Egressos de enfermagem: o uso da rede social digital para traçar o perfil dos enfermeiros

RESUMO

Objetivos:

analisar o perfil dos enfermeiros egressos de uma universidade do sul do Brasil e verificar a efetividade do uso das redes sociais na localização e adesão dos egressos.

Métodos:

estudo quantitativo, descritivo e exploratório, realizado com 314 egressos através de questionário elaborado no Google Forms, disponibilizado por redes sociais digitais e e-mails.

Resultados:

o perfil dos egressos foi de mulheres, sem formação em curso técnico/auxiliar de enfermagem, participantes de projetos e grupos de pesquisa, com pós-graduação. Ainda, mais de 75% obtiveram o primeiro emprego em até seis meses após a formatura, mais de 80% atuavam na área assistencial, com vínculo empregatício público, carga horária de até 40 horas semanais, renda entre quatro e dez salários mínimos e 92% indicaram estarem satisfeitos e/ou muito satisfeitos com o curso.

Conclusões:

o uso estratégico das redes sociais possibilitou maior adesão do público-alvo e o delineamento do perfil do egresso de enfermagem.

Descritores:
Educação em Enfermagem; Rede Social; Enfermeiros; Enfermagem; Emprego

ABSTRACT

Objectives:

to analyze the profile of nursing students at a university in southern Brazil and verify the effectiveness of the use of social networks in students’ location and adherence.

Methods:

a quantitative, descriptive and exploratory study, carried out with 314 students through a questionnaire prepared on Google Forms, made available through digital social networks and e-mails.

Results:

students were women, without training in a technical/assistance nursing course, participants in projects and research groups, with a graduate degree. Furthermore, more than 75% obtained their first job within six months after graduation, more than 80% worked in healthcare, with public employment, workload of up to 40 hours a week, income between four and ten minimum wages, and 92% indicated that they were satisfied and/or very satisfied with the course.

Conclusions:

the strategic use of social networks enabled greater adherence by the target audience and nursing students’ profile design.

Descriptors:
Education, Nursing; Social Networking; Nurses, Male; Nursing; Employment

RESUMEN

Objetivos:

analizar el perfil de los enfermeros graduados de una universidad del sur de Brasil y verificar la efectividad del uso de las redes sociales para localizar e incorporar a los graduados.

Métodos:

estudio cuantitativo, descriptivo y exploratorio, realizado con 314 graduados a través de un cuestionario elaborado en Google Forms, disponible a través de redes sociales digitales y correos electrónicos.

Resultados:

el perfil de los graduados fue de mujeres, sin formación en un curso técnico/auxiliar de enfermería, participantes en proyectos y grupos de investigación, con posgrado. Además, más del 75% consiguió su primer trabajo dentro de los seis meses posteriores a la graduación, más del 80% trabajó en el área de cuidado, con empleo público, carga de trabajo de hasta 40 horas semanales, ingresos entre cuatro y diez salarios mínimos, y el 92% indicó estar satisfecho y/o muy satisfecho con el curso.

Conclusiones:

el uso estratégico de las redes sociales permitió una mayor adhesión del público objetivo y el diseño del perfil de egresado de enfermería.

Descriptores:
Educación en Enfermería; Red Social; Enfermeros; Enfermería; Empleo

INTRODUÇÃO

O número de egressos de enfermagem no Brasil cresce de forma expressiva. Em 2014, o acumulado de novos profissionais era de 444.596 mil. Nos três anos posteriores, ocorreu um aumento de 23.186 enfermeiros ativos(¹). As exigências relacionadas ao perfil desses profissionais estão em constante transformação, considerando as necessidades do Sistema Único de Saúde e do mercado de trabalho. Assim, a organização e o aperfeiçoamento do processo de formação desses profissionais são essenciais para o desenvolvimento e a manutenção do sistema de saúde brasileiro(²). Para tanto, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Enfermagem (DCNs/ENF), de 2001, apresentam como eixo norteador um perfil de egresso enfermeiro generalista, humanista, crítico e reflexivo, que atenda às necessidades sociais, epidemiológicas e de saúde(³).

Nesse sentido, é necessário realizar avaliações contínuas dos processos formativos desenvolvidos nos cursos de graduação em enfermagem(⁴), utilizando metodologias e públicos diferenciados, incluindo os egressos, com o objetivo de contextualizar os projetos pedagógicos com a realidade do trabalho nos quais estão inseridos(⁵). Assim, a instituição de ensino superior, que se preocupa com o acompanhamento dos seus egressos, demonstra uma visão crítica, capacidade de questionar, propor novos planejamentos e solucionar aspectos não satisfatórios durante o período de formação(⁶).

Ainda, pesquisas(⁵-⁶) enfatizam a importância de se apresentar no sistema de avaliação dos processos educacionais as perspectivas dos egressos como avaliadores do seu processo formativo e a inserção no mercado de trabalho, pois, a partir da própria experiência, tornam-se fontes de informação de extrema relevância. No entanto, na realização de estudos com egressos, existem desafios em contatá-los e obter a devolução de respostas aos questionários no período da coleta de dados(⁵,⁷-¹⁰). Esses desafios surgem por diferentes motivos; alguns deles podem estar relacionados a informações desatualizadas ou inexistentes sobre os egressos em cadastros prévios, e-mails classificados como spam e à baixa adesão dos egressos em responder e enviar os questionários. Um recurso facilitador nesse contexto é o uso das tecnologias digitais de comunicação e as redes sociais digitais, as quais contribuem através do levantamento de dados, pois são um diferencial no processo de busca e de adesão em pesquisa, devido à rapidez e à versatilidade do sistema, possibilitando o acompanhamento à distância online dos egressos(⁵,¹¹).

Nesse sentido, os estudos com egressos do curso de graduação em enfermagem evidenciam lacunas na literatura relacionadas à contribuição da universidade na vida profissional, às atividades realizadas no processo de formação, ao tempo para inserção no mercado de trabalho e ao grau de satisfação com a formação(⁵), muitas vezes, devido às dificuldades estratégicas em localizar e receber os dados de seus egressos(⁵,⁷-¹⁰), justificando este estudo. Para tanto, configuraram-se como questões de pesquisa: qual o perfil dos enfermeiros egressos do curso de graduação em enfermagem de uma universidade do sul do estado do Rio Grande do Sul e qual a efetividade do uso das redes sociais na localização e adesão dos egressos?

OBJETIVOS

Analisar o perfil dos enfermeiros egressos de uma universidade do sul do Brasil e verificar a efetividade do uso das redes sociais na localização e adesão dos egressos.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Foram asseguradas as exigências éticas e científicas preconizadas para pesquisas com seres humanos, mediante Resolução nº 510/2016, sendo o projeto avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP/FURG), sob Parecer nº 36/2019.

Desenho, período e local do estudo

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de abordagem quantitativa. Foi realizado no período de 03 de agosto de 2019 a 16 de setembro de 2019, totalizando 45 dias, por meio do uso de ferramentas digitais, para o envio dos questionários elaborados no Google Forms.

O estudo foi realizado com enfermeiros egressos de enfermagem de uma universidade federal do sul do estado do Rio Grande do Sul. Atualmente, o curso possui duração de dez semestres letivos. A modalidade de ingresso é pelo sistema de seleção unificado (SISU/ENEM) com duplo ingresso, sendo 30 vagas semestrais. O curso possui os turnos da manhã e da tarde.

População, amostra, critérios de inclusão e exclusão

A amostra do estudo foi constituída por 314 enfermeiros egressos do curso de graduação em enfermagem, no período de 1979 a 2019, totalizando 1.123 egressos. O tamanho amostral foi definido por fórmula matemática específica(¹²), estabelecendo-se o número mínimo de 289 participantes para garantir a confiabilidade do estudo. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: ter concluído o curso de graduação em enfermagem de 1979 a 2019. Como critérios de exclusão: condições de saúde que impossibilitem o preenchimento do questionário, em caso de não ter acesso à internet.

Protocolo do estudo

A organização do processo de coleta de dados foi desenvolvida em três etapas: planejamento, elaboração de material e estratégias de adesão através do uso de ferramentas digitais. No planejamento, foram detalhados: planos de ação e prazos; a escolha da tecnologia digital Google Forms para a elaboração do questionário, por tratar-se de uma plataforma online, gratuita, que oferece suporte para criação de formulários personalizados; a criação de artes (peças visuais) a partir do design digital, com o objetivo de divulgar e convidar os participantes; a escolha das redes sociais digitais Facebook, WhatsApp e Instagram; e a utilização de e-mails e site institucional, com todo o processo visando à maior cobertura e adesão dos participantes egressos.

Na etapa de elaboração do material, foi construído, no primeiro momento, o questionário no Google Forms, que abordava a identificação, características sociodemográficas, dados da graduação, pós-graduação, caracterização da inserção e da trajetória profissional através de questões sobre atuação profissional, vínculo(s) empregatício(s), jornada de trabalho, faixa salarial e, ainda, um item que permitia ao egresso expressar o seu nível de satisfação com o curso de graduação no formato de escala tipo Likert, de um a cinco, em que um significa “Totalmente insatisfeito”, e cinco, “Totalmente satisfeito”.

No segundo momento, as peças visuais foram desenvolvidas em duas propostas, visando públicos diferentes. Assim, foi usado um modelo formal - a partir da cor verde, que remete à profissão enfermagem e uma imagem clara de uma mulher no trabalho com roupas sociais - e outro com uma abordagem casual - a partir da cor laranja, que remete à instituição pesquisada e uma imagem de uma mulher em movimento com roupas usuais. Cada peça visual continha um texto explicativo com a abordagem de acordo com as propostas, formal e informal. Ambas incluíam o endereço do questionário, que também foi adequado utilizando a ferramenta Bit.Ly, para diminuí-lo e torná-lo visualmente mais simples, como mostra a Figura 1.

Figura 1
Artes visuais para a divulgação e convite dos participantes

Na terceira etapa, foram executadas as estratégias de divulgação através do uso de ferramentas digitais. As peças visuais foram disponibilizadas em redes sociais digitais, como o WhatsApp, que possibilitou compartilhamento individual e em grupo com os egressos do curso. Ainda, foi solicitada a divulgação para outros egressos/grupos.

De forma semelhante, na rede social digital Facebook, as peças visuais foram enviadas, individualmente, através da marcação nominal, divulgadas na página do Facebook do curso de graduação em enfermagem pesquisado e em comunidades de egressos, incentivando o compartilhamento de forma pública com outras pessoas, visando uma maior divulgação da pesquisa. Ainda, foram selecionados perfis sentinelas, ou seja, pessoas que também eram egressas do curso de enfermagem foram contatadas e convidadas a compartilhar as peças visuais e convidar seus colegas nos grupos de suas turmas do WhatsApp e em suas páginas pessoais do Facebook.

Foi utilizado também o recurso de patrocínio no Facebook, uma ferramenta paga que direciona a postagem para aqueles usuários que possuem as características selecionadas. Para tanto, os critérios indicados foram ter idade entre 22 e 50 anos, região do país Brasil, Rio Grande do Sul, ter interesse em enfermagem e na universidade pesquisada. Dessa forma, os resultados foram quantificados em uma taxa de 33.659 impressões, significando que 16.976 pessoas visualizaram na sua timeline, em média, duas vezes o post e, dessas, 645 (1.92%) interagiram através de cliques, curtidas, comentários e compartilhamentos. Ainda, os convites foram enviados via aplicativo Messenger em uma mensagem privada.

Além das estratégias utilizadas nas redes sociais digitais de divulgação, as peças visuais foram enviadas por e-mail, através de uma lista com o nome dos egressos e seus respectivos contatos obtidos na secretaria da escola de enfermagem, e foi realizada a publicação no site institucional da universidade pesquisada.

Análise dos resultados

Após o preenchimento dos questionários online, as respostas apareciam imediatamente na página do Google Forms do responsável pela pesquisa e eram tabuladas em uma planilha do Excel 365. A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva, pela média, mínimo e máximo, frequência absoluta e frequência relativa das respostas aos questionários do estudo.

RESULTADOS

O instrumento esteve disponível durante 45 dias, período em que o cálculo amostral mínimo estabelecido para esse estudo foi alcançado, representando quase 1/3 da população do estudo. Obteve-se o total de 320 respostas ao instrumento. Dessas, seis foram excluídas, duas por estarem em branco e quatro por não terem concluído a graduação em enfermagem no momento da coleta de dados. Dessa forma, participaram deste estudo 314 egressos.

Caracterização dos egressos

A amostra foi constituída por 314 enfermeiros egressos do curso de graduação em enfermagem: 289 (92%) eram do sexo feminino, com média de idade de 36 anos, variando entre 21 e 63 anos; 272 (86,6%) eram provenientes de regiões do extremo sul do Rio Grande do Sul, Brasil, com destaque para as cidades de Rio Grande, Pelotas e Santa Vitória do Palmar; e a maioria dos egressos, 272 (86,6%), não possuíam formação de auxiliar/técnico de enfermagem.

Com relação à formação em outro curso de graduação, antes de ingressarem no curso de enfermagem, dez (3,2%) egressos o obtinham e, desses, apenas um estava relacionado à área da saúde: tecnólogo em gestão hospitalar e saúde. Ainda, 22 (7%) indicaram a realização de outra graduação concomitante à graduação em enfermagem, desses, 21 (6,7%) estavam relacionados ao curso de enfermagem, licenciatura em enfermagem e didática em enfermagem. Ainda, nove realizaram outra graduação após terem concluído a graduação no curso de enfermagem, sendo dois relacionados à graduação em enfermagem e à licenciatura em enfermagem.

Perfil do egresso de enfermagem no processo de formação profissional

Em relação à idade média dos participantes ao ingressar no curso de graduação, foi de 21 anos, variando entre 16 e 51 anos, com predominância de 17 e 19 anos de idade. A forma de ingresso no curso foi através do vestibular 237 (75,5%). Em relação ao ano de ingresso dos participantes, o período foi entre 1976 e 2019, com destaque para o ano de 2004, com 25 (8%) participantes, seguido de 2009, com 23 (7,3%). Já o ano de formatura foi 2014, com 31 (9,9%), seguido de 2008, com 24 (7,6%) egressos.

Os egressos indicaram ter participado de projetos de ensino, pesquisa e extensão no decorrer do curso de graduação em enfermagem, destacando-se a participação de 233 egressos (74,2%) em projetos de pesquisa, 231 (73,6%), em projetos de extensão e 206 (65,6%), em projetos de ensino. Em relação ao recebimento de bolsa para realização dessas atividades, 222 (70,7%) participantes indicaram ter recebido.

A participação em grupos de pesquisa foi informada por 201 (64%) dos egressos, entre os mais citados destaca-se com 65 (32,3%) o grupo de pesquisa NEPES (Núcleo de Estudo e Pesquisas em Enfermagem e Saúde), seguido de 51 (25,4%) do grupo Viver Mulher. Ainda entre os egressos, dez (3,2%) realizaram mobilidade acadêmica por intercâmbio, desses, oito realizaram intercâmbio internacional, e dois, intercâmbio nacional.

Após a obtenção do título de graduado em enfermagem, a maioria dos egressos realizou pós-graduação (263; 83,8%), com destaque para Lato Sensu (241; 91,6%) e (204; 84,6%) especialização. As instituições mais procuradas para a realização dos cursos foram a Universidade Federal do Rio Grande e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em relação ao Stricto Sensu, 184 (70%) egressos indicaram sua realização, desses, 111 (60,3%) realizaram mestrado acadêmico, e 60 (32,6%), doutorado. As instituições nacionais mais procuradas foram a Universidade Federal do Rio Grande (117; 63,6%), a Universidade Federal de Pelotas (18; 9,8%) e a Universidade Federal de Santa Catarina (9; 4,9%). Ainda, destacam-se as universidades internacionais Harvard nos Estados Unidos, Universidade de Bordeaux na França e Universidade Tecnológica Nacional na Argentina, como demonstra a Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição das variáveis relacionadas ao processo de formação dos egressos de uma universidade do sul do Brasil, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, 2019

Variáveis	n	%
Atuação durante a graduação
Projeto de pesquisa	233	74,2
Projeto de extensão	231	73,6
Projeto de ensino	206	65,6
Grupo de pesquisa	201	64,0
Bolsa remunerada na graduação
Sim	222	70,7
Não
Pós-graduação
Sim	263	83,8
Não
Stricto Sensu
Mestrado acadêmico	111	60,3
Mestrado profissional	7	3,8
Doutorado	60	32,6
Pós-doutorado	6	3,3
Lato Sensu
Especialização	204	84,6
Programa de residência	37	15,4

Perfil do egresso de enfermagem na inserção e atuação no mercado de trabalho

Em relação ao tempo que os egressos levaram para obter o primeiro emprego, destaca-se que 92 (29,3%) estavam empregados antes de concluir a graduação e 146 (46,5%) estavam empregados até os seis meses de formados. Referente ao tempo de atuação como enfermeiro, a maioria (118; 37,6%) dos egressos atuou entre 10 e 20 anos, como demonstra a Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição das variáveis relacionadas à atuação dos egressos de uma universidade do sul do Brasil, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, 2019

Variáveis	n	%
Tempo para obter primeiro emprego
Emprego garantido ao término da graduação	92	29,3
Primeiros 6 meses	146	46,5
6 a 12 meses	24	7,6
1 a 2 anos	11	3,5
Mais de 2 anos	19	6,1
Ainda não obtiveram	16	5,1
Nunca buscaram	6	1,9
Tempo de atuação
Nunca atuou	25	8,0
Até 5 anos	94	29,9
Entre 5 e 10 anos	57	18,2
10 e 20 anos	118	37,6
20 e 30 anos	14	4,4
Mais de 30 anos	6	1,9

No momento da pesquisa, 262 (83,4%) egressos informaram atuarem profissionalmente como enfermeiros e 52 (16,6%) não atuam. Portanto, em relação à maioria, 14 (26,9%) não atuam, por estarem realizando curso de pós-graduação, 12 (23,1%), por trabalharem como auxiliar/técnico em enfermagem, sete (13,5%), por estarem aposentados como enfermeiros, seis (11,5%), por mudarem de área de atuação. Ainda, entre os que não atuam, 25 (48%) informaram nunca ter atuado.

O vínculo de trabalho atual ou onde permaneceu maior parte da atuação profissional foi respondido por 289 (92%) dos enfermeiros egressos, desses, 150 (51,9%) atuam como funcionários públicos e 103 (35,6%) atuam em empresa privada. Em relação à área e local de atuação onde os enfermeiros desenvolvem suas atividades atualmente ou desenvolveram maior parte do tempo de atuação profissional, 150 (51,9%) foram em instituições hospitalares, e 85 (29,4%), em instituições de ensino, com carga horária semanal atual ou na qual permaneceu a maior parte de suas atividades profissionais, 133 (46%) atuam durante 40 horas semanais. Ainda, os egressos indicaram trabalhar ou terem trabalhado, em sua maioria (230; 79,5%), no estado do Rio Grande do Sul.

Com relação às dimensões do processo de trabalho em enfermagem desenvolvidas no trabalho atual ou no que permaneceu maior parte da atuação profissional, 226 (78,2%) indicaram assistência, 106 (36,7%), administrativa, e 95 (32,9%), ensino. Referente à renda mensal atual dos participantes da pesquisa, a maioria dos enfermeiros (152; 52,6%) recebem de 4 a 10 salários mínimos, conforme Tabela 3.

Tabela 3
Distribuição das variáveis relacionadas às características de trabalho dos egressos de uma universidade do sul do Brasil, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, 2019

Variáveis	n	%
Área/local de atuação*
Instituições hospitalares	150	51,9
Instituições de ensino	85	29,4
Redes de atenção básica à saúde	83	28,7
Órgãos de administração pública	23	8,0
Clínicas privadas	18	6,2
Instituição de pesquisa	14	4,8
Outras formas de assistência	14	4,8
Dimensões do trabalho*
Atuação assistencial	226	78,2
Atuação administrativa	106	36,7
Atividades de ensino	95	32,9
Atividades de pesquisa	50	17,3
Atividades em participação política	13	4,5
Vínculo empregatício
Funcionários públicos	150	51,9
Empresas privadas	103	35,6
Contrato temporário	24	8,3
Autônomo	12	4,2
Carga horária semanal de atuação
20 horas semanais	2	0,7
30 horas semanais	48	16,6
36 horas semanais	62	21,5
40 horas semanais	133	46,0
44 horas semanais	27	9,3
Mais de 44 horas semanais	17	5,9
Renda mensal
Até 2 salários mínimos	18	6,2
2 a 4 salários mínimos	83	28,7
4 a 10 salários mínimos	152	52,6
10 a 20 salários mínimos	32	11,1
Acima de 20 salários mínimos	4	1,4

• ^*
  O total é maior que o dos participantes (314), pois em algumas variáveis era possível marcar mais de uma opção.

Em relação ao nível de satisfação com o curso de graduação em enfermagem, em uma escala de 0 a 5, 174 (55,4%) egressos marcaram cinco, muito satisfeitos, e 114 (36,3%), quatro, satisfeitos, conforme Figura 2.

Figura 2
Perfil dos egressos e satisfação com o curso de graduação em enfermagem de uma universidade do sul do Brasil, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, 2019

DISCUSSÃO

Os dados foram coletados em um período de 45 dias, atingindo quase 1/3 da população do estudo. A alta adesão foi evidenciada pelo número de instrumentos respondidos em um curto intervalo de tempo, comparado a outros estudos com egressos(⁵,⁷-¹⁰), que apresentaram dificuldades no retorno dos instrumentos respondidos, necessitando de um período de coleta de dados maior. Em estudo realizado em São Paulo, a coleta de dados foi realizada em oito meses para obter o mínimo amostral de 216 respostas em uma população de 470 egressos(⁸). Já em outro, foram dois anos para obter 66 respostas em uma população de 385 egressos(¹⁰). A adesão elevada deste estudo pode estar diretamente relacionada ao uso das redes sociais para divulgação e participação do público-alvo(¹¹).

Entre os 314 egressos participantes, a maioria era do sexo feminino, com média de idade de 36 anos, natural da região sul do Rio grande do Sul. Em relação ao predomínio de mulheres, os dados corroboram outros estudos(⁸,¹⁰). Ademais, as mulheres correspondem em torno de 87% da totalidade dos profissionais de enfermagem no Brasil(¹³). Destacou-se também a permanência da maioria dos egressos na região sul do Rio Grande do Sul após a formatura, região onde a maioria indicou ter nascido, realizado a graduação e atuado como enfermeiro, fato semelhante a outros estudos(¹,⁹). Ainda é relevante considerar que as regiões sudeste e sul do Brasil apresentam maior número de universidades de enfermagem e destes profissionais em exercício profissional(²,¹⁴).

No entanto, mesmo ao considerar o aumento expressivo do número de enfermeiros no Brasil(¹), é necessário destacar que não há distribuição proporcional de mão de obra para atender toda população, ocorrendo uma grande concentração dos profissionais nas capitais de cada estado e um abandono de áreas menos urbanizadas, o que suscita o aumento das desigualdades de acesso à saúde, fato que acompanha a distribuição desigual também das universidades com graduação e pós-graduação em enfermagem(²).

A maioria dos egressos tinha em média 21 anos ao ingressar no curso, por meio de vestibular, e não tinha formação em técnico de enfermagem ou em outro curso de graduação. Assim como em outros estudos(⁸,¹⁰,¹⁴), o ingresso no ensino superior em enfermagem teve o predomínio de pessoas cada vez mais jovens, o que demonstra um processo de rejuvenescimento entre os profissionais enfermeiros. Referente a possuir o curso técnico em enfermagem, resultados diferentes foram apresentados(¹⁴), em que destacou-se a formação anterior em curso técnico/auxiliar de enfermagem entre os egressos. No entanto, o mesmo estudo corrobora o dado relacionado ao escasso número de egressos que realizaram outra graduação e defendem a possibilidade de que, entre os cursos da saúde, estes eram a primeira opção de formação.

Em relação às variáveis de participação em atividades durante o período de formação, dez egressos indicaram a realização de intercâmbio nacional e internacional. Nesse sentido, a mobilidade internacional(¹⁵) e nacional durante a graduação é relevante no processo formativo, pois favorece experiências tanto acadêmicas quanto socioculturais, possibilitando o desenvolvimento do ser enfermeiro em diferentes contextos. Em paralelo, destacou-se que mais de 73% dos egressos deste estudo participaram de projetos de pesquisa e extensão, seguidos de 65,6%, que participaram de projetos de ensino, corroborando outro estudo, no qual as atividades de pesquisa e extensão obtiveram indicativo de 86% dos 267 egressos envolvidos(⁸).

Ainda, neste estudo, mais de 70% receberam bolsa para o desenvolvimento das atividades, e 64% dos egressos participavam de grupos de pesquisa. O aumento progressivo no número de estudantes de enfermagem que receberam bolsa durante a formação é confirmado em outro estudo(¹), fator que pode auxiliar na dedicação exclusiva do estudante ao desenvolvimento das atividades e permanência no curso. Ao proporcionar um ambiente ampliado de conhecimento sobre a ciência de enfermagem(⁴) que estimule a relação entre ensino-pesquisa-serviço-comunidade, proporcionando aos estudantes vivências e desafios em cenários reais(¹⁶), o resultado poderá ser de egressos mais qualificados e preparados para atuar e se inserirem no mercado de trabalho(⁴).

No quesito processo de formação profissional, a maioria dos egressos (83,8%) cursou pós-graduação, sendo que, desses, 84,6% optou por especialização Lato Sensu, e 60,3%, mestrado acadêmico Stricto Sensu. Em contribuição, estudos(⁷,¹⁴) afirmam que em torno de 80% dos enfermeiros realizaram algum curso de pós-graduação em enfermagem. No entanto, destaca-se a discrepância, na qual 160 egressos haviam realizado Lato Sensu, enquanto 11 cursaram Stricto Sensu(⁷). Em contraponto, outro estudo(⁸) apresentou uma porcentagem menor dos que fizeram pós-graduação, em torno de 40%, mas mais parecida no quantitativo de egressos que optaram por Stricto Sensu e Lato Sensu. Assim, ao comparar o perfil do egresso participante deste estudo, é possível evidenciar a aproximação do interesse por ambos processos de qualificação, o que pode estar relacionado com o interesse em aperfeiçoar habilidades e ampliar conhecimentos no contexto teórico/prático de forma contínua e certificada, repercutindo em um perfil profissional qualificado.

A inserção no mercado de trabalho ocorreu em até seis meses após a formatura para 75,8% dos egressos participantes deste estudo. Esse dado é relevante, comparado a outros estudos recentes, que obtiveram uma porcentagem em torno de 50% dos egressos empregados nesse intervalo de tempo(⁸-⁹) e, ainda, de 67% em até um ano após a formatura(⁸). As exigências para a inserção no mercado de trabalho têm aumentado, fazendo com que os egressos aspirem, principalmente, cursos de especialização e residências que têm como foco a qualificação e o aprimoramento das habilidades técnicas para a transição entre universidade e o exercício profissional(⁹,¹⁷). Ainda, com base nos resultados apresentados, destaca-se a participação de 73% dos egressos deste estudo em diferentes atividades enquanto estudantes de projetos e grupos de pesquisa, as quais têm como premissa possibilitar a formação de um profissional mais bem preparado e, assim, com possibilidades de melhores taxas de empregabilidade.

Referente à atuação profissional dos egressos, 83,4% atuam profissionalmente como enfermeiros, 78,2%, em atividades assistenciais, 51,9%, em instituições hospitalares, 51,9%, como funcionários públicos, 46%, com carga horária de 40 horas semanais. Dados semelhantes foram encontrados em outros estudos, nos quais a expressiva parcela que atuava na assistência(⁸,¹⁴) era de funcionários públicos(⁵,⁷-⁹), com carga horária semanal de trabalho de 40 horas em média(⁸,¹⁴). Com relação à renda salarial, foi possível evidenciar que, em sua maioria, os enfermeiros recebem entre quatro e dez salários mínimos, levando em consideração o salário mínimo regional no Rio Grande do Sul, que é de R$1.196,47. A média salarial acima de R$4.000 foi evidenciada em outros estudos(⁷-⁸).

O mercado de trabalho em saúde no setor público se apresenta em expansão, considerando o aumento do número de profissionais em exercício e dos diferentes ambientes de atuação, relacionado ao conjunto de ações diversas no campo da política e dos serviços em saúde, que proporcionaram a necessidade de um profissional enfermeiro em diferentes contextos de trabalho(¹⁸). Ainda, destaca-se que o hospital é considerado a instituição que mais emprega profissionais de enfermagem(⁷,⁹,¹⁴), o que pode estar atrelado ao fato de que a área hospitalar necessitar de um quadro maior de profissionais enfermeiros atuando, devido à continuidade da assistência dentro das 24 horas do dia.

Desse modo, os egressos afirmaram estar muito satisfeitos com o curso de graduação em enfermagem, fato que pode estar relacionado aos altos índices de envolvimento e participação destes em diferentes atividades no período de formação acadêmica, possibilitando repercussões positivas em aspectos relacionados à aprendizagem e à evasão. Para tanto, investigar a satisfação acadêmica é relevante no processo de planejamento e melhoria dos programas e serviços institucionais e qualificação do processo educacional(¹⁹).

Limitações do estudo

Como limitações desta pesquisa, destaca-se não ter sido quantificado qual o meio de divulgação digital obteve maior conversão pelos respondentes e a impossibilidade de generalizações, devido ao estudo ter sido realizado em um único contexto de uma universidade do sul do Brasil.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Espera-se que o estudo contribua para a área da enfermagem, a partir do aumento da participação em pesquisa dos egressos de enfermagem e, consequentemente, na avaliação do processo formativo do enfermeiro, na sua inserção no mercado de trabalho, além de fortalecer reflexões frente às necessidades de elaboração de novas propostas pedagógicas nos cursos de graduação em enfermagem.

CONCLUSÕES

A partir das redes sociais utilizadas na metodologia deste estudo, foi possível superar as dificuldades de localização dos egressos de enfermagem e também do retorno dos instrumentos no período de coleta de dados. Dessa forma, este estudo alcançou a população mínima estabelecida através de cálculo estatístico em 45 dias de coleta de dados, possibilitando a obtenção de 314 instrumentos respondidos corretamente para análise.

Portanto, o estudo possibilitou traçar o perfil de enfermeiros egressos do curso de graduação em enfermagem pesquisado: mulheres, sem formação técnica/auxiliar em enfermagem ou outra graduação, média de 21 anos ao ingressar no curso, participantes de projetos científicos, grupos de pesquisa, com o recebimento de bolsa. Ainda, realizaram curso de pós-graduação e obtiveram o primeiro emprego em até seis meses após a formatura, sendo enfermeiras assistenciais, funcionárias públicas, entre 36 e 40 horas semanais, em hospitais da região sul do Brasil, com renda mensal entre quatro a dez salários mínimos. Assim, destaca-se o nível de satisfação dos egressos, mais de 90% indicaram estarem satisfeitos e/ou muito satisfeitos com o curso de graduação em enfermagem. Os aspectos apresentados representam resultados importantes deste estudo, uma vez que é necessário conhecer o egresso de enfermagem, buscando compreender o profissional que concluiu sua graduação na instituição estudada, assim como avaliar as fragilidades, potencialidades e contribuições verificadas enquanto instituição formadora, possibilitando, a partir disto, a elaboração de novas propostas curriculares e pedagógicas.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Ana Fátima Fernandes

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  25 Fev 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  30 Jul 2020
• Aceito
  02 Nov 2021