As intensas transformações sociais, econômicas, políticas, culturais, ambientais, epidemiológicas e demográficas, em conjunto com as aceleradas inovações tecnológicas, têm afetado significativamente a vida em sociedade, exigindo que as pessoas reflitam sobre as próprias concepções da natureza humana. Esse contexto de transformações tem estimulado os indivíduos a valorizar os avanços tecnológicos e a construção de relações humanas mais autônomas, globais e instáveis, emoldurando uma importante dialética existencial e sociopolítica nas quais os indivíduos querem viver por maior tempo possível, mas não aceitam assumir suas possíveis consequências desfavoráveis.
Nesse cenário temos vivenciado tentativas desbravadoras de vencer os limites próprios e naturais que o envelhecimento impõe. Tal sentimento atrelado à nova realidade demográfica com número cada vez maior de idosos tem exigido do sistema de saúde medidas imediatas para responder às complexas demandas do "ser idoso", em especial que fortaleçam a promoção do envelhecimento saudável. Além da ampliação dos serviços específicos de saúde como amplo programa de promoção e controle da saúde ao longo de todo o ciclo vital, aliado ao programa de integração social, com perspectivas de oferecer melhor qualidade de vida, é necessário investir em estruturas de apoio, suporte às famílias e, sobretudo, às condições de exclusão e discriminação daqueles mais fragilizados.
Nessa perspectiva, em seu relatório sobre o envelhecimento no século XXI, o Fundo de Populações das Nações Unidas destacou que, embora muitos países tenham realizado importantes avanços na adaptação de suas políticas e leis, é necessário direcionar mais esforços para assegurar que pessoas mais velhas possam desenvolver seu potencial(11 Organização Mundial da Saúde. Relatório mundial de envelhecimento e saúde. Brasília: OMS/ OPS, 2015.). Considerando as experiências de outros países, o Brasil apresenta capacidade para desenvolver medidas efetivas para um envelhecimento ativo e avançar na consolidação de um projeto integral de atenção à saúde da pessoa idosa, que contemple a plena valorização do ser humano.
Na condição de maior contingente de profissionais da área da saúde, a enfermagem brasileira tem o compromisso de dar respostas concretas para cuidar das pessoas idosas e suas famílias. O processo de trabalho da enfermagem na Atenção Primária de Saúde à população idosa está direcionado para as especificidades do cuidado da pessoa idosa, estabelecendo relações e criando vínculos com o idoso, a família e a comunidade. Por considerar a complexidade do processo de envelhecimento, o Enfermeiro atua com enfoque interdisciplinar em suas ações e compartilha atitudes interativas, proativas, dialógicas no enfrentamento de problemas de saúde com vistas à melhoria possível da qualidade de vida e bem-estar das pessoas idosas.
Como especialidade emergente no país, a Enfermagem Gerontológica tem envidado esforços na consolidação de práticas alicerçadas em um referencial teórico-conceitual que considere as distintas formas de viver compreendendo que essas implicam diferentes maneiras de envelhecer. Nesta perspectiva, Gonçalves, Alvarez e Santos(22 Gonçalves LHT; Alvarez AM; Santos SMA. Cuidados na enfermagem gerontológica: conceito e prática. In: Freitas EV, Py L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Gen/Guanabara Koogan, 2016. p 1247-1254.) apontam a necessidade de desenvolver ações cuidativo-educacionais às pessoas idosas, como: cuidar da vida e saúde do idoso, em particular no processo saúde e doença; na prevenção de agravos da saúde; na recuperação e reabilitação; no cuidado continuado em situações de cronicidade e nos cuidados ao final da vida.
Assim, as ações de enfermagem gerontológica são realizadas em quaisquer serviços de saúde em todos os níveis de complexidade, públicos ou privados, desde o domicílio às instituições de longa permanência para idosos. Por sua extensão e complexidade a Enfermagem Gerontológica enfrenta desafios em seu processo de trabalho, mas também vislumbra perspectivas de inovação para a realidade atual, como: a) Reorganização de Serviços de Saúde como unidades empreendedoras sociais, atendendo às necessidades peculiares da população idosa; b) serviços de corresponsabilidade envolvendo Estado, família e comunidade, no atendimento a necessidades especiais de pessoas idosas que requerem recursos onerosos; c) inovação/adaptação de instalações e equipamentos em instituições assistenciais facilitadoras de cuidado nas atividades da vida diária do idoso, principalmente aqueles mais dependentes ou mais fragilizados; d) oficinas educativas inovadoras de inclusão social, como de ativação da memória, entre outras, com a participação da comunidade circundante; e) organização de rede de apoio comunitário para múltiplas situações de atendimento de idosos que vivem em seus lares; f) inovações/adaptações ambientais, institucionais, domiciliares propiciadoras de vida ativa para idosos funcionalmente mais dependentes ou mais fragilizados.
Nesta perspectiva de cuidado, os Enfermeiros Gerontológicos têm o potencial para conduzir o desenvolvimento de políticas públicas que ofereçam estratégias para ampliação de uma rede de apoio integral às pessoas idosas efetivando a promoção do envelhecimento saudável.
REFERENCES
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1Organização Mundial da Saúde. Relatório mundial de envelhecimento e saúde. Brasília: OMS/ OPS, 2015.
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2Gonçalves LHT; Alvarez AM; Santos SMA. Cuidados na enfermagem gerontológica: conceito e prática. In: Freitas EV, Py L. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Gen/Guanabara Koogan, 2016. p 1247-1254.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jul-Aug 2017