The objective is to produce a critical-reflexivity analysis of nursing care, from the perspective of complexity thinking and social entrepreneurship. Theoretical-reflective study, supported by the framework of complexity thinking and social entrepreneurship. The main characteristics that lead and support nursing care are analyzed from a systemic-entrepreneurial perspective. A parallel is conceived between vertical care, design from a hierarchical structure and nursing care in the systemic-entrepreneurial perspective, which leads to singularity, originality, circularity, complementarity and interactivity. The centrality of nursing care is reaffirmed as a tangible social good or not. Theoretical reflection on nursing care as a systemic and entrepreneurial phenomenon raises a unique and multidimensional perception of the human being/user, health, the nursing work process, in order to achieve an increasingly agile, dynamic, circular, complementary and interdependent care.
DESCRITORES Cuidados de Enfermagem; Liderança; Pandemia; Papel do Profissional de Enfermagem; Enfermagem em Saúde Pública; Dinâmica não Linear
ABSTRACT
The objective is to produce a critical-reflexivity analysis of nursing care, from the perspective of complexity thinking and social entrepreneurship. Theoretical-reflective study, supported by the framework of complexity thinking and social entrepreneurship. The main characteristics that lead and support nursing care are analyzed from a systemic-entrepreneurial perspective. A parallel is conceived between vertical care, design from a hierarchical structure and nursing care in the systemic-entrepreneurial perspective, which leads to singularity, originality, circularity, complementarity and interactivity. The centrality of nursing care is reaffirmed as a tangible social good or not. Theoretical reflection on nursing care as a systemic and entrepreneurial phenomenon raises a unique and multidimensional perception of the human being/user, health, the nursing work process, in order to achieve an increasingly agile, dynamic, circular, complementary and interdependent care.
DESCRIPTORS Nursing Care; Leadership; Pandemics; Nurse's Roles; Public Health Nursing; Nonlinear Dynamics
RESUMEN
Este estudio pretende realizar un análisis crítico-reflexivo de los cuidados de enfermería desde la perspectiva del pensamiento de la complejidad y del emprendimiento social. Se trata de un estudio teórico-reflexivo, apoyado en el marco del pensamiento de la complejidad y del emprendimiento social. Se analizan las principales características que conducen y sostienen los cuidados de enfermería desde una perspectiva sistémico-emprendedora. Se establece un paralelismo entre los cuidados verticales, perfilados desde una estructura jerárquica, y los cuidados de enfermería, desde una perspectiva sistémico-emprendedora, que conduce a la singularidad, la originalidad, la circularidad, la complementariedad y la interactividad. Se reafirma la centralidad de los cuidados de enfermería como bien social tangible o intangible. La reflexión teórica sobre el cuidado enfermero como fenómeno sistémico y emprendedor plantea una percepción singular y multidimensional del ser humano/usuario, de la salud y del proceso de trabajo enfermero, para lograr un cuidado cada vez más ágil, dinámico, circular, complementario e interdependiente.
DESCRIPTORES Atención de Enfermería; Liderazgo; Pandemias; Rol de la Enfermera; Enfermería en Salud Pública; Dinámicas no Lineales
INTRODUÇÃO
O presente estudo teve origem no questionamento: o que mesmo há de novo no cuidado de enfermagem e como este se distinguiu no período pandêmico? Denotou-se, sem grandes premeditações, que o cuidado de enfermagem é, por excelência, original, inovador, tranformador e, por isso, sempre empreendedor. Partindo-se dessa premissa, o enfermeiro será sempre empreendedor e o cuidado, consequentemente, terá sempre um efeito agregador de bem-estar e valor social tangível ou não, considerado uma das principais características do empreendedorismo social(1).
O cuidado de enfermagem pode/deve ser caracterizado, sob esse impulso, como fenômeno sistêmico e empreendedor pelo seu caráter singular, original e transformador. Dinamizado por meio de múltiplas relações, interações e associações sistêmicas, o cuidado de enfermagem tem sempre por finalidade última o bem-estar da pessoa/indivíduo em âmbito individual e coletivo(2). Logo, o cuidado de enfermagem transcende a perspectiva pontual e linear verticalizada de ser e mover-se somente como ação e abarca um movimento de interlocução circular, complementar e dialógica entre atores – cuidador e pessoa/família/comunidade sob cuidado(3).
O cuidado de enfermagem deve, portanto, ser apreendido e promovido como investimento social, capaz de gerar conforto, alívio e bem-estar(4). Em sua dimensão inovadora, agregadora e potencializadora de vida e saúde, o cuidado de enfermagem constitui-se, por excelência, em importante contributo à qualidade de vida das pessoas. No entanto, não haverá cuidado inovador e transformador sem que haja Enfermeiros líderes empreendedores(5,6).
A concepção de empreendedorismo vem sendo amplamente discutida nas diferentes áreas do conhecimento. Enquanto alguns o retratam por necessidade ou por oportunidade, outros centram-se no empreendedorismo social que visa a promoção da qualidade de vida social, cultural, econômica e ambiental sob a ótica da sustentabilidade(7–9). Para além dessas concepções, o empreendedorismo da enfermagem pode estar relacionado à qualidade de vida, os valores e princípios de um sentido de vida e viver humano pós-pandêmico(10).
A enfermagem desempenha, portanto, importante função tanto na promoção, na proteção e na educação em saúde, quanto na assistência curativa, em empreendimentos de consultoria e na assessoria, dentre outros. Desde o início da pandemia do Covid-19, vários estudos abordaram a função da enfermagem e demostraram que estes profissionais, independentemente das circunstâncias, desenvolveram grande senso de responsabilidade social, além do protagonismo em diversas frentes/processos de cuidado em saúde(11,12). Poucos deles, no entanto, buscaram descortinar o real impacto do cuidado de enfermagem na comunidade e como este se diferencia dos demais saberes e práticas profissionais(13–15).
Objetiva-se, com base no exposto, produzir análise crítico- reflexiva sobre o cuidado de enfermagem, na perspectiva do pensamento da complexidade e do empreendedorismo social.
MÉTODO
Estudo teórico-reflexivo, apoiado no referencial sistêmico e no empreendedorismo social. Analisa-se as principais características que conduzem e sustentam o cuidado de enfermagem na perspectiva sistêmico-empreendedora. O pensamento sistêmico-complexo e o empreendedorismo social estabelecem-se como referenciais relevantes à compreensão do que os usuários, crescentemente, esperam e necessitam dos profissionais de enfermagem/saúde – um cuidado singular e pluridimensional.
Morin(16), o protagonista do pensamento da complexidade, não antevê um percurso metodológico predefinido para analisar e descrever os fenômenos sociais. O mesmo encoraja um percurso próprio, no qual o investigador é induzido, como protagonista, a aprender, a inventar e a modificar o seu itinerário com base na (re)construção e na ampliação do próprio conhecimento.
O presente estudo delineia-se, nessa direção, a partir de referenciais que se materializam ao inventar, questionar e tecer, em conjunto, as experiências do vivido no aprender, ensinar, investigar, congregar e no cuidar em saúde e em enfermagem. Possibilita-se, para tanto, um paralelo esquemático entre o cuidado tradicional verticalizado, concebido a partir de uma estrutura hierárquica linear e pontual e o cuidado de enfermagem na perspectiva sistêmico-empreendedora.
Assim, o arcabouço teórico-reflexivo constitui-se de produções de Edgar Morin, as quais conservam o âmago do pensamento sistêmico-complexo, sobremaneira, evolutivo e transformador(16–18), além de produções que sustentam o cuidado de enfermagem como empreendedor(19–21). Nesse percurso, serão exploradas, sem dá-las como conclusivas, concepções como: singularidade, pluridimensionalidade, originalidade, interatividade, complementaridade e transformação.
DA CONCEPÇÃO VERTICAL HIERÁRQUICA À PERSPECTIVA SISTÊMICO-EMPREENDEDORA DE CUIDADO
Acompanha-se, nos diferentes serviços de saúde, pesquisas que avaliam a satisfação do usuário em relação às suas expectativas, sugestões e feedbacks do cuidado de enfermagem para, a partir de então, desenvolver estratégias de melhoria da qualidade. O foco deste estudo, no entanto, não se reduz à análise da qualidade do cuidado de enfermagem, mas em demostrar o quanto ele é e pode, cada vez mais, ser original, inovador e transformador, considerando que cada usuário é singular e demandante de cuidados que contemplem necessidades específicas.
Apresenta-se, a seguir, um paralelo esquemático entre o cuidado vertical, esboçado a partir de uma estrutura hierárquica e o cuidado de enfermagem na perspectiva sistêmico-empreendedora, que conduz à singularidade, à originalidade, à interatividade, à circularidade e à complementaridade. Reafirma-se a centralidade do cuidado de enfermagem como bem-estar social. Demostram-se as características predominantes em cada uma das abordagens e sugere-se não a ruptura da lógica vertical hierárquica, mas a sua evolução no sentido de alcançar patamares cada vez mais elevados e avançados em relação ao cuidado em saúde, conforme demonstra a Figura 1.
Abordagem vertical hierárquica e a perspectiva sistêmico-empreendedora de cuidado de enfermagem – Santa Maria, RS, Brasil, 2022.
A descrição teórico-reflexiva é conduzida, com base no paralelo esquemático proposto, mediante o delineamento de duas categorias exploratórias: Estrutura vertical hierárquica de cuidado – ações pontuais e lineares; e Perspectiva sistêmico- empreendedora de cuidado – da linearidade à interatividade circular transformadora.
ESTRUTURA VERTICAL HIERÁRQUICA DE CUIDADO – AÇÕES PONTUAIS E LINEARES
A estrutura vertical tem como características predominantes a ordem e a centralização das decisões no profissional da saúde. Prevalecem, nessa lógica, a interação vertical entre profissional e usuário/família/comunidade, mecanismos rígidos de controle e maior confiança nos protocolos, fluxogramas, rotinas preestabelecidas, dentre outras normativas. Os usuários, receptores da assistência, geralmente não participam das decisões e, consequentemente, são pouco estimulados a desenvolverem a sua autonomia, empoderamento e o autocuidado. Além disso, o usuário de saúde é determinado pela ordem unilateral e disciplinar, enquanto o profissional de saúde assume, na maioria das vezes, características autoritárias, demandadas pela hegemonia do poder/fazer.
Prevalecem, ainda nessa lógica hierárquica, o saber técnico, pontual, linear e descontextualizado sobre as interações entre profissional e usuário, havendo maior interesse em manter o poder hegemônico do que em discutir/negociar demandas e necessidades específicas dos usuários. O usuário é, raramente, ouvido e acolhido em suas reais necessidades de saúde e, mais raramente ainda, é estimulado a desenvolver o seu protagonismo para o autocuidado.
A lógica vertical hierárquica oferece vantagem às decisões pontuais, por vezes necessárias para direcionar e controlar o processo de trabalho da enfermagem de forma ágil e intervencionista ou assistencialista. Essa estrutura demanda atribuições profissionais sustentadas no conhecimento técnico- científico para manter a vida e evitar a morte. Esse percurso, no entanto, geralmente rotineiro e protocolar, facilmente incorre na despersonalização do cuidado e, consequentemente, na acomodação, desinteresse e desumanização do cuidado.
A concepção vertical, fracionada e altamente especializada, tornou-se, na perspectiva sistêmico-empreendedora, insuficiente para responder à crescente complexidade da atenção à saúde. É necessário que se tenha, além de enfermeiros com funções determinadas e altamente especializadas, líderes aptos à tomada de decisões colegiadas e interprofissionais, capazes de valorizar e potencializar iniciativas e saberes dos usuários. A prática avançada em enfermagem, a satisfação do usuário e a qualidade do cuidado dependem, sobremaneira, das habilidades e competências de liderança da Enfermagem(22).
Urge a necessidade de avançar na direção do pensamento sistêmico-complexo-empreendedor. Embora seja mais cômodo manter a rotina, a ordem, o controle e as ações lineares e altamente especializadas, é indispensável acompanhar a dinâmica evolutiva dos sistemas que se acirrou ainda mais com a pandemia da Covid-19. Para Morin, um sistema social estritamente determinista e especializado, demandando apenas ordem, seria um universo sem devir, sem inovação, sem prospecção transformadora(16,17). Como, no entanto, superar a estrutura piramidal determinista de modo a intuir movimentos circulares prospectivos que contemplem, em sua essência, a singularidade, a pluridimensionalidade, a originalidade, a interatividade, a complementaridade e a transformação pelo cuidado de enfermagem?
PERSPECTIVA SISTÊMICO-EMPREENDEDORA DE CUIDADO ENFERMAGEM – DA LINEARIDADE À INTERATIVIDADE CIRCULAR TRANSFORMADORA
Na lógica sistêmico-empreendedora de cuidado, os arranjos funcionais são flexíveis, dinâmicos, complementares e interdependentes. A interação horizontal profissional-usuário/família/comunidade prevalece sobre a lógica vertical hierárquica. As funções profissionais são (re)definidas na interação entre os diversos atores envolvidos no processo de cuidado. O cuidado de enfermagem, sob esse pensar, deve ser apreendido como aquilo que étecidojunto, em associação e interdependência com todos os demais profissionais e usuários da saúde. Logo, qualquer ruído ou evolução em um dos fios da tecedura afeta simultaneamente a unidade complexa – cuidado em sua dimensão singular e multidimensional.
Promover o cuidado nessa perspectiva sistêmico- empreendedora implica conviver com os diferentes atores sociais, dialogar nas diferentes situações, reinventar-se em meio às incertezas e (re)construir-se ao longo da vida. Gera a capacidade de integrar as noções de ordem e desordem, lidar em meio aos conflitos e reajustar-se às continuas condições mutáveis do ambiente(16).
Com base nessa premissa, demostra-se, a seguir, aspectos que evidenciam o cuidado de enfermagem como fenômeno sistêmico e empreendedor, na medida em que:
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Viabiliza o acolhimento sem barreiras, preconceitos ou interesses pessoais e estabelece relações empáticas, demonstrando que cada usuário é merecedor de cuidado digno, respeitoso e afável.
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Possibilita a escuta ativa/significativa e consegue extrair o que há de melhor em cada usuário, a fim de torná-lo mais especial ainda.
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Transcende protocolos/receitas prescritivas e consegue atentar-se à singularidade de cada usuário/família/comunidade.
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Promove o bem-estar do usuário e família, pelo alívio da dor e das tensões, angústias, dúvidas e incertezas.
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Satisfaz necessidades expressas e/ou não, por meio das interações e do vínculo de confiança.
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Suscita trocas horizontalizadas, dialógicas e sinergéticas que favorecem o viver saudável.
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Proporciona ambiência agregadora, estimuladora e impulsionadora de um novo pensar.
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Reforça iniciativas, amplia possibilidades e enaltece as potencialidades do usuário/família, além de valorizar cada conquista do usuário e demonstra que ele é o principal agente de mudança.
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Promove políticas de cuidado à saúde em todos os segmentos da sociedade, a partir de uma rede colaborativa, em prol de melhores práticas às demandas, aos gargalos e às situações vulneráveis de necessidades de atenção à saúde.
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Prospecta novas modalidades e ambientes de interlocução profissional-usuário, como o telenfermeiro, educação em saúde no YouTube, dentre outras.
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Protagoniza movimentos sociais prospetivos de cuidados de enfermagem e saúde, pela superação de barreiras e abertura de novos nichos de culturas genuínas de cuidados à saúde.
Para abranger patamares cada vez maiores e mais avançados em relação ao cuidado de enfermagem, é primordial transcender as barreiras disciplinares e alcançar um saber e conhecer integrado e articulado às diferentes áreas do conhecimento. Esse processo implica em (des)construir saberes e práticas profissionais, em superar reducionismos teóricos e em prospectar estratégias que valorizam a autoridade e a liderança em detrimento da ordem prescritiva hegemônica.
O CUIDADO DE ENFERMAGEM COMO FENÔMENO SISTÊMICO E EMPREENDEDOR
A compreensão de cuidado de enfermagem está relacionada a um complexo de elementos em interação mútua, evolutiva e transformadora. Assim como os demais sistemas, o cuidado de enfermagem é subsidiado por subsistemas e, ao mesmo tempo, está inserido em um sistema maior – Sistema Único de Saúde, o qual interage com os demais sistemas sociais. O cuidado sistêmico-empreendedor desloca-se e retroalimenta-se, nessa direção, a partir de movimentos circulares e interdependentes entre usuários, profissionais, serviços, comunidades, sistema social. A mudança em um subsistema (re)produz-se com o sistema maior, de acordo com a própria dinâmica evolutiva e transformadora(16,18).
A qualidade e o impacto do cuidado de enfermagem é determinada, a partir desse enfoque, pela qualidade das relações, interações e associações dialógicas, visionárias e prospectivas com os diferentes atores envolvidos no processo de cuidado em saúde(23). Estudo reforça esse pensar, ao mencionar que, além da qualidade das interações entre profissional eusuário, o cuidado é determinado pelo acolhimento e atenção às necessidades dos usuários e respeito à sua dignidade(24).
Nesse contexto, a qualidade e o impacto do cuidado de enfermagem influenciam e são influenciados pelos indicadores de saúde, em geral, dos indivíduos, famílias e comunidades e, da mesma forma, relaciona-se às taxas de morbimortalidade, as quais, consequentemente, podem estar associadas à má qualidade do cuidado. Embora as causas de morte sejam, na maioria das vezes, multifatoriais e fortemente atreladas às condições econômicas e de saúde, essas, sob algumas condições e circunstâncias, são altamente dependentes de indicadores sensíveis e relacionais que indicam a qualidade do cuidado em saúde, nesse contexto, em especial, dos profissionais de enfermagem(25,26).
Os indicadores sensíveis podem estar associados e, em alguns casos, determinados pelas condições de trabalho e o processo de cuidado em saúde. Estudo demonstra que os profissionais e usuários de saúde relatam maior satisfação em relação ao cuidado de saúde, ao evidenciarem que este gera bem-estar e agrega valor social(1). Logo, o cuidado de enfermagem empreendedor tem uma relação direta com o significado de trabalho, de ambiência, de acolhimento, de abertura ao novo e de compromisso social. Da mesma forma, o mediador, nesse caso o enfermeiro empreendedor, possui papel relevante ao liderar prospectivamente o processo de cuidado, a partir de tecnologias horizontalizadas e dialógicas(27).
Não basta, no entanto, apenas fortalecer a liderança do Enfermeiro – meta da campanha Nursing Now(28). Para além dessa meta, é preciso desenvolver o pensamento da complexidade e intuir um comportamento empreendedor tanto no ensino e na pesquisa, quanto na apreensão e na dinamização do cuidado de enfermagem, com vistas à (re)organização, ampliação e a prospecção do cuidado de enfermagem como fenômeno sistêmico e empreendedor.
A pandemia da Covid-19 gerou tensões e esgotamento, sem precedentes, entre a equipe de enfermagem, mas, também, possibilitou avanço, conquistas e (re)construções. Embora os enfermeiros sejam a profissão considerada mais confiável, o nível de sua influência em funções e cargos decisórios não corresponde ao reconhecimento público(29). O período pandêmico conduziu os profissionais, em geral, à (re)organização de seus sistemas e à revisão de suas teorias e práticas, a partir de referenciais que ampliam, contextualizam e que consideram tanto a singularidade como a pluridimensionalidade humana de cuidado e saúde.
A pandemia exacerbou à relevância do cuidado de enfermagem nos diferentes ambientes de interlocução humanossocial, além de comprovar que a enfermagem não tem um acervo de verdades absolutas, duradouras e inquestionáveis. É oportuno apreender as lições e os aprendizados dela decorrentes, além de aproveitar o momento para (re)significar atitudes, posturas, valores profissionais e potencializar o cuidado de enfermagem como fenômeno sistêmico e empreendedor.
Conceber o cuidado de enfermagem como fenômeno sistêmico e empreendedor implica, necessariamente, ampliar as concepções de ser humano, de vida, de saúde, de ambiente e de tempo – presente e futuro. Se o profissional de enfermagem tem aptidões e potenciais para produzir um cuidado caracterizado como bem comum social, esse o tem, também, para evoluir, (re)construir, agregar, inovar e prospectar novas estratégias e políticas de saúde.
As contribuições deste estudo, para o avanço da ciência de enfermagem, estão relacionadas à potencialização do cuidado de enfermagem como fenômeno sistêmico e empreendedor e do enfermeiro como mediador de processos de cuidado cada vez mais ágeis, dinâmicos, circulares, complementares e interdependentes. Outra contribuição está associada ao fomento de um novo pensar entre os próprios profissionais de enfermagem, com base em referenciais que ampliam e prospectam possibilidades e novos nichos de atuação, tanto em âmbito social, quanto político e econômico.
Considera-se, como limitação deste estudo, a proposição de apenas dois referenciais teórico-práticaos: sistêmico-complexo e do empreendedorismo, quando se tem muitos outros com potencial de alavancar o cuidado de enfermagem como bem- estar social em evolução. Deseja-se, no entanto, que outros pensadores avancem nessa proposição teórica e que contribuam para enaltecer e posicionar o cuidado na compreensão e reconhecimento social almejado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reflexão teórica acerca do cuidado de enfermagem como fenômeno sistêmico e empreendedor suscita uma percepção singular e multidimensional de ser humano/usuário, saúde e processo de trabalho da enfermagem, no intuito de alcançar um cuidado cada vez mais ágil, dinâmico, circular, complementar e interdependente.
A pandemia da Covid-19 gerou tensões e repercussões negativas na quase totalidade dos sistemas sociais. Mas, para a enfermagem, em especial, esse momento descortinou o seu impacto na atenção à saúde e a oportunidade de potencializar o cuidado de enfermagem como bem-social sensível, evolutivo, duradouro, inegociável e impagável, por isso, empreendedor.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Set 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
-
Recebido
13 Jun 2022 -
Aceito
16 Ago 2022