RESUMO
Objetivos: validar e aplicar instrumento de passagem de plantão utilizando a ferramenta SBAR (Situation-Background-Assessment-Recommendation).
Métodos: estudo metodológico para a validação de instrumento. O instrumento foi validado por dez juízes da área de ensino e assistência de enfermagem e aplicado em uma enfermaria de gastroenterologia cirúrgica por 11 técnicos de enfermagem no mês de fevereiro de 2019. As análises consideraram a estatística descritiva.
Resultados: os juízes analisaram o instrumento com índice de validade de conteúdo de 91,7%, fizeram sugestões gerando a segunda versão do instrumento. Os participantes referiram que a modalidade de passagem de plantão predominante é oral, na sala de enfermagem, de 6 a 10 minutos. A maioria presta atenção na passagem de plantão, refere que atrasos e saídas antecipadas interferem, acreditam que o instrumento possui informações necessárias e é viável.
Conclusões: o instrumento construído foi validado e sua aplicação evidenciou a relevância, pois considera-se o instrumento necessário e viável.
Descritores: Estudos de Validação; Sistemas de Comunicação no Hospital; Equipe de Enfermagem; Relações Profissional-Paciente; Pesquisa em Administração de Enfermagem.
ABSTRACT
Objectives: to validate and apply a change-of-shift instrument using the SBAR (Situation-Background-Assessment-Recommendation) tool.
Methods: methodological study for the validation of an instrument. It was validated by ten judges from the area of nursing teaching and care and applied in a surgical gastroenterology ward by 11 nursing technicians in February 2019. The analyses considered descriptive statistics.
Results: the judges analyzed the instrument with a content validity index of 91.7% and made suggestions, which led to the second version of the instrument. The participants reported that the predominant modality of shift handover is oral, in the nursing room, lasting six to ten minutes. Most pay attention during shift change, mention that delays and early departures interfere in the activity and believe that the instrument provides the necessary information and is viable.
Conclusions: the instrument built was validated, and its application proved relevant, as it was considered necessary and feasible.
Descriptors: Validation Studies; Hospital Communication Systems; Nursing Team; Professional-Patient Relations; Nursing Administration Research.
RESUMEN
Objetivos: validar y aplicar instrumento del pasaje de plantón utilizando la herramienta SBAR (Situation-Background-Assessment-Recommendation).
Métodos: estudio metodológico para la validación de instrumento. Este fue validado por diez jueces del área de enseñanza y asistencia de enfermería y aplicado en una enfermería de gastroenterología quirúrgica por 11 técnicos de enfermería en febrero de 2019. Los análisis consideraron la estadística descriptiva.
Resultados: los jueces analizaron el instrumento con índice de validez de contenido de 91,7%, hicieron sugestiones generando la segunda versión del instrumento. Los participantes refirieron que la modalidad del pasaje de plantón predominante es oral, en la sala de enfermería, de seis a diez minutos. La mayoría presta atención en el pasaje de plantón, refiere que retrasos y salidas anticipadas interfieren, creen que el instrumento posee informaciones necesarias y es viable.
Conclusiones: el instrumento construido fue validado, y su aplicación evidenció la relevancia, pues es considerado necesario y viable.
Descriptores: Estudios de Validación; Sistemas de Comunicación en Hospital; Grupo de Enfermería; Relaciones Profesional-Paciente; Investigación en Administración de Enfermería.
INTRODUÇÃO
Considera-se a passagem de plantão como um processo de comunicação com informações específicas de pacientes, as quais são passadas de um profissional de saúde para outro ou de uma equipe de profissionais assistenciais para outra equipe ou ainda de profissionais de saúde para pacientes e familiares quando estes vão para a casa(1).
A Organização Mundial da Saúde elaborou estratégias que devem ser consideradas na passagem de plantão, com ênfase em quatro aspectos: 1) assegurar que a organização de saúde implemente, de forma padronizada, a comunicação na passagem de plantão sugerindo o uso da técnica SBAR (Situation-Background-Assessment-Recommendation) para essa comunicação. Considerar a alocação de tempo suficiente para que as informações importantes sejam comunicadas e a não interrupção durante esse processo. Informações referentes à condição do paciente, medicamentos, planos de tratamento e mudanças na condição do paciente são essenciais; 2) assegurar que organizações de saúde implementem sistemas que garantam a alta do paciente com todas as informações necessárias ao seu tratamento, como diagnóstico, plano de tratamento, medicamentos e resultados de exames; 3) incorporar treinamento na comunicação da passagem de plantão de forma permanente; 4) encorajar a comunicação entre a organização de saúde e os prestadores de cuidado (formal e informal)(1).
A ferramenta SBAR compreende questionamentos rápidos e padronizados, avaliando quatro critérios, para que todos compartilhem de informações precisas e focalizadas, com a redução da necessidade de repetição e possibilidade de elaborar informações detalhadas(2).
Trata-se de uma ferramenta de comunicação recomendada pela Joint Commission International e adotada em vários serviços de saúde internacionais(3). Por meio dela, é possível desenvolver o pensamento crítico e consolidar habilidades de comunicação. O pensamento crítico envolve pensar logicamente para resolução de problemas, e um dos pré-requisitos é aplicar essa ferramenta no contexto da prática(3). A ferramenta SBAR possibilita estruturar a comunicação entre a equipe de saúde, em especial equipe de enfermagem, de forma organizada, clara e objetiva.
A utilização dessa ferramenta permite que os erros de comunicação diminuam e fatores contribuintes da melhoria de atitudes de segurança sejam incrementados, pois é uma forma padronizada de passagem de plantão válida para a comunicação entre a equipe de saúde(4). As técnicas de comunicação estruturadas como o SBAR melhoram a percepção entre os membros da equipe de saúde, o processo de passagem de plantão e a colaboração necessária para isso(5).
No contexto da adoção da ferramenta para a passagem de plantão da equipe de enfermagem, torna-se importante referir que, em “Situação - situation”, se estrutura um relato conciso da condição do paciente. Em “Breve história - background”, relatam-se as informações pertinentes do caso do paciente, como história prévia, hipótese diagnóstica, entre outros. Na “Avaliação - assessment” estratifica-se o caso clínico do paciente, fornecendo dados reais que suportem as tomadas de decisão. Por fim, em “Recomendação - recommendation-”, o enfermeiro recomenda ações à equipe de enfermagem mediante a análise das necessidades do paciente(2).
Estudos realizados nos Estados Unidos da América demonstraram que o uso da ferramenta SBAR para passagem de plantão da equipe de enfermagem promoveu melhor estrutura, consistência, priorização, acurácia e compreensão das informações necessárias ao cuidado. Além disso, o uso da técnica proporcionou melhor comunicação e conhecimento sobre os pacientes assistidos(2,6).
Destaca-se ser uma ferramenta utilizada no processo de comunicação de forma ampliada entre a equipe de saúde. Entretanto, este estudo tem como foco a passagem de plantão da equipe de enfermagem, por entender ser este um aspecto fragilizado da assistência de enfermagem, pois, na maioria das experiências, é realizado de forma assistemática(6).
Embora com utilização consolidada por enfermeiros de países da América do Norte e Europa, pouca literatura existe no Brasil sobre o uso dessa ferramenta, em especial para a passagem de plantão dos profissionais de enfermagem. Estudo realizado no Brasil concluiu que esse processo, no contexto hospitalar, é feito de forma empírica, com ausência de ferramentas para sua qualidade, destacando a escassez de estudos sobre o modelo SBAR na realidade da passagem de plantão nesse contexto(7).
Assim, para o estabelecimento dessa ferramenta, em uma primeira etapa construiu-se um instrumento para passagem de plantão na enfermaria de gastroenterologia cirúrgica de um hospital de ensino no estado de São Paulo, baseado nas necessidades dessa enfermaria e na revisão da literatura sobre os itens necessários para a ferramenta SBAR(8).
Portanto, este estudo tem como finalidade dar continuidade à etapa de construção desse instrumento para sua validação e aplicação.
OBJETIVOS
Validar e aplicar um instrumento de passagem de plantão de enfermagem por meio da ferramenta SBAR (Situation-Background-Assessment-Recommendation).
MÉTODOS
Aspectos éticos
O estudo foi desenvolvido após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados foram fornecidos de forma voluntária pelos participantes ao concordarem com o estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Desenho, local e período do estudo
Trata-se de estudo metodológico cujo objetivo é trabalhar com instrumentos e ferramentas complexas e desenvolvimento de referenciais metodológicos(9). A abordagem foi quantitativa e transversal.
Inicialmente construiu-se um instrumento para passagem de plantão na enfermaria de gastroenterologia cirúrgica de um hospital de ensino no estado de São Paulo com uso da ferramenta SBAR, considerando dados de identificação do paciente; indicadores; Situação (S) (dia da internação, diagnóstico médico, diagnósticos de enfermagem ou levantamento de problemas de enfermagem nas últimas 24 horas); Breve história (B) (alergias, comorbidades, histórico cirúrgico, isolamento/precauções e barreiras para a comunicação); Avaliação (A) (sinais vitais, oxigenação/ventilação, consciência, locomoção, drenos, cateteres, sondas, exames, aspectos nutricionais, curativos, eliminações, medicamentos e intercorrências); Recomendação (R) (interconsultas, intervenções de enfermagem e outros dados necessários)(8).
O instrumento foi aplicado durante 28 dias do mês de fevereiro de 2019.
Participantes, critérios de inclusão e exclusão
O estudo foi realizado com juízes especialistas na área de ensino e assistência. Na área de ensino, a inclusão ocorreu por meio de análise do currículo na Plataforma Lattes (docentes em área de atuação “enfermagem médica e cirúrgica) e com atuação prática na enfermaria-cenário da pesquisa. Potencialmente oito docentes seriam incluídos no estudo, no entanto quatro responderam afirmativamente e compuseram o grupo de juízes com a expertise do ensino. Na assistência, o critério de inclusão foi a vinculação ao trabalho na enfermaria de gastroenterologia cirúrgica, caracterizando seis juízes. Todos aceitaram participar do estudo. Assim, para a validação do instrumento construído(8), os participantes foram dez juízes, divididos em dois grupos: o primeiro grupo foi composto por seis enfermeiros com experiência profissional na prática clínica (gastroenterologia cirúrgica), e o segundo grupo foi representado por quatro docentes de enfermagem com atuação docente na gastroenterologia cirúrgica, cenário da pesquisa. Portanto, uma amostra de conveniência.
Para aplicação do instrumento na passagem de plantão, após sua validação pelos juízes, os participantes foram 11 técnicos de enfermagem que compõem o quadro funcional da enfermaria de gastroenterologia cirúrgica do hospital-cenário da pesquisa. Os enfermeiros não foram incluídos nessa etapa, pois participaram da validação do instrumento como juízes.
Cenário da pesquisa
A aplicação do instrumento foi realizada em uma enfermaria de gastroenterologia cirúrgica de um hospital de ensino, composta por 28 leitos. A equipe de enfermagem consistia em 7 enfermeiros, 18 técnicos de enfermagem e 3 auxiliares de enfermagem.
No momento da realização do estudo, o processo de passagem de plantão entre os membros da equipe de enfermagem foi descrito considerando o envolvimento de duas equipes: a que está encerrando o turno de 12 horas e a que está iniciando um novo, pelo mesmo período; o formato de reunião com as informações consideradas relevantes pela equipe eram anotadas em um “rascunho”, inutilizado logo após a troca do plantão, e ocorria majoritariamente de forma oral, portanto, de maneira assistemática.
Procedimentos de coleta e análise dos dados
O instrumento construído(8) foi encaminhado aos juízes para validação por meio de um impresso que analisou a clareza (atributo daquilo que é inteligível, fácil de ser compreendido ou entendido); pertinência (característica do que é concernente, apropriado e relevante) e aparência (aspecto ou aquilo que se mostra superficialmente ou à primeira vista).
Considerou-se para a validação do instrumento o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) maior ou igual a 80%, que é o valor mínimo recomendado pela literatura(10).
A técnica Delphi(11) foi empregada, pois destina-se à dedução e refinamento de opiniões de especialistas com vistas a alcançar consenso sobre determinado tema.
Os participantes que aplicaram o instrumento na passagem de plantão o receberam impresso em uma brochura para o período de coleta de dados (mês de fevereiro de 2019) e foram instruídos a preenchê-lo no cotidiano da passagem de plantão. Após os 28 dias de utilização, os participantes avaliaram o instrumento construído, respondendo um questionário contendo dados sociodemográficos e dados referentes ao processo de passagem de plantão.
Os dados foram inseridos em uma planilha; e a análise, realizada por meio da estatística descritiva.
RESULTADOS
Os juízes foram predominantemente do sexo feminino, (8; 80%); com atuação profissional em docência (4; 40%); possuíam pós-graduação (6; 60%); média de idade de 42,5 anos e tempo de profissão de 16,1 anos.
O IVC foi igual a 91,7%, destacando que os itens “Clareza na identificação, situação e histórico”, “Pertinência nos indicadores” e “Aparência na situação e histórico” tiveram 100% de concordância. A Tabela 1 apresenta todos os itens avaliados e sua concordância.
Percentual de adequação das propriedades de cada item: clareza, pertinência e aparência, Botucatu, São Paulo, Brasil, 2019
Embora, na primeira rodada, o IVC tenha atingido a média maior que 80%, os juízes realizaram sugestões para adequação dos itens propostos no instrumento. As sugestões mais frequentes (26,8%) referiram-se ao item “Avaliação”. Essas sugestões estão descritas na Tabela 2.
Assim, considerou-se realizar as alterações julgadas pertinentes no instrumento e modificá-lo. Após modificação, incluiu-se no item “Identificação” o número de registro, dia de internação e religião; o item “Indicadores” foi substituído por “Riscos identificados”, e nesse item incluíram-se: higiene e conforto; tipo de cuidado com as alternativas: banho no leito, banho de cadeira, banho de aspersão com e sem auxílio; sistema de classificação de pacientes, qualidade de assistência e visita familiar. Em todas essas inclusões, as alternativas de preenchimento das lacunas foram “sim” ou “não”. No item Situação (S), foram incluídos: especialidade médica responsável pelo paciente, a condição do paciente (pré-operatório ou pós-operatório) e diagnóstico médico atual. Em Breve história (B) nada foi sugerido. Em Avaliação (A), incluiu-se no campo “medicamentos” as vias de administração mais utilizadas, fármacos de controle especial, escala de dor e datas das trocas de drenos e sondas. Nesse item, foi excluído “exames laboratoriais”. No item Recomendação (R), substituiu-se “interconsultas” por “interconsultas de enfermagem e intercorrências” (Quadro 1).
Instrumento Situation-Background-Assessment-Recommendation de passagem de plantão, Botucatu, São Paulo, Brasil, 2019
Após a inclusão das sugestões dos juízes, o instrumento retornou para que eles pudessem fazer considerações. Todos referiram que a aparência, clareza e pertinência do instrumento estavam adequadas e que este poderia ser aplicado.
Os participantes aplicaram 351 instrumentos de passagem de plantão. Eram predominantemente do sexo feminino (10; 90,9%) e com formação em nível técnico (9; 81,8%). Vale dizer que, embora o técnico de enfermagem necessite apenas do nível técnico de ensino, dois destes possuíam nível superior. A Tabela 3 descreve essa caracterização.
Características dos participantes na aplicação do instrumento de passagem de plantão (Situation-Background-Assessment-Recommendation) (n = 11), Botucatu, São Paulo, Brasil, 2019
Os participantes responderam o questionário referente à passagem de plantão e à ferramenta SBAR. Destaca-se que a modalidade de passagem de plantão predominante foi a oral (7; 63,6%); o local para isso foi a sala de enfermagem (11; 100%); o tempo estimado foi de seis a dez minutos para todos os pacientes da responsabilidade de cuidado do profissional (8; 72,7%); o registro desse processo no livro ou prontuário e não ser esse momento para esclarecimento de dúvidas foi referido por seis (54,5%) participantes; dez (90,9%) informaram que o colega presta atenção durante a passagem de plantão, no entanto referiram haver saídas antecipadas e atrasos que interferem nesse processo (8; 72,7%) e que há conversas paralelas (10; 90,9%).
Todos os 11 participantes consideraram que a ferramenta SBAR utilizada possui informações necessárias, e nove (81,8%) avaliaram como boa e muito boa a utilização dela na passagem de plantão, sendo viável sua implantação para uso na unidade. Quanto às informações necessárias nesse procedimento, as intercorrências foram referidas por 11 (100%) participantes. A Tabela 4 apresenta essa avaliação.
Dados referentes à passagem de plantão e uso da ferramenta Situation-Background-Assessment-Recommendation, Botucatu, São Paulo, Brasil, 2019
DISCUSSÃO
O instrumento foi avaliado por dez juízes, enfermeiros especialistas e experientes na atuação clínica. A seleção dos juízes considerou a experiência e a qualificação desses membros. A seleção de especialistas para a avaliação de instrumentos é tão importante quanto a definição dos domínios do instrumento, pois um método sistematizado de julgamento de informações, utilizado para obter consenso de especialistas sobre determinado tema objetivando validação, é o que se propõe com a técnica Delphi(11).
Após análise dos juízes e mesmo obtendo um IVC de 91,7%, os itens do instrumento tiveram sugestões; e, depois de serem analisadas, foram alterados alguns itens que estavam de acordo com a proposta da ferramenta SBAR. A inclusão e exclusão dos itens possibilitou a construção da segunda versão do instrumento a ser aplicada na passagem de plantão da enfermaria de gastroenterologia cirúrgica e analisada pelos técnicos de enfermagem dessa enfermaria. O formato proposto foi considerado adequado pelos juízes, e isso converge com pesquisas nas quais se ressalta que essa modalidade facilita o raciocínio clínico e as informações dos pacientes(12-13).
Os itens que compuseram o instrumento estão de acordo com o proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que destaca ser a padronização uma importante ferramenta de comunicação; e a ferramenta SBAR, um formato adequado para essa comunicação(1).
Após a validação considerando a clareza, pertinência e aparência, o instrumento passou pela análise com uma amostra de 11 participantes, técnicos de enfermagem que compõem o quadro funcional do cenário do estudo. O perfil deles está de acordo com a pesquisa realizada em nível nacional sobre a enfermagem brasileira, pois, no Brasil, 53% dos profissionais de saúde são técnicos e auxiliares de enfermagem, jovens, ou seja com menos de 35 anos (35%) e majoritariamente do sexo feminino (nove em cada dez profissionais)(14).
O teste-piloto foi implantado, e os participantes aplicaram os instrumentos de passagem de plantão no período de um mês. De acordo com a literatura, essa fase faz-se necessária, tendo em vista o objetivo de verificar se o instrumento ficou claro e compreensivo aos membros que o usarão(15-17).
Os participantes referiram que a passagem de plantão é predominantemente oral, ocorre na sala da enfermagem em um tempo de seis a dez minutos com o colega prestando atenção. No entanto, quando questionados sobre as interferências nesse procedimento, destacaram os atrasos, as saídas antecipadas e as conversas paralelas dos colegas, sendo essa afirmação contraditória à anterior. Infere se que os participantes responderam inicialmente o que seria ideal no processo de passagem de plantão e posteriormente o que de fato ocorre. A modalidade oral desse processo é corroborada em estudo realizado(18).
Contrariamente ao presente estudo, o local para a passagem de plantão proposto em estudos foi a modalidade à beira do leito, pois é uma forma de promoção da segurança nos serviços de saúde, possibilitando a participação do paciente em seu cuidado(12,18-19).
Quanto ao tempo para a passagem de plantão, a literatura mostra ser suficiente o de 10 a 20 minutos, diferentemente do encontrado no presente estudo. Os autores referem que o tempo dispendido nessa ação será determinante na quantidade e qualidade das informações(12,18). Estudos mostram que os enfermeiros reclamam sobre o tempo prolongado para a passagem de plantão e destacam que a passagem à beira do leito diminui o tempo, evitando as horas extras em consequência de atrasos na saída da equipe de enfermagem(19-20).
Dos fatores que interferem negativamente na passagem de plantão, autores salientam como mais frequentes as interrupções, ruídos externos, impontualidade e conversas paralelas entre os membros da equipe(12,18).
Dentre os questionamentos, todos os participantes consideraram que o instrumento embasado na metodologia SBAR possuía as informações necessárias para a passagem de plantão, e a maioria o avaliou como bom e muito bom. Também referiram que o instrumento é viável para ser implantado na unidade.
Estudo com objetivo de implementar uma ferramenta de passagem de plantão por meio do acrônimo ISBAR (Identification, Situation, Background, Assessment & Action, Response/Rationale) em uma unidade de pronto atendimento concluiu que é crucial utilizar uma ferramenta-padrão, formal e sistematizada a fim de garantir que a transferência dos cuidados seja “eficaz, completa e objetiva” para a segurança do paciente e equipe(21).
Pesquisas internacionais realçam que o uso da ferramenta SBAR para a passagem de plantão é uma forma eficaz de padronização da comunicação entre os membros da equipe de enfermagem, além de ser benéfica aos pacientes e contribuir para a satisfação da equipe e segurança do paciente(2 7,22).
Estudo evidencia que, para uma passagem de plantão bem-sucedida, é relevante o desenvolvimento de um formulário e de protocolo operacional padrão (POP) que enfatizem elementos norteadores dessa prática e garantam a qualidade do processo por contemplarem informações necessárias e seguras à continuidade da assistência. É fundamental que haja participação de todos os envolvidos na assistência para que as informações sejam consistentes e confiáveis(23).
Limitações do estudo
A limitação do estudo refere-se ao único cenário da atenção hospitalar, ao reduzido número de profissionais que aplicaram a ferramenta e à exclusão dos enfermeiros, por serem, estes, juízes na validação do instrumento no cenário escolhido.
Contribuições para a área de Enfermagem
Este estudo contribuiu para o ensino e pesquisa em enfermagem, descrevendo a validação de um instrumento. Os resultados positivos encontrados conferem a essa ferramenta a plena condição de ser aplicada na prática, o que possibilitará uma comunicação efetiva entre as equipes de enfermagem e de saúde, para uma prática interprofissional e colaborativa.
CONCLUSÕES
O instrumento foi validado, possibilitando uma nova versão que considerou as sugestões dos juízes e foi aplicada no contexto da prática de passagem de plantão de uma enfermaria de gastroenterologia cirúrgica.
Os participantes destacaram que a ferramenta SBAR utilizada possui informações necessárias e consistentes. Avaliaram como boa e muito boa sua utilização na passagem de plantão e viável sua implantação para uso na unidade.
MATERIAL SUPLEMENTAR
O manuscrito é proveniente de dissertação de Mestrado e tem dados de pesquisa disponíveis no link: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/186328.
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FOMENTOAo Conselho Federal de Enfermagem, pois por meio do acordo Capes/Cofen Edital n° 27/2016, possibilitou o desenvolvimento dessa pesquisa.
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Editado por
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EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
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EDITOR ASSOCIADO: Maria Itayra Padilha
Disponibilidade de dados
MATERIAL SUPLEMENTAR
O manuscrito é proveniente de dissertação de Mestrado e tem dados de pesquisa disponíveis no link: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/186328.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
22 Ago 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
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Recebido
05 Ago 2021 -
Aceito
17 Abr 2022