A violência de gênero perpetrada contra mulheres trans

revisão integrativa, realizada em junho de 2020, sem recorte temporal, nas bases de dados SCOPUS, Medline, Embase, CINAHL, WoS, PsycInfo e LILACS. Foram utilizados os descritores controlados do DeCS, do MeSH e seus entry terms: “Pessoas Transgênero”, “Transgêneros”, “Identidade de Gênero”, “Transexualidade”, “Violência de Gênero”, “Agressão”, “Delitos Sexuais”, “Estupro”, “Violência”, “Violência Doméstica”. A apresentação e a síntese dos resultados foram apresentadas no fluxograma PRISMA-2009.

Resultados:

a amostra final, composta por 16 artigos, identificou violências de gênero diversas: sexual, física, verbal, psicológica e financeira perpetrada por familiares, desconhecidos, policiais, parceiros íntimos, profissionais da saúde, conhecidos ou amigos.

Conclusões:

a mulher trans sofre violências e exclusões sociais decorrentes de estigmas e discriminações pela identidade de gênero que resultam em danos à saúde além da física.

Descritores:
Pessoas Transgênero; Identidade de Gênero; Violência de Gênero; Violência; Enfermagem

Base de dados	Estratégia
MEDLINE	((((“transgender persons”) OR transgenders) OR “gender identity”) OR transsexualism) AND ((((“gender-based violence”) OR aggression) OR “sex offenses”) OR rape) AND ((violence OR “domestic violence”)
Scopus PsycINFO	“transgender persons” OR transgenders OR “gender identity” OR transsexualism AND “gender-based violence” OR aggression OR “sex offenses” OR rape AND violence OR “domestic violence”
Embase CINAHL Web of Science	#1“transgender persons” OR transgender OR “gender identity” OR Transsexualism #2: “gender-based Violence” OR aggression OR “sex offenses” OR rape #3: violence OR “domestic Violence” Estratégia: #1 AND #2 AND #3
LILACS	“pessoas transgênero” OR “personas transgénero” OR “transgender persons” OR transgêneros OR transgenders OR “identidade de gênero” OR “identidad de género” OR “gender identity” OR transexualidade OR transexualidad OR Transsexualism AND “violência de gênero” OR “violencia de género” OR “gender-based Violence” OR agressão OR agresión OR aggression OR “delitos sexuais” OR “delitos sexuales” OR “sex offenses” OR estupro OR violación OR rape AND violência OR violencia OR violence OR “violência doméstica” OR “violencia doméstica” OR “domestic Violence” A estratégia de busca foi formulada de acordo com a estratégia PICo (P AND I AND Co) em que: P – Transgender persons OR Transgenders OR Gender identity OR Transsexualism; I – Gender‑based Violence OR Aggression OR Sex offenses OR Rape; Co – Violence OR Domestic Violence.

Autores / Ano / País	Título	Delineamento do estudo / Nível de evidência	Principais resultados
Silva GWS, et al.(¹⁹19 Silva GWS, Souza EFL, Sena RCF, Moura IBL, Sobreira MVS, Miranda FAN. Cases of violence involving transvestites and transsexuals in a northeastern Brazilian city. Rev Gaúcha Enferm. 2016;37(2):e56407. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2016.02.56407 https://doi.org/10.1590/1983-1447.2016.0... ) 2016 Brasil	Situações de violência contra travestis e transexuais em um município do Nordeste Brasileiro	Estudo quantitativo VI	A identidade de gênero leva mulheres transexuais e travestis a sofrerem violências verbal, física, sexual e negligência, inclusive nos serviços de saúde.
Dayton R, et al.(²⁰20 Dayton R, Alvarez B, Morales GJ, Rojas Almonte J, Faccini M, Gomes B, et al. Assessing an inclusive model to increase access to comprehensive gender-based violence response services and improve HIV outcomes in Puerto Plata, Dominican Republic. Cult Health Sex. 2019;22(9):1001-17. https://doi.org/10.1080/13691058.2019.1647556 https://doi.org/10.1080/13691058.2019.16... ) 2020 EUA	Assessing an inclusive model to increase access to comprehensive gender-based violence response services and improve HIV outcomes in Puerto Plata, Dominican Republic	Estudo de métodos mistos V	Mulheres transexuais estão expostas às violências de gênero: físicas, psicológicas, sexuais (muitas vezes, a primeira relação sexual é sob coação e ocorre na adolescência), torturas, tentativa de homicídio, abusos profissionais ou econômicos. A violência de gênero aumenta o risco de contrair HIV.
Salazar LF, et al.(²¹21 Salazar LF, Crosby RA, Jones J, Kota K, Hill B, Masyn KE. Contextual, experiential, and behavioral risk factors associated with HIV status: a descriptive analysis of transgender women residing in Atlanta, Georgia. Int J STD AIDS. 2017;28(11):1059-66. https://doi.org/10.1177/0956462416686722 https://doi.org/10.1177/0956462416686722... ) 2017 EUA	Contextual, experiential, and behavioral risk factors associated with HIV status: a descriptive analysis of transgender women residing in Atlanta, Georgia	Estudo qualitativo VI	As mulheres transexuais, frequentemente, experienciam abusos que podem começar na infância, além de violência por parceiros íntimos, maus-tratos policiais, prisões ou trabalho sexual e estão em maior chance de contrair o HIV; e o mesmo é válido para as que estão desempregadas, as que não frequentam escolas e as que estão em situação de rua.
Kattari SK, et al.(²²22 Kattari SK, Walls NE, Speer SR. Differences in experiences of discrimination in accessing social services among transgender/gender nonconforming individuals by (Dis)Ability. J Soc Work Disabil Rehabil. 2017;16(2):116-40. https://doi.org/10.1080/1536710X.2017.1299661 https://doi.org/10.1080/1536710X.2017.12... ) 2017 EUA	Differences in Experiences of Discrimination in Accessing Social Services Among Transgender/Gender Nonconforming Individuals by (Dis) Ability	Estudo quantitativo VI	Mulheres transexuais portadoras ou não de necessidades especiais, expostas a agressões como estupro, violência grave por parceiro íntimo, abuso verbal e violência física, ao procurarem serviços de referência para violência doméstica, sexual, dependência química, serviços de saúde mental, ainda sofrem discriminação e estigmatização, que pioram a depender de fatores como raça, etnia, cor, origem, escolaridade e necessidades especiais.
Anderson RE, et al.(²³23 Anderson RE, Tarasoff LA, VanKim N, Flanders C. Differences in Rape Acknowledgment and Mental Health Outcomes Across Transgender, Nonbinary, and Cisgender Bisexual Youth. J Interpers Violence. 2021;36(13-14):NP7717-NP7739. https://doi.org/10.1177/0886260519829763 https://doi.org/10.1177/0886260519829763... ) 2019 EUA	Differences in Rape Acknowledgment and Mental Health Outcomes Across Transgender, Nonbinary, and Cisgender Bisexual Youth	Estudo de métodos mistos V	Mulheres trans que vivenciam violências como coerção verbal, contato sexual indesejado e estupro podem sofrer diversos prejuízos à sua saúde mental, como depressão, transtorno do estresse póstraumático e ansiedade.
Swan LET, et al.(²⁴24 Swan LET, Henry RS, Smith ER, Aguayo Arelis A, Rabago Barajas BV, Perrin PB. Discrimination and intimate partner violence victimization and perpetration among a convenience sample of LGBT Individuals in Latin America. J Interpers Violence. 2021;36(15-16):NP8520-NP8537. https://doi.org/10.1177/0886260519844774 https://doi.org/10.1177/0886260519844774... ) 2019 EUA	Discrimination and Intimate Partner Violence Victimization and Perpetration Among a Convenience Sample of LGBT Individuals in Latin America	Estudo quantitativo VI	A violência por parceiros íntimos pode envolver a mulher trans tanto como vítima de agressão verbal, psicológica, física e sexual quanto como perpetradora.
Rahil GJ, eta al.(²⁵25 Rahill GJ, Joshi M, Galea J, Ollis J. Experiences of sexual and gender minorities in an urban enclave of Haiti: despised, beaten, stoned, stabbed, shot and raped. Cult Health Sex. 2020;22(6):690-704. https://doi.org/10.1080/13691058.2019.1628305 https://doi.org/10.1080/13691058.2019.16... ) 2019 EUA	Experiences of sexual and gender minorities in an urban enclave of Haiti: despised, beaten, stoned, stabbed, shot and raped	Estudo qualitativo VI	Mulheres transexuais estão em risco de agressão física, humilhação, apedrejamentos, estupros, estupros coletivos e assassinatos. O contexto social hostil e com vários agressores não lhes permite reação contrária à agressão, o que leva ao potencial risco de lesões e infecção como o HIV; este último ainda é potencializador de mais estigma e diversas violências, inclusive a institucional.
Namaste K.(²⁶26 Namaste K. Genderbashing: sexuality, gender, and the regulation of public space. Environ Plan Soc Space [Internet]. 1996 [cited 2020 Aug 14];14(2):221-40. Available from: https://chisineu.files.wordpress.com/2013/03/genderbashing1.pdf https://chisineu.files.wordpress.com/201... ) 1995 Canadá	Genderbashing: sexuality, gender, and the regulation of public space	Estudo descritivo VI	As mulheres trans, mesmo ao adotarem procedimentos ou comportamentos que as deixem mais femininas, como cirurgias, maquiagens e roupas, ainda estão suscetíveis às agressões verbais, físicas e sexuais nos espaços públicos em decorrência da sua identidade. Além disso, ambientes como prisões são locais potenciais para estupros.
Flores RL.(²⁷27 Leyva-Flores R, Infante C, Gutierrez JP, Quintino-Perez F, Gómez-Saldivar M, Torres-Robles C. Migrants in transit through Mexico to the US: experiences with violence and related factors, 2009-2015. PLoS ONE. 2019;14(8):e0220775. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0220775 https://doi.org/10.1371/journal.pone.022... ) 2016 México	HIV Prevalence Among Central American Migrants in Transit Through Mexico to the USA, 2009–2013	Estudo quantitativo VI	A mulher transexual em processo de migração, além de estar exposta à violência sexual, ainda tem riscos aumentados à contração do HIV por não poder negociar o uso do preservativo.
Ritterbusch AE.(²⁸28 Ritterbusch AE. Mobilities at gunpoint: the geographies of (im)mobility of transgender sex workers in Colombia. Ann Am Assoc Geogr. 2016;106(2):422-33. https://doi.org/10.1080/00045608.2015.1113112 https://doi.org/10.1080/00045608.2015.11... ) 2015 Colômbia	Mobilities at Gunpoint: The Geographies of (Im)mobility of Transgender Sex Workers in Colombia	Estudo qualitativo VI	Além de serem expulsas de suas famílias pelos grupos paramilitares, o êxodo e estabelecimento das mulheres trans em outras cidades são marcados pela violência policial e por situações de espancamentos, estupros, abuso verbal, violência psicológica, trabalho sexual e estigmatização de suas identidades entrelaçadas ao HIV.
Krusi A, et al.(²⁹29 Krüsi A, Ranville F, Gurney L, Lyons T, Shoveller J, Shannon K. Positive sexuality: HIV disclosure, gender, violence and the law: a qualitative study. PLoS ONE. 2018;13(8):e0202776. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0202776 https://doi.org/10.1371/journal.pone.020... ) 2018 Canadá	Positive sexuality: HIV disclosure, gender, violence and the law - DA qualitative study	Estudo qualitativo VI	O duplo estigma em decorrência da identidade de gênero da mulher trans e da presença do HIV contribui para que elas se silenciem diante de violências como o estupro, não obtendo a ajuda necessária e passando por mais dor e sofrimento em suas vidas.
Neisa ASP, Chavarría DD.(³⁰30 Pineda Neisa AS, Durán Chavarría D. Progress and challenges in the Costa Rican penitentiary system on the specific needs of LGBTI persons deprived of liberty. J Criminol Res Policy Pract. 2020;6(3):243-54. https://doi.org/10.1108/JCRPP-02-2020-0024 https://doi.org/10.1108/JCRPP-02-2020-00... ) 2018 Costa Rica	Progress and challenges in the Costa Rican penitentiary system on the specific needs of LGBTI persons deprived of liberty	Estudo qualitativo VI	As mulheres transexuais, por vezes, sofrem abuso policial devido a sua identidade de gênero. E em instituições carcerárias não é diferente, visto que algumas são submetidas às abordagens abusivas devido ao estigma de transportar objetos ilícitos por via retal, além de terem que fazer negociações em troca de favores sexuais ou verem o trabalho sexual como única fonte de renda na prisão.
Wilson E, et al.(³¹31 Wilson E, Pant SB, Comfort M, Ekstrand M. Stigma and HIV risk among Metis in Nepal. Cult Health Sex. 2011;13(3):253-66. https://doi.org/10.1080/13691058.2010.524247 https://doi.org/10.1080/13691058.2010.52... ) 2011 Nepal	Stigma and HIV risk among Metis in Nepal	Estudo qualitativo VI	Para fugir de casamentos culturais forçados (como homens), as Metis, mulheres transexuais nepalesas, fogem de casa e acabam por realizar o trabalho sexual para sobreviver. Além de toda a exposição social à violência, as autoridades policiais não protegem os direitos humanos das Metis e são também perpetradoras tanto da violência sexual como das agressões físicas e perseguições.
Martínez DH-R.(³²32 Martínez DH-R. The other migration: Histories of discrimination of people who lived with HIV in Mexico. Salud Ment [Internet]. 2008 [cited 2020 Aug 14];31(4):253-60. Available from: http://www.scielo.org.mx/pdf/sm/v31n4/v31n4a2.pdf http://www.scielo.org.mx/pdf/sm/v31n4/v3... ) 2008 México	La otra migración: Historias de discriminación de personas que vivieron con VIH en México	Estudo qualitativo VI	As mulheres trans, no México, estão sob preconceito, violência e rejeição desde o âmbito familiar. Além de suscetíveis às violências verbal, física, sexual, extorsões, rejeição e morte, não encontram apoio nem mesmo nos serviços de saúde, assim como, em vez de proteção dos policiais, acabam sendo mais vitimizadas por eles. Também enfrentam estigmatizações ao conviverem com HIV.
Thompson LH.(³³33 Thompson LH, Dutta S, Bhattacharjee P, Leung S, Bhowmik A, Prakash R, et al. Violence and mental health among gender-diverse individuals enrolled in a human immunodeficiency virus program in Karnataka, South India. Transgender Health. 2019;4(1):316-25. https://doi.org/10.1089/trgh.2018.0051 https://doi.org/10.1089/trgh.2018.0051... ) 2019 Canadá	Violence and Mental Health Among Gender-Diverse Individuals Enrolled in a Human Immunodeficiency Virus Program in Karnataka, South India	Estudo quantitativo VI	As mulheres transexuais, na Índia, estão bastante suscetíveis a todo tipo de violência (física, sexual, estigma, trabalho sexual), inclusive por parte de familiares e autoridades, o que acaba sendo fator impeditivo para busca de ajuda e de direitos. Isso acarreta sérios acometimentos mentais, como baixa autoestima, falta de confiança em si mesma, dificuldades para dormir, depressão e suicídio.

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[1] Autor Correspondente: Izabel Cristina Brito da Silva E-mail: izabel.cristinabrito@ufpe.br