Open-access Aconselhamento sobre modos saudáveis de vida na Atenção Primária e práticas alimentares dos usuários

Consejos sobre hábitos de vida saludables en la atención básica y prácticas alimentarias de los pacientes

Resumos

Trata-se de estudo seccional para verificar a realização de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida por profissionais de saúde e sua associação com a adoção de práticas alimentares saudáveis em serviço de Atenção Primária à Saúde. Participaram 417 usuários, a maioria mulheres (78,9%), com mediana de idade de 39 anos, elevada prevalência de excesso de peso (59,1%) e inadequações alimentares importantes, contrastando com a baixa frequência de aconselhamento (40,8%). Mas, ainda assim, os usuários aconselhados apresentaram maior adequação no consumo de balas/goma de mascar (p=0,031), refrigerante comum (p=0,036), salgados (p=0,037), temperos industrializados (p=0,005) e ovos (p=0,010). A adoção de práticas alimentares saudáveis foi mais frequente entre os mais velhos e as mulheres (p<0,05). Apesar da importância de aconselhamento frente ao perfil alimentar e de saúde identificado, este foi pouco frequente, sugerindo a necessidade de maior atuação dos profissionais de saúde, visando à prevenção, ao controle de agravos e à promoção da saúde.

Aconselhamento; Hábitos alimentares; Atenção Primária à Saúde; Equipe de Assistência ao Paciente; Programa Saúde da Família


Estudio seccional que apunta a verificar la efectivización de consejos sobre hábitos de vida saludables por profesionales de salud y su asociación con la adopción de prácticas alimentarias saludables en Servicio de Atención Básica de Salud. Participaron 417 pacientes, mayoritariamente mujeres (78,9%), con mediana etaria de 39 años, alta prevalencia de exceso de peso (59,1%) y alimentación inadecuada, contrastándose con la baja frecuencia de aconsejado (40,8%). Aún así, los pacientes aconsejados presentaron mayor adecuación en el consumo de caramelos/chicles (p=0,031), refrescos gasificados (p=0,036), pasteles fritos (p=0,037), condimentos industrializados (p=0,005) y huevos (p=0,010). La adopción de prácticas alimentarias saludables fue más frecuente entre los de mayor edad y las mujeres (p<0,05). A pesar de la importancia de aconsejarse en función del perfil alimentario y de salud identificado, éste fue poco frecuente, sugiriéndose la necesidad de mayor actuación profesional, apuntando a prevenir y controlar problemas derivados y a la promoción de salud.

Consejo; Hábitos alimenticios; Atención Primaria de Salud; Grupo de Atención al Paciente; Programa de Salud Familiar


This cross-sectional study examines a counseling program on healthy lifestyles run by health care professionals to establish the adoption of healthy dietary practices by patients attending a primary health care unit. Participants in the study included 417 clients of the unit, the majority of whom were women (78.9%), with an average age of 39 years, a high incidence of excessive weight, (59.1%), important dietary inadequacies, and with a contrastingly low frequency of receiving counseling (40.8%). Clients receiving counseling displayed more appropriate consumption of candy/gum (p=0.031), softdrinks (p=0.036), salty foods (p=0.037), artificial flavorings (p=0.005) and eggs (p=0.010). Adoption of healthy dietary practices was more common among older individuals and women (p <0.05). Despite the importance of nutritional counseling in dealing with such health problems, this was not prevalent, suggesting the need for greater intervention by health care professionals aimed at preventing and controlling disease and promoting good health.

Counseling; Food habits; Primary Health Care; Patient Care Team; Family Health Program


ARTIGO ORIGINAL

Aconselhamento sobre modos saudáveis de vida na Atenção Primária e práticas alimentares dos usuários

Consejos sobre hábitos de vida saludables en la atención básica y prácticas alimentarias de los pacientes

Karine Amorim de AndradeI; Mariana Tâmara Teixeira de ToledoII; Mariana Souza LopesIII; Glaucilene Eliane Silva do CarmoIV; Aline Cristine Souza LopesV

INutricionista pela Universidade Federal de Minas Gerais. Monitora do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). Membro do Grupo de Pesquisas de Intervenções em Nutrição. Belo Horizonte, MG, Brasil, krine_ama@yahoo.com.br

IINutricionista. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Voluntária do PET-Saúde. Membro do Grupo de Pesquisas de Intervenções em Nutrição. Belo Horizonte, MG, Brasil, mariana3t@gmail.com

IIIGraduanda do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais. Monitora do PET-Saúde. Membro do Grupo de Pesquisas de Intervenções em Nutrição. Belo Horizonte, MG, Brasil, marianalopes@nut.grad.ufmg.br

IVEnfermeira da Estratégia Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte - MG. Preceptora do PET-Saúde. Belo Horizonte, MG, Brasil, glaucileeliane@gmail.com

VProfessora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública e do Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Tutora do PET-Saúde. Membro do Grupo de Pesquisas de Intervenções em Nutrição. Belo Horizonte, MG, Brasil, aline@enf.ufmg.br

Correspondência Correspondência: Aline Cristine Souza Lopes Avenida Alfredo Balena, 190 - Sala 420 - Bairro Santa Efigênia CEP 30130-100 - Belo Horizonte, MG, Brasil

RESUMO

Trata-se de estudo seccional para verificar a realização de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida por profissionais de saúde e sua associação com a adoção de práticas alimentares saudáveis em serviço de Atenção Primária à Saúde. Participaram 417 usuários, a maioria mulheres (78,9%), com mediana de idade de 39 anos, elevada prevalência de excesso de peso (59,1%) e inadequações alimentares importantes, contrastando com a baixa frequência de aconselhamento (40,8%). Mas, ainda assim, os usuários aconselhados apresentaram maior adequação no consumo de balas/goma de mascar (p=0,031), refrigerante comum (p=0,036), salgados (p=0,037), temperos industrializados (p=0,005) e ovos (p=0,010). A adoção de práticas alimentares saudáveis foi mais frequente entre os mais velhos e as mulheres (p<0,05). Apesar da importância de aconselhamento frente ao perfil alimentar e de saúde identificado, este foi pouco frequente, sugerindo a necessidade de maior atuação dos profissionais de saúde, visando à prevenção, ao controle de agravos e à promoção da saúde.

Descritores: Aconselhamento. Hábitos alimentares. Atenção Primária à Saúde. Equipe de Assistência ao Paciente. Programa Saúde da Família.

RESUMEN

Estudio seccional que apunta a verificar la efectivización de consejos sobre hábitos de vida saludables por profesionales de salud y su asociación con la adopción de prácticas alimentarias saludables en Servicio de Atención Básica de Salud. Participaron 417 pacientes, mayoritariamente mujeres (78,9%), con mediana etaria de 39 años, alta prevalencia de exceso de peso (59,1%) y alimentación inadecuada, contrastándose con la baja frecuencia de aconsejado (40,8%). Aún así, los pacientes aconsejados presentaron mayor adecuación en el consumo de caramelos/chicles (p=0,031), refrescos gasificados (p=0,036), pasteles fritos (p=0,037), condimentos industrializados (p=0,005) y huevos (p=0,010). La adopción de prácticas alimentarias saludables fue más frecuente entre los de mayor edad y las mujeres (p<0,05). A pesar de la importancia de aconsejarse en función del perfil alimentario y de salud identificado, éste fue poco frecuente, sugiriéndose la necesidad de mayor actuación profesional, apuntando a prevenir y controlar problemas derivados y a la promoción de salud.

Descriptores: Consejo. Hábitos alimenticios. Atención Primaria de Salud. Grupo de Atención al Paciente. Programa de Salud Familiar.

INTRODUÇÃO

As doenças e agravos não transmissíveis (DANT) como as doenças cardiovasculares, o diabetes mellitus e a obesidade foram responsáveis por, aproximadamente, 35 milhões de mortes no mundo em 2005(1). No Brasil, nas últimas décadas, as doenças e agravos não transmissíveis também passaram a determinar grande parte das causas de óbito(2). Destacam-se como os principais fatores determinantes que propiciaram este avanço, os estilos de vida(3), principalmente, a alimentação inadequada e o sedentarismo.

O atual perfil alimentar da população brasileira caracteriza-se pelo elevado consumo de alimentos industrializados, ricos em gorduras, açúcares e sódio. Adicionalmente, houve redução da ingestão de alimentos como cereais, leguminosas, frutas e verduras nas últimas décadas(1). Em contraste, tem-se o fato de que a adoção de uma alimentação saudável poderia reduzir o risco de mortes por doenças e agravos não transmissíveis em 47% a 58%(3).

Referente à prática de atividade física, estimativas apontam que de 26,3% dos adultos brasileiros são inativos fisicamente, considerando quatro domínios de atividade: trabalho, deslocamento para o trabalho, deveres domésticos e lazer(4).

Nesse cenário, torna-se fundamental o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, com destaque para o aconselhamento, proposto pela Política Nacional de Promoção da Saúde como componente indispensável na Atenção Primária à Saúde - APS(3,5), principalmente voltado para a promoção da alimentação saudável e prática regular de atividade física(5).

O aconselhamento em saúde consiste em um processo genérico de ajuda e uma forma específica de trabalho que envolve desde orientações até estratégias de intervenção realizadas por profissionais de saúde(6). Apesar de o aconselhamento voltado para a adoção de uma alimentação mais saudável e prática regular de atividade física apresentar boa relação custo-benefício, como redução do peso corporal, colesterol e triglicérides sanguíneos, bem como aumento da energia gasta em atividades físicas(7), sua realização ainda é insuficiente.

Em estudo conduzido nas regiões Sul, Norte e Nordeste do país, adultos e idosos que utilizaram alguma vez na vida a Unidade Básica de Saúde, o aconselhamento à prática de atividade física apresentou-se reduzido diante da necessidade de estímulo a modos saudáveis de vida(8). No mesmo sentido, um estudo(9) verificou baixa realização de aconselhamento nutricional em Serviços de Atenção Primária diante dos indivíduos que se beneficiariam com a intervenção.

Diante do exposto, este estudo objetivou verificar a frequência de realização de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida por profissionais de saúde e sua associação com a adoção de práticas alimentares saudáveis entre usuários de Serviço de Atenção Primária à Saúde.

MÉTODO

Trata-se de estudo seccional desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Belo Horizonte - Minas Gerais, em amostra composta por seus usuários, de ambos os sexos, com 20 anos ou mais, que aguardavam acolhimento ou procedimento eletivo, no período de outubro de 2009 a janeiro de 2010 e que aceitaram participar da pesquisa. Foram excluídos questionários incompletos e aqueles aplicados em indivíduos menores de 20 anos e gestantes.

A coleta de dados foi realizada por bolsistas e voluntários do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) da Universidade Federal de Minas Gerais e Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, alunos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional.

Aplicou-se questionário semi-estruturado e pré-testado constando de dados sociodemográficos, hábitos alimentares, morbidade referida e avaliação de medidas antropométricas, baseado no instrumento proposto por Lopes et al.(10). Adicionalmente, os usuários foram questionados sobre o recebimento de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida na UBS por meio da pergunta: Alguma vez na vida, em uma consulta no Centro de Saúde, algum profissional (médico, enfermeiro, nutricionista...) lhe disse que o(a) Sr.(a) deveria melhorar/mudar sua alimentação e/ou fazer atividade física para melhorar a sua saúde?. Em caso afirmativo, era também questionado sobre qual(quais) o(s) profissional(is) de saúde responsável(is) por realizar este aconselhamento.

Para a coleta dos dados, realizou-se treinamento durante dois dias nas dependências da Universidade. Na sequência, houve treinamento em campo por duas semanas consecutivas com profissional capacitado. Este treinamento foi realizado em grupos de quatro pessoas por turno (manhã e tarde). Os alunos com maior habilidade para aplicação do questionário permaneceram com essa função e aqueles cujos resultados das avaliações antropométricas mais se aproximaram dos resultados obtidos pelo treinador foram selecionados como avaliadores antropométricos. Do total de acadêmicos, oito foram selecionados para a aplicação do questionário e quatro para a avaliação antropométrica, sendo que os últimos trabalhavam em duplas e os demais, individualmente, seguindo uma escala ao longo da semana. Toda a etapa de coleta de dados foi supervisionada pelo profissional que efetuou o treinamento e por profissionais de saúde que participaram do projeto, seguindo também uma escala semanal.

Avaliou-se a ingestão alimentar dos usuários pelo consumo mensal de açúcar, óleo e sal, e por meio de um Questionário de Frequência Alimentar (QFA). Desta forma, os usuários foram questionados sobre a frequência de consumo alimentar nos últimos seis meses (consumo diário, semanal, mensal, raro ou nunca) de 30 alimentos. Quando a frequência era raro ou nunca, considerou-se o alimento como não consumido. As frequências de consumo foram comparadas com o preconizado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira(11).

Para avaliação do consumo de sal, açúcar e óleo utilizaram-se as recomendações de 840g de açúcar cristal/ mês, 240mL de óleo/mês e de 150g de sal/mês(11).

Verificou-se também o número de refeições diárias, o consumo de gorduras das carnes, o hábito de beliscar alimentos entre as refeições e ingestão de líquidos durante as refeições principais.

A avaliação antropométrica foi realizada a partir da aferição de peso, estatura, circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ), de acordo com o preconizado pela World Health Organization (WHO)(12). A medida de peso foi obtida em balança eletrônica com capacidade para 180 quilogramas (kg) e precisão de 100 gramas. A estatura foi verificada por estadiômetro portátil, com fita métrica milimetrada de 220 cm de extensão. Já as circunferências foram aferidas por fita métrica inelástica e obtidas três vezes consecutivas, sendo considerada a média aritmética.

A partir das medidas de peso e estatura, CC e CQ, calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC) e a Razão Cintura/Quadril (RCQ), respectivamente. Para classificar o IMC de adultos utilizou-se a referências da OMS(12): IMC< 18,5 kg/m2 baixo peso, de 18,5 a 24,9 kg/m2 eutrofia, 25 a 29,9 kg/m2 sobrepeso e ≥ 30 kg/m2 obesidade. Para o IMC de idosos (indivíduos com 60 anos ou mais) utilizou-se a classificação proposta por Lipschitz(13): IMC ≤21,9 kg/m2 baixo peso, de 22,0 a 26,9 kg/m2 eutrofia e ≥ 27,0 kg/m2 sobrepeso.

Considerando a CC, foram classificados com risco elevado para complicações metabólicas associadas à obesidade homens com CC ≥94 cm a 101,9 cm e mulheres com CC ≥80 cm a 87,9 cm, e com risco muito elevado homens com CC ≥102 cm e mulheres com CC ≥88 cm. Para a RQC foram classificados com risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares homens cuja razão foi >1,00 e mulheres com valor >0,85(12).

Realizou-se análise da adequação da frequência de consumo de 20 alimentos relacionados ao desenvolvimento de doenças e agravos não transmissíveis, obtidas pelo Questionário de Frequência Alimentar, além do consumo per capita de óleo, sal e açúcar, analisados de acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira(11). Devido à subjetividade de algumas recomendações contidas no Guia Alimentar, foram propostos critérios utilizados para determinar a adequação do consumo de alguns alimentos (Quadro 1).

Para fins deste estudo, considerou-se alimentação saudável como aquela que, de forma geral, continha quantidades adequadas de frutas, verduras e legumes, e reduzida em alimentos com alta densidade calórica, ricos em gorduras, açúcares e sal, e com baixo teor de fibras, como os alimentos industrializados(11).

As análises estatísticas foram efetuadas com o auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences - SPSS (versão 17.0, SPSS inc., Chicago, 2008). Realizou-se análise descritiva, além dos testes Kolmogorov-Smirnov, Qui-quadrado, Qui-Quadrado de tendência linear, Exato de Fisher e Mann-Whitney, considerando nível de significância de 5%.

As variáveis não paramétricas foram apresentadas em medianas e valores mínimo e máximo e as paramétricas por média e desvio padrão.

Quanto aos aspectos éticos, esta pesquisa foi aprovada pelos Comitês de Ética e Pesquisa da Prefeitura de Belo Horizonte (CAAE 0037.0.410.000-09) e da Universidade Federal de Minas Gerais (ETIC 037.0.410.203-09). Ao início de cada entrevista, os participantes receberam as informações devidas e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Foram entrevistados 417 usuários, sendo que a maioria era de adultos (87,8%) e mulheres (78,9%). Observaram-se elevadas prevalências de excesso de peso (59,1%), acompanhadas de risco importante para complicações metabólicas associadas à obesidade, segundo medida de CC e para doenças cardiovasculares, segundo índice RCQ, bem como de hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia e diabetes mellitus (Tabela 1).

Referente ao perfil alimentar, apenas 27,8% realizavam de 5 a 6 refeições diárias, 59,2% omitiam o lanche da manhã e 66,2% normalmente não realizavam lanche no período da tarde. Além disso, 46,6% possuíam o hábito de beliscar alimentos entre as refeições e 64,3% de ingerir líquidos durante as refeições principais.

Em relação ao consumo per capita diário de sal, açúcar e óleo verificaram-se medianas de consumo diário de 5,5g (0,5-111,1g), 55,5g (0,0-333,3g) e 24,0mL (0,0-133,3mL), respectivamente, sendo que 80,4%, 62,7% e 94,6% consumiam quantidades superiores ao recomendado(10).

O consumo alimentar também se apresentou bastante inadequado, com destaque para o baixo consumo diário de frutas (40,5%), verduras (52,9%), legumes (61,6%), leite (42,2%) e derivados (23,5%), bem como o consumo semanal de peixes (10,3%). Por outro lado, alimentos como doce/chocolate (13,4%), balas/gomas de mascar (13,9%), frituras (13,0%), refrigerante comum (22,3%), suco artificial (33,8%) e temperos industrializados (52,8%) apresentaram ingestão diária elevada.

Quanto à prevalência de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida, verificou-se que 40,8% (n=170) dos usuários já haviam sido aconselhados na UBS, sendo 81,2% mulheres e 87,1% adultos. Os usuários que receberam aconselhamento possuíam maior mediana de idade (45 vs. 36 anos; p<0,001), contudo, a prevalência de realização do aconselhamento não foi diferente entre adultos e idosos (≥ 60 anos).

Entre os profissionais de saúde mencionados como responsáveis pela realização do aconselhamento, as categorias mais citadas foram médicos (87,6%), seguidos de enfermeiros (10,0%), estagiários de Nutrição (7,6%), nutricionistas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (1,8%), auxiliar de enfermagem (0,6%) e dentistas (0,6%). Não houve referência aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS).

A Tabela 2 apresenta a adequação da frequência do consumo de alimentos de acordo com a realização de aconselhamento, com destaque para as maiores prevalências de consumo adequado de balas/goma de mascar (p=0,031), refrigerante comum (p=0,036), temperos industrializados (p=0,005), ovos (p=0,010) e salgados (p=0,037) entre os indivíduos aconselhados.

Não houve diferença significativa da adequação do consumo alimentar e a prática de aconselhamento entre os sexos, mas se observou que mulheres aconselhadas apresentaram maior adequação do consumo de doces (p=0,047), ovos (p=0,027), salgados (p=0,040), sanduíches (p=0,044), banha de porco (p=0,029), temperos industrializados (p=0,002) e sal (p=0,034), quando comparadas às não aconselhadas (Tabela 3).

Com relação à faixa etária, em geral, a adequação do consumo dos alimentos analisados, com exceção de frutas, legumes e verduras, aumentou com a idade (p<0,05) (Tabela 4).

DISCUSSÃO

Observaram-se elevadas prevalências de excesso de peso e morbidades, bem como de hábitos alimentares pouco saudáveis. No entanto, a realização de aconselhamento pelos profissionais de saúde foi baixa, mas ainda assim, refletiu em resultados positivos sobre os aspectos alimentares adotados pelos participantes.

Os percentuais de excesso de peso e obesidade foram elevados quando comparados a dados nacionais(4). Acompanhando estas taxas observaram-se altas prevalências de obesidade abdominal, a qual constitui importante fator de risco para as doenças e agravos não transmissíveis, como visto neste estudo(15).

O perfil alimentar dos usuários também parece contribuir para as altas taxas de excesso de peso encontradas, como a omissão de refeições, o hábito de "beliscar" alimentos entre as refeições e o consumo elevado de açúcar e óleo. O fracionamento insuficiente das refeições, ocasionado pela omissão das mesmas relaciona-se ao ganho de peso(16). Da mesma forma, ingerir alimentos em horários esporádicos pode elevar a ingestão calórica diária, predispondo ao aumento de peso corporal(17). Adicionalmente, o elevado consumo diário de açúcar e óleo, este último com mediana de consumo observada três vezes superior à recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira(11), também se relaciona com o sobrepeso e a obesidade.

Quanto ao consumo de sal, embora a mediana per capita de ingestão estivesse próxima à recomendação para a população saudável, ao considerar as altas prevalências de hipertensão arterial entre os participantes, o consumo foi excessivo. Além disso, verificou-se consumo importante de alimentos ricos em sódio como embutidos, molhos e temperos industrializados; de alimentos ricos em gorduras saturadas (carnes vermelhas com gordura e pele de frango); e consumo insuficiente de frutas, verduras, legumes e peixes. Este padrão alimentar, juntamente com a ingestão excessiva de açúcar, também foi destacado no estudo(18) e pode contribuir para o aumento do risco e o agravamento de doenças e agravos não transmissíveis, já bastante prevalentes no grupo(11,16).

Diante desse perfil alimentar e de saúde, a realização de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida pelos profissionais do serviço de APS é prioritária, entretanto, este se apresentou insuficiente. Achado semelhante foi observado estudo realizado em Chicago, Estados Unidos(19), que verificou que 40% ou menos dos pacientes, segundo relato dos médicos entrevistados, receberam aconselhamento sobre alimentação. No Brasil, observou-se prevalência de aconselhamento sobre atividade física de 28,9% entre adultos e 38,9% entre idosos(8).

As baixas prevalências de aconselhamento sobre modos saudáveis de vida realizado por profissionais de saúde, principalmente, médicos e enfermeiros, têm sido descritas como consequências das dificuldades na abordagem de questões sobre alimentação e atividade física. Essas dificuldades possivelmente devem-se ao conhecimento restrito sobre o assunto adquirido na graduação, na residência médica ou em capacitações específicas; além do pouco tempo das consultas e das possíveis dificuldades para implementar mudanças no próprio comportamento alimentar(9).

Ressalta-se que a orientação sobre hábitos alimentares é responsabilidade de todos profissionais da saúde(11), contudo, neste estudo, os Agentes Comunitários de Saúde não foram referidos como responsáveis pelo aconselhamento, embora orientar os indivíduos quanto ao autocuidado e a medidas de proteção à saúde constitua papel central de sua prática profissional(20).

Estes dados sugerem a necessidade urgente de capacitação dos profissionais de saúde, visando assegurar o aconselhamento sobre a promoção da saúde em sua prática(11). Pois, no que se refere especificamente à alimentação e atividade física, o aconselhamento pode promover a redução do peso corporal, aumento do consumo diário de frutas e hortaliças, com consequente redução do risco e agravamento de doenças e agravos não transmissíveis(7).

Apesar da baixa frequência de realização de aconselhamento pelos profissionais de saúde, observou-se seu efeito benéfico sobre os hábitos alimentares dos usuários. Indivíduos aconselhados apresentaram maior adequação do consumo de balas/gomas de mascar, temperos industrializados, refrigerantes comuns, salgados e ovos em comparação àqueles não aconselhados. Esta redução do consumo de alimentos com alta densidade calórica e ricos em sódio pode contribuir para a prevenção de doenças e controle do peso saudável, o que poderá refletir positivamente sobre a saúde dos usuários, reforçando a importância do aconselhamento durante a prática profissional.

Quanto às diferenças alimentares entre os sexos mediante o aconselhamento, pode-se dizer que as mulheres responderam mais positivamente ao aconselhamento, apresentando maior cuidado com a própria saúde(21), refletindo por sua vez em um padrão alimentar mais saudável. Por outro lado, o aconselhamento sobre alimentação e atividade física foi mais frequente entre os usuários com mediana de idade superior, provavelmente devido à maior probabilidade de ocorrência das doenças e agravos não transmissíveis com o aumento da idade(22). Nesse aspecto, ressaltam-se as maiores prevalências de consumo adequado de alimentos, principalmente, entre aqueles na faixa etária dos 40 anos.

Destaca-se a necessidade de realização de ações preventivas nas faixas etárias mais jovens e entre os homens, bem como maior controle das doenças e agravos não transmissíveis entre os idosos, principalmente ao considerar que estes agravos apresentam longo período de latência, e, portanto, sua origem dá-se, majoritariamente, em idades mais jovens(2). Torna-se, assim, fundamental reforçar a prática do aconselhamento de forma equitativa nos diferentes ciclos de vida.

Apesar dos achados, limitações decorrentes do delineamento transversal do estudo impedem o estabelecimento de relações temporais de causa-efeito entre as variáveis analisadas. Além disso, ocorreram perdas de dados por questionários inválidos e, tendo o processo amostral sido realizado em uma UBS, os resultados encontrados não podem ser extrapolados para a população em geral. Ressalta-se, entretanto, a importância dos achados para repensar a prática de promoção da saúde realizada pelos profissionais de saúde no âmbito da Atenção Primária.

CONCLUSÃO

Apesar da importância do acomselhamento frente ao perfil alimentar e de saúde identificado, esta prática foi pouco frequente, sugerindo a necessidade de maior atuação dos profissionais de saúde, visando a prevenção e controle de agravos, e promoção da saúde. Ademais, a realização do aconselhamento sobre modos saudáveis de vida é fundamental, inclusive entre homens e jovens, considerando sua influência favorável sobre o padrão alimentar e, consequentemente, sobre a saúde e a qualidade de vida da população.

Recebido: 01/02/2011

Aprovado: 19/03/2012

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  • Correspondência:
    Aline Cristine Souza Lopes
    Avenida Alfredo Balena, 190 - Sala 420 - Bairro Santa Efigênia
    CEP 30130-100 - Belo Horizonte, MG, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Dez 2012
    • Data do Fascículo
      Out 2012

    Histórico

    • Recebido
      01 Fev 2011
    • Aceito
      19 Mar 2012
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