Ensino da Língua Brasileira de Sinais nos cursos de graduação em enfermagem

RESUMO

Objetivo:

caracterizar o ensino da Língua Brasileira de Sinais nos cursos de graduação em enfermagem.

Método:

estudo transversal, realizado nas matrizes curriculares de 553 cursos superiores de enfermagem. A coleta dos dados ocorreu por meio do acesso aos websites do Ministério da Educação e das instituições de ensino.

Resultados:

os cursos de enfermagem que ofereciam disciplina de Libras se localizavam, predominantemente, no Sudeste (36%), oriundos de instituições privadas (87,2%). A maioria das disciplinas de Libras (82%) foi ofertada, de forma obrigatória, na segunda metade do curso (46,7%) e o semestre no qual mais ocorreu a oferta foi o oitavo (15,9%). Houve associação (p<0,001) entre a oferta de disciplina e a variável “categoria pública ou privada”.

Conclusões:

houve predomínio de oferta de disciplina de Libras em instituições privadas na Região Sudeste, com carga horária de 40 horas, ofertada na segunda metade do curso.

Descritores:
Educação em Enfermagem; Bacharelado em Enfermagem; Educação Superior; Línguas de Sinais; Currículo

ABSTRACT

Objective:

to characterize the Brazilian Sign Language teaching in undergraduate nursing courses.

Method:

a cross-sectional study, carried out on the curriculum matrices of 553 higher education nursing courses. Data collection took place through access to the websites of the Ministry of Education and educational institutions.

Results:

the nursing courses that offered Libras were located predominantly in the Southeast (36%), coming from private institutions (87.2%). Most Libras courses (82%) were offered on a mandatory basis in the second half of the course (46.7%). The semester in which the offer was most frequent was the eighth (15.9%). There was an association (p <0.001) between the offer of course and the variable “public or private category”.

Conclusions:

there was a predominance of Libras course in private institutions, in the Southeast region, with a 40-hour workload, offered in the second half of the course.

Descriptors:
Education, Nursing; Education, Nursing, Baccalaureate; Education, Higher; Sign Language; Curriculum

RESUMEN

Objetivo:

caracterizar la enseñanza de la Lengua de Signos Brasileña en cursos de pregrado en enfermería.

Método:

estudio transversal, realizado en las matrices curriculares de 553 cursos de enfermería de educación superior. La recopilación de datos se realizó mediante el acceso a los sitios web del Ministerio de Educación y las instituciones educativas.

Resultados:

los cursos de enfermería que ofrecieron la disciplina Libra se ubicaron predominantemente en el Sureste (36%), provenientes de instituciones privadas (87,2%). La mayoría de las asignaturas Libras (82%) se ofertaron, de forma obligatoria, en la segunda mitad del curso (46,7%) y el semestre en el que más se presentó la oferta fue el octavo (15,9%). Hubo asociación (p <0,001) entre la oferta de disciplina y la variable “categoría pública o privada”.

Conclusiones:

predominó la oferta de la disciplina Libra en instituciones privadas de Sureste, con una carga de trabajo de 40 horas, ofrecida en la segunda mitad del curso.

Descriptores:
Educación en Enfermería; Bachillerato en Enfermería; Educación Superior; Lengua de Signos; Curriculum

INTRODUÇÃO

Mundialmente, existem mais de 450 milhões de pessoas surdas, e, conforme a Organização Mundial da Saúde, até 2050 esse quantitativo chegará a 900 milhões⁽¹⁾.

A perda da audição superior a 40dB, com consequente lacuna de comunicação, vivenciada pelas pessoas surdas, leva os indivíduos a serem inseridos em cultura distinta das pessoas com acuidade auditiva preservada, uma vez que a comunicação passa a ocorrer não pela percepção sensorial auditiva, mas mediante utilização de técnicas/estímulos visuais^(2-3). Assim, a comunicação efetiva com os surdos ocorre a partir da utilização da língua de sinais⁽⁴⁾.

No contexto da saúde, os surdos possuem dificuldade de acesso aos serviços e informações⁽⁵⁾, de forma que, mesmo dentre os que possuem elevada escolaridade, existe baixa alfabetização em saúde⁽⁶⁾. Tal situação é agravada por ser escassa a presença de profissionais que dominem a Língua Brasileira de Sinais (Libras)⁽⁷⁾, sendo desafiadora, uma vez que pode comprometer a prevenção, tratamento e reabilitação da saúde.

A limitação de acesso à informação leva as pessoas surdas a se tornarem dependentes de acompanhantes ou intérpretes de Libras para utilizarem os serviços de saúde⁽⁸⁾ e pode ser minimizada se, desde a formação, os profissionais de saúde tiverem a oportunidade de contato e aprendizado acerca da comunicação na língua de sinais.

Dentre os profissionais que integram a equipe de saúde, encontra-se o enfermeiro, cuja presença é obrigatória nos variados serviços de saúde, em todos os níveis de complexidade. Esta ampla atuação da enfermagem, em atividades assistenciais, administrativas e educativas, eleva a chance de contato com pessoas surdas, com as quais precise estabelecer comunicação⁽⁹⁾.

Para transpor o modelo biomédico/curativista e contemplar as demandas que surgem nos serviços de saúde, a formação da enfermagem se encontra em constante mudança e aperfeiçoamento⁽¹⁰⁾. Assim, diante da necessidade de comunicação com surdos, componentes curriculares acerca da Libras podem ser disponibilizados nos cursos superiores de enfermagem. Entretanto, na ausência de legislação que estabeleça padrão, o perfil das disciplinas de Libras, ofertadas nos bacharelados em enfermagem, é desconhecido.

Ao considerar que o planejamento e mudanças curriculares precisam ocorrer a partir de resultados de pesquisas, aponta-se a relevância, pertinência e necessidade da caracterização das disciplinas referentes à Libras, ofertadas nas graduações em enfermagem. Tal caracterização pode contribuir com a compreensão de como ocorre a oferta de tais disciplinas, para identificação de lacunas a serem contempladas em estudos e intervenções futuras.

OBJETIVO

Caracterizar o ensino da Língua Brasileira de Sinais nos cursos de graduação em enfermagem.

MÉTODO

Aspectos éticos

Por não tratar-se de pesquisa realizada com seres humanos, mas com informações de domínio público, a submissão do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos não se fez necessária; porém, destaca-se que foram respeitados os aspectos éticos acerca da fidedignidade, sigilo e utilização dos dados exclusivamente para fins científicos.

Desenho, local do estudo e período

Tratou-se de estudo transversal, documental, com abordagem quantitativa, realizado conforme as recomendações da ferramenta Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE). Os dados foram coletados no laboratório de informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira, por meio do acesso ao website do Ministério da Educação (MEC), que apresenta informações oficiais sobre cursos de graduação, assim como sobre as instituições de ensino do Brasil. A coleta de dados ocorreu em fevereiro de 2019.

População ou amostra; critérios de inclusão e exclusão

A população do estudo foi composta pelas matrizes curriculares dos cursos de graduação em enfermagem das instituições públicas e privadas de ensino. O critério de inclusão adotado foi tratar-se de matriz curricular de curso de enfermagem em situação ativa, e os critérios de exclusão utilizados foram: a ausência de matriz curricular disponível online e a matriz não conter a oferta de disciplina/componente curricular de Libras.

Protocolo do estudo

Para operacionalização da coleta dos dados, foi elaborado instrumento, composto por 20 questões, acerca de variáveis referentes ao nome, cidade, estado e região da instituição de ensino; se a mesma era privada ou pública; com campus localizado no interior ou capital; conceitos do curso no MEC; nomenclatura da disciplina de Libras; quantidade de componentes curriculares que contemplavam a Libras no curso; o semestre/módulo no qual ocorria a oferta da(s) disciplina(s); modalidade da disciplina (obrigatória ou optativa) e carga horária.

A coleta de dados foi realizada por dois pesquisadores, separadamente, que padronizaram e treinaram a sequência de busca e nivelaram a utilização do instrumento, de forma que houve a comparação dos achados de ambos, ao final, na qual foi confirmada a ausência de inconsistências de coleta, uma vez que os resultados obtidos pelos dois foram iguais. Inicialmente, realizou-se mediante acesso ao website http://emec.mec.gov.br/ para busca pelos cursos de graduação em enfermagem registrados, autorizados pelo MEC e em situação ativa. Dessa forma, foi obtida a lista com 1.221 cursos de graduação em enfermagem.

Posteriormente, ocorreu a coleta das variáveis do instrumento de coleta que encontravam-se disponibilizadas na plataforma do site (nome, sigla e localização da instituição, se a instituição era privada ou pública, com campus localizado no interior ou capital e conceitos do curso). De acordo com as informações das instituições de ensino cadastradas no MEC, ocorreu o acesso ao website de cada instituição de ensino para busca da matriz curricular do curso superior de enfermagem.

Dos 1.221 cursos verificados, 382 (31,3%) foram excluídos por não apresentar matriz curricular disponível e 286 (23,4%), por não dispor da Libras enquanto componente curricular. Assim, 553 (45,3%) apresentaram as matrizes curriculares disponíveis no site das instituições e foram selecionadas para compor a amostra. Em posse das matrizes curriculares dos cursos de enfermagem, foram coletadas as variáveis referentes às características da oferta da disciplina (nomenclatura da disciplina de Libras; quantidade de componentes curriculares que contemplavam a Libras no curso; o semestre/módulo no qual ocorria a oferta da(s) disciplina(s); modalidade da disciplina, obrigatória ou optativa; carga horária).

Análise dos resultados e estatística

Os dados foram analisados de forma descritiva e mediante verificação de associação no Software R, versão 3.5.1. Foi testada a normalidade da variável numérica “carga horária” pelo teste Kolmogorov-Smirnov. Identificou-se não adesão à normalidade de forma que a variável foi apresentada a partir da mediana e intervalo interquartílico. A associação entre a oferta de disciplina de Libras e a variável “categoria pública ou privada” foi verificada a partir da utilização do teste Qui-Quadrado para Independência de Pearson. A significância adotada foi de 5% e intervalo de confiança de 95%, em todos os testes.

RESULTADOS

Dos 553 cursos de enfermagem que ofereciam a disciplina de Libras, 482 (87,2%) eram ofertados em Instituições Privadas de Ensino, e 71 (12,8%), em instituições Públicas. A oferta da disciplina de Libras predominou significativamente na instituição privada em relação à pública (p<0,001). Dessas, 52 (9,4%) eram Instituições Federais, e 19 (3,4%), Instituições Estaduais. Quanto à localização do campus, 340 (61,5%) situavam-se no interior dos estados brasileiros, enquanto 213 (38,5%) localizavam-se nas capitais.

Quanto à localização geográfica, observou-se predominância de oferta de disciplinas de Libras nas Regiões Sudeste e Nordeste, conforme detalhado na Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição da disciplina de Libras nas graduações em enfermagem segundo região e estado, Brasil, 2019

Região/estado	Instituições de ensino n(%)	Total n(%)
Sudeste		197 (35,6)
São Paulo	97 (17,5)
Minas Gerais	60 (10,8)
Rio de Janeiro	23 (4,2)
Espirito Santo	17 (3,1)
Nordeste		181 (32,7)
Bahia	42 (7,6)
Ceará	35 (6,4)
Pernambuco	30 (5,4)
Piauí	15 (2,7)
Maranhão	15 (2,7)
Paraíba	15 (2,7)
Rio Grande do Norte	10 (1,8)
Sergipe	10 (1,8)
Alagoas	9 (1,6)
Centro-oeste		64 (11,6)
Goiás	23 (4,2)
Distrito Federal	22 (4,0)
Mato Grosso do Sul	10 (1,8)
Mato Grosso	9 (1,6)
Sul		59 (10,7)
Rio Grande do Sul	26 (4,7)
Paraná	22 (4,0)
Santa Catarina	11 (2,0)
Norte		52 (9,4)
Pará	18 (3,2)
Amazonas	12 (2,2)
Rondônia	8 (1,4)
Acre	4 (0,7)
Tocantins	4 (0,7)
Amapá	3 (0,6)
Roraima	3 (0,6)

No que se refere aos conceitos dos cursos estabelecidos pelo MEC, 118 (21,3%) cursos não apresentaram tal informação, até o momento da coleta de dados. O conceito que apresentou predominância foi o três, presente em 151 (27,3%) cursos, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2
Conceito do Ministério da Educação das instituições que ofertavam disciplina de Libras na graduação em enfermagem, Brasil, 2019

Conceito do Ministério da Educação	n(%)
Conceito indisponível	118(21,3)
Conceito 1	28 (5,1)
Conceito 2	136 (24,6)
Conceito 3	151 (27,3)
Conceito 4	86 (15,6)
Conceito 5	33 (6,0)

Em relação à quantidade de disciplinas ofertadas, 548 (99,1%) instituições de ensino ofertavam uma disciplina de Libras, enquanto cinco (0,9%) instituições ofertavam duas disciplinas, no curso de graduação em enfermagem. No tocante à modalidade, em 455 (82,3%), a disciplina era obrigatória, e em 98 (17,7%), optativa.

Observou-se que em 191 (34,5%) cursos a oferta da disciplina não ocorre em um semestre específico. Das instituições que possuem semestre específico para ofertar a disciplina, a maioria (46,7%) realiza esta oferta na segunda metade do curso, e 88 (15,9%), mais especificamente no oitavo semestre (Tabela 3).

Tabela 3
Semestres da graduação em enfermagem nos quais ocorre a oferta da disciplina de Libras, Brasil, 2019

Semestre de oferta da disciplina de Libras	Instituições n(%)	Total n(%)
Semestre inespecífico	191(34,5)	191(34,5)
Primeira metade do curso		104 (18,8)
Primeiro semestre	14 (2,5)
Segundo semestre	11 (2,0)
Terceiro semestre	28 (5,1)
Quarto semestre	23 (4,1)
Quinto semestre	28 (5,1)
Segunda metade do curso		258 (46,7)
Sexto semestre	23 (4,2)
Sétimo semestre	52 (9,4)
Oitavo semestre	88 (15,9)
Nono semestre	22 (4,0)
Décimo semestre	73 (13,2)

A carga horária mínima da disciplina de Libras foi de 15 horas, e a máxima, de 88. A carga horária predominante, de 40 horas, foi encontrada em 218 (39,4%) cursos de graduação em enfermagem e constituiu a mediana das cargas horárias, com intervalo interquartílico de 24. As cinco cargas horárias que mais estiveram presentes nas disciplinas de Libras encontram-se apresentados na Tabela 4.

Tabela 4
Carga horária das disciplinas de Libras nas graduações em enfermagem, Brasil, 2019

Carga horária	Instituições n(%)
40 horas	218(39,4)
60 horas	129(23,3)
20 horas	67(12,1)
30 horas	45(8,2)
80 horas	26(4,7)
Outras	68(12,3)

Foram identificadas cinco nomenclaturas atribuídas às disciplinas de Libras: Língua Brasileira de Sinais, em 526 (95,2%); Tópicos em Libras, em 15 (2,7%); Libras e Inclusão, em seis (1,1%); Cultura Surda e Libras, em três (0,5%); Introdução à Libras, em três (0,5%).

DISCUSSÃO

A limitação de conhecimento dos surdos referente à saúde emerge da comunicação ineficaz com os profissionais de saúde. Tal limitação repercute e prejudica a qualidade de vida e autocuidado, de forma que os surdos precisam de intérpretes ou familiares para intermediar a comunicação com os profissionais de saúde⁽⁸⁾.

Nesse contexto, é relevante que profissionais de saúde possuam conhecimento mínimo de Libras para obter sucesso na comunicação com os surdos e para melhorar a qualidade da assistência prestada⁽⁵⁾. Tal conhecimento deve ser ofertado durante o processo de formação, para que esta verse sobre o preparo dos futuros profissionais para atenderem as reais demandas dos serviços de saúde.

As regiões do Brasil com maior oferta de disciplina de Libras nos cursos superiores de enfermagem foram a Sudeste e Nordeste, enquanto a minoria de oferta deu-se na Região Norte. A predominância das Regiões Nordeste e Sudeste e o menor quantitativo de oferta na Região Norte foram encontrados em um estudo sobre o ensino da vigilância sanitária na formação do enfermeiro⁽¹¹⁾. Dessa forma, ao compreender a necessidade de formação em saúde que contemple a Libras, com as singularidades inerentes a cada especificidade regional, ratifica-se a relevância de aumento da oferta da referida disciplina nos cursos de graduação em enfermagem de todas as regiões do país, em especial na Região Norte.

No tocante à localização dos cursos, observou-se predomínio em municípios no interior dos estados. Tal característica deve-se ao cenário da expansibilidade dos cursos de graduação no Brasil, à política de interiorização do ensino superior e ao desenvolvimento dos programas sociais, que promoveram o acesso e menor evasão às Instituições de Ensino Superior (IES)⁽¹²⁾. Ao considerar a relevância da utilização de recursos e estratégias pedagógicas que sejam selecionadas para o ensino na enfermagem a partir de resultados de pesquisas que apontem as opções mais eficazes para alcance de objetivos pedagógicos, e ao observar o elevado quantitativo de cursos de enfermagem que não estão localizados nas capitais, é pertinente que as pesquisas sobre a formação em Enfermagem não se limitem aos cenários de tais capitais, mas ocorram também nos cursos que encontram-se nos municípios de interior, para que evidências científicas acerca da formação em enfermagem direcionem a atuação dos docentes atuantes nesse contexto.

A maioria dos cursos de enfermagem que possuía disciplina de Libras era ofertada por instituições privadas de ensino, com significância estatística. Esse resultado converge ao encontrado em estudo que caracterizou o ensino da bioética nas graduações de enfermagem⁽¹³⁾. O aumento quantitativo do ensino privado leva tais instituições a serem responsáveis pela formação da maioria dos profissionais; logo, ratifica-se a relevância das instituições privadas serem analisadas nas pesquisas acerca da formação em enfermagem.

Em relação ao semestre do curso de enfermagem no qual ocorre a oferta da disciplina, observou-se predomínio de oferta na segunda metade do curso, mais especificamente no oitavo módulo/semestre. Esse achado diverge de estudo acerca do ensino da tanatologia na enfermagem, cujos resultados mostraram que a oferta de tal conteúdo ocorre nos primeiros semestres do curso⁽¹⁴⁾. Compreende-se que a oferta dos componentes curriculares, nos cursos superiores de enfermagem, ocorre a partir de justificativa referente ao contexto interdisciplinar e sequência lógica de conhecimento e habilidades necessários para a formação. Assim, aponta-se que o acadêmico de enfermagem pode deparar-se com a assistência ao paciente surdo, já nos primeiros semestres do curso, de forma que é relevante que a oferta de disciplina de Libras ocorra nos semestres iniciais da formação.

Observou-se que a oferta do ensino da Libras nas graduações brasileiras de enfermagem ocorreu mediante disciplina obrigatória. Tal achado é semelhante ao encontrado em pesquisa realizada na Austrália acerca do ensino da deficiência intelectual no currículo da enfermagem⁽¹⁵⁾. O ensino da Libras nos cursos de graduação é importante, pois pode representar o primeiro contato dos acadêmicos com a língua de sinais. Apesar de não saírem proficientes, os acadêmicos terão possibilidade de estabelecer comunicação mínima com os surdos, poderão compreender a cultura surda e serem sensibilizados acerca da exclusão em saúde dos mesmos⁽¹⁶⁾.

No que se refere à carga horária da disciplina de Libras, houve predomínio da oferta ocorrer em quarenta horas. Ao considerar que a translação do conhecimento em Libras demanda investimento de tempo, faz-se necessário que pesquisas investiguem a efetividade das disciplinas de Libras nas suas distintas cargas horárias a fim de que seja conhecida qual a melhor carga horária a ser investida no ensino da língua de sinais dentro das limitações da carga horária disponível nos cursos superiores de enfermagem.

Limitações do estudo

O estudo possuiu como limitação a busca das matrizes curriculares ter ocorrido mediante acesso virtual, de forma que a realidade das instituições de ensino que não dispunham da matriz para acesso online pode divergir da encontrada. Ademais, os resultados encontrados foram referentes a cursos de enfermagem, de forma que as disciplinas de Libras ofertadas em outros cursos da saúde podem possuir outra caracterização. Outra limitação a ser apontada refere-se à escassez de estudos na área abordada (ensino da Libras na Enfermagem), o que dificultou a comparação e discussão dos achados; por isso, os resultados do presente estudo foram comparados e discutidos com os achados de pesquisas sobre o ensino de outros temas/componentes curriculares na formação em Enfermagem.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

O presente estudo contribui com o avanço do estado da arte acerca da formação em enfermagem, do ensino da Libras e da inclusão em saúde dos surdos, diante da caracterização do ensino da Libras nos cursos de graduação em enfermagem, que contemplou todas as regiões do país e os cursos de instituições públicas e privadas. Apresenta, ainda, evidência científica sobre temática pouco contemplada nas pesquisas, mas que possui relevância para a sociedade e saúde. Assim, é relevante para os profissionais envolvidos no ensino da Libras e no ensino/formação da enfermagem, que podem planejar mudanças curriculares e/ou implementar disciplinas de Libras nos cursos de enfermagem.

CONCLUSÕES

O ensino da Libras foi encontrado, predominantemente, nos cursos de enfermagem de instituições privadas (87,2%), localizados no Sudeste (36%), a partir de disciplinas ofertadas como componente obrigatório (82%), disponíveis para serem cursadas na segunda metade do curso (46,7%), mais especificamente no oitavo semestre (15,9%). A menor carga horária encontrada foi de 15 horas, a maior, de 88, com mediana de 40 horas. A oferta da disciplina mostrou-se associada com a variável “categoria pública ou privada”.

É necessária a realização de pesquisas que contemplem a melhor carga horária que a disciplina de Libras precisa ter nos cursos superiores de enfermagem para que seja possível instrumentalizar o acadêmico com conhecimento e habilidade que viabilizem a comunicação mínima com os surdos. Além disso, é relevante que pesquisas qualitativas investiguem questões subjetivas, como vivência, sentimentos, experiência e opinião dos acadêmicos que cursam a disciplina e dos surdos que interagem com tais acadêmicos. É relevante que ocorra a realização de pesquisas que contemplem os desafios e potencialidades para oferta de componente curricular de Libras nos cursos de graduação em enfermagem e que comparem as vantagens e desvantagens, bem como possíveis consequências, da sua oferta de forma obrigatória e optativa, além de verificarem se existe associação entre a oferta da disciplina com o conceito de avaliação do MEC. Destaca-se ainda a necessidade de planejamento e investimento para que ocorra a oferta de disciplinas de Libras em mais cursos de enfermagem, principalmente nas Regiões Norte e Sul.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Marcia Magro

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  24 Maio 2021
• Data do Fascículo
  2021

Histórico

• Recebido
  26 Jun 2020
• Aceito
  21 Dez 2020