Diagnóstico precoce da infecção por HIV/Aids: análise de conceitoRESUMO
Objetivos: analisar o conceito “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids” à luz do modelo de análise conceitual de Walker e Avant.
Métodos: estudo de análise de conceito baseado no referencial proposto por Walker e Avant, instrumentalizado por uma revisão de escopo realizada em abril de 2022, seguindo as recomendações do Joanna Briggs Institute e checklist Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews. A busca foi feita em oito fontes de dados, obtendo-se 16 artigos.
Resultados: verificou-se como principais atributos do conceito: Relações sexuais homossexuais, Exame precoce, Anticorpos anti-HIV, Contagem de CD4 e Infecção sexualmente transmissível. Como antecedentes: Informação, Comportamento de risco, Relações sexuais desprotegidas, Prevenção e Acesso ao serviço. Como principais consequentes: Tratamento antirretroviral, Soroconversão, Transmissão e Consultas.
Considerações Finais: o estudo aproximou as situações circunstanciais da temática, seus atributos, antecedentes e consequentes, qualificando o processo de trabalho fundamentado no conhecimento da prática de enfermagem.
Descritores: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; Infecções por HIV; Diagnóstico Precoce; Sorodiagnóstico da AIDS; Unidades Hospitalares.
ABSTRACT
Objectives: to analyze the concept of “early diagnosis of HIV/Aids infection” in light of Walker and Avant’s conceptual analysis model.
Methods: concept analysis study based on the framework proposed by Walker and Avant, instrumented by a scoping review conducted in April 2022, following the recommendations of the Joanna Briggs Institute and checklist Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews. The search was made in eight data sources, obtaining sixteen articles.
Results: the study found homosexual intercourses, early examination, anti-HIV antibodies, CD4 count, and sexually transmitted infection as the main attributes of the concept. As antecedents: information, risky behavior, unprotected sexual relations, prevention, and access to the service. As main consequences: antiretroviral treatment, seroconversion, transmission, and consultations.
Final Considerations: the study approached the circumstantial situations of the theme, its attributes, antecedents, and consequences, qualifying the work process based on knowledge of nursing practice.
Descriptors: Acquired Immunodeficiency Syndrome; HIV Infections; Early Diagnosis; AIDS Serodiagnosis; Hospital Units.
RESUMEN
Objetivos: analizar concepto “diagnóstico precoz de la infección por VIH/SIDA” fundado en modelo de análisis conceptual de Walker y Avant.
Métodos: estudio de análisis de concepto basado en referencial propuesto por Walker y Avant, instrumentalizado por revisión de ámbito realizada en abril de 2022, siguiendo las recomendaciones de Joanna Briggs Institute y checklist Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews. Búsqueda hecha en ocho fuentes de datos, obteniendo 16 artículos.
Resultados: verificado como principales atributos del concepto: Relaciones sexuales homosexuales, Examen precoz, Anticuerpos Anti-VIH, Recuento de CD4 e Infección sexualmente transmisible. Como antecedentes: Información, Conducta de riesgo, Relaciones sexuales sin protección, Prevención y Acceso al servicio. Como principales consecuentes: Tratamiento antirretroviral, Seroconversión, Transmisión y Consultas.
Consideraciones Finales: el estudio acercó las situaciones circunstanciales de la temática, sus atributos, antecedentes y consecuentes, calificando el proceso de trabajo fundamentado en el conocimiento de la práctica de enfermería.
Descriptores: Síndrome de Inmunodeficiencia Adquirida; Infecciones por VIH; Diagnóstico Precoz; Serodiagnóstico del SIDA; Unidades Hospitalarias.
INTRODUÇÃO
Na década de 1980, a síndrome da imunodeficiência humana adquirida (aids) passou a ser vista como uma enfermidade letal, cercada por pressões sociais e morais, contribuindo para estigmatização da doença e consequente discriminação. Todavia, nota-se uma mudança na percepção da sociedade sobre a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), o que está atrelado ao aumento do conhecimento sobre as formas de transmissão e ao tratamento(1-2).
Estimativas atuais da Pan American Health Organization (PAHO) apontam o HIV como um problema de saúde pública mundial, com mais de 33 milhões de mortes até o momento. Na América Latina, novos casos aumentaram em 21% desde 2010, com cerca de 120 mil novas pessoas infectadas em 2019, ano que finalizou com cerca de 38 milhões de pessoas vivendo com HIV(3).
No contexto geral, o avanço dos recursos terapêuticos proporcionou aos pacientes uma melhor perspectiva e qualidade de vida, pois a assistência, atualmente, promove o controle da doença e a mudança da condição de “estado terminal” (como era conhecida há algumas décadas) para a condição de doença crônica, na qual o indivíduo consegue ter equilíbrio em todos os seus aspectos sociais, saúde e qualidade de vida(4).
Em contrapartida, a fase aguda da infecção pelo vírus HIV ocorre nas primeiras semanas, e o indivíduo, nesse período, torna-se intensamente infectante, devido à alta carga viral no organismo. Consequentemente, as alterações clínicas que surgem durante esse processo podem desencadear internações hospitalares, e os pacientes recém-diagnosticados passam a necessitar de uma assistência cautelosa, advinda de uma equipe multidisciplinar(3-4).
Também ressalta-se que, após a fase aguda (com cerca de nove semanas), a fase de latência é estabelecida. Esta, por sua vez, está relacionada com uma capacidade de transmissão dependente da carga viral, sendo variável de acordo com cada organismo. A partir daí, com o passar dos anos e conforme o estilo de vida do infectado, tem-se uma relação direta entre o aumento da carga viral e a diminuição dos níveis das células CD4+, propiciando o surgimento de infecções oportunas e trazendo a necessidade de internação(2).
As alterações clínicas e os sintomas que aparecem durante esse processo podem desencadear internações hospitalares nos serviços especializados em doenças infectocontagiosas em pacientes recém-diagnosticados. Muitas vezes, o diagnóstico de HIV/aids é revelado durante um processo de internação, o que desencadeia impactos individuais e coletivos, como sentimentos de negação, culpa e raiva. Com isso, o período de internação acarreta aos pacientes altos níveis de ansiedade, juntamente com o medo da morte(5).
Diante do exposto, salienta-se a necessidade de análise do conceito “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids em pacientes hospitalizados”. Isso favorece a clarificação de conceitos úteis para a prática do cuidado em saúde para essa população; além disso, a análise conceitual está diretamente interligada com a evolução do conhecimento da Enfermagem.
OBJETIVOS
Analisar o conceito “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids em pacientes hospitalizados” à luz do modelo de análise conceitual de Walker e Avant.
MÉTODOS
Aspectos éticos
A pesquisa não foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa pelo fato de se tratar de uma análise de conceito com busca apenas na literatura.
Desenho do estudo
Este estudo é pautado no modelo de análise conceitual proposto por Walker e Avant(6). A análise de conceito tem como objetivo examinar suas estruturas e sua função, auxiliando na compreensão de fenômenos de determinada área do conhecimento. Esse modelo compreende oito etapas: seleção do conceito; determinação dos objetivos da análise conceitual; identificação dos possíveis usos do conceito; determinação dos atributos definidores; identificação do caso-modelo; identificação de casos adicionais; identificação dos antecedentes e consequentes do conceito; e definição das referências empíricas(6).
Quanto à primeira etapa, o conceito selecionado foi “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids em pacientes hospitalizados”. Para a segunda etapa, como objetivo da análise conceitual, tem-se a necessidade de contribuir com a qualificação da assistência em unidades de saúde com atendimento generalista e também em unidades especializadas na assistência ao paciente com doenças infectocontagiosas.
De forma sequenciada, foram averiguadas as possíveis identificações do uso desse conceito. Para isso, realizou-se uma pesquisa nos bancos de dados científicos, por meio de uma revisão de escopo, desenvolvida seguindo as recomendações do guia internacional Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA- ScR) e do Reviewers Manual(7-8) do Joanna Briggs Institute (JBI), com protocolo de pesquisa registrado na plataforma Open Science Framework (https://osf.io/jnfz9/).
Seguiram-se as etapas propostas pelo JBI para a elaboração de uma revisão de escopo: 1) desenvolvimento da questão de pesquisa; 2) descrever os critérios de inclusão e exclusão e alinhá-los à questão de pesquisa; 3) planejamento da busca, seleção, extração e apresentação das evidências; 4) busca das evidências; 5) seleção das evidências; 6) extração das evidências; 7) análise, apresentação e síntese dos resultados(8).
Ressalta-se que não foram evidenciadas publicações com objetivo similar ao da revisão, ao serem consultadas as plataformas: International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), Open Science Framework (OSF), The Cochrane Library, JBI Clinical Online Network of Evidence for Care and Therapeutics (COnNECT+) e Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE).
Para formulação da questão de pesquisa, utilizou-se o mnemônico PCC (População, Conceito e Contexto), de acordo com o indicado pela JBI. Sendo assim, definiu-se: P - indivíduos soropositivos com HIV/aids; C - diagnóstico precoce; C - unidades hospitalares. Com base nisso, foi construído o seguinte questionamento: Quais atributos, antecedentes e consequentes dos eventos de diagnóstico precoce em pacientes com HIV/aids?
Período e local do estudo
As buscas na literatura foram realizadas no mês de abril de 2022 por meio da pesquisa ao acervo em oito fontes de dados (Quadro 1). Para a busca e identificação dos estudos, foram acessados os descritores indexados nos Descritores de Ciência da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH), com a finalidade de adequar as buscas ao português e inglês, dos quais foram usados, respectivamente: “HIV/HIV”, “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida/Acquired Immunodeficiency Syndrome”, “Vírus da Imunodeficiência Humana/Human Immunodeficiency Virus”, “Diagnóstico Precoce/Early Diagnosis” e “Unidades Hospitalares/Hospital Units”.
A estratégia de busca foi adaptada segundo as especificidades de cada fonte utilizada, contudo conservaram-se as combinações entre os descritores, e não foram adicionados filtros de restrição de tempo e idioma. As sintaxes abordadas estão no Quadro 1.
População e amostra
Foram identificados 3.134 artigos científicos dentre as fontes de dados. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 16 estudos para compor a amostra final do presente trabalho.
Critérios de inclusão e exclusão
Foram incluídas as publicações disponíveis na íntegra e gratuitamente em meio eletrônico, artigos científicos, sem restrição de idiomas e recorte temporal e que respondessem ao objetivo do estudo. Foram excluídos resumos, cartas ao editor, artigos de opinião, estudos que fogem da temática proposta e registros duplicados.
O acesso às fontes de dados deu-se por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por intermédio do acesso remoto ao conteúdo da Comunidade Acadêmica Federada (CAFe), ferramenta paga pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Vale destacar que foi realizada a busca reversa nas referências dos estudos selecionados para evitar exclusão de artigos relevantes à temática que não foram contemplados com os cruzamentos propostos.
Protocolo do estudo
A busca dos artigos foi feita por dois pesquisadores, de forma independente e ao mesmo tempo, para realizar uma triagem inicial com base na leitura dos títulos, resumos e posterior avaliação dos critérios de inclusão. Em possíveis divergências entre os revisores quanto à inclusão no estudo, em qualquer etapa do desenvolvimento, resolveu-se pela discussão entre os autores ou por intermédio de um terceiro pesquisador consultado para fazer a leitura do material na íntegra e proceder ao desempate para a composição da amostragem final. Não foi utilizado nenhum software para o gerenciamento das referências ou remoção das duplicatas.
Análise dos resultados
Os estudos selecionados foram sintetizados por meio de dois quadros. No primeiro, de acordo com as variáveis: identificação (ID), país/ano, título do artigo, tipo de estudo, periódico. No segundo, em função dos elementos essenciais, atributos, antecedentes e consequentes.
Posteriormente, seguindo as etapas do modelo proposto por Walker e Avant(6), foram descritos um caso-modelo e caso contrário. Destaca-se que a apresentação dos resultados no que tange ao objetivo deste trabalho se dá de forma descritiva, mediante a discussão dos passos selecionados para a análise do conceito “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids em pacientes hospitalizados”, cumprindo as etapas do referencial utilizado.
RESULTADOS
O fluxograma de acordo com as fases de elegibilidade para seleção e exclusão dos achados está presente na Figura 1.
Fluxograma Prisma 2020, adaptado para revisão de escopo, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2022
Após levantamento nas fontes de dados, observa-se que os estudos selecionados foram identificados na MEDLINE/PubMed (50%); Google Acadêmico e WOS (18,75% cada); e Gale Academic Onefile (12,5%). A categorização dos artigos científicos está disposta no Quadro 2.
Categorização dos estudos selecionados para a amostra final (n = 16) - Natal, RN, Brasil, 2022
Após análise do quadro, verificou-se que os anos com maior número de publicações foram 2018 e 2020, com três artigos (18,75%) publicados em cada ano. Quanto ao país de publicação, os Estados Unidos e a Espanha tiveram cinco (31,25%) cada, seguido do Reino Unido com duas (12,5%) publicações, e os demais, Suécia, Holanda, índia, Quênia e Austrália, com uma (6,25%) publicação em cada país.
Após leitura na íntegra dos artigos selecionados, foram identificados 12 atributos ao conceito. Verificou-se a frequência de atributos, os quais são palavras ou expressões presentes repetidamente no texto, correspondendo às características que expressam o conceito(6).
Destacam-se alguns atributos e a frequência nos artigos: Relações sexuais homossexuais (14%), Exame precoce (12%), Anticorpos anti-HIV (9%), Contagem de CD4 e Infecção sexualmente transmissível (9 %), Conhecimento e Relações sexuais heterossexuais (7%), Falta de informação (6%), Identificação de Infecção precoce, Autocuidado e Estigma (5%), Período de janela (4%).
Em consonância com as etapas do modelo proposto por Walker e Avant6, a quinta e sexta etapa deste estudo tratam da descrição do caso-modelo e do caso contrário.
Caso modelo de diagnóstico precoce
O caso-modelo faz ilustração paradigmática do conceito por meio da exemplificação de um caso correlacionando os atributos. A seguir, apresenta-se o caso-modelo do conceito diagnóstico precoce em pacientes com HIV/aids(6).
“PJM, 28 anos, sexo masculino, ensino médio completo, trabalha como auxiliar administrativo em uma empresa privada, com entrada no pronto-socorro apresentando cefaleia, febre, dor de garganta e diarreia há algumas semanas. Informa ter relacionamento homoafetivo, parceiro fixo, porém com acordo mútuo de relacionamento aberto, em que eles podem se relacionar sexualmente com outras pessoas. Com seu parceiro fixo, o sexo oral e anal acontece sem o uso de preservativo; e, nas relações sexuais casuais fora do seu relacionamento, ocorre sexo oral e anal com o uso de preservativo, na maioria das vezes. Realizou-se o teste rápido para detectar o HIV, com resultado positivo. PJM foi encaminhado para uma unidade de referência, fez os exames complementares e iniciou seu tratamento com medicações antirretrovirais”.
Caso contrário de diagnóstico precoce
O caso contrário ilustra exemplo contrário daquilo que não representa o conceito. A seguir, descreve-se o caso contrário do conceito diagnóstico precoce em pacientes com HIV/aids(6).
“PJM, 28 anos, sexo masculino, ensino médio completo, trabalha como auxiliar administrativo em uma empresa privada, com entrada no pronto-socorro apresentando cefaleia, febre, dor de garganta e diarreia há algumas semanas. Informa ter relacionamento homoafetivo, parceiro fixo, porém com acordo mútuo de relacionamento aberto. O sexo oral e anal acontece sem o uso de preservativo com seu parceiro fixo e também nas relações sexuais casuais. Foi indicada a realização do teste rápido para detectar o HIV, porém estava em falta na unidade, logo, para tal, o paciente foi encaminhado para uma unidade de referência, mas os agendamentos estavam suspensos devido à alta demanda. PJM melhorou dos sintomas, porque fez uso das medicações prescritas pelo médico que o atendeu; continuou mantendo relações sexuais desprotegidas dentro e fora do seu relacionamento. Após alguns meses, PJM deu entrada no pronto-socorro com aqueles mesmos sintomas clínicos, porém com piora do estado geral e dos exames laboratoriais. Houve a necessidade de internação hospitalar, pois precisava tratar da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)”.
Esse caso contrário fictício apresenta desacordo com os atributos essenciais para identificação do conceito “diagnóstico precoce”, pois a falta de informação favorece comportamentos de risco. Além disso, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) precisam direcionar seus esforços para manter estoques abastecidos com testes rápidos para detectar os anticorpos anti-HIV e direcionar de forma eficaz o paciente com sinais e sintomas da infecção à unidade de referência mais próxima.
Na sétima etapa deste estudo, verificaram-se os elementos antecedentes e consequentes do conceito “diagnóstico precoce”, sendo seis antecedentes e 15 elementos associados aos consequentes, conforme descrição no Quadro 3.
Frequência dos antecedentes e consequentes do conceito “diagnóstico precoce” em pacientes com HIV/aids (n = 16), segundo frequência absoluta e relativa, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2022
DISCUSSÃO
A discussão está dividida em duas sessões mediante a análise dos atributos, antecedentes e consequentes do diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids.
Atributos do diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids
Dentre os atributos com maior evidência neste estudo estão: Relações sexuais homossexuais (14%), Exame precoce (12%), Anticorpos anti-HIV, Contagem de CD4 e Infecções sexualmente transmissíveis (9%). Esses elementos identificados demonstram as características do fenômeno estudado e as circunstâncias associadas ao comportamento que levaram o indivíduo a uma situação que pudesse causar a infecção pelo HIV.
Destaca-se que, dos 16 estudos selecionados, 11 fazem referência às relações sexuais homossexuais como um dos fatores associados ao risco de infecção(11-20,22,25).
No início da epidemia, a aids era caracterizada como uma doença de gays, hemofílicos, profissionais do sexo e de pessoas intelectuais que moravam na capital, no entanto há mudanças epidemiológicas evidenciadas e demonstradas por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e da Base de Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), em que se verifica maior feminilização dos casos de aids, pauperização, interiorização da doença no país(26).
Faz-se necessário realizar ações que abordem a temática, principalmente em locais públicos e nas mídias sociais, pois um dos maiores desafios para erradicar esta endemia está associado à falta de informação; logo, quanto mais a sociedade estiver ciente sobre a doença, formas de contágio e sintomas, maior será a chance de o indivíduo infectado procurar um serviço de saúde(12,18,20).
A infecção por HIV pode ocasionar modificações no organismo do indivíduo, gerando a possibilidade de desenvolver sintomas específicos desde a fase aguda até a fase avançada da aids. Dessa forma, a promoção de conhecimento sobre a temática é essencial, pois esse público apresenta sintomas da doença, tem comportamento de risco e não realiza as condutas pós-exposição; e estima se que o tempo médio entre o contágio e o aparecimento dos primeiros sintomas da doença seja em torno de dez anos(8).
As mudanças do perfil epidemiológico do HIV e os avanços tecnológicos também exigem que os profissionais da saúde e os órgãos responsáveis divulguem informações educativas e atualizações de estratégias capazes de promover o processo de ensino-aprendizagem(27).
Antecedentes e consequentes do diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids
Os antecedentes encontrados nos estudos demonstram os eventos que precedem o conceito de diagnóstico precoce e auxiliam a compreender o contexto dos pacientes recém-diagnosticados com HIV/aids.
Dentre os antecedentes, seis elementos foram identificados com frequência significativa: Comportamento de risco (12%), Informação (11%), Drogas injetáveis (6%), Relações sexuais desprotegidas (5%), Acesso ao serviço (2,5%) e Prevenção (2%).
Quanto a Comportamento de risco, Informação, Relações sexuais desprotegidas e Drogas injetáveis, é válido salientar que o HIV - causador da aids, atualmente classificada como doença crônica transmissível - pode ser encontrado em fluidos ou secreções corporais como sangue, sêmen, secreções vaginais e leite materno(3).
Pode ser transmitido por meio de relações sexuais desprotegidas, acidentes biológicos com perfurocortantes contaminados pelo vírus, principalmente em instituições de saúde (hospitais, clínicas ou laboratórios), compartilhamento de seringas e agulhas, por transfusão sanguínea; também pode acontecer de forma vertical, entre a mãe infectada e o filho durante a gestação, parto ou amamentação(2-3).
Vale dizer que a aids mostrava-se como uma condição aguda, pois se manifestava rapidamente depois do diagnóstico e, como não havia tratamentos disponíveis, apresentava altas taxas de mortalidade. Após algumas décadas, é considerada uma doença crônica transmissível devido, sobretudo, a três fatores: avanços no conhecimento sobre a história natural da infecção pelo HIV; possibilidade de monitorar a progressão da doença com o surgimento de marcadores laboratoriais tais como os exames de T CD4 e de carga viral; e avanços do tratamento com antirretrovirais(28).
Nos dias atuais, verifica-se um aumento no número de indivíduos infectados e que vivem com o HIV e conseguem ter uma boa qualidade de vida, pois, com o avanço tecnológico e crescimento da indústria farmacêutica, foram desenvolvidos medicamentos específicos para conter a replicação viral, com o uso da terapia antirretroviral (TARV)(22). Ressalta-se que o diagnóstico precoce é essencial para o melhor prognóstico de quem vive vírus(29).
No que concerne aos termos consequentes, os mais prevalentes foram Tratamento antirretroviral, Soroconversão, Transmissão, Consultas e Aconselhamento. Ao longo do tempo, houve uma evolução tanto no diagnóstico como no tratamento para “pessoas que vivem com HIV” (PHIV), o que colabora para os termos consequentes evidenciados nos estudos, por acompanharem a evolução dos fenômenos envolvidos com a temática.
Em relação ao diagnóstico, pode ser feito com exames complementares, como testes rápidos (TR); e também mediante o teste imunoensaio de triagem - ELISA, com ensaio de imunoadsorção enzimática, utilizado em adolescentes, adultos e crianças acima de 18 meses de vida. Para a confirmação do diagnóstico, pode ser usado o teste Imunoblot, Westerm Blot ou imunoensaios em linha e testes moleculares, sendo, estes, capazes de identificar o antígeno, RNA e DNA pró-viral do HIV. Tais exames são eficazes e proporcionam o diagnóstico de infecções agudas e crônicas, permitindo que as estratégias de tratamento sejam aceleradas(25,27).
No âmbito nacional, as taxas de mortalidade por aids demonstram um decréscimo relevante. A PHIV, quando utiliza de forma adequada as medicações, consegue estabelecer estratégias para melhorar e garantir suas atividades laborais, convívio familiar e ter qualidade de vida. Ademais, o papel dos profissionais de saúde, em especial do enfermeiro, em monitorar o paciente no que concerne a falhas no tratamento, é essencial para uma adesão eficaz do paciente(20).
Nesse contexto ampliado da prática de enfermagem, o cuidado prestado passa a ter foco não só no indivíduo, mas também na sua família, uma vez que os profissionais começam a compreender que as alterações físicas, emocionais, psicológicas podem afetar os membros familiares, já que todos terão de organizar e redimensionar a sua vida e aprender a conviver com a doença e implicações dela decorrentes(24).
Em se tratando dos atributos, antecedentes e consequentes, importa salientar que, devido à prática de enfermagem na assistência à pessoa com HIV se modificar em decorrência de diversos contextos (hospitalar, domiciliar, centros especializados, assim como características e necessidades do paciente), esses elementos conceituais podem vir a mudar. Por isso, torna-se imperativo o desenvolvimento de outros estudos que venham a elucidar o conceito do diagnóstico precoce em HIV/aids na diversidade desses contextos(10,13,15).
O desenvolvimento do conhecimento em enfermagem representa novos enfoques teóricos e estratégias de cuidar com base em teorias já estabelecidas; e os referenciais teóricos fortalecem a prática por fornecer meios para interpretar objetos de estudo da enfermagem, contribuindo com a reflexão e, assim, gerando uma realimentação entre a teoria e a prática(16-17,19,22).
Limitações do estudo
Uma limitação foi o uso de apenas artigos de acesso gratuito, o que pode ter reduzido o tamanho da amostra.
Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública
O estudo promove o entendimento do conceito “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids”, contribuindo para que os profissionais tenham uma visão ampla sobre os fatores a ele associados. Dessa forma, mediante a compreensão do fenômeno investigado, os profissionais de saúde podem desenvolver estratégias de acolhimento para os pacientes que são diagnosticados durante o processo de internação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de conceito permitiu clarificar o conceito “diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids”, demonstrando os fenômenos envolvidos com a temática ao longo da história. Poderá subsidiar outros estudos, já que os conceitos sofrem modificações à medida que as práticas de saúde avançam.
Com isso, o estudo contribui para que os profissionais possam compreender as diversas dificuldades envolvidas no enfrentamento do HIV, o estigma social, as dificuldades no enfrentamento em processos de internação, falhas terapêuticas e melhora da qualidade de vida desses pacientes.
Por fim, este trabalho representa um avanço para a literatura da temática ao sintetizar e analisar o fenômeno de diagnóstico precoce da infecção por HIV/aids.
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Editado por
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EDITOR CHEFE: Álvaro Sousa
-
EDITOR ASSOCIADO: Luís Carlos Lopes-Júnior
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
07 Ago 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
10 Jul 2022 -
Aceito
27 Jan 2023
