Reflexões sobre o uso de referenciais teóricos nas pesquisas em enfermagem

RESUMO

Objetivos:

refletir sobre o uso de referenciais teóricos nas pesquisas em enfermagem.

Métodos:

estudo teórico-reflexivo, fundamentado em conceitos e construtos pertinentes ao uso das teorias da enfermagem e outras ciências, considerando questões da epistemologia ou filosofia das ciências.

Resultados:

apresentamos o que é e por que fazer pesquisa em enfermagem, o que é o referencial teórico e por que utilizá-lo, além de ponderações concernentes ao uso de referenciais teóricos em enfermagem, essenciais para construção do conhecimento disciplinar, que possibilita a materialização do trabalho do pesquisador e a apresentação das proposições resultantes das investigações na e para a enfermagem enquanto ciência.

Considerações Finais:

a partir da reflexão pautada em concepções epistemológicas, é possível afirmar que o referencial teórico é o core do pensamento do pesquisador, ao delimitar um problema a ser investigado e, a partir dele, traçar estratégias metodológicas a serem seguidas, fundamentando o agir e pensar da enfermagem enquanto ciência.

Descritores:
Pesquisa; Ciência; Teoria de Enfermagem; Pesquisa em Enfermagem; Pesquisadores

ABSTRACT

Objectives:

to reflect on theoretical framework use in nursing research.

Methods:

a theoretical-reflexive study, based on concepts and constructs pertinent to using nursing theories and other sciences, considering issues of epistemology or philosophy of science.

Results:

we presented what it is and why to do nursing research and what a theoretical framework is and why to use it, in addition to some considerations regarding theoretical framework use in nursing research, essential for constructing disciplinary knowledge, which enables the materialization of researchers’ work and the presentation of propositions resulting from investigations in and for nursing as a discipline and science.

Final Considerations:

based on a reflection based on epistemological conceptions, it is possible to affirm that a theoretical framework is the core of researchers’ thinking, delimiting a problem to be investigated and, based on it, outlining methodological strategies to be followed, supporting nursing action and thinking as discipline and science.

Descriptors:
Research; Science; Nursing Theory; Nursing Research; Research Personnel

RESUMEN

Objetivos:

reflexionar sobre el uso de referentes teóricos en la investigación en enfermería.

Métodos:

estudio teórico-reflexivo, basado en conceptos y constructos relevantes para el uso de las teorías de enfermería y otras ciencias, considerando cuestiones de epistemología o filosofía de la ciencia.

Resultados:

presentamos qué es y por qué hacer investigación en enfermería y qué es el marco teórico y por qué utilizarlo, además de algunas consideraciones sobre el uso de marcos teóricos en la investigación en enfermería, esencial para la construcción del conocimiento disciplinar, que posibilita la materialización del trabajo del investigador y la presentación de proposiciones resultantes de las investigaciones en y para la enfermería como disciplina y ciencia.

Consideraciones Finales:

a partir de una reflexión sustentada en concepciones epistemológicas, es posible afirmar que el marco teórico es el núcleo del pensamiento del investigador, al delimitar un problema a investigar y, con base en él, delinear las estrategias metodológicas a seguir, apoyando la acción y el pensamiento de la enfermería como disciplina y ciencia.

Descriptores:
Investigación; Ciencia; Teoría de Enfermería; Investigación en Enfermería; Investigadores

INTRODUÇÃO

A enfermagem, na qualidade de campo disciplinar do conhecimento, tem produzido pesquisas em âmbito nacional e internacional. No cenário brasileiro, isso tem ocorrido, especificamente, devido a um esforço da área nas instâncias de representações institucionais e de educação/formação profissional, de modo que se faz necessário que os resultados das pesquisas impactem essas instituições, bem como a prática de nosso campo profissional. Como consequência, tem-se uma enfermagem que responda aos problemas que necessitam dos cuidados da enfermeira e equipe, os quais devem estar consubstanciados em referenciais teóricos que possibilitem indicar melhores práticas aos indivíduos e coletividade.

Sabe-se que, para tais avanços, no campo da ciência, a enfermagem tem expandido, nos cenários da pós-graduação, como espaço estratégico para produção do conhecimento. Nesse sentido, vem aumentando a busca pelo aprimoramento e rigor teórico-metodológico a serem imprimidos nos objetos de investigações, haja vista ser a pós-graduação o lócus privilegiado para a produção de conhecimentos, assumindo, assim, a centralidade do processo de pesquisa.

Assim, daqueles que se propõem a produzir nesse espaço estratégico, espera-se o cumprimento de exigências imprescindíveis para o avanço e aprimoramento do pensamento e da disciplina da enfermagem. Tal processo perpassa pela adoção de recursos epistemológicos, metodológicos, técnicos, práticos e uma postura acadêmico-científica que valorize e assegure resultados de pesquisas profícuos e consistentes na construção de novos conhecimentos e na formação de novos pesquisadores.

Na perspectiva de recursos epistemológicos, há o referencial teórico nas pesquisas, que se configura a estrutura que pode sustentar ou apoiar o aporte da teoria de um estudo de investigação. O quadro teórico abrange não apenas a teoria, mas a explicação narrativa sobre como o pesquisador utiliza a teoria e seus pressupostos subjacentes para investigar o problema de pesquisa, tornando sua utilização uma condição necessária para substancializar os conhecimentos produzidos(¹).

Pensando na responsabilidade da pós-graduação na formação de pesquisadores, este ensaio teórico-reflexivo parte de uma inquietação das autoras e autor, ao longo de suas trajetórias como investigador(as) na área da enfermagem, sobre o uso de referenciais teóricos, considerados o cerne na construção do conhecimento.

OBJETIVOS

Refletir sobre o uso de referenciais teóricos nas pesquisas em enfermagem.

MÉTODOS

Estudo teórico-reflexivo, fundamentado em conceitos e construtos pertinentes ao uso das teorias de enfermagem e outras ciências, considerando a filosofia das ciências e a epistemologia(¹). Tal reflexão foi extraída da conferência “Referencial Teórico na Pesquisa em Enfermagem”, ministrada por uma das autoras durante o 22º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem (SENPE) e o 3º Seminário Internacional de Pesquisa em Enfermagem (SEINPE), que ocorreram no ano de 2023 na cidade de Curitiba, Paraná, Brasil.

A exposição de argumentos sobre o uso do referencial teórico requer considerações acerca do propósito e relevância da pesquisa em e para a enfermagem, sendo assim estruturada: o que é e por que fazer pesquisa em enfermagem? O que é o referencial teórico e por que utilizá-lo?

DISCUSSÃO

O que é e por que fazer pesquisa em enfermagem?

Entendemos pesquisa enquanto processo de investigação, interpretação e modernização do saber científico, assumindo-a como uma ferramenta para uma construção eficiente do conhecimento, de modo a nos possibilitar descontruir velhas hipóteses e desenvolver novos fatos que viabilizem evidências científicas(²).

Os propósitos específicos da pesquisa em saúde e, neste ensaio, tratando-se da enfermagem, incluem a identificação, descrição, exploração (estudos descritivos, qualitativos, quantitativos e mistos), explicação (estudos de interpretação), predição e controle (estudos propositivos e avaliativos), além do desenvolvimento de inovação e tecnologia. No que tange à natureza, a pesquisa básica é realizada para ampliar a base de conhecimento em uma disciplina ou para formular ou refinar uma teoria enquanto a pesquisa aplicada se concentra em buscar por soluções para problemas existentes(³).

Além dessas, vale destacar a pesquisa analítica, realizada a partir de procedimentos rigorosos e cuidadosamente elaborados no processo de coleta e análise de dados. Nessa modalidade de pesquisa, é enfatizado o desenvolvimento de generalizações, princípios e teorias que podem ser úteis na previsão de ocorrências futuras, o que requer o uso de referenciais teóricos consistentes(⁴).

Independentemente das possibilidades do fazer pesquisa, toda investigação cientifica é essencial para o avanço de qualquer disciplina. Na enfermagem, não é diferente, logo, a pesquisa pode revolucioná-la. Nesse sentido, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reconhece que a pesquisa e a produção do conhecimento na área da enfermagem constituem uma prioridade estratégica em todo o mundo(⁵).

Promover avanços à disciplina e à ciência da enfermagem é uma das grandes contribuições da pesquisa, que visa desenvolver conhecimentos sobre saúde e enfermagem, a fim de aumentar as competências das pessoas em responder efetivamente aos problemas reais ou potenciais, seja para o cuidado de si mesmas, de outras e/ou da coletividade. Tais avanços devem evoluir com as necessidades da sociedade e o progresso da ciência, de tal modo que a pesquisa possa contribuir para moldar o campo profissional da enfermagem, considerando a assistência, o ensino, a pesquisa e a gestão à medida que auxilia enfermeiras e outras profissionais no cuidado baseado em evidências(⁶).

Dito isso, cabe-nos provocar uma reflexão sobre: como as pesquisas que têm sido produzidas estão respondendo aos problemas da coletividade e por que essa resposta ocorre ou não? Em que nível? Uma possível resposta pode ser se sustentar no uso ou desuso de referenciais teóricos que levariam o pesquisador a pontuar e situar os problemas e o retorno das pesquisas diante de aspectos que tenham aderência a situações reais.

Nesse ponto, vale destacar e nos perguntar se temos atendido ao que está posto na legislação quanto ao uso das teorias, inclusive no pensar a prática e, consequentemente, no desenvolvimento de pesquisas, a partir da Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) nº 736/2024, que determina, no seu Art. 2º, a necessidade e relevância de que o “Processo de Enfermagem deve estar fundamentado em suporte teórico, que podem estar associados entre si, como Teorias e Modelos de Cuidado, Sistemas de Linguagens Padronizadas, instrumentos de avaliação de predição de risco validados, Protocolos baseados em evidências e outros conhecimentos correlatos, como estruturas teóricas conceituais e operacionais que fornecem propriedades descritivas, explicativas, preditivas e prescritivas que lhe servem de base”(⁷).

Infere-se, pois, que a enfermagem é uma disciplina que exige habilidades de pesquisa, uma vez que as tomadas de decisões requerem conhecimentos e informações que assegurem o cuidado responsável e eficaz. Para isso, a pesquisa em enfermagem tem buscado construir um corpo avançado de conhecimentos que vise fornecer possibilidades ao profissional na prestação de cuidados de saúde eficientes e com boa relação custo-benefício. Igualmente, molda a atitude do enfermeiro e demais membros da equipe de enfermagem, em uma busca constante por melhorias nas habilidades técnicas e relacionais, ao mesmo tempo em que preenche lacunas e contribui para as descobertas de novos conhecimentos sobre a prática.

Na formação acadêmica, os grupos de pesquisa se constituem enquanto espaços formativos de investigadores, possibilitando a ampliação da produção do conhecimento(⁸). Urge, assim, uma formação para o aprimoramento das habilidades necessárias para se tornarem pesquisadores, o que perpassa pelo desenvolvimento de um perfil amplo e competitivo capaz de planejar e gerenciar projetos de pesquisas científicas, além de produzir e empreender os seus resultados de modo a cooperar com o progresso do conhecimento da enfermagem e da saúde.

Destarte, cabe-nos refletir e questionar: como a vivência dos graduandos e pós-graduandos nos grupos de pesquisa no gerenciamento e na execução dos projetos de pesquisa tem se dado? Nesses espaços, tem havido discussões acerca de questões epistemológicas ou filosóficas a ponto de promover uma busca real por fundamentos em tais perspectivas? É importante trazermos essa provocação, para que, durante os momentos de discussões acerca da seleção dos recursos teóricos-metodológicos, seja despertado um olhar para com o uso das teorias como suporte teórico para ampliar a visão sobre o fenômeno a ser investigado.

O que é o referencial teórico e por que utilizá-lo?

O referencial teórico é uma estratégia monocular utilizada pelo pesquisador para pensar o problema e o caminho a ser percorrido para respondê-lo; é a luz para guiar a análise dos dados, a fim de encontrar proposições pertinentes e apropriadas à prática de nosso campo profissional em todas as suas áreas de atuação. Dessa forma, o uso de uma estrutura teórica visa subsidiar o pesquisador no esclarecimento das disposições epistemológicas, na identificação da lógica por trás das escolhas metodológicas e na construção de uma teoria como resultado de pesquisa, manifestando-se enquanto guia para o estudo/investigação.

O referencial teórico encontra-se na interseção entre três elementos: o conhecimento existente e as ideias previamente formadas sobre dado fenômeno complexo; as disposições epistemológicas do pesquisador em uma espécie de lente; e uma abordagem metodicamente analítica(¹). Portanto, para definição do referencial a ser utilizado na pesquisa, faz-se necessário um estudo sistemático das bases filosóficas do conhecimento científico que possibilite ao investigador o conhecimento acerca do quadro de referências básicas onde situam-se as teorias e os pressupostos da pesquisa.

Nesse interim, importa pontuar a diferença entre referencial teórico e revisão de literatura, equivocadamente tidos como sinônimos. A revisão da literatura, com propósito mais restrito e específico, é a estrutura que mostra logicamente como o objeto ou fenômeno de estudo está apresentado no contexto da literatura; é como uma revisão narrativa do estado da arte acerca do problema de pesquisa, do fenômeno a ser investigado, inclusive apontando a lacuna do conhecimento a ser preenchida.

Assim, a formação em pesquisa precisa considerar que os diferentes caminhos metodológicos necessitam ser percorridos com fiel observância aos pressupostos filosóficos que os norteiam. O conhecimento desses pressupostos, implícitos no referencial teórico e explícitos no diálogo que cada pesquisador, em particular, realiza ao problematizar seu tema de investigação, possibilita-o à criação de diferentes delineamentos de investigação, em uma liberdade criadora responsável por resguardar a coerência com os pilares filosóficos(⁹). É nesse ato de vigilância constante que reside o rigor científico.

Ao considerarmos a aplicabilidade do referencial teórico, por muitas vezes, observa-se que esse não vem sendo empregado no desenvolvimento de pesquisas de abordagem quantitativa, estando seu uso restrito aos estudos qualitativos(⁶), e precisamos nos perguntar o motivo pelo qual isso só ocorre neste tipo de estudo. É premente uma formação de pesquisadores que promova a compreensão da necessidade de referencial teórico na pesquisa em enfermagem, independentemente da abordagem metodológica, seja ela quantitativa, qualitativa ou mista, a fim de subsidiar uma prática profissional que impacte positivamente o cuidado à saúde da pessoa, família e coletividade.

Considerando o aclaramento da necessidade do uso do referencial teórico, o campo de conhecimentos da área da enfermagem tem seus fundamentos situando-se nas ciências humanas, sociais e biológicas. Todavia, a fundamentação que essas ciências podem dar não está pronta e não responde a todos os objetos de estudos da nossa área, muito especialmente o cuidado profissional de enfermagem. Nesse sentido, não pode ser utilizada de forma prescritiva na prática cotidiana da assistência e do cuidar. Assim, os problemas específicos referentes ao cuidar da enfermagem precisam ser investigados, ao elaborar os dados empíricos à luz de referenciais teóricos, reconstruindo-os, de forma a possibilitar uma estrutura de conhecimentos que fundamente sua prática(⁹).

Esse processo imprimirá um olhar amplo e direcionado pela forma de pensar que define o pesquisador e é construído a partir do seu percurso histórico-social, auxiliando-o na codificação e interpretação dos seus dados. Assim sendo, é importante ressaltar que as disposições epistemológicas e ontológicas representam a arquitetura de como o pesquisador vê o mundo e sustenta sua produção de conhecimento(¹). Há que ter domínio dessa base de conhecimento desde sua origem, utilização e como se aglutina aos conhecimentos da área da enfermagem para consolidá-lo e, assim, poder constar como substrato do projeto, relatório e produtos da pesquisa.

Consequentemente, uma ponderação se faz necessária, importando refletir: como os educadores/orientadores dos cursos de pós-graduação devem conduzir a formação relativa ao uso de referencial teórico? Esses têm sido utilizados no desenvolvimento das dissertações e teses? Quando são adotados de fato, têm ampliado e aprimorado os conceitos e construtos advindos dos referenciais assumidos em cada relatório de dissertação e tese?

Sabe-se que os pesquisadores que trabalham na educação de profissões na área da saúde são frequentemente aconselhados a abordar e integrar os seguintes conceitos: teoria e/ou quadro teórico. Logo, cabe-nos um esclarecimento acerca dessa diferenciação. Uma teoria é um conjunto de proposições que estão logicamente relacionadas, expressando as relações entre vários construtos e proposições diferentes. Em outras palavras, uma teoria é uma descrição abstrata das relações entre conceitos que nos ajudam a entender o mundo(⁴). Exemplificando, podemos pontuar a utilização, para pesquisas de abordagens qualitativas, das teorias de enfermagem, sociologia e outras; para estudos de abordagens quantitativas, a epidemiologia; e para estudos mistos, as grandes teorias das distintas disciplinas do conhecimento.

Por sua vez, um quadro teórico corresponde a um conjunto de conceitos e premissas logicamente desenvolvidos e conectados - a partir de uma ou mais teorias - que um pesquisador cria para estruturar um estudo. Assim, um quadro teórico é o reflexo do trabalhar do pesquisador que se compromete a usar uma teoria em um determinado estudo(⁴). Vale ressaltar que as agências de fomento, órgãos financiadores de pesquisas, valorizam projetos contendo quadros teóricos articulados, avaliando se o estudo e sua estrutura conceitual estão explicitamente descritos e justificados.

Feita tal distinção, cabe-nos questionar se temos usado tais elementos na construção de conhecimentos no cenário de pesquisa brasileiro, considerando que os estudos(¹⁰) indicam que, além da pouca ou inexistente validade e/ou confiabilidade das medidas de coleta de dados, a falta de uma estrutura teórica é a razão mais citada como justificativa da decisão editorial de não publicar um manuscrito, segundo texto do Journal of Science Teacher Education. Isso mostra que uma parca estrutura teórica ou sua ausência é um problema igualmente crítico para manuscritos submetidos a periódicos científicos.

Em síntese, reafirmamos que um estudo com pouca base teórica e modestos recursos metodológicos acaba por produzir um relatório simplista, incorrendo no risco de não ser considerado como uma produção de conhecimento. Pesquisas com um foco em excesso na teoria e um método pobre podem ser consideradas um ensaio teórico, por não produzir uma adequada integração entre os dados originais e sua estrutura de análise. Por outro lado, o excesso de atenção ao método sem a devida atenção à teoria produzirá um estudo impotente, pouco reflexivo e analítico, com excessivo uso de técnicas que não se articulam. O que se espera, de fato, é um estudo com alto rigor metodológico e no referencial teórico, de modo a produzir conhecimentos complexos e regado de insights competitivos para o mundo do conhecimento, como pode ser demostrado no infográfico apresentado na Figura 1(¹).

Figura 1
Quadrante avaliativo com destaque para a importância do método e da teoria(¹)

Embora muito progresso tenha sido feito desde a época de Nightingale em termos de quantidade de pesquisas em enfermagem e diversidade de temáticas estudadas, grande parte foi realizada sem uma base conceitual ou teórica explícita. Todavia, reforçamos que as estruturas teóricas são extremamente importantes para todo o trabalho de pesquisa, a fim de justificar e validar a importância e o significado do estudo(¹⁰).

Gradualmente, as enfermeiras reconhecem que as pesquisas em enfermagem terão muito mais valor agregado se forem guiadas por um referencial teórico ou um modelo conceitual em vez de deixá-lo implícito(¹¹). Nesse sentido, o referencial teórico, que direciona o objeto de estudo, parte do uso de uma teoria (ou teorias) em um estudo que simultaneamente transmite os valores mais profundos do pesquisador e fornece uma indicação ou um olhar claramente articulada(o) de como o estudo processará novos conhecimentos(¹).

No cenário da pós-graduação, é perceptível a apropriação de referências epistemológicas para que se possa construir o conhecimento no campo científico, constituindo-se, assim, uma exigência intrínseca às candidatas a pesquisadores que pleiteiam uma vaga na pós-graduação, principalmente doutorandos. Portanto, impõe-lhe se inserir, de corpo e alma, no debate epistemológico contemporâneo, para se dar conta das referências teóricas sob as quais pretende abordar as fontes de seu objeto de pesquisa(³). A partir do debate, quaisquer que sejam seus pressupostos epistemológicos e mediações técnico-metodológicas, existirá sempre uma “interpretação” teórica de dados empíricos, da qual germina uma significação.

Assim, a ciência, como modalidade de conhecimento, só se processa como resultado de articulação do lógico com o real, do teórico com o empírico. Não se reduz a um mero levantamento e exposição de fatos ou a uma coleção de dados; isso é fotografia, é estudo descritivo, e há que evoluir para estudos explicativos, interpretativos e propositivos. Esses estudos, sim, podem ser aplicados, (re)testados, indicados para subsidiar políticas públicas e processos gerenciais e para sustentar gastos e valores agregados aos cuidados de enfermagem, fortalecendo nosso campo profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Toda pesquisa criteriosa, capaz de absorver conhecimentos e aplicável à prática, tem o referencial teórico como o substrato do seu processo. É o core do pensamento do pesquisador ao iniciar o caminho a partir do pensar e delimitar o problema, pautado em reflexões acerca das concepções epistemológicas que indicam possibilidades para um cuidado profissional de enfermagem congruente com o que é necessário e com o que a enfermagem pode oferecer.

O referencial teórico corresponde a uma lupa a partir da qual o pesquisador tem o suporte para construir suas bases para a disciplina e ciência da enfermagem. É o que nos possibilita mudar realmente nossa prática profissional de forma sustentada, tornando-nos visíveis e empoderados.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho

EDITOR ASSOCIADO: Rafael Silva

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  29 Jul 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  17 Nov 2023
• Aceito
  14 Abr 2024