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Hepatites Virais: um desafio para enfermagem

O século XX desvendou os mistérios sobre a etiologia das hepatites virais, identificando cinco agentes distintos responsáveis por essas viroses: vírus da hepatite A (HAV), vírus da hepatite B (HBV), vírus da hepatite C (HCV), vírus da hepatite D (HDV) e vírus da hepatite E (HEV). Esses vírus são responsáveis por um milhão de mortes anualmente. O HBV, HCV e HDV são causas de hepatite aguda, crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular. Por sua vez, o HAV e HEV causam doença hepática autolimitada e, mais recentemente, casos de hepatite E crônica têm sido relatados em transplantados. O risco de hepatite fulminante é elevado em mulheres grávidas.

A criação da vacina contra hepatite B, em 1981, e sua adoção gradativa pelos países-membros da Organização Mundial de Saúde tem contribuído para redução dessa infecção na humanidade(11 Ott JJ, Stevens GA, Groeger J, Wiersma ST. Global epidemiology of hepatitis B virus infection: new estimates of age-specific HBsAg seroprevalence and endemicity. Vaccine[Internet]. 2012[cited 2016 Dec 10];30(12):2212-9. Available from: https://www.clinicalkey.com/service/content/pdf/watermarked/1-s2.0-S0264410X11020779.pdf?locale=pt_BR
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). Além da vacina, a disponibilidade de antivirais para tratamento da hepatite B crônica tem diminuído a carga dessa doença. O vírus da hepatite D, por ser um vírus defectivo e dependente do HBV para sua replicação e manutenção na célula hospedeira, segue a mesma tendência de declínio em países que adotaram a vacina contra HBV.

Em 1989, a descoberta do vírus da hepatite C elucidou a maioria dos casos de hepatites Não-A Não-B pós-transfusionais. Com a implementação da triagem do HCV em bancos de sangue, reduziu-se significativamente o risco de hepatite C pós-transfusional. Atualmente, os usuários de drogas injetáveis representam o grupo em maior risco para essa infecção e potenciais fontes de transmissão para a população em geral. Apesar da inexistência de vacina contra hepatite C, estão disponíveis novos antivirais, capazes de eliminar o vírus, contudo, o acesso ao tratamento ainda é limitado em várias partes do mundo.

As melhorias das condições de vida da população, refletida pelo acesso a água tratada e saneamento básico têm reduzido a prevalência da hepatite A e contribuído para redução da carga dessa infecção em países em desenvolvimento, como o Brasil. Nesses tem sido recomendada a vacinação contra hepatite A para crianças, e o grande desafio curiosamente será a demanda aumentada pelos serviços de saúde para atendimento dos casos, que agora acontecerão numa fase mais tardia da vida, quando os sintomas clínicos da hepatite A são mais frequentes. Mais recentemente uma vacina contra hepatite E tornou-se disponível, contudo, sua oferta tem sido limitada a alguns países asiáticos.

Apesar de todos esses avanços, as hepatites virais se mantêm como grande ameaça à saúde da população. A pobreza e falta de acesso aos serviços de saúde contribuem para a manutenção dessas doenças. A Assembléia Mundial de Saúde tem sistematicamente manifestado preocupação com as hepatites virais. Em 2010, a 63ª Assembleia Mundial de Saúde adotou a resolução WHA63.18, na qual conclamou os países membros a promover abordagens custo-efetivo para prevenção, controle e tratamento de hepatites virais, além de definir o dia 28 de julho como Dia Mundial de Combate as Hepatites Virais.

Alguns anos depois, recon hecendo a necessidade de intensificar e expandir a resposta as hepatites, a 67ª Assembleia Mundial de Saúde, por meio da resolução WHA67.6 de 2014, solicitou apoio técnico necessário para permitir que os Estados-Membros desenvolvessem estratégias nacionais robustas de prevenção, diagnóstico e tratamento das hepatites virais com metas temporais. Em resposta a essa Resolução, a Organização Mundial de Saúde iniciou as atividades da estratégia global do setor saúde para as hepatites virais para o período 2016-2021, que inclui medidas para eliminação das hepatites virais B e C como ameaça a saúde pública até 2030, indo assim ao encontro da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

O Brasil tem respondido a essas demandas globais, e a enfermagem tem permeado todas as ações de controle e prevenção dessas infecções, seja por meio do sistema de vigilância das hepatites virais, que nos permite acompanhar as tendências dessas viroses; no planejamento de estratégias de prevenção e controle; nos bancos de sangue por meio da triagem clínica de potenciais doadores de sangue e derivados; nas salas de vacinação e campanhas de imunização; na assistência as gestantes e prevenção da transmissão vertical; no rastreamento de casos de portadores de hepatites virais; na assistência terciária aos indivíduos com formas agudas e crônicas dessas infecções, e na produção de conhecimentos para realização segura de práticas baseadas em evidencias.

Atualmente somos um país de baixa endemicidade para as hepatites B e C, e de endemicidade intermediária para hepatite A(22 Pereira LMMB, Ximenes RAA, Moreira RC. Estudo de prevalência de base populacional das infecções pelos vírus das hepatites A, B e C nas capitais do Brasil[Internet]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2010[cited 2016 Dec 10]. 295 p. Available from: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2010/50071/ estudo_prevalencia_hepatites_pdf_26830.pdf
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). Contudo, a maior carga dessas infecções está em populações empobrecidas, e/ou que apresentam maior vulnerabilidade social e individual como usuários de drogas ilícitas, profissionais do sexo, moradores de rua, homossexuais, dentre outros. Nesses subgrupos sociais, em geral, o acesso aos serviços públicos de saúde é limitado, e a enfermagem pode contribuir para identificar essas populações e, por meio de ações de prevenção, promoção da saúde e controle, colaborar para interromper a cadeia de transmissão e cumprir com a meta ousada de eliminação dessas viroses em nosso planeta.

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2017
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