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Editorial

EDITORIAL

A proposta da reforma sanitária partindo do pressuposto de que a saúde é um direito da cidadania, aponta como princípios básicos a universalidade e equanimidade, unificação, descentralização, hierarquização e a integralização das ações de saúde, a serem equacionadas no processo de mudança do sistema de saúde brasileiro, que nas últimas décadas vive um estado permanente de caos.

Implementar estas diretrizes, implica em profundas transformações e essencialmente em repensar o papel dos diferentes níveis de atenção e reorganização do trabalho em saúde, uma vez que a proposta é de integração das ações médicas de natureza curativa e individual, ao elenco de ações de natureza coletiva e preventiva. Diferente do modelo assistencial até então operado, significa repensar o objeto da ação em saúde, o processo saúde/doença e, assim, redescobrir formas de intervenção considerando sua integralidade.

Qual a importância da pesquisa neste contexto? A resposta é simples, apesar de um processo teoricamente complexo. O estabelecimento de objetivos, estratégias, condições e meios necessários às modificações pretendidas estão diretamente relacionadas à compreensão primeira da estrutura social, ou seja, as condições de vida e saúde da população, a configuração do sistema de saúde e as práticas profissionais historicamente determinadas. Conhecer as especificidades destas situações concretas, quem são e como procedem os sujeitos ativos destes processos, é imprescindível quando se deseja uma intervenção com resolutividade. Este é um dos objetivos da pesquisa.

A investigação é indispensável para avaliar a disponibilidade de serviços, orientar a criação de novos modelos de assistência, verificar os efeitos da atenção na saúde do indivíduo, família e/ou comunidade. Permite ainda conhecer os fatores de ordem bio-psicossocial que influem na saúde, o que as pessoas necessitam e como esperam que as ações sejam desenvolvidas. É papel preponderante na descoberta e aperfeiçoamento de novas tecnologias no reforço às bases científicas dos serviços de saúde.

A enfermagem, como prática social cujo desenvolvimento não se dá no vácuo ou espaço isolado do contexto social, está ideologicamente comprometida com os diversos momentos históricos que reorientam e transformam a sociedade. Apresentando seu processo de trabalho aderente à política de saúde e às determinações da estrutura vigente, pode e deve contribuir eficazmente em todos os campos da pesquisa no âmbito do sistema de saúde, na formulação de políticas de saúde, planejamento e desenvolvimento de recursos humanos visando buscar o aprimoramento de sua prática. A pesquisa em enfermagem no setor saúde permite que as enfermeiras desenvolvam estudos que avaliem a eficácia dos modelos assistenciais que implementam, assim como criar novas metodologias integradoras que contemplem o modelo epidemiológico clínico e social objetivando a otimização de atenção à população.

Repensar pois, as práticas de saúde, requer também o repensar das práticas de enfermagem. Assim, a investigação dos serviços de saúde deverá acompanhar o processo desde a fase de reorganização e reorientação do setor, tendo por base os princípios orientadores para reforma do sistema, sendo partícipes ativos deste processo os prestadores dos serviços, a comunidade e os usuários aumentando desta maneira as possibilidades de que os resultados dos estudos levem a implantação de ações corretivas para o avanço da qualidade de vida e das condições de saúde da população brasileira.

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1992
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