Teorias e Modelos de Enfermagem como referenciais teóricos de teses e dissertações brasileiras: estudo bibliométrico

RESUMO

Objetivos:

mapear o uso de modelos e teorias de Enfermagem utilizados como referenciais teóricos em pesquisas de pós-graduação Stricto Sensu em Enfermagem no Brasil.

Métodos:

bibliometria, realizada no banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, em novembro de 2020. A análise dos dados ocorreu por estatística descritiva simples e análise lexical, realizada com o uso do software IRAMUTEQ.

Resultados:

os 50 estudos selecionados foram da área de Enfermagem, sendo 15 (30%) teses e 35 (70%) dissertações. Identificaram-se 13 teorias e modelos de Enfermagem utilizadas como referenciais teóricos, destacando o Modelo de Adaptação de Roy em 10 (20%) pesquisas. Considerações Finais: o estudo constatou uma grande diversidade no uso de teorias e modelos de enfermagem como referencial teórico, o que possibilitou a identificação das áreas mais pesquisadas pelos enfermeiros e confirmou a sua aplicação em diferentes especialidades e contextos de saúde.

Descritores:
Teoria de Enfermagem; Modelos de Enfermagem; Pesquisa em Enfermagem; Pesquisa Metodológica em Enfermagem; Bibliometria

ABSTRACT

Objectives:

to map the use of Nursing models and theories utilized as theoretical references in graduate academic Nursing research in Brazil.

Methods:

bibliometrics, performed in the Theses and Dissertations database of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel, in November, 2020. Data analysis was performed using simple descriptive statistics and lexical analysis, performed using the software: IRAMUTEQ.

Results:

the 50 selected studies were from the field of Nursing, 15 (30%) of which were theses and 35 (70%) were dissertations. 13 Nursing theories and models were identified, used as theoretical references, highlighting Roy’s Adaptation Model in 10 (20%) of the researches. Final Considerations: the study found a great diversity in the use of nursing theories and models as a theoretical framework, which allowed us to identify the areas most researched by nurses and confirmed their application in different specialties and health contexts.

Descriptors:
Nursing Theory; Models; Nursing; Nursing Research; Nursing Methodology Research; Bibliometrics

RESUMEN

Objetivos:

mapear el uso de modelos y teorías de enfermería utilizados como referenciales teóricos en investigaciones de posgrado stricto sensu de enfermería en Brasil.

Métodos:

bibliometría realizada en Banco de Tesis y Disertaciones de la Coordinación de Perfeccionamiento de Personal de Nivel Superior, en noviembre de 2020. Datos analizados por estadística descriptiva simple y análisis lexical, habiéndose utilizado el software IRAMUTEQ,

Resultados:

los 50 estudios seleccionados fueron del área de enfermería, consistiendo en 15 (30%) tesis y 35 (70%) disertaciones. Se identificaron 13 teorías y modelos de enfermería utilizados como referenciales teóricos, destacándose el Modelo de Adaptación de Roy en 10 (20%) de las investigaciones. Consideraciones Finales: el estudio constató una gran diversidad en el uso de teorías y modelos de enfermería como referenciales teóricos, permitiendo ello identificar las áreas más investigadas por los enfermeros y confirmando la aplicación de tales teorías y modelos en diferentes especialidades y contextos de salud.

Descriptores:
Teoría de Enfermería; Modelos de Enfermería; Investigación en Enfermería; Investigación Metodológica en Enfermería; Bibliometría

INTRODUÇÃO

A Enfermagem evoluiu de ocupação para profissão a partir do desenvolvimento de um corpo de conhecimento científico e próprio, desenvolvido por teóricos da área, o que a permite prestar uma assistência estruturada e legitimada(¹). Entre a geração desse conhecimento teórico estão os modelos conceituais e as teorias de Enfermagem, que são como “[...] referenciais fundamentais à matriz disciplinar da profissão [...]”, uma vez que são muito significativos para o ensino, a pesquisa e a assistência por objetivarem consolidar a Enfermagem como ciência e arte na área da saúde, ao explicarem por meio dos seus conceitos a visão de mundo e as ações dos profissionais(²).

Os modelos conceituais são definidos como um conjunto de ideias ou conceitos (elementos abstratos) que se interrelacionam e simbolicamente representam um fenômeno, descrevendo as relações entre os conceitos que os compõem(³). Eles se originam de teorias ou da prática profissional, sendo instrumentalizados por meio do Processo de Enfermagem(⁴).

As teorias de Enfermagem também são um conjunto de conceitos que se interrelacionam, entretanto, elas trazem indicações, proposições e definições baseadas em uma filosofia, em dados científicos, as quais podem testar e deduzir hipóteses(³). Objetivam descrever fenômenos, explicar suas relações, predizer consequências e prescrever cuidados(⁵). Seu uso é essencial para o atendimento dos compromissos políticos, epistemológicos e sociais da Enfermagem, relacionando-se com boas práticas na construção e aplicação dos conhecimentos da área no âmbito do sistema de saúde, bem como na conformação do metaparadigma composto pelos seguintes conceitos: pessoa, saúde, ambiente e Enfermagem(⁶).

Discussões sobre a diferença entre modelos conceituais e teorias, bem como a produção de teorias de Enfermagem, datam da década de 1970. Uma publicação destacou que alguns autores, como Fawcett, referem os modelos conceituais como mais globais e abstratos, diferente das teorias de Enfermagem, que são mais concretas e específicas(⁷).

Observa-se na literatura uma dissonância no uso desses dois termos, com atribuição de diferentes significados(⁴) e muitas vezes o uso deles como sinônimos. Há posicionamentos diversos entre os autores, sendo que para muitos a diferença entre modelo conceitual e teoria de Enfermagem é apenas semântica(⁸).

Apesar do avanço científico que as teorias trouxeram à arte de cuidar, ainda merece atenção a adoção de estratégias que legitimem o seu uso para fundamentar a assistência, o que exige conhecimento, pesquisas e discussões por parte dos profissionais(⁹). Diante disso, o enfermeiro que reconhece os significados conceituais das teorias desde a sua formação contribui para dar sentido à prática assistencial. Em contrapartida, existe uma lacuna na estruturação curricular e formativa desse profissional. As percepções do graduando possuem um distanciamento em relação à forma como as teorias são aplicáveis e como podem contribuir para a construção do conhecimento da profissão(¹⁰). Entretanto, ainda possuem pouco destaque acadêmico em cursos de graduação e de pós-graduação(¹¹).

Muitos enfermeiros escolhem utilizar teorias e estruturas de outras disciplinas no desenvolvimento de suas pesquisas científicas(³). Avançar com estudos sobre as teorias é essencial para o desenvolvimento da profissão, pois a sua utilização na prática permite a promoção de um conhecimento que sustenta as ações dos enfermeiros(¹²).

A realização de pesquisas para a elaboração, validação e implementação das teorias é de suma importância para o avanço do conhecimento produzido pela própria Enfermagem. Pesquisadores e profissionais que se apropriam de referenciais teóricos para fundamentar a sua prática contribuem para transformá-la e dar continuidade aos conceitos teóricos e metodológicos(¹³).

Frente à importância de teorias e modelos para a produção científica, questiona-se como estes são utilizados por pesquisadores na elaboração de estudos Stricto Sensu, pois o conhecimento produzido pela Enfermagem deveria embasar as suas pesquisas. Dessa forma, a realização deste estudo propõe um olhar sobre a utilização das teorias e modelos de Enfermagem como referenciais teóricos, uma vez que a literatura carece de uma análise em profundidade que considere, além das teses, também as dissertações(¹⁴), bem como explorar outros métodos e aspectos, o que pode fornecer reflexões sobre a produção e o avanço do conhecimento na ciência da Enfermagem Brasileira.

Com isso, emergiu o seguinte questionamento: “Quais teorias e modelos de Enfermagem são utilizados como referenciais teóricos em teses e dissertações brasileiras?”

OBJETIVOS

Mapear o uso de Teorias e Modelos de Enfermagem como referenciais teóricos em pesquisas de pós-graduação Stricto Sensu em Enfermagem no Brasil.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Considerando tratar-se de uma pesquisa centrada em fontes documentais de domínio público, dispensou-se a apreciação ética, conforme resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde(¹⁵).

Tipo do estudo

Trata-se de um estudo bibliométrico acerca da produção científica de teses e dissertações que utilizaram teorias e modelos de Enfermagem como referencial teórico, tendo como delimitação temporal o período de 2013 a 2019. O marco inicial foi estabelecido considerando o começo da disponibilização das teses e dissertações no banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), enquanto o marco final é relativo ao último ano completo de publicações no referido banco no momento da coleta de dados.

A bibliometria é um método de pesquisa que tem por objetivo sintetizar os trabalhos acadêmicos, conhecer e evidenciar suas características, propor olhares e reflexões sobre a área estudada e avaliar, por meio de métricas e indicadores, a produção e disseminação científica(¹⁶).

Fonte de dados

Antecedendo a busca, foi elaborado um protocolo de pesquisa pelos autores com base em outro estudo(¹⁷), contendo os seguintes elementos: tema; objetivo; pergunta de pesquisa; descritores controlados e não controlados; estratégias de busca; filtro aplicado; resultado de busca prévia; e critérios de seleção dos estudos.

Para a seleção dos estudos, foi realizado um levantamento no banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em novembro de 2020, por meio dos termos identificados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Bireme, definidos a fim de responder a pergunta de pesquisa e englobar o máximo de estudos dentro da temática: “Teoria de Enfermagem”, “Modelos de Enfermagem”, “Enfermagem”, “Metodologia”, “Pesquisa em Enfermagem”, “Pesquisa Metodológica em Enfermagem”.

Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: teses e dissertações que abordaram uma teoria ou modelo de enfermagem como referencial teórico, tendo os termos “teorias de Enfermagem” ou “Modelos de Enfermagem” no título, resumo ou descritores. Como critérios de exclusão, apontam-se os seguintes aspectos: não ter resumo disponível, ser antecedente à Plataforma Sucupira, não deixar notória a teoria ou o modelo de Enfermagem mobilizado e ter utilizado uma teoria que ainda não foi criticamente analisada e validada.

Coleta e organização dos dados

As buscas foram realizadas no campo de “busca” da biblioteca de teses e dissertações da CAPES, seguindo as estratégias: “Teorias de Enfermagem” (50), “Modelos de Enfermagem” (20), “Pesquisa Metodológica em Enfermagem” AND “Modelos de Enfermagem” (zero), “Pesquisa Metodológica em Enfermagem” AND “Teorias de Enfermagem” (1), “Teoria de enfermagem” AND Modelo de enfermagem AND Enfermagem (48). A coleta e validação foram realizadas em pares pelos autores.

Os pesquisadores elaboraram um instrumento de coleta para a extração dos dados dos estudos, contendo Instituição de Ensino Superior (IES), Estado, ano de publicação, modalidade (Mestrado ou Doutorado), ano de defesa, resumo, teoria ou modelo de Enfermagem utilizada como referencial teórico, desenho metodológico, foco de interesse da pesquisa, área de conhecimento estabelecidas pelos autores (Saúde da Mulher, Saúde do Adulto/Idoso, Saúde da Criança/Adolescente, Saúde Mental e Gestão em Enfermagem).

Análise dos dados

Os dados coletados foram registrados e organizados em uma planilha do programa Microsoft Excel^®. A análise dos dados ocorreu de duas formas: na primeira, os dados qualitativos categóricos foram analisados de forma descritiva, com frequências absolutas e relativas; na segunda, efetuou-se a análise lexical, realizada com o uso do software Interface de R pour les Analyse Multidimensionnielles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ) versão 0.7 Alpha 2 e R Versão 3.2.3, que permite um olhar quantitativo para dados de cunho qualitativos, sendo relevante para o estudo sobre pensamentos, crenças, experiências, percepções e opiniões(¹⁸).

Os resumos dos estudos incluídos compuseram o corpus textual. A partir da análise, foram identificados os Segmentos de Texto (ST) e o agrupamento das palavras mais significativas(¹⁸).

Dentre as diversas formas de análise que o software permite, para este estudo, escolheu-se a apresentação dos resultados por meio da: 1) Nuvem de palavras, que apresenta uma representação gráfica das ocorrências do corpus textual, especificando que cada palavra tem um tamanho proporcional à sua frequência, expressa por meio de uma figura que não apresenta dados descritivos, mas promove uma rápida identificação dos termos com maior significado no conjunto de textos analisados(¹⁹); 2) Análise ou Árvore de Similitude, que é ancorada na teoria dos grafos e realizada com base no número de ocorrências das palavras presentes nos segmentos de texto(²⁰). Essa análise demonstra de forma visual a origem e a conexão das palavras.

RESULTADOS

Foram identificados 9.809 estudos no período analisado na área de Enfermagem, sendo que 119 (1,2%) foram filtrados pelas estratégias de busca, com resultado, após a seleção, de 50 (0,5%) estudos com referenciais teóricos de Enfermagem. Quanto ao nível acadêmico, 15 (30%) dos estudos selecionados foram teses e 35 (70%) dissertações, sendo que destas 4 (11%) se relacionavam ao Mestrado Profissional. A figura 1 apresenta o fluxo de seleção.

Figura 1
Processo de seleção das teses e dissertações para o estudo (n=50), São Paulo, São Paulo, Brasil, 2021

Referente à procedência das pesquisas, 47 (94%) foram de Instituições de Ensino Superior públicas, sendo a maioria da esfera federal 34 (72%) e 13 (28%) estadual. Dos estudos, 3 (6%) foram realizados em instituições privadas.

A região Nordeste foi a que mais apresentou investigações (35= 70%), tendo como destaque a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com 9 (18%) estudos, seguida da região Sudeste, com 8 (23%), onde as instituições do estado do Rio de Janeiro apresentaram a maior representatividade, com 5 (62%) estudos. As regiões Centro-Oeste e Sul elaboraram 3 (6%) estudos cada, enquanto a região Norte apenas 1 (2%), como descrito na Tabela 1.

Tabela 1
Caracterização das dissertações e teses segundo a região brasileira e a Instituição de Ensino Superior proveniente (n=50), São Paulo, São Paulo, Brasil, 2021

Região	Instituição de Ensino Superior	Dissertações n (%)	Teses n (%)	Total n (%)
Nordeste	Universidade Federal de Alagoas	4 (11%)	0(0%)	4(8%)
	Universidade Federal da Bahia	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Universidade Estadual de Feira de Santana	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Universidade Regional do Cariri	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Universidade Estadual do Ceará	4 (11%)	3 (20%)	7(14%)
	Universidade Federal do Ceará	0(0%)	1 (7%)	1(2%)
	Universidade Federal da Paraíba	1 (3%)	2 (13%)	3(6%)
	Universidade Federal de Pernambuco	7 (20%)	0(0%)	7(14%)
	Universidade Federal do Rio Grande do Norte	4 (11%)	5 (33%)	9(18%)
	Fundação Universidade Federal de Sergipe	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
Sudeste	Universidade Estadual do Rio de Janeiro	0(0%)	1 (7%)	1(2%)
	Universidade do Estado do Rio de Janeiro	1 (3%)	1 (7%)	2(4%)
	Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Universidade Federal Fluminense	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Centro Universitário São Camilo	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Universidade de Mogi das Cruzes	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Pontifícia Universidade Católica de São Paulo	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
Sul	Universidade Estadual do Paraná	0(0%)	1 (7%)	1(2%)
	Universidade Federal de Pelotas	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
	Universidade Federal de Santa Catarina	0(0%)	1 (7%)	1(2%)
Norte	Universidade Federal do Pará	1 (3%)	0(0%)	1(2%)
Centro-Oeste	Universidade de Brasília	3 (9%)	0(0%)	3(6%)
TOTAL		35 (70%)	15 (30%)	50(100%)

Entre as 13 teorias e modelos de Enfermagem utilizados, destaca-se o Modelo de Adaptação de Roy em 10 (20%) pesquisas, seguido do Modelo de Nola Pender em 7 (14%). As demais teorias e modelos tiveram uma participação igual ou inferior a 10% no total da amostra selecionada.

As publicações ocorreram de 2013 a 2019, tendo o maior quantitativo de publicações entre 2015 e 2017, concentrando 31 (62%) estudos. Destacou-se como área de conhecimento a Saúde do Adulto/Idoso, com 23 (46%) estudos, tendo foco de interesse da pesquisa no âmbito assistencial, com 33 (66%) estudos, seguido da Pesquisa, com 13 (26%), conforme mostra detalhadamente a Tabela 2.

Tabela 2
Características das teses e dissertações quanto a área de conhecimento e foco de interesse da pesquisa e referenciais teóricos, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2021

Variáveis	Tipo de estudo
	Dissertações n (%)	Teses n (%)
Área do conhecimento
Saúde do Adulto/Idoso	17 (74%)	6 (260%)
Saúde da Criança/Adolescente	7 (100%)	0 (0%)
Saúde da Mulher	5 (71%)	2 (29%)
Saúde Mental	1 (33%)	2 (67%)
Saúde Coletiva	4 (80%	1 (20%)
Gerenciamento em Enfermagem	1 (20%)	4 (80%)
Foco de interesse
Assistencial	28 (85%)	5 (15%)
Ensino	2 (67%)	1 (33%)
Pesquisa	4 (31%)	9 (69%)
Gestão	1 (100%)	0 (0%)
Referencial teórico
Modelo de Adaptação de Roy - Sister Callista Roy	7 (70%)	3 (30%)
Sistema conceitual de King - Imogene King	3 (75%)	1 (25%)
Teoria do Alcance de Metas - Imogene King	2 (40%)	3 (60%)
Modelo de Promoção da Saúde - Nola Pender	6 (86%)	1 (14%)
Teoria do Cuidado Transpessoal - Jean Watson*	3 (60%)	2 (40%)
Teoria do Déficit no Autocuidado - Dorothea Orem	3 (75%)	1 (25%)
Teoria das Necessidades Humanas Básicas - Wanda de Aguiar Horta*	4 (100%)	0 (0%)
Modelo das Marés - Phil Barker	1 (50%)	1 (50%)
Teoria da Diversidade Cultural do cuidado e universalidade - Madeline Leininger	1 (50%)	1 (50%)
Modelo dos Sistemas - Betty Neuman	1 (50%)	1 (50%)
Teoria da Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva - Emiko Yoshikawa Egry	2 (100%)	0 (0%)
Teoria do Conforto - Katharine Kolcaba	0 (0%)	2 (100%)
Teoria das Transições - Afaf Meleis	0 (0%)	1 (100%)

• ^*
  Os referenciais utilizados nos Mestrados Profissionais foram Wanda de Aguiar Horta (2) e Jean Watson (2).

A maioria das pesquisas utilizou abordagem qualitativa (31= 62%), seguida da metodológica (10= 20%), dos estudos quantitativos (5= 10%), das pesquisas quali-quanti (3= 6%) e da abordagem teórica (1= 2%).

Na árvore de similitude, a palavra central “Enfermagem” estabelece uma relação forte com a palavra “cuidado” e “saúde”, que se conecta a uma rede de palavras, tais como “teoria”, “processo”, “estudo”, “modelo”, “pessoa” e “dado”, o que pode ser observado na Figura 2.

Figura 2
Árvore de similitude do corpus textual dos resumos de teses e dissertações que abordam as Teorias e Modelos de Enfermagem (n=50), São Paulo, São Paulo, Brasil, 2021

Os resultados da nuvem de palavras revelaram que os termos centrais foram “enfermagem”, “saúde” e “cuidado”, conceitos que sustentam a ciência da Enfermagem. Outras palavras apresentaram menor frequência, como “estudo”, “teoria”, “modelo”, “pesquisa”, “processo”, “pessoa” e “familiar”, destacando as investigações pautadas em teorias e modelos que visem as necessidades da pessoa e familiares (Figura 3).

Figura 3
Nuvem de palavras do corpus textual dos resumos de teses e dissertações que abordam as Teorias e Modelos de Enfermagem (n=50), São Paulo, São Paulo, Brasil, 2021

DISCUSSÃO

É imprescindível que as teorias sejam utilizadas como referenciais nas pesquisas em Enfermagem, por explicarem e preverem os resultados a serem alcançados com a prestação da assistência, os quais também estão relacionados aos custos assistenciais(²¹). Uma possibilidade para se testar uma teoria é a pesquisa clínica, que poderá validá-la ou não. Por essa razão, quanto mais pesquisas forem realizadas sobre uma teoria específica, mais utilidade esta terá para a prática(²²).Para que a teoria se aproxime da prática, é fundamental a realização de estudos que procurem divulgar e analisar as teorias, traspondo, dessa maneira, o conhecimento teórico para a prática profissional(²³). Os estudos com as teorias e os modelos conceituais devem iniciar desde a graduação. No entanto, são pouco utilizadas no âmbito da iniciação científica e pouco discutidas pelos docentes na sala de aula(²⁴).

Tratando-se da pós-graduação, assim como os achados de outros estudos em que a produção Strictu Senso brasileira foi estudada(¹⁷,²⁵), este estudo também identificou maior produção acadêmica resultante de dissertações de Mestrado do que teses de Doutorado. Esse dado pode estar relacionado ao fato de que o tempo da produção de uma dissertação é menor quando comparado ao de uma tese(¹⁷), o que agiliza a sua publicação, além do Mestrado ser pré-requisito para o Doutorado. Chama a atenção que as teses e dissertações com referenciais teóricos da enfermagem nesse período representaram apenas 0,5% do total das produções no país, corroborando dado semelhante encontrado em outra investigação(¹⁴).

Mesmo com um número mais reduzido de pesquisas, quando comparado ao mestrado Acadêmico, o Mestrado Profissional é relevante. Os discentes que compõem esse Mestrado são enfermeiros atuantes nos diversos cenários de prática, tendo como produções científicas soluções que possam contribuir para elucidar os problemas que emergiram da própria prática profissional nas instituições em que atuam.

Um estudo realizado a fim de analisar os resultados da produção de conhecimento do Mestrado Profissional apontou a preocupação dos pesquisadores em elaborar produtos que abordassem modelos de cuidado. Entretanto, não foram mencionados os referenciais teóricos de Enfermagem utilizados para a elaboração desses produtos(²⁶).

Corroborando os achados deste estudo, uma pesquisa que analisou 49 dissertações de Mestrado Profissional apresentou uma baixa escolha dos pesquisadores pelos referenciais teóricos de Enfermagem no desenvolvimento de suas pesquisas, sendo somente dois estudos fundamentados pela teorista Wanda de Aguiar Horta, um por Dorothea Orem e um por Paterson e Zderad(²⁷).

A região do país que mais produziu estudos foi o Nordeste, divergindo de outra pesquisa realizada em 7 periódicos da área na qual a região Sul foi predominante. O Plano Nacional de Pós-Graduação da CAPES (PNPG 2011-2020) estabeleceu políticas de incentivo à pós-graduação em algumas regiões brasileiras, sendo o Nordeste uma delas, o que pode explicar a expansão e o fortalecimento dos programas de pós-graduação nessa região(²⁸). Outros fatores responsáveis pelo destaque da região Nordeste são a ampliação da disponibilidade de cursos e linhas de pesquisa, gerando o aprofundamento nessa temática, além do aumento no número de pesquisadores (mestres e doutores) interessados no estudo das teorias, o que pode ter favorecido um aumento na produção científica e na difusão na literatura nacional e internacional(¹⁴,²⁹-³⁰).

Constatou-se uma coerência entre a nuvem de palavras do corpus textual dos resumos e a árvore de similitude, que permitiu perceber o destaque dos conceitos “saúde” e “enfermagem”, de forma menos frequente o conceito “pessoa” e não sendo visualizado o conceito “ambiente”. Foi possível identificar de maneira mais significativa o cuidado individual oferecido ao paciente e à família, com pouco destaque aos aspectos relacionados ao atendimento comunitário.

Um número expressivo de teorias e modelos foi utilizado como referencial teórico para a elaboração das pesquisas selecionadas neste estudo. Percebeu-se um direcionamento no uso de algumas delas frente às linhas de pesquisa dos orientadores, pois alguns estudos utilizaram a mesma teoria como referencial teórico em mais de uma pesquisa, na mesma universidade, conforme ocorrido na Universidade Federal de Alagoas e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

O Modelo de Adaptação de Roy de Sister Callista Roy foi o prevalente nesta pesquisa. Outra consideração importante foi a escolha por Teorias de Médio Alcance (TMA) como referenciais teóricos, dentre as quais se destacam o Modelo de Promoção da Saúde de Nola Pender, sendo o mais citado (7= 14%), e o Modelo das Marés de Phil Barker, o que divergiu de outros estudos(²,²⁵) que abordaram somente Grandes Teorias. Um deles revelou que a Teoria Humanística de Enfermagem de Paterson e Zderad, a Teoria do Cuidado Cultural de Leininger e a Teoria do Autocuidado de Orem representam as teorias mais pesquisadas pela Enfermagem Brasileira(²). Outro estudo mostrou que os referenciais teóricos mais utilizados em dissertações e teses foram o Modelo de Adaptação de Callista Roy, a Teoria do Alcance de Metas de Imogene King, a Teoria do Autocuidado de Dorothea Orem, a Teoria do Cuidado Transpessoal de Jean Watson e a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger, convergindo para o estudo acima apenas a Teoria de Orem e Leininger(²⁵).

Torna-se complexo estabelecer criteriosamente quais referenciais teóricos apresentados nesta pesquisa seriam considerados como modelos conceituais, uma vez que há divergências nas concepções dos estudiosos. Uma pesquisa realizada com nove teóricos de Enfermagem evidenciou como modelos conceituais os estudos de Johnson, King, Levine, Neuman, Orem e Rogers, enquanto que para outros estudiosos foram considerados os de Levine, Kim, Watson e Parse(³¹). Nos resultados deste estudo, não se observou o uso do termo modelo conceitual por parte dos autores, sendo evidenciada uma diversidade na utilização dos termos teorias e modelos de Enfermagem de forma livre.

Manter uma inter-relação entre teoria, pesquisa e prática clínica é fundamental frente à influência que uma dimensão exerce sobre a outra para a continuidade do desenvolvimento da Enfermagem como profissão e ciência(³²). Quanto ao foco de interesse da pesquisa para a produção de conhecimento na área, os achados deste estudo corroboraram uma investigação realizada sobre a produção de teses no Brasil, a qual referiu uma produção majoritária de teses na área assistencial, demonstrando maior interesse dos pesquisadores em responder mais as questões relacionadas à prática do que a outras áreas, como a pesquisa, ensino e gestão(³³).

Com relação à nuvem de palavras, observa-se uma alta frequência de associações com a pesquisa acadêmica, ou seja, associada com a produção de conhecimento, porém, existe uma frágil relação/associação com os processos e serviços de Enfermagem. Isso mostra que, mesmo que sejam desenvolvidos estudos que abordem as teorias e modelos, estes ainda não se disseminam pelos campos de atuação dos enfermeiros.

Quanto ao ano de publicação, nos chama a atenção um aumento nas dissertações e teses no ano de 2015 e um declínio significativo a partir de 2018, sendo uma limitação deste estudo a compreensão de tal dado.

O estudo traz em seus resultados que grande parte dos programas de pós-graduação Strictu Senso estão localizados dentro de Universidades Públicas, principalmente no âmbito federal. Essa oferta é mais discreta nas instituições privadas da área, onde o Mestrado Profissional é mais identificado. O universo das instituições privadas que investem em programas de pós-graduação Strictu Senso ainda é muito pequeno, o que faz com que grande parte dos recursos financeiros seja destinada às instituições públicas, visto que estas apresentam um perfil mais livre, fundamentado em pesquisa e historicamente mais consolidado(³⁴).

Com o desenvolvimento da ciência da Enfermagem, surge o questionamento de quais métodos de pesquisas utilizar, o que prevaleceu na diversidade destes para, dessa maneira, garantir que os resultados dos estudos possam ser aplicáveis à prática(³), o que foi demonstrado neste estudo, ganhando destaque a abordagem qualitativa.

Ressalta-se, quanto às dificuldades encontradas na elaboração da investigação, a ausência de informações nos resumos dos estudos, tais como a clareza na definição da metodologia e a explicitação do referencial teórico utilizado. Essas dificuldades também foram encontradas em outros estudos bibliométricos(¹⁷,³⁵).

Limitações do estudo

O estudo apresentou limitações, como o acesso aos resumos dos trabalhos realizados no período anterior a 2013, quando a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) iniciou a disponibilização dos resumos de teses e dissertações na Plataforma Sucupira. Para mitigar essa limitação, os autores buscaram o acervo online das teses e dissertações do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem. Apesar do acervo citado não estar disponível no momento da busca, tal ocorrência não invalidou a realização do estudo.

Contribuições para a área da Enfermagem

A investigação apresentou olhares para a produção científica em Enfermagem, destacando a necessidade de valorização e aplicação da ciência da Enfermagem nas pesquisas de pós-graduação. Além disso, destacou uma lacuna na produção de estudos com referenciais teóricos de Enfermagem que desvelam os fenômenos relativos ao ambiente e contexto no qual a pessoa/família/comunidade se insere.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta investigação, identificou-se uma diversidade de referenciais teóricos de Enfermagem utilizados em pesquisas Stricto Sensu, o que representa um avanço na produção desse conhecimento, na evolução profissional e na possibilidade de sua aplicação em diferentes especialidades e contextos de saúde. No entanto, a utilização nas produções científicas no país ainda é incipiente, considerando que são a sustentação da ciência da Enfermagem.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Maria Itayra Padilha

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Mar 2022
• Data do Fascículo
  2022

Histórico

• Recebido
  19 Jun 2021
• Aceito
  31 Out 2021