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Tendência temporal da mortalidade fetal segundo duas classificações de evitabilidade do óbito

RESUMO

Objetivo:

Analisar a tendência temporal da mortalidade fetal e de seus componentes, das causas evitáveis e mal definidas segundo duas classificações de evitabilidade no Recife, Pernambuco, 2010–2021.

Método:

Estudo ecológico de tendência temporal para a mortalidade fetal no Recife, 2010–2021. Foram utilizadas as classificações de evitabilidade Lista Brasileira de Causas de Morte Evitáveis para óbitos fetais (LBE-OF) e Lista Brasileira de Causas de Morte Evitáveis para menores de cinco anos (LBE < 5). O modelo de regressão Joinpoint foi aplicado para analisar as tendências temporais.

Resultados:

As tendências da mortalidade fetal e de seus componentes foram estacionárias. O grupo de causas evitáveis apresentou maiores taxas de mortalidade nas duas classificações, com tendência crescente segundo a LBE-OF (Variação Percentual Anual-APC: 2,1; p = 0,018) e estacionária segundo a LBE < 5. Houve tendência decrescente para a mortalidade por causas mal definidas apenas conforme a LBE-OF (APC: –12,3; p < 0,001).

Conclusão:

Os resultados evidenciaram a estagnação da tendência temporal da mortalidade fetal, a evitabilidade da maior parte dos óbitos, e a potencialidade da LBE-OF no monitoramento da qualidade das informações sobre as causas básicas e evitabilidade dos óbitos fetais.

DESCRITORES
Mortalidade Fetal; Causas de Morte; Monitoramento Epidemiológico; Estudos de Séries Temporais

ABSTRACT

Objective:

To analyze the temporal trend of fetal mortality and its components, of avoidable and ill-defined causes according to two avoidability classifications in Recife, Pernambuco, 2010–2021.

Method:

Ecological study of temporal trends of fetal mortality in Recife, 2010–2021. The Brazilian List of Avoidable Causes of Death for fetal deaths (LBE-OF) and Brazilian List of Avoidable Causes of Death for children under five years of age (LBE < 5) were used. The Joinpoint regression model was applied to analyze the temporal trends.

Results:

Trends in fetal mortality and its components were stationary. The group of avoidable causes presented higher mortality rates in both classifications, with an increasing trend according to the LBE-OF (Annual Percentage Change-APC: 2,1; p = 0,018) and stationary according to the LBE < 5. There was a decreasing trend in mortality from ill-defined causes only according to the LBE-OF (APC: –12,3; p < 0,001).

Conclusion:

The results showed the stagnation of the temporal trend in fetal mortality, the avoidability of most deaths, and the potential of LBE-OF in monitoring the quality of information on the basic causes and avoidability of fetal deaths.

DESCRIPTORS
Fetal Mortality; Causes of Death; Epidemiological monitoring; Time Series Studies.

RESUMEN

Objetivo:

Analizar la tendencia temporal de la mortalidad fetal y sus componentes, causas evitables y mal definidas según dos clasificaciones de evitabilidad en Recife, Pernambuco, 2010–2021.

Metodología:

Estudio ecológico de tendencias temporales de la mortalidad fetal en Recife, 2010–2021. Se utilizó la Lista Brasileña de Causas Evitables de Muerte para muertes fetales (LBE-OF) y la Lista Brasileña de Causas Evitables de Muerte para niños menores de cinco años (LBE < 5). Se aplicó el modelo de regresión Joinpoint para analizar las tendencias temporales.

Resultados:

Las tendencias en la mortalidad fetal y sus componentes se mantuvieron estacionarias. El grupo de causas evitables presentó mayores tasas de mortalidad en ambas clasificaciones, con tendencia creciente según LBE-OF (Variación Porcentual Anual-APC: 2,1; p = 0,018) y estacionaria según LBE < 5. Hubo tendencia decreciente para la mortalidad por causas mal definidas sólo según LBE-OF (APC: –12,3; p < 0,001).

Conclusión:

Los resultados mostraron el estancamiento de la tendencia temporal de la mortalidad fetal, la evitabilidad de la mayoría de las muertes y el potencial del LBE-OF para monitorear la calidad de la información sobre las causas básicas y la evitabilidad de las muertes fetales.

DESCRIPTORES
Mortalidad Fetal; Causas de Muerte; Monitoreo Epidemiológico; Estudios de series temporales

INTRODUÇÃO

A mortalidade fetal persiste como um grave problema de saúde pública mundial, amplamente negligenciado e com distribuição desigual(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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). Estima-se que 84% da carga global concentra-se em nações de baixa e média renda(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). No Brasil, entre 1996 e 2019, a taxa de mortalidade fetal (TMF) alcançou redução de 25,2%, passando de 13,5 para 10,1 por 1.000 nascimentos totais (NT)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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). No país, os óbitos fetais apresentam distribuição heterogênea, com maiores taxas na região Nordeste, as quais são superiores à média nacional(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,33. Brasil. Ministério da Saúde. Datasus. Estatísticas vitais [Internet]. 2022 [cited 2022 Oct 01]. Available from: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/
https://datasus.saude.gov.br/informacoes...
). Entretanto, a cidade do Recife, Pernambuco (PE), tem registrado taxas inferiores às nacionais e às dos seus respectivos estado e região(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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). Essas variações nos indicadores de saúde destacam a importância das análises locais para compreensão da mortalidade fetal e para o planejamento de intervenções eficazes e adequadas à realidade de cada população(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,44. Barros PS, Aquino EC, Souza MR. Mortalidade fetal e os desafios para a atenção à saúde da mulher no Brasil. Rev Saude Publica. 2019;53:12. doi: http://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019053000714 PubMed PMID: 30726493.
https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019...
).

O entendimento sobre a mortalidade fetal envolve não apenas a contagem, mas também a averiguação das causas e da evitabilidade dos óbitos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,66. Aminu M, van den Broek N. Stillbirth in low-and middle-income countries: addressing the ‘silent epidemic’. Int Health. 2019;11(4):237–9. doi: http://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015 PubMed PMID: 31081893.
https://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015...
). Nesse sentido, destaca-se a importância dos sistemas de classificação de evitabilidade, que permitem identificar os óbitos evitáveis e as ações de saúde que poderiam prevenir esses desfechos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,88. Leisher SH, Teoh Z, Reinebrant H, Allanson E, Blencowe H, Erwich JJ, et al. Seeking order amidst chaos: a systematic review of classification systems for causes of stillbirth and neonatal death, 2009–2014. BMC Pregnancy Childbirth. 2016;16(1):295. doi: http://doi.org/10.1186/s12884-016-1071-0 PubMed PMID: 27716090.
https://doi.org/10.1186/s12884-016-1071-...
).

No Brasil, entre as classificações de evitabilidade para o óbito fetal conhecidas, estão a Wigglesworth Expandida (adaptada para o Brasil) e a mais recente Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para óbitos fetais (LBE-OF)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Manual de vigilância do óbito infantil e fetal e do Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2023 [cited 2022 Oct 01]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-da-crianca/publicacoes/manual-de-vigilancia-do-obito-infantil-e-fetal-e-do-comite-de-prevencao-do-obito-infantil-e-fetal/view
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/...
). Entretanto, classificações de evitabilidade desenvolvidas para óbitos infantis também são aplicadas para as mortes fetais, como a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para menores de cinco anos (LBE < 5)(55. Canuto IM, Macêdo VC, Frias PG, Oliveira CM, Bonfim CV. Perfil epidemiológico, padrões espaciais e evitabilidade da mortalidade fetal em Pernambuco. Acta Paul Enferm. 2021;34:eAPE001355. doi: http://doi.org/10.37689/actaape/2021AO001355
https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO0...
,99. Malta DC, Sardinha LMV, Moura L, Lansky S, Leal MC, Szwarcwald CL, et al. Atualização da lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Epidemiol Serv Saude. 2010;19(2):173–6. doi: http://doi.org/10.5123/S1679-49742010000200010.
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,1010. Fonseca SC, Kale PL, Teixeira GHMC, Lopes VGS. Evitabilidade de óbitos fetais: reflexões sobre a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis por intervenção do Sistema Único de Saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(7):e00265920. doi: http://doi.org/10.1590/0102-311x00265920 PubMed PMID: 34287588.
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).

Classificações condizentes com a fisiopatologia do óbito fetal são essenciais para entender o potencial de prevenção desses óbitos e identificar as causas mal definidas, as quais apresentam elevado percentual em todo o mundo(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,1010. Fonseca SC, Kale PL, Teixeira GHMC, Lopes VGS. Evitabilidade de óbitos fetais: reflexões sobre a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis por intervenção do Sistema Único de Saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(7):e00265920. doi: http://doi.org/10.1590/0102-311x00265920 PubMed PMID: 34287588.
https://doi.org/10.1590/0102-311x0026592...
). Nessa perspectiva, o objetivo deste estudo foi analisar a tendência temporal da mortalidade fetal e de seus componentes, das causas evitáveis e mal definidas segundo duas classificações de evitabilidade no Recife, Pernambuco, 2010-2021.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Estudo ecológico de tendência temporal, cujas unidades de análises foram os anos compreendidos entre 2010 e 2021.

Local e Período do Estudo

A área do estudo foi o Recife, capital do estado de Pernambuco, localizada na região Nordeste do Brasil. A cidade é a 17ª mais populosa do país, com uma população estimada em 1.488.920 pessoas(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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). No Recife, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) apresentam boa qualidade, e a atuação da vigilância do óbito, a partir das correções das estatísticas vitais, tem contribuído para a consolidação desses sistemas de informações(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). Assim sendo, para a delimitação do período selecionado (2010 a 2021), levou-se em consideração a Portaria nº 72 de 2010 do Ministério da Saúde, que institui a vigilância do óbito fetal obrigatória, e o último ano com dados disponíveis no SIM e Sinasc. A série temporal também incluiu a implantação da Rede Cegonha (2011)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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) e a pandemia pela covid-19 (2020 e 2021).

População e Obtenção dos Dados

Foram utilizadas as informações sobre os óbitos fetais (idade gestacional maior ou igual a 22 semanas e/ou peso ao nascer maior ou igual a 500 gramas) e o número de nascidos vivos de mães residentes no Recife. Os dados da pesquisa foram provenientes do SIM e do Sinasc, obtidos na Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Recife.

Análise e Tratamento dos Dados

Os óbitos fetais foram classificados em precoce e tardio, considerando, respectivamente: idade gestacional maior ou igual a 22 e menor que 28 semanas ou, na ausência dessa informação, peso ao nascer maior ou igual a 500 e menor que 1.000 gramas; e idade gestacional maior ou igual a 28 semanas ou, na ausência dessa informação, peso ao nascer maior ou igual a 1.000 gramas.

Dos 2.490 óbitos fetais registrados, 40 (1,6%) tinham informações ignoradas sobre a idade gestacional e o peso ao nascer, os quais não puderam ser classificados em precoces ou tardios, e não foram incluídos na tendência temporal dos componentes da mortalidade fetal.

A análise da evitabilidade foi realizada por meio da Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para óbitos fetais (LBE-OF)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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) e para menores de 5 anos (LBE < 5)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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). As duas listas classificam os óbitos conforme a causa básica da morte, segundo a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 10ª Revisão (CID-10), em três grupos: causas evitáveis, causas de mortes mal definidas, e demais causas (não claramente evitáveis).

Na LBE-OF, os óbitos fetais por causas evitáveis são classificados nos subgrupos de ações de saúde: imunoprevenção; adequada atenção à mulher na gestação; e adequada atenção à mulher no parto(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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). Na LBE < 5, acrescentam-se: adequada atenção ao feto e ao recém-nascido; ações adequadas de diagnóstico e tratamento; e ações adequadas de promoção à saúde e atenção à saúde(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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).

As diferenças entre a LBE-OF e a LBE < 5, além dos subgrupos das causas evitáveis, referem-se à organização das causas básicas entre os grupos e subgrupos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,99. Malta DC, Sardinha LMV, Moura L, Lansky S, Leal MC, Szwarcwald CL, et al. Atualização da lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Epidemiol Serv Saude. 2010;19(2):173–6. doi: http://doi.org/10.5123/S1679-49742010000200010.
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201000...
). No estudo, a partir do agregado temporal de 2010 a 2021, realizou-se o cálculo da proporção de óbitos fetais por grupo e subgrupo de evitabilidade da LBE-OF e da LBE < 5.

O teste de McNemar para amostras pareadas (antes e depois) foi aplicado para avaliar diferenças entre as categorias de evitabilidade das duas listas utilizadas. Considerou-se o antes, os grupos e subgrupos da LBE < 5, depois, a LBE-OF, admitindo-se nível de significância de 5% para todas as análises. Os dados foram analisados por meio do Minitab Statistical Software, versão 21.4.0.

Para a análise da tendência temporal, foram calculadas as taxas de mortalidade fetal total, precoce, tardia, evitável e mal definida, segundo as duas classificações e por ano de ocorrência. Para o cálculo, considerou-se o número de óbitos fetais dividido pelo total de nascimentos multiplicado por 1.000.

As tendências temporais da mortalidade fetal foram analisadas a partir do modelo de regressão Joinpoint, programa Joinpoint, versão 4.9.1.0, o qual testa se uma linha multissegmentada é estatisticamente melhor para descrever a evolução temporal do evento analisado do que uma linha reta ou com menos segmentos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). O modelo verifica se mudanças na tendência são estatisticamente significantes, e permite classificá-las em crescente, decrescente ou estacionária, a partir do teste de significância e da variação percentual anual (APC:annual percent change)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,1515. Kim HJ, Fay MP, Feuer EJ, Midthune DN. Permutation tests for joinpoint regression with applications to cancer rates. Stat Med. 2000;19(3):335–51. doi: http://doi.org/10.1002/(SICI)1097-0258(20000215)19:3<335::AID-SIM336>3.0.CO;2-Z PubMed PMID: 10649300.
https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-0258(...
).

O programa também informa a variação percentual anual média do período analisado (AAPC: average annual percent change), que se refere à medida resumida da tendência, calculada a partir da média ponderada das APC(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). A AAPC permite comparar tendências não constantes de diferentes grupos ao longo do período de interesse(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). Na análise, as taxas de mortalidade fetal corresponderam às variáveis dependentes e os anos correspondentes, às variáveis independentes. Foi admitido o nível de significância estatística p < 0,05.

Aspectos Éticos

A pesquisa foi desenvolvida a partir de dados secundários, está em conformidade com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco no ano de 2022, sob o Parecer 6.317.405.

RESULTADOS

No período estudado, ocorreram 2.490 óbitos fetais e 262.300 nascidos vivos, somando 264.790 NT de mães residentes no Recife. A TMF inicial (2010) foi de 8,6 e a final (2021), de 9,3 por 1.000 NT (Figura 1). Do total de óbitos, 1.874 (75,3%) corresponderam às tardias. Houve tendência temporal estacionária para a mortalidade fetal e seus componentes precoce e tardio (Tabela 1).

Figura 1
Tendência temporal da mortalidade fetal. Recife, Pernambuco, 2010–2021.
Tabela 1
Tendência temporal da mortalidade fetal e de seus componentes precoce e tardia. Recife, Pernambuco, Brasil, 2010–2021.

Segundo a LBE-OF, ocorreram 1.814 óbitos fetais evitáveis (72,9%), 471 por causas mal definidas (18,9%) e 205 (8,2%) por causas não claramente evitáveis. Com a LBE < 5, foram classificados 2.091 (84,0%) óbitos fetais evitáveis, 205 (8,2%) por causas mal definidas e 194 (7,8%) por causas não claramente evitáveis (Tabela 2).

Tabela 2
Evitabilidade dos óbitos fetais (n = 2.490) segundo a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para óbitos fetais (LBE-OF) e a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para menores de 5 anos (LBE < 5). Recife, Pernambuco, Brasil, 2010–2021.

Entre os óbitos evitáveis, predominaram, em ambas as classificações, os reduzíveis por adequada atenção à mulher na gestação, com 1.447 (79,8%) segundo a LBE-OF e 1.355 (64,8%) segundo a LBE < 5. O subgrupo reduzíveis por adequada atenção à mulher no parto apresentou 367 (20,2%) óbitos quando utilizada a classificação LBE-OF, e 595 (28,5%) óbitos com a LBE < 5 (Tabela 2).

Para a LBE < 5, as causas reduzíveis por adequada atenção ao feto e ao recém-nascido responderam por 141 (6,7%) óbitos fetais, e as causas reduzíveis, por ações adequadas de promoção à saúde, vinculadas a ações adequadas de atenção à saúde por 1 (0,05%) óbito fetal (Tabela 2).

Considerando o período total do estudo, a mortalidade fetal evitável apresentou tendência temporal crescente segundo a LBE-OF (APC: 2,1; p = 0,018) e tendência temporal estacionária segundo a LBE < 5 anos (Tabela 3).

Tabela 3
Tendência temporal da mortalidade fetal por causas evitáveis e mal definidas segundo a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para óbitos fetais (LBE-OF) e a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis para menores de 5 anos (LBE < 5). Recife, Pernambuco, Brasil, 2010–2021.

Para as duas classificações, a tendência temporal dos óbitos reduzíveis por adequada atenção à mulher na gestação foi crescente entre 2010 e 2016 (APC: 7,9; p = 0,019; APC: 7,5; p = 0,035) e estacionária entre 2016 e 2021. Para os óbitos reduzíveis por adequada atenção à mulher no parto, houve tendência temporal decrescente em períodos superpostos: segundo a LBE-OF, entre 2010 e 2016 (APC: –11,2; p = 0,041), e a LBE < 5 anos, entre 2010 e 2018 (APC: -8,7; p < 0,001). Esse período de declínio foi seguido de tendência temporal estacionária de acordo com as duas classificações. Considerando o período total, houve tendência estacionária segundo a LBE-OF, e decrescente para a LBE < 5 anos (AAPC: –5,8; p < 0,002). Quanto aos óbitos reduzíveis por adequada atenção ao feto e ao recém-nascido, LBE < 5 anos, a tendência foi estacionária durante todo o período analisado (Tabela 3).

Houve tendência temporal decrescente para a mortalidade fetal por causas mal definidas segundo a LBE-OF (APC: –12,3; p < 0,001). Para a LBE < 5 anos, três tendências temporais foram identificadas: estacionária, entre 2010 e 2012; decrescente, entre 2012 e 2019 (APC: –19,5; p = 0,021); e estacionária, entre 2019 e 2021. Considerando o período total da série, a tendência temporal foi estacionária para a mortalidade fetal por causas mal definidas segundo a LBE < 5 anos (Tabela 3).

DISCUSSÃO

A mortalidade fetal no Recife mostrou tendência temporal estacionária entre 2010 e 2021, sem variações significativas, mesmo durante os anos da pandemia pela covid-19. A mortalidade fetal precoce e tardia apresentaram tendência estacionária, com predominância dos óbitos fetais tardios, os quais corresponderam a mais de dois terços das mortes fetais.

A constatação de que a TMF no Recife não apresentou declínio significativo por mais de uma década, embora seja inferior às taxas observadas em Pernambuco, na região Nordeste e no Brasil como um todo, revela a necessidade de melhorias na assistência pré-natal e intraparto(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,44. Barros PS, Aquino EC, Souza MR. Mortalidade fetal e os desafios para a atenção à saúde da mulher no Brasil. Rev Saude Publica. 2019;53:12. doi: http://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019053000714 PubMed PMID: 30726493.
https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019...
). À semelhança do Recife, outros estudos realizados no país encontraram tendência temporal estacionária da mortalidade fetal: no Brasil, entre 1996 e 2015; em todas as regiões do país, entre 2000 e 2015; e no município de São Paulo, de 2007 a 2017(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,44. Barros PS, Aquino EC, Souza MR. Mortalidade fetal e os desafios para a atenção à saúde da mulher no Brasil. Rev Saude Publica. 2019;53:12. doi: http://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019053000714 PubMed PMID: 30726493.
https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019...
).

Esses resultados contrastam com a diminuição na mortalidade neonatal e infantil observada em diferentes áreas do Brasil, incluindo o Recife(18-20). As ações de saúde da mulher e da criança, principalmente na atenção primária à saúde com a ampliação da Estratégia Saúde da Família, têm contribuído para o decréscimo nas taxas de mortalidade infantil nas últimas duas décadas(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

A despeito da redução nas taxas de mortalidade neonatal e infantil sugerir avanços na saúde materna e infantil, ratifica-se a necessidade de investimentos adicionais para prevenção dos óbitos fetais, especialmente os tardios(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). A tendência estacionária da mortalidade fetal encontrada neste estudo, reafirma essa necessidade. A invisibilidade do óbito fetal em relação ao óbito infantil ocorre não somente no Brasil, mas no cenário internacional, considerando que a mortalidade fetal não foi incluída na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e não está presente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
)

Destaca-se que a Rede Cegonha foi implantada no Brasil, em 2011, como uma estratégia para assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal e da assistência ao parto, ao puerpério e à criança(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). Entretanto, a avaliação do grau de implantação das boas práticas na atenção ao parto e nascimento em maternidades da Rede Cegonha aponta que, apesar dos avanços alcançados, há um longo caminho para qualificar esses serviços de saúde(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

Em relação à pandemia pela covid-19, no Brasil e no mundo, poucos estudos de séries temporais foram realizados para analisar o impacto desse evento na tendência da mortalidade fetal(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,2222. Shukla VV, Rahman AKMF, Shen X, Black A, Arora N, Lal CV, et al. Trends in fetal and neonatal outcomes during the COVID-19 pandemic in Alabama. Pediatr Res. 2023;6(2):1–6. http://doi.org/10.1038/s41390-023-02533-1 PubMed PMID: 36879081.
https://doi.org/10.1038/s41390-023-02533...
). O presente estudo observou tendência estacionária da mortalidade fetal no Recife durante os anos de 2020 e 2021, semelhante ao encontrado para o Alabama, nos Estados Unidos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). Em contraste, uma pesquisa realizada em Moçambique identificou tendência decrescente da mortalidade fetal no período pandêmico(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

Estudos conduzidos para investigar possíveis diferenças no número de óbitos fetais durante a pandemia pela covid-19, em comparação com o período pré-pandêmico, encontraram resultados discordantes(22-25). Esses achados têm sido explicados por fatores associados aos riscos relacionados à covid-19 durante a gravidez, às condições socioeconômicas e de saúde da população e às restrições no acesso aos cuidados de saúde impostas nesse período(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,2424. Handley SC, Mullin AM, Elovitz MA, Gerson KD, Montoya-Williams D, Lorch SA, et al. Changes in preterm birth phenotypes and stillbirth at 2 Philadelphia Hospitals During the SARS-CoV-2 Pandemic, March-June 2020. JAMA. 2021;325(1):87–9. doi: http://doi.org/10.1001/jama.2020.20991 PubMed PMID: 33284323.
https://doi.org/10.1001/jama.2020.20991...
).

O predomínio dos óbitos fetais tardios evidenciado no Recife está em concordância com o que ocorre no Brasil e regiões(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). Diferentemente, em países de alta renda, a maior parte dos óbitos fetais são precoces e relativamente mais difíceis de prevenir, com as anomalias congênitas entre as principais causas de morte(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,44. Barros PS, Aquino EC, Souza MR. Mortalidade fetal e os desafios para a atenção à saúde da mulher no Brasil. Rev Saude Publica. 2019;53:12. doi: http://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019053000714 PubMed PMID: 30726493.
https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2019...
).

Ressalta-se que no ano de 2021, a TMF tardia no Recife (7,0 por 1.000 NT) foi superior à do município de São Paulo (5,0), e próxima à do município do Rio de Janeiro (6,8) e a do Brasil (6,7)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). A comparação com países desenvolvidos, a exemplo da Suécia, que em 2019 apresentava 2,5 óbitos tardios por 1.000 NT, evidencia disparidades na mortalidade fetal e o potencial de prevenção desses óbitos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

No que se refere à evitabilidade dos óbitos fetais ocorridos no Recife entre 2010 e 2021, a maior parte deles foi considerada evitável segundo as duas classificações. Esse resultado está em concordância com estudos realizados no Brasil e em outros países de baixa e média renda, nos quais a maioria das condições relacionadas às mortes fetais são evitáveis por meio da qualidade dos cuidados pré-natais e intraparto(2,5,10,20).

A utilização da LBE < 5 anos resultou em uma frequência 11,1% maior de óbitos evitáveis em relação à LBE-OF. Esse resultado poderia sugerir uma maior sensibilidade da LBE < 5 anos na identificação da evitabilidade dos óbitos fetais, no entanto, deve-se à inclusão de causas consideradas mal definidas nos subgrupos reduzíveis por adequada atenção à mulher no parto e reduzíveis por adequada atenção ao feto e ao recém-nascido.

Entre os subgrupos de evitabilidade, o reduzíveis por adequada atenção à mulher na gestação apresentou a maior frequência de óbitos fetais de acordo com as duas listas. Concomitantemente, estudos nacionais apontam para evitabilidade da maior parte dos óbitos fetais, principalmente por meio da adequada assistência à gestação, seguida da adequada assistência ao parto(55. Canuto IM, Macêdo VC, Frias PG, Oliveira CM, Bonfim CV. Perfil epidemiológico, padrões espaciais e evitabilidade da mortalidade fetal em Pernambuco. Acta Paul Enferm. 2021;34:eAPE001355. doi: http://doi.org/10.37689/actaape/2021AO001355
https://doi.org/10.37689/actaape/2021AO0...
,1010. Fonseca SC, Kale PL, Teixeira GHMC, Lopes VGS. Evitabilidade de óbitos fetais: reflexões sobre a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis por intervenção do Sistema Único de Saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(7):e00265920. doi: http://doi.org/10.1590/0102-311x00265920 PubMed PMID: 34287588.
https://doi.org/10.1590/0102-311x0026592...
,2020. Kale PL, Fonseca SC, Oliveira PWM, Brito AS. Tendência da mortalidade fetal e infantil segundo evitabilidade das causas de morte e escolaridade materna. Rev Bras Epidemiol. 2021;24:e210008. doi: http://doi.org/10.1590/1980-549720210008.supl.1 PubMed PMID: 33886881.
https://doi.org/10.1590/1980-54972021000...
).

A constatação de que a maior parte dos óbitos fetais poderiam ter sido prevenidos, principalmente por meio da adequada atenção à gestação, aponta para deficiências desses cuidados de saúde. No Brasil, a avaliação da adequação da atenção pré-natal evidenciou fragilidades no acesso, na cobertura e na qualidade desse serviço. Reafirmando a necessidade de ações governamentais que garantam uma assistência pré-natal de qualidade(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

A pesquisa que comparou os resultados da LBE < 5 anos e da LBE-OF na classificação de 2.585 óbitos fetais ocorridos em 2018 no estado do Rio de Janeiro encontrou para o grupo de causas mal definidas os percentuais de 6,7% e 35,5%, respectivamente(1010. Fonseca SC, Kale PL, Teixeira GHMC, Lopes VGS. Evitabilidade de óbitos fetais: reflexões sobre a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis por intervenção do Sistema Único de Saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(7):e00265920. doi: http://doi.org/10.1590/0102-311x00265920 PubMed PMID: 34287588.
https://doi.org/10.1590/0102-311x0026592...
). Em concordância, no presente estudo, ao se utilizar a LBE-OF, o grupo de causas mal definidas apresentou maior percentual de óbitos em comparação a LBE < 5 anos.

Esses resultados são explicados pelas diferenças na alocação de algumas causas mal definidas. Classificações de evitabilidade condizentes com a fisiopatologia do óbito fetal são importantes para dimensionar o real potencial de prevenção dos óbitos, comunicar fragilidades na atribuição das causas, e indicar a necessidade de melhorias na disponibilidade e/ou qualidade dos exames post mortem(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
,1010. Fonseca SC, Kale PL, Teixeira GHMC, Lopes VGS. Evitabilidade de óbitos fetais: reflexões sobre a Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitáveis por intervenção do Sistema Único de Saúde. Cad Saude Publica. 2021;37(7):e00265920. doi: http://doi.org/10.1590/0102-311x00265920 PubMed PMID: 34287588.
https://doi.org/10.1590/0102-311x0026592...
).

No Brasil, 36,6% dos óbitos fetais ocorridos entre 2013 e 2016 tiveram como causa básica a hipóxia intrauterina não especificada (CID-10 P20.9) ou a morte fetal de causa não especificada (CID-10 P95)(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). No município de São Paulo, um estudo que analisou as causas básicas de 720 óbitos fetais registrados entre 2012 e 2014 identificou essas mesmas como causas de 44,7% dos óbitos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). No município do Rio de Janeiro, as causas mal definidas corresponderam a 25,8% dos óbitos fetais registrados em 2018(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). Considerando os resultados dessas pesquisas, as quais classificaram a hipóxia intrauterina não especificada (CID-10 P20.9) no grupo de causas mal definidas, sugere-se que no Recife há um menor percentual dessas causas, o que pode estar relacionado, entre outros fatores, à efetividade da vigilância do óbito(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

A análise das tendências temporais da mortalidade fetal evitável segundo a LBE < 5 anos e a LBE-OF revelou tendências distintas, crescente segundo a LBE-OF e estacionária conforme a LBE < 5 anos. É possível que o aumento evidenciado na mortalidade fetal evitável segundo a LBE-OF esteja relacionado à tendência decrescente das causas mal definidas. Assim, a partir da melhoria na atribuição das causas, um maior número de óbitos passou a ser classificado em evitável. Em contraste, para a LBE < 5 anos, ao considerar o período total da série, as tendências temporais da mortalidade fetal evitável e mal definida mantiveram-se estacionárias, sugerindo que essa lista não foi capaz de detectar todo o avanço alcançado na atribuição das causas básicas. No entanto, a tendência decrescente detectada na mortalidade fetal por causas mal definidas segundo a LBE < 5 anos, no período de 2012 a 2019, reafirma a importância da vigilância do óbito para a qualificação das causas de morte no município.

Considerando a mortalidade fetal reduzível por adequada atenção à gestação, no período total da série, constatou-se tendência estacionária segundo as duas classificações, o que ratifica a necessidade de investimentos que garantam, além da captação precoce e do número mínimo de seis consultas, a qualidade desses atendimentos(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
). À semelhança dos países desenvolvidos, os resultados apontaram maior taxa de mortalidade fetal relacionada à qualidade da atenção à gestação em detrimento da atenção ao parto(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

Ao considerar o período total do estudo, a tendência estacionária do componente adequada atenção ao parto segundo a LBE-OF ressalta a importância de melhorias contínuas nos cuidados intraparto. Em contraste, segundo a LBE < 5 anos, ao considerar o período total da série, houve tendência decrescente da mortalidade fetal reduzível por adequada atenção ao parto. Sugere-se que essa diferença esteja relacionada à diminuição na atribuição da causa hipóxia intrauterina não especificada (CID-10 P20.9), classificada na LBE < 5 anos como reduzível por adequada atenção ao parto.

No Brasil e no mundo, a hipóxia tem sido frequentemente relatada como causa dos óbitos fetais quando, na verdade, refere-se à via patológica pela qual a morte ocorre(66. Aminu M, van den Broek N. Stillbirth in low-and middle-income countries: addressing the ‘silent epidemic’. Int Health. 2019;11(4):237–9. doi: http://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015 PubMed PMID: 31081893.
https://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015...
,1111.Reinebrant HE, Leisher SH, Coory M, Henry S, Wojcieszek AM, Gardener G, et al. Making stillbirths visible: a systematic review of globally reported causes of stillbirth. BJOG. 2018;125(2):212–24. doi: http://doi.org/10.1111/1471-0528.14971 PubMed PMID: 29193794.
https://doi.org/10.1111/1471-0528.14971...
,2929. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Saúde Brasil 2018 uma análise de situação de saúde e das doenças e agravos crônicos: desafios e perspectivas [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2019 [cited 2023 Jan 10]. Available from: https://svs.aids.gov.br/daent/centrais-de-conteudos/publicacoes/saude-brasil/saude-brasil-2018-analise-situacao-saude-doencas-agravos-cronicos-desafios-pespectivas.pdf
https://svs.aids.gov.br/daent/centrais-d...
). A hipóxia, assim como as demais causas mal definidas, não é útil para identificar os fatores determinantes do óbito e não contribui no planejamento de intervenções e políticas de saúde(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,66. Aminu M, van den Broek N. Stillbirth in low-and middle-income countries: addressing the ‘silent epidemic’. Int Health. 2019;11(4):237–9. doi: http://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015 PubMed PMID: 31081893.
https://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015...
).

Entender o que favorece a atribuição das causas mal definidas é o primeiro passo para intervir na sua redução. Isso pode estar relacionado à má qualidade de registros clínicos, à deficiente capacitação dos profissionais para identificar a causa básica e à indisponibilidade ou a baixa qualidade de exames post mortem(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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,66. Aminu M, van den Broek N. Stillbirth in low-and middle-income countries: addressing the ‘silent epidemic’. Int Health. 2019;11(4):237–9. doi: http://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015 PubMed PMID: 31081893.
https://doi.org/10.1093/inthealth/ihz015...
). Em menor proporção, as causas mal definidas estão associadas aos óbitos fetais inexplicáveis, para os quais, mesmo após a realização de exames post mortem adequados, as causas não foram esclarecidas(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
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https://doi.org/10.1111/1471-0528.14971...
).

Quanto às limitações deste estudo, ressalta-se a utilização de dados secundários, os quais podem conter incompletude nos registros e falhas na cobertura. Entretanto, a completude e concordância dos Sistemas de Informação sobre Mortalidade e Nascidos Vivos do Recife são considerados adequados, o que ratifica a sua aplicabilidade para aferição da situação de saúde da população(11. Hug L, You D, Blencowe H, Mishra A, Wang Z, Fix M, et al. Global, regional, and national estimates and trends in stillbirths from 2000 to 2019: a systematic assessment. Lancet. 2021;398(10302):772–85. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01112-0. PubMed PMID: 34454675.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01...
).

CONCLUSÃO

A estagnação da tendência da mortalidade fetal por mais de uma década e a evitabilidade da maior parte dos óbitos fetais, principalmente por meio da adequada atenção ao pré-natal e ao parto, revelam a necessidade de qualificar a assistência pré-natal e de investimentos contínuos nos cuidados intraparto. Profissionais capacitados e em número adequado, o acesso aos exames pré-natais em tempo oportuno, a classificação do risco gestacional, o manejo apropriado das gestações de alto risco, instalações e recursos materiais para oferecer cuidados de qualidade são indispensáveis para alcançar a redução dos óbitos fetais.

As diferenças encontradas na classificação de evitabilidade dos óbitos fetais segundo a LBE < 5 anos e a LBE-OF, principalmente a maior frequência de óbitos classificados no grupo de causas mal definidas ao se utilizar a LBE-OF, evidenciam a potencialidade dessa classificação na monitorização da qualidade da informação sobre as causas dos óbitos fetais. Assim, a utilização da LBE-OF na vigilância do óbito fetal pode contribuir para o planejamento de ações que favoreçam a correta identificação das causas básicas de morte e, portanto, para a redução das causas mal definidas.

A tendência temporal decrescente das causas mal definida, evidenciada ao utilizar a LBE-OF, revela os avanços alcançados na atribuição das causas básicas dos óbitos fetais no Recife, o que sugere a efetividade da vigilância do óbito fetal e reforça a importância desse serviço e de investimentos que propiciem o seu fortalecimento. Esse resultado ratifica a possibilidade de outras cidades também reduzirem as causas mal definidas.

  • Apoio financeiro

    Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (APQ-0389-4.06/20), por meio do Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS/PE-2020).

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Editado por

EDITORA ASSOCIADA

Rebeca Nunes Guedes de Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2024
  • Aceito
    18 Jul 2024
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
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