unidade hospitalar [...]. (ES23) |
Compartilhando objetivos na rede |
Relacionam-se à associação entre profissionais dos serviços em prol do paciente. As subcategorias trazem que, sendo o SAMU um elemento conector, conta-se com a colaboração deste na rede, observando que a pré-notificação hospitalar, por exemplo, é um fator de melhoria na assistência hospitalar. O compartilhamento de objetivos entre a UAVC e o SAMU resulta em uma melhor assistência. A coesão dos profissionais na UPA, principalmente devido ao longo tempo de trabalho juntos, torna-se alicerce para o funcionamento da unidade. Para vencer as intempéries, são elaboradas estratégias para melhor relacionar-se e para contornar os problemas. |
[...] quando o SAMU chega, eu confirmo o nome do paciente e já aciono eles [médicos da UAVC]. Geralmente, quando o chefe de plantão comunica que o paciente vai vir, ele já deixa a solicitação da tomografia com nome e a suspeita, para que não se perca tempo em preencher, a gente ganha tempo como isso [...]. (EH3) [...] nos meus dias de trabalho, minha equipe é bem coesa, enfermeiros, técnicos e a equipe médica. As equipes são guerreiras e o que o que salva o atendimento na UPA são as equipes. A gente já faz o mínimo, porque a gente não tem recurso, sem a minha equipe, eu não conseguiria fazer nada [...]. (EUPA18) |