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Desenvolvimento e validação de conteúdo de um Instrumento de classificação de risco

RESUMO

Objetivo:

Desenvolver e validar o conteúdo de um instrumento para classificação de risco do paciente em serviços de emergência da Atenção Primária à Saúde.

Método:

Estudo composto por duas etapas: geração de itens e validade de conteúdo. Foi realizada revisão de literatura e análise retrospectiva dos prontuários para criação dos itens do instrumento. Na validação de conteúdo, foi usado o Content Validity Ratio (CVR) para averiguar a concordância entre os juízes.

Resultados:

O instrumento de classificação de risco foi validado por 75 e 71 juízes no primeiro e segundo ciclo, respectivamente. Foi utilizado escore mínimo da aderência ao item da variável latente com base no número final de juízes, adotando 0,22 e 0,18; e foram mantidos 52 itens divididos em três categorias de classificação (vermelho, laranja e amarelo).

Conclusão:

O instrumento foi considerado válido quanto à clareza, relevância, pertinência e concordância em relação à gravidade indicada no item.

Descritores:
Classificação de Risco; Estudo de Validação; Psicometria; Gravidade do Paciente; Atenção Primária a Saúde

ABSTRACT

Objective:

Develop and validate the content of an instrument for patient risk classification in emergency services of Primary Health Care.

Method:

The study included two stages: item generation and content validity. A literature review and retrospective analysis of medical records were conducted to create the instrument items. The Content Validity Ratio (CVR) was used to assess agreement among judges during content validation.

Results:

In the first and second rounds, 75 and 71 judges validated the risk classification instrument, respectively. The minimum adherence score for the latent variable item based on the final number of judges was 0.22 and 0.18; thus, 52 items, divided into three classification categories (red, orange, and yellow), were retained.

Conclusion:

The instrument was considered valid regarding clarity, relevance, pertinence, and agreement regarding the severity indicated in the item.

Descriptors:
Triage; Validation Studies; Psychometrics; Patient Acuity; Primary Health Care

RESUMEN

Objetivo:

Desarrollar y validar contenido de un instrumento para medición de riesgo del paciente en servicios de emergencia de Atención Primaria de Salud.

Método:

Estudio compuesto por dos etapas: generación de ítems y validez de contenido. Realizada revision de literatura y análisis retrospectivo de prontuarios para creación de los ítems del instrumento. En la validez de contenido, fue usado el Content Validity Ratio (CVR) para averiguar la concordancia entre jueces.

Resultados:

El instrumento de medición de riesgo fue validado por 75 y 71 jueces en el primer y segundo ciclo, respectivamente. Utilizada calificación mínima de adherencia al ítem de la variable latente basado en el número final de jueces, adoptando 0,22 y 0,18; y mantenidos 52 ítems divididos en tres categorías de medición (rojo, naranja y amarillo).

Conclusion:

El instrumento fue considerado válido cuanto a claridad, relevancia, pertinencia y concordancia en relación con la gravedad indicada en el ítem.

Descriptores:
Medición de Riesgo; Estudio de Validación; Psicometría; Gravedad del Paciente; Atención Primaria de Salud

INTRODUÇÃO

Acolhimento é definido como prática de saúde por meio de escuta qualificada e da capacidade de pactuação entre a demanda do usuário e a possibilidade de resposta do serviço, devendo ser realizado por todos os profissionais. Em contraste, a Classificação de Risco (CR) é denominada como um processo de trabalho de caráter técnico e assistencial que prevê a celeridade no atendimento amparado por um protocolo pré-estabelecido. No Brasil, por meio da Resolução 423/2012, o Conselho Federal de Enfermagem determina que a CR é uma atividade privativa do profissional Enfermeiro(11 Ministério da Saúde (BR). Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2004[cited 2023 Sep 13]. 48p. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
, 22 Ribeiro DFS, Gaspar DRFA, Santos LP, Silva MBT. The nurse’s professional identity on the Primary Health Care users perception. Rev Bras Enferm. 2021;75(3):e20200974. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0974
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0...
, 33 Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Resolução no 661, de 11 de março de 2021. Atualiza e normatiza, no âmbito do sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, a participação da Equipe de Enfermagem na atividade de classificação de risco[Internet]. Brasília (DF); 2021[cited 2023 Sep 13]. Available from: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-661-2021/
https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen...
).

O alto volume de atendimento e consequente superlotação dos serviços de urgência e emergência são discutidos em cenário nacional e internacional(44 Costa EDS, Silva MDJR, Kuroba LS, Silva AMD, Costa GDS, Vieira PSN. Processo de enfermagem em unidades de atendimento de urgência e emergência: uma revisão integrativa. Rev Uningá. 2017;53(1):90-5. https://doi.org/10.46311/2318-0579.53.eUJ1407
https://doi.org/10.46311/2318-0579.53.eU...
, 55 Savioli G, Ceresa IF, Gri N, Bavestrello Piccini G, Longhitano Y, Zanza C, et al. Emergency department overcrowding: understanding the factors to find corresponding solutions. J Pers Med. 2022;12(2):279. https://doi.org/0.3390/jpm12020279
https://doi.org/0.3390/jpm12020279...
). Consequentemente há constantes discussões acerca da Rede de Atenção à Saúde (RAS), especialmente sobre a Atenção Primária à Saúde (APS), a qual é indicada tanto como a porta de entrada quanto o elemento que ordena e coordena a Rede de Atenção de Urgência e Emergência. Nesse cenário, os protocolos de CR são reconhecidos como parte das resoluções assertivas relacionadas ao primeiro atendimento, fazendo-se imprescindível a sua implantação nos serviços de urgência e emergência da RAS(55 Savioli G, Ceresa IF, Gri N, Bavestrello Piccini G, Longhitano Y, Zanza C, et al. Emergency department overcrowding: understanding the factors to find corresponding solutions. J Pers Med. 2022;12(2):279. https://doi.org/0.3390/jpm12020279
https://doi.org/0.3390/jpm12020279...
, 66 Sousa KO, Silva JFT, Sousa KO, Santos ABAS, Guedes TSA, Costa AKO, et al. A enfermagem diante da classificação de risco nos serviços de urgência e emergência: revisão integrativa da literatura. Casoseconsultoria [Internet]. 2021[cited 2023 Sep 13];12(1):e26174. Available from: https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/article/view/26174
https://periodicos.ufrn.br/casoseconsult...
).

Mundialmente, recomenda-se o emprego de protocolos que estratifiquem a gravidade clínica do paciente. Dentre eles, os mais usados são: Australasian Triage Scale (ATS), Canadian Triage and Acuity Scale (CTAS), Emergency Severity Index (ESI) e, de forma majoritária, o Sistema de Triagem Manchester (STM)(77 Costa FF, Prudente GM, Borba ACG, Deus S, Castilho TC, Sampaio RA. A eficácia da aplicação do protocolo de Manchester na classificação de risco em unidades de pronto atendimento: uma revisão sistemática. RSM [Internet]. 2020[cited 2023 Sep 13];115(8):668-81. Available from: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/211
http://revistas.famp.edu.br/revistasaude...
, 88 Zakeri H, Saleh LA, Niroumand S, Ziadi-Lotfabadi M. Comparison the Emergency Severity Index and Manchester Triage System in Trauma Patients. Bull Emerg Trauma. 2022;10(2):65-70. https://doi.org/10.30476/BEAT.2022.92297.1302
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, 99 Varndell W, Hodge A, Fry M. Triage in Australian emergency departments: results of a New South Wales survey. Australas Emerg Care. 2019;22(2):81-6. https://doi.org/10.1016/j.auec.2019.01.003
https://doi.org/10.1016/j.auec.2019.01.0...
, 1010 Zachariasse JM, van der Hagen V, Seiger N, Mackway-Jones K, van Veen M, Moll HA. Performance of triage systems in emergency care: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open. 2019;9(5):e026471. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2018-026471
https://doi.org/10.1136/bmjopen-2018-026...
, 1111 Jesus APS, Okuno MFP, Campanharo CRV, Lopes MCBT, Batista REA. Manchester Triage System: assessment in an emergency hospital service. Rev Bras Enferm. 2021;74(3):e20201361. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1361
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1...
, 1212 Sacoman TM, Beltrammi DGM, Andreza R, Cecílio LCO, Reis AC. Implantação do Sistema de Classificação de Risco Manchester em uma rede municipal de urgência. Saúde Debate. 2019;43(121):354-367. https://doi.org/10.1590/0103-1104201912105
https://doi.org/10.1590/0103-11042019121...
, 1313 Wolf LA, Delao AM. Establishing Research Priorities for the Emergency Severity Index Using a Modified Delphi Approach. J Emerg Nurs. 2021;47(1):50-57. https://doi.org/10.1016/j.jen.2020.09.005
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). O STM passou a ser o mais utilizado nos serviços de urgência e emergência em todos os níveis de atenção, porém, com o passar do tempo, algumas barreiras relacionadas ao custo começaram a ser percebidas no Brasil, pois sua implementação e manutenção demandam treinamento específico com o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco(1313 Wolf LA, Delao AM. Establishing Research Priorities for the Emergency Severity Index Using a Modified Delphi Approach. J Emerg Nurs. 2021;47(1):50-57. https://doi.org/10.1016/j.jen.2020.09.005
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).

Alguns estudos demonstram que o STM foi um ótimo preditor de desfecho em serviços de emergência hospitalares(1414 Hermida PMV, Nascimento ERPD, Echevarría-Guanilo ME, Bruggemann OM, Malfussi LBHD. Acolhimento com classificação de risco em unidade de pronto atendimento: estudo avaliativo. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03318. https://doi.org/10.1590/s1980-220x2017001303318
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, 1515 Sales AP, Dionato FAV, Santos LSC, Silva LM, Porto NM, Masson VA, et al. A Importância do Acolhimento com o Sistema de Manchester no Serviço de Urgência e Emergência. Rev Feridas. 2022;10(57):2095-2102. https://doi.org/10.36489/feridas.2022v10i57p2095-2102
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). No entanto, em algumas pesquisas realizadas em instituições de atenção básica, foram evidenciadas fragilidades(1616 Souza CC, Chianca TCM, Cordeiro Junior W, Rausch MCP, Nascimento GFL. Reliability analysis of the Manchester Triage System: inter-observer and intra-observer agreement. Rev Latino-Am Enfermagem. 2018;26:e3005. https://doi.org/10.1590/1518-8345.2205.3005
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, 1717 Harris PA, Taylor R, Minor BL, Elliott V, Fernandez M, O’Neal L, et al. The REDCap consortium: building an international community of software platform partners. J Biomed Inform. 2019;95:103-208. https://doi.org/10.1016/j.jbi.2019.103208
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). Em um relato de experiência, é destacado que, devido ao STM ter sido desenvolvido em uma realidade hospitalar, alguns fatores como a baixa complexidade clínica e os recursos materiais das instituições de saúde da atenção básica dificultam a aplicabilidade do STM; por isso, podem ser necessárias algumas adaptações(1818 Ferretti-Rebustini REDL. Psychometrics: applications in Nursing. Rev Latino-Am Enfermagem. 2023;31:e3993. https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3993
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). Esse achado foi endossado por uma revisão de escopo(1919 Madadizadeh F, Bahariniya S. Tutorial on how to calculating content validity of scales in medical research. Perioper Care Oper Room Manag. 2023;31:1003-15. https://doi.org/10.1016/j.pcorm.2023.100315
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).

Diante desse contexto, considerando que atualmente são utilizados instrumentos de classificação de risco desenvolvidos e validados especificamente para o cenário de cada país e voltados para a atenção hospitalar, torna-se necessário o desenvolvimento e a validação de um instrumento de classificação de risco para ser utilizado em serviços de emergência da Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde(1313 Wolf LA, Delao AM. Establishing Research Priorities for the Emergency Severity Index Using a Modified Delphi Approach. J Emerg Nurs. 2021;47(1):50-57. https://doi.org/10.1016/j.jen.2020.09.005
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, 1414 Hermida PMV, Nascimento ERPD, Echevarría-Guanilo ME, Bruggemann OM, Malfussi LBHD. Acolhimento com classificação de risco em unidade de pronto atendimento: estudo avaliativo. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03318. https://doi.org/10.1590/s1980-220x2017001303318
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, 1515 Sales AP, Dionato FAV, Santos LSC, Silva LM, Porto NM, Masson VA, et al. A Importância do Acolhimento com o Sistema de Manchester no Serviço de Urgência e Emergência. Rev Feridas. 2022;10(57):2095-2102. https://doi.org/10.36489/feridas.2022v10i57p2095-2102
https://doi.org/10.36489/feridas.2022v10...
).

OBJETIVO

Construir e validar um instrumento de classificação de risco para ser utilizado nos serviços de emergência da Atenção Primária à Saúde.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo e pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, via plataforma Brasil. Para fins de legitimação, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo psicométrico, constituído por duas etapas: geração de itens; e validade de conteúdo por meio de painel de especialistas. Foram seguidas as etapas de definição dos objetivos, construção dos itens, seleção e organização dos itens, estruturação do instrumento, opinião de especialistas e validade de conteúdo. Esta pesquisa foi estruturada de acordo com o Revised Standards for Quality Improvement Reporting Excellence (SQUIRE 2.0)(2020 Ogrinc G, Davies L, Goodman D, Batalden P, Davidoff F, Stevens D. SQUIRE 2.0 (Standards for Quality Improvement Reporting Excellence): revised publication guidelines from a detailed consensus process. BMJ Qual Saf. 2016;25(12):986-992. https://doi.org/10.1136/ bmjqs-2015-004411
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).

Etapa 1: revisão bibliográfica e elaboração dos itens do instrumento

Para a construção do instrumento, realizou-se revisão narrativa nas bases de dados PubMed, LILACS, Scopus e Scielo utilizando os seguintes termos combinados com o operador booleano “OR”: Triagem, Classificação de Risco, HumanizaSUS e Manchester.

Além disso, nessa etapa, foi realizada análise exploratória retrospectiva das demandas dos serviços de emergência da APS. A APS do município de São Paulo está constituída por 450 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 117 unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA), das quais 87 estão integradas a Unidades Básicas de Saúde(2121 Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Secretaria Executiva da Atenção Básica, Especialidades e Vigilância em Saúde – SEABEVS. Coordenadoria da Atenção Básica – CAB. Diretrizes da Atenção Básica[Internet]. São Paulo (SP); 2022 [cited 2024 Mar 29]. Available from: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/DIRETRIZES_CAB_novembro_2022.pdf
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/...
).

Em São Paulo, em 2005, as consultas de emergência representaram 43% de todas as consultas aos usuários do SUS, no entanto a maioria desses atendimentos eram de complexidade compatível com a UBS e não exigia a infraestrutura de pronto-socorro e hospitais. Diante desse cenário, em 2009, a Secretaria Municipal de Saúde propôs a criação das unidades de AMA, que estão vinculadas à atenção básica. Elas têm o objetivo de ampliar o acesso da população à rede básica de saúde(2222 Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Coordenação da Atenção Básica – SMS – PMSP. Diretrizes técnicas da assistência médica ambulatorial (AMA) na atenção básica [Internet]. São Paulo (SP); 2009 [cited 2024 Mar 29]. Available from: https://issuu.com/bvssmssaopaulo/docs/ama_manualdiretrizestecnicas
https://issuu.com/bvssmssaopaulo/docs/am...
).

Considerando essas definições, foram consultadas as demandas de três unidades de AMA, as quais totalizaram 358.555 atendimentos em 2022. Foram analisados, de todos esses atendimentos, os sinais, sintomas e queixa principal relacionados a cada classificação de gravidade e aos desfechos de óbito e transferência. As variáveis categóricas foram descritas por frequência absoluta e porcentagens; e as variáveis numéricas, por média e desvio-padrão quando distribuição normal, ou por medianas e quartis, caso contrário. As relações entre cada uma das variáveis obtidas na CR com os desfechos foram analisadas por testes de hipóteses em relações dois a dois e por coeficientes de correlação, dependendo da natureza dos dados. As análises foram conduzidas no pacote computacional R Core Team com nível de significância de 5%.

Ao fim dessa etapa, foi verificado que a maioria dos atendimentos de emergência na APS são as categorias verde e azul, em que, pelos vigentes protocolos, os pacientes poderiam aguardar 120 e 240 minutos, respectivamente. A fim de garantir menor tempo de espera, o presente instrumento de classificação de risco dividiu os sinais e sintomas em três categorias: vermelho (atendimento imediato), laranja (atendimento em até 10 minutos) e amarelo (atendimento em até 60 minutos). Os instrumentos de classificação de risco são compostos por cinco categorias de gravidade: vermelho, laranja, amarelo, verde e azul, sugerindo tempo de espera de 0, 10, 50, 120 e 240 minutos, respectivamente.

Etapa 2: validação de conteúdo

Foram elencados os seguintes critérios de inclusão: i) ser médico ou enfermeiro com pelo menos cinco anos de formação, e ii) atuar em serviços públicos brasileiros de urgência e emergência; unidade de tratamento intensiva; APS; ou docência universitária com experiência em pesquisa na área de urgência e emergência. A identificação e seleção de especialistas iniciou com a busca no sistema de Curriculum Lattes, utilizando filtros de área de atuação profissional e selecionando: grande área – ciências da saúde; área – enfermagem e medicina; e subárea – “urgência e emergência” e “emergência”.

O convite das duas rodadas foi realizado por meio da técnica “bola de neve”(2323 Bockorni BRS, Gomes AF. A amostragem em snowball (bola de neve) em uma pesquisa qualitativa no campo da administração. Rev Ciênc Empres UNIPAR. 2021;22(1):105-17. https://doi.org/10.25110/receu.v22i1.8346
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), de modo que o contato foi feito com profissionais elegíveis de todos os estados brasileiros, os quais poderiam indicar outros possíveis juízes. O link com o convite para participação da pesquisa como juiz foi encaminhado via grupos, divulgação em redes sociais, nos sites do Conselho Federal de Enfermagem e Conselho Regional de Enfermagem – São Paulo. O processo de validação aconteceu em dois períodos: primeira rodada de janeiro a março de 2021 e segunda rodada de julho a setembro de 2021.

Coleta de dados

Após verificar os critérios de elegibilidade, foi enviado o TCLE via e-mail e o link de acesso ao formulário para avaliação do instrumento de CR, acompanhado de um arquivo com informações detalhadas e/ou imagens sobre os itens propostos para validação (material suplementar). A etapa de coleta de dados foi realizada por meio do RedCap®.

Os itens foram avaliados pelos juízes em relação aos domínios de: i) clareza, ii) relevância, iii) pertinência e iv) concordância quanto à classificação de gravidade do item. Havia ainda a possibilidade de realizar sugestões de redação para cada item.

Antes do questionário, foram disponibilizadas afirmativas a serem analisadas para cada item: i) “O item está claro: considerando a forma como está escrito, é possível identificar o que precisa ser avaliado”; ii) “O item é relevante para medir a gravidade do paciente: é fundamental que o item seja considerado na avaliação da classificação de risco”; iii) “O item é mensurável pelo enfermeiro: na prática, é possível que o enfermeiro consiga fazer a avaliação desse item no momento da classificação de risco; iv) “Este item precisa mudar de classificação: o item é relevante e pertinente, porém está na classificação errada. Caso queira deixar algum comentário ou sugerir alguma mudança, basta clicar em ‘comentar’, que será aberto um campo de texto livre para cada item ao final de cada classificação”. Para cada domínio, foi utilizado um layout com as opções de “sim” ou “não” para avaliação de todos os itens. O questionário foi considerado válido quando houve resposta em todos os itens e domínios.

Análise de dados

Optou-se pelo método de cálculo de Content Validity Ratio (CVR), que propõe validar os itens de um questionário ou instrumento com base na concordância de um painel amplo de especialistas sobre os critérios avaliados de cada item, variando de -1 (discordância perfeita) a 1 (concordância perfeita)(1818 Ferretti-Rebustini REDL. Psychometrics: applications in Nursing. Rev Latino-Am Enfermagem. 2023;31:e3993. https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3993
https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3...
, 1919 Madadizadeh F, Bahariniya S. Tutorial on how to calculating content validity of scales in medical research. Perioper Care Oper Room Manag. 2023;31:1003-15. https://doi.org/10.1016/j.pcorm.2023.100315
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). Os coeficientes de concordância foram comparados à classificação presente em Altman, que considera como ruins os coeficientes menores que 0,2; razoáveis aqueles entre 0,2 e 0,4; moderados aqueles entre 0,4 e 0,6; bons entre 0,6 e 0,8; e excelentes aqueles acima de 0,8. O escore mínimo da aderência do item à variável latente foi baseado nos valores críticos do CVR tendo por base o número final de juízes, adotando 0,22 como ponto de corte na primeira rodada e 0,18 na segunda para considerar o item satisfatório do ponto de vista da validade do seu conteúdo(1818 Ferretti-Rebustini REDL. Psychometrics: applications in Nursing. Rev Latino-Am Enfermagem. 2023;31:e3993. https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3993
https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3...
, 1919 Madadizadeh F, Bahariniya S. Tutorial on how to calculating content validity of scales in medical research. Perioper Care Oper Room Manag. 2023;31:1003-15. https://doi.org/10.1016/j.pcorm.2023.100315
https://doi.org/10.1016/j.pcorm.2023.100...
). As análises estatísticas foram realizadas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

RESULTADOS

Etapa 1: caracterização dos juízes

O instrumento proposto foi avaliado em duas rodadas até obter o nível necessário de consenso. O perfil dos juízes participantes encontra-se descrito na Tabela 1.

Tabela 1
Caracterização dos juízes especialistas participantes nas duas rodadas. São Paulo, Brasil, 2021

Etapa 2: construção dos itens

Após a revisão bibliográfica e análise dos dados na etapa exploratória retrospectiva, considerando as queixas com maior frequência e as queixas relacionadas a desfechos de transferência, óbito e alta, o instrumento foi composto por 94 itens, sendo distribuídos nas três categorias de gravidade (vermelho, laranja e amarelo). Na primeira rodada, todos os itens apresentaram CVR superior ao valor crítico para o domínio “Clareza”, porém, nos demais itens e domínios, não foi atingido o ponto de corte (Tabela 2).

Tabela 2
Primeira rodada de avaliação dos itens do instrumento de classificação de risco em urgência e emergência (n=75). São Paulo, Brasil, 2021

Após a segunda rodada, 42 dos 94 itens foram eliminados, resultando em 52 itens, distribuídos nas três categorias de risco. Com a participação de 71 juízes, foi estabelecido o valor de 0,18 como crítico do CVR. Os resultados da segunda rodada indicaram que todos os itens foram considerados válidos quanto à clareza, relevância, pertinência e concordância no tocante à classificação de gravidade do item (Tabela 3).

Tabela 3
Itens de avaliação de gravidade – Segunda rodada de avaliação dos itens do instrumento de classificação de risco em urgência e emergência (n = 71). São Paulo, Brasil, 2021

DISCUSSÃO

Entende-se a CR como processo eficaz para identificação de possíveis situações de gravidade relacionando a queixa e sinais vitais do paciente, assim proporcionando atendimento em tempo adequado(11 Ministério da Saúde (BR). Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2004[cited 2023 Sep 13]. 48p. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
). Os principais protocolos utilizados em nosso país são de origem internacional(22 Ribeiro DFS, Gaspar DRFA, Santos LP, Silva MBT. The nurse’s professional identity on the Primary Health Care users perception. Rev Bras Enferm. 2021;75(3):e20200974. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0974
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0...
, 77 Costa FF, Prudente GM, Borba ACG, Deus S, Castilho TC, Sampaio RA. A eficácia da aplicação do protocolo de Manchester na classificação de risco em unidades de pronto atendimento: uma revisão sistemática. RSM [Internet]. 2020[cited 2023 Sep 13];115(8):668-81. Available from: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/211
http://revistas.famp.edu.br/revistasaude...
, 1111 Jesus APS, Okuno MFP, Campanharo CRV, Lopes MCBT, Batista REA. Manchester Triage System: assessment in an emergency hospital service. Rev Bras Enferm. 2021;74(3):e20201361. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1361
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1...
). Logo, disponibilizar um instrumento de classificação de risco, com conteúdo validado e aplicável ao perfil dos usuários de serviços de saúde públicos brasileiros de diferentes faixas etárias torna este estudo relevante, especialmente aos serviços de emergência da APS. O instrumento de classificação de risco desenvolvido, após busca na literatura e análise retrospectiva do perfil de atendimentos da APS, foi validado no segundo ciclo por um número significativo de juízes especialistas na área.

O instrumento de classificação de risco é proposto como uma ferramenta facilitadora para enfermeiros que atendem nas unidades de serviços de emergência da APS de forma universal; e é voltado para a realidade da APS no tocante a recursos materiais e humanos. De forma contrastante, a APS é apontada pela Rede de Urgência e Emergência como o elemento que ordena e coordena a rede(55 Savioli G, Ceresa IF, Gri N, Bavestrello Piccini G, Longhitano Y, Zanza C, et al. Emergency department overcrowding: understanding the factors to find corresponding solutions. J Pers Med. 2022;12(2):279. https://doi.org/0.3390/jpm12020279
https://doi.org/0.3390/jpm12020279...
, 66 Sousa KO, Silva JFT, Sousa KO, Santos ABAS, Guedes TSA, Costa AKO, et al. A enfermagem diante da classificação de risco nos serviços de urgência e emergência: revisão integrativa da literatura. Casoseconsultoria [Internet]. 2021[cited 2023 Sep 13];12(1):e26174. Available from: https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/article/view/26174
https://periodicos.ufrn.br/casoseconsult...
); entretanto, não foram encontrados na literatura instrumentos de classificação de risco direcionados aos serviços de emergência da APS.

Ao investigar as classificações de risco mais utilizadas no Brasil, foram encontrados diversos estudos sobre o Sistema de Triagem de Manchester, protocolo este que conta com cinco níveis e segue uma abordagem característica, sendo a queixa do paciente e os sinais vitais o centro da avaliação(22 Ribeiro DFS, Gaspar DRFA, Santos LP, Silva MBT. The nurse’s professional identity on the Primary Health Care users perception. Rev Bras Enferm. 2021;75(3):e20200974. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0974
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https://doi.org/10.1590/0103-11042019121...
, 1414 Hermida PMV, Nascimento ERPD, Echevarría-Guanilo ME, Bruggemann OM, Malfussi LBHD. Acolhimento com classificação de risco em unidade de pronto atendimento: estudo avaliativo. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03318. https://doi.org/10.1590/s1980-220x2017001303318
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, 1818 Ferretti-Rebustini REDL. Psychometrics: applications in Nursing. Rev Latino-Am Enfermagem. 2023;31:e3993. https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3993
https://doi.org/10.1590/1518-8345.0000.3...
). No entanto, observam-se grandes dificuldades relacionadas à necessidade de ter um treinamento específico para população brasileira e à dificuldade de contato direto com o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco, o que para muitos serviços torna-se financeiramente inviável em longo prazo e resulta na descontinuidade da utilização do protocolo. As equipes de enfermagem também ressaltam necessidades de adaptações para atendimentos específicos, como questões de saúde mental ou vulnerabilidade, visto que o Sistema de Triagem Manchester foi idealizado para uma população de outro país(1111 Jesus APS, Okuno MFP, Campanharo CRV, Lopes MCBT, Batista REA. Manchester Triage System: assessment in an emergency hospital service. Rev Bras Enferm. 2021;74(3):e20201361. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1361
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http://doi.org/10.34024/rnc.2023.v31.147...
).

No contexto da classificação de risco proposta pelo Ministério da Saúde, destaca-se o HumanizaSUS. Esse instrumento é composto por quatro níveis de risco, contando com orientações de como realizar a classificação e sugestões de algumas situações clínicas que podem ser relacionadas com a gravidade. Contudo, não propõe o tempo de atendimento para cada nível nem escala de sinais vitais ou dor(11 Ministério da Saúde (BR). Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2004[cited 2023 Sep 13]. 48p. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
). Observa-se que não contar com cinco níveis gera dificuldade ao profissional quando existe um atendimento que requer cuidados intermediários. Nesse momento, ele precisa escolher incluir o paciente em uma classificação de emergência iminente ou prioridade não urgente, o que pode acarretar o atraso do tratamento e um desfecho com potencial evento adverso(1414 Hermida PMV, Nascimento ERPD, Echevarría-Guanilo ME, Bruggemann OM, Malfussi LBHD. Acolhimento com classificação de risco em unidade de pronto atendimento: estudo avaliativo. Rev Esc Enferm USP. 2018;52:e03318. https://doi.org/10.1590/s1980-220x2017001303318
https://doi.org/10.1590/s1980-220x201700...
).

Dessa forma, o instrumento de classificação de risco foi desenvolvido considerando o perfil de atendimentos de emergência da APS, focalizando sinais, sintomas e queixas relacionadas ao motivo da busca pelo atendimento, com categorização em três gravidades: vermelho, laranja e amarelo. O objetivo é diminuir o tempo de espera do indivíduo que busca atendimento, voltan-do-se para o nível de complexidade, bem como recursos físicos e humanos do serviço de emergência(1111 Jesus APS, Okuno MFP, Campanharo CRV, Lopes MCBT, Batista REA. Manchester Triage System: assessment in an emergency hospital service. Rev Bras Enferm. 2021;74(3):e20201361. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1361
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-1...
, 2424 Matozinhos FP, Silverio IR, Boaventura JG, Oliveira TM, Silva TPRD, Corrêa ADR. Analysis of triage and care for women victims of road accidents. Rev Bras Enferm. 2019;72(4):1013-9. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0727
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, 2525 Sampaio RA, Rodrigues AM, Nunes FC, Naghettini AV. Desafios no acolhimento com classificação de risco sob a ótica dos enfermeiros. Cogitare Enferm. 2022;27(27):e80194. https://doi.org/10.5380/ce.v27i0.80194
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, 2828 Correa JVM. Castro RRT, Moreno AM, Carvalho RW, Castro RRT. Olhar dos usuários sobre o Acolhimento e Classificação de Risco (ACCR) em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Rev Neurociências. 2023;31:1-16. http://doi.org/10.34024/rnc.2023.v31.14732
http://doi.org/10.34024/rnc.2023.v31.147...
).

Evidenciou-se que, na segunda rodada, todos os itens mantidos tiveram valor superior ao ponto de corte, baseado no número de juízes. Dessa forma, o instrumento foi considerado validado em relação à clareza, relevância, pertinência e concordância com a classificação de risco. Além disso, destaca-se que o CVR obtido quanto à relevância e pertinência foi majoritariamente superior a 0,80 e todos os itens tiveram valor superior a 95% em relação à concordância com a gravidade obtida.

No tocante às sugestões dos juízes, todas foram acatadas. O espaço para comentários foi essencial para o processo de melhoria no instrumento de classificação de risco. Em relação ao item de superfície corpórea queimada, foram apontadas áreas consideradas graves, além de sugestões de melhorias em relação à clareza desse item. Ademais, alguns itens foram retirados após os apontamentos realizados, tornando o instrumento compreensível, claro e não redundante nem cansativo, tornando-o aplicável neste cenário.

Um ponto a ser ressaltado positivamente refere-se ao painel de juízes com uma quantidade expressiva (n = 75 e n = 71), oriundos das cinco regiões geográficas do Brasil, o que difere de estudos com abordagem semelhante que tiveram menor quantitativo nas respectivas amostras(2929 Souza EL, Eshriqui I, Rebustini F, Masuda ET, Paiva Neto FT, Lima RM, et al. Family vulnerability scale: evidence of content and internal structure validity. PLoS One. 2023;18(10):e0280857. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0280857
https://doi.org/10.1371/journal.pone.028...
, 3030 Palacio DC, Rebustini F, Oliveira DB, Peres Neto J, Barbieri W, Sanchez TP, et al. Dental vulnerability scale in primary health care: evidence of content and structure internal validity. BMC Oral Health. 2021;21(1):421. https://doi.org/10.1186/s12903-021-01742-6
https://doi.org/10.1186/s12903-021-01742...
). Outro ponto relevante trata dos itens relacionados a situações de vulnerabilidade da população-alvo deste instrumento, como “Sinais de abstinência alcóolica e/ou química”, “Trauma com objetos penetrantes em regiões vitais”, “Lesão sugestiva de maus-tratos”, “Sinais sugestivos de abuso sexual” e “Sinais sugestivos de vítima de violência”. Tais itens apresentaram mais de 97% de concordância entre os juízes quanto à classificação de gravidade. Vale dizer que esses itens não foram encontrados durante o processo de revisão de literatura, destacando-se, assim, um diferencial do instrumento proposto em relação aos protocolos já utilizados em nosso país.

Limitações do estudo

Como limitação, aponta-se a predominância de juízes das regiões Sul e Sudeste. Foi identificada a evidência de validade de conteúdo para todos os itens, considerando os diferentes aspectos avaliados, porém salienta-se a necessidade de obter evidências de validade de estrutura interna do instrumento.

Contribuições para a área de Enfermagem

O instrumento de classificação de risco com evidências de validade de conteúdo pode ser validado na população-alvo e, posteriormente, representar uma ferramenta adequada para os serviços de emergência inseridos no contexto da atenção básica de saúde. Isso porque ele foi desenvolvido considerando as queixas, os principais desfechos e os recursos disponíveis em estabelecimentos de saúde desse nível de atenção. A utilização de um instrumento de classificação de risco de acordo com o perfil de paciente possibilita que o profissional enfermeiro tenha um direcionamento adequado da conduta decisória e uma tomada de decisão segura e individualizada.

CONCLUSÃO

O instrumento desenvolvido mostrou evidências de validade de conteúdo após duas rodadas de apreciação pelos juízes. Ele desponta como uma ferramenta atual com potencial de uso pelos enfermeiros para realizar com segurança a classificação de risco nos serviços de emergência da Atenção Primária à Saúde.

  • FOMENTO

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Editado por

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Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO

Hugo Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    09 Jan 2024
  • Aceito
    20 Maio 2024
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