As doenças cardíacas lideram o grupo das desordens clínicas de maiores taxas de hospitalização e mortalidade, além de apresentarem um progressivo aumento da incidência na população devido ao envelhecimento concomitante ao desenvolvimento das terapias e tecnologias em saúde. Uma estimativa obtida pelo DATASUS(1) acusa um gasto onerado ao sistema de saúde do país, no ano de 2015, de quase 700 milhões de reais só para pessoas com insuficiência cardíaca e infarto agudo do miocárdio.
Geralmente, pessoas que são diagnosticadas com doenças cardíacas apresentam a capacidade funcional e a qualidade de vida reduzidas, constando até mesmo prejuízo no desenvolvimento quando crianças, uma vez que a doença pode levar ao comprometimento sistêmico, resultando em incapacidades.
Diante desse quadro, os enfermeiros têm enfrentado vários desafios e, como consequência, alcançado resultados que os diferenciam, dando-lhes papel de destaque em diferentes dimensões do cuidado, como é o caso de diretrizes nacionais e internacionais que creditam ao enfermeiro os benefícios causados aos pacientes durante o acompanhamento em programas de manejo da doença e programas educativos. O desenvolvimento e validação de escalas e instrumentos de medida auxiliam os enfermeiros no estabelecimento de ações e na tomada de decisões que visam a melhora do processo saúde e doença do indivíduo. Destacam-se ainda os avanços recentes na cardiologia, cujas apropriação do conhecimento pelo aprofundamento, compreensão de doenças, tratamentos e manifestações clínicas levam ao empoderamento em debates e discussões clínicas junto à equipe de saúde.
Apesar da ampla possibilidade e necessidade de atuação do enfermeiro, os ambientes de saúde são marcados por variáveis desafiadoras, tais como a falta de mão de obra, de estrutura física, de equipamentos e materiais, salários inadequados, dupla jornada de trabalho, esforços físicos constantes e o risco de acidentes, que refletem lacunas na qualidade do cuidado, revelando frequentemente um padrão de declínio nos resultados. Em face a essa situação, potencialmente similar em diferentes lugares do mundo, como podemos constituir um futuro promissor para a enfermagem cardiológica?
Observamos que há falta de intervenções de enfermagem que consolidem o curso da profissão e levem ao domínio da ciência da enfermagem baseada em evidências, focada em metas previamente estabelecidas. Há necessidade da implementação de ações que demonstrem a atuação de uma enfermagem consciente do seu papel, centrado no paciente e na família. Essas ações são refletidas por meio de julgamentos coerentes, contestando os resultados obtidos.
Frente às constantes atualizações na cardiologia, há ainda a necessidade do aprimoramento tecnológico para o manuseio seguro de dispositivos e aparelhos, bem como de seus riscos e benefícios. A apropriação dos elementos que se constituem fenômenos da enfermagem deve direcionar ações de busca de conhecimento e desenvolvimento da disciplina, evitando a hegemonia do modelo biomédico, cuja influência se faz necessária para boa conduta do profissional enfermeiro(2). Entretanto, o predomínio ou a utilização exclusiva desse modelo desfigura o profissional, impedindo o progresso da ciência da enfermagem.
Num processo visionário de crescimento profissional na cardiologia, os estudos com foco nos diagnósticos de enfermagem e nas melhores intervenções, que modificam seu estado e permitem aos enfermeiros a apropriação do conhecimento e desenvolvimento da ciência da enfermagem, devem ser incentivados. Ênfase nos estudos de acurácia diagnóstica, definição de elementos das taxonomias e identificação de novos fenômenos são úteis para a consolidação do corpo de conhecimento da enfermagem. Estudos de aplicabilidade e eficácia de intervenções, que apresentem resultados positivos, acrescentam visibilidade e garantem padrões ótimos de cuidados.
Há necessidade urgente em reduzir a lacuna entre cuidados de saúde em nível hospitalar e primário, proporcionando educação contínua ao receptor do cuidado de enfermagem e, consequentemente, mudança de comportamento e autogerenciamento da doença, incluindo modelos inovadores, tais como: consultas ambulatoriais, consultas telefônicas, técnicas de coaching e treinamentos individualizados(3). Nas ações de prevenções secundárias em diferentes ambientes de assistência à saúde, os profissionais de enfermagem devem ser sensibilizados a explorar tecnologias como aplicativos de celulares e páginas da web(3).
Os avanços no conhecimento da enfermagem cardiológica, que auxiliam na atuação segura frente às desordens patológicas, têm sido progressivamente alcançados. Entretanto, não se deve perder o foco no papel desempenhado pelo enfermeiro, visando abranger e se apropriar dos fenômenos da disciplina da enfermagem, atitudes que consolidam e sustentam o desenvolvimento da profissão.
Referências bibliográficas
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1 Brasil. Ministerio da Saude. DATASUS. Informacoes de Saude [Internet]. 2015 [cited 2016 Oct 02]; Available from: http://tabnet.datasus.gov.br
» http://tabnet.datasus.gov.br -
2 Carvalho V. [Research lines in nursing: phylosophical and epistemological highlights]. Rev Bras Enferm [Internet]; 2015 [cited 2016 Oct 02];68(4):723-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n4/0034-7167-reben-68-04-0723.pdf Portuguese.
» http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n4/0034-7167-reben-68-04-0723.pdf -
3 Klopper HC, Hill M. Global Advisory Panel on the Future of Nursing (GAPFON) and Global Health. J Nurs Scholarship [Internet]. 2015 [cited 2016 Oct 02];47:1-4. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jnu.12118/abstract
» http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jnu.12118/abstract
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
May-Jun 2017