Resumo:
O objetivo deste artigo é oferecer uma chave interpretativa ainda pouco utilizada para o entendimento do conservadorismo que circula entre mulheres evangélicas. Parte-se da observação e da análise de cultos e congressos organizados pela pastora Ana Paula Valadão, entre 2011 e 2016, e que tratavam sobretudo de corpo, sexualidade e família. Os eventos estimulavam as mulheres a um constante automonitoramento, a um “sacrifício de si”, e fortaleciam a figura masculina tradicional. Embora a relação entre religião evangélica e gênero seja escrutinada pela literatura socioantropológica ao menos desde o final da década de 1990, propõe-se que um diálogo com a teoria de Angela McRobbie possa avançar a compreensão da reprodução e da exacerbação do “dispositivo da perfeição”, que, no caso das religiosas, neutraliza, naturaliza e reveste de justificativa espiritual as desigualdades sexuais e de gênero.
Palavras-chave: evangélicos, mulheres; Ana Paula Valadão; pós-feminismo; Angela McRobbie