Guia sobre Sistematização da Assistência e Processo de Enfermagem: tecnologia educacional para a prática profissional

RESUMO

Objetivo:

elaborar e validar o conteúdo de uma tecnologia educacional do tipo guia digital sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem e Processo de Enfermagem.

Métodos:

pesquisa aplicada de desenvolvimento tecnológico, desenvolvida entre 2020 e 2021, em três etapas. Primeiramente, foi realizada uma revisão de escopo, para elaboração do conteúdo. Na segunda etapa, foi validado o conteúdo com 46 juízes enfermeiros selecionados por conveniência. O critério mínimo de concordância entre os juízes foi de 80%. A terceira etapa consistiu na organização e diagramação do conteúdo.

Resultados:

o conteúdo do guia foi elaborado a partir das legislações do Conselho Federal de Enfermagem, artigos científicos e livros textos. O conteúdo foi considerado adequado, pertinente e organizado pelos juízes.

Considerações finais:

o guia digital é uma alternativa que pode contribuir para a execução e implementação do PE, embasando o planejamento e a implementação de ações para a qualidade da assistência.

Descritores:
Processo de Enfermagem; Tecnologia Educacional; Prática Profissional; Registros de Enfermagem; Terminologia Padronizada em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to elaborate and validate the content of a digital guide educational technology on Systematization of Nursing Care and Nursing Process.

Methods:

applied research of technological development, developed between 2020 and 2021, in three steps. First, a scoping review was carried out to elaborate the content. In the second step, the content was validated with 46 nurse judges selected for convenience. The minimum criterion of agreement among judges was 80%. The third step consisted of content organization and layout.

Results:

the guide content was elaborated from the Federal Nursing Council legislation, scientific articles and textbooks. Content was considered appropriate, relevant and organized by judges.

Final considerations:

the digital guide is an alternative that can contribute to the NP execution and implementation, supporting the planning and implementation of actions for quality of care.

Descriptors:
Nursing Process; Educational Technology; Professional Practice; Nursing Records; Standardized Nursing Terminology

RESUMEN

Objetivo:

desarrollar y validar el contenido de una tecnología educativa como guía digital sobre Sistematización de la Atención de Enfermería y del Proceso de Enfermería.

Métodos:

investigación aplicada de desarrollo tecnológico, desarrollada entre 2020 y 2021, en tres etapas. En primer lugar, se realizó una revisión de alcance para elaborar el contenido. En la segunda etapa, se validó el contenido con 46 jueces de enfermería seleccionados por conveniencia. El criterio mínimo de acuerdo entre los jueces fue del 80%. La tercera etapa consistió en la organización y maquetación del contenido.

Resultados:

el contenido de la guía fue elaborado a partir de la legislación del Consejo Federal de Enfermería, artículos científicos y libros de texto. El contenido fue considerado adecuado, pertinente y organizado por los jueces.

Consideraciones finales:

la guía digital es una alternativa que puede contribuir a la ejecución e implementación del PE, apoyando la planificación e implementación de acciones para la calidad de la atención.

Descriptores:
Proceso de Enfermería; Tecnología Educacional; Práctica Profesional; Registros de Enfermería; Terminología de Enfermería Estandarizada

INTRODUÇÃO

Os termos Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e Processo de Enfermagem (PE) ainda são tratados como sinônimos em diversas publicações brasileiras, o que contribui para a falta de consenso desses dois conceitos fundamentais para a prática da enfermagem, repercutindo diretamente na formação da identidade profissional(¹). Além disso, a literatura publicada sobre SAE traz uma diversidade de conceitos, gerando conflitos ideológicos ao entendimento da prática de enfermagem, ao ensino das teorias de enfermagem, do PE e dos métodos de assistência(²-³).

Por outro lado, a Resolução nº 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) aponta que a SAE parece ser um conceito mais amplo e diferente do PE. Essa resolução afirma que a SAE “organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, tornando possível a operacionalização do PE” e define PE como “um instrumento metodológico que orienta o cuidado profissional de enfermagem e a documentação da prática profissional”(⁴).

Observa-se uma dificuldade de uso do PE no cotidiano da equipe de enfermagem como um método bem compreendido e aplicável. Estudos apontam que fatores individuais e gerenciais podem afetar a implementação desse método. Dentre os fatores individuais, destaca-se a falta de conhecimento do conceito de PE. O pouco conhecimento também se mostrou fortemente ligado à falta de desejo dos enfermeiros de implementar o PE na prática clínica. Os fatores gerenciais identificados foram a escassez ou ausência de infraestrutura, o sistema de documentação incompleto, a elevada carga de trabalho da enfermagem, a escassez de recursos humanos, a deficiência de treinamento em serviço, dentre outros fatores(⁵-⁶). Ainda, a falta de conhecimento teórico, de habilidades e de atitudes em relação à aplicação do PE também é uma das barreiras na realização do PE no ambiente clínico(⁷).

Embora os enfermeiros reconheçam a importância de uma prática sistematizada e deliberada, um estudo realizado em 19 hospitais de Portugal sobre a implementação do PE mostrou que na prática ainda mantêm atitudes focadas no cuidado de sinais e sintomas(⁸). Assim, a persistência de práticas direcionadas para a reprodução de procedimentos de rotina e tradições reforça a necessidade de enfatizar a adoção de procedimentos sistematizados no contexto assistencial.

A implementação do PE no Reino Unido foi capaz de sanar a maioria dos problemas assistenciais, reduzindo as insatisfações dos clientes quanto aos cuidados de enfermagem decorrentes da abordagem orientada à tarefa, com falta de atendimento individualizado e da natureza superficial da comunicação enfermeiro-paciente, além do baixo nível de satisfação no trabalho dos enfermeiros(⁵).

No Brasil, estudo em 416 setores de 40 hospitais e ambulatórios do estado de São Paulo, que teve por objetivo identificar a prevalência de documentação do PE, demonstrou que, em 89,9% dos setores, os enfermeiros documentam apenas uma fase do PE, e em 5,8%, não fazem nenhuma documentação do PE, nem mesmo as anotações de enfermagem. Os ambulatórios, apoio diagnóstico, centro cirúrgico e centro obstétrico são os setores onde os enfermeiros menos documentaram(⁹).

Para acadêmicos, estudantes e enfermeiros envolvidos diretamente no cuidado, as evidências dos mencionados estudos sobre os problemas de documentação parecem confirmar o desafio que se apresenta com a implementação do PE. Esse desafio se torna crítico ao se reconhecer que o registro do mesmo, quando documentado com linguagens de enfermagem padronizadas, possibilita uma melhor avaliação do paciente, definição mais acurada dos diagnósticos de enfermagem e das intervenções de enfermagem(¹⁰).

Todos esses fatores impeditivos e dificuldades apresentadas demonstram a importância de estudos que busquem minimizar fatores que dificultam a implementação e realização cotidiana do PE(⁸), uma vez que a qualidade da assistência está diretamente relacionada às atitudes e aos saberes dos enfermeiros ao diagnosticar, planejar e implementar a assistência de enfermagem(¹¹).

Apesar das várias estratégias utilizadas pelos órgãos de classe e instituições de ensino, é notável a existência de uma lacuna entre o conhecimento produzido sobre os conceitos de SAE e de PE e a sua aplicabilidade na prática clínica. Assim, a produção de um guia digital se justifica como uma tecnologia educacional para gerar novas compreensões que resultem em transformações nas práticas e nos contextos de trabalho da enfermagem, além de ser fácil de ser disponibilizada e consultada no formato digital.

OBJETIVO

Elaborar e validar o conteúdo de uma tecnologia educacional do tipo guia digital sobre SAE e PE.

MÉTODOS

Aspectos éticos

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Os participantes receberam informações a respeito do objetivo e dos procedimentos do estudo, e foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da coleta de dados.

Tipo de estudo

Pesquisa aplicada de desenvolvimento tecnológico, que seguiu os critérios estabelecidos no Standards for reporting qualitative research: a synthesis of recommendations (SRQR).

Procedimentos metodológicos

Pesquisa realizada 2020 e 2021, que seguiu três etapas: 1) elaboração do conteúdo teórico do guia; 2) validação de conteúdo; e 3) diagramação do guia.

Para elaboração do conteúdo, foi realizada uma revisão de escopo(¹²). Assim, os autores selecionaram como perguntas para a revisão: o que é SAE? O que é PE? Quais as estratégias podem ser utilizadas para implantação do PE?

Os critérios de elegibilidade utilizados na seleção dos estudos foram artigos científicos (em inglês, português ou espanhol e disponíveis na íntegra), livros textos e legislações sobre SAE e PE, dimensionamento do pessoal de enfermagem, teorias de enfermagem, conceitos e aplicação do PE, instrumentos e registros de enfermagem, sem restrição de modalidade ou metodologia, publicados no período de 2002 a 2021. O marco temporal inicial de 2002 coincide com a publicação de normativa que dispôs, pela primeira vez, no Brasil, sobre a obrigatoriedade da implementação e documentação da SAE: a Resolução COFEn nº 272/2002.

As fontes consultadas foram os websites de regulamentação profissional, Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem do Brasil e dos estados brasileiros, além das bases bibliográficas: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Base de Dados de Enfermagem (BDENF); Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde (IBECS); Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE); Cumulative Index to Nursing and Allied (CINAHL); Portal CAPES de teses e dissertações; e bibliotecas Cochrane e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Para a busca eletrônica, foram utilizadas as ferramentas das mencionadas bases, bibliotecas e portais. Também foi realizada busca por meio da ferramenta Google Scholar para material referente à literatura cinzenta.

Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) selecionados, relacionados com a aplicabilidade, conceito e ensino do PE, foram: Processo de Enfermagem; Legislação de Enfermagem; Educação em Enfermagem, Terminologia Padronizada em Enfermagem; Teoria de Enfermagem; Diagnóstico de Enfermagem; Educação Continuada, Registros de Enfermagem. Para a estratégia de busca, foram usados os termos booleanos AND, OR e NOT para compor as chaves de busca a serem utilizadas para buscas nas bases de dados. Para complementar a busca de atributos na literatura, também se utilizaram as referências bibliográficas citadas nas publicações selecionadas.

Dois autores realizaram a leitura crítica das publicações, selecionadas para identificar e caracterizar distinções entre os conceitos de SAE e PE, identificar elementos do PE que possam subsidiar a sua aplicação na prática de enfermagem e verificar elementos operacionais do PE e SAE essenciais à sua implementação. Essa leitura incluiu julgamento sobre a consistência da argumentação e fidedignidade do conteúdo das publicações, que foram consideradas, para a produção do guia, em consonância com as diretivas regulamentares contidas na Resolução COFEn nº 358/2009.

A partir da revisão de escopo, foi organizado um material piloto que foi avaliado e corrigido por quatro enfermeiras com expertise na área de PE. Após realizar os ajustes, passou-se para a segunda etapa.

Na segunda etapa para validação de conteúdo do guia digital, foram selecionados, por conveniência, 147 enfermeiros das áreas assistencial, gerencial e de ensino. Após a seleção dos enfermeiros, foi enviada uma carta convite por correio eletrônico com as informações a respeito do objetivo, procedimentos e instrumentos a serem preenchidos.

A coleta de dados foi realizada por meio da ferramenta eletrônica Google Forms^®, com instrumento de duas seções: 1) caracterização dos juízes; 2) versão preliminar do guia, ainda sem diagramação final, para validação dos seguintes itens: capacidade de expressar o conteúdo; organização (ordem) do conteúdo; pertinência sobre a temática; adequação da linguagem; adequação e esclarecimento das imagens; organização, sequência e estrutura.

Os autores estabeleceram como critério de adequação a obtenção de, no mínimo, 80% de concordância entre os juízes, sendo que as situações onde o índice de concordância fosse inferior a 80% seriam reformuladas, acatando as sugestões(¹³).

Para a etapa de diagramação, foi contratada uma equipe de designers, que trabalhou juntamente com os pesquisadores.

RESULTADOS

A partir da busca na literatura, o conteúdo do guia sobre SAE e PE foi elaborado conforme o disposto nas legislações COFEn acerca do PE. Assim, 47 artigos científicos foram capturados nas bases de dados, além de 24 livros textos sobre SAE e PE, dimensionamento do pessoal, teorias e classificações de enfermagem, conceitos e aplicação do PE, instrumentos para coleta de dados e documentação da assistência

O guia digital possui 45 páginas, sendo composto por três partes: Definindo conceitos; O Processo de Enfermagem; e Estratégias para a implantação do PE. A primeira parte aborda os tópicos: O que é SAE; Métodos de trabalho; Dimensionamento e Desenvolvimento de pessoal; e Instrumentos. A segunda trata dos aspectos do PE: etapas do processo, registro, uso das classificações: Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE^®); NANDA International (NANDA-I); Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC); e Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC); e a terceira aborda estratégias para implementação do PE. Além do conteúdo textual, foram elaboradas 32 ilustrações, que buscam exemplificar, reforçar e autoexplicar o conteúdo pertinente.

A validação de conteúdo contou com a participação de 46 (quarenta e seis) enfermeiros de vários estados do país, sendo a maioria das regiões Sul e Sudeste, com idades variando entre 27 (vinte e sete) a 69 (sessenta e nove anos). O tempo de formação profissional variou entre 1 (um) e 47 (quarenta e sete) anos. Em relação à titulação, 41,3% possuíam mestrado, 45,7%, especialização e 13%, doutorado.

Na validação de conteúdo do guia digital, em relação ao quesito capacidade de expressar o conteúdo, a concordância dos especialistas foi de 94,6%; no item organização (ordem) do conteúdo, de 94,4%; na pertinência sobre a temática, de 94,6%; na adequação da linguagem, de 97,2%; na adequação e no esclarecimento das imagens, de 93,8%; e na organização, sequência e estrutura, de 95,8%. O índice de concordância global foi 95,06%.

Na etapa da diagramação, os conteúdos escritos e figuras foram reorganizados nas páginas de apresentação, e configurados no formato de um guia digital, de forma que também atendesse à necessidade de quem deseja imprimir o material.

A capa e todo o layout de cabeçalho e rodapé foram elaborados pela diagramadora. A inserção dos conteúdos nas páginas recorreu ao uso de quadros que destacam alguns trechos que resumem as ideias centrais dos temas abordados. As figuras foram cuidadosamente dispostas, destacando sua importância e função de compor o conteúdo. As telas foram avaliadas e reformuladas pelos autores juntamente com a diagramadora.

Antes de iniciar o conteúdo didático, o guia traz uma breve apresentação e sumário, no qual o leitor pode conhecer o conteúdo abordado e guiar sua busca por um tema específico, conforme Figura 1.

Figura 1
Capa, apresentação e sumário do guia, Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2021

Na primeira parte, o guia apresenta a distinção entre SAE e PE, destacando os atributos diferenciadores dos conceitos, uma vez que entender a diferença entre eles é um conhecimento importante à equipe de enfermagem, pois ainda não é de domínio de toda a categoria profissional (Figura 2).

Figura 2
Parte 1 do guia: Definindo conceitos, Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2021

A parte 2 do guia está inteiramente dedicada ao PE, abordando a definição constitutiva do conceito e enfatizando suas etapas de cunho operacional. Para facilitar a compreensão, além da definição de cada uma das etapas, utilizaram-se também figuras que representam essa dinâmica e relação das etapas, que não ocorrem de forma linear, mas seguem todo um raciocínio que favorece a sua efetividade. O aspecto legal e a importância da sistematização da consulta de enfermagem também foram abordados, trazendo suas principais características de forma clara e sucinta. O guia exemplifica e apresenta algumas das teorias de enfermagem mais conhecidas e utilizadas no Brasil (Figura 3).

Figura 3
Parte 2 do guia: O Processo de Enfermagem, Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2021

O guia trata da importância e aspectos legais dos registros de enfermagem, apresentando a distinção conceitual entre anotações e evolução de enfermagem, bem como os elementos obrigatórios para registro. Na sequência, o guia aborda os sistemas de linguagens padronizadas de enfermagem utilizados em cada etapa do PE, abordando a estrutura e forma de aplicação das classificações NANDA-I, NOC, NIC e CIPE®.

A parte 3 do guia traz dois relatos sobre as experiências de hospitais na implementação da SAE e PE, mostrando algumas das estratégias e recursos disponíveis, e depois são apresentadas as referências utilizadas, conforme Figura 4.

Figura 4
Parte 3 do guia: Estratégias para a implantação do Processo de Enfermagem, Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2021

DISCUSSÃO

Na primeira parte, o guia apresenta a distinção entre SAE e PE, sendo comum encontrar na prática e em publicações que tratam o PE, a metodologia da assistência e a SAE como sinônimos ou com diferentes definições. Há um conflito conceitual que gera dificuldade de entendimento sobre a prática profissional da enfermagem(¹⁴).

A correspondência de significados atribuída à SAE e ao PE contribui para a falta de consenso sobre o conceito desses dois componentes fundamentais para a prática de enfermagem, e isso repercute diretamente na formação da identidade profissional(¹).

A segunda parte do guia trata do PE. A implementação do PE mostrou que os enfermeiros reconhecem a importância do método científico para alcançar uma prática sistematizada e deliberada, embora, na prática, ainda mantenham atitudes focadas no cuidado centrado no manejo de sinais e sintomas de doenças, devido às reais necessidades demonstradas pelos pacientes(⁸).

Dentre as principais dificuldades para cumprir o preconizado na legislação em relação ao PE, destacam-se a falta de conhecimento teórico, de exercício prático e de recursos, bem como a escassez de tempo para sua realização. As ações dos enfermeiros, muitas vezes, tornam o fazer rotineiro, sem suficiente respaldo científico(⁶-⁷,¹⁵).

O aspecto legal e a importância da consulta de enfermagem, em nível ambulatorial, também foram abordados. A consulta de enfermagem deve ser utilizada como uma tecnologia para um cuidado diferenciado e provido de conhecimentos científicos que proporcionem o entendimento e a reflexão do seu trabalho em saúde(¹⁶).

O PE e a consulta de enfermagem devem ser orientados por um suporte teórico(⁴). É importante que o enfermeiro conheça as teorias de enfermagem, pois sua utilização apoia os enfermeiros na definição de seus papéis, adequação e qualidade do desempenho profissional(¹⁷). O guia exemplifica o tema apresentando algumas das teorias mais conhecidas e utilizadas.

O suporte teórico escolhido orienta a coleta de dados, a definição dos diagnósticos, o planejamento das ações e a avaliação dos resultados alcançados, influenciando os aspectos do registro de enfermagem. A prática orientada pela teoria de enfermagem ajuda a melhorar a qualidade dos cuidados, pois permite que os enfermeiros articulem o que fazem pelos pacientes e por qual motivo. Portanto, eles devem continuar orientando sua prática por meio das lentes da teoria de enfermagem, além de avaliar a eficácia dessa prática por ela guiada(¹⁸-¹⁹).

Quando realizados com base em um suporte teórico e com uso de linguagem padronizada, os registros de enfermagem favorecem uma comunicação mais eficaz entre a equipe de saúde, permitindo uma continuidade da assistência ao paciente(²⁰).

O guia trata das classificações e registros de enfermagem. Os sistemas de linguagens padronizadas são ferramentas importantes para o registro do PE, pois qualificam a documentação e a comunicação entre profissionais(²¹). No entanto, ainda observam-se incompletudes nos registros clínicos, comprometendo a qualidade da assistência e a segurança do paciente(²⁰,²²-²³). Por outro lado, a qualidade dos registros de enfermagem desperta em outros profissionais o interesse e a necessidade de consultá-los, permitindo uma melhor definição da terapêutica, dos cuidados e da realização de diagnósticos, além de servir de base para avaliação e eficiência da qualidade das práticas do cuidado(²⁴).

A terceira parte do guia apresenta o relato de dois hospitais na implementação da SAE e do PE, mostrando estratégias e recursos. A implementação do PE favorece o fortalecimento e o reconhecimento da enfermagem, por meio da padronização de ações e seus registros(⁵,⁸,²⁵).

O guia digital é uma tecnologia educacional que contribui para a execução e implantação do PE nos diversos cenários da prática da enfermagem, possibilitando acesso rápido, simples, direto e qualificado a essas ferramentas de forma mais completa. Essa tecnologia pode ser entendida com diversos significados, como conhecimento técnico, científico, procedimentos, processos, produtos, materiais e sistemas organizacionais, educacionais, de informação e de suporte(²⁶-²⁸).

As tecnologias na enfermagem estão sendo incorporadas no ambiente de aprendizagem clínica como forma de dinamizar o processo ensino-aprendizagem ou no contexto assistencial e de gestão, para a execução e a documentação do PE, com a finalidade de otimizar o acesso a informação, registro e documentação ou auxiliar as tomadas de decisões relativas ao cuidado do paciente. Ainda as tecnologias auxiliam na implantação de práticas adequadas nos serviços, organizam os processos de trabalho, apoiam a execução de procedimentos em saúde e atualizam o conhecimento das equipes(²⁶-³⁴).

A literatura é ampla acerca do desenvolvimento de tecnologias na enfermagem. Pesquisas apontam o uso de metodologias de abordagem qualitativa e quantitativa, estudos metodológicos, descritivos, estudos aplicados de desenvolvimento tecnológico, quase-experimental, transversal, Pesquisa Convergente Assistencial, pesquisas participativas, pesquisa-ação, revisão integrativa ou sistemática, Design Centrado no Usuário, entre outros(²⁷-³²). Nesse sentido, diferentes métodos podem conduzir o processo de elaboração, validação e aplicação de tecnologias no ensino, assistência e gestão, e o método utilizado nesta pesquisa tem potencial de reprodutibilidade para o desenvolvimento de outros materiais.

Diferentes formatos de tecnologias educacionais digitais estão sendo elaboradas e utilizadas na educação em enfermagem, como aplicativos, hipertexto, jogos, vídeos, ambientes virtuais, objeto virtual de aprendizagem e simuladores com realidade virtual. No âmbito da assistência e gestão, estudos apontam o desenvolvimento e uso de tecnologias, como guias, manual/protocolo, software/aplicativo, material didático, processo/tecnologia não patenteável, diagramas, material instrucional, cursos, cartilhas, recomendações, entre outros(²⁶-³⁴). Ressalta-se a importância da divulgação da construção/aplicação de produções tecnológicas, a fim de contribuir no avanço da ciência da enfermagem.

Limitações do estudo

Como fragilidade, identifica-se a etapa de validação do conteúdo da tecnologia, pela baixa adesão dos juízes convidados, apontando a necessidade de novas pesquisas, a fim de ampliar o número e representatividade de diferentes estados brasileiros e cenários de prática dos avaliadores.

Contribuições para a área da enfermagem e saúde

O guia digital possibilita o acesso dos profissionais de enfermagem a um material sobre SAE e PE baseado em conhecimentos técnico-científicos. De forma prática, foram apresentadas temáticas presentes no cotidiano de trabalho, evidenciando a assistência de qualidade, eficiente, eficaz e segura às pessoas. O guia possibilita acesso a conhecimentos fundamentais que auxiliarão no exercício profissional com mais segurança e legitimidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O “Guia sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem e Processo de Enfermagem” é uma inovação tecnológica na saúde, por englobar um conteúdo amplo, baseado em referências nacionais e internacionais sobre os conceitos, estratégias de implantação e operacionalização da SAE e do PE. O guia pode ser importante para toda a categoria da enfermagem, além de servir como instrumento que pode trazer um entendimento do PE para profissionais de outras categorias profissionais, como gestores e equipe multiprofissional, que tenham necessidade de entender o processo de trabalho da enfermagem para suas tomadas de decisão.

O conteúdo do guia foi considerado pelos especialistas como pertinente, claro, objetivo, organizado, com linguagem e imagens adequadas e coerentes cientificamente, e possui organização, sequência e estrutura coerentes e pertinentes. Na avaliação global, o índice de concordância foi de 95,06%.

O guia digital está disponibilizado como uma alternativa motivadora e satisfatória de educação em saúde, capaz de contribuir para a execução e implementação do PE, embasando o planejamento do cuidado à saúde e a implementação de ações voltadas para a qualidade da assistência.

As ilustrações auxiliam a compreensão do leitor sobre SAE e PE, representando a definição e a relação entre esses dois conceitos, e segue todo um raciocínio que favorece a compreensão possibilitando acesso rápido, simples, direto e qualificado a conhecimentos fundamentais, que auxiliarão no exercício profissional baseado em evidencias científicas.

O guia digital é relevante para o desenvolvimento científico e tecnológico, tendo potencial de gerar impacto e ser aplicado a nível local, regional e nacional, pois está disponível online em website e poderá ser utilizado no ensino-aprendizagem como apoio aos enfermeiros e estudantes, além de trazer subsídios para o avanço na implantação do processo/consulta de enfermagem.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Álvaro Sousa

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  14 Abr 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  10 Fev 2022
• Aceito
  21 Set 2022