Dois mil anos de processo civilizatório conferiram uma cisão no corpo feminino: as santas e as putas. Não parece novidade, no entanto, pensar que essa paridade responda mais a uma necessidade masculina do que às maneiras pelas quais as mulheres se apresentam. Partindo de bibliografia que discute imagens recalcadas de femininos "ativos" e eróticos no sagrado, este artigo busca refletir a respeito de possíveis ascendências dos cultos de pombagira, entidade espiritual umbandista. Distante do doce e passivo, a pombagira emana poder, inteligência, beleza e sexo, mas paradoxalmente se presentifica no espaço sagrado e é cultuada com destaque por seus fiéis. Nesse sentido, busca-se discutir como o culto dessas entidades espirituais parece performatizar algo de arcaico, possivelmente resistente ao recalque e à normatização.
gênero; feminino e sagrado; mulher; umbanda; divindade