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DISCURSO DA DRA. AMÁLIA CORRÊA DE CARVALHO AO SER AGRACIADA COM O TÍTULO DE SÓCIO HONORÁRIO DA ABEn - 1977

A Segunda Guerra Mundial constituiu o evento de maior importância no segundo quarto deste século, pelo aspecto político-ideológico da origem do conflito e por seus reflexos no desenvolvimento das ciências, da tecnologia, e mesmo das artes. A humanidade foi profundamente marcada pelo nefasto acontecimento e, de um modo ou de outro, cruentamente ou não, todos os recantos do mundo, por mais alienados e distantes que estivessem do campo de guerra, sofreram sua influência.

O fato de nos encontrarmos hoje aqui, diante desta magnífica assembléia, para recebermos a mais alta honraria que a Associação Brasileira de Enfermagem concede está de certa maneira, relacionado com aquele acontecimento.

Em decorrência do conflito, logo no seu início e a exemplo dos países direta e indiretamente obrigados a planejamento com vistas ao "esforço de guerra" o setor médico-hospitalar brasileiro também se movimentou nesse sentido. E as cidades mais populosas tiveram seus cursos de "Socorristas", criados e desenvolvidos por grupos de médicos da localidade, como uma contribuição a esse esforço.

Foi assim que, atendendo ao desejo do participação e envolvimento nos programas da comunidade, minha irmã mais nova e eu, consideradas as aventureiras da família, já normalistas mas sem nenhuma atividade profissional, fizemos o Curso de Socorrista em nossa cidade, Ribeirão Preto, ministrado exclusivamente por médicos.

O programa, bastante desenvolvido nas ciências básicas e na parte clínica, pouquíssimo oferecia de enfermagem, o que era muito natural na época. Entretanto, as raras visitas à Santa Casa local, para a observação de cirurgias, serviram para despertar nosso interesse pelo tipo de trabalho desempenhado nos hospitais. Constituíram a única informação realista sobre atividades neles desenvolvidas pelos médicos e pelo pessoal de enfermagem.

Apesar de tentativa de incursão por outros campos do conhecimento e de ter completado o curso de Biblioteconomia em São Paulo, alguma impressão mais profunda do programa de Socorrista deve ter permanecido, e que nos fez desviar de uma trajetória já traçada, inclusive com emprego público assegurado, para iniciar nova carreira, junto com as pioneiras da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

Vocação para a enfermagem? Certamente que não. Houve, sim, o despertar de um interesse muito grande pelo bem-estar da coletividade, na área da saúde. E o desejo, também grande, de oferecer uma contribuição, por pequeno que fosse, a um campo ainda novo, carente de profissionais, desconhecido de muitos, de validade duvidosa para a maioria dos médicos daquele tempo, e necessitado de desenvolvimento; a par, é claro, dos interesses particulares, pessoais, que possam ter influenciado nossa decisão final.

A homenagem a nós prestada hoje pela Associação Brasileira de Enfermagem corre por conta, com toda certeza, do fato de termos acreditado na importância da enfermagem como profissão de grande alcance social para a promoção do homem como homem, em toda a sua plenitude e integridade. A participação da enfermeira na equipe de saúde, colaborando no esforço comum, visando à conservação ou a melhoria do estado de higiene física e mental da população, é obra de grande mérito e que repercute diretamente no bem-estar da coletividade.

A qualidade dessa participação sempre constituiu uma das nossas mais sérias preocupações. A contribuição que oferecemos à enfermagem brasileira, em termos de exercício do magistério na Escola de Enfermagem da USP e de serviços prestados à Associação Brasileira de Enfermagem, foi no sentido de trabalhar visando sempre ao aperfeiçoamento das instituições destinadas à preparação e ao aprimoramento desse membro privilegiado da equipe de saúde - o enfermeiro.

É assim que vemos nossa posição no campo do ensino da enfermagem e de colaboração com as entidades de classe. A importância da Associação no desenvolvimento da enfermagem brasileira ainda não foi bem compreendida por todos. A força que representa a voz de um grupo coeso, em contraposição com a ineficácia das intervenções, individuais, ainda não constitui motivação suficiente para a maioria dos enfermeiros, que deixam, portanto, de oferecer à Associação apoio significativo em seus empreendimentos.

O papel destacado da Associação Brasileira de Enfermagem no aperfeiçoamento do enfermeiro como pessoa e como profissnonal pode ser equiparado, guardadas as devidas proporções, ao desempenhado pelas entidades formadoras. A Associação constitui fator de aproximação de todos os enfermeiros do país, de nivelamento, portanto, em relação a conhecimentos e desempenho. É o veículo para a troca de idéias e informações. É o órgão, por excelência, de assistência e desenvolvimento cultural. Coopera, por conseguinte, no esforço comum para a melhoria do nível de participação dos enfermeiros na equipe de saúde.

Ao aceitarmos colaborar nos empreendimentos da Associação Brasileira de Enfermagem, ainda na qualidade de estudante, sob a sábia orientação de Edith de Magalhães Fraenkel, para quem a Associação era imprescindível ao progresso da profissão, fizemo-lo seguindo as pegadas da Mestra, que nada esperava como retribuição ao seu trabalho, senão a satisfação de contribuir para o bem-estar e o aprimoramento do grupo; em última análise, para a melhoria da assistência à saúde do povo brasileiro.

Agradecemos de coração a homenagem de hoje, na qual gostaríamos de incluir todas as colegas que conosco trabalharam, facilitando o cumprimento de nossa tarefa, muitas vezes ampliando seu alcance e valorizando os resultados finais conseguidos.

Nesse sentido, merecem agradecimentos especiais a enfermeira Alice Andrade Maciel e seu grupo do Distrito Federal, que auxiliaram na etapa mais difícil de nossa gestão como presidente da ABEn - a construção da sede em Brasília.

Incluímos nos agradecimentos especiais a Escola de Enfermagem da USP que, por sua diretora, Maria Rosa S. Pinheiro, liberou-nos sempre que necessitávamos tempo para as atividades da Associação.

Às amigas que, pela própria benevolência de amigas, lembraram-se de indicar nosso nome para Sócio Honorário da ABEn e à Assembléia de Delegados que endossou essa escolha, a nossa gratidão.

E, para terminar, não podíamos deixar de mencionar a contribuição extraordinária que nos emprestaram Clarice Ferrarini, como secretária executiva que, como sempre, oferecia contribuição além do que considerávamos seu dever; e Irmã Maria Teresa Notarnicola, a tesoureira milagrosa, que nunca se restringiu às atividades do seu cargo, e que, por sua maravilhosa capacidade de cooperação, tornou-se figura indispensável em todos os empreendimentos da Associação.

À Associação Brasileira de Enfermagem e a todos os colegas que a integram, o nosso muito obrigado pela homenagem de hoje.

  • CARVALHO, A.C. - Discurso ao ser agraciada com o título de sócio honorário da ABEn. Rev. Bras. Enf.; DF, 3:353-355, 1977.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 1977
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