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Transições familiares para a situação de sem-teto: uma abordagem qualitativa

RESUMO

Objetivos:

caracterizar as famílias sem-teto utilizadoras de um Balneário Público; identificar os fenômenos/acontecimentos de vida significativos para a transição da família para a condição de sem-teto; compreender a relação entre os acontecimentos de vida significativos; identificar as expectativas para o futuro dos inquiridos.

Métodos:

estudo exploratório, descritivo utilizando a entrevista e a análise temática de conteúdo. A amostra foi constituída pelos usuários de um Balneário Públic.

Resultados:

a doença mental, os fatores de ordem social, pessoal e familiar justificam a transição dos sujeitos para a condição de sem-teto. A ausência total de expectativas, marcadas pela desesperança, alterna com as expectativas futuras assentes na resiliência e na esperança.

Considerações Finais:

relevamos no estudo a autodeterminação expressa em pequenas expressões da narrativa, por um lado, bem como os aspetos ligados à evolução das relações familiares, por outro.

Descritores:
Família; Sem-Teto; Pesquisa Qualitativa; Autodeterminação; Relações Familiares

ABSTRACT

Objectives:

to characterize the homeless families who use a Public Shower Room; identify significant life events/phenomena for the family’s transition to homelessness; understand the relationship between significant life events; identify future expectations of respondents.

Methods:

an exploratory, descriptive study using the interview and thematic content analysis. Sample consisted of public shower room users.

Results:

mental illness, social, personal and family factors justify the transition of subjects to homelessness. The total absence of hopelessness alternates with expectations for the future based on resilience and hope.

Final Considerations:

we highlight in the study the self-determination expressed in small expressions of the narrative, on the one hand, as well as aspects related to the evolution of family relationships, on the other.

Descriptors:
Family; Homeless Persons; Qualitative Research; Self-Determination; Family Dynamics

RESUMEN

Objetivos:

caracterizar las familias sin-hogar, usuarias de un Balneario Publico; identificar los fenómenos/acontecimientos de vida significativos por la transición de la familia para sin-hogar; comprehender la relación entre los acontecimientos de vida significativos; identificar las expectativas por el futuro de los inquiridos.

Métodos:

estudio exploratorio, descriptivo, con recurso a la entrevista y la análisis temática de contenido. La muestra fue constituida por usuarios de un Balneario Publico.

Resultados:

la enfermedad y los factores de orden social, personal y familiar justifican la transición de los sujetos para sin-hogar. La ausencia total de expectativas, marcadas por la desesperanza, alterna con las expectativas futuras asientes en la resiliencia y en la esperanza.

Consideraciones Finales:

relevamos en el estudio la autodeterminación asiente en pequeñas expresiones de la narrativa, así como los aspectos ligados a la evolución de la unidad familiar.

Descriptores:
Familia; Personas en Situación de Calle; Investigación Cualitativa; Autonomía Personal; Relaciones Familiares

INTRODUÇÃO

As políticas internacionais e nacionais direcionam um caminho nem sempre fácil de operacionalizar pelos enfermeiros e demais profissionais de saúde. Como enfermeiros, e partindo de um pensamento global, agimos localmente na procura de respostas viáveis para a população vulnerável(11 Meleis, A. Theoretical nursing: development and progress. 6th ed. Philadelphia: Wolters; 2018. 665 p.) e para o desenvolvimento local e territorial(22 Simões J. 30 Anos Do Serviço Nacional de Saúde, um percurso Comentado. Coimbra: Livraria Almedina; 2010. 658 p.).

O presente estudo enquadra-se em um projeto de extensão universitária, relativo à saúde dos utilizadores dos Balneários Públicos da cidade de Lisboa, projeto que integra as dimensões: investigação, prestação de serviços e ensino. A Universidade Católica Portuguesa visa investigar os problemas da sociedade portuguesa para a promoção dos valores culturais. Neste sentido e no âmbito dos projetos de extensão universitária à comunidade, desenvolveu-se o estudo sobre o diagnóstico de situação de saúde dos utilizadores do Balneário Público de Alcântara(33 Figueiredo AS, Resende A, Rabiais I, Caldeira S, Ferrito C. Users of the Public Bathhouse of Alcântara: health profile diagnosis. Referência. 2016;9(serie IV):107-13. doi: 10.12707/RIV16001
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). Tendo em vista a vulnerabilidade social identificada, a transcendência do fenômeno e os recursos disponíveis, foi instituída uma consulta de enfermagem de saúde mental e comunitária.

Esta consulta teve como objetivos: contribuir para a promoção de estilos de vida saudáveis; identificar problemas de saúde e encaminhar as pessoas, sempre que necessário, para os recursos do sistema de saúde; identificar fatores de risco psicossocial; identificar alterações da saúde mental passíveis de intervenção; contribuir para minimizar o sofrimento psíquico; capacitar os utilizadores para gerirem os seus processos de saúde doença. Não substituindo o preconizado no serviço nacional de saúde, esta consulta pode, contudo, agilizar na rede a procura de melhorres respostas conducentes a ganhos em saúde das pessoas e famílias vulneráveis.

Segundo o diagnóstico de situação de saúde dos utilizadores do Balneário Público de Alcântara, 30 % vivem em condição de sem-teto(33 Figueiredo AS, Resende A, Rabiais I, Caldeira S, Ferrito C. Users of the Public Bathhouse of Alcântara: health profile diagnosis. Referência. 2016;9(serie IV):107-13. doi: 10.12707/RIV16001
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).

A tendência do fenômeno sem-teto em Portugal tem aumentado. Entre 2004 e 2005 existiam 2.717 pessoas em situação de sem-teto(44 Instituto da Segurança Social (PT). Estratégia Nacional para a Integração pessoas sem abrigo. Prevenção, intervenção e acompanhamento 2009-2015. Lisboa: ISS; 2009.). Estima-se que na cidade de Lisboa existam 3.000 pessoas em situação de sem-teto(55 Administração Regional de Saúde (PT). ARSLVT. Perfil de saúde e seus determinantes da Região de Lisboa e Vale do Tejo. Volume 1. Lisboa: ARSLVT; 2015.).

O Plano Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, (2017-2023), define como um dos eixos estratégicos de intervenção a promoção do conhecimento do fenômeno, informação, sensibilização e educação, e como um dos objetivos estratégicos garantir a qualidade das respostas e dos serviços prestados(66 Instituto da Segurança Social (PT). Estratégia Nacional para a Integração pessoas sem abrigo. Lisboa: ISS; 2017.). De acordo com este plano, sem-teto é a pessoa que, independentemente da sua nacionalidade, idade, gênero, condição socioeconômica e condição de saúde física e mental, se encontre sem teto, vivendo no espaço público, alojada em abrigo de emergência ou com paradeiro em local precário, ou sem casa, encontrando-se em alojamento temporário destinado para o efeito(66 Instituto da Segurança Social (PT). Estratégia Nacional para a Integração pessoas sem abrigo. Lisboa: ISS; 2017.).

No documento do Perfil de Saúde e seus determinantes da ARLVT, pode ler-se que sem-teto são todos os que se aproximam do limite da exclusão social porque, apesar de a maior parte ter casa e família, na maioria das vezes, por quebra dos laços familiares, não vive com a família(55 Administração Regional de Saúde (PT). ARSLVT. Perfil de saúde e seus determinantes da Região de Lisboa e Vale do Tejo. Volume 1. Lisboa: ARSLVT; 2015.). Na bibliografia são enumerados uma série de fatores responsáveis para a transição para a condição de sem-teto. Compreender as causas de ser sem-teto deve ser visto dentro de um contexto amplo, uma vez que existem implicações no bem-estar dos indivíduos.

Contextualizamos esta temática no quadro das transições vivenciadas pela pessoa, do tipo situacional, geralmente associada a eventos ou situações que exigem a definição ou redefinição do repertório de papéis da pessoa/família(11 Meleis, A. Theoretical nursing: development and progress. 6th ed. Philadelphia: Wolters; 2018. 665 p.,77 Meleis A. Transitions theory: middle range and situation specific theories in nursing research and practice. New York: Springer Publishing Company. 2010. 641 p.).

O conceito de família, especificado por Figueiredo (2012), em uma perspectiva sistêmica, integra variáveis relacionadas com a autodeterminação da família, caracterizada fundamentalmente por vínculos afetivos. A complexidade do sistema familiar integra ainda dimensões evolutivas e contextuais que lhe conferem um percurso identitário que emerge da reciprocidade dos processos de mútua interação com o ambiente e das características de globalidade, equifinalidade e auto-organização, enquanto sistema autopoiético eco evolutivo(88 Figueiredo MH. Modelo Dinâmico de Avaliação e Intervenção Familiar. uma abordagem colaborativa em enfermagem de familiar. Loures: Lusociência; 2012. 205 p.).

Os fatores que conduzem à situação de sem-teto apontam para questões de natureza individual, familiar e social. As questões de natureza individual remetem-nos para a falta de qualificação, dívidas, problemas de saúde física e mental, como a toxicodependência(99 Fletcher J, Reback C. Mental health disorders among homeless, substance-dependent men who have sex with men. Drug Alcohol Rev. 2017;36(4):555-9. doi: 10.1111/dar.12446
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-1010 Seabra P, Amendoeira J, Sá L. Testing nursing sensitive outcomes in out-patient drug addicts, with "Nursing Role Effectiveness Model", Issues Mental Health Nurs. 2017;39(3):200-7. doi: 10.1080/01612840. 2017.1378783
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) e, ainda, para incapacidades e fatores econômicos, relacionados com o desemprego(1111 Nishio A, Horita R, Sado T, Mizutani S, Watanabe T, Uehara R, et al. Causes of homelessness prevalence: Relationship between homelessness and disability. Psychiatr Clin Neurosci. 2017;71:180-8. doi:10.1111/pcn.12469
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). A doença mental e a incapacidade cognitiva levam ao estigma e a uma maior dificuldade nos relacionamentos humanos, nomeadamente com a família(1111 Nishio A, Horita R, Sado T, Mizutani S, Watanabe T, Uehara R, et al. Causes of homelessness prevalence: Relationship between homelessness and disability. Psychiatr Clin Neurosci. 2017;71:180-8. doi:10.1111/pcn.12469
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12 Stona AC, Berrang C, Santerre H, Georges N, Chimenti R, Kneip R, et al. Homelessness and stakeholders' involvement in the Grand Duchy of Luxembourg: a qualitative study. Health Expect. 2016;19:138-51. doi: 10.1111/hex.12336
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-1313 Fernandes M. Fechados no silêncio. Os Sem Abrigo [Dissertação]. Porto: Universidade Aberta; 2006.). O desemprego, a pobreza e a desadequação de algumas políticas publicas justificam as causas de natureza social(33 Figueiredo AS, Resende A, Rabiais I, Caldeira S, Ferrito C. Users of the Public Bathhouse of Alcântara: health profile diagnosis. Referência. 2016;9(serie IV):107-13. doi: 10.12707/RIV16001
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,1414 Van SB, Rodenburg G, Van der Laan J, Boersma S, Wolf J, Van MD. Self-reported care needs of dutch homeless people with and without a suspected intellectual disability: a 1.5-year follow-up study. Health Soc Care Commun. 2015;25(1):123-36. doi:10.1111/hsc.12287
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).

Atendendo à importância de continuarmos a estudar as populações vulneráveis na edificação de respostas de enfermagem(11 Meleis, A. Theoretical nursing: development and progress. 6th ed. Philadelphia: Wolters; 2018. 665 p.) (Meleis, 2010) e segundo os dados obtidos, em que se verificou que 30% dos utilizadores do Balneário estão em situação de sem-teto(33 Figueiredo AS, Resende A, Rabiais I, Caldeira S, Ferrito C. Users of the Public Bathhouse of Alcântara: health profile diagnosis. Referência. 2016;9(serie IV):107-13. doi: 10.12707/RIV16001
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), surge o projeto de investigação que visa compreender as causas de ser sem-teto e os fenômenos/acontecimentos de transição da pessoa/família para essa condição.

OBJETIVOS

Caracterizar as famílias sem-teto utilizadoras de um Balneário Público; identificar os fenômenos/acontecimentos de vida significativos para a transição da família para a condição de sem-teto; compreender a relação entre os acontecimentos de vida significativos; identificar as expectativas para o futuro dos inquiridos.

MÉTODOS

Aspetos éticos

O Projeto foi aprovado pela Comissão de Ética para a Saúde da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (Parecer nº 8030/CES/2018), tendo sido salvaguardado o anonimato e a confidencialidade dos dados e a destruição dos mesmos, de acordo com a legislação em vigor. Os investigadores, especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica e Enfermagem Comunitária, dominam a comunicação complexa especializada pelo que, em nenhuma situação, se fragilizaram os intervenientes nesta investigação.

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de natureza qualitativa.

Referencial teórico-metodológico

O referencial metodológico enquadra-se no paradigma qualitativo e naturalista, que tem como caracteristicas básicas a realização da pesquisa em ambiente natural e o pesquisador como principal instrumento(1515 Bogdan R, Biklen SK. Investigação qualitativa em educação: uma Introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora; 2013. 336 p.).

Procedimentos metodológicos

A amostra de conveniência foi constituída pelos utentes de um Balneário Público da cidade de Lisboa de acordo com os critérios de inclusão: ter mais de 18 anos, estar em situação de sem-teto e aceder a participar no estudo. A coleta de dados foi realizada no período compreendido entre agosto e setembro de 2018.

Cenário do estudo

O cenário foram os Balneários Públicos da cidade de Lisboa.

Fonte de dados

Os dados foram coletados através de entrevistas, gravadas em áudio, transcritas pelos investigadores e sujeitas à validação interna dos próprios, com recurso à técnica da entrevista semiestruturada em profundidade, de acordo com roteiro previamente elaborado com questões que dão resposta aos objetivos propostos.

Análise de dados

Os participantes exprimiram os seus pensamentos e vivências, obtendo-se um corpus da narrativa que, posteriormente, foi submetido à análise temática de conteúdo, sendo organizados em categorias principais e subcategorias segundo Bogdan e Bicklan(1515 Bogdan R, Biklen SK. Investigação qualitativa em educação: uma Introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora; 2013. 336 p.).

RESULTADOS

As dimensões de análise foram definidas de acordo com os objetivos. A partir das leituras sucessivas das entrevistas pelos investigadores, foram identificadas categorias principais e sub-categorias(1515 Bogdan R, Biklen SK. Investigação qualitativa em educação: uma Introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora; 2013. 336 p.), na sequência da redução de dados, que se harmonizam em uma matriz de análise no Quadro 1 e conduzem a apresentação dos resultados.

Quadro 1
Matriz de análise, Lisboa, Portugal, 2018

Na exploração das dimensões assinaladas, emergiram cinco categorias principais: fatores pessoais/familiares, fatores sociais, doença mental, expetativas futuras e sem expetativas futuras. Estas categorias principais decompõem-se em subcategorias (Quadro 1).

Caraterização dos sujeitos

Dos 13 entrevistados, 69% são do gênero masculino e 31% gênero feminino. A média de idades é de 44 anos, a idade mínima é de 26 anos e a máxima de 70 anos. No que diz respeito à escolaridade, 40% possuem o ensino primário, 30% concluíram o secundário, 10% possuem uma licenciatura e 20% não sabem ler e nem escrever.

Do mesmo total, 70 % são solteiros, 15% casados e 15% divorciados. Maioritariamente são de nacionalidade portuguesa com 50%, seguido de 20% com nacionalidade de paises africanos, 20 com nacionalidade romena e 10% de nacionalidade francesa.

No que concerne à situação laboral, 79,6% estão desempregados, 7,7% reformados e, com igual valor percentual, encontramos sujeitos sem contrato de trabalho e a cumprir pena suspensa. 50% dos sujeitos da investigação frequentam o Balneário Público há menos de 1 ano, 30% há mais de 4 anos e 20% há 2 anos. Em média, os nossos sujeitos vivem na rua há 4,6 anos. Encontramos situações mínimas de 1 mês em situação de sem-teto e máximas de 30 anos a viver nessa condição.

No que diz respeito à tipologia de família, 69% dos sujeitos constituem famílias unipessoais e 31% vivem em casal heterossexual.

Em síntese, os sujeitos da amostra são maioritariamente do gênero masculino, encontram-se na fase ativa, são solteiros e de nacionalidade portuguesa. A maioria está em situação de desemprego, é utilizadora do Balneário há menos de 1 ano e, em média, vive em condição de sem-teto há mais de 4 anos. Maioritariamente vivem sozinhos, e um terço, em casal.

Fenômenos/acontecimentos de vida significativos para a transição da fam ília para a situação de s em-teto

Na primeira dimensão de análise, a categoria principal - fatores pessoais/familiares decompõem-se em quatro subcategorias de acordo com o que se apresenta de seguida.

A autonomia/independência que nas palavras dum sujeito justificam que a ausência de autonomia e independência pessoal fragilizam a pessoa.

[...] o meu património da Pontinha ficou todo incendiado e no Alentejo! A minha cunhada, do meu irmão que Deus tem, roubou-me tudo. (E1)

A gestão do comportamento/conflitos comprometidos justificam um dos mais frequentes acontecimentos de vida promotor da transição para a condição de sem-teto.

Sim, morava na casa da minha irmã, o meu sobrinho confrontou-me, eu não queria bater nele e por isso saí da casa deles. (E2)

A perda e o luto são acontecimentos de vida que, não ultrapassados por via da incapacidade individual ou familiar, norteiam muitas vezes também aquela condição e o coping ineficaz.

O meu irmão morreu quando eu estava no hospital, e não pude ir ao funeral. (E1)

O acontecimento que me levou a estar nesta situação de rua, foi em primeiro lugar a minha adição. (E5)

Nesta mesma dimensão, a categoria - fatores sociais decompõe-se, por sua vez, em três subcategorias.

Os fenômenos e acontecimentos de vida de natureza laboral justificam a condição de sem-teto.

Estou desempregada! Só tenho o R.S.I., 180€, que não chega para viver [...] não consigo subsistir. (E13)

A natureza jurídica é outra subcategoria que alimenta a categoria fatores sociais, como podemos ver no registo deste sujeito.

Foi a Juíza, ela não me deixou ir trabalhar! Estou em pena suspensa, nunca estive preso! Ela apreendeu-me os documentos todos. (E4)

A dependência de outros subscreve igualmente a mesma categoria, como podemos ver nas palavras de outro sujeito da investigação.

Vivia com o meu companheiro, mais velho, mas ele maltratou-me e como a casa era dele, e eu estou desempregada [...] tive que vir para a rua. (E13)

Em síntese, na transição da família para situação de sem-teto, os dados sugerem, nos fatores de ordem pessoal e familiar, a perda de autonomia, a dificuldade em gerir conflitos, a vivência de perdas e estratégias de resposta perante dificuldades ineficazes. Nos fatores sociais, os fenômenos de natureza laboral, jurídica e a dependência dos outros justificam a transição para a condição de sem-teto.

Relação entre os acontecimentos de vida e a condição de sem-teto

Na segunda dimensão de análise, relação entre os acontecimentos de vida significativos e a condição de sem-teto, a categoria principal, doença mental, divide-se em duas subcategorias: Dificuldade em gerir conflitos (expressa pela narrativa que caracteriza a descapacitação dos sujeitos para o fazer) e Vivência com Comportamentos Aditivos, como se lê:

Em sequência de um problema que tive com a minha irmã. Eu vivia com ela e ela abria todas as cartas que chegavam da segurança social, do desemprego [...] havia aí qualquer coisa que não estava a bater certo! E tive que me afastar [...] já vai fazer aí uns 2 anos! Desde essa altura que estou na rua. (E6)

Nestes últimos 5 anos bebi mais do que em toda a minha vida. Não consigo dormir! Podia pedir ajuda, mas não quero [...] nós no Minho somos muito orgulhosos [...] e quando fazemos alguma coisa mal, temos que pagar! (E4)

Em síntese, a doença mental, a dificuldade em gerir conflitos e os comportamentos aditivos parecem pautar a relação entre os acontecimentos de vida e a condição de sem-teto.

Expetativas para o futuro

Na terceira e última dimensão de análise, expetativas para o futuro, encontramos duas categorias principais expetativas futuras e sem expectativas que, por sua vez, se dividem em subcategorias. A categoria expetativas futuras divide-se em duas subcategorias:

A resiliência, marcada pelo discurso resistente de um sujeito:

[...] tenho a convicção de que é uma fase e que a gente podemos transpor! Tenho uma força interior e vou conseguir! (E6)

A esperança, expressa no seguinte discurso:

Enquanto eu acordar de manhã e o sol brilhar, mesmo que faça chuva, está tudo bem…é porque há esperança ainda! E isso eu não perco, a esperança! (E5)

A segunda categoria principal, sem expectativas, subdivide-se em:

Locus controle externo, numa narrativa exterior ao indivíduo

É difícil! A minha assistente social não consegue arranjar nada, tudo cheio! Só a Vitae, e não quero! Estou a tentar! (E13)

A desesperança, em palavras que nos remetem para situações de bloqueio em que os sujeitos não vislumbram qualquer tipo de saída.

Não tenho futuro, não tenho nada! Está, como diz o outro, não tenho perspectivas! Findou! (E1)

Há, na realidade, um achado nas expetativas para o futuro ligado à autodeterminação pessoal, expressa nas narrativas, assim como aspetos ligados à reorganização das relações familiares.

Em síntese, as expectativas para o futuro, nas palavras dos sujeitos, alternam entre a ausência total de expectativas, marcadas sobretudo pela desesperança e as expectativas futuras assentes na resiliência e na esperança.

DISCUSSÃO

No presente estudo, verificamos que na transição da família para a situação de sem-teto estão envolvidos fatores de ordem pessoal/familiar e de ordem social. Tal evidência tem surgido em outros estudos, que apontam que esta transição começa com uma combinação de crises, como a separação, o divórcio ou a morte de um dos pais ou cuidador(1616 Anthony ER, Aviva Vincent A, Shin Y. Parenting and child experiences in shelter: A qualitative study exploring the effect of homelessness on the parent-child relationship. Child Fam Soc Work. 2018;23:8-15. doi: 10.1111/cfs.12376
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). Outros acontecimentos eventualmente despoletadores desta transição e ainda de ordem social são: a perda de emprego do “chefe da família” e o declínio do rendimento familiar, a perda do sistema de suporte parental de longa duração e o aumento do conflito familiar(1717 Haskett ME, Armstrong J, Neal SC, Aldianto K. Perceptions of Triple P-Positive Parenting Program Seminars among Parents Experiencing Homelessness. J Child Fam Stud. 2018;27:1957-1967. doi: 10.1007/s10826-018-1016-5
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).

Na perspetiva das subcategorias autonomia, gestão de conflitos, perdas e luto, estes sujeitos estarão próximos de famílias com relações tênues com os seus próprios pais e irmãos desde a adolescência, de vivência na infância com apenas um dos elementos do par parental, com os avós ou outros parentes. Todos estes fatores que emergem dos relatos marcam significamente a vida destas pessoas com repercursões profundas na sua estrutura de personalidade, no seu bem-estar e enfrentamento ao longo da vida. Percebe-se, na história das pessoas, que mais tarde surgem fenômenos ligados ao sofrimento mental. Há, neste estudo, como em outros, uma relação clara entre a doença mental, que alimenta a dificuldade em gerir conflitos e os comportamentos aditivos(33 Figueiredo AS, Resende A, Rabiais I, Caldeira S, Ferrito C. Users of the Public Bathhouse of Alcântara: health profile diagnosis. Referência. 2016;9(serie IV):107-13. doi: 10.12707/RIV16001
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,1818 Seabra P, Medeiros-Garcia M, Lourenço M, Mendes, Figueiredo AS. O banho público. a satisfação das necessidades básicas em pessoas com perturbação mental. Cidade Solidária Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. 2017;38:76-83.-1919 Figueiredo AS, Seabra P, Sarreira AS, Vollrath A, Garcia LM, Vidal TN, et al. Nursing Consultation in a Public Bathhouse: a community resource for the vulnerable population in a European Capital. Issues Mental Health Nurs. 2018;2(1-5):1096-4673. doi: 10.1080/01612840.2018.1496209
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). Pela prevalência, a doença mental e os fatores subjacentes à mesma, de natureza individual, familiar e social, parecem ser os fatores que melhor justificam a transição situacional(11 Meleis, A. Theoretical nursing: development and progress. 6th ed. Philadelphia: Wolters; 2018. 665 p.,77 Meleis A. Transitions theory: middle range and situation specific theories in nursing research and practice. New York: Springer Publishing Company. 2010. 641 p.) da família para a situação de sem-teto.

Há associação entre a doença mental e a condição de sem-teto. Relativamente aos comportamentos aditivos, considera-se o alcoolismo uma doença crónica com efeitos previsíveis de degradação do bem-estar(1818 Seabra P, Medeiros-Garcia M, Lourenço M, Mendes, Figueiredo AS. O banho público. a satisfação das necessidades básicas em pessoas com perturbação mental. Cidade Solidária Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. 2017;38:76-83.).

Pelas condições em que vivem, encontramos pessoas sem expetativas para o futuro, em desesperança(2020 Cosgrove L, Flynn C. Marginalized mothers: parenting without a home. Analyses Soc Iss Publ Pol. 2005;5(1):127-43. doi: 10.1111/j.1530-2415.2005.00059.x
https://doi.org/10.1111/j.1530-2415.2005...
-2121 Sylvestre J, Kerman N, Polillo A, Lee CM, Aubry T, Czechowski C. A qualitative study of the pathways into and impacts of family homelessness. J Fam Issues. 2018;39(8):2265-85. doi: 10.1177/0192513X17746709
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). Encontramos também um conjunto de pessoas que norteia a vida com expetativas futuras assentes na resiliência e na esperança. Estas expetativas foram também reveladas em investigações norteamericanas, onde os participantes referem retirar partido da situação, por experienciarem o encontro de culturas e de uma nova expressão das dimensões familiares, bem como a oportunidade de aprendizagem(2020 Cosgrove L, Flynn C. Marginalized mothers: parenting without a home. Analyses Soc Iss Publ Pol. 2005;5(1):127-43. doi: 10.1111/j.1530-2415.2005.00059.x
https://doi.org/10.1111/j.1530-2415.2005...

21 Sylvestre J, Kerman N, Polillo A, Lee CM, Aubry T, Czechowski C. A qualitative study of the pathways into and impacts of family homelessness. J Fam Issues. 2018;39(8):2265-85. doi: 10.1177/0192513X17746709
https://doi.org/10.1177/0192513X17746709...
-2222 Kendal H, Sharde' M, and Lenore M, McWey. "It's a struggle but I can do it. I'm doing it for me and my kids": the psychosocial characteristics and life experiences of at-risk homeless parents in transitional housing. J Marital Fam Ther. 2015;41(2):177-191. doi: 10.1111/jmft.12050
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).

A literatura tem evidenciado que muitas das pessoas que se deslocam de um país para outro, mesmo em situações de grande dificuldade de adaptação e com comportamentos desadaptados inerentes à sua situação, sem-teto, demonstram potencial de resiliência, de esperança e do coping que as faz não desistir e resistir às dificuldades, o que também se verifica com alguns dos participantes neste estudo(2323 Goodman R, Vesely C, Letiecq B. & Cleaveland C. Trauma and resilience among refugee and undocumented immigrant women. J Couns Dev. 2017;95:309-321. doi: 10.1002/jcad.12145
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).

Existem ainda algumas famílias que perspectivam o seu futuro com autodeterminação, expressando que a dimensão evolutiva da família se mantém, apesar da condição de sem-teto reforçando as práticas familiares e o fortalecimento do capital social com recurso a estruturas sociais do sistema e do serviço nacional de saúde, à semelhança de resultados de outros estudos(2121 Sylvestre J, Kerman N, Polillo A, Lee CM, Aubry T, Czechowski C. A qualitative study of the pathways into and impacts of family homelessness. J Fam Issues. 2018;39(8):2265-85. doi: 10.1177/0192513X17746709
https://doi.org/10.1177/0192513X17746709...
-2222 Kendal H, Sharde' M, and Lenore M, McWey. "It's a struggle but I can do it. I'm doing it for me and my kids": the psychosocial characteristics and life experiences of at-risk homeless parents in transitional housing. J Marital Fam Ther. 2015;41(2):177-191. doi: 10.1111/jmft.12050
https://doi.org/10.1111/jmft.12050...
).

A crise das famílias é complexa pelo que requer, dos profissionais de saúde, perícia nas respostas, uma vez que as pessoas não possuem controle das ações e pensamentos dos sujeitos(1919 Figueiredo AS, Seabra P, Sarreira AS, Vollrath A, Garcia LM, Vidal TN, et al. Nursing Consultation in a Public Bathhouse: a community resource for the vulnerable population in a European Capital. Issues Mental Health Nurs. 2018;2(1-5):1096-4673. doi: 10.1080/01612840.2018.1496209
https://doi.org/10.1080/01612840.2018.14...
).

Limitações do estudo

Consideramos como limitações do estudo, o fato de os dados terem sido recolhidos apenas em um recurso comunitário.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

O presente estudo permite uma maior compreensão do fenômeno viver em situação de sem-teto, nomeadamente na identificação das causas, e expetativas desta população, o que pode contribuir para a definição de estratégias de intervenção em resposta às necessidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os sujeitos do nosso estudo são maioritariamente do gênero masculino, encontram-se na fase ativa, mas a maioria está em situação de desemprego. São solteiros e de nacionalidade portuguesa. São utilizadores do Balneário há menos de 1 ano e, em média, vivem em condição de sem-teto há mais de 4 anos. Maioritariamente vivem sozinhos, mas um terço vive com companheiro.

Os resultados do estudo são sobreponíveis aos demais estudos encontrados, nomeadamente, no que diz respeito aos acontecimentos de vida significativos para a transição da família para a situação de sem-teto, onde se evidenciam os fatores de ordem social (como o desemprego, pena suspensa), de ordem pessoal e familiar (como conflitos familiares, perda de autonomia e doença mental).

As expectativas para o futuro expressam-se na desesperança, que marca a ausência total de expectativas, e na esperança, assente em fatores de resiliência.

Para lá das categorias identificadas, verifica-se, no discurso dos participantes do estudo, que as relações familiares, em contexto de sem-teto, reorganizam-se, uma vez que alguns sujeitos reconstituem uma nova família ao partilharem o seu dia a dia com um novo companheiro(a).

  • FOMENTO
    Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto « Public Bathhouse Nursing » que integra a Nursing Research Platform (Lisboa) do Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde da Universidade Católica Portuguesa.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Hugo Fernandes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    24 Jul 2019
  • Aceito
    02 Dez 2019
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